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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Transtornos de ansiedade em mulheres: gênero influencia o tratamento?

Resenhado por Marcelle Leite
Kinrys, Gustavo & Wygant, Lisa E. (2005). Transtornos de ansiedade em mulheres: gênero influencia o tratamento? Revista Brasileira de Psiquiatria, 27 (2), 43-50.

    O transtorno de ansiedade na população geral tem uma predominância de aproximadamente 28,8% ao longo da vida. Nas pesquisas o grupo de mulheres aparece de modo frequente como um grupo com maior risco de ansiedade e maior gravidade de sintomas, entretanto as causas são ainda desconhecidas. Entre as possibilidades estão os fatores genéticos, ambientais e hormonais. O artigo em questão visa uma revisão literária sobre o transtorno de ansiedade em mulheres e suas características singulares. Entre as características das mulheres está inclusive na sua relação com os fármacos, sendo interessante estudos sobre métodos de tratamentos mais adequado para este grupo.
     O Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais IV (DSM IV) divide o transtorno de ansiedade em quatro tipos. O TAG —Transtorno de Ansiedade Generalizada, define-se por ansiedade relacionada a eventos e atividades genéricos, com alta frequência e por um período mínimo de seis meses. As mulheres tem o dobro de chance de apresentarem TAG em contraposição com os homens. Os outros são: Transtorno do pânico, Agorofobia, Fobia social, Transtorno de Estresse Pós-Traumático e o Transtorno obsessivo-compulsivo. Entre todos os tipos existe nos estudos uma prevalência de mulheres e também tem o seu início mais cedo, com exceção do Transtorno Obsessivo Compulsivo.
     Nos estudos percebeu-se uma ligação entre certos momentos da vida de uma mulher com a frequência, no caso de gravidez e no período pré-menstrual existe um aumento em contraposição com a menopausa onde há uma diminuição de diagnósticos de ansiedade. Ratificando assim os fatores hormonais entre os motivos.
     O fato de diversas amostras epidemiológicas, segundo o estudo, indicarem uma prevalência de pelo menos uma vez e meia maior da mulher em satisfazer os critérios de transtornos ansiosos, já evidencia uma necessidade de maior atenção ao grupo. Além de apresentarem uma maior freqüência de comorbidade psiquiatra. As causas desta prevalência são diversas e imprecisas, necessitando de maiores estudos, para inclusive verificar quais variáveis influenciam mais.
    As psicoterapias podem ser utilizadas em conjunto com outros tratamentos para diminuir o sofrimento destas e aumentar a qualidade de vida. A influência desta precisa ser estudada com aprofundamento , para que seja melhor aproveitada em mulheres com transtorno de ansiedade .

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Síndrome do Pânico, o que é isso?

Postado por Marcelle Leite

A ansiedade é uma reação complexa e adaptativa, portanto comum aos seres humanos em geral. Está só passa a ser um problema quando é tão acentuado e freqüente, que passa a ser desproporcional ao necessário para a situação. Ou seja, a ansiedade é tamanha que passa a interferir negativamente no cotidiano do indivíduo. A síndrome do pânico faz parte destes transtornos e é caracterizada pela sequência de ataques de pânico inesperados. Os ataques de pânico são definidos pelo DSM-IV como um espaço de tempo em que o indivíduo é tomado por uma intensa sensação de apreensão, temor ou terror combinada com um sentimento de catástrofe iminente. Durante os ataques é comum as pessoas sentirem como sintomas físicos: falta de ar, palpitação, dor ou desconforto torácico, sudorese excessiva e sensação de sufocamento. As crises, sem o tratamento adequado, limitam a capacidade do indivíduo levar uma vida normal. 

sábado, 23 de maio de 2015

Qualidade de vida, sintomas depressivos e religiosidade em idosos: Um estudo transversal.


Resenhado por Lucila Moraes

Chaves, É. C. L., et al. (2014). Qualidade de vida, sintomas depressivos e religiosidade em idosos: Um estudo transversal. Texto & contexto enfermagem, 23, 648-655.

