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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Diminuindo riscos, promovendo vida saudável: O conceito de risco na promoção da saúde.

                                                                                                              Resenhado por Lucila Moraes

NEVES, Tatiana Pereira das Neves; GUILAM, Maria Cristina Rodrigues. Diminuindo riscos, promovendo vida saudável: O conceito de risco na promoção da saúde. Salusvita, Bauru, v. 27, n. 3, p. 283-299, 2007.

O título do relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2002: ‘Diminuindo Riscos, Promovendo Vida Saudável’, inspirou a construção desse artigo, que tenta problematizar tanto os conceitos de riscos e promoção de saúde, como também buscar as possíveis relações existentes entre os mesmos, baseando-se na literatura disponível. O estudo tenta discutir dois aspectos fundamentais do relatório da OMS: se realmente a redução de riscos implica necessariamente na promoção de saúde, e ainda, se mesmo conhecendo os riscos podemos minimizá-los de forma efetiva.
O conceito de risco foi usado por diversas áreas do conhecimento podendo ser dividido em quatro grandes áreas- as ciências econômicas, a epidemiologia, a engenharia e as ciências sociais, e cada uma aborda o conceito sob diferentes aspectos, e determinam diferentes ações a serem realizadas. Porto (2000) propõe uma sistematização dessas quatro abordagens para facilitar o entendimento. A Avaliação de Riscos, comumente usada pela epidemiologia e engenharias, propõe caracterizar os efeitos esperados ao se expor um sujeito a um determinado agente, e permite também a uma estimativa de diferentes graus de efeitos em diferentes níveis de exposição. Outra abordagem é a Percepção e Comunicação de Riscos, usados pela psicologia e sociologia, por exemplo, que analisam como diferentes populações percebem e reagem frente a situações de risco. A medicina e economia são algumas das profissões que utilizam o Gerenciamento de Risco, que envolve o gerenciamento de riscos em decisões e ações que ocorrem em dois níveis principais: dentro da sociedade e pelos governos, e no interior das empresas, mediante práticas gerenciais que podem ajudar a prevenir os riscos nos locais de trabalho. Por fim, os estudos sociais e de equidade, utilizados pelas ciências sociais e políticas, visa à compreensão do fenômeno da desigualdade na distribuição de riscos na sociedade.
Já Adams (1999) propõe uma abordagem mais subjetiva da questão do risco ao afirmar que todos possuem um termostato que avalia o risco. Esse modelo assume que todos têm uma propensão, para mais ou para menos, a assumir riscos, que varia de pessoa a pessoa. De forma geral o sujeito, ao se deparar com uma situação de risco, avalia se assumir esse risco vale a pena (ou seja, se a recompensa é maior e melhor que o risco que está envolvido) e analisará também sua escolha a depender de suas próprias experiências passadas e perdas já vividas.
A conceituação de promoção de saúde também vem se ampliando cada vez mais, e de acordo com a definição explicitada na Carta de Ottawa, promoção da saúde é o processo de capacitação da comunidade para que ela própria possa participar e controlar ações para a melhoria da sua qualidade de vida e saúde. Com isso o artigo divide sua definição em dois grupos gerais. Na primeira, tendo em vista que o comportamento nocivo que uma pessoa adota pode ser mudado, pelo menos em grande parte, pelo próprio sujeito, recai sobre este a responsabilidade por sua saúde. Essa visão reduz o peso financeiro na assistência de saúde. Numa segunda via, a promoção da saúde atuaria como estratégia para criar mudanças na relação entre cidadãos e o Estado, melhorando a qualidade de vida de uma forma geral (acesso ao saneamento básico, alimentos de qualidade, boas escolas e hospitais), dando ênfase a políticas públicas e ação intersetorial, ou ainda, a construção de mudanças sociais mais profundas – como são as propostas de educação popular.
O artigo tenta buscar a possível relação entre risco e promoção de saúde, levando em consideração que é necessário uma separação mais específica dos riscos que podem e devem ser evitados pela população em geral, de outros riscos que fazem parte da natureza humana. Só assim, será possível a construção de táticas de promoção da saúde eficazes. Outra questão importante a se considerar é que nem sempre a informação e conhecimento da existência dos efeitos prejudiciais de uma determinada atividade significam uma maior segurança e benefício para população. O que ocorre em nossa sociedade é que, muitas vezes, a informação que o sujeito tem em relação ao risco envolvido em uma atividade considerada não saudável (como fumar ou beber em excesso), muitas vezes não são o suficiente para que se deixe de praticar tal ato, e por isso, muitas vezes a ‘ culpa’ recai ao próprio indivíduo que seria considerado a vítima. Ou seja, nem sempre a minimização dos riscos e perigos envolvidos, como a informatização e expansão do conhecimento científico leva, necessariamente, a promoção de uma vida saudável. O artigo propõe uma concepção interdisciplinar de risco e promoção de saúde, consistente e coerente, fundamentada nos planejamentos de vertentes diversas como sociais, políticas, econômicas, que poderiam facilitar e orientar a tomada de decisões e consequentemente, o melhor gerenciamento e promoção de saúde pública de forma a considerar os diferentes aspectos subjetivos presentes nas comunidades em questão.
Enfim, o artigo tem como principal objetivo problematizar o conceito de risco e promoção de saúde, levando em consideração que a relação de ambos não se faz tão diretamente como propõe a OMS, e que uma maior tentativa de esclarecer os conceitos presentes dentre a literatura se faz imprescindível para se limitar a intromissão desnecessária a vida pessoal dos indivíduos e se conquistar e promover a vida saudável. A leitura é recomendada para qualquer pessoa/profissional que deseja conhecer mais afundo os conceitos aqui abordados e que se questiona quanto à relação de causalidade direta, e muitas vezes perigosa, proposta pela OMS em que se afirma que a minimização de riscos promove a vida saudável.





quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Medicalização da vida

Postado por Laís Santos
A temática acerca da medicalização tem gerado muitos debates. Nos dias atuais, a sensação que temos é a de que há uma verdadeira explosão de novas doenças. O que antes era visto como 'normal', em muitos casos, passa a ser encarado como patológico. Há uma lógica de mercado intrínseca a essa mudança: em linhas gerais, para cada nova patologia, surge um novo fármaco. Assim, além do crescente número de novas doenças, há um aumento da quantidade de medicamentos disponíveis. Tal panorama nos leva a pensar até que ponto esse aumento quantitativo de fármacos, bem como, o crescente aumento de novos diagnósticos, de fato combatem males ou mesmo se criam novos problemas de saúde.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Questões para o DSM-V: clarificar os critérios de diagnóstico para dependência de esteróides anabólicos androgênicos

Postado por Ariane Santos

Kanayama, G. et al.(2009). Issues for DSM-V: Clarifying the Diagnostic Criteria for Anabolic-Androgenic Steroid Dependence. American Journal Psychiatry, v. 166, n.6, p. 642-644, jun.

