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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Situações de recaída e família de origem: Um estudo sobre a percepção de dependentes químicos

Postado por Mariana Serrão

Silva, A. C., Bortolotto, C. M., Mazzali, D. B., Martins, D. S., Martini, J. S, Marques, L. M., ... & Dartora, T. (2012). Situações de recaída e família de origem: Um estudo sobre a percepção de dependentes químicos. In IV Jornada de Pesquisa em Psicologia, (p. 189). Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul/ Brasil.

O estudo objetivou relacionar as recaídas de dependentes químicos com sua família de origem e investigar estratégias de enfrentamento adotadas nas situações de risco. 
Participaram 50 pacientes em tratamento que fazem parte do Centro de Estudos da Família e do Indivíduo, dos quais 21 são da comunidade (CEFI em Cuiabá/MT) e 29 são pacientes (Porto Alegre/RS). Todos do sexo masculino com idades entre 17 e 56 anos.
Os instrumentos adotados na pesquisa foram: questionários para coletas de dados sócio demográficos dos participantes e de seus familiares (sexo, idade, religião, situação conjugal, escolaridade, renda familiar, convivência com pais); Family Background Questionnaire (FBQ) (Melchert, 1999),  a fim de investigar o funcionamento familiar através da percepção das experiências dos participantes. O coping (estratégias de enfrentamento) foi examinado através do Inventário de Estratégias de Coping de Folkman e Lazarus (1985), esse instrumento permite avaliar estratégias de enfrentamento focadas no problema -ao analisar a situação cognitivamente e tentar administrar de forma que cause menos ou nenhum trauma - bem como- focadas na emoção- quando não há a percepção de resolução do problema, ausência de ação. O modelo do Inventário possui quatro conceitos “(a) coping é um processo ou uma interação que se dá entre o indivíduo e o ambiente; (b) sua função é de administração da situação estressora, ao invés de controle ou domínio da mesma; (c) os processos de coping pressupõem a noção de avaliação, ou seja, como o fenômeno é percebido, interpretado e cognitivamente representado na mente do indivíduo; (d) o processo de coping constitui-se em uma mobilização de esforços, através da qual os indivíduos irão empreender esforços cognitivos e comportamentais para administrar (reduzir, minimizar ou tolerar) as demandas internas ou externas que surgem da interação com o ambiente.”
          A média de idade dos participantes foi de 25 anos 54,9% declararam-se solteiros, 52,9% de escolaridade de nível fundamental, 58,8% sem trabalho remunerado, predomina renda familiar média de até 2000 reais. Além disso,  a maioria conviveu com o pai durante a infância (64,7%) e o pai está vivo (54,9%), sendo que dentre os que perderam familiares, 45% perdeu o pai. Quanto a religião, 54,9% professam religião católica, embora 33,3% da família aparenta ser pouco religiosas. Dados obtidos pelo FBQ mostram que, de um modo geral, os índices relativo à figura materna aparecem mais altos do que para a figura paterna, o índice de responsividade parental apresenta média de 3,71 para a figura materna e 2,59 para a figura paterna. No quesito aceitação, mostra 2,74 para a figura paterna e 3,49 para a materna, quanto a abuso físico, 2,59 aparece em relação à figura paterna e 3,12 com relação à materna. O envolvimento educacional apresenta um escore semelhante aos dados demonstrados anteriormente, sendo 2,56 para a figura paterna e 3,34 para a materna e 3,08 para tomada de decisões por parte da figura materna e 2,38 por parte da figura paterna. O ajustamento psicológico refere-se à saúde mental dos pais – perturbações e humor ou abuso de substâncias – aparecendo mais alto para a mãe (3,02) o que para a figura paterna (2,56). Os dados apontam índice médio quanto a abuso de substâncias para a figura paterna (2,40) e materna (2,96). A expressão de afeto (2,83), aliança parental ou grau de acordo entre o pai e a mãe em relação às regras ou instruções aos filhos (2,61) e abuso sexual (1,88) demonstraram valores abaixo da média na família de origem, porém os valores relacionados à negligência (3,46), estressores familiares (3,06), controle parental ou modelo educativo (3,13) e suporte social (3,16) apareceram acima da média. A  média geral relativa à percepção dos sujeitos sobre sua família de origem apresentou um escore de (2,81).
           Ao relacionar com os dados do FBQ, o exercício da parentalidade é maior na figura da mãe nos fatores: Responsividade, Aceitação, Envolvimento Educacional e na Tomada de Decisões. Maior, também, é o fator que se refere ao Abuso Físico. Os pesquisadores sugerem que pelo fato da mulher absorver sozinha a educação destes filhos, demonstra o estilo autoritário, mesmo apresentando um escore maior do que o do pai no Ajustamento Psicológico. Este fato contribui para um maior escore no Controle Parental. Observou-se um estilo parental permissivo/omisso em relação à figura do pai ao relacionar os escores do FBQ da figura paterna, visto que respostas com extremo negativo 196 para o pai apareceram nos fatores de Responsabilidade, Aceitação, Envolvimento Educacional, Tomada de Decisão e Ajustamento Psicológico.” Este estilo teria influenciado na aquisição de valores menos saudáveis pelos dependentes químicos do estudo? E temos de levar em consideração que o FBQ solicita que a pessoa responda em relação a uma figura paterna, não necessariamente ao pai biológico. Este fato reforça a ausência/distância do pai na dependência química.”
Verificou-se que estratégias de enfrentamento, em geral, foram abaixo da média. Ao analisar os fatores, observou-se que os recursos mais utilizados para enfrentar a recaída quanto ao uso de drogas é a Fuga-Esquiva, que descreve pensamentos e esforços comportamentais para escapar ou evitar o problema, o que representa um esforço comportamental bastante apropriado para escapar da drogadição, demonstrado na média de 1,9. Em segundo lugar, aparece como estratégia mais utilizada a Reavaliação Positiva, que representa os esforços para criar um significado positivo, com foco no crescimento pessoal e de dimensão religiosa, apresentando um índice de 1,64. A Aceitação da Responsabilidade, reconhecer o próprio papel no problema, demonstrou um escore de 1,56, também um pouco acima da média.

Como o estudo foi feito com pacientes com tratamento em andamento, considera-se que as estratégias de enfrentamento estiveram na média. Entretanto, ressalta-se a importância do uso das estratégias de enfrentamento, visto que  podem e devem ser aprendidas no contexto em que a criança é educada, ou seja, na sua família de origem.

sábado, 29 de agosto de 2015

Felicidade melhora a saúde e prolonga a vida, diz estudo


Postado por Iracema R.O. Freitas


A revista científica Applied Psychology: Health and Well-Being publicou um levantamento que analisou mais de 160 estudos que constataram a relação entre felicidade, longevidade e melhores condições de saúde.  As pessoas são afetadas diariamente por eventos estressores que  interferem  no funcionamento psíquico e orgânico, podendo desenvolver doenças como depressão e ansiedade. O bom humor, pode promover um bem estar subjetivo que facilite a  resolução de problemas, prevenindo ou aliviando as consequências emocionais desses fatores estressantes. Portanto, a felicidade é uma estratégia de enfrentamento (coping) que reduz o impacto desses eventos negativos sobre  a saúde.


