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quarta-feira, 30 de março de 2016

Estratégia de enfrentamento (coping) do adolescente com câncer.

Resenhado por Juliane Ishimaru

Iamin, S. R. S., & Zagonel, I. P. S. (2011). Estratégias de enfrentamento (coping) do adolescente com câncer. Psicologia Argumento, 29, 427-435.

A fase da adolescência é uma fase de transição. Nela, as mudanças físicas acontecem paralelamente às mudanças mentais trazendo à tona nuances anteriormente nunca questionadas. Nesse momento, o surgimento de uma doença que trás uma carga de morte rápida torna-se um evento estressor de grande relevância. O câncer é uma dessas doenças e a forma como é enfrentada (coping) na adolescência é um importante objeto de estudo da psicologia. Afinal, além de passar pelo processo característico de desenvolvimento da fase (desenvolvimentais), o adolescente também é submetido ao processo próprio do adoecimento (situacionais).
Na adolescência, existe uma correlação entre as alterações dos aspectos físicos, biológicos, sociais e psicológicos. As mudanças físicas são de grande relevância, pois “o corpo e os traços apresentam importante relação com a imagem que tem de si e com a ideia que faz de como é aos olhos dos outros” (Campos, 1977, p. 23). Esse “rápido crescimento físico e maturação sexual aceleram os movimentos que buscam solidificar uma identidade e estabelecer a autonomia em relação à família” (Carter & Macgoldrick, 2001, p. 225), sendo as relações entre os amigos e os relacionamentos amorosos relevantes nas opiniões e atitudes dos adolescentes. Os processos psicológicos de adaptação abrangem todas as alterações, principalmente os eventos estressores, que estão ocorrendo na vida do adolescente. Diante de tantas mudanças, uma doença como o câncer traz mais um aspecto de adaptação, sendo considerado um evento estressor de grande relevância. 
O diagnóstico de câncer na adolescência é visto como de difícil recuperação, implicando um conceito de morte antecipada, de sofrimento sem esperança e perda de projetos futuros. Além disso, já é exposto que por ser uma doença duradoura, o câncer leva o sujeito a reconstruir sua biografia e o conceito que tem de si, alterando assim o processo de autoconhecimento do adolescente, podendo trazer implicações na construção do eu, refletindo na fase adulta. No tratamento do câncer surgem estressores como a hospitalização, que está relacionada com a “dor, o ambiente hospitalar pouco familiar, a exposição a procedimentos médicos invasivos; a separação dos pais; o estresse dos acompanhantes; a ruptura da rotina de vida e adaptação a uma nova rotina imposta e desconhecida; a perda da autonomia, controle e competência pessoal; a incerteza sobre a conduta mais apropriada; e a morte” (Méndez, Ortigosa & Pedroche, 1996). O estudo do enfrentamento desses eventos estressores é um dos focos da psicologia.
A psicologia acredita que o conhecimento sobre coping relacionado aos eventos estressores desencadeados pela descoberta e tratamento do câncer em adolescentes, possibilitará uma melhor qualidade de vida e auxiliará na superação das dificuldades advindas dessa vivência. Portanto, “o coping funciona como um mediador entre o estressor e o resultado advindo desse estressor” (Antoniazzi, Dell’Aglio & Bandeira, 1998, p. 277). Ele é conceituado como “uma resposta com o objetivo de aumentar, criar ou manter a percepção de controle” (Savóia, 1999, p. 6), grau de dificuldade ou facilidade de se realizar uma ação, do indivíduo. Suas estratégias de enfrentamento podem ser focadas no problema (buscando uma forma de eliminar ou diminuir) e na emoção (com pensamentos positivos, aceitação ou negação)
As estratégias de enfrentamento variam a cada indivíduo. Para os adolescentes existem alguns fatores que apresentam um papel de protagonismo, como é o caso das redes sociais de apoio, caso contrário, poderão desenvolver respostas “desadaptativas” de enfrentamento. A pesquisa de Bárez, Blasco e Castro (2003) demonstra a existência de uma sensação de controle em adolescentes quando esses acreditam que os médicos, por meio de tratamento, poderão conseguir a cura. E o estudo de Till (2004), explica que não pensar a respeito do que estava acontecendo com eles, realizando diversas atividades como ferramentas de distração é uma estratégia muito comum e relevante para os adolescentes.

Com isso, constata-se que atividades de relaxamento, pensamentos positivos, estabelecimento de limites, conversas com a família e amigos sobre os problemas e o não enfrentamento do estresse de maneira prejudicial à saúde, são procedimento que trazem uma carga positiva ao enfrentamento do câncer em adolescentes. A necessidade de conhecer as formas de coping é de suma importância para o entendimento do enfrentamento e também para uma melhoria na qualidade de vida, possibilitando ao psicólogo uma intervenção, auxiliando os adolescentes a uma melhor resposta adaptativa da fase em que vivem e ao câncer. Dessa forma, os adolescentes conseguirão formar uma base de sustentação consistente para desenvolver seu autoconhecimento. 

terça-feira, 29 de março de 2016

Morte de adolescentes com aids triplicou nos últimos 15 anos, diz Unicef.

Postado por Geovanna Souza

Por ser um período de desenvolvimento cercado por mudanças que podem interferir, mesmo que minimamente na vida adulta, a adolescência tem exigido um esforço especial de pais e profissionais de saúde. As descobertas de seu próprio corpo e o início da vida sexual associada com pouca escolaridade acabam por acarretar algumas consequências negativas, como a contaminação por DST’s e do vírus HIV. Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) relatam que mais da metade das novas infecções por HIV que ocorrem na atualidade afetam jovens de 15 a 24 anos de idade, estimando-se cerca de 11 milhões de adolescentes/jovens contaminados. Esse vírus continua desafiando a sociedade, o sistema de saúde e seus profissionais, tanto no âmbito da prevenção como na assistência, mostrando a necessidade de traçar estratégias específicas para essa fase do desenvolvimento, considerando aspectos específicos da faixa etária.