O presente texto refere-se a um editorial emitido pela Associação Psiquiátrica Americana, no ano de 2009, sobre os critérios diagnósticos para dependência de esteróides anabolizantes androgênicos (EAA) para a formulação do DSM-V, a partir da discussão de alguns pontos e critérios diagnósticos presentes no DSM-IV.
Os autores ressaltam o crescimento do uso ilícito de EAA em todo mundo, bem como as formas e períodos de uso que podem levar a dependência dessas substâncias. Existem usuários que utilizam EAA apenas durante algum período de sua vida, enquanto que outros progridem esse uso a um padrão mal-adaptativo com uso quase contínuo, apesar dos efeitos médicos, psicológicos e sociais que possam causar.
Estudos com animais e seres humanos, nos últimos vinte anos, fizeram com que a síndrome de dependência de EAA fosse mais bem documentada. Os achados apontam que os seres humanos, ao contrário do que acontece com os animais (ratos, camundongos), inicialmente podem desenvolver um padrão de dependência de EAA como resultado da dismorfia muscular. A dismorfia muscular é uma forma do transtorno dismórfico corporal (TDC), que por sua vez é caracterizado pela distorção de imagem e preocupação excessiva com o corpo. Nas fases seguintes, tal dependência passa a ser semelhante às outras dependências de drogas.
Os autores evidenciaram também que a dependência de EAA pode estar associada com morbidades médicas, tais como hipertensão arterial, dislipidemia, cardiomiopatia e hipogonadismo persistente. Além de efeitos psicoativos, como episódios de mania ou hipomania durante o uso de EAA e episódios depressivos, relacionados à agressividade e violência, durante a retirada de EAA, com ocasionais suicídios; e progressão para outras formas de abuso e dependência de outras substâncias, como a dependência de opióides.
Historicamente, os usuários de EAA têm sido resistentes no que diz respeito à procura por tratamento. Entretanto, acredita-se que os efeitos e resultados adversos podem fazer com que aumente a atenção clínica nesses casos.
Outro aspecto relevante diz respeito à diferença entre o uso abusivo de drogas clássicas e o de EAA. No caso de EAA, eles não são utilizados para alcançar um efeito imediato de intoxicação aguda, eles são consumidos com um curso pré-planejado de várias semanas para se conseguir uma recompensa posterior de aumento da musculatura. Nesse sentido, os critérios do DSM-IV para dependência de substâncias, que são direcionados para os efeitos agudos de drogas, não poderiam ser aplicados aos EAA.
Como exemplo,os autores apontaram dois desses critérios, a saber: "a substância é freqüentemente consumida em maiores quantidades do que foi destinado"; e "atividades sociais, ocupacionais ou recreativas importantes são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância". Percebe-seque esses critérios aplicam-se mais facilmente a drogas como álcool ou cocaína do que para EAA. No entanto, não se pode desconsiderar os efeitos psicoativos causados pelos EAA, nem seu potencial de dependência, que por vezes é subestimado porque a atenção e o objetivo de seu uso concentram-se primariamente no aumento de massa muscular.
Nesse sentido e com base na literatura e na experiência clínica com indivíduos dependentes de EAA, os autores sugeriram que os critérios do DSM precisariam ser adaptados para o diagnóstico de dependência de EAA.
O DSM- IV pareceu, portanto, não reconhecer explicitamente a síndrome de dependência de EAA. Com isso, esse editorial propôs que fossem oferecidas interpretações para a dependência de EAA na seção de dependência de substâncias no DSM-V.Ou que inicialmente o DSM-V propusesse esses critérios apenas para fins de pesquisa, enquanto se aguarda mais provas de sua confiabilidade e validade.
Melhorar o reconhecimento do diagnóstico de dependência de EAA entre médicos e pesquisadores torna-se essencial para estimular maior atenção a esse público emergente. O texto tornou-se relevante, na medida em que trouxe a diferenciação entre dependência de EAA e de outras drogas, e a necessidade de se considerar outros aspectos e interpretações dos critérios quando se tratar de uso abusivo de EAA.


Obs. Em 2014, com o DSM-V publicado, sabe-se que alterações foram feitas na seção de dependência por substância, mas a especificação para a dependência de EAA ainda não foi acrescentada.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Muito tempo sentado eleva risco de limitação física mesmo em quem se exercita

Postado por Rafael Matos

O sedentarismo é definido como a falta de atividade física, ou seja, movimentos produzidos pelo corpo humano que gastem calorias acima dos níveis de repouso. O sedentarismo esta associado à inatividade e passividade, sendo o sedentário definido como aquele que realiza o mínimo possível de movimento. Esta falta de atividade física causa consequências tanto físicas quanto mentais. Dentre estas, as mais comuns são a obesidade e baixa autoestima que por sinal são condições correlatas. Medidas preventivas frente o sedentarismo são necessárias, visto que este se constitui como um fator de risco a saúde, medidas que prezem principalmente pela estimulação da importância da realização de práticas atividades físicas.


Uma pesquisa feita nos Estados Unidos mostra que o sedentarismo é por si só um fator de risco à saúde e que seus prejuízos não são anulados com outros hábitos positivos. De acordo com o estudo, cada hora em que uma pessoa com mais de 60 anos passa sentada por dia é suficiente para aumentar em 46% o risco dela sofrer limitações físicas, mesmo que pratique exercícios. Essas limitações podem impedir um indivíduo de realizar atividades comuns do cotidiano, tais como tomar banho, levantar-se da cama ou caminhar pela casa.
O estudo baseia-se nos dados de 2 286 pessoas com mais de 60 anos que foram acompanhadas entre 2003 e 2006. Durante ao menos quatro dias, os participantes usaram acelerômetros, aparelhos que medem a quantidade e a intensidade de exercícios realizados ao longo do dia. Eles também foram submetidos a exames físicos. Em média, esses indivíduos ficavam catorze horas por dia acordados, sendo que durante nove horas eles passavam sentados, deitados ou seguindo outro comportamento sedentário.
"Sedentarismo não significa apenas falta de atividade física", diz Dorothy Dunlop, professora de medicina na Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, e coordenadora do estudo. "Nossos resultados reforçam que os adultos devem passar menos tempo sentados em frente à televisão ou ao computador." A pesquisa foi publicada na terça-feira no periódico Journal of Physical Activity & Health.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Modelos em Saúde: O Modelo das Crenças em Saúde

Resenhado por Mariana Menezes

Stroebe, W. & Stroebe, M. (1995). Determinantes do Comportamento de Saúde: Uma Análise a Nível da Psicologia Social. In W. Stroebe & M. Stroebe, Psicologia Social e Saúde. (pp. 39-45). Lisboa, PT: Instituto Piaget.

