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sexta-feira, 31 de março de 2017

Estresse e ansiedade em pacientes renais crônicos submetidos à hemodiálise

Resenha por Juliane Ishimaru

Valle, L. S., Souza, V. F., Ribeiro, A. M. (2013). Estresse e ansiedade em pacientes renais crônicos submetidos à hemodiálise. Estudos de Psicologia, 30(1), 131-138. doi: 10.1590/S0103-166X2013000100014


O estresse, ou síndrome geral da adaptação, caracteriza-se por um conjunto de reações fisiológicas motivadas por questões físicas, sociais e psicológicas, que alteram a homeostase do organismo e pode se diferenciar em três fases (alarme, resistência e exaustão). A primeira fase, a de alarme, ocorre quando o organismo é exposto a um agente estressor, sendo caracterizada como um comportamento de adaptação. Contudo, a continuidade ou intensidade do evento estressor faz o organismo iniciar a segunda fase, a de resistência, que é quando existem vários parâmetros homeostáticos alterados. Quando o organismo sente-se em níveis elevados de estresse prolongado a terceira fase se inicia, sendo chamada de exaustão. Nas duas primeiras fases há a manifestações de vários sintomas, já na terceira fase há o surgimento ou agravamento de doenças crônicas ou prolongadas, podendo ser físicas ou psicológicas.
Os sintomas de estresse, sejam eles físicos ou psicológicos, podem ser relacionados com a ansiedade. Atualmente, existem diversos estudos que relacionam o estresse e a ansiedade com doenças crônicas. Tendo como enfoque as doenças renais crônicas, uma das formas de tratar essas doenças é o procedimento conhecido como hemodiálise. Esse tipo de tratamento tem um papel fundamental na manutenção da vida, mas é doloroso e de longa duração - frequência média de três a quatro horas por semana - gerando perdas e transformações biopsicossociais.  Durante o tratamento, as emergências e os óbitos são constantes, e o paciente está sujeito a diversas complicações técnicas e clínicas.
Com o intuito de investigar o nível de estresse e a ansiedade de pacientes submetidos à hemodiálise, foi desenvolvido um estudo no Instituto do Rim de Natal, no estado do Rio Grande do Norte, Brasil. A amostra foi composta por 100 pacientes que estavam em tratamento de hemodiálise três vezes por semana.  Para a avaliação do estresse, foi utilizado o Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp (ISSL) (Lipp, 2000), a intensidade da ansiedade foi avaliada pelo Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) (Spielberger, Gorsuch & Lushene, 1970), e os instrumentos foram complementados pelo questionário sociodemográfico.
Os resultados mostraram alto percentual de estresse e ansiedade nos pacientes submetidos à hemodiálise. A amostra expôs homogeneidade em relação ao sexo, com ampla abrangência de faixa etária, mas com predominância de adultos entre 31 e 50 anos. A porcentagem de pacientes que apresentaram sintomas de estresse significativos foi de 71%, sendo distribuídos de diferentes maneiras em casa fase (4% na primeira fase de instalação do estresse - fase de alerta -; 47% apresentaram sintomas da fase de resistência; 13% na fase de quase exaustão e 7% já apresentavam sintomas de exaustão). Em relação à ansiedade, todos os pacientes apresentaram quadro ansioso, sendo 66% ansiedade moderada e 34% alta ansiedade. Por fim, a amostra constatou que em relação à natureza dos sintomas, há uma predominância de sintomas psicológicos (55%) em comparação aos sintomas físicos (16%) ou a ambos (29%).
Em suma, entende-se que pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise são mais vulneráveis ao estresse e a ansiedade. Devido a essa constatação, afirma-se a importância do trabalho dos psicólogos, que pode ser individual ou grupal. A atuação psicológica deve tratar pontos importantes de modelação da vida do paciente submetido a esse tipo de tratamento, assim como a relevância das redes de apoio. Ainda é necessário ampliar o número de estudos nacionais sobre o tema, bem como sobre a relação de ansiedade e estresse com doenças crônicas. Dessa forma, as possibilidades de promoção do controle, prevenção e tratamento dos impactos, poderão ser ampliadas de forma significativa contribuindo para melhor qualidade de vida.


segunda-feira, 27 de março de 2017

Esperança e espiritualidade de pacientes renais crônicos em hemodiálise: estudo correlacional