O número de mortes de adolescentes devido a aids triplicou nos últimos 15 anos, segundo um relatório do Fundo da ONU para a Infância (Unicef), divulgado nesta sexta-feira (27) na África do Sul.O documento, intitulado Atualização das Estatísticas sobre Crianças Adolescentes e Aids, diz que a doença é a “principal causa de morte de adolescentes na África e a segunda no mundo”.
“Entre as populações afetadas pelo HIV, a faixa formada por adolescentes e a única na qual os números da mortalidade não estão diminuindo”.
O relatório mostra também que a África Subsaariana é a “região com maior prevalência” e que as “jovens são de longe as mais afetadas, representando sete em cada dez novas infeções na faixa que têm entre 15 e 19 anos”.
“É crucial que os jovens seropositivos tenham acesso a tratamento, cuidados e apoio”, afirmou Craig McClure, responsável pelos programas globais da Unicef para HIV/Aids.
O levantamento indica que dos “2,6 milhões de crianças menores de 15 anos que vivem com HIV, apenas uma em cada três está a receber tratamento”.
As novas estatísticas demonstram que a maior parte dos adolescentes que morrem de doenças relacionadas com a aids foram infetados há 10 ou 15 anos.
“Essas crianças sobreviveram até a adolescência, por vezes sem conhecer o seu estado em termos de HIV”, diz o documento.

domingo, 27 de março de 2016

O consumo de álcool na adolescência.

Postado por Beatriz Reis


Embora seja socialmente aceitável e estimulado, o consumo de álcool é considerado como um comportamento de risco quando iniciando já na adolescência. Pesquisas indicam que a aquisição deste hábito de maneira precoce pode aumentar o risco de o indivíduo se tornar um consumidor em excesso, podendo ocasionar consequências mais perigosas, tais como o desencadeamento de doenças cardiovasculares e ocorrência de acidentes de trânsito e homicídios, os quais representam a maior causa de morte entre jovens. Também são associados a este hábito a manifestação de desordens depressivas, ansiedade, brigas na escola, danos à propriedade e problemas com a polícia. Dentre as estratégias para evitar tais problemas encontram-se o posicionamento da sociedade de maneira menos passiva e estimulante, como exemplo a proibição de propaganda de álcool e ações familiares e escolares de aproximação à vida e ao comportamento do adolescente. Deste modo, consideram-se assim estas duas estratégias como importantes fatores protetivos para o enfrentamento e a prevenção do uso dessa substância, além de atuarem como promotora da saúde em níveis gerais. 


sábado, 26 de março de 2016

Abuso de álcool na adolescência prejudica aprendizado e socialização

                                                                                                         Postado por Maisa Silva
“O álcool é, sem dúvida, a droga mais usada por adolescentes. Pesquisa realizada em 2012 pelo IBGE demonstrou que 50,3% dos alunos do 9º ano das escolas brasileiras, privadas e públicas, já consumiram álcool pelo menos uma vez na vida [...]O álcool, assim como o tabaco, é considerado porta de entrada para o mundo das drogas, com um risco de progressão ao longo da vida, o que significa que a partir deste primeiro contato pode-se partir para o uso de drogas cada vez mais pesadas.”
Sabe-se que o alcoolismo é uma das doenças mais preocupantes e mais matam em todo o mundo, com cerca de 3,3 milhões de mortes todos os anos. Em seu último relatório sobre Álcool e Saúde, a OMS (2014) estimou que indivíduos com idade de 15 anos ou mais consumiram por volta de 6,2 litros de álcool puro em 2010 (equivalente a cerca de 13,5g por dia). Os dados também mostram que o consumo de álcool no mundo prevalece em indivíduos com idades entre 15-19 anos (11,7%) e em homens adolescentes (16,8%). Tendo em vista que o consumo de álcool começa na adolescência, é um dado preocupante em relação à saúde dos jovens, pois o álcool depreda o sistema nervoso central e age diretamente em diversos órgãos, causando a degradação dos mesmos aos poucos e de estruturas cognitivas, além de afetar outros campos, como o social. Logo, é importante a fiscalização em ambientes que vendam álcool e o acompanhamento de jovens que abusam de bebidas alcóolicas, a fim de entender e tratar.
O abuso do álcool está associado a maiores índices de situações de violência, como acidentes de trânsito, roubos, abuso sexual, suicídios. A gravidez não planejada também é mais frequente quando se faz uso de bebida alcoólica. Em adolescentes o efeito das drogas é mais sério do que nos adultos, pois é necessária uma dose menor de álcool para efeito deletério e o desenvolvimento da dependência é mais frequente. Além disso, a substância atua em indivíduos que ainda não estão totalmente formados, podendo interferir diretamente na sua capacidade de comunicação, de memória e aprendizagem, de julgamento, no humor, no processamento de novas informações e nas relações interpessoais. Adultos que iniciaram o uso de drogas na adolescência têm dificuldades em manter relacionamentos afetivos sem o uso da substância e muitas vezes levam uma vida sem perspectivas.
O que faz com que o adolescente tenha um comportamento de risco no que se refere às drogas é uma somatória de diversos fatores, levando-se em conta o seu estágio de desenvolvimento físico e psíquico, suas características pessoais e da família à qual pertence.O comportamento curioso é típico do adolescente, mas quanto mais postergarmos o primeiro contato com o álcool, menor a chance do desenvolvimento da dependência, pois seu cérebro, ainda em formação, tem a área responsável pelo prazer e recompensa muito ativa, enquanto a área responsável pelo planejamento e prevenção de danos só amadurece totalmente em torno dos 24 anos. A estimulação repetida do Sistema de Recompensa pelo álcool leva ao consumo mais intenso e persistente, explicando porque os jovens adquirem o vício mais facilmente do que os adultos.Algumas características normais dos adolescentes fazem com que eles estejam mais expostos aos riscos do que nas outras faixas etárias, como o afastamento dos pais e a identificação com os amigos, cedendo facilmente à pressão do grupo. Experimentar novas situações com o objetivo da busca pela identidade adulta é esperado, mas o uso de drogas pode vir a fazer parte desta experimentação, de forma passageira ou não. Do ponto de vista individual, a insatisfação com suas atividades, a insegurança, a sensação de não fazer parte de um grupo e a autoestima baixa são características frequentemente encontradas em adolescentes usuários de drogas. Jovens tristes, angustiados ou ansiosos também apresentam mais chances de se apoiarem na bebida.O ambiente familiar influencia muito, tanto negativamente quanto positivamente. Existe um risco genético para o alcoolismo, filhos de pais alcoólatras têm 4 vezes mais chance de desenvolver a dependência do que os demais. O exemplo dos pais é fundamental, lares nos quais a bebida alcoólica faz parte do dia a dia ou onde os filhos presenciem com frequência seus parentes embriagados geram jovens mais susceptíveis a repetirem estes comportamentos. Por outro lado famílias com regras claras, que ensinam seus filhos a terem limites e lidarem com as frustrações estão fazendo prevenção ao uso de drogas, pois ao contrário, jovens que não se acostumaram a ouvir o não na infância tendem a repetir o padrão desafiador que tinham dentro de casa e sentem-se inseguros e frustrados diante das negativas que o mundo lhes dá, recorrendo às drogas como solução para seus sentimentos ruins.Portanto a prevenção do uso do álcool na adolescência deve começar dentro de casa, desde a primeira infância. O bom exemplo dos pais, em um ambiente com regras claras, diálogo aberto e acolhimento são os principais pilares para a formação de jovens saudáveis e livres do alcoolismo. Atitudes como o estímulo aos esportes e às atividades sociais são benéficas, assim como o reforço positivo, que gera autoestima elevada e a vontade de ser alguém na vida.  