Uma análise de mais de 160 estudos detectou "provas claras e convincentes" que pessoas felizes tendem a viver mais e com melhores condições de saúde do que pessoas infelizes.O estudo, publicado na revista científica "Applied Psychology: Health and Well-Being", é o levantamento mais abrangente até o momento que faz a ligação entre felicidade e estado de saúde das pessoas. Seu autor principal, o professor emérito de psicologia da Universidade de Illinois Ed Diener, analisou estudos de longo prazo dos seres humanos, testes experimentais em humanos e animais e estudos que avaliam o estado de saúde de pessoas estressadas por eventos naturais."Nós analisamos oito tipos diferentes de estudos", disse Diener. "E a conclusão geral é que o seu bem-estar subjetivo - ou seja, estar feliz com a vida, não estressado e não deprimido - contribui para a longevidade e melhor saúde em populações saudáveis", explicou. Um estudo que acompanhou cerca de 5 mil estudantes universitários por 40 anos, por exemplo, concluiu que aqueles que era mais pessimistas enquanto estudantes morreram mais cedo que seus colegas. Outros estudo de longo prazo acompanhou a vida de 180 freiras Católicas desde sua juventude até a morte e concluiu que aquelas que escreveram autobiografias positivas quando estavam com cerca de 20 anos morreram mais tarde do que aquelas que escreveram passagens negativas sobre sua juventude. Havia algumas exceções, mas a maioria dos estudos a longo prazo mostrou que a ansiedade, depressão, falta de prazer das atividades diárias e pessimismo são associados com taxas mais elevadas de doença e uma vida mais curta. Experimentos de laboratório em humanos descobriram que o bom humor reduzi os hormônios relacionados ao estresse, aumenta a função imunológica e promover a rápida recuperação do coração após o esforço. Em outros estudos, conflitos conjugais e hostilidade em casais foram associados com cicatrização lenta e pior resposta do sistema imunológico a doenças. "Eu fiquei surpreso ao ver a consistência dos resultados de vários estudos. Todos eles apontam para a mesma conclusão: saúde e longevidade são influenciadas pelo nosso humor", disse Diener. Enquanto a felicidade não pode por si só prevenir ou curar doenças, as evidências de que emoções positivas contribuem para uma melhor saúde e longevidade são mais fortes que os dados que relacionam a obesidade à longevidade reduzida, afirmou Diener. "A felicidade não é uma poção mágica, mas as provas são claras de que ela muda suas chances de ficar doente ou morrer jovem", afirmou.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Coping mediates the association of mindfulness with psychological stress, affect, and depression among smokers preparing to quit.

Resenhado por Ariane de Brito

Vidrine, J. I, Businelle, M. S., Reitzel, L. R., Cao, Y., Cinciripini, P. M., Marcus, M. T., Li, Y., & Wetter, D. W. (2015). Coping mediates the association of mindfulness with psychological stress, affect, and depression among smokers preparing to quit. Mindfulness, 6, 433–443. doi: 10.1007/s12671-014-0276-4.

Estima-se que 20,0% da população norte-americana fuma cigarros e que grande parte dos fumantes têm dificuldade significativa com a cessação do tabagismo. Além disso, 70,0% dos fumantes relatam o desejo de parar de fumar, e aproximadamente 45,0% por ano, tentam cessar o uso. No entanto, apenas 10,0% dos fumantes que recebem tratamento formal são capazes de manter a abstinência de um ano. A cessação do tabagismo tem se caracterizado com um importante estressor para os usuários, que costumam experimentar níveis de afeto negativo, estresse psicológico percebido e depressão. Isto parece justificar as baixas taxas de abstinência desses usuários a longo prazo, pois esses sintomas se tornam poderosos indicadores de recaída. Por esse motivo, torna-se interessante identificar fatores que contribuam com o aumento das taxas de abstinência e que previnam a recaída.
Mindfulness, que como definido por Jon Kabat-Zinn (1994), significa "prestar atenção de uma maneira particular; de propósito, no momento presente, e sem julgamento, ou que reflete a aceitação da experiência” (Roemer & Orsillo, 2003; Teasdale, 1997), tem sido apontado como um fator que pode ser relacionado com baixos níveis de afeto negativo, níveis mais elevados de afeto positivo e regulação emocional reforçada. Intervenções baseadas em mindfulness têm demonstrado redução do autorrelato e índices objetivos de afeto negativo e estresse e aumento do afeto positivo. Para a cessação do tabagismo, existem algumas evidências (4 estudos publicados) que sugerem que os tratamentos à base de mindfulness são eficazes. Por se tratar de uma evidência de tratamento emergente, os autores pontuam que há uma necessidade de discutir os mecanismos através dos quais a mindfulness melhora resultados de cessação do tabagismo.
Neste estudo, o coping (enfrentamento) é entendido como a utilização de ações cognitivas ou comportamentais específicas para lidar com problemas incômodos diários, sendo a mindfulness um dos mecanismos de coping que pode atenuar os níveis de afeto negativo e o estresse psicológico percebido. A mindfulness aumenta a identificação precoce de pensamentos e sentimentos problemáticos, como por exemplo, o desejo e/ou vontade de fumar, que, por sua vez, promove a utilização de comportamentos adaptativos e flexíveis de enfrentamento, levando a regulação emocional do indivíduo. Desse modo, o presente estudo objetivou analisar o enfrentamento como um mecanismo potencial de associações de mindfulness com níveis de afeto negativo e positivo, depressão e estresse psicológico entre fumantes.
Os 158 participantes foram recrutados na área metropolitana de Houston via mídia impressa local, entre fevereiro de 2005 a maio de 2006. Os critérios de inclusão foram: história de tabagismo de pelo menos cinco cigarros por dia durante o ano anterior, motivação para atingir a abstinência de fumar dentro de 30 dias da inscrição, capacidade de falar e ler em inglês, e ter um endereço residencial e número de telefone funcionando em casa. A média de idade dos participantes foi de 43,8 anos, 44,0% eram do sexo feminino, 38,0% eram casados e 47,0% relataram ter renda familiar anual inferior a US$ 30.000. Os participantes fumavam em média 20,8 (DP = 9,2) cigarros por dia, para uma média de 24,8 (DP = 12,1) anos. A média do nível da linha de base de monóxido de carbono exalado foi de 21,3 (DP = 11,3) ppm. Já a média da pontuação do Heaviness of Smoking Index (HSI) foi de 3,4 (DP = 1,4), enquanto que a pontuação média do Kentucky Inventory of Mindfulness Skills (KIMS) foi de 31,4 (DP = 3,8). Foram utilizados quatro medidas padronizadas para avaliar dependência de nicotina (HSI), mindfulness (KIMS), coping (Daily Coping Inventory), afetos positivos e negativos (PANAS) e depressão (CES-D).
De maneira geral, os resultados indicaram que indivíduos que relataram maior uso de ação direta, busca de suporte social, religião e relaxamento apresentaram níveis significativamente mais baixos de estresse percebido e níveis mais elevados de afeto positivo. Constatou-se ainda que: mindfulness foi significativamente menos associado com o estresse percebido, maior foi o efeito no afeto positivo, menor efeito no afeto negativo, e menos associado com a depressão.
Na análise das dimensões de enfrentamento como potenciais mediadores da associação entre consciência e estresse percebido obteve-se que duas das oito dimensões de enfrentamento (ação direta e relaxamento), mediou significativamente a associação, e que duas adicionais dimensões de enfrentamento (busca de apoio social e religião), aproximou-se de significância. Neste modelo de múltiplos mediadores de enfrentamento responderam por 26,0% do efeito total de mindfulness sobre o estresse percebido. Das quatro dimensões de enfrentamento incluídos no modelo de múltiplos mediadores, apenas um (relaxamento) mediou independentemente a associação entre consciência e percepção de estresse psicológico.
Além disso, três dos oito dimensões de enfrentamento examinadas, busca de suporte social, religião e relaxamento, mediaram significativamente a associação entre mindfulness e afeto positivo. Por outro lado, quando associada ao afeto negativo, nenhuma das dimensões de enfrentamento apresentaram resultados estatisticamente significativos. Já na associação com a depressão, apenas a dimensão relaxamento apresentou mediação significativa.
O estudo em questão demonstrou que mindfulness foi inversamente associada com o estresse percebido, afeto negativo e depressão, e positivamente associada com o afeto positivo. Além disso forneceu a primeira evidência de que várias estratégias de enfrentamento podem mediar a relação entre mindfulness com estresse psicológico percebido, afeto positivo e depressão, especificamente, o relaxamento. Para os autores, no geral, o padrão robusto e consistente de associações que surgiu entre mindfulness e esses preditores estabelecidos de recaída sugere que uma maior atenção plena (mindfulness) poderia atenuar a vulnerabilidade à recaída em fumantes.
Apesar de existirem poucos estudos que avaliam intervenções com fumantes baseadas em mindfulness (Bowen e Marlatt 2009; Davis et ai. 2007), evidências consideráveis indicam a eficácia de intervenções baseadas em mindfulness visando uma variedade de resultados e entre populações diversas. Mindfulness foi positivamente associada com a dimensão de enfrentamento de busca de apoio social, que por sua vez, foi negativamente associada com o estresse percebido e positivamente associada com afeto positivo.