    O Brasil vive uma mudança social quanto ao número de idosos no país. Estima-se que cerca de 10% da população brasileira seja idosa e os números só tendem a aumentar com o passar dos anos. Levando em consideração essa nova configuração social, aumentam-se os desafios enfrentados por pessoas dessa faixa etária, como surgimento de doenças crônicas e enfermidades, que influenciam em sua qualidade de vida (QV) e podem levar ao desenvolvimento de sintomas depressivos.
     A qualidade de vida é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o modo que o indivíduo percebe sua posição na vida, dentro de sua cultura e sistema de valores. Já a depressão é um distúrbio na área afetiva ou do humor. O diagnóstico da depressão nos idosos é mais difícil do que em outras faixas etárias, pois muitos profissionais da saúde acreditam que tais sintomas depressivos sejam normais em idade avançada, ignorando o problema dessa população e muitas vezes agravando o quadro depressivo. A religiosidade diz respeito ao quanto um sujeito acredita e pratica uma determinada religião ou crença. Estudos apontam uma forte ligação entre a religiosidade do idoso e uma melhor adaptação à sua condição de dependência, o que contribui para seu equilíbrio pessoal.
    O estudo pretendeu investigar a relação entre qualidade de vida e sintomas depressivos com a religiosidade em idosos. Para isso, participaram 287 idosos com idade igual ou superior a 60 anos, que se encontravam na unidade Estratégia Saúde da Família, localizada no interior de Minas Gerais. Foram utilizadas a Escala de Qualidade de Vida de Flanagan (EQVF); Escala de Depressão Geriátrica abreviada-15 (EDG); Escala de Religiosidade de Duke (DUREL); bem como um formulário contendo informações sociodemográficas, para caracterizar a amostra.
     Os resultados mostraram que os sintomas depressivos foram prevalentes em 88% dos idosos (83% depressão leve e 5% depressão severa). Apesar disso, 92% dos entrevistados afirmaram que estavam satisfeitos com sua vida. Em relação à religiosidade, 97% dos participantes consideraram a religião muito importante em suas vidas. Observou-se nos resultados também, que o coeficiente de religiosidade associou-se de forma positiva e direta à qualidade de vida dos idosos, porém essa relação não se verificou entre a religiosidade e sintomas depressivos.
     No geral, a relação existente entre o coeficiente de religiosidade e a qualidade de vida do idoso sugere que altos níveis de envolvimento com a religião estão associados positivamente aos indicadores de bem estar psicológico, felicidade e afetos positivos. Constatou-se também que o idoso reconhece a religião como parte importante de sua vida, o que pode ajudar no desenvolvimento de projetos que enfatizam a questão da religiosidade do idoso, como forma de melhorar sua qualidade de vida, respeitando a crença (ou não) que cada um possui.
     Ao entender que a religiosidade é uma parte importante no cotidiano do idoso e que pode ser usada como possível estratégia de enfrentamento deste para adversidades e limitações de sua idade (como dependência, doenças e problemas financeiros), é possível
direcionar a atenção do profissional da saúde ou cuidador à questões religiosas, promovendo uma melhoria da qualidade de vida dessa população crescente no Brasil.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Bullying



Postado por Luana Santos

Bullying é um tema importante que deve ser conhecido, lidado e prevenido pela díade escola-família. Mas o que é bullying e qual a importância de preveni-lo? Bullying vem da palavra inglesa bully que significa “valentão” e diz respeito à agressões, sejam físicas, verbais ou psicológicas, praticadas por alguém ou por um grupo contra outro indivíduo. Um levantamento feito ano passado pela Unifest divulgou que 13% de crianças e adolescentes em escolas do Brasil sofrem bullying, é um número muito alto para um problema que pode resultar em tantas consequências negativas. As vítimas tendem a apresentar com maior frequência sequelas de gravidade variada, a maioria perde o interesse na escola ou mesmo abandonam os estudos, desenvolvem medo de serem perseguidas, além de outras consequências mais duradouras e graves como depressão ou predisposição ao uso de drogas e consumo exagerado de bebidas alcoólicas.



segunda-feira, 18 de maio de 2015

Body dissatisfaction and adolescent self-esteem: Prospective findings.


Resenhado por Luana Santos.

Tiggemann, M. (2005). Body dissatisfaction and adolescent self-esteem: Prospective findings. Body Image, 2, 129-135.

