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terça-feira, 29 de julho de 2014

Venda de calmantes sobe 42% no Brasil nos últimos 5 anos

Postado por Ariane de Brito

O uso de tranquilizantes no Brasil, principalmente aqueles da classe dos benzoadiazepínicos (como Rivotril, Valium e Lexotan), vem crescendo a cada ano. Segundo levantamento da consultoria IMS Health, entre os anos de 2009 e 2013, a venda desses psicotrópicos no país saltou de 12 milhões para 17 milhões, indicando um aumento de 42%. No entanto, em alguns países europeus (Alemanha e Inglaterra) a venda desses fármacos tem diminuído significativamente nos últimos dez anos. Então, quais são os possíveis motivos que tem levado a esse aumento na população brasileira?


“[...] Os psiquiatras dizem que no Brasil grande parte do uso é feito sem supervisão e em quantidades e prazos muito além dos recomendados.
"O uso deveria ser temporário, por dois ou três meses, mas há pessoas tomando por anos. É uma situação muito mais grave do que se pensa", diz Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Segundo Silva, a falta de um sistema de controle adequado sobre as vendas de psicotrópicos e a prescrição indiscriminada por médicos de outras áreas são alguns dos fatores que explicariam o aumento do consumo.
Ele afirma que a associação fará neste ano campanhas públicas nas mídias sociais alertando a população sobre o perigo do uso prolongado dos remédios[...]”.




domingo, 27 de julho de 2014

Sentido da vida

Postado por Luana Santos
Apesar de popularizado no senso comum, sentido de vida é um construto de valor adaptativo estudado desde 1977. Vitor Frankl foi quem primeiro se concentrou em estudar o desejo de encontrar um significado para a vida, um sentido que, caso encontrado, geraria um ímpeto de responsabilidade para o ser humano, orientando-o para alguma ação. Dos estudos de Frankl surge a Logoteoria e a Logoterapia, evidenciando que além de promover adaptação, o sentido tem também força terapêutica conquanto pode se constituir um dos principais motivadores do ser humano, a partir do qual se é investida uma energia extrema a fim da realização de algo. 


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Dados demográficos, psicológicos e comportamentais de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual

Resenhado por Iracema Freitas

Serafim, A. P., Saffi, F., Achá, M. F. F., & Barros, D. M. (2011). Dados demográficos, psicológicos e comportamentais de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. Revista de Psiquiatria  Clínica, 38, 143-147. doi: 10.1590/S0101-60832011000400006

A relação entre transtorno mental e abuso sexual vem sendo abordada pela literatura e pela prática clínica. Dentre os transtornos foram identificados, o transtorno afetivo, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de ansiedade, distúrbios alimentares, dependência química, transtornos psicossexuais (problemas quanto ao seu papel e funcionamento sexual), sintomas depressivos e agressivos, além de serias dificuldades em relacionamentos interpessoais.
            Nesse estudo verificou-se que tanto meninos quanto meninas vítimas do abuso apresentaram elevada frequência para depressão e transtorno de estresse pós traumático (TEPT). A amostra foi composta por 205 crianças e adolescentes vítimas de abuso, com idades entre 6 a 14 anos, sendo 130 meninas e 75 meninos, que passaram por uma avaliação clínica psiquiátrica, uma entrevista diagnóstica e uma bateria de testes psicológicos como: Teste de Pfister, TAT- Teste de Apercepção Temática, CAT-A –Teste de Apercepção Temática Infantil e Teste de desenho Casa-Arvóre-Pessoa.
Os resultados apresentados mostram que meninos sofrem abuso entre 3 a 6 anos e as meninas entre os 7 a 10 anos; o perpetrador (abusador) é com maior frequência o pai, seguido do padrasto, tio, primo e desconhecidos; a depressão e TEPT são mais comuns entre as meninas, já entre os meninos o retraimento perante a figura masculina é maior. Um ponto interessante é a visão que a amostra apresenta quando se trata da figura feminina, como sendo protetora, frágil e incapaz, enquanto a figura masculina como a de alguém que tem necessidade de fazer o mal, forte e violenta. Quanto aos aspectos afetivos e emocionais tiveram maior porcentagem, a culpa, vergonha, medo e insegurança
O abuso não leva apenas ao comprometimento da saúde mental, também leva a déficits cognitivos, emocionais, sociais e comportamentais. Apesar dos estudos sobre o tema terem crescido, há dificuldades em prestar assistência às vítimas, primeiro em virtude dos aspectos afetivos emocionais acima citados que acabam levando ao silêncio dos abusados, seguido da impotência e negligência da figura feminina diante da força e violência do perpetrador. Além disso questões de ordem social e a própria exposição da vítima, bem como do tipo de serviços voltados para tal problema tendem a tornar o suporte pouco eficaz, uma vez que os profissionais envolvidos (médicos, legistas, assistentes sociais, autoridades policiais e judiciarias) podem chegar a diagnósticos equivocados quanto ao caso analisado.

O trauma psíquico causado pelo abuso se reflete em todas as esferas de funcionamento da vítima, que deveria ter na família o ambiente protetor. No entanto, recebe esse ambiente passa a ser uma ameaça constante para a vitima, que está diante de um espaço estressor contínuo. Desenvolvendo uma sensação de desamparo, medo e abandono, sem qualquer possibilidade de defesa, pois a vítima se vê na condição de convívio diário com seu agressor. Tal modelo de relacionamento será projetado para as demais modalidades de relacionamento que o abusado irá desenvolver com o mundo e seus traumas tendem a ser identificados e tratados apenas no estágio mais avançado em que o sofrimento psíquico toma repercussões mais graves, como na manifestação da depressão, retraimento social e demais comportamentos desadaptativos.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Mudança climática resultará em mais estresse, ansiedade e Transtornos de estresse pós-traumáticos.

Postado por Lucila Moraes

Um dos grandes impactos do aquecimento global ocorre não só no meio ambiente, como também em nós como seres humanos, como no sentimento de trauma ou perda após uma tragédia, em que os sobreviventes precisam lidar com a perda de familiares, amigos, suas casas, e enfim, sua comunidade como um todo.
A maneira como lidamos com tais experiências em um mudo que enfrenta o aquecimento global é o tema do novo relatório ‘Além de tempestades e secas: Os impactos psicológicos da mudança climática’, realizado pela APA (Associação Americana de Psicologia) e Ecoamerica. Ambas as organizações emitiram o relatório como forma de alertar os impactos das mudanças climáticas no psicológico dos americanos. Isso significa maiores níveis de estresse, ansiedade e transtornos pós-traumáticos no futuro.
 ‘Os efeitos que são mais prováveis de ocorrer não são apenas traumas por presenciar desastres naturais. Nós devemos também esperar aumentos ao longo prazo dos níveis de estresse e ansiedade como resultados dos desastres, bem como o aumento das taxas de violência e crime consequência do aumento das temperaturas e competição por escassez de fontes. ’ Afirmou o Dr. Norman B. Anderson, o CEO da APA em um comunicado à imprensa anunciando o relatório. ’
O relatório ainda presume um futuro com maiores abusos de substâncias, emergências de saúde mental, pessoas sofrendo ‘ solastalgia’ (que é o que as pessoas sentem após serem deslocadas de suas casas depois que ocorre um desastre natural como um furacão, por exemplo), e por fim, perda de autonomia e identidade pessoal.