Sabe-se que estratégias de enfretamento e prevenção de recaída estão associadas, e ainda, que as habilidades de enfrentamento podem ser melhoradas através de intervenções, que quando visam melhorar diretamente a mindfulness também pode impactar positivamente no comportamento de enfrentamento dos indivíduos fumantes ou não.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

27 de Agosto, Dia do Psicólogo.

Postado por Geovanna Souza

Hoje, no dia do psicólogo(a), o Conselho Federal de Psicologia e os Conselhos Regionais preparam várias homenagens para prestigiar à categoria e celebrar a data. Uma das atividades de destaque foi um vídeo publicado pelo CRP SP, que traz uma série de depoimentos de profissionais atuantes nas mais diversas áreas de atuações, falando sobre o comprometimento com a profissão. Esse vídeo foi um recorte do projeto "Psicologia todo dia, em todo lugar".
O GEPPS-UFS parabeniza a todos os profissionais da Psicologia, bem como aos estudantes que escolheram essa profissão. 




quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O consumo de álcool como fator de risco para a transmissão das DSTs/HIV/Aids.

Resenhado por Mariana Menezes

Cardoso, L. R. D., Malbergier, A., & Figueiredo, T. F. B. (2008). O consumo de álcool como fator de risco para a transmissão das DSTs/HIV/Aids. Revista de Psiquiatria Clínica, 35, 70-75.


O consumo de álcool no Brasil é uma prática frequente. Um levantamento feito em 2005 pelo Cebrid/Unifesp sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil indicou que 74,6% dos brasileiros já fizeram uso de álcool alguma vez na vida. O consumo de álcool é classificado em beber moderado, binge, beber pesado e beber esporádico. O consumo moderado é caracterizado pela ingestão de até 15 doses semanais para homens e 10 doses semanais para mulheres, sendo que os homens não devem ultrapassar o consumo de três doses diárias e as mulheres de duas doses diárias. Nesse padrão, ambos não devem trazer risco para si ou terceiros. O binge é o consumo equivalente a cinco doses de bebida alcoólica para homens e quatro para mulheres em um período determinado de tempo. Já o beber pesado se trata do consumo diário e excessivo da substância. Para todas essas definições, devem-se considerar o tempo que a pessoa levou para consumir cada dose e seu peso corporal.
Por ser uma droga psicotrópica depressora do sistema nervoso central, o álcool atua de modo a diminuir as atividades cerebrais, estando por isso, associada a redução da ansiedade, desinibição e aumento da loquacidade, o que facilita certos atos difíceis de serem realizados sem o efeito de bebidas alcoólicas. A relação entre uso de álcool antes ou durante o ato sexual geralmente é justificada pela crença de que o consumo dessa substância poderia favorecer um desempenho sexual desejável e aumentaria o prazer. Essa associação tem sido relatada como um fator de risco para infecção das DSTs/HIV/Aids, pois pessoas que consomem bebidas alcoólicas em contextos nos quais praticam sexo tendem a não utilizar preservativo nos atos sexuais, a trocar de parceiros com mais frequência, a ter parceiro casual e a praticar sexo em grupo e sexo anal.
A capacidade de discernir os riscos associados à infecção pelo HIV também é prejudicada pelo consumo alcoólico, o que dificulta a negociação e uso do preservativo, facilitando a disseminação do vírus HIV e de outras DSTs. Já é sabido que indivíduos alcoolizados têm mais chance de praticar sexo sem preservativo do que indivíduos não alcoolizados, no entanto, outro fator relevante nessa associação é a quantidade consumida antes ou durante o ato sexual. A característica do beber pesado mostra-se como um diferencial no engajamento de comportamento sexual de risco para infecção pelo HIV. Pessoas que bebem pesado têm mais chance de se envolver em comportamento sexual de risco do que pessoas que não apresentam esse padrão de consumo. Porém, tanto o beber pesado quanto o beber moderado também estão associados à prática de sexo sem preservativo, múltiplos parceiros, parceiro casual, prática sexual com profissionais do sexo e uso de drogas injetáveis.
Além do padrão de consumo, outro fator associado à prática de sexo sob efeito de álcool é o local onde o indivíduo consome a bebida. Os locais apontados como facilitadores para o consumo de álcool associado com atividade sexual estão vinculados a atividades sociais, principalmente noturnas, como bares, boates, danceterias e clubes. Também há relação entre gênero e comportamento sexual de risco. De modo que homens tendem a se engajar com mais frequência em comportamento sexual de risco quando estão alcoo­lizados do que mulheres. No entanto, mulheres também tendem a emitir comportamento sexual de risco quando estão sob efeito do álcool, embora consumam bebidas alcoólicas com menor frequência. Já entre os adolescentes, o consumo de álcool vem sendo associado com o início precoce das atividades sexuais. Quanto mais precoce se dá o início do uso de álcool, maiores são as chances de o adolescente se engajar em comportamentos sexuais de risco.

Para finalizar, diante do que foi discutido, con­clui-se que o uso de álcool associado ao comportamento sexual se mostra como um fator de risco para disseminação das DSTs/HIV/Aids, doença que se caracteriza como um grave problema de saúde pública em vários países, inclusive no Brasil. Assim, quando o sexo é praticado sob efeito de álcool, as pessoas tendem a ter vários parceiros e a não utilizar preservativo.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Dependência química e psicológica: especialistas alertam para danos emocionais que vício em tabaco pode trazer.

Postado por Mariana Menezes


Os malefícios que a nicotina traz para o indivíduo são produzidos a longo prazo. Essa droga é estimulante e também possui efeitos calmantes, porém as reações individuais quanto aos seus efeitos são muito variáveis. Há muito se sabe que a prática tabagista está intimamente associada a problemas psicológicos. A notícia a seguir faz menção a uma pesquisa norte-americana sobre a dependência de tabaco. Tal estudo identificou que fumantes têm maior prejuízo na saúde emocional em comparação aos não fumantes, de maneira que emoções negativas como estresse, depressão, preocupação e raiva são mais comuns entre os tabagistas.



Como você se sentiu durante boa parte do dia de ontem? Irritado? Estressado? Feliz? Satisfeito com a vida? Respeitado? Triste? Foram esses alguns dos questionamentos que uma empresa de consultoria norte-americana fez a cerca de 83 mil entrevistados como parte de um índice da saúde emocional. O projeto separou fumantes de não fumantes e revelou que os amantes do cigarro relatam mais queixas sobre o cotidiano e a vida que pessoas sem o mesmo hábito.
Os dados do Gallup Healthways Well-Being Index são de 2012. De acordo com eles, cerca de 50% dos fumantes disse ter sofrido com estresse no dia anterior, contra 37% dos não-fumantes. A diferença continua entre as outras emoções negativas. Questionados sobre momentos de preocupação, 40% dos fumantes confirmaram ter experimentado o sentimento recentemente, assim como 28% dos não-fumantes. Outros 26% dos entrevistados que fumam também afirmaram sofrer de depressão, sendo que somente 15% do outro grupo relatou o mesmo.