sexta-feira, 25 de março de 2016

Da Teoria da Ação Racional à Teoria da Ação Planejada: Modelos para explicar e predizer o comportamento.

Resenhado por Juliane Ishimaru

Roazzi, A., Almeida, N. D., Nascimento, A. M., Souza, B. C., Souza, M. G. T. C., & Roazzi, M. M. (2014). Da Teoria da Ação Racional à Teoria da Ação Planejada: Modelos para explicar e predizer o comportamento. Revista Amazônica, 1, 175-208.

Após a evolução nos tornamos o que a ciência chama de Homo sapiens sapiens (àqueles que possuem o saber). A nossa racionalidade nos permite ter diversos comportamentos que a Psicologia, por acreditar ser fruto de um fundamento teórico, começou a estudar. O estudo do comportamento humano se tornou, aos poucos, um dos objetos mais importantes dessa ciência e para entendê-lo foram desenvolvidas algumas teorias, que são criticadas ou ratificadas, como a Teoria da Ação Racional e sua extensão, a Teoria do Comportamento Planejado.
A teoria da ação racional (TAR) tem como base o estudo das atitudes, intenções comportamentais, normas subjetivas e suas variáveis. Para entender melhor é necessário definir esses conceitos. Apoiada por Thomas e Znaniecki (1918), a atitude é considerada essencial para predizer o comportamento. Define-se, dentro outros conceitos, como a quantidade de afeto pró ou contra um objeto (Fishbein, 1975) e está vinculada às crenças, intenções (pessoais ou sociais) e ações .  As crenças normativas, também conhecidas como normas subjetivas, são as influências e opiniões das pessoas importantes sobre determinado comportamento.  A intenção, pode ser definida como o comportamento influenciado pelo controle volitivo que temos acerca das nossas ações. Por último, é essencial a definição de comportamento, classificando-o como uma transição de intenção para ação. Em suma, essa teoria defende que as pessoas agem de forma racional e voluntária, sendo influenciadas pelas pessoas, pelo meio em que vivem e por suas motivações.
A partir da divulgação dessa teoria houve diversas críticas surgindo teorias contrárias e também complementares como é o caso da teoria do comportamento planejado (TCP). O autor da TCP, Ajzen, utilizou como base a teoria da ação racional e complementou-a diante da necessidade de se conhecer também a percepção de controle sobre o comportamento. Com isso, além das atitudes, intenções, normas subjetivas e suas variáveis como o conhecimento necessário para predizer um comportamento, deve-se ainda mensurar o grau de dificuldade ou facilidade de um indivíduo ao realizar uma ação. Esse grau diz respeito a percepção de controle comportamental do sujeito. Fatores internos, como a força de vontade, e externos, como as oportunidades e a dependência de outros, além das expectativas de eficácia e resultado, influenciam de forma relevante na percepção de controle. Dessa forma, a percepção de controle mostra-se importante não somente na predição, mas também na execução do comportamento, uma vez que ela pode auxiliar diretamente na predição sobre o comportamento, ou indiretamente por meio da intenção comportamental.
Alguns críticos e estudiosos dessas teorias concluíram que quando as pessoas possuem controle completo sobre o comportamento, a TAR seria suficiente, mas quando não estiver sobre o controle do indivíduo, é necessário o entendimento da percepção do controle, apoiando a TCP. Ainda temos àqueles que acreditam que devem ser analisadas também outras variáveis como a estabilidade temporal da intenção, acessibilidade, certeza, intenções de implementação, orientação estado-ação e autoesquema.  Esse último defendido e estudado por Hazel Markus, self-schemata, como fator de influência composto por estruturas mentais derivadas das experiências passadas e ligadas a autocompreensão e autorregulação.

Dessa forma, percebe-se que existem diversas críticas acerca da teoria da ação racional e da teoria do comportamento planejado, pois estas colocam em prova a predição dos comportamentos do objeto de estudo da Psicologia: o homem, seus princípios mentais, comportamentais e emocionais. Além disso, com a racionalidade, que está se aprimorando durante milênios, os homens detêm o papel de caçadores constantes do saber, questionando e estudando formas de conhecimento importantes para a nossa evolução. 

segunda-feira, 21 de março de 2016

Gravidez na Adolescência: Análise contextual de risco e proteção.

Resenhado por Mariana Menezes

Cerqueira-santos, E., Paludo, S. S., dei Schirò, E. D. B., & Koller, S. H. (2010). Gravidez na Adolescência: Análise contextual de risco e proteção. Psicologia em Estudo, 15(1), 73-85.