Porém o relatório não pretende mostrar apenas um futuro obscuro e fadado à melancolia, ele serve como forma de alerta para como a comunidade pode se preparar para evitar tais consequências e mudanças climáticas e prevenir tais acontecimentos, como aumentar a coesão da comunidade, aumentar a saúde e o bem-estar da população e reduzir os riscos.




The impacts of climate change on the world are often obvious, like the sight of retreating glaciers in Alaska or the slow creep of rising seas that are washing big portions of southern Louisiana out into the Gulf of Mexico.
But look at it from a different perspective, and it's clear that some of the biggest impacts from Earth's rapidly warming climate occur within us as human beings, like the sense of loss and trauma felt by hurricane survivors after everything they know – their homes, workplaces, churches, really their entire community – is swept out to sea.
How we'll handle experiences like these in a world changed by global warming is the subject of a new report, "Beyond Storms and Droughts: The Psychological Impacts of Climate Change," by the American Psychological Association and ecoAmerica, an environmental advocacy group devoted to climate change and sustainability issues.
Both organizations issued the report as a wake-up call to all Americans, whom they say can expect "broad psychological impacts" on their well-being and health from climate change.
That means a future with heightened levels of stress, anxiety, post-traumatic stress disorder and depression, as well as a loss of community identity – if nothing is done to stop or slow emissions of industrial-produced greenhouse gases into the atmosphere.
"The striking thing is how these effects will permeate so many aspects of our daily lives," said Dr. Norman B. Anderson, CEO of the American Psychological Association, in a press release announcing the report.
"The effects we are likely to see aren't just trauma from experiencing natural disasters," he added. "We can also expect increases in long-term stress and anxiety from the aftermath of disasters, as well as increases in violence and crime rates as a result of higher temperatures or competition for scarce resources."
The report (download it here) paints a picture of a future with more:
Substance abuse: A 2012 study found a spike in cases of substance abuse among Canada's Inuit community, which is gradually losing its hunting and fishing-based livelihood to shorter, milder winters and longer, hotter summers.
Mental health emergencies: Rises in temperature are associated with a rise in the use of mental health services, not only in traditionally warm-weather regions but also in cooler countries like France and Canada. "Higher temperatures seem to provide an additional source of stress that can overwhelm coping ability for people who are already psychologically fragile," the report notes.
People experiencing "solastalgia": It's what people feel when they're suddenly dislocated from their home after a storm or a wildfire, for example. "However, solastalgia has a less sudden or acute beginning due to the slow onset of changes in one’s local environment," the report adds.
Loss of autonomy and personal identity: Climate change will have an impact on many of the daily details about our lives that we take for granted, like seasonal changes and the stability of our roads, bridges and sidewalks, the authors write. "The desire to be able to accomplish basic tasks independently is a core psychological need, central to human well-being ... and may be threatened for people who have difficulty leaving home due to dangerous conditions."
But the report isn't all doom and gloom. As the authors note, they've issued the report as a wake-up call because they believe it isn't too late to prevent the worst from happening. And they even write about what they call "post-traumatic growth," noting that long-term psychological trauma isn't inevitable simply because individuals or communities experience climate-related hardships.
"There are a number of things communities can do to prepare for acute impacts of climate change -- such as hurricanes and wildfires -- as well as the slowly evolving changes like droughts that permanently and profoundly affect communities," ecoAmerica President Bob Perkowitz said in a press release.
"Virtually everything a community does to prepare for or help prevent climate change has co-benefits, like increased community cohesion, increased health and well-being, and risk reduction," he added.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Intervenção com crianças em tratamento quimioterápico: um relato de experiência.

Resenhado por Thatianne Almico

Castro, M. M. C. & Ribeiro, L. M. S. (2007). Intervenção com crianças em tratamento quimioterápico: um relato de experiência. Revista Pediatria Moderna, v. 43, nº2.


A quimioterapia (QT) é um tratamento bastante utilizado como tentativa de controle do câncer e pode ser administrada de diversas maneiras. Apesar de possibilitar bons resultados a QT é muito tóxica e atinge diversos tecidos do organismo, destruindo-os. Além disso, a repercussão do diagnóstico do câncer infantil ocasiona uma série de transformações e desestruturações na vida da criança e da família, visto que a rotina da criança muda completamente devido às idas ao hospital, aos exames e tratamento invasivos e dolorosos.
A falta de compreensão da doença e do tratamento gera na criança sensação de perigo e de que algo ruim está acontecendo com ela, principalmente pelo fato de as limitações consequentes da doença interferirem na vida social da criança, impedindo-as de ir à escola, de brincar e fazer as atividades que fazia antes. Diante disso, alguns ajustes são necessários também na família, para que todos possam se adaptar ao novo contexto da doença. Para tanto é fundamental algumas mudanças de papel, atitudes e postura nas diversas situações.
A família tem um papel fundamental auxiliando a criança no enfrentamento da doença e na adaptação das dificuldades que surgem com o tempo de tratamento, com isso está também suscetível a uma desestruturação em nível emocional, vivenciando sentimentos como depressão, medo das sequelas do câncer, culpa, desespero, sentimento de impotência, entre outros. Por outro lado, a representação que as crianças e suas famílias constroem da doença e seu tratamento irá influenciar no enfrentamento da mesma. O que resultará num significado particular à experiência da enfermidade, ressignificando e transformando o caráter desconhecido da doença tornando-a familiar. Buscando uma nova visão da realidade, tornando a doença compreendida a partir do modo como ela se apresenta na vida psicossocial do sujeito e da interpretação que é dada a ela.
Considerando que a melhora da criança é determinada, também, por seu comportamento, bem como reações psíquicas, crenças e as percepções sobre a doença e seu tratamento, considera-se importante utilizar intervenções que facilitem a compreensão da criança acerca do seu estado de saúde e do tratamento que está submetida. A fim de que a mesma tenha conhecimento da importância do seu poder ativo estimulando-a a colaborar com o tratamento, auxiliando-a de modo que o enfrentamento se dê da forma menos estressante possível. Com isso, este trabalho teve por objetivo a partir da intervenção psicoeducativa, mostrar como as crianças representam e experienciam o tratamento psicoterápico, averiguando a repercussão da mesma.
O estudo foi realizado numa clínica particular de oncologia em seis encontros, um por semana, em duas horas/dia em média. A atividade dividiu-se me dois momentos: primeiro, as crianças tiveram a oportunidade de falar sobre suas experiências, crenças e fantasias sobre a doença e tratamento e segundo, realizou-se uma dramatização (intervenção) a fim de que as crianças pudessem compreender melhor seu tratamento. Para realizar a atividade foi utilizado o livro (“Conhecendo o Quiminho”, Françoso, 2003), onde foi contada a história do Quiminho.
Observou-se com a atividade que as crianças compartilhavam os mesmos sentimentos em relação ao tratamento, sendo estes relacionados a dor, mal-estar, fraqueza, entre outros. Ainda assim reconheciam o seu potencial curativo, um meio de afastarem-se da morte, demonstrando consciência da gravidade da doença. Notou-se também que as crianças possuem pouco conhecimento sobre o tratamento, visto que revelaram tomar o medicamento apenas para ficarem curados. Isto indica que as crianças têm uma representação ambígua do tratamento, pois ao mesmo tempo em que cura, destrói. Dentre todos os efeitos colaterais, a queda do cabelo (80%) foi associada como o principal dano da medicação. Como se não bastassem as consequências da quimioterapia, as crianças relataram ainda o incômodo da aplicação, seis crianças afirmaram não conhecer outra forma de aplicação (46,15%) e três já receberam a aplicação pelas três vias.