A associação não é uma surpresa para especialistas. Além de ser, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o maior responsável por mortes evitáveis no mundo, o hábito de fumar também é um dos principais causadores de dependência química e, como consequência, um grande inimigo da saúde emocional.
“Se a nicotina é capaz ou não de causar diretamente depressão e sentimentos como esses eu não sei, mas ela está relacionada a várias questões que diminuem a qualidade de vida. E falta de qualidade de vida causa depressão”, afirma o psiquiatra do Ambulatório de Dependência Química do Hospital das Clínicas, Gustavo Coutinho.

O médico ressalta que é importante entender que a questão é complexa. Segundo ele, a dependência é uma forma do indivíduo lidar com situações corriqueiras da vida. “A maioria das pessoas que a gente atende passa por situações estressantes, estão passando por depressão ou ansiedade e associam esses sentimentos ao cigarro, porque ele está perto na hora difícil. Então, quando a gente vai tratar o tabagismo, sempre temos que tratar eles de alguma forma a estimulá-los a melhorar sua qualidade de vida”, relata.


"O cigarro passa a ser para a pessoa um grande auxílio nos seus problemas diários. O fumante acha que o cigarro o acalma mas, na verdade, ele acelera o metabolismo. Ele é um excitante, que causa reações neuroquímicas no cérebro e dá a sensação de alívio e bem estar porque produz dopamina, um neurotransmissor ligado ao prazer", explica Santos.O psicólogo e coordenador do Programa de Controle do Tabagismo de Sabará, região metropolitana de BH, Wagner Prazeres dos Santos, acredita que o cigarro é um mantenedor do status de depressão e stress de seus usuários. "Como ele associou tudo ao alívio que o cigarro dá, quando aparece o estresse, ele fuma. Passa a ser a maneira dele enfrentar o problema. Ele se alivia no cigarro e é depende psicologicamente do que o cigarro traz para ele. É como um afeto que a pessoa passa a ter", diz.
No entanto, ainda não é claro se o ato de fumar causa problemas, como a depressão ou o estresse, ou se pessoas com esse tipo de problemas emocionais têm uma tendência maior de buscar o cigarro. "Na minha experiência prática vejo que quase 100% das pessoas que têm essa dependência são ansiogênicas, deprimidas ou têm depressão mascarada. Se isso deve-se exclusivamente ao tabagismo é difícil dizer", pontua Santos.
Falso alívio
O cigarro também traz consigo uma falsa impressão de alívio, o que faz seus usuários acharem que fumar ajuda a diminuir o estresse - quando, na verdade, o efeito pode ser o contrário. Um estudo britânico, publicado em 2010 pela revista Addiction, acompanhou 469 fumantes que foram hospitalizadas por problemas cardíacos e constatou que aqueles que decidiram parar de fumar tiveram quedas no nível de estresse.

Um grupo de 41% dos entrevistados conseguiu manter a abstinência durante um ano após as internações. Essas pessoas apresentaram uma redução de 20% nos níveis de estresse em relação aos registrados anteriormente, enquanto que para os participantes que voltaram a fumar os índices de tensão mudaram pouco. O estudo ainda afirma que, para algumas pessoas, fumar acaba contribuindo para o estresse crônico.



O psicólogo ainda explica que por essa sensação de prazer ser tão frequente, o fumante passa a associar o hábito a uma espécie de 'lugar seguro'. "Ele causa uma dependência comportamental que é extremamente nociva", destaca.

O psiquiatra do HC Gustavo Coutinho ainda acrescenta: “A gente tem o costume de dizer que o tabagismo é mais que uma dependência química. Ele também uma dependência psicológica e um hábito aprendido pela repetição”.
Essa complexidade que envolve a dependência criada pela nicotina faz com que o tratamento envolva também o acompanhamento psicológico. Em Belo Horizonte, o Hospital das Clínicas ajuda pessoas abandonarem o vício por meio de trabalhos em grupo, medicamentos e acompanhamento terapêutico. “A gente não pode simplesmente querer tirar o que causa a dependência sem que a pessoa aprenda a lidar com seus problemas de forma saudável”, explica o psiquiatra.
Evitar as coisas que a pessoa associa ao cigarro é uma atitude que ajuda quem quer parar. Se a hora de fumar é associada ao álcool, por exemplo, a sugestão para o começo do período de abstinência é evitar beber também.

Serviço
O Hospital das Clínicas oferece um programa de tratamento para fumantes há dois anos. Durante esse tempo, 36% dos pacientes que participaram tiveram sucesso ao deixar a dependência. No entanto, o Ambulatório espera aumentar a estatística. “O diferencial da proposta é não oferecer só o fisiológico para o paciente. Por isso, a gente tenta trabalhar fazendo eles pensarem no por quê eles fumam”, explica a psicóloga Patrícia Roggi.

“Agora estamos tentando desenvolver um método complementar de terapia que aumente taxa de eficácia e de abstinência dos pacientes”, completa. O projeto faz parte da tese de mestrado em Neurociências pela UFMG de Patrícia. Segundo ela, a ideia é desenvolver técnicas cognitivas e comportamentais para que os pacientes consigam lidar com a fissura - que é o desejo incontrolável de consumir a substância.
O Ambulatório de Dependência Química do HC faz acolhimento a novos participantes todas as sextas-feiras, pela manhã. Uma primeira consulta será marcada para avaliação. Se o paciente tiver condições psicológicas que permitam o tratamento, ele será encaminhado para o trabalho em grupo. “Quem se engajar nessa mudança tem uma chance muito maior de conseguir do que quem tenta sozinho”, ressalta o psiquiatra Gustavo Coutinho.
Informações: 9553-8329. O ambulatório fica localizado no complexo do Hospital das Clínicas, na Alameda Álvaro Celso, 175, Bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Preditores da morbidade psicológica em fumantes, motivados para deixar de fumar, e em abstinentes.

Resenhado por Catiele Reis


Afonso, F., & Pereira, M.G. (2012). Preditores da morbidade psicológica em fumantes, motivados para deixar de fumar, e em abstinentes. Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, 15(2), 96-116.