     William James trazia em 1890 o estudo do self como uma temática importante na psicologia, discutindo que a insatisfação em um domínio particular teria um impacto na autoestima global do indivíduo. Essa concepção perdura até hoje, principalmente em relação às mulheres, com base na ideia que a insatisfação com o peso e preocupação com a aparência são fatores crescentes na sociedade em geral. Tiggemann foca em seu estudo as consequências potenciais de uma avaliação negativa do corpo para a visão global de si mesmo.
     Seu estudo objetivou estudar prospectivamente a relação entre insatisfação corporal e autoestima em meninas. Para isso participaram 242 meninas estudantes de 12 escolas de ensino médio do Sul da África, que responderam o instrumento da pesquisa duas vezes no período de 2 anos. O instrumento, um questionário intitulado “Sobre você”, foi aplicado em dois tempos – 1 e 2, e possuia medidas de peso (IMC), insatisfação corporal (sobrepeso percebido, insatisfação a partir da associação/comparação com uma figura de uma silhueta humana, satisfação com o peso) e autoestima global.
     Os resultados das correlações mostraram que a insatisfação corporal inicial se relacionava com a autoestima nos dois tempos. Do mesmo modo, autoestima inicial se relacionava à insatisfação corporal em ambos tempos. Porém, nas análises de predição (regressão controlada pelas variáveis do tempo 1), encontrou-se basicamente que aspectos do tempo 1 relacionados à peso e insatisfação corporal foram preditores de mudanças na autoestima, mas não o contrário. Ou seja, as meninas que tinham maior percepção de sobrepeso tinham maior vulnerabilidade a possuir menores níveis de autoestima.
     Importante ressaltar que uma das maiores limitações do estudo foi a medida do IMC, visto que além de ter sido calculado baseado em medidas de autorrelato, também houve uma elevada quantidade de missings na variáveis peso e altura (n = 76). Entretanto, o estudo é um bom parâmetro de investigação longitudinal para medida das variáveis a que se propôs, e seus resultados mostram a importância de concentrar esforços em pesquisas semelhantes, com vistas a aplicações práticas de avaliação e intervenção.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

A Síndrome de Asperger no cinema

Postado por Ariane de Brito


O filme australiano Mary e Max: Uma Amizade Diferente é uma boa pedida para o final de semana. Trata-se de uma animação de gênero humor negro/drama sobre a história de amizade entre duas pessoas bastante “diferentes”. O filme encanta não apenas pela sua produção e aspectos visuais, mas também pelo seu encerro que levanta questões sobre autismo, amizade, alcoolismo, bullying, solidão entre outros. Um dos personagens principais é portador da Síndrome de Asperger, e no filme é possível conhecer um pouco de suas principais características e o modo como se estabelecem suas relações interpessoais e com o mundo. A síndrome de Asperger, desde 2013, passou a ser considerada uma forma branda de autismo, fazendo parte dos chamados Transtornos do Espectro Autista (TEA). Esses transtornos caracterizaram-se por comprometimentos severos em uma das seguintes áreas: interação social, comunicação e comportamentos estereotipados, com variações de combinação entre essas três áreas com graus de leve a grave. Atualmente, estima-se que uma entre 250 crianças aparentemente são diagnosticadas com a síndrome.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

The Moderating Role of Perceived Behavioral Control: The Literature Criticism and Methodological Considerations

Resenhado por Geovanna Souza

Barua, Promotosh. (2013). The Moderating Role of Perceived Behavioral Control: The Literature Criticism and Methodological Considerations. International Journal of Business and Social Science, 4, 57-59.


     Este artigo teve como principal função expor as ambiguidades conceituais e metodológicas do controle comportamental percebido, presente na teoria da ação planejada, que recentemente tem sido alvo de críticas. A teoria da ação planejada (TAP) se originou como uma extensão da teoria da ação racional (TAR), a fim de lidar com as limitações do modelo da TAR. Desde sua introdução, há mais de 25 anos atrás, ela tem sido muito usada para se referir a determinantes de comportamentos específicos e intenções comportamentais. A TAP tem sido muito debatida e criticada recentemente, visto que alguns estudiosos acreditam que a teoria não explica os comportamentos humanos adequadamente.
     A ideia central da TAP elucida que as intenções comportamentais determinam o comportamento do indivíduo, considerando três conceitos fundamentais na determinação da intenção: atitude (se refere ao grau de avaliação favorável ou desfavorável de uma pessoa), norma subjetiva (pressão social percebida para desempenhar um comportamento) e o grau de percepção de controle comportamental (o indivíduo reporta-se à facilidade ou à dificuldade percebida de desempenhar um comportamento). Este último conceito, percepção do controle comportamental (PCC), nada mais é do que a expectativa de uma pessoa em relação à sua capacidade em desempenhar um comportamento, que é influenciado por recursos e crenças de que pode superar qualquer obstáculo que lhe apareça. Vale ressaltar que o controle é sobre o comportamento do indivíduo e não sobre os resultados ou eventos. Tal conceito tem sido considerado por Ajzen a principal chave para compreender a TAP, estando ele relacionado a elementos não volitivos. Dessa forma, quanto maior o controle do comportamento percebido de um indivíduo maior será sua intenção em executar determinado comportamento.
     É exposto no texto que a realização comportamental da PCC depende de confiança e precisão das percepções. Por exemplo, se um indivíduo perceber baixa acurácia da percepção, a PCC pode não ser realista devido à pouca informação que tem (Ajzen, 1991, p. 185). Dentre as divergências acerca do conceito, Ajzen (1991) propôs que a PCC pode ter efeitos diretos sobre o comportamento, além de melhorar a intenção em relação a atitudes positivas e normas subjetivas. No entanto, há quem diga que o apoio empírico contra os efeitos de moderação da percepção de controle sobre o comportamento não é forte o suficiente para justificar sua influência sobre o comportamento e as atitudes positivas de um indivíduo, o que leva a fortes críticas conceituais.
     Por fim, o autor traz no fim do texto algumas considerações metodológicas a respeito do conceito da PCC e seus efeitos de moderação, expondo que futuros estudos
devem buscar por variáveis moderadoras de comportamentos, a fim de explicar a variação da percepção de controle comportamental e de outras variáveis.