Ao final do estudo foi possível compreender a importância de criar espaços nos quais as crianças possam compartilhar seus sentimentos, medos e crenças acerca do tratamento quimioterápico, viabilizando a mesma elaborar sua experiência e ressignificar o tratamento. Com isso espera-se que a criança tenha uma mudança de postura frente à doença e assuma um papel ativo e positivo diante do enfrentamento, construindo um repertório de estratégias para lidar com câncer a fim de passar por esse processo de modo mais saudável.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Esteróides Anabolizantes e o Sistema Nervoso

Resenhado por Monique Carregosa


Pedroso, J. L. (2012). Esteróides anabolizantes e o sistema nervoso. Rev Neurocienc.,20(2),181-182


Como o próprio título sugere, o presente texto buscou mostrar a inter-relação entre anabolizantes e Sistema Nervoso, através da descrição de pesquisas já existentes na área. Para tanto, o autor justifica o estudo em razão do uso dessas drogas já ser um problema de saúde pública, uma vez que acomete não só atletas, mas um público diversificado que cada vez mais se preocupa com a estética e a imagem corporal. Consequentemente, com o uso e abuso dessas substâncias cresce também a quantidade de efeitos colaterais, a saber: acne, ginecomastia, disfunção erétil e problemas cardiovasculares e hepáticos. 
Sobre os efeitos diretos no Sistema Nervoso, o autor menciona estudos que têm indicado alterações psiquiátricas, distúrbios do sono e alterações neuro-hormonais. Como alterações psiquiátricas destacaram-se as mudanças do humor, a exemplo da labilidade ou instabilidade emocional; euforia; impulsividade; aumento da auto-estima e mudanças comportamentais, como o comportamento violento.
              Em relação aos distúrbios do sono, enquanto alguns estudos apontaram a insônia como uma das consequências do uso dos esteróides anabólico-androgênicos (EAAs), outros detectaram o aumento da fase 4 do sono não-REM e aumento da latência para início do sono REM.  Em termos de uso crônico de anabolizantes, se por um lado usuários apresentaram uma redução no tempo total de sono, na fase não-REM e de efi­cácia, por outro exibiram um aumento do estágio N2. A síndrome de apnéia obstrutiva do sono também foi considerada como outro possível efeito colateral, uma vez que os fármacos podem modificar a configuração estrutural da orofaringe.
              Estudos recentes sobre o uso crônico de anabolizantes, mas através do modelo animal e uso do esteróide stanozolol, ainda evidenciaram uma diminuição nos níveis de fator neurotrófico advindo do cérebro e dopamina no hipocampo e cór­tex pré-frontal; redução na expressão dos receptores de glucocorticóides no hipocampo e no plasma e aumento dos níveis basais matinais de cortisol plasmático. Portanto, todas as supracitadas modificações metabólicas têm sido relacionadas a distúrbios do humor, a exemplo da depressão. Além disso, como o sistema monoaminér­gico regula o comportamento humano, comportamentos sexuais, medo, ansiedade e a agressividade, sugere-se que os anabolizantes podem ocasionar alterações nas monoaminas, comportamentais e distúrbios do humor.
              Entretanto, ainda através do modelo ani­mal, Silva e cols. (2012) não constataram alterações estruturais do cérebro no grupo exposto ao anabolizante Decanoato de Nandrolona, apesar da curta exposição, especialmente nas fibras de Purkinje do ce­rebelo. Conforme o autor, o resultado exposto pode reforçar a teoria de que as descrições de efeitos adversos ao sistema nervoso ocorrem principalmente no sistema neuro-hormonal. Desse modo, a provável ausência de efeito tóxico no cerebelo pode ser fortalecida pela falta de clareza nos trabalhos quanto à  presença de ataxia ou outras alterações cerebelares com a cronicidade dos anabolizantes.
     Portanto, percebe-se que os esterói­des anabolizantes exercem consequências significativamente negativas no Sistema Nervoso, e, inclusive, que resvalam no psiquismo dos usuários. Faz-se necessário estudos mais específicos sobre as alterações neuro-hormonais ou estruturais provenientes do uso de esteróides anaboli­zantes, a fim de conhecer melhor quais seus efeitos positivos e/ou negativos e seu real impacto na sociedade e na saúde pública. 

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Sex differences in depression and anxiety disorders: Potential biological determinants

Resenhado por Rafael Matos


Altemus, M. (2006). Sex differences in depression and anxiety disorders: Potential biological determinants. Horm Behav 50, 334-338.


O presente texto tem por objetivo mostrar a existência de determinantes biológicos na incidência e agravamento da depressão e transtornos de ansiedade levando em consideração diferenças de gênero.
Estudos realizados têm demostrado que as mulheres são mais propensas do que os homens a desenvolver depressão e transtornos de ansiedade, incluindo depressão unipolar, distimia, síndrome do pânico, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade social e fobias. Estas diferenças entre os sexos são encontradas em culturas e países diversos, o que sugere uma base biológica como determinante desta diferença.
Alguns comportamentos e experiências culturalmente discrepantes quanto a sua ocorrência em relação ao gênero, tais como: a subordinação social, maiores taxas de abuso sexual e maior número de submissão a dietas, todas estas situações mais comuns nas mulheres, podem promover o desenvolvimento de transtornos afetivos.
Este último comportamento (restrição alimentar) está relacionado à alteração do neurotransmissor seratoninérgico, que por sua vez está relacionado à regulação do humor, podendo desta forma aumentar o risco de depressão em mulheres que fazem dieta.
Um exemplo claro, mostrado no presente artigo, de que fatores hormonais podem está relacionado com transtornos de humor, está na presença do Transtorno Disfórico Pré-Menstrual considerado como uma forma agravada da TPM comum, entretanto com sintomas particularmente graves, envolvendo sempre um componente de humor, e geralmente interferindo significativamente no funcionamento social e ocupacional das mulheres.
Alterações hormonais como as sofridas no período pré-menstrual estão relacionadas com o agravamento de transtornos de ansiedade. Dentre eles, o que sofre maior ampliação de seus sintomas é o Transtorno Obsessivo Compulsivo.
Depois do que foi exposto é possível perceber porque as mulheres apresentam maior incidência de transtornos de ansiedade e depressão comparadas aos homens, uma vez que fatores hormonais estão intimamente relacionados a estes transtornos, e as mulheres estão sujeitas a maiores fluxos hormonais durante a vida do que aqueles.