            O presente estudo teve como objetivos comparar fumantes e abstinentes, no que se refere ao coping, representações face ao comportamento tabágico e suporte do parceiro. Além disso, analisar a relação entre o coping, morbidade psicológica e dependência nicotínica e avaliar diferenças ao nível do suporte do parceiro em função deste fumar ou não.
Para isso foi selecionada uma amostra de 106 fumantes e 68 abstinentes entre pessoas de um hospital geral e uma empresa privada localizada no norte de Portugal. Todos os participantes foram selecionados a partir de uma reunião geral e o procedimento consistia no preenchimento dos seguintes instrumentos: Ways Coping Questionare; State trait Anxiety Inventory; Illnes perception questionnaire-R; e o teste de dependência de nicotina de Fagerström. A analise de dados foi realizada através da Manova para as subescalas e o teste t para Escala de Coping comparando os grupos de fumantes e não fumantes.. 
Nos resultados apresentados, os autores afirmam que os fumantes utilizam mais estratégias de coping de atenção em comparação aos abstinentes. Este resultado pode ser explicado pelo fato dos fumantes que integram esse estudo possuírem uma motivação muito grande para deixar de fumar. Destaca-se também o fato da maioria dos participantes trabalharem em uma empresa privada que trabalha por turnos e ter iniciado o comportamento tabágico como uma maneira de relaxar durante uma pausa para voltar ao trabalho. Isto coincide com o que é abordado no estudo de Wesnes e Warburton (1983), no qual foi verificado que fumar podia ser um bom recurso de coping em contextos de trabalho ao produzir um efeito potencializador da concentração e atenção seletiva e aumento da produtividade.
Outro resultado encontrado foi o fato dos fumantes apresentarem mais representações negativas face às consequências do tabaco do que os indivíduos abstinentes. Isso significa que embora o tabaco proporcione uma sensação de bem estar, os fumantes sabem os malefícios causados pelo cigarro.
 Por outro lado, os sujeitos abstinentes revelam mais suporte positivo indicando que receberam mais apoio para deixar de fumar. Tal resultado corrobora com a literatura que afirma que o parceiro pode influenciar o indivíduo a parar de fumar tendo um papel decisivo na mudança de comportamento.
Portanto, de acordo com os resultados encontrados os programas de cessação tabágica são importantes ao nível da morbidade psicológica, suporte do parceiro e nas estratégias de enfrentamento utilizadas, devendo o parceiro frequentar os programas com a finalidade de prestar o maior suporte ao indivíduo fumante.
No entanto, esta pesquisa apresenta algumas limitações importantes, a saber. O fato de todos os fumantes estarem escritos em uma lista de espera para o programa de cessação tabágica fazendo com que tenha um viés no que se refere às representações negativas das consequências do tabaco; da pesquisa ter sido realizada apenas no norte de Portugal, o que faz com que esta amostra seja muito específica não podendo haver generalização dos resultados; e os instrumentos terem sido apenas de autorrelato, fato que limita a pesquisa a respeito do suporte familiar, já que não se tem a visão dos familiares.  



domingo, 23 de agosto de 2015

Tabaco

Postado por Laís Santos


A Organização mundial de saúde (OMS) estima que o tabaco seja consumido por 20% da população mundial, em termos absolutos, essa porcentagem equivale a mais de um bilhão de fumantes. Além disso, acredita-se que o uso do tabaco seja diretamente responsável por doenças que causam a morte de seis milhões de pessoas ao ano. Os danos causados pelo fumo não afetam somente aos fumantes ativos, mas também aos chamados fumantes passivos – cerca de 300 mil pessoas no mundo morrem por ano por causas decorrentes da exposição à fumaça de cigarros, por exemplo. Assim, é necessária a soma de forças a fim de minimizar os danos causados, a longo prazo, pelo uso e exposição contínua ao tabaco.


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Estratégias de enfrentamento utilizadas para parar de fumar após diagnóstico de câncer: Dois estudos de caso.

Resenhado por Brenda Fernanda

Chaves, B. L., & Mendes, T. N. (2013). Estratégias de enfrentamento utilizadas para parar de fumar após diagnóstico de câncer: Dois estudos de caso. Psicologia Hospitalar, 11, 25-51. 


Sabe-se que o câncer ocasiona diversos danos à saúde, sendo atualmente avaliado como um evidente problema de saúde pública mundial. De todos os novos cânceres humanos diagnosticados, 5% situam-se na região de cabeça e pescoço. Algumas pesquisas (Fardin, 2003, Gilson, 2007 e Gervásio et al., 2001, citados por Castro, Nardi & Dedivitis, 2010), apresentam resultados que apontam a relação do sexo com a incidência de câncer nesta região, sendo os homens os maiores acometidos pela doença. No entanto, nos últimos anos tem-se verificado um aumento significativo na incidência entre mulheres, incitando a reflexão sobre a mudança dos hábitos femininos (Alvarenga et al., 2008; Castro et al., 2010). Além disso, algumas evidências mostram que a incidência do câncer de cabeça e pescoço aumenta com a idade.
No que diz respeito às estratégias de enfrentamento, elas não são utilizadas de forma isolada, e nenhuma é superior a outra para lidar com o estresse e com a dependência nicotínica. Cada estratégia tem seus prós e contras, a depender do indivíduo, de seu grupo social e do contexto que está vivenciando (Peçanha, 2008). Estudos evidenciam que os sujeitos, frente a situações estressoras, selecionam um número extenso de estratégias que, juntas, serão determinantes ao enfrentamento dessas situações (Folkman, Lazarus, Dunkel-Schetter, De Longis & Gruen, 1986, citados por Savoia, Santana & Mejias, 1996).
A definição teórica de Estratégias de Enfrentamento (Coping) mais reconhecida e abrangente entre todas é o modelo cognitivista elaborado por Folkman e Lazarus (1988, citado por Staniscia, 2011), que se refere ao enfrentamento como um conjunto de esforços cognitivos e comportamentais utilizados pelos indivíduos com a finalidade de lidar com demandas específicas internas ou externas que podem ser avaliadas pelo indivíduo como sobrecarregantes ou excedentes de seus recursos pessoais (Junior, 2009; Staniscia, 2011).
Especialmente no contexto de parar de fumar tem-se observado em estudos que o enfrentamento apropriado pode prevenir a recaída do uso do tabaco. O presente estudo relaciona-se a dois estudos de caso, de caráter descritivo, que teve como objetivo investigar as principais estratégias de enfrentamento empregadas por dois sujeitos com câncer de cabeça e pescoço para parar de fumar após receberem o diagnóstico da doença. Um dos sujeitos era do sexo masculino e o outro do sexo feminino, ambos ex-tabagistas que realizaram o tratamento para o câncer em um hospital especializado. A coleta de dados foi realizada através da utilização de dois instrumentos, uma entrevista semi-estruturada e o Inventário de Estratégias de Enfrentamento de Folkman e Lazarus (1985, adaptado por Savoia, Santana & Mejias, 1996).
Em relação ao sujeito 1, sexo masculino, 57 anos, como resultados dos dados do Inventário de Estratégias de Enfrentamento do Folkman e Lazarus, constatou-se que as três Estratégias de Enfrentamento mais utilizadas foram: Aceitação de responsabilidade (se responsabiliza pelo comportamento de parar de fumar), Resolução de Problemas (tentativa de usar técnicas para manejar o fim do tabagismo) e Reavaliação positiva (as estratégias procuram avaliar o que tem de positivo no comportamento de parar de fumar). Sobre o sujeito 2, sexo feminimo, 69 anos, concluiu-se, com base nos dados da entrevista ( houve dificuldade da participante em compreender algumas informações do Inventário), que as estratégias de enfrentamento mais utilizadas foram: Afastamento (há um afastamento dos estímulos que remetem à vontade de fumar) e Autocontrole (há uma crença de que deve, simplesmente, haver um auto-controle para parar de fumar).
Os dados da presente pesquisa corroboraram a importância das estratégias de enfrentamento como suporte para extinção do tabagismo. Lazarus e Folkman (1984, citado por Staniscia, 2011) afirmam que todas as estratégias de enfrentamento (exceto afastamento) são utilizadas no momento inicial de contato com a doença, pois os sujeitos se encontram diante de uma situação estressora nova e possuem energia emocional para recorrer a todos os tipos de recursos de enfrentamento disponíveis. No entanto, observou-se na presente pesquisa que a única estratégia que os sujeitos não utilizaram foi o Confronto, no qual o indivíduo acredita que tem que enfrentar a abstinência do tabaco sem se afastar das situações de risco. As demais estratégias  foram empregadas, em graus diferentes para cada caso, com base na necessidade de cada um dos sujeitos.