O modelo de crença na saúde foi desenvolvido pelos psicólogos sociais do Serviço de Saúde Pública dos EUA na intenção de compreender porque as pessoas não utilizam a prevenção de saúde ou os rastreios para detectar a tempo as doenças que não estavam associadas com sintomas muito claros. O modelo de crença na saúde pressupõe que a probabilidade de um indivíduo efetuar um determinado comportamento de saúde é em função do nível em que a pessoa acredita ser suscetível a uma determinada doença, e da percepção que ela tem da gravidade das consequências de ter a doença. Susceptibilidade e gravidade, em conjunto, determinam a ameaça percebida da doença, ou seja, a vulnerabilidade. Por exemplo, uma mulher de mais de quarenta anos de idade, e que tem um histórico familiar de câncer de mama pode saber que tem grandes chances de desenvolver a doença, essa é a suscetibilidade percebida. A gravidade percebida é o conhecimento que ela tem de que pode perder a mama ou morrer se vir a ter a doença. Mas não basta apenas a pessoa perceber a ameaça da doença para ela ter um comportamento de saúde, vai depender do quanto ela acredita que os benefícios da ação poderão ultrapassar as barreiras associadas com ela, então, ela irá avaliar os custos, inconveniências, e até mesmo possíveis dores.
Uma pista para ação também pode ser necessária para desencadear o comportamento de saúde adequado. Essa pista pode ser interna, como um sintoma físico, ou, externa, como campanhas midiáticas, conselho médico, ou a morte de algum amigo com idade e estilo de vida parecidos. De acordo com este modelo, podem existir várias razões para que uma pessoa não mude seu comportamento de saúde, mesmo que sua vulnerabilidade seja elevada. Existem evidências da existência de uma tendência nas pessoas de subestimar os seus próprios riscos de saúde quando comparados com os dos outros. Mas, mesmo que as pessoas percebam uma ameaça de forma realista, elas têm poucas probabilidades de desenvolver medidas de proteção da saúde se duvidarem de sua eficácia ou se se acharem que os esforços são muito grandes para que valha a pena. Portanto, campanhas nos meios de comunicação devem conter argumentos que convençam as pessoas de que consequências sérias para a saúde podem advir, a não ser que certos aspectos dos seus estilos de vida sejam alterados; e de que a adoção de comportamentos de saúde específicos reduzem consideravelmente este risco.
A avaliação empírica do modelo de crença na saúde foi feita por Janz e Becker (1984) que revisaram 46 estudos baseados no modelo de crença na saúde, e os resultados foram os seguintes: obstáculos (89%), susceptibilidade (81%), benefícios (78%) e gravidade (65%). Os resultados foram interpretados como fornecendo apoio substancial para o modelo.  Porém, o fato da associação entre duas variáveis ser significativa do ponto de vista estatístico não nos fornece muita informação relativa à força dessa relação. Para avaliar a força de uma associação teríamos de possuir informação acerca dos tamanhos dos efeitos que nos permitiriam uma estimativa da variância do comportamento de saúde que está relacionado com os vários componentes do modelo.
As implicações do modelo de crença na saúde, no que diz respeito ao planejamento das intervenções que têm como objetivo influenciar um determinado domínio do comportamento de saúde; são ilustradas pelos resultados de um estudo que aplicou o modelo ao uso de preservativo entre adolescentes. O estudo constatou uma fraca relação entre intenção e gravidade percebida da infecção pelo HIV, vulnerabilidade percebida à infecção pelo HIV e a percepção de eficácia no uso do preservativo. Por outro lado, os obstáculos ao uso do preservativo estavam relacionados com as intenções de se fazer acompanhar de preservativos e de usá-los. Estes resultados sugerem que ao invés de enfatizar a vulnerabilidade dos jovens à infecção, à gravidade da mesma e à eficácia do preservativo, como tem sido feito na maior parte das intervenções, poderá ser mais eficaz se nos centrarmos nos obstáculos da aceitação social em intervenções futuras.
Em suma, o texto nos mostra a importância do modelo de crença na saúde que nos ajuda a avaliar a probabilidade de uma pessoa emitir um comportamento de saúde e quais aspectos estão relacionados a esse comportamento. O texto também esclarece porque algumas pessoas não alteram seu comportamento de saúde. Sua leitura é indicada para todos os interessados em conhecer possíveis estratégias de mudança dos comportamentos de saúde. É indicado, especialmente, para aqueles que já trabalham ou que pretendem trabalhar nesta área.



domingo, 23 de fevereiro de 2014

Falência múltipla dos órgãos PÚBLICOS

Postado por Geovanna Souza

A saúde pública tem se mostrado deficitária e abandonada pelo Poder Público. Atualmente, o que mais vemos são hospitais com condições precárias, tanto para receber e instalar pacientes, como para amparar o trabalho dos profissionais de saúde. A sociedade encontra-se desassistida, provocando adoecimento físico e psíquico em quem deveria estar recebendo cuidados, e em quem deveria estar cuidando. A imagem abaixo traz ludicamente a principal causa das enfermidades cotidianas: a falência múltipla dos órgãos PÚBLICOS.


sábado, 22 de fevereiro de 2014

Girls with anorexia show some autism - like traits

Postado por Luana Santos

Uma pesquisa desenvolvida em Cambridge, com 66 meninas entre 12 e 18 anos com anorexia, embora sem autismo, mostrou que meninas que sofrem com anorexia tendem a apresentar traços leves de autismo:  têm um interesse acima da média em sistemas e ordem, e os escores abaixo da média na empatia. Os pesquisadores compararam os escores dos participantes com mais de 1.600 adolescentes típicos na mesma faixa de idade, medindo seus traços autistas utilizando um escore chamado Quociente do Espectro Autista (QA – Quociente Autista), sua “sistematização”, utilizando o Quociente de Sistematização (QS), e sua empatia com o Quociente de Empatia (QE).
Os resultados revelaram que, em comparação com meninas típicas do QA, cinco vezes mais meninas com anorexia marcaram na mesma faixa que as pessoas com autismo. Em testes de empatia e sistematização, as meninas com anorexia tinham um QS superior, e um QE reduzido. Esse perfil, disseram os pesquisadores, se iguala aqueles vistos no autismo. Seriam, então, essas descobertas algo que poderia levar à formas alternativas de tratamento de anorexia? Tudo indica que é possível que sim. Afastar os interesses de coisas como o peso e a dieta para outras também sistemáticas pode funcionar, e, além disso, reconhecer que pacientes anoréxicos também precisam de ajuda com habilidades sociais muda toda a perspectiva do tratamento.


Girls who suffer with anorexia tend to exhibit mild traits of autism — a new finding which could lead to alternative ways of treating anorexia.

The research, led by autism expert Simon Baron-Cohen, Ph.D., at Cambridge University’s Autism Research Centre, showed that compared to typical girls, those with anorexia have an above-average interest in systems and order, and below-average scores in empathy.
This is similar — to a lesser degree — to traits found in autism.  This finding suggests that the two disorders may have common underlying features, said Baron-Cohen.
“Traditionally, anorexia has been viewed purely as an eating disorder. This is quite reasonable, since the girls’ dangerously low weight and their risk of malnutrition or even death has to be the highest priority,” he said.
“But this new research is suggesting that underlying the surface behavior, the mind of a person with anorexia may share a lot with the mind of a person with autism. In both conditions, there is a strong interest in systems. In girls with anorexia, they have latched onto a system that concerns body weight, shape, and food intake.”
People with autism have varying levels of dysfunction in three main areas: social interaction and empathy or understanding, repetitive behavior and interests, and language and communication.
Autism and anorexia share certain features, said Baron-Cohen, such as rigid attitudes and behaviors, a tendency to be very self-focused, and an attraction toward details. Both conditions also feature similar differences in the structure and function of brain regions involved in social perception.
Bonnie Auyeung, Ph.D., who also participated in the research, said these findings may suggest a proportion of females with autism may be getting overlooked or misdiagnosed because doctors see them first with anorexia.
For the study, researchers tested 66 girls, aged 12 to 18, with anorexia but without autism to see how they scored on tests designed to measure autistic traits.
The researchers compared the participants’ scores to over 1,600 typical teenagers in the same age range, measuring their autistic traits using a score called the Autism Spectrum Quotient (AQ), their “systemizing” using the Systemising Quotient (SQ), and their empathy using the Empathy Quotient (EQ).
The findings revealed that, compared to typical girls on the AQ, five times more girls with anorexia scored in the same range as people with autism. On tests of empathy and systemizing, girls with anorexia had a higher SQ, and a reduced EQ, a profile the researchers said parallels that seen in autism.
Dr. Tony Jaffa, who co-led the study, said understanding that some anorexic patients may also have a higher than normal number of autistic traits and a love of systems offers specialists new ideas for ways to treat people with the eating disorder.
“Shifting their interest away from body weight and dieting on to a different but equally systematic topic may be helpful,” he said. “(And) recognizing that some patients with anorexia may also need help with social skills and communication, and with adapting to change, also gives us a new treatment angle.”
Source:  Molecular Autism