Nos últimos anos, o reconhecimento de determinantes biológicos nos transtornos mentais tem crescido, embora de forma lenta. Isso pode ser compreendido pelo fato de que a psiquiatria foi à última das especialidades médicas a passar para um sistema diagnóstico de base biológica, principalmente devido à inacessibilidade do cérebro. Avanços nesta direção têm aberto um importante caminho para uma análise minuciosa da fisiopatologia da ansiedade e depressão e de outros transtornos mentais, e o estudo de diferenças entre sexo tem desempenhado um enorme papel nesta investigação. 

terça-feira, 15 de julho de 2014

Visão positiva da velhice melhora a saúde de idosos

Postado por Iracema Freitas


Saber lidar de forma positiva com a própria velhice retarda a perda de habilidades para tarefas cotidianas. Estudo feito na Universidade Yale, nos Estados Unidos, acompanhou 598 pessoas com mais de 70 anos por 11 anos. Os mais otimistas apresentaram uma maior capacidade maior de retomar as atividades cotidianas , demandando meno o suporte de terceiros.


Encarar a velhice de forma positiva pode ser uma maneira eficaz de melhorar a saúde. De acordo com uma pesquisa publicada nesta quarta-feira no periódico The Journal of The American Association (JAMA), essa atitude eleva as chances de um idoso readquirir a capacidade de realizar sozinho atividades do cotidiano, como tomar banho ou andar, e também retarda a perda dessa habilidade, problema que ocorre normalmente com o envelhecimento.O estudo, feito na Universidade Yale, nos Estados Unidos, acompanhou 598 pessoas com mais de 70 anos ao longo de 11 anos. Quando a pesquisa começou, nenhum participante tinha dificuldade em realizar tarefas do cotidiano. No entanto, durante o período em que o estudo foi realizado, todos eles apresentaram, em algum momento, incapacidade em relação a essas tarefas.Durante os anos do estudo, os pesquisadores avaliaram a saúde dos participantes e também a visão de cada um em relação à terceira idade. Para isso, a equipe pedia que esses indivíduos falassem a primeira frase ou as primeiras cinco palavras que lhes viessem à mente quando pensavam em velhice. As incapacidades levadas em conta no estudo foram aquelas que impediam que os idosos realizassem, sozinhos, tarefas do dia-a-dia, como tomar banho, vestir-se e andar.De acordo com os pesquisadores, os idosos com o ponto de visa mais otimista em relação à velhice apresentaram até 44% mais chances de se recuperar completamente de alguma incapacidade do que os participantes mais pessimistas em relação à terceira idade. Ou seja, eles conseguiram voltar a realizar atividades cotidianas sem a de ajuda de alguém. Essas pessoas também foram mais capazes de atenuar a gravidade da incapacidade e, além disso, apresentaram um declínio mais lento dessas habilidades.A pesquisa mostra, segundo os pesquisadores, que o ponto de vista de uma pessoa em relação à velhice pode fazer com que ela seja um idoso mais independente e saudável. Eles acreditam que os próximos estudos devam buscar formas de promover o otimismo entre pessoas que estão entrando na terceira idade. 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Transtorno de Adaptação (Adjustment Disorder)

Resenhado por Geovanna Souza


Lipp, M. E. N. (2007). Transtorno de adaptação. Boletim Academia Paulista de Psicologia27(1), 72-82.


Este trabalho buscou dissertar acerca do transtorno da adaptação, mais conhecido na literatura como estresse emocional, bem como narrar suas características e evolução na vida dos indivíduos e na literatura científica. Lipp (2007) fala do conceito de adaptação em seu artigo como um estado de desequilíbrio do funcionamento psíquico e orgânico que ocorre quando o organismo necessita utilizar seus recursos psicobiológicos para lidar com eventos que exijam uma ação defensiva. Dessa forma, adaptar-se a um evento estressor é um meio do organismo voltar ao bem estar psicológico e físico que ficou ameaçado frente a um evento negativo. O estresse emocional é desencadeado pela necessidade que o indivíduo tem de lidar e enfrentar àquela ameaça. Quando o indivíduo não consegue abarcar mecanismos de enfrentamento, o organismo do sujeito pode desenvolver consequências negativas para a saúde.
O estresse foi um dos principais fatores que ajudaram o homem a permanecer vivo até hoje, juntamente a essa capacidade adaptativa que possuímos. O transtorno de adaptação/ajustamento é um processo complexo, com componentes psicobioquímicos já geneticamente programados no ser humano desde o seu nascimento, a fim de ajudá-lo a preservar sua vida (p.72).
O estresse tem sido ostensivamente estudado tanto na área da saúde como dentro da Psicologia, uma vez que ocasiona graves consequências a níveis psicológico, social e imunológico. Ele pode provocar um desiquilíbrio psicofísico, deixando o sujeito irritado, mal humorado, apático, podendo ainda ser um fator desencadeador de inúmeras enfermidades, como hipertensão, diabetes, impotência sexual, dentre outras. A pessoa estressada lida mal com as mudanças porque sua habilidade de adaptação está envolvida inteiramente no combate ao stress (p.73).
Lipp também fala que a reação ao estresse pode ser classificada de acordo com seus desencadeadores negativos, enquanto os estressores podem ser classificados como externo, que independem do comportamento do sujeito, e internos, que são determinados pelas próprias ações dos indivíduos.  Vale ressaltar que há características individuais que podem predispor uma pessoa a ter reações negativas frente ao evento estressor, enquanto outra pessoa poderá não desencadear reações..
O estresse pode ser ocupacional (desencadeado no ambiente profissional), infantil (voltado a aspectos da infância), interpessoal (que se dá na relação com outra pessoa), entre outros tipos. Além do tipo do estressor também é necessário se conhecer os critérios diagnósticos, ou seja, saber por exemplo, se ele é agudo (ocorre após um evento traumático e por um tempo limitado) ou crônico (representar uma das fases mais graves do estresse e é provocado por um estado de tensão prolongado que pode levar ao desenvolvimento de várias doenças).
No Brasil, a cada ano vem surgindo mais estudos sobre o tema. Isso acontece porque o processo de adoecimento psicológico está mais presente no dia a dia das pessoas, independente de classe social, raça, etnia, escolaridade, idade ou ocupação. As pessoas precisam saber como desenvolver potenciais positivos para se adaptar aos infortúnios que aparecem rotineiramente. Encerrando, Lipp fala que

a teoria da evolução mostra que, em momentos de grandes mudanças, só sobrevivem os melhores, os mais equipados para lidarem com o que é novo, aqueles que desenvolvem mecanismos de enfrentamento, aqueles que aprendem a viver com a mudança e adaptam-se. Os que não conseguem uma adaptação ao que está ocorrendo ao seu redor não sobrevivem no mundo em mutação constante. Por isso é que se torna tão importante estudar e descobrir métodos de prevenção do transtorno de adaptação (Lipp, 2007, p. 79).