Diante do exposto, esse estudo poderá contribuir para que equipes de saúde e, principalmente, psicólogos da saúde, norteiem ações e criem programas antitabagismo específicos, com intervenções pontuais e que terão maior chance de serem bem-sucedidas.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Drogas ilícitas: Seus efeitos e suas consquências

Postado por Lucila Moraes

Este curta animado mostra as diferentes fases decorrentes do consumo de uma droga. De forma sutil, porém impactante, a animação mostra os efeitos e consequências que o uso de drogas ilícitas podem trazer na vida das pessoas. É possível notar ao longo do vídeo que toda vez que o pássaro Kiwi consome a substância amarela, o seu efeito acaba cada vez mais rápido, e o impacto se torna cada vez mais intenso, aumentando a ânsia por um novo consumo da substância (a chamada fissura). Pode-se fazer uma analogia da substância amarela apresentada no vídeo com drogas como o crack e a cocaína que possuem efeito similar e igualmente devastador para nosso organismo e nossa vida.



quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Coping religioso-espiritual e consumo de alcoólicos em hepatopatas do sexo masculino.

Postado por Laís Almeida


Martins, M. E., Ribeiro, L. C., Feital, T. J., Baracho, R. A., & Ribeiro, M. S. (2012). Coping religioso-espiritual e consumo de alcoólicos em hepatopatas do sexo masculino. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 46, 1340-1347. doi: 10.1590/S0080-62342012000600009


O coping religioso/espiritual é a utilização de crenças e práticas religiosas e espirituais como recurso facilitador da resolução de problemas, que previne ou alivia as consequências emocionais negativas de fatores estressantes. O uso abusivo do álcool é causa estimada de aproximadamente 4,5% das incapacidades e 3,8% do total de mortes no mundo em 2004 e, no ano seguinte, a taxa de mortalidade por cirrose hepática alcoólica na população brasileira acima de 15 anos de idade foi de 24,4 por 100.000 para homens e 4,7 para mulheres. O texto aponta que pessoas mais religiosas tendem a consumir álcool com menor frequência e a apresentar menos problemas relacionados ao uso. Levando em conta a escassez de estudos com populações clínicas e com amostras brasileiras, o objetivo do artigo foi avaliar o uso do coping religioso/espiritual em pacientes adultos portadores de hepatopatias e verificar sua possível modulação pelo consumo de álcool.
O estudo foi do tipo transversal e abrangeu 123 pacientes em processo de avaliação diagnóstica ou tratamento no ambulatório de hepatologia na Universidade Federal de Juiz de Fora. Participaram da pesquisa homens de idade entre 20 e 59 anos que frequentaram até pelo menos a 5ª série do ensino fundamental. Os instrumentos utilizados foram: 1) questionário estruturado e autoaplicável relativo aos aspectos sócio-demográficos; 2) questionário CAGE de rastreamento de possível Síndrome de Dependência a alcoólicos na vida; 3) Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) e 4) Escala de coping religioso/espiritual (CRE).
Os resultados apontaram que a denominação religiosa se correlacionou de forma significante aos índices utilizados para avaliação do coping religioso/espiritual. Protestantes e evangélicos estiveram em maior número dentre os pacientes com maior uso tanto de coping positivo quanto negativo; católicos estiveram mais presentes dentre os que fizeram menor uso do coping negativo e os que informaram não possuir religião utilizaram predominantemente estratégias de coping negativo, que incluem reavaliações negativas da ideia de Deus e insatisfação com as instituições religiosas.
A pesquisa mostrou que a associação entre a alta frequência a serviços religiosos e uso do coping religioso-espiritual indica o envolvimento com estratégias que vão desde a relação positiva com a ideia de Deus e ritos religiosos até a transformação pessoal e oferta de ajuda do outro. O uso da dimensão positiva e da negativa do coping religioso-espiritual pelos hepatopatas indicam que eventos estressantes podem mobilizar tanto um quanto outro, de forma que a pessoa pode interpretar uma experiência estressora tanto como “provação de Deus”, quanto por castigo. A utilização de estratégias de coping religioso-espiritual tende a apresentar razão direta em relação ao número de problemas de saúde física ou mental que a pessoa apresenta, que no caso desse estudo foram doenças hepáticas e alcoolismo. É necessário considerar modulações no uso do coping religioso-espiritual tanto negativo quanto positivo, pois há a possibilidade de resultados indesejáveis no estado de saúde dos sujeitos.


terça-feira, 18 de agosto de 2015

Dois em cada três fumantes morrerão por causa do cigarro, diz estudo

Postado por Mariana Serrão


Estudo australiano publicado no periódico BMC Medicine estima que a cada três fumantes, dois morrerão por conta do cigarro.
A pesquisa envolveu 200.000 indivíduos que foram acompanhados por quatro anos, os indivíduos possuíam mais de 45 anos a maioria eram fumantes e em média 30% já haviam fumado na vida. Durante o tempo da pesquisa, 5593 pessoas morreram, então os pesquisadores fizeram uma relação entre a morte e o uso de cigarro. No grupo dos fumantes dois terços dos óbitos foram causados por problemas respiratórios, derrame e doenças cardiovasculares, comprovando a relação com o tabagismo.




Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/dois-em-cada-tres-fumantes-morrerao-por-causa-do-cigarro-diz-estudo

A cada três fumantes, dois morrerão por causa do cigarro. A estimativa foi feita por um estudo australiano publicado nesta terça-feira no periódico BMC Medicine.A pesquisa contou com a participação de mais de 200 000 indivíduos maiores de 45 anos, acompanhados por quatro anos. Ao todo, 7,7% dos participantes eram fumantes e 34,1% já tinham fumado na vida.No período em que o estudo foi realizado, 5 593 pessoas morreram. Os pesquisadores, então, analisaram as causas dos óbitos e sua ligação com o tabagismo. No caso dos fumantes, dois terços das mortes estavam relacionadas ao tabaco e foram causadas por problemas como doenças respiratórias, doenças cardiovasculares e derrame."Nós descobrimos que os tabagistas têm cerca de três vezes mais risco de morrer prematuramente, comparados com quem nunca fumou. Além disso, os fumantes morrerão, por estimativa, dez anos antes que os não fumantes", diz Emily Banks, pesquisadora na Universidade Nacional Australiana e coautora do estudo.De acordo com Emily, as descobertas são importantes para lembrar que a luta contra o tabaco não está vencida e que os esforços para controlar o tabagismo precisam continuar.

Coping e gênero em adolescentes

Postado por Iracema R. O. Freitas

Câmara, S. G. &  Carlotto, M. S.(2007). Coping e gênero em adolescentes. Psicologia em Estudo, 12, 1, 87-93.