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

As vicissitudes dos Conceitos de Normal e Patológico: Relendo Canguilhem

Resenhado por Laís Almeida

Dias, D.A.S. e Moreira, J.O. (2011). As vicissitudes dos conceitos de normal e patológico: relendo Canguilhem. Revista Psicologia & Saúde, 3, n.1, 77-85.

Esse artigo oferece uma reflexão sobre os conceitos de normal e patológico a partir do clássico “O Normal e o Patológico” de Canguilhem, obra que busca discutir filosoficamente essas concepções em diferentes momentos históricos a partir de diversos autores, dentre eles médicos e filósofos. Essa reflexão tem como intuito apresentar as diferentes concepções de saúde e doença ao longo da história para defender a ideia de que os complexos conceitos não são determinados apenas por questões científicas, e sim políticas, históricas, religiosas, sociais e econômicas. É necessário destacar que normal e patológico são conceitos que variam de acordo com as mudanças de objetivos, pressupostos e fins da prática médica, mas que talvez para a prática psicológica isso funcione da mesma forma, sendo de importância fundamental para a prática de cada campo científico. O texto busca estabelecer uma ponto entre o que é normal para as ciências médicas, e o que é normal para a psicologia, com o objetivo de clarear elementos que o saber psicológico ainda necessita desenvolver e abordar.
Ao longo do texto é possível perceber as diferenças referentes às relações de doença e saúde, já que na Grécia Antiga a doença é vista como algo dinâmico e que intenciona a cura, não existindo a necessidade de uma brusca intervenção externa. Nela o poder de cura é orgânico, o organismo monta as estratégias necessárias para conquistar o equilíbrio e, consequentemente, a saúde. Era normal que o organismo ficasse doente, pois só assim ele poderia estabelecer novas formas de se tornar novamente saudável. Já na concepção egípcia, a doença é externa ao organismo, foi adquirida por meio de possessão demoníaca ou por parasitas e recuperar a saúde implica em expulsar aquilo que causou a doença, através de magia. Essa visão também foi adotada durante a Idade Média, com a diferença que lá a doença foi associada ao pecado e a saúde à salvação, ou seja, a doença continua sendo um processo extrínseco ao indivíduo, mas a culpa é transferida para a própria pessoa. Doença e saúde, aqui, se diferem por um viés qualitativo, em que a primeira nada mais é que a expressão do pecado, do mal encarnado que se como punição ao erro. E a última funciona como uma recompensa pelo caminho “corretamente” seguido.
Com o início da perspectiva moderna, Comte e Claude Bernard iniciam o movimento de retorno a uma concepção de doença enquanto algo intrínseco, sem desconsiderar a possibilidade de infecção por germes. Pasteur havia comprovado a existência de microorganismos através de experimentos científicos e descobriu que quando eles invadem um corpo, podem causar doenças. Comte não apresenta uma definição e baseia sua teoria em Broussais, o qual trabalha com a ideia de que a excitação é fundamental para a vida, defendendo que “o homem só existe pela excitação exercida sobre seus órgãos pelos meios nos quais é obrigado a viver”. É por meio dessas excitações que os órgãos reagem às diversas necessidades do organismo e a patologia seria o desvio do estado normal percorrido por esses estímulos. O normal, de Broussais na análise de Canguilhem, seria algo valorativo, um conceito normativo ligado a algum valor, que representa o funcionamento dos órgãos com toda a regularidade e uniformidade de que são capazes. O patológico, por sua vez, se caracteriza por ser uma variação da normalidade fisiológica.
O texto aponta que a prática médica passou por três facetas diferentes, até chegar ao que Broussais propõe: 1) a medicina era fundamentalmente classificatória; 2) o surgimento da anatomia possibilitou a localização da doença no corpo e 3) resgate da medicina classificatória e união dela à anatomo-clínica.
Na visão de Canguilhem, foi a patologia que criou a fisiologia, pois o normal só começou a ser estudado por causa do anormal. De acordo com sua concepção, o normal é a capacidade que o corpo tem de obedecer a certas normas que ordenam e organizam a execução das mais diversas funções. É uma forma de funcionamento que rege o organismo, que possui constantes responsáveis por reger e regular o funcionamento de certos órgãos. Já a doença, portanto é a incapacidade do corpo em se colocar de maneira normativa, ela é um “abalo e ameaça à existência”. O que se demonstra através disso é que a doença implica certa rigidez, pois o funcionamento da doença dificulta a reação aos desafios que a realidade impõe, ao mesmo tempo, ela se apresenta como uma renovação de algo que não estava respondendo de maneira satisfatória. A saúde pode ser caracterizada, então, como uma ampla gama de possibilidades do organismo frente às mais diversas situações que o ambiente coloca. Viver remete a um posicionamento que oscila entre estabilidade e transformação. Essa ideia desdobra-se em duas constantes: de valor propulsivo (relacionada às normas que podem vir a ser superadas) e de valor repulsivo (se esforçam para se manter sem a influência de qualquer advento). As constantes de valor propulsivo assemelham-se à saúde e as constantes de valor repulsivo às doenças. A patologia originou-se do apelo ao médico por parte do doente, sua origem é subjetiva e não objetiva. Cada patologia se desenvolve a sua maneira, portanto, o conhecimento sobre uma patologia não garante a universalidade da intervenção.
Na obra de Canguilhem não há diferenciação entre as doenças orgânicas e as psicológicas, já que o autor considera que o organismo responde integralmente a um estado patológico, de forma que diante da patologia orgânica, adoece o todo. Outro fator que reforça isso é o critério subjetivo da doença, no sentido que o enfermo precisa ter consciência de sua própria enfermidade para que se possa definir o que é uma doença. A saúde que Canguilhem trata estrutura-se em termos filosóficos, através de um ponto de vista relacional. Ele trata um paciente que sofre de doença mental como um alienado, um ser inteiramente singular, e afirma que a doença não esclarece o fenômeno da alienação. Pois esse paciente não tem a capacidade de autocrítica, critério fundamental para a caracterização de doença sob o ponto de vista desse autor. O artigo levanta a ideia de que talvez a doença psicológica, como é mostrada aqui, exclua da discussão o sujeito cartesiano, pelo fato da sua razão encontrar-se prejudicada. E que Canguilhem parece seguir uma tendência histórica de silenciar a loucura. A autocrítica é um critério que exige cautela no que diz respeito aos doentes mentais, mas, em contrapartida, quando ele relata que a saúde relaciona-se à capacidade de se lidar com as dificuldades do ambiente e a própria loucura pode ser entendida como uma tentativa de resposta a um ambiente hostil. Contudo, o texto conclui que de qualquer forma, para Canguilhem toda doença refere-se a um doente, e esse doente deve ser levado em conta no tratamento.
Além do que foi exposto, pode ser possível encontrar uma diferenciação entre doenças orgânicas e doenças psicológicas na terapêutica, pois elas se definem através dos instrumentos que podem vir a auxiliar no tratamento. Ambas causam sofrimento e ambas são subjetivas, a diferença é que o sofrimento orgânico é objetivável e pode-se atuar sobre o corpo para que o tratamento ocorra, ao contrário do sofrimento psicológico.  Com relação a este, é difícil localizar o tipo de cura que se busca, porque o modelo psíquico não funciona de acordo com a fisiologia e talvez a resposta esteja no próprio paciente. Cada paciente pode apresentar suas próprias formas de lidar com o seu sofrimento e para lidar com isso e utilizar em favor do tratamento, é preciso que estejamos bem preparados. A reflexão de Canguilhem, no entanto, não é legitimada pela prática médica, possivelmente por seu caráter filosófico que nem sempre tem respaldo na prática. No caso da Psicologia, que nasceu com a pretensão de se tornar uma ciência positivista, teve como definição de normalidade o uso da psicometria, vinculada a uma diferenciação quantitativa. Porém, com o desenvolvimento da Psicologia e o surgimento de suas ramificações, o conhecimento passou a ser cada vez mais multifacetado e cada área possui suas próprias definições sobre o que é normal e o que é patológico.
O artigo é bastante interessante ao passo que realiza com sucesso a problematização dos conceitos de normal e patológico, nos quais cada sujeito da sociedade é encaixado e a partir disso inúmeras consequências lhe são impostas. O texto é recomendado não só para médicos e psicólogos, como para qualquer pessoa que se interesse pelo tema e possa levar dessa discussão uma inspiração para a crítica e reflexão diária. 