Há evidências de que a taxa de gravidez na adolescência vêm aumentando, principalmente nos países mais pobres. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a adolescência compreende a fase do desenvolvimento dos 12 aos 18 anos de idade, já para a Organização Mundial da Saúde a adolescência tem duração dos 10 aos 19 anos. Para todos os fins, a adolescência é uma fase que envolve mudanças físicas e biopsicossociais relacionadas especialmente à maturação sexual, definição da identidade e autonomização.
A gravidez na adolescência pode representar um fator de risco e é considerada um problema de saúde pública, pois propicia riscos ao desenvolvimento da criança gerada e da própria adolescente gestante. No entanto, nem sempre a gravidez na adolescência pode ser considerada um fator de risco, pois algumas vezes a gravidez na adolescência não se relaciona com eventos de vida negativos que aumentam a ocorrência de complicações e problemas.
Estudos têm revelado que os adolescentes brasileiros iniciam a vida sexual mais cedo e mantêm um maior número de parceiros. Além disso, 25% das mulheres grávidas no país são adolescentes com idade entre 14 e 20 anos. Cabe ressaltar, que a maioria desses jovens vive em situação de pobreza, condição que os coloca em situação de alta vulnerabilidade e risco para sua saúde e desenvolvimento.
A pesquisa foi realizada em Porto Alegre e contou com a participação de 1015 adolescentes de ambos os sexos em situação de pobreza com idade de 14 a 24 anos. Os resultados da pesquisa mostraram que 42,6% dos jovens já haviam tido a primeira relação sexual. Destes, 63.9% tinham na época, entre 14 e 17 anos e 47,7% afirmaram ter uma vida sexual ativa.
Ao analisar a diferença por sexo, verificou-se que os meninos iniciam a vida sexual um ano mais cedo (aos 13 anos) do que as meninas (aos 14 anos). Constatou-se também que as meninas estão mais vulneráveis à contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, uma vez que se preocupam mais em evitar gravidez do que em se proteger de doenças, fazendo uso de diversos métodos contraceptivos que não a camisinha, como anticoncepcionais, por exemplo. Em contraposição, os meninos estão mais protegidos porque fazem mais uso da camisinha como contraceptivo.
Mais de 11% dos participantes já estiveram grávidas ou já engravidaram a parceira, no entanto 31,7% não tinham filhos. Dos abortos registrados, 21,8% disseram ter sofrido aborto natural e 10,9% provocado.
Com relação às consequências da gravidez, sentimentos positivos foram expressos pela maior parte dos jovens que descreveram esse momento como importante (74,5%) e produtor de orgulho (56%). Mas ao mesmo tempo designaram a gravidez como algo que gera preocupação, vergonha, desemprego, necessidade de trabalho, interrupção nos estudos e casamento forçado.
Á vista de tais resultados é cabível considerar a gravidez na adolescência como um fenômeno que envolve diferentes fatores de risco, e nesse sentido, o contexto no qual o desenvolvimento do adolescente acontece é muito importante para determinar o modo como ele interage com as pessoas a sua volta e com o meio. Assim, o adolescente que pertence a um nível socioeconômico baixo está em situação de maior risco, pois pode carecer de informações sobre sexualidade, cuidados de saúde, importância de contracepção, além de ter dificuldade no acesso aos serviços de saúde.
Populações que vivem em situações econômicas desfavoráveis estão mais vulneráveis a um início precoce da vida sexual, comportamentos sexuais de risco e gravidez precoce. Além da situação econômica, fatores culturais podem estar envolvidos na manifestação da sexualidade dos adolescentes. As experiências sexuais geralmente são reforçadas pelo grupo ou família que influenciam suas atitudes pessoais. Desta maneira, a forma como os adolescentes interpretam suas interações sexuais interfere nas relações que estabelecem com seus parceiros.
A gravidez na adolescência pode se manifestar como um fator protetivo quando surge como facilitador para a construção de um novo lar e saída de um ambiente familiar fragilizado e carente. Mas para que isso se constitua de fato como um fator de proteção, os adolescentes devem receber apoio de sua família e comunidade (incluindo a escola, principalmente colegas e professores).

Portanto, é preciso considerar o adolescente dentro dos contextos que formam o seu ambiente e identificar fatores de risco para que a rede protetiva seja fortalecida e as ações tenham repercussão no desenvolvimento desses. Além disso, o conhecimento acerca dos aspectos da vida sexual do adolescente permite organizar ações educativas voltadas para uma vida sexual saudável.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Comportamento sexual em adolescentes brasileiros, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2012)


Postado por Iracema R. O. Freitas

Campos, M. O., Nunes, M. L.,  Madeira, F. C., Santos, M.G., Bregmann, S.R.,  Malta, D. C., Giatti, L., & Barreto, S. M. (2014).  Comportamento sexual em adolescentes brasileiros, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2012), Revista  Brasileira de Epidemiologia, 17, S116-S130. doi: 10.1590/1809-4503201400050010 