domingo, 10 de maio de 2015

Suicídio

Postado por Laís Santos

O suicídio, apesar de ser um tema ainda pouco estudado e divulgado, atinge milhares de pessoas em todo o mundo. Ele está atrelado à ideação suicida - pensamentos, vontade de atentar contra a própria vida; assim como propriamente à tentativa de suicídio – ações praticadas contra a vida do sujeito. Apesar de o tema ter sido abordado de forma descontraída na charge abaixo, ressalta-se a importância deste tema ser mais estudado, a fim de que se produzam intervenções realmente eficazes que atuem na sua prevenção.




sábado, 9 de maio de 2015

Opinião dos pais influência o consumo de álcool pelos filhos

Postado por Catiele Reis


Estudo realizado com 3.972 estudantes de Taiwan, com idade entre 14 e 15 anos, constatou que os pais exercem uma grande influência no consumo de álcool por adolescentes. A pesquisa afirma que os meninos no qual os pais eram contrários à ingestão de bebidas alcoólicas tinham risco de até 70% menor de não beber até atingir a maioridade. No caso das meninas nota-se uma grande influência da figura materna, com 77% de risco de não beber quando as mães eram contrárias ao consumo.

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/opiniao-dos-pais-influencia-consumo-de-alcool-pelos-filhos


Os pais exercem uma grande influência no consumo de álcool por adolescentes. É o que mostra um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Nacional em Saúde, em Taiwan. Segundo a pesquisa, o poder do pai ou da mãe difere de acordo com o gênero do filho. As meninas escutam mais a opinião da mãe, enquanto os meninos valorizam principalmente a restrição imposta pelo pai.Para o levantamento, 3.972 estudantes, de 14 e 15 anos, responderam a um questionário sobre seus hábitos de consumo de bebida alcoólica, a frequência com a qual os pais bebiam e qual era a postura dos familiares sobre o tema.Do total, 680 estudantes afirmaram que haviam consumido bebida alcoólica no mês anterior. Segundo os resultados, os meninos cujos pais não consumiam bebida alcoólica ou que bebiam, mas eram contrários ao consumo de álcool por adolescentes, tinham risco até 70% menor de beber antes de atingir a maioridade -- quando comparados àqueles que tinham pais que bebiam frequentemente e tinham uma atitude favorável em relação ao consumo por menores de idade.No caso das meninas, aquelas com pais abstêmios tinham 49% menos risco de consumir bebida alcoólica. Para elas, a influência das mães era maior ainda: 77% de redução de risco de beber quando as mães eram contrárias ao consumo.Para Hsing-Yi Chang, autora do estudo, em sociedades patriarcais, como é o caso de Taiwan, a figura do pai ainda serve como modelo para o filho. "No caso dos meninos, saber que seu pai é contrário ao consumo de bebida alcoólica tem até mais importância do que o próprio comportamento do pai", disse.A pesquisa foi publicada na revista científica BMJ Open.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Percepção sobre doença renal crônica de pacientes em hemodiálise: Revisão Sistemática.

Resenhado por Alexsandra Macedo

Castro, E. K.; & Gross, C. Q.(2013) Percepção sobre a doença renal crônica de pacientes em hemodiálise: revisão sistemática.. SALUD & SOCIEDAD, 4, no. 1, 070 – 089, ISSN 0718-7475.