Estando na dimensão biopsicossocial, o estresse acarreta amplos efeitos negativos na vida dos indivíduos, e é em virtude disso que devemos buscar conhecer as facetas desse construto que nos acompanha desde os primórdios, e que nunca nos abandonará. É necessário saber adaptar-se, buscando assim, o equilíbrio entre corpo e mente. Este trabalho vem nos mostrar a importância dessa síndrome e suas principais características dentro da comunidade científica. 

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Parenting stress in families of children with ADHD: A meta-analysis


Resenhado por Ariane de Brito

Theule, J., Wiener, J., Tannock, R., & Jenkins, J. M. (2013). Parenting stress in families of children with ADHD: A meta-analysis. Journal of Emotional and Behavioral Disorders, 21, 3-17. doi: 10.1177/1063426610387433.

O presente estudo procurou realizar uma meta-análise sobre a relação entre o transtorno de déficit atenção e hiperatividade (TDAH) e estresse parental. Esta metodologia adotada (meta-análise) fornece uma revisão sistemática de estudos sobre a temática em questão.
O TDAH é uma condição crônica, generalizada, caracterizada por desatenção, impulsividade e hiperatividade. O estresse parental é um tipo distinto de estresse que surge quando as percepções do pai/mãe acerca das exigências da parentalidade supera seus recursos para lidar com eles. Apesar do estresse parental ser de alguma forma considerado normal, quando em níveis elevados ele pode afetar a relação pai-filho e afetar negativamente as práticas parentais.
Estudos têm mostrado que famílias com crianças com TDAH apresentam elevações no nível de estresse dos pais. A depressão também tem se mostrado associada com o estresse parental nesta população. A diminuição da qualidade conjugal aparece relacionada com o TDAH. Já o apoio social tem se mostrado como um fator de proteção contra o estresse parental nesta população.
As questões que nortearam o estudo foram: (1) como é ter uma criança com TDAH associado com o estresse dos pais? (2) como é a presença de problemas de conduta em crianças com TDAH associado com o estresse dos pais? (3) como são os fatores parentais associados com o estresse parental em pais de crianças com TDAH? (4) como é o fator contextual de qualidade conjugal associada com o estresse parental em pais de crianças com TDAH? e (5) como os moderadores (metodológicos e amostral) afetam os resultados da relação entre a gravidade do TDAH e o estresse parental?
Como metodologia, uma pesquisa computadorizada foi realizada para localizar estudos relevantes sobre a temática, usando a PsycINFO, ERIC, Medline, Dissertation Abstracts International, e Google Acadêmico. Alguns termos de pesquisa, relacionados com TDAH e estresse parental, e critérios de inclusão também foram utilizados para delimitar a pesquisa e a escolha dos artigos. Um total de 44 relatórios escritos (artigos de periódicos e dissertações) preencheram estes critérios.
De modo geral, os resultados indicaram que o ano de publicação dos relatórios avaliados variou entre 1983 e 2007. A maioria dos estudos foi realizada na América do Norte e utilizaram o Parenting Stress Index (Índice de Estresse Parental) ou uma variante deste para medir o estresse dos pais. Percebeu-se também que alguns estudos utilizaram diferentes critérios diagnósticos para confirmar ou estabelecer o TDAH nas crianças participantes. Os critérios foram retirados principalmente do DSM-IV, DSM-III-R, DSM-III, e CID-10.  
A maior parte dos estudos analisou apenas o estresse parental nas mães. As amostras que tinham pais eram compostas principalmente de mães (85% ou mais da amostra), a menos que as comparações mãe-pai estivessem sendo realizadas. Observou-se ainda que pais/ mães de crianças com TDAH apresentaram significativamente mais estresse parental do que os pais de crianças não-clínicas. Além disso, pais de crianças com TDAH e problemas de conduta experimentaram significativamente mais estresse parental do que aqueles pais de crianças com TDAH, mas sem problemas de conduta.
Sobre os pais e os fatores contextuais, não foram observadas, nos estudos analisados, associações significativas entre qualidade conjugal e estresse parental. Na maioria dos estudos os resultados não alcançaram significância estatística no que se refere à comparação de estresse parental em mães e pais. Isso indica que mães e pais de crianças com TDAH não diferem significativamente em seus relatos de estresse parental.
Em relação à criança, o sexo foi uma variável significativa. O estresse parental apresentou-se menor nas amostras com maiores proporções de meninas. Vale mencionar que, a faixa etária das crianças nas amostras variou de 3 a 12 anos, com uma idade média ​​de 8,48 anos. O percentual de meninas nas amostras em cada estudo variou de 0 a 100%, com uma média de 19,25%.   Já a idade da criança não foi uma variável significativa.
Alguns estudos também compararam pais de crianças com TDAH com os pais de crianças com dificuldades de aprendizagem, autismo, atrasos de desenvolvimento, problemas internalizantes, e distúrbios clínicos inespecíficos. Quanto aos moderadores metodológicos, não houve nenhum significativo.
Essa meta-análise forneceu uma atualização quantitativa dos estudos sobre estresse parental em pais de crianças com TDAH. Como ponto forte do estudo tem-se a inclusão de estudos não publicados. Como limitação, a falta de palavras-chave pesquisáveis ​​para estresse parental nos bancos de dados de artigos relevantes, e a predominância de estudos com mães nas amostras de pais incluídos nesta meta-análise.

Os autores sugerem pesquisas sobre estresse parental com pais de adolescentes com TDAH, já que os participantes de todos os estudos analisados tinham até 12 anos de idade. Contudo, este estudo mostrou-se ser de relevância multidisciplinar. Para os autores, psicólogos, médicos, funcionários da escola e formuladores de políticas precisam ficar cientes do alto nível de estresse dos pais de crianças com TDAH para que medidas necessárias para reduzir esse estresse possam ser tomadas.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Ansiedade aumenta risco de sofrer derrame

Postado por Laís Santos

Estudo realizado na Universidade de Pittsburg aponta que a ansiedade crônica aumenta a probabilidade do sujeito desenvolver um acidente vascular cerebral (AVC). Tal estudo foi realizado a partir de exames e entrevistas feitas com 6019 voluntários no decorrer de 22 anos. Estima-se que tais resultados devam-se aos altos índices de hormônios relacionados ao estresse, alta frequência cardíaca e pressão arterial elevada; bem como, ao fato de que os sujeitos acometidos pela ansiedade crônica são mais propensos a praticar hábitos prejudiciais a saúde, como fumar e não se exercitar de forma regular.