            Estudos realizados no mundo tem relacionado à precocidade da vida sexual ao sexo desprotegido.  O inicio da atividade sexual tem ocorrido entre os 15 e 19 anos, o que implica em algumas variáveis que precisam ser discutidas a fim de promover a iniciação sexual segura, afastando os adolescentes do sexo desprotegido que se configura como comportamento de risco por expor essa população a problemas como, gravidez de risco, DST-HIV e outros.
            A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) coletou dados em uma amostra nacional com 107.468 alunos sendo 52,5% do sexo feminino. O questionário sobre comportamento sexual que continha questões sobre a idade da primeira relação sexual, número de parceiros, uso de preservativos. Além disso, um questionário sócio-demografico e o trabalho da escola sobre orientação a respeito do HIV, DST, preservativos e temas afins, também foi aplicado. Além de questões relacionadas a fatores comportamentais de risco, tais como uso de álcool, tabagismo e experimentação de outras drogas.
O objetivo da pesquisa foi de conhecer o perfil da saúde sexual e reprodutiva dos estudantes. Para análise de dados foram utilizados o teste χ2 de Pearson[PC1] , a regressão logística multinomial e  o software Stata (versão 11).
Os resultados mostraram que 28,7% dos estudantes já tiveram relação sexual alguma vez na vida, sendo esse percentual de 40,1% nos meninos e 18,3% nas meninas, com maior prevalência de sexo sem uso de preservativo na última relação sendo 7,9% entre os meninos e 4,8% entre as meninas, 30,9% dos estudantes de escolas públicas e 18% de escolas privadas declararam que tiveram relação sexual. A região Norte apresentou o maior percentual de estudantes que relataram relação sexual (38,2% ) e o Nordeste teve 24,7%, ou seja, a menor taxa.
Ao considerar as estatísticas que apontam que cerca de um em cada três estudantes já tiveram relação sexual , as variáveis levantadas na pesquisa constataram a necessidade de iniciar a educação sexual e reprodutiva antes da 9ª série, para que haja uma preparação para essa iniciação.  Isso porque o não uso de preservativos e métodos contraceptivos, expõe os adolescentes a riscos como a gravidez indesejada, que  compromete o desenvolvimento sexual e emocional, além de estar associada ao abandono da escola  e piores oportunidades de emprego. 
Outros problemas foram discutidos na pesquisa, dentre eles estão o papel da escola como protetora frente a comportamentos sexuais de risco, a família como formadora de uma postura saudável na iniciação sexual e as desigualdades sociais como marcadores de comportamento sexual. Profissionais da saúde, da escola e familiares são corresponsáveis pela promoção do bem estar e saúde sexual dos adolescentes. O trabalho consiste em informar e apoiar essa população respeitando as suas peculiaridades.


 [PC1]Existe?

segunda-feira, 14 de março de 2016

Comportamentos de risco na adolescência


Postado por Laís Santos

Sabe-se que a adolescência é uma fase de intensas mudanças físicas e psicológicas. É comum observar a presença de vários comportamentos de risco associados à adolescência, como é o caso do uso de drogas lícitas e ilícitas e, por exemplo, o início precoce das atividades sexuais, na maioria das vezes sem proteção, gerando o contágio com doenças sexualmente transmissíveis e até mesmo uma gravidez precoce. Em linhas gerais, a adolescência é uma fase na qual experiências, atitudes e comportamentos exibem importante impacto na formação de opiniões na próxima fase de desenvolvimento: a idade adulta. Com isso, são necessárias ações específicas que consigam dar conta das especificidades dessa etapa do desenvolvimento, proporcionando assim, informações seguras e precisas, e, consequentemente, reduzindo os riscos aos quais esse público está suscetível.


sábado, 12 de março de 2016

Insatisfação com a aparência durante a infância pode causar distúrbios alimentares na adolescência



Postado por Brenda Fernanda

Os comportamentos alimentares constituem um importante aspecto dos hábitos e estilo de vida importantes de se abordar do ponto de vista da Psicologia. Segundo estudo realizado por pesquisadores de universidades de Londres e dos Estados Unidos, 5% das meninas e 3% dos meninos estavam insatisfeitos com a aparência de seu corpo aos 8 anos de idade. Já aos 14 anos, esse número subiu para 32% nas meninas e 16% nos meninos. Nessa mesma idade, 38,8% das meninas e 12,2% dos meninos tinham comportamentos relacionados a distúrbios alimentares, como fazer dietas exageradas, tomar laxantes ou comer compulsivamente. Esses dados se mostram alarmantes e apontam a necessidade de pais e educadores abordarem questões como peso e autoestima ainda na infância, sempre adequando a mensagem à idade das crianças, de modo a criar comportamentos alimentares positivos, visando o bem-estar da criança e uma melhor adaptação para o futuro. É importante avaliar precocemente o risco de ocorrência de perturbações do comportamento alimentar nos jovens, com o objetivo de encaminhar para profissionais especializados os casos que necessitem de intervenção, além de rastrear possível psicopatologia associada.


Aos 8 anos de idade, as crianças já começam a demonstrar insatisfação com o formato do próprio corpo. Esse descontentamento pode levar ao desenvolvimento de distúrbios alimentares na adolescência. É o que o mostra um grande estudo publicado recentemente no periódico científico British Journal of Psychiatry.O trabalho, realizado por pesquisadores da Universidade College London, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, é o primeiro a revelar como a preocupação excessiva com o corpo pode se ter consequências futuras.Os pesquisadores acompanharam 6.000 crianças até os 14 anos de idade. Os resultados mostraram que, aos 8 anos, 5% das meninas e 3% dos meninos estavam insatisfeitos com a aparência de seu corpo. Já aos 14 anos, esse número subiu para 32% nas meninas e 16% nos meninos. Nessa mesma idade, 38,8% das meninas e 12,2% dos meninos tinham comportamentos relacionados a distúrbios alimentares, como fazer dietas exageradas, tomar laxantes ou comer compulsivamente.Foram também identificadas outras diferenças significativas entre meninos e meninas: as meninas que tinham baixa autoestima aos 8 anos corriam risco de desenvolver algum distúrbio alimentar na adolescência, mesmo se não estivessem acima do peso. No caso masculino, apenas os meninos com sobrepeso ou obesos faziam dieta ou comiam compulsivamente na mesma fase."Quando comecei o estudo, eu não pensava que tantos meninos e meninas estariam infelizes em relação a seus corpos tão cedo. Minha impressão é que eles estão crescendo cada vez mais rápido. Eles são mais maduros e enfrentam problemas com os quais não deveriam ter que se preocupar tão cedo", disse Nadia Micali, pesquisadora da Universidade College London e principal autora do estudo.Os pesquisadores alertam para a importância de pais e educadores abordarem questões como peso e autoestima ainda na infância, sempre adequando a mensagem à idade das crianças. Pois, se a mensagem for passada de forma errada, o efeito pode ser contrário e algumas crianças podem se tornar excessivamente magras.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Cutting