A nefropatia crônica é a perda da função dos rins. Seu tratamento é conhecido como Terapia Renal Substitutiva (TRS), sendo ela a responsável pela manutenção da vida dos portadores de Doença Renal Crônica (DRC). As modalidades para essa enfermidade são: Hemodiálise (HD), Diálise Peritoneal Ambulatorial Contínua (DPAC), Diálise Peritoneal Cíclica Contínua (DPCC, Diálise Peritoneal Intermitente (DPI), Transplante (TX)). O tratamento em HD é realizado com o auxílio de uma máquina chamada rim artificial. É feita três vezes por semana, com duração média de 4 horas cada sessão. A DCR é considerada um grande problema de saúde pública. Segundo o Censo Brasileiro de Diálise (SBN) de 2001, a cada ano cerca de 20 mil brasileiros precisam iniciar tratamento dialítico.
Observa-se que a doença tem impacto negativo sobre a qualidade de vida e que a percepção da pessoa sobre a sua saúde por meio de uma avaliação subjetiva de seus sintomas, interfere diretamente na satisfação e adesão ao tratamento. Identificou-se, assim, a necessidade de outros conhecimentos para que se pudesse contribuir para uma assistência que contemplasse as questões psicossociais nos tratamentos propostos.
O objetivo desse trabalho é realizar uma revisão sistemática da literatura internacional em relação a percepção sobre a doença em geral, e a doença renal crônica em pacientes em hemodiálise, entre janeiro de 2011 e maio de 2012, nas base de dados Academic Search Premier e Mediline With Full Text. Foram encontrados 291 artigos utilizando os descritores representação ou percepção sobre a doença, doença renal crônica e hemodiálise – em inglês: illnes representation or illness perception and chronic kidney disease and hemodialysis. Aplicando-se o critério de inclusão e exclusão e verificando aqueles que se repetiam nas duas bases de dados, restaram 17 artigos.
O resultado da análise dos dados coletados identificou que a produção científica a respeito da percepção sobre a doença e a doença renal crônica em pacientes em hemodiálise ainda é limitada, porém vem se desenvolvendo nos últimos anos. Os estudos encontrados usaram majoritariamente o modelo quantitativo. Os artigos analisados foram publicados na área de Psicologia da Saúde. O instrumento mais utilizado nos estudos para avaliar a percepção sobre a doença foi o (IPQR).
Foi possível identificar que na literatura internacional o número de artigos encontrados voltados para esse tema é significativo. Observou-se que conhecer e entender a percepção da doença renal crônica também poderá auxiliar nas informações, orientações e cuidados preventivos para a população em geral.
O estudo aponta que os psicólogos não são protagonistas no desenvolvimento de pesquisas relacionadas à doença renal crônica, indicando que os esforços para estudar as percepções da DRC auxiliarão todos os profissionais de saúde a entender o que os pacientes pensam e entendem sobre sua doença, bem como a promover estratégias de intervenção mais adequadas para essa população. Ressalta-se que não foram identificadas com clareza percepções específicas da doença renal crônica.
Diante do exposto, é possível visualizar a necessidade de um olhar mais integral ao paciente e incluir a percepção sobre a doença como uma variável importante de ser observada para compreender os comportamentos e as reações dos pacientes frente à doença. Os estudos aqui apresentados e analisados expressam a necessidade de desenvolver conhecimentos e aumentar pesquisas a respeito da DRC. Observou-se que a percepção sobre a doença é subjetiva, significando que os indivíduos desenvolvem diferentes modelos mentais a partir de sua realidade e crenças quanto a sua condição de saúde, o que torna relevante reconhecê-los para identificar e entender os comportamentos relacionados a sua doença e ao tratamento que realizam.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Prevenção do comportamento suicida



Resenhado por Iracema R. O. Freitas


Botega, N. J., Werlang, B. S. G., Cais, C.F.S., & Macedo, M.M.K. (2006).Prevenção do comportamento suicida. PSICO, 37,213-220.