Pela primeira vez, um estudo científico provou que a ansiedade crônica é suficiente para aumentar o risco de uma pessoa sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Em pesquisas anteriores, o derrame esteve associado a uma combinação de ansiedade e depressão. A descoberta foi relatada em um artigo publicado nesta quarta-feira no periódico Stroke, mantido pela Associação Americana do Coração.Os pesquisadores acompanharam 6 019 pessoas que tinham entre 25 e 74 anos no início do estudo. Durante 22 anos, os voluntários realizaram exames médicos e responderam a questionários sobre ansiedade. No fim da experiência, os cientistas concluíram que o risco de os indivíduos mais ansiosos sofrerem um AVC é 33% maior. Motivos — Segundo os responsáveis pelo trabalho, os níveis elevados de hormônios relacionados ao stress, a frequência cardíaca e a pressão arterial dos ansiosos podem explicar o resultado do estudo. Além disso, quem sofre de ansiedade crônica é mais propenso a manter hábitos prejudiciais à saúde cardíaca, como fumar e não praticar exercícios físicos regularmente. Maya Lambiase, principal autora do estudo e pesquisadora da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, explica que sentir ansiedade em alguns momentos da vida é normal — o perigo começa quando a sensação se torna cotidiana. "Ansiedade muito grande ou crônica pode impactar o sistema vascular da pessoa depois de alguns anos", afirma. 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Evidence that really matters



Resenhado por Mariana Menezes

Carroll, D., Ebrahim, S., Tilling, K., Macleod, J., Smith, G. D. (2002). Evidence that really matters: Admissions for myocardial infarction and World Cup football: database survey. BMJ 325, 1439-1442

O infarto do miocárdio pode ser desencadeado por bruscas mudanças psicológicas e comportamentais, e geralmente nas primeiras horas depois que a pessoa acorda. Estudos feitos com pacientes sobreviventes a infarto do miocárdio mostraram que os fatores que mais comumente desencadeiam infarto do miocárdio são problemas emocionais e esforço físico. Estudos mostram que o infarto do miocárdio também pode ser desencadeado por eventos ambientais catastróficos. Em alguns países, após terremotos houve um aumento de internações e mortes por infarto do miocárdio; também durante conflitos militares e guerras, particularmente durante o período em que ataques de mísseis estavam intensos, o número de infartos do miocárdio dobrou. Durante a Copa do mundo de 2002, dois torcedores jovens e saudáveis da Coreia do Sul morreram de ataque cardíaco durante a emocionante vitória sobre a Itália. Um deles entrou em colapso quando seu time empatou.

Diante de tais evidências, o estudo realizado por Carroll, Ebrahim, Tilling, Macleod, Davey Smith levanta a hipótese de que os jogos de futebol importantes, principalmente aqueles em que há disputa de pênaltis, podem desencadear eventos cardiovasculares agudos. Os pesquisadores fazem isso analisando internações de diferentes diagnósticos durante a Copa do Mundo de 1998. Os jogos escolhidos para estudo foram os da Inglaterra e acreditou-se que quaisquer eventos agudos precipitados por uma partida refletiriam nas internações que ocorressem no dia do jogo e nos dois dias após a partida. Os autores acreditam que o estresse de assistir a um jogo importante pode acionar efeitos cardíacos em pessoas que já estão em alto risco. Portanto, internações de três a cinco dias após o jogo também foram analisadas para verificar tais efeitos.
Desta forma, o estudo foi realizado com sujeitos de idade entre 15 e 64 anos que foram atendidos nos hospitais da Inglaterra, seus registros no banco de dados referente ao tempo que passaram sob os cuidados do hospital foram analisados. As informações contidas no registro incluíam idade, sexo, local onde reside e razão de internação. Os jogos da Inglaterra na Copa do Mundo de 1998 aconteceram nos dias 15 de Junho (Inglaterra 2 - Tunísia 0), 22 de junho (Roménia 2 - Inglaterra 1), 26 de junho (Colômbia 0 - Inglaterra 2), e 30 de junho (Argentina 2 - Inglaterra 2; A Argentina venceu a disputa nos pênaltis). Durante este período os dados sobre internações hospitalares por infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, automutilação deliberada e acidentes de trânsito entre os homens e mulheres de 15 a 64 foram coletados. Dados do mês anterior a Copa e dos mesmos períodos de 1997 e 1999 também foram coletados para comparação.
Os resultados da pesquisa mostram que durante a Copa do Mundo, que durou de quinze de junho a primeiro de julho, ocorreram 81.433 internações de emergência: 2% por infarto do miocárdio, 1% por acidente vascular cerebral, 1% por acidentes de transito e 4% por automutilação deliberada. Os períodos após uma vitória e a primeira perda não foram associados a qualquer aumento do número de internações por qualquer das causas examinadas. Porém, no dia do jogo e nos dois dias após o jogo contra a Argentina em que houve disputa de pênaltis, as internações por infarto do miocárdio aumentaram em 25%. Nenhum aumento nas internações foi observado para qualquer um dos outros diagnósticos. Um aumento significativo de internações hospitalares foi encontrado em ambos os sexos, porém o efeito foi um pouco maior para os homens. Os índices de internação por infarto do miocárdio foram maiores em homens do que em mulheres.
O estudo presume que o excesso de internações por infarto do miocárdio ocorreu devido às emoções dos espectadores durante o final muito tenso do jogo e considera que o impacto emocional de eventos desafiadores pode provocar perturbações neuroendócrinas, hemodinâmica e nos sistemas endoteliais, resultando em ruptura de placas ateroscleróticas vulneráveis ou trombose coronária obstrutiva. Além disso, há evidências de que torcedores ingleses que assistiram à disputa de pênaltis, um ano depois mostraram um aumento na pressão arterial e frequência cardíaca.
A conclusão que se pode tirar do estudo é que assim como grandes eventos ambientais, sejam catástrofes físicas ou decepções culturais, são capazes de desencadear infarto do miocárdio. O aumento nas internações sugere que o infarto do miocárdio pode ser desencadeado por distúrbios emocionais, como assistir o time de futebol perder um jogo importante.