Postado por Iracema Freitas

Em inglês, significa o ato de cortar. Trata-se de um comportamento intencional que consiste em lesionar o próprio corpo. A frequência e intensidade dos cortes podem variar e a pessoa que se corta ou se automutila tende a associar o ato a uma forma de reduzir ou aliviar uma sensação ruim, angústia ou sensação de vazio. Também pode haver relação entre cortar-se por sentir raiva dos outros ou de si, sendo os braços o local mais comum. O transtorno que começa na adolescência pode se estender à vida adulta se não for tratado.
Segundo a Dra. Jackeline Siuzi Giusti, o primeiro estudo sobre o tema feito por  Menninger em 1938, abordava a automutilação como uma tentativa de alívio do sofrimento sem cometer o suicído. Nos anos 60 a psiquiatria voltou-se para o corte nos punhos e em 1972, Rosenthal e colaboradores descreveram a Síndrome do cortador de punhos. Em 1983 Pattinson e Kahan trabalharam como o modelo da Síndrome da autolesão deliberada. Até os dias atuais não há estudos homogêneos, mas o transtorno é reconhecido e estudado como tal.


quarta-feira, 9 de março de 2016

Consequências Biopsicossociais da Aids na Qualidade de Vida de Pessoas Soropositivas para o HIV


Resenhado por Mariana Menezes

Castanha, A. R., Coutinho, M. P. L, Saldanha, A. A. W., Oliveira, J. S. C. (2006). Consequências Biopsicossociais da Aids na Qualidade de Vida de Pessoas Soropositivas para o HIV. DST – J bras Doenças Sex Transm 18(2), 100-107.

A AIDS se configura como um grave problema de saúde pública devido às suas repercussões, ao aumento considerável do número de casos e às elevadas taxas de mortalidade. No Brasil, o quadro é ainda mais grave por causa da decadência econômica e social e da dificuldade em evitar a propagação da doença.
São várias as implicações do HIV/AIDS na vida do portador, pois se trata de uma doença com graves consequências físicas, psicológicas e sociais que acompanha processos de segregação que sofrem influências de estigmas socialmente construídos e que estão ligados às representações sociais da doença. Dentre os portadores do HIV, os mais afetados são os soropositivos que precisam conviver com os sintomas da doença, internações recorrentes e com problemas psicossociais decorrentes da evolução da doença, tais como a estigmatização, a perda do emprego e consequentes dificuldades econômicas, além do abandono pela família e amigos.
Diante disso, o artigo em questão, teve como objetivo avaliar as consequências biopsicossociais da AIDS na qualidade de vida de soropositivos para o HIV.
Os resultados do estudo foram classificados de modo a formar duas classes temáticas. A primeira é a AIDS que possui uma categoria (representações da AIDS) e quatro subcategorias (doença, morte, sofrimento e naturalização). A segunda classe temática diz respeito às consequências biopsicossociais da AIDS na QV e ficou dividida em três categorias: físico-orgânica, com três subcategorias (perturbações fisiológicas, capacidade física e efeitos colaterais do medicamento); a segunda foi psicoafetivas, com quatro subcategorias (preconceito, depressão, auto-estima e autopercepção) e a terceira e última categoria foi a comportamental, com duas subcategorias (isolamento e sexualidade).
Com relação à representação da doença apreendidas pelos soropositivos, a definição dada à AIDS enquanto doença é banalizada, naturalizada ou negada entre os soropositivos com maior tempo de conhecimento do diagnóstico. Da mesma forma, apesar da evolução terapêutica da doença, observou-se associação da AIDS com a morte e com grande sofrimento. Pôde-se verificar também que, no geral, as representações sociais da AIDS estão ligadas ao preconceito, segregação, estigma e inserção social e influenciam e orientam as condutas dessas pessoas em relação à adesão, ao isolamento, à manutenção das relações interpessoais, ao funcionamento sexual e até mesmo ao suicídio.
No que tange às consequências biopsicossociais da AIDS na qualidade de vida, quanto as consequências biopsicossociais físico-orgânicas, observou-se algumas perturbações fisiológicas como insônia, gripe, diarreia e alergia. Os entrevistados também relataram perda da capacidade física e efeitos colaterais do medicamento tais como magreza ou deficiência física.
Referente às consequências biopsicossociais psicoafetivas negativas da AIDS, apesar do amplo conhecimento que se tem atualmente acerca das formas de transmissão da doença, as pessoas com HIV/AIDS são, muitas vezes, discriminadas e isoladas do convívio com outras pessoas. O preconceito relacionado à AIDS é frequentemente associado à transtornos psiquiátricos, é comum que indivíduos soropositivos apresentem ansiedade e principalmente depressão, que é o transtorno mais comum entre eles, com uma prevalência em torno de 11% a 30%. O diagnóstico e o tratamento desses transtornos são fundamentais para melhorar a qualidade de vida desses pacientes, no entanto, apesar do alto índice de prevalência da depressão, o número de casos diagnosticados é baixo.
Considerando as consequências psicoafetivas positivas da AIDS, verificou-se que embora soropositivos possam apresentar baixa autoestima devido às mudanças físicas no corpo, podem também ter um aumento na autoestima. Alguns relataram que, após a condição da soropositividade, passaram a dar mais valor à vida, cuidando-se e respeitando-se, alcançando assim o crescimento pessoal.
Frente às consequências biopsicossociais comportamentais da AIDS (sexualidade e isolamento), observam-se três tipos de comportamentos ligados à sexualidade: alguns mantiveram uma vida sexual ativa, outros se consideraram promíscuos e uns optaram por abster-se sexualmente. A revelação da soropositividade tem consequências negativas na vida sexual, dado que representa, muitas vezes, a ruptura do casamento e a suspensão de investidas afetivas e sexuais. O isolamento, por sua vez, é muito comum na vida de soropositivos devido ao medo advindo do estigma social. O sujeito vive um autoisolamento que pode resultar na exclusão da vida social e de relacionamentos sexuais e, em circunstâncias extremas, em mortes prematuras devido ao suicídio.

Portanto, a AIDS foi representada enquanto uma doença que pode trazer diversas consequências psicossociais, profissionais, familiares e orgânicas. De fato, são diversas as consequências biopsicossociais da AIDS na qualidade de vida e torna-se evidente que essas consequências biopsicossociais influenciam na QV de soropositivos para o HIV.

terça-feira, 8 de março de 2016

Estudo mostra 25% de adolescentes com doenças cardíacas.