Autismo

Postado por Iracema Freitas

Vídeo produzido pela AMA desconstrói a crença de que o autista não pode envolver-se em tarefas comuns e manter uma vida social. Mesmo com suas limitações, pode ter uma vida normal e ser melhor que os seus pares nas tarefas que despertem o seu interesse.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A perspectiva baseada na resposta

Resenhado por Rafael Matos

Faro, A; Pereira, M. E. (2013). Estresse: Revisão narrativa da evolução conceitual, perspetivas teóricas e metodológicas. Psicologia, Saúde, & Doenças, 14, 81-85.  

A perspetiva baseada na resposta é um paradigma explicativo do estresse que predominou entre as décadas de 1940 e 1970. Seguindo os parâmetros explicativos dessa linha, o estresse é uma resposta orgânica diante de quaisquer eventos, sejam eles de ordem biológica, psicológica ou social, que altere o estado de homeostase do organismo. Quando isso ocorre, o organismo dispara um padrão básico de respostas que visa reestabelecer a homeostase para manter a constância dos sistemas corporais.
Selye, principal representante desta perspectiva, aponta que diante de eventos que suscitem adaptação o aparato inato do organismo é ativado, e um conjunto de reações neurofisiológicas são desencadeadas na tentativa do restabelecimento da homeostase. A este conjunto de reações, Selye denominou de Síndrome Geral de Adaptação (SAG). Esta síndrome constitui-se por três fases distintas.
A primeira fase, chamada Alarme, funciona como um sinalizador, para que diante do evento estressor o indivíduo fuja ou lute; resistência, assim chamada à segunda fase, refere-se à capacidade do organismo em suportar, enfrentar, a ação do estressor por determinado tempo; a exaustão, terceira fase, surge quando a energia despendida na fase de resistência cessa. A energia dispendida no processo da SAG é finita e precisa de reposição, mas para isso ocorra é necessário que a ação do evento estressor cesse ou que pelo menos diminua. Caso contrário, há uma sobrecarga sobre os sistemas que tentam manter o organismo em homeostase, se a sobrecarga continua, causa perdas funcionais dos órgãos, eis que surgem as condições patológicas.
Selye identificou quatros estruturas que sofrem as primeiras transformações deletérias provocadas pelo estresse, a saber: o córtex supra renal, que influencia o funcionamento do cortisol, os gânglios linfáticos e o timo, problemas nestes últimos refletem em problemas gastrointestinais e no sistema imunológico.
Por esta razão, vez ou outra são observadas pessoas relatarem estarem sobre um estado de estresse quando apresentam sensações corporais desconfortáveis, como dor de estômago, cansaço físico, por exemplo. O que em alguns casos trata-se apenas de sintomas isolados, e não necessariamente de um real estado de estresse. No entanto, relatos como estes servem para analisar a popularização do conceito e seu uso inadequado.
Diante do exposto, dentre os principais benefícios desta perspectiva podem ser elencados a descoberta das consequências do estresse, discriminando os sistemas orgânicos que são afetados no processo e o reconhecimento do estresse enquanto fator responsável por inúmeras doenças físicas e psicológicas, já como aspectos negativos, a perspetiva baseada na resposta limita seus estudos aos efeitos que o estresse causa nos indivíduos em termos biológicos, não se atendo a fatores psicológicos e sociais que podem influenciar no processo de estresse. Por essa razão, a perspetiva baseada na resposta favorece investigações especialmente por parte das ciências biológicas, em detrimento, das ciências sociais e humanas, como a psicologia por exemplo.  






terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Sensação de bem-estar e saúde

Postado por Grasielle Rocha


A notícia presente mostra uma realidade que nos ronda. É fácil encontrar pessoas em momentos de tristezas e que, por sua vez, acabam adoecendo, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Muitas das vezes, encontra-se indivíduos em estado de Hedonismo, ou seja, sentem o bem-estar pelo prazer, e também no estado de Eudaimonismo, o bem-estar produzido pela realização de atos éticos e benevolentes. Porém, não existe ser humano que fique indefinidamente nestes estados, já que há situações de desafio inerentes à vida (facetas biológica, social e/ou psicológica) no dia-a-dia. Quanto às relações entre situações negativas e saúde/doença, estudos apontam para sua existência e, sobretudo, são redes complexas de fatores que as explicam.

Quem não conhece alguém que tenha passado por alguma situação crítica na vida e um tempo depois ficou doente. Esta relação entre situações negativas e saúde/doença já é empiricamente estabelecida.