Os eventos estressores causam impacto sobre a saúde orgânica e psicológica dos indivíduos, porém existem estratégias de enfrentamento que podem reduzir o impacto de tais eventos sobre a saúde. Os recursos utilizados para minimizar os efeitos negativos de um estressor podem ser de ordem cognitiva ou comportamental, segundo Lazarus e Folkman(1980), ou se desdobrar em quatro categorias como descreve Blalock e Joiner(2000), são elas: aproximação comportamental (uma ação que pretende enfrentar uma situação estressante); aproximação cognitiva (reavaliação positiva ou elaboração de alternativas); evitação comportamental (execução de comportamentos impulsivos que reduzam a tensão); e evitação cognitiva (pensamentos ou respostas que tentem reduzir a gravidade da situação ou negá-la). Estas dimensões situacionais representam modalidades de ajustes do individuo aos problemas que encontra, sendo chamadas de coping. Na adolescência muitas estratégias ainda não foram desenvolvidas dificultando o enfrentamento de situações estressoras. Para que haja o ajustamento saudável aos problemas é necessário o desenvolvimento de um repertório comportamental,  resultante de fatores demográficos, pessoais, socioculturais e ambientais que influenciam no tipo de estratégias de coping. Além disso, o gênero e os papéis sociais que lhes são atribuídos podem ser considerados fatores  que  também impactam no bem-estar físico e psicológico desses indivíduos.
O presente estudo avaliou associação entre bem estar e coping em 389 adolescentes com a  idade média de 17,3 anos , cursando o ensino médio de escolas públicas e particulares de Porto Alegre. Foram aplicados um questionário de dados sociodemográficos, o General Health Questionnaire - GHQ-12 e a Escala de Enfrentamento para Adolescentes – ASC. Os resultados indicaram que há associação entre bem-estar psicológico e as estratégias de enfrentamento nos dois grupos (sexo masculino e sexo feminino).  Redução da tensão, busca de apoio espiritual, falta de afrontamento, fixar-se no positivo e resolver problemas são estratégias mais utilizadas por indivíduos do sexo feminino, condutas aceitáveis em seu contexto sociocultural, em que os sentimentos da mulher devem ser liberados com moderação. Com o sexo masculino as estratégias mais encontradas foram a distração física, guardar para si, ignorar o problema e ação social, demonstrando que entre os meninos o enfrentamento pode ocorrer por meio do suporte social.
As variáveis relativas a evitação comportamental e cognitiva diferenciaram significativamente entre os grupos, com destaque para redução de tensão como chorar, gritar, buscar uma maneira de aliviar a tensão, alterar a quantidade de comida ou ainda o tempo de dormir são estratégias mais utilizadas pelas meninas. Já a distração física utilizada pelos meninos sempre remete ao apoio dos seus pares, que buscam nas atividades físicas alcançar o mesmo resultado de evitação comportamental. A evitação cognitiva nas meninas se manifesta na postura derrotista, ou seja, a sensação de incapacidade ou paralização frente ao problema e ainda sensação de mal-estar com sintomas físicos de ansiedade, enquanto os meninos acabam guardando para si seus sentimentos e problemas.
Por se tratar de um período de construção de identidade, de experimentação e amadurecimento de repertórios comportamentais e cognitivos de enfrentamento, torna-se importante o estudo do coping entre os adolescentes, para que se identifique como o estilo de vida em cada sexo pode refletir na sua saúde física e mental. As estratégias de coping mal sucedidas podem levar a comportamentos de risco como única forma de enfrentamento possível, ou seja, terá um repertório pobre ou pouco saudável de coping.





sábado, 15 de agosto de 2015

Smoking is even more dangerous than we thought: Scientists link the habit to five extra diseases, bringing the total to 26.


Postado por Luana Santos

Um estudo publicado no New England Journal of Medicine mostrou que cinco doenças e condições de saúde não previamente ligadas ao tabagismo estão agora relacionadas ao hábito, elevando a lista de doenças causadas pelo tabagismo para 26. Os cientistas identificaram que fumantes têm o dobro de risco de sofrerem de insuficiência renal, hipertensão, infecções e problemas respiratórios, além de serem seis vezes mais propensos a sofrer de uma condição rara causada pela má circulação sanguínea para o intestino. O estudo pesquisou dados de saúde de quase um milhão de pessoas, homens e mulheres, todos com idade a partir de 55 anos, seguindo-os por 10 anos. Ao longo do estudo, mais de 180.000 dos participantes morreram.Suas descobertas sugerem que o número de pessoas que morrem por problemas causados pelo hábito de fumar a cada ano, em todo o mundo, é significativamente subestimada. Estima-se que fumar poderia estar matando cerca de 60.000 americanos extras a cada ano (cerca de 13% das 480 mil mortes anuais atualmente atribuídas ao hábito), estimativa que, se aplicada à nível mundial, sugere 780 mil mortes extras por efeitos do tabagismo a cada ano Uma limitação do estudo está na sua análise, os hábitos das pessoas foram avaliados por correlações estatísticas entre seus comportamentos e sua saúde, porém correlações positivas não são suficientes para afirmar uma relação de causalidade. Entretanto, se apoiado por pesquisas futuras, tal estudo pode subsidiar a inclusão de novas doenças nas estimativas futuras sobre mortes causadas pelo tabagismo, assim como novas formas de prevenção.


Five diseases and health conditions not previously linked to smoking are now thought to be caused by the habit, scientists claim.
The link between cigarettes and lung disease, some cancers, artery disease, heart attacks and stroke is well documented.But scientists at the Washington University School of Medicine have identified smoking is also linked to significantly increased risks of infection, kidney disease, intestinal disease caused by inadequate blood flow, and heart and lung illnesses not previously attributed to tobacco.
They studied health data from almost one million people, following them for 10 years.Their findings suggest the number of people dying from smoking each year, across the world, is significantly underestimated.In the US, health officials estimate smoking kills around 480,000 people each year.
Research has already established 21 diseases caused by smoking, including 12 types of cancer, six categories of cardiovascular disease, diabetes, chronic obstructive pulmonary disease [COPD], and pneumonia including influenza.In the UK that figure is around 100,000, while the World Health Organisation estimate the global figure stands at six million, when taking into account second-hand smoke.However, the team of scientists at Washington University believe those figures could be considerably higher, when taking into account deaths from the five additional health problems, they now believe are closely linked to smoking.
Dr Eric Jacobs, co-author of the study, estimates smoking could be killing around 60,000 extra Americans each year - around 13 per cent of the 480,000 deaths currently attributed to the habit each year.If applied to the world wide figure, their theory suggests an extra 780,000 across the world could be dying from the affects of smoking each year.
Dr Jacobs, said: 'The number of additional deaths potentially linked to cigarette smoking is substantial.'In our study, many excess deaths among smokers were from disease categories that are not currently established as caused by smoking, and we believe there is strong evidence that many of these deaths may have been caused by smoking.'If the same is true nationwide, then cigarette smoking may be killing about 60,000 more Americans each year than previously estimated, a number greater than the total number who die each year of influenza or liver disease.'Those taking part in the study were men and women, all aged 55 or older .Over the course of the decade-long study, more than 180,000 of the participants died.Researchers found current smokers, as predicted, had death rates almost three times higher than those who had never smoked.Their findings show the majority of excess deaths in smokers were due to diseases that are established as being caused by smoking, including 12 types of cancer, coronary heart disease, stroke, diabetes and chronic obstructive pulmonary disease (COPD).But they also found around 17 per cent of the excess deaths in smokers were due to diseases that have not yet officially been linked to smoking, by the US surgeon general.It means these deaths would not be counted in estimates of the death toll from smoking.
The scientists noted, in particular, that smoking was found to at least double a person's risk of death from several causes, including renal failure, intestinal ischemia, hypertensive heart disease, infections and various respiratory diseases, other than COPD.Smokers were also six times more likely to die from a rare illness caused by insufficient blood flow to the intestines.The risk of death from each of these diseases was found to decline after a person quit the habit.The study authors note there is strong evidence that smoking is a cause of death from these five diseases, even though they are not currently included in estimates of deaths caused by smoking.Smoking was also linked with smaller increases in risk of death from other causes not formally established as caused by smoking, including breast cancer, prostate cancer, and cancers of unknown site.The authors conclude that a substantial portion of excess mortality among smokers may be due to diseases not formally established as caused by smoking.They add, that if supported by future research, some of the diseases should be included in future estimates of the death toll from smoking.Dr Brian Carter, an epidemiologist at the American Cancer Society, which funded the research, told the New York Times: 'The smoking epidemic is still ongoing, and there is a need to evaluate how smoking is hurting us as a society, to support clinicians and policy making in public health.'The study was an observational one, assessing people's habits and noted statistical correlations between their behaviour and their health.Correlation does not prove a cause-and-effect relationship.As a result these studies are not deemed as strong as experiments where volunteers are given random treatments, with placebo groups included for comparison.People cannot ethically be instructed to smoke for a study, so much of the data relating to cigarette's effects on people has to come from observational studies, such as this.
The study was published in the New England Journal of Medicine.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Avaliação de motivos para uso de álcool: uma revisão de literatura


Resenhado por Mariana Menezes

Filho, N. H., Teixeira, M. A. P. (2011). Avaliação de motivos para uso de álcool: uma revisão de literatura. Psico, 42 (1), 7-15.