Postado por Geovanna Souza

As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) estão entre as doenças que mais demandam ações, procedimentos e serviços de saúde, refletindo em altos custos para os sistemas de saúde. Elas possuem origem multifatorial, com forte influência de fatores de risco comportamental. O grupo das DCNT é composto por doenças como diabetes, câncer, doenças cardiovasculares, entre outras. Qualquer pessoa pode desenvolver uma DCNT, independentemente da idade. Um estudo revelou que um em cada quatro adolescentes entre 12 e 17 anos que passaram pela primeira fase de testes do Estudo sobre Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), conduzidos pela Unesp, apresentaram alto risco para doenças do coração. Cerca de 90 jovens já foram avaliados, revelando que 25% apresentam quadros de obesidade, pressão alterada, índice de açúcar no sangue e/ou colesterol fora do normal. Esses dados revelam a exposição de adolescentes a comportamentos de risco, que podem ser evitados. É necessário elaborar estratégias que envolvam mudanças comportamentais, a fim de diminuir o índice de morbidades nesse público. 



Um em cada quatro jovens que passaram pela primeira fase de testes do Estudo sobre Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), conduzidos pela Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp), apresentaram alto risco para doenças do coração. Até agora, 200 jovens passaram pelos testes e entrevistas, dos quais 90 tiveram os resultados avaliados. Desses, 25% apresentam, de forma isolada ou em conjunto, quadros de obesidade, pressão alterada, índice de açúcar no sangue e colesterol fora do normal. Todos serão encaminhados para acompanhamento médico.Os adolescentes, com idade entre 12 e 17 anos, foram selecionados em Botucatu, a 235 km de São Paulo, uma das cinco cidades escolhidas pelo Ministério da Saúde para avaliar o risco de doenças cardiovasculares nessa faixa etária. Também fazem parte do estudo os municípios do Rio de Janeiro, Feira de Santana, Cuiabá e Campinas.No Estado de São Paulo, além da Medicina da Unesp, o estudo é conduzido pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os resultados das análises serão utilizados para a elaboração de políticas públicas para a prevenção de doenças cardiovasculares em adolescentes.As avaliações são realizadas nas escolas e incluem medidas de peso, altura, circunferência de cintura, pressão arterial e exame de sangue, além do preenchimento de um questionário sobre hábitos alimentares e outras rotinas. Os pais ou responsáveis assinaram um termo de consentimento para a participação dos menores na pesquisa. "Esse projeto vai envolver uma população desconhecida, ou seja, que não aparenta ter as alterações que oferecem riscos de doenças cardiovasculares. Os resultados obtidos com esse estudo podem incentivar mudanças no estilo de vida dos adolescentes e sensibilizar as esferas públicas responsáveis pelas ações de prevenção", disse Adriano Dias, professor de Saúde Pública e um dos coordenadores do programa.O Erica pretende avaliar as condições de saúde de 75 mil estudantes de 1.251 escolas públicas e particulares, distribuídas por 134 cidades brasileiras.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Simultaneidade dos fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis em adolescentes: Prevalência e fatores associados.


                                                                                 Resenhado por Maisa Silva

Silva, K. S. D., Lopes, A. D. S., Vasques, D. G., Costa, F. F. D., & Silva, R. C. R. D. (2012). Simultaneidade dos fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis em adolescentes: Prevalência e fatores associados. Revista Paulista de Pediatria [Internet], 30, 338-345.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) contribuem com cerca de 60% da mortalidade mundial, podendo chegar até 77% na próxima década. Alguns estudos buscam identificar os fatores de risco para as DCNT (como por exemplo, os fatores socioeconômicos) afim de tentar prevenir as complicações de saúde à curto e longo prazo. A investigação da simultaneidade dos fatores de risco para as DCNT e a sua associação com o nível socioeconômico pode gerar resultados que possam ser usados para fomentar estratégias de intervenção para que haja redução de danos na população jovem. Portanto, este estudo teve como objetivo investigar os fatores socioeconômicos associados a prevalência individual e simultânea dos fatores de risco comportamentais e biológicos para as DCNT.
O estudo foi realizado com 1.675 jovens estudantes do ensino fundamental e médio, com idades entre 11-17 anos e na cidade de Caxias do Sul. Foram aplicados questionários sobre o hábito de consumo de álcool e fumo, e recordatório sobre consumo alimentar habitual. Utilizou-se um instrumento adaptado de autorrecordação proposto por Bouchard et al para mensurar o nível de atividade física e o teste Progressive Aerobic Cardiovascular Endurance Run (PACER) para mensurar a aptidão cardiorrespiratória.
Nos resultados, em relação aos fatores de risco comportamentais, constatou-se que 49,7% dos estudantes possuíam nível socioeconômico intermediário. Menos de 6,2% dos adolescentes eram fumantes, 21% consumiam pelo menos uma dose de álcool no último mês, sendo que a combinação de consumo de ambos foi 4,1 vezes maior no sexo masculino, além disso 31% dos jovens apresentaram uma alta composição de gordura na sua dieta. A combinação de todos os comportamentos de risco foi 4,2 vezes maior que o esperado nas moças. Para os fatores de risco biológicos, 28% apresentaram CC e PA elevadas e 62% possuíam baixa aptidão cardiorrespiratória. A combinação de todos esses fatores foi maior do que o esperado em 85% em rapazes e 69% nas moças.
Os pesquisadores observaram que a simultaneidade dos fatores de risco comportamentais apresentaram razões elevadas entre os valores observados e esperados, comparados aos fatores de risco biológicos. Tal inferência indicou incidência de comportamentos de risco nesta população, com valores acima do esperado, além de que os comportamentos de risco para DCNT são propensos a se agregarem. Constatou-se que um em cada dez jovens não apresentou nenhum dos sete fatores de risco para as DCNT e 25% tinham pelo menos um, além de que a simultaneidade foi maior em adolescentes mais velhos.
Com base nos resultados, é importante ressaltar a necessidade de pesquisa de diversas combinações entre fatores de risco e outras doenças entre adolescentes, visto que é um grupo que necessita de atenção devido à grande prevalência de comportamentos de risco. A intervenção psicológica com base na educação comportamental pode ser bastante eficaz, dado que tal grupo sofre bastante influência social e cultural em relação a alguns hábitos. 

sexta-feira, 4 de março de 2016

Dermatite atópica em adolescentes do Distrito Federal. Comparação entre as Fases I e III do ISAAC, de acordo com a situação socioeconômica



Borges, W. G., Burns, D. A. R., Guimarães, F. A. T. M., Felizola, M. L. B. M., & Borges, V. M. (2008). Dermatite atópica em adolescentes do Distrito Federal. Comparação entre as Fases I e III do ISAAC, de acordo com a situação socioeconômica. Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia, 31(4), 146-150.