Por sua vez, o bem-estar psicológico está relacionado com a saúde física e a longevidade. Apesar desta associação ser conhecida já há alguns anos por meio de pesquisas epidemiológicas de observação, pouco se sabia sobre os mecanismos envolvidos que levam uma sensação de bem-estar produzir efeitos benéficos à saúde.
Alguns destes mecanismos começam agora a ser esclarecidos. Resultados de uma pesquisa publicada online no último dia 29 de julho, na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, demonstram que o bem-estar psicológico afeta genes em células do sistema imune que regulam processos inflamatórios e de síntese de anticorpos. Processos estes fundamentais para o controle das defesas do organismo contra agentes agressores (vírus e bactérias por exemplo).
Estudos prévios já tinham demonstrado que condições adversas crônicas (como estresse e insegurança quanto ao futuro) afetam negativamente estes genes. Neste novo trabalho o efeito do bem-estar psicológico sobre estes genes foi testado em 84 indivíduos saudáveis com idades de 35 a 64 anos. Mais do que isso, os pesquisadores dividiram os indivíduos em dois grupos, fazendo distinção entre dois tipos de bem-estar de origens diferentes e que foram classificados como hedônico ou eudaimônico. A avaliação foi feita por meio de respostas a questionários validados.
Estas palavras pouco conhecidas significam o seguinte: - Hedonismo é o bem estar produzido pelo prazer - termo originado de uma corrente filosófica grega que postulava ser a conquista do prazer o maior bem a ser alcançado pelo ser humano. Representa as experiências afetivas positivas produzidas pelo prazer individual. Eudaimonismo é o bem estar produzido pela realização de atos éticos e benevolentes - termo também oriundo da filosofia grega que postulava que o verdadeiro bem-estar provinha da prática de atos com um sentido mais profundo e com propósitos nobres, que vão além da simples gratificação pessoal.
Esta explicação toda não teria tanta importância se os resultados não tivessem sido tão surpreendentes. Ambos os grupos apresentaram altos níveis de sensação de emoções positivas, inversamente relacionadas com sintomas de depressão. Porém, os efeitos sobre os genes foram opostos. Os indivíduos com bem-estar eudaimônico (atos éticos e benevolentes) tiveram um perfil de regulação gênica que favorece as defesas do organismo, enquanto os do grupo hedônico (bem-estar por gratificação pessoal) apresentaram um aumento na expressão de genes pró-inflamatórios e redução nos reguladores da síntese de anticorpos, perfil este que é prejudicial às defesas do organismo.
Estes resultados são importantes na medida em que apresentam mecanismos moleculares objetivos sendo influenciados por sensações psicológicas subjetivas. No entanto, deve ser levado em conta que não existem seres humanos exclusivamente hedônicos ou exclusivamente eudaimônicos. Além disso, há uma interação entre estes padrões, com uma influência recíproca. O que pode haver é uma predominância de um padrão sobre outro, com consequências moleculares que podem afetar a saúde.
Disto tudo fica a sensação de que, à medida que o conhecimento científico avança, mais se percebe a complexidade da natureza e que as interações entre o meio e o indivíduo são mais profundas do que se poderia imaginar.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Social determinants of health: Solid facts

Postado por Laís Santos

Wilkinson, R. & Marmot, M. (2003).Social determinants of health: Solid facts. WHO Europe, Copenhagen.
  
Segundo Wilkinson e Marmot, mesmo nas grandes potências, aqueles menos favorecidos estão mais suscetíveis a uma menor expectativa de vida, bem como ao adoecimento. Este artigo nos leva a observar a existência dos determinantes sociais da saúde e a dos mesmos. O diferencial desta publicação está na relação destes determinantes com as políticas públicas.

O modo de se pensar políticas públicas de saúde evoluiu com o passar dos anos. Antes, elas eram vistas como a oferta e o financiamento de cuidados médicos. Atualmente, entende-se que são as condições sociais e econômicas que contribuem para o surgimento de patologias e a consequente necessidade de atendimento médico.
Diversos estudos apontam para a ideia de que a susceptibilidade a doenças é mais favorecida por questões socioambientais. As questões genéticas, por sua vez, são mais utilizadas para o entendimento de doenças específicas. Os autores enfatizam que as condições de saúde não são afetadas exclusivamente por questões econômicas. O trabalho, os vínculos afetivos, a relação com a comunidade, o acesso universal à saúde, dentre outros fatores, interferem em nosso bem estar. Se eles não estiverem em harmonia, podem gerar uma série de consequências, como a depressão.
O texto original aborda a importância dos determinantes de saúde relacionando-os a dez tópicos. Aqui nos deteremos a apenas cinco: gradiente social, estresse, primeira infância, exclusão social e trabalho.
Gradiente social é o primeiro tópico abordado, e fala sobre as divergências sociais e econômicas e o modo como elas afetam a vida dos indivíduos ao logo dos anos. Ele ocorre em toda sociedade. Todavia, as pessoas economicamente menos favorecidas estão mais suscetíveis a doenças e até mesmo a diminuiçãodo tempo de sobrevida. As políticas públicas devem promover ações que reduzam estas desigualdades e proporcionem melhor qualidade de vida e segurança. Além disso, cabe a elas, traçar estratégias que reduzam os níveis de fracasso escolar, desemprego, e proporcionar o pleno exercício de cidadania.
A exposição a longo prazo a condições estressantes aumentam os riscos de morte prematura e má saúde mental. Assim como para o gradiente social de saúde, também no estresse, as pessoas menos favorecidas estão mais predispostas a sofrerem essas consequências.
Quando estamos em situações emergenciais, nosso organismo trabalha a fim de disponibilizar toda a energia necessária. Nas situações de estresse raramente há uma demanda, extrema ou não, de energia, uma vez que a rotina dessas pessoas raramente envolve atividade física de moderada a alta intensidade. No entanto, a resposta ao estresse acaba desviando recursos de muitos processos fisiológicos importantes para a saúde. Se o indivíduo é exposto ao estresse psicológico e social crônico, aumenta-se a vulnerabilidade a doenças, infecções, depressão, dentre outras. As políticas públicas de saúde entram com o papel de promover melhor qualidade do ambiente social, bem como medidas que abarquem as necessidades psicossociais e materiais de cada comunidade.
A primeira infância, além de ser um período de grandes descobertas, é também uma fase crucial para o estabelecimento das fundações de saúde da vida adulta. Estudos apontam que um mau desenvolvimento nesta fase – ocasionado por desnutrição, por exemplo, - pode desencadear uma série de alterações posteriores, tais como problemas de comportamento e o risco de marginalização social na fase adulta. As políticas públicas, então, tem o papel de gerir melhorias, oferecendo uma educação de qualidade, o acesso a uma alimentação adequada, condições sanitárias, acompanhamento das gestantes antes e durante a gravidez, fornecer informações aos pais para que estes aprendam a lidar com as necessidades de seus filhos.
A temática da exclusão social é muito complexa. Os autores apontam dois tipos de pobreza: absoluta e relativa. A primeira compreende a falta de materiais básicos vitais. A segunda é vista em alguns casos como viver com menos de 60% da renda média nacional (o que no Brasil equivaleria, em 2013, a receber um salário mínimo). As pessoas que não tem acesso a uma moradia; que vivem ou viveram em instituições (prisões, hospitais psiquiátricos, abrigos), estão desempregadas; pertencem a grupos étnicos minoritários e/ ou apresentam alguma deficiência, estão mais predispostas a ter uma morte prematura ou a serem vítimas da exclusão social. Não é difícil visualizar a carga de estresse a qual elas estão submetidas. Quanto maior for o tempo de exposição a estes componentes nocivos, maior a probabilidade do surgimento da depressão, de doenças cardiovasculares e, até mesmo, de morte súbita.
A saúde não é afetada apenas diretamente, mas também indiretamente pelas grandes privações, falta de segurança, desemprego, má alimentação, dentre outras.As políticas públicas devem tentar diminuir as taxas de mortalidade e os altos índices de doenças, reduzir as desigualdades, falta de segurança, garantir à população um rendimento mínimo e o acesso à saúde.
            Com relação ao último ponto, trabalho, o texto nos leva a entender que este influencia as questões de saúde. Um trabalho que sobrecarrega o sujeito, que não fornece condições mínimas, o próprio estresse desencadeado, assim como pouca oportunidade de usar as habilidades e pouca autoridade na tomada de decisões pode gerar diversas consequências, desde dores nas costas, até depressão. Estudos apontam que o apoio social e o reconhecimento (seja em dinheiro, status e/ou autoestima), fortalecem os indivíduos diminuindo a probabilidade de possíveis doenças (recursos de enfrentamento). Portanto, entende-se que melhores condições de trabalho podem reduzir estes riscos, como também levar a uma maior produtividade. Um ambiente ergonomicamente adequado, um trabalho que permita a participação de seus funcionários, também são fatores muito importantes.
            Em linhas gerais, esse artigo faz menção aos determinantes sociais da saúde. Expor alguns desses fatores é relevante no sentido de mostrar à sociedade e, principalmente, ao aparato estatal, caminhos a trilhar para melhorar a qualidade de vida. O estresse, o gradiente social, questões de trabalho, a primeira infância e a exclusão social são pontos importantes que se relacionam com os determinantes sociais e também com as políticas públicas de saúde. Em especial, o diferencial deste texto é a ênfase dada a estas políticas; todo o texto nos leva a pensar o quanto elas podem promover mudanças que favoreçam o panorama atual da saúde.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Saúde Pública