O suicídio tem se localizado entre a segunda ou terceira causa de morte entre jovens adultos e adolescentes, fenômeno que representa um problema de saúde pública. O dano atinge não apenas a vítima do suicídio, como também os familiares que são afetados pelo sofrimento de ter perdido um dos seus membros.A morte é considerada um fenômeno natural, contudo ao se tratar do sofrimento psíquico, o comportamento suicida aparece como uma alternativa para dar fim a uma dor psíquica insuportável. Um estudo retrospectivo na área de suicidologia aponta que em média 60% das pessoas mortas por suicídio nunca o haviam tentado antes,quanto aos que morrem por suicídio, 50-60%, nunca consultaram um profissional de saúde mental ao longo da vida e que com base nas evidências proporcionadas por entrevistas com familiares e amigos, bem como por documentos médicos e pessoais, um diagnóstico psicopatológico pode ser feito em 93-95% dos casos de suicídio, notadamente transtornos do humor (40-50% dos casos de suicídio tinham depressão grave), dependência de álcool (em torno de 20% dos casos) e esquizofrenia(10% dos casos).
A dimensão do comportamento suicida tem sido analisada com base em levantamentos da Organização Mundial da Saúde, constatando que a América do Sul apresenta menores coeficientes de mortalidade por suicídio, do que a América do Norte e Europa. No entanto, emestudo de base populacional que fez um levantamento sobre a dimensão de idéias, planos e tentativas de suicídio em países em desenvolvimento, organizado e publicado pela Organização Mundial da Saúde, e que teve o Brasil como um dos países participantes, os resultados apresentaram que dentre os que se suicidaram, 55% tinha menos de 40 anos de idade e o suicídio responderam 0,8% de todos os óbitos da população brasileira em 2004. Dentre os obstáculos para se ter uma maior precisão dos resultados estão as subnotificações cujo controle sob as tentativas de suicídio se limitam a dados oficiais, isso porque não existe nenhum registro que monitore a dimensão real do suicídio e dos problemas vinculados a ele.
Quanto aos fatores de proteção, os autores citam bons vínculos afetivos, sensação de estar integrado a um grupo ou comunidade, estar casado ou com companheiro fixo, ter filhos pequenos e maior envolvimento religioso de um modo geral colabora com menores taxas de suicídios, além de auxiliar no enfrentamento de doenças graves. Já entre os fatores de risco estão certos transtornos mentais (depressão, alcoolismo), perdas recentes, perdas de figuras parentais na infância, dinâmica familiar conturbada, personalidade com fortes traços de impulsividade e agressividade, certas situações clínicas (doenças crônicas incapacitantes, dolorosas, desfigurantes) e ter acesso fácil a meios letais.
A prevenção do comportamento suicida não compete apenas aos profissionais da psicologia e psiquiatria, os demais técnicos e profissionais de saúde também podem desenvolver ações que envolvam serviços de conscientização e assistência, contribuindo para os programas de prevenção e identificação precoce do risco de suicídio de acordo com a vulnerabilidade peculiar a cada público alvo, em que a proposta de enfrentamento do sofrimento e das patologias impeçam que o tirar a própria vida seja consideradacomo a melhor solução para seu problema.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Coping and Psychological Distress in Mothers of Adolescents with Type 1 Diabetes



Postado por Ariane de Brito


Jaser, S.S., Linsky, R., & Grey, M. (2014). Coping and psychological distress in mothers of adolescents with type 1 diabetes. Maternal and Child Health Journal, 18, 101–108. doi: 10.1007/s10995-013-1239-4