Fatores geradores de estresse para atletas da categoria de base do futebol de campo

Resenhado por Mariana Menezes

Santos, P. B., Coelho, R., W., Keller, B., Stefanello, J., M., F. (2012). Fatores geradores de estresse para atletas da categoria de base do futebol de campo. Journal of Sport Sciences, 6 (4): 382-387


O estresse pode ser prejudicial aos atletas ao produzir alguns sintomas físicos, mentais e comportamentais como músculos tensos, inabilidade para se concentrar e maneirismos nervosos durante alguns eventos esportivos; mas também pode favorecer o atleta, preparando seu corpo para atividade intensa e deixando-o alerta, ou seja, preparando seu organismo para um bom desempenho. Deste modo, a capacidade para lidar com o estresse pode ser determinante para o rendimento de um atleta. Em várias modalidades esportivas, e em especial no futebol, a preocupação em manter o bom rendimento do jogador em treinamentos e partidas para que não comprometa jogos futuros é grande. O jogador se sente pressionado a atender as expectativas do treinador, dos companheiros de equipe, dos seus familiares e da mídia.
Além de que os atletas mais jovens têm mais dificuldades para controlar suas reações emocionais por estarem em uma fase sensível do desenvolvimento de sua personalidade, sobretudo naqueles que têm entre 16 e 17 anos. Durante a adolescência, esses jovens passam por alterações físicas, mentais e sociais, além de adquirirem características e competências que os tornam capazes de viver como um adulto. No entanto, nem sempre sua maturação biológica acompanha a idade cronológica, fazendo com que as diferenças entre indivíduos do mesmo sexo possam refletir-se em diferentes graus de maturidade biológica e em diferentes respostas às situações estressoras. O número de atletas que apresentam um estágio maturacional tardio é muito pouco, enquanto muitos jovens jogadores de futebol encontram-se no estágio maturacional acelerado. Com base em tais argumentos, o estudo referido buscou verificar a intensidade e direcionalidade das situações geradoras de estresse para atletas da categoria de base de futebol de campo em diferentes estágios maturacionais.
Para a realização do estudo foi necessária a participação de 18 atletas da categoria de base de futebol de campo, do sexo masculino, com idade média de 16,6 (± 0,5) anos e 8,3 (± 2,1) anos de prática na modalidade. Na coleta de dados foram utilizados dois instrumentos, o Inventário dos Fatores de Stress no Futebol (ISF) e a avaliação do estágio maturacional através da idade esquelética. O primeiro foi utilizado para identificar a direcionalidade (se o estresse é negativo, neutro ou positivo) e a intensidade (de muito negativo até muito positivo) da percepção dos fatores geradores de estresse para atletas de futebol. O inventário foi elaborado de forma que os 77 itens ficassem agrupados e representassem sete grandes fontes de estresse (situações de fracasso eminente ou real, situações de aspectos da competição, situações de demanda física e psicológica, situações de conflito, situações de perturbação, situações de risco e situações de crítica e repreensão) cada uma formada por alguns itens do questionário. O IFS foi aplicado aos atletas após o termino de uma competição. A avaliação do estágio maturacional através da idade esquelética foi feita a partir da radiografia das mãos e dos punhos dos atletas que foram comparadas com radiografias padrão correspondentes a níveis sucessivos de maturação esquelética em idades cronológicas específicas. O que permitiu que os atletas fossem divididos em dois grupos de acordo com o seu estágio maturacional (10 atletas compuseram o grupo com maturação precoce e 8 o grupo com maturação normal).
De acordo com os resultados da pesquisa nenhum atleta apresentou maturação tardia. A análise da diferença das fontes de estresse entre os dois grupos de atletas não indicou diferença significativa em nenhuma das fontes entre os grupos com maturação precoce e normal. Quando verificada a diferença entre os grupos para cada fator, encontraram-se diferenças significativas em três fatores: grande superioridade dos adversários, pressão do técnico para vencer e jogar com muito calor. Quanto à direcionalidade e intensidade do estresse, os atletas com maturação normal avaliaram os fatores “grande superioridade dos adversários” e “jogar com muito calor” como aspectos negativos e com intensidade moderada de estresse, pois corresponderam a fatores negativos que foram mais ou menos estressantes para os atletas. O fator “pressão do técnico para vencer” para esse grupo de esportistas foi considerado positivo, embora com baixa intensidade. Para o grupo com maturação precoce, o único fator considerado negativo foi “jogar com muito calor”, embora tenha apresentado baixa intensidade. Por outro lado, os fatores “pressão do técnico para vencer” e “grande superioridade dos adversários” foram fatores avaliados positivamente pelos atletas, diferindo apenas na sua intensidade. Ou seja, enquanto a pressão do técnico exerce forte influência sobre os atletas, a grande superioridade dos adversários não parece ser muito relevante.

Portanto, identificar quais fatores podem gerar estresse e afetar o desempenho esportivo é muito importante quando o assunto é futebol. Pois sua identificação poderá ajudar a o atleta a conhecer mais a respeito do seu próprio padrão de comportamento, auxiliá-lo a desenvolver estratégias apropriadas para resolver os conflitos dos quais se deparar, estar mais preparado para as pressões que poderá vir a passar, para as incertezas e angústias que vierem a interferir no seu sucesso esportivo e contribuir para que ele não abandone o esporte muito cedo.

domingo, 6 de julho de 2014

A postura do deprimido


Postado por Rafael Matos

Que nosso estado físico é influenciado por nosso estado emocional não é nenhuma novidade. Sabe-se, por exemplo, que a postura de alguns indivíduos com depressão tende a ser mais curvada do que em indivíduos que não estão neste estado. Mas quanto ao contrário, ou seja, o nosso estado físico é capaz de influenciar nosso estado emocional?
Uma pesquisa realizada na Universidade de San Francisco nos Estados Unidos encontrou evidências de que uma postura desleixada e/ou desaminada piora o humor. Foi solicitado aos participantes da pesquisa que caminhassem com os ombros para frente e depois com as costas retas. Depois de algum tempo, foi lhes solicitado o relato de como se sentiram durante esta experiência. Os resultados mostraram que os estudantes ficaram mais descontentes e deprimidos após caminhar com as costas curvadas, mas que melhoraram de humor imediatamente após adquirirem melhor postura. 
Embora sejam apenas evidências que necessitem de maiores aprofundamentos, estes resultados mostram-se relevantes na medida em que se pode incentivar um trabalho de correção da postura, uma vez que este pode fazer os indivíduos sentirem-se melhor.



sexta-feira, 4 de julho de 2014

A relação entre o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), autoestima e ansiedade pré-teste (TA) em jovens adultos.


Resenhado por Lucila Moraes

Dan, O., & Raz, S. (2012). The Relationships Among ADHD, Self-Esteem, and Test Anxiety in Young Adults. Journal of Attention Disorders XX(X) 1-9.