Resenhado por Brenda Fernanda

A dermatite atópica (DA), também chamada de eczema atópico, é uma doença cutânea inflamatória comum, crônica, recorrente e repetitiva e frequentemente associada à asma e rinite alérgica. Pode acarretar alta morbidade, gerando grande impacto psicossocial, que ocasiona custos diretos decorrentes do tratamento, e indiretos associados ao comprometimento da qualidade de vida dos indivíduos afetados e de seus familiares, o que leva à necessidade de acompanhamento de suas tendências. Sua prevalência varia de 1% a 20% na população mundial (Williams, Robertson, Stewart, Ait-Khaled, Anabwani, Anderson et al., 1999) e é extremamente variável entre os países e dentro de um mesmo país, como foi demonstrado em um estudo que comparou as regiões norte, sul e leste da Finlândia (Williams, 2000). Prevalências acima de 15% foram encontradas nos centros urbanos da África, da Austrália e no norte e oeste da Europa. Valores menores que 5% foram registrados na China, Leste Europeu e Ásia Central (Williams et al., 1999). Estudos recentes sugerem que a prevalência de DA tem aumentado nas últimas décadas (Annus, Riikjarv, Rahu, & Bjorksten, 2005; Maziak, 2003).
O projeto International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC) foi criado com o objetivo de avaliar a prevalência e evolução da asma e doenças alérgicas (rinoconjuntivite e dermatite atópica), através de um questionário escrito padronizado, traduzido e adaptado para diversos idiomas, inclusive o português (Solé, Vanna, Yamada, Rizzo, & Naspitz, 1998).
O presente estudo objetivou estudar a prevalência atual de DA em crianças de 13-14 anos de idade de diversas localidades de Brasília-DF; pesquisar suas tendências, comparando com os dados obtidos na Fase I e avaliar a relação entre prevalência da DA e a situação socioeconômica da população estudada. Nesse sentido, foi um estudo do tipo transversal, utilizando o questionário padronizado pelo ISAAC (Fase III). A prevalência de DA diagnosticada ou referida foi determinada através de respostas positivas à pergunta “já teve eczema?”. A pergunta “teve manchas na pele (eczema) com coceira nos últimos doze meses?” identificou adolescentes atualmente com eczema e a pergunta “essas manchas com coceira afetaram algumas dobras?” qualifica a dermatite atópica. A gravidade dos sintomas foi avaliada através das respostas à pergunta “Nos últimos doze meses, quantas vezes você ficou acordado à noite por causa dessa coceira na pele?”. Os dados foram coletados no período de abril a setembro de 1996 e de julho a outubro de 2002, respectivamente nas fases I e III.
Os questionários foram preenchidos por 3131 escolares de 13 e 14 anos de idade (53,5% do sexo feminino), em suas salas de aula, sob a supervisão de um pesquisador. A Fase I incluiu 3254 alunos, dos quais 51,8% do sexo feminino. Um total de 3009 questionários (96,1%) foi respondido adequadamente e 122 foram excluídos. Escolas públicas participaram com 80% dos questionários válidos. Este predomínio deveu-se ao fato de várias escolas particulares terem se recusado a participar do estudo.
A prevalência de sintomas cutâneos (“você teve manchas com coceira na pele (eczema) que apareciam e desapareciam?”) foi elevada nesta população (16,8%), sendo que 10,2% relataram presença de sintomas nos últimos doze meses, correspondendo aos indivíduos com eczema recente, entretanto, quando os sintomas foram limitados àqueles indivíduos com lesões localizadas em dobras, a prevalência caiu para 5,6%. A prevalência de DA diagnosticada foi significativamente maior que de eczema recente (13,6% X 10,2%, p=0,0001). Os sintomas cutâneos foram bastante intensos para interferir no sono de apenas 5,9% dos adolescentes, porém maior foi o número de crianças que não se sentiram incomodadas pelos sintomas cutâneos (17%). A prevalência de DA diagnosticada foi maior no sexo feminino (9,4% contra 4,2% do sexo masculino, p < 0,0001). Comparados aos dados da pesquisa de 1996 (Fase I), observa-se que houve aumento significativo das prevalências de DA diagnosticada (de 9,8% para 13,6%, p=0,0002), sem alteração significativa da prevalência de eczema recente (9,2% para 10,2%, p=0,203).
Através do protocolo ISAAC, observou-se que a prevalência de DA, em crianças de 13-14 anos do Distrito Federal, aumentou significativamente em um período de seis anos, diferente da asma, que permaneceu praticamente inalterada neste mesmo período (de 13,8% para 14,8%) (Borges, Burns, Felizola, Guimarães, Salazar, Guidacci et al., 2005). Também foi notado que as populações de melhores condições socioeconômicas foram as mais frequentemente afetadas por essa patologia somente na Fase I da pesquisa. Ainda, foi visto que os casos mais graves ocorreram no grupo de piores condições socioeconômicas, tanto em 1996 quanto em 2002, talvez em função de dificuldades de acesso a tratamento especializado.

Levando em consideração o aspecto psicossocial da doença, o acompanhamento psicológico desses pacientes é recomendado, visto que fatores emocionais parecem influenciar significativamente a maioria das doenças de pele, e a correlação entre eventos estressantes de vida e agravamento da doença é bem reconhecida na dermatologia.