O uso do álcool é frequente em diversos contextos culturais. Para identificar fatores que ajudem a compreender e predizer esse comportamento complexo, construtos psicológicos disposicionais, como expectativas sobre e motivos para uso de álcool são importantes. O estudo da motivação para o uso de álcool envolve a premissa de que um indivíduo que usa álcool considera que os benefícios do uso superam aqueles do não uso da substância. Desse modo, apesar da influência de vários fatores, a motivação é decisiva no comportamento de usar álcool, por isso entender o conceito de motivos envolve distingui-lo de expectativas e esclarecer as diferentes relações de ambos os conceitos com o uso de álcool.
Expectativas sobre o uso de álcool são crenças individuais sobre os efeitos ou consequências do uso da substância. Elas podem ser positivas ou negativas, dependendo se a pessoa considera que o consumo de álcool trará consequências desejáveis ou não. Uma característica importante das expectativas é que elas parecem ser desenvolvidas principalmente a partir de experiências e aprendizagem social. Assim, um indivíduo pode possuir expectativas sobre o uso de álcool mesmo antes de ter tido contato com a substância. A formação de expectativas em um indivíduo pode, por exemplo, se dar a partir da exposição ao comportamento de pessoas de sua família fazendo uso de álcool ou de relatos de outros próximos que já usaram a substância. Motivos para o uso de álcool, por sua vez, indicam em que medida um indivíduo usa álcool para atingir determinadas metas desejadas, sejam elas internas ou externas. Também podem ser definidos em termos de necessidades ou funções preenchidas pelo uso da substância.
Existem diversos instrumentos psicométricos para avaliar motivos para usar álcool. O mais utilizado é o DMQ-R que possui 20 itens e foi desenvolvido para avaliar quatro motivos para usar álcool: social, realce, coping e conformidade. Os motivos de tipo social caracterizam um padrão de uso do álcool para confraternizar, celebrar ou para potencializar interações com outras pessoas, sendo que um exemplo de item dessa dimensão é “Porque ajuda você a curtir uma festa”. Motivos de tipo realce indicam uso com o intuito de aumentar ou induzir um afeto positivo, de modo que um item dessa dimensão é “Porque é divertido”. A dimensão coping remete ao uso de álcool como estratégia de fuga ou esquiva de problemas. Um item característico é “Para esquecer as suas preocupações”. Já a dimensão conformidade indica o uso de álcool como forma de se integrar a um grupo de pessoas que usam álcool, evitando a rejeição. Um exemplo de item é “Para se adaptar a um grupo de que você gosta”. Na prática, um indivíduo pode usar álcool em função de mais de um motivo ao mesmo tempo, pois os motivos são dimensões interrelacionadas.
Portanto, motivos para uso de álcool dizem respeito a um construto psicológico importante e necessário para se entender o complexo comportamento de usar álcool.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O Tabagismo e sua influência nas relações sociais.

Postado por Catiele Reis


Fatores sociais como a pressão e influência de pares, eventos sociais e etc. podem influir no processo de iniciação e manutenção do comportamento tabágico, assim como, afastar outras pessoas do círculo de amizades, comprometendo as relações interpessoais do indivíduo. No entanto, o suporte social é fundamental na hora que uma pessoa decide parar de fumar, pois trata-se de uma condição que pode melhorar ou alterar a resposta adaptativa do indivíduo frente a dificuldade de cessação do tabagismo. O vídeo abaixo apresenta exemplos de como o uso cigarro pode influenciar as relações sociais.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Fissura por crack: Comportamentos e estratégias de controle de usuários e ex-usuários.

Resenhado por Geovanna Souza

Chaves, T. V., Sanchez, Z. M., Ribeiro, L. A., & Nappo, S. A. (2011). Fissura por crack: Comportamentos e estratégias de controle de usuários e ex-usuários. Revista de Saúde Pública, 45, 1168-1175. doi: 10.1590/S0034-89102011005000066


A fissura é definida como um forte impulso para utilizar uma substância e é considerada um fator crítico para uso compulsivo, dependência e recaídas após abstinência. O consumo intenso e contínuo de drogas é provocado pela fissura, podendo durar dias, até atingir a exaustão do usuário. Dado o crescimento e atualidade do tema, os autores deste trabalho buscaram compreender a fissura pelo usuário de crack, descrevendo os comportamentos desenvolvidos sob fissura e as estratégias utilizadas para seu controle.
O uso abusivo de crack vem crescendo a cada ano. Segundo os autores, no último levantamento domiciliar sobre uso de drogas psicotrópicas no Brasil, 22,8% da população havia feito uso de alguma droga psicotrópica na vida, sendo a maconha mais citada (8,8%), seguida pelos solventes (6,1%). A cocaína apareceu na sexta posição e o crack ficou na 11ª posição. Embora o crack não apareça entre as drogas mais consumidas no Brasil, ele já aparece como problema de saúde pública e foco de discussão através do “Plano integrado de enfrentamento ao crack e outras drogas” (Decreto 7.179, de 20/05/10).
O presente estudo foi realizado com 31 usuários e 9 ex-usuários de crack de ambos os sexos, entre 18 e 50 anos, residentes de São Paulo. O método utilizado foi qualitativo, permitindo o estudo detalhado da fissura em (ex) usuários de crack. Durante a coleta foram realizadas entrevistas semi-estruturadas que abordavam tópicos como histórico do uso de crack, seus efeitos, fissura e suas conseqüências, padrão compulsivo de consumo de crack (binge), entre outras coisas. Segundo os autores, as entrevistas foram realizadas até se atingir o ponto de saturação teórica, ou seja, até o ponto em que houve redundância nas categorias temáticas. Os entrevistados foram identificados com um código alfanumérico e as entrevistas gravadas foram literalmente transcritas e passaram pelas etapas de pré-análise e de codificação propostas por Bardin (2004).
Na descrição dos resultados os autores informaram que todos os entrevistados afirmaram ter sentido fissura por crack em algum momento de suas vidas, a atribuindo como principal causa de dependência. No que se refere a fissura os entrevistados afirmaram que ela se dá em três situações: a primeira quando se depara com algum sentimento ou com algo que o faça se lembrar do crack; a segunda após a retirada do crack, quando o indivíduo quer obter o prazer mais uma vez e a terceira classificando a fissura como efeito do uso do crack. Os participantes relataram que a impossibilidade de saciar a fissura pode causar forte sofrimento, modificando seu discernimento e personalidade.
Dentre as estratégias mais citadas para desviar o pensamento da fissura estão o desvio do pensamento, ocupações prazerosas ou corriqueiras, como trabalhar, estudar, comer e ter relações sexuais. Segundo Ribeiro et al (2010) essas atividades foram desenvolvidas pelos usuários na tentativa de aliviar os sintomas desagradáveis causados pela droga. Os entrevistados relataram ainda que quando sentiam a necessidade de parar de usar crack, aplicavam estratégias aprendidas nos centros de tratamento, focadas na mudança de comportamento. Como estratégia usada em último caso foi citada a internação, uma vez que restringir a própria liberdade impossibilitaria o contato com a droga e impediria a fissura.
Enfim, vale ressaltar que todas as estratégias citadas são particulares a cada sujeito, podendo funcionar em um e fracassar em outro. O uso de drogas e a fissura em conseguí-la podem colocar em risco os próprios usuários e às outras pessoas. Por isso, compreender como os indivíduos se veem diante do uso de drogas e da fissura se faz importante na tentativa de promover políticas públicas voltadas para a especificidade de caso caso, auxiliando assim os profissionais que trabalham e pesquisam essa área.