Postado por Ana Raquel Santos

Filas de espera quilométricas, sistema da Internet  fora do ar na marcação de consultas, exames não liberados, hospitais lotados, pacientes em macas enferrujadas nos corredores dos hospitais, falta de materiais esterilizados e medicações. Esse é o panorama da saúde publica no Brasil, exibido no vídeo, que é acompanhado da musica “Saúde”, de autoria de Gabriel Pensador. Tanto a música, quanto o vídeo, mostra-nos, de maneira lúdica e crítica, as dificuldades ao acesso dos cidadãos em relação aos  serviços de saúde pública.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

A Associação Americana de Psicologia afirma que os níveis de estresse do adolescente ‘competem’ com os dos adultos

Postado por Lucila Santos

A nova pesquisa divulgada ainda esse ano pela Associação Americana de Psicologia (APA) sugere que os adolescentes americanos relatam experiências com o estresse que seguem um padrão similar ao dos adultos. Nessa pesquisa feita nos EUA, jovens afirmaram que seus níveis de estresse estão pelo menos tão altos ou até maiores que os níveis relatados pelos adultos, principalmente no ano escolar. Isso sugere que o estresse, que antes era associado a uma idade mais avançada, agora se manifesta cada vez mais cedo em nossas vidas. Além disso, a pesquisa mostrou que para ambas as faixas etárias – tanto para os adultos como para os adolescentes- o estresse tinha grande impacto sobre seus comportamentos saudáveis tais como fazer exercício, comer alimentos saudáveis e dormir bem. Um dado interessante mostrado é que apesar de 43% dos adultos relatarem que se exercitam para aliviar a sensação do estresse, esses mesmos adultos não haviam feito exercício no mês anterior, justamente porque estavam muito estressados. O exercício então é mais um comportamento afetado pelo estresse e, não se mostra tão claro sua relação com a diminuição deste fenômeno no estudo, o que pode servir para uma investigação mais aprofundada sobre o que ou quais situações de fato causam o estresse e o que é apenas afetado por este.

According to the survey, few teens say their stress is on the decline — only 16 percent report that their stress level has declined in the past year — but approximately twice as many say their stress level has increased in the past year (31 percent) or believe their stress level will increase in the coming year (34 percent). Nearly half of teens (42 percent) report they are not doing enough or are not sure if they are doing enough to manage their stress and more than 1 in 10 (13 percent) say they never set aside time to manage stress.
Similarly, stress continues to be a problem for many adults, while high stress and ineffective coping mechanisms remain ingrained in American culture. Forty-two percent of adults report that their stress level has increased and 36 percent say their stress level has stayed the same over the past five years. Adults’ average reported stress level is a 5.1 on a 10-point scale, far higher than the level of stress they believe is healthy (3.6). Even though the majority of adults say that stress management is important to them, few set aside the time they need to manage stress. Some adults do not take any action at all to help manage their stress — 1 in 10 adults (10 percent) say they do not engage in any stress management activities. More than one-third (36 percent) of adults say stress affects their overall happiness a great deal or a lot and 43 percent of adults who exercise to relieve stress have actually skipped exercise due to stress in the past month.



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Modelos de Comportamento: A Teoria da Ação Planejada

Resenhado por Laís Santos

Stroebe, W. &Stroebe, M.S. (1995). Psicologia Social e Saúde. Instituto Piaget. 50-70.

            A Teoria da Ação Planejada (TAP) foi desenvolvida,em 1988, por Ajzen, a fim de suprir as limitações existentes na Teoria da Ação Racional (TAR), a saber: a influência de outros fatores na previsão de comportamentos futuros, como por exemplo, o comportamento passado. Esse modelo tem uma estrutura semelhante, porém, com um fator adicional: a percepção de controle comportamental. Ela é similar ao construto da autoeficácia, pois, diz respeito ao entendimento das pessoas a respeito de sua capacidade de executar certas ações.
            A percepção de controle pode agir de forma indireta, ou seja, influenciando as intenções comportamentais que por sua vez influenciarão o comportamento futuro. De forma simplificada, quando os sujeitos não tem a capacidade ou a oportunidade de realizar determinado comportamento, a percepção de controle volitivo age ajustando as intenções. A forma direta não mediada pelas intenções (percepção de controle-comportamento) pode ocorrer, porém, é menos comum. É importante salientar que na relação indireta há uma causalidade e na relação diretahá, na verdade, uma influência mediante a falta de controle efetivo.
            A relação direta pode ser exemplificada na seguinte situação: se um sujeito gosta de nadar todas as tardes, porém, trabalha como guia turístico, portanto, tem consciência de que por conta do trabalho em alguns momentos não vai poder praticar o esporte que ele mais gosta. Essa avaliação realista do nível de controle é um fator adicional para a previsão do comportamento de nadar que não é mediado pelas intenções. A relação indireta é ilustrada pelo seguinte exemplo: quando um estudante percebe, mediante experiências anteriores, que não conseguem alcançar notas tão altas ele acaba ajustando suas intenções e objetivos a níveis mais realistas.
            Os autores colocam que há fatores externos e internos ao indivíduo influenciando a sua percepção. Como fatores externos, podemos explicitar a oportunidade e a dependência dos outros. Por fatores internos, temos a informação, aptidões, impulsos, compulsões e capacidade. Comportamentos relacionados com a saúde, como a prevenção de doenças, não dependem apenas do controle volitivo do sujeito, mas também da percepção da facilidade ou dificuldade em desempenhar determinado comportamento.
            No que diz respeito à validação empírica, este modelo mostrou-se mais eficaz que a teoria da ação racional. No que tange à influência da percepção de controle aumentando a previsibilidade das intenções e dos comportamentos, há uma correlação de 0,71 e 0,51, respectivamente. Para que essa teoria possa interferir na previsão e modificação de determinados comportamentos, faz-se necessário uma influência relevante nas atitudes, normas e percepções. Em outras palavras, não basta dar maior atenção às atitudes, ou às normas, é necessário também, tentar abarcar os três itens na tentativa de obter melhores resultados.