O estudo tem como objetivo investigar a relação entre TDAH, autoestima e três subescalas que mensuram a TA em jovens adultos, que são: Obstrução cognitiva, diminuição social, e tensão.
Estudos recentes confirmam que 33% das crianças e jovens universitários sofrem, em algum grau, de ansiedade antes da realização de um teste (TA). A TA é uma reação específica em situações de exame, em que o sujeito está sendo ou se sente avaliado de alguma forma. Os sintomas da TA podem ser divididos em três grandes facetas: obstrução cognitiva, expressa como incapacidade de pensar a todo seu potencial antes ou durante um teste; diminuição social, ou ainda, o medo de ser julgado negativamente por outras pessoas, seguido pelo medo de falhar no teste; e tensão, percebido através da excitação física e psicológica. Os fatores que podem influenciar a TA podem ser tanto do tipo ambiental (relacionamento do aluno-professor ou exigências familiares, etc.), bem como do tipo individual (tendência a ser perfeccionista, tendência à ansiedade, etc.). Outra correlação da ansiedade é a dificuldade de aprendizagem, já que estudos comprovam que estudantes que possuem problemas em aprender determinado(s) assunto(s) apresentaram maior TA se comparados com aqueles que não possuíam tão disfunção.
 O conceito de autoestima se refere à avaliação que uma pessoa faz de si, ou atitude adotada em relação si mesmo. Em um estudo de meta-análise, feito com nove mil participantes, se obteve uma considerável relação inversa entre autoestima e TA. Além disso, apesar de se ter comprovado que a autoestima é um fator causal da TA, a relação entre ambos se dá provavelmente de forma bidirecional, ou seja, se espera que os dois estejam intimamente entrelaçados e que possuam um impacto e desenvolvimento recíproco.
TDAH é uma doença neuropsiquiátrica e seus principais variam de acordo com o tipo específico de TDAH, mas sempre incluem uma história de inabilidade de manter a atenção, bem como comportamento hiperativo e impulsivo. Dessa forma, o TDAH pode ser prejudicial tanto para realização de tarefas do cotidiano como para a qualidade de vida do sujeito de uma forma geral afetando vários aspectos de sua vida, que são associados também ao fracasso acadêmico e crescente risco de desenvolver uma baixa autoestima. Estudos também confirmam que a TDAH contribui para um mau desempenho em testes (afetando sua capacidade de leitura e linguagem, contribuindo para o fracasso em testes, problemas cognitivos e o estado de ansiedade).
O presente estudo possui 2 hipóteses principais que foram testadas. A primeira seria que indivíduos com TDAH teriam níveis elevados de TA e baixo níveis de autoestima, quando comparados com os que não possuem TDAH; e a segunda seria que a relação entre a TDAH e TA é mediada pela autoestima. Para isso foram selecionadas 25 mulheres diagnosticadas com TDAH, e 30 mulheres como grupo controle que não possuíam TDAH com idades e escolaridade similares, para responderem um Teste de Desempenho Contínuo Online, um questionário TDAH, um inventário de autoestima e, por fim, responderem um questionário de TA.
Os resultados mostraram que ao comparar os níveis de TA e autoestima entre participantes com e sem TDAH, os primeiros tinham maiores níveis de obstrução cognitiva e de tensão que os do segundo grupo. Além disso, o grupo que tinha TDAH teve maiores níveis de diminuição social e tinham autoestima mais baixa que o do grupo controle (sem TDAH). Outro resultado encontrado foi que a autoestima, de fato, tem um papel de mediador importante entre TDAH e diminuição social, e particularmente, entre a TDAH e a obstrução cognitiva. Apesar disso, o efeito de mediação da autoestima não foi encontrado entre TDAH e tensão.
Por fim, o estudo conseguiu demonstrar a importância da autoestima como forma de mediador entre TDAH e TA, especialmente em ressaltar o papel dominante da autoestima na diminuição social TA. Também foi encontrada, pela primeira vez nesse estudo, uma relação forte entre TDAH e TA e com tais resultados, é possível uma intervenção em estudantes com TDAH, ao encorajá-los a participar de tratamentos específicos para reduzir a TA e aumentar a autoestima, por exemplo, já que se sabe que se tem um efeito direito na TDAH. A leitura desse artigo tem um papel importante na ciência por conseguir estabelecer, pela primeira vez, uma relação forte entre TDAH e TA, contribuindo significantemente para o tratamento de pessoas com tal transtorno e igualmente para melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. 


quarta-feira, 2 de julho de 2014

Aspectos gerais das escalas de avaliação de ansiedade

Resenhado por Laís Santos

Andrade, L., & Gorenstein, C. (1998). Aspectos gerais das escalas de avaliação de ansiedade. Revista de Psiquiatria Clínica, 25, 285-290.

            A ansiedade é uma condição emocional composta por fatores psicológicos e fisiológicos, típica dos seres humanos. Ela passa a ser patológica a partir do momento em que há um descompasso no que tange a situação desencadeadora ou quando não existe um objeto a qual ela se direcione. É importante salientar que de modo geral os transtornos de ansiedade ocorrem com grande incidência, e, além disso, os sintomas ansiosos ocorrem com facilidade em diversos períodos da vida humana, sem, necessariamente o sujeito estar com algum tipo de transtorno.
            Sabe-se que a ansiedade abrange uma variedade enorme de desconfortos somáticos. Existem várias escalas que tentam abarcar todos esses fatores, entretanto, a grande maioria enfatiza mais um aspecto do que outro. Há algumas escalas destinadas a aferir a ansiedade entendida como normal e a patológica; bem como, algumas com finalidade diagnóstica e outras com o objetivo de mensurar a intensidade e/ou gravidade da ansiedade nos sujeitos previamente diagnosticados. O modo de interpretar os resultados obtidos através das escalas é muito importante; não se deve escolher uma escala de modo aleatório, sem levar em consideração, por exemplo, as propriedades do instrumento. De modo sucinto, as escalas de ansiedade medem diversos fatores, que podem ser agrupados com base nos seguintes temas: humor, cognição, comportamento, Estado de hiperalerta, sintomas somáticos, baixa concentração, esquecimento, dentre outros.
            É importante frisar que há uma distinção entre ansiedade-traço e ansiedade-estado. O primeiro tipo, diz respeito a algo mais permanente, ou seja, uma característica própria do indivíduo; já ansiedade-estado, corresponde a algo transitório ligado a determinada situação. Em linhas gerais, as escalas mais utilizadas dentro da avaliação clínica são: Escala de Ansiedade de Hamilton (HAM-A; Hamilton, 1959); Escala de Ansiedade de Beck (Beck et al., 1988); Escala Clínica de Ansiedade (Clinical Anxiety Scale - CAS; Snaith et al., 1982); Escala breve de ansiedade (BAS; Tyrer et al., 1984) e a Escala breve de avaliação psiquiátrica (BPRS; Overall et al., 1962). Dentre as escalas de autoavaliação, as mais utilizadas são: a Escala de ansiedade de Zung (Zung, 1971); o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE; Spielberger et al., 1970, STAI); a Escala de Ansiedade Manifesta de Taylor (Taylor, 1953);
a Subescala de Ansiedade do Symptom Checklist (SCL-90; Derogatis et al., 1973); a
POMS (Profile of Mood States - POMS; Lorr & McNair, 1984)
e por fim a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS; Zigmond & Snaith, 1983).

            Por fim, entende-se que a ansiedade é um transtorno bastante comum dentre a sociedade, composto por uma sintomatologia vasta. Diante dessas características, se torna ainda mais importante ter atenção no que diz respeito ao diagnóstico e mensuração da intensidade de tal transtorno; sempre fazendo o uso de escalas e instrumentos que se adéquem ao objetivo proposto.