Cuidadores, especialmente mães, de filhos diabéticos tipo 1, costumam relatar altos níveis de estresse relacionado com a carga do gerenciamento do tratamento da doença do filho, e esse estresse tem sido associado ao aumento do risco de depressão e ansiedade. O diabetes tipo 1 (DM1) é uma das doenças crônicas mais comuns na infância, afetando aproximadamente 1 em cada 400 crianças, incidência esta que vem aumentando a cada dia. O estresse e os sintomas depressivos maternos estão ligados à resultados negativos no controle glicêmico, na qualidade de vida e no aumento de sintomas depressivos em adolescentes DM1.
Sabe-se que os pais (mãe e pai) desempenham um papel importante no controle do diabetes do filho, no entanto, são as mães as que normalmente ficam responsáveis pela maioria da gestão do tratamento, sendo elas as que também sofrem maior estresse (em comparação com os pais) relacionado com a '' vigilância constante '' de cuidar de uma criança/adolescente com diabetes. Alguns dos estressores comuns nesse contexto incluem: gestão de alimentos, conflitos familiares relacionados com o diabetes, administração de insulina e monitoramento de glicose no sangue. Além disso, as mães também relatam a preocupação com os níveis de açúcar no sangue de seus filhos (hiper e hipoglicemia) que podem levar a complicações a longo prazo; e a dificuldade em aprender e dominar o regime de tratamento do diabetes.
Os elevados níveis de estresse materno relacionado ao diabetes do filho estão associados com o aumentado do risco de depressão e ansiedade, com taxas de sintomas clinicamente significativos frequentemente relatados entre 20 e 30% das mães, variando para 74% entre pais de crianças recém-diagnosticadas. Características demográficas das mães tais como cor de pele (preta), renda (baixa), estado civil (solteira) e estrutura familiar (monoparental) têm sido associadas a maior vulnerabilidade de estresse (relacionado ao diabetes) dessas mães.
Apesar da necessidade de compreender como as mães lidam com o estresse relacionado ao diabetes de seus filhos, poucos estudos examinaram explicitamente o enfrentamento (coping) dessa população. Diante disso, o objetivo do presente estudo foi descrever o enfrentamento de mães de adolescentes DM1 e como o coping está relacionado com a adaptação materna e infantil. A hipótese que norteou o trabalho foi a de que o uso do enfrentamento, engajamento das mães, estaria relacionado com menos sintomas de ansiedade e depressão e um melhor ajuste do adolescente à doença. Por fim, com base no Modelo Transacional do Estresse e Coping, foi testado se o enfrentamento media a relação entre estresse (relacionado ao diabetes) e ajustamento psicológico materno e conflitos familiares.
Foram participantes 118 adolescentes com idade entre 10 e 16 anos e com diagnóstico mínimo de DM1 de 6 meses; e suas mães. Todas moravam com seus filhos. O estudo foi aprovado pelo Programa de Proteção e Pesquisa com Seres Humanos da Universidade de Yale (Institutional Review Board), e realizado durante uma visita de rotina à clínicas ambulatoriais de diabetes. As mães responderam um questionário demográfico contendo também questões clínicas sobre o diabetes do filho, o Questionário de Resposta ao Estresse (RSQ), Escala de Depressão do Centro de Estudos
Epidemiológicos (CES-D), Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE), e Escala de Conflito e Responsabilidade com o Diabetes (RDC). Os adolescentes responderam ao Inventário de Qualidade de Vida Pediátrica (que avalia a qualidade de vida em crianças com condições crônicas de saúde) e o Inventário de Depressão Infantil (CDI). O controle glicêmico foi medido a partir da hemoglobina glicosilada (HbA1c) do adolescente, dado este obtido no prontuário clínico do mesmo.
Os resultados demonstraram que todas as mães da amostra pesquisada relataram algum nível de estresse relacionado ao diabetes no RSQ (pontuação variando entre 5 e 22 pontos; M = 12,4; DP = 3,4). Cerca de 18% das mães pontuaram acima do ponto de corte clínico para a depressão (M = 10,2; DP = 8,3) na CES-D; e aproximadamente 13% das mães pontuaram acima do ponto de corte clínico para a ansiedade (M = 32,4; DP = 9,3).
Em relação ao coping e as diferenças demográficas, observou-se que mães de cor de pele preta usam mais estratégias de enfrentamento (M = 14,1) do que as mães de cor de pele branca (M = 12,2; F (1, 107) = 6,32; p = 0,013). O mesmo aconteceu para o estado civil: mães divorciadas usam significativamente mais estratégias de enfrentamento (M = 14,1) do que as mães casadas ou com união estável (M = 12,1; F (1, 109) = 8,35; p = 0,005). Não foram encontradas diferenças demográficas no uso de controle primário ou secundário de estratégias de enfrentamento; o enfrentamento materno não estava relacionado com o sexo da criança, escolaridade materna, renda familiar, ou o tipo de terapêutica com insulina (vs. bomba de injeção). A idade da criança e a duração do diabetes também não foram significativamente relacionados com o enfrentamento materno ou qualquer uma das variáveis desfechos.
As análises de correlação bivariadas indicaram, contrariamente a hipótese do estudo, que enfrentamento materno não foi significativamente relacionado com quaisquer resultados nos adolescentes. No entanto, os sintomas depressivos maternos foram associados com pior qualidade de vida dos adolescentes (r = - 0,22, p = 0,023). Além disso, conflito familiar esteve relacionado a maiores sintomas depressivos em adolescentes (r = 0,20, p = 0,032) e, notavelmente, para o controle da glicemia (r = 0,43, p < 0,001). Além disso, através de regressão linear, constatou-se que o uso de estratégias de enfrentamento de controle secundário, como aceitação e distração das mães, media a relação entre estresse relacionada ao diabetes e distúrbios psíquicos (depressão e ansiedade), e a relação entre estresse relacionada ao diabetes e conflitos familiares.
Modelos baseados no controle do coping sugerem que as estratégias de enfrentamento mais adaptáveis são as estratégias combinadas para o nível individual de controle percebido. Isso porque o estresse do DM1 é em grande parte incontrolável por mães de adolescentes, que pode não ser capazes de acompanhar a gestão do diabetes de perto durante este período do desenvolvimento, onde é natural o aumento da independência, sendo, portanto, o uso de estratégias de enfrentamento de controle secundárias, tais como a aceitação e o pensamento positivo, as que podem ser mostrar mais adaptativas. Não foram encontradas relações diretas entre coping materno e ajuste psicossocial dos adolescentes ou controle glicêmico.
Como limitações do estudos são apontadas: o corte transversal, que acabou não permitindo verdadeiros testes de mediação; o bom controle glicêmico dos adolescentes participantes e o elevado status socioeconômico das famílias, os quais limitam a generalização dos resultados encontrados. Diante disso, mais estudos são necessários para replicar tais descobertas numa amostra mais diversificada da população, para maiores esclarecimentos sobre o tema e o desenvolvimento de estratégias que ajudem as mães a lidarem de modo mais eficaz com o estresse relacionado ao diabetes, maximizando seus ajustamentos e os dos adolescentes DM1.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Risco de suicídio em jovens com transtornos de ansiedade: estudo de base populacional


