Resenhado por Alexsandra Macedo
Maciel, K.V., Castro, E.K., Lawrenz, P., 2014 Os Motivos da Escolha do Fogo nas Tentativas de Suicídio Realizada por Mulheres. Temas em Psicologia, Vol. 22.
A definição de suicídio é o ato de tirar a própria vida. Tal ato se inicia, geralmente, com pensamentos autodestrutivos e as interações entre os fatores sociais, biológicos, psicológicos, culturais e ambientais.
A tentativa de suicídio por fogo, segundo as autoras, é uma das mais fatais e drásticas entre todas com sequelas psíquica, estética e funcional gravíssimas. O estudo indica que a grande maioria dos indivíduos que tentam ou consumam essa forma de suicídio é do sexo feminino e tem por motivação problemas afetivos e dificuldades financeiras, ou ambos os fatores associados.
Com a finalidade de compreender o significado da escolha do fogo como instrumento de por fim a própria vida, o presente artigo utilizou a pesquisa qualitativa de natureza exploratória, utilizado como instrumentos um questionário com dados sociodemográficos e clínicos, além de entrevista semiestruturada sobre a tentativa de suicídio. As participantes foram mulheres entre 24 e 55 anos que tentaram suicídio a pelo menos 01 ano e meio, sendo realizado primeiramente o contato com a psicóloga e o coordenadora da unidade de queimaduras do hospital e em seguida o contato com as pacientes.
A análise de dados permitiu a identificação de aspectos comuns vivenciados por essas mulheres, geralmente a história de violência física ou psicológica direcionada contra elas ou presenciada pelas mesmas. Esse ato é comumente praticado por alguém próximo, havendo histórico de abuso sexual e fragilidade nas relações interpessoais. Muitas dessas mulheres viviam reclusas no seu cotidiano, além de terem graves problemas de relacionamento. Algumas apresentaram algum tipo de transtorno mental, sendo o mais comum a depressão.
Quando questionadas sobre o momento de atear-se fogo, a maioria respondeu que não sabia o motivo, muitas queriam apenas se livrar do que a angustiavam. Outras queriam chamar a atenção de alguém importante afetivamente para o seu problema, e poucas afirmaram estar dispostas a tirar sua vida. Falaram que tinham certeza que iriam morrer e nunca pensaram na possibilidade de sobreviverem. Além disso, nenhuma delas pensou nas cicatrizes e na recuperação dolorosa de tal ato.
O estudo apresentado neste artigo deixa transparecer uma realidade perturbadora que envolve todas as classes sociais e fases de desenvolvimento diferenciada dos indivíduos, deixando evidente a questão do fator emocional como mediador das decisões tomadas por essas mulheres, que muitas vezes estão sobre a pressão de um estresse constante em seu cotidiano, o que acaba levando a descargas impulsivas para aliviarem seu sofrimento. A partir da análise desses dados pode-se traçar um perfil de ação que interfira na questão do fortalecimento da autoestima dessas mulheres possibilitando a visão de uma saída, que não seja o seu aniquilamento.
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