Entre países da América, Brasil é o 5º em mortes por álcool

Postado por Rafael Matos

O álcool é uma droga cujo consumo vem aumentando nos países em desenvolvimento, sendo uma das poucas substâncias psicotrópicas, ou seja, que age diretamente sobre o sistema nervoso central (SNC), que é permitida a comercialização. Juntamente com esse consumo demasiado estão associadas, dentre os problemas mais graves, limitações de condição funcional e mortalidade. Dada a magnitude dessas consequências, urge que mais políticas públicas visem à conscientização e à educação como meios de prevenção.


O álcool é a causa de aproximadamente 80 mil mortes por ano no continente americano e o Brasil é o quinto país com maior número de óbitos ligados ao consumo de bebidas, aponta estudo da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os dados foram publicados nesta terça-feira (14) na edição on-line da revista científica “Addiction”.
O estudo analisou todas as mortes ligadas ao álcool entre 2007 e 2009 em 16 países da América do Norte e da América Latina. Eles afirmam que o uso da substância provocou uma média anual de 79.456 mortes que poderiam ter sido evitadas se não houvesse consumo de álcool.
Na maioria dos países, as doenças hepáticas foram a principal causa dessas mortes, seguidas de transtornos neuropsiquiátricos. Segundo os autores, a pesquisa só mostra “a ponta do iceberg de um problema maior”.
As taxas de mortalidade por consumo de álcool variam entre os países: as mais altas são as de El Salvador (uma média de 27,4 em 100 mil mortes por ano), Guatemala (22,3) e Nicarágua (21,3), México (17,8) e, em quinto lugar, do Brasil (12,2 para 100 mil mortes por ano).
Os índices se distanciam dos registrados na Colômbia (1,8), Argentina (4,0), Venezuela (5,5), Equador (5,9), Costa Rica (5,8), e Canadá (5.7). Em todos os países estudados, 84% dos mortos que tiveram relação com álcool eram homens.
Por idade, as taxas mais altas de mortalidade por consumo de álcool foi registrada no grupo de pessoas entre 50-69 anos na Argentina, Canadá, Costa Rica, Cuba, Paraguai e Estados Unidos. No Brasil, no Equador e na Venezuela, as maiores taxas de mortalidade por álcool foram entre pessoas com idade entre 40 e 49 anos.
Já o México registrou um padrão diferente. O risco de morte por ingestão de álcool aumenta ao longo da vida e alcança seu máximo depois dos 70 anos.
Segundo os autores do estudo, as mortes ligadas ao consumo de álcool podem ser prevenidas através de políticas e intervenções que reduzem a ingestão de bebidas, incluindo restrições à disponibilidade de produtos, aumento de preços e controle no mercado e na publicidade.
 
 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Modelos de Comportamento: O Processamento Espontâneo

Resenhado por Laís Santos

Stroebe, W. &Stroebe, M.S. (1995). Psicologia Social e Saúde. Instituto Piaget. 50-70.

            O modelo de Processamento Espontâneo foi desenvolvido por Fazio, em 1990. Esta teoria propõe que, em maior ou em menor grau, todos os comportamentos estão associados a deliberações cognitivas (formação ou recuperação de atitudes relativas ao comportamento ou às intenções). Nos casos em que os sujeitos não são capazes ou não estão dispostos a deliberar cognitivamente, dá-se o processamento espontâneo.
            A teoria é fundamentada na ativação da atitude, percepção seletiva, percepções imediatas do objeto alvo da atitude e na definição do evento e comportamento. A ativação da atitude diz respeito à ativação da memória diante do objeto alvo da atitude. Esta primeira etapa ocorre automaticamente, visto que, não há um gasto representativo de energia. Por exemplo, ao ver um cachorro, um sujeito ativará automaticamente à memória diante deste objeto e, consequentemente, uma atitude será ativada.
            A percepção seletiva, por sua vez, corresponde à facilidade em recordar uma atitude associada a características do objeto. Ela depende da força de associação entre a atitude e o objeto e da avaliação individual a respeito deste. Em outras palavras, ao passo que se ativam atitudes, são percebidas qualidades do objeto em congruência com as atitudes do sujeito. Quando se ativam atitudes positivas, atribuem-se qualidades positivas, quando se ativam atitudes negativas, atribuem-se qualidades negativas. Como ilustração, para uma pessoa que tem afinidade com esportes e futebol, ao ver um jogo de futebol certamente haverá a ativação de pensamentos positivos de saúde e divertimento. Para outra que veja o mesmo jogo, masque não goste de esportes, tampouco de futebol, provavelmente haverá a ativação de pensamentos negativos, sentimentos de desagrado e exaustão.
            Após este processo de ativação, ocorre a definição do evento. As normas, que correspondem às expectativas que as pessoas mais importantes para nós tem em torno do nosso comportamento, também influenciam esse modelo interferindo na definição do evento. Para Fazio, há dois pontos cruciais: a acessibilidade de atitudes relevantes interfere na associação entre atitude e comportamento e as atitudes fortes exercem maior influência na percepção.
            No primeiro ponto, estudos feitos por Fazio e colaboradores apontam que a velocidade de resposta evidencia a acessibilidade das atitudes. Para eles, as atitudes baseadas em experiências diretas seriam mais acessíveis do que as que foram formadas como resultado de descrições do objeto alvo. A frequência com que uma atitude é ativada interfere na rapidez e correspondência entre atitude e comportamento. O segundo ponto nos mostra que as atitudes fortes exercem um efeito seletivo na percepção. Por exemplo, num questionário a respeito das eleições nacionais, a rapidez de respostas referentes a candidato “X”, de acordo com este modelo, prevê uma correlação maior frente as suas atitudes e suas crenças acerca do objeto alvo da atitude.
            Em suma, esta teoria ajuda as situações-problema nas quais as intenções comportamentais tendem a falhar. Entende-se que as atitudes devem exercer grande influência nos comportamentos processados instantaneamente. De acordo com esta teoria, as atitudes relativas ao objeto antecedem as atitudes relativas ao comportamento. Em comparação com a Teoria da Ação Racional (TAR) e com a Teoria da Ação Planejada (TAP), nota-se que este modelo carece de maiores detalhamentos e maior precisão e que deve ser utilizado de forma complementar aos outros modelos citados.