Resenhado por Laís Santos


Rodrigues, M.E.S, Silveira, T.B., Jansen, K., Cruzeiro, A.L.S., Ores, L., Pinheiro, R.T., ... (2012). Risco de suicídio em jovens com transtornos de ansiedade: estudo de base populacional. Revista Psicologia - USF, 17(1), 53-62.


O suicídio é uma temática relativamente pouco discutida, mas que abarca muitos indivíduos. A fase da adolescência e o início da juventude por si só, são períodos de constantes transformações, tanto de ordem física quanto psíquica. Atrelado a isto, encontra-se uma sociedade em constante evolução, novos contextos, novas formas de relação, novos modos de organização familiar. Desse modo, alguns jovens acabam estando mais suscetíveis às pressões externas, e, em alguns casos, os pensamentos de fuga se tornam cada vez mais constantes.
De acordo com alguns estudos, os transtornos de ansiedade são os mais comuns entre os transtornos psiquiátricos, além disso, acredita-se que eles estão relacionados ao risco de suicídio. Pensando nisto, o estudo em questão objetivou verificar a relação entre os transtornos de ansiedade e o risco de suicídio, em adolescentes entre 18 e 24 anos, na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul.
O estudo teve um caráter populacional, com amostra de 1621 jovens, da zona urbana da cidade de Pelotas. Os instrumentos utilizados foram uma entrevista estruturada contendo questões referentes à saúde e comportamento dos jovens. Um questionário abordava dados sobre sexo, idade, estado civil, cor, escolaridade, moradia, atividade laboral, religiosidade, história familiar, comportamento no trânsito, comportamentos violentos, condições de saúde, comportamento sexual e outros comportamentos de risco à saúde. A condição socioeconômica foi aferida mediante o instrumento da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa – ABEP. O bem estar psicológico foi mensurado por meio da Escala de Faces de Andrews. A avaliação do consumo de substâncias como o álcool, cigarro, entre outras, foi o Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test – ASSIST. Por fim, o teste utilizado para aferir a presença de algum transtorno de ansiedade foi o Mini Internacional Neuropsychiatric Interview 5.0.
Os resultados principais apontaram que a maioria dos jovens se denominou de cor branca (73,6%), sem relacionamento estável (71,9%) e de condição socioeconômica mediana (48,1%). No que se refere ao consumo de substâncias nos últimos três meses, 73,2% dos jovens relataram ter consumido álcool, 31,7% cigarro e 12,8% drogas ilícitas. A prevalência de algum transtorno de ansiedade foi de 20,9%, assim como o risco de suicídio estava presente em 8,6% da população em questão.
Um dado relevante constatado foi o de que o risco de suicídio era maior entre as mulheres, de classe social mais baixa, com baixa escolaridade e filhos de pais separados. Outro ponto interessante foi o de que os sujeitos que explanaram o consumo de tabaco e drogas ilícitas, apresentaram maior risco de suicídio, em relação àqueles que não faziam o uso. Além disso, os jovens que tinham histórico familiar com presença de transtornos mentais, bem como, aqueles que apresentam doenças crônicas e/ou fazem uso de medicamentos controlados, também apresentaram maior risco ao suicídio.
Em suma, os dados apresentados por este estudo, ressaltam a importante associação entre os transtornos de ansiedade e o risco de suicídio. Existem na literatura poucos estudos de cunho populacional, como este, que nos dão um panorama geral a respeito da saúde dos indivíduos. Os fatores apresentados, como sexo, nível
socioeconômico, uso de drogas, entre outros e sua relação significativa com o risco de suicídio revelam-nos que há a necessidade de mais estudos que nos indiquem quais fatores estão mais relacionados ao risco de suicídio. Com estudos assim, certamente as estratégias de prevenção e assistência a esse público em questão serão elaboradas com base em evidências precisas e tenderam a ter maior assertividade.