 Resenhado por Joelma Santos

Ottaviani, A. C., Souza, É. N., Drago, N. de C., Mendiondo, M. S. Z. de., Pavarini, S. C. I., & Orlandi, F. de S. (2014). Esperança e espiritualidade de pacientes renais crônicos em hemodiálise: Estudo correlacional. Revista Latino-Americana de Enfermagem22(2), 248-254. doi: 10.1590/0104-1169.3323.2409
A doença renal crônica (DRC) é caracterizada pela lesão do rim e disfunção irreversível da capacidade de filtração responsável por excretar metabólitos tóxicos. Essa síndrome ocorre de forma lenta e progressiva e provoca diversas consequências como restrições hídricas, mudanças de hábitos alimentares e modificações na aparência corporal por causa do uso do cateter para acesso vascular ou fístula arteriovenosa (Schor, 2002). O tratamento modifica muito o cotidiano do indivíduo, fazendo em alguns casos com que este perca a esperança de se recuperar. Sabe-se que a esperança é importante pois estimula tanto a família quanto o paciente a buscar novos caminhos ou a aceitação da nova condição imposta pela doença. Outros meios de apoio e fortalecimento no enfrentamento das dificuldades cotidianas são a espiritualidade e a religiosidade relacionadas as crenças individuais (De Paula, Nascimento & Rocha, 2009).
O indivíduo com esperança tem estratégias de enfrentamento adequadas, pois este estado se relaciona com uma perspectiva positiva quanto ao futuro. Dessa forma, esse construto multidimensional e universal impulsiona o paciente a depositar sua energia na expectativa de restituição da saúde e do bem-estar (Cavaco, José, Louro, Ludgero, Martins & Santos, 2010). Atrelado a isto, a espiritualidade é um meio promotor de esperança, pois contribui para dar significado a vida (Pinto & Pais-Ribeiro, 2007). Assim, o espiritual influencia a forma de lidar com a DRC e seu tratamento (Chaves, Carvalho, Dantas, Terra, Nogueira & Souza, 2007).
Este estudo correlacional, de corte transversal teve como objetivo analisar a relação entre a esperança e a espiritualidade de pacientes renais crônicos em tratamento hemodialítico. Foram entrevistados 127 sujeitos em tratamento em uma Unidade de Terapia Renal Substitutiva. Utilizando-se como instrumentos a caracterização dos sujeitos, Escala de Esperança de Herth e Escala de Espiritualidade de Pinto Pais-Ribeiro. Obteve-se os seguintes resultados - escore médio da Escala de Esperança de Herth 38,06 (±4,32) e da Escala de Espiritualidade de Pinto Pais-Ribeiro nas dimensões “crenças” de 3,67 (±0,62) e “esperança/otimismo”, 3,21 (±0,53). O coeficiente de Spearman indicou a existência de correlação positiva, de moderada magnitude entre a Escala de Esperança de Herth e as dimensões da Escala de Espiritualidade de Pinto Pais-Ribeiro- “crenças” (r=0,430; p<0,001) e “esperança/otimismo” (r=0,376; p<0,001). Dessa forma, confirmou-se a existência de relação entre o nível de esperança e de espiritualidade do paciente renal crônico. Portanto, tais construtos deverão ser considerados na assistência prestada pelos profissionais de saúde, inclusive o psicólogo que auxiliará no processo de enfrentamento da doença e tratamento.

sábado, 25 de março de 2017

Doença renal crônica leva mais de 120 mil brasileiros para hemodiálise

Postado por Mariana Menezes
Uma das doenças crônicas que tem recebido grande atenção dos profissionais da saúde nos últimos anos é a Doença Renal Crônica. Ela é responsável por altos índices de morbidade e mortalidade, além de exercer impacto negativo na qualidade de vida das pessoas. No Brasil, o número de pacientes que precisam se submeter ao tratamento hemodialítico cresce em torno de 10% a cada ano. Por essas e outras razões se torna fundamental a presença de psicólogos nas equipes de clínicas de hemodiálise, pois a intervenção psicológica é importante à medida que auxilia o paciente a aceitar a própria condição, lidar com as limitações que são impostas pela doença, melhorar a adesão ao tratamento, explorar suas capacidades individuais e desenvolver estratégias de enfrentamento eficazes.

Todas as noites até o fim do mês, a cúpula do Senado receberá uma iluminação vermelha para alertar a população sobre a necessidade de cuidar bem dos rins. As luzes foram instaladas na última quinta-feira, 9 de março, data em que todos os anos se celebra o Dia Mundial do Rim. Nesse mesmo dia, os senadores fizeram uma sessão especial no Plenário que tratou da relação entre a obesidade e a doença renal. Atualmente, mais de 120 mil brasileiros têm insuficiência renal e fazem hemodiálise. A cada ano, segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, 21 mil pessoas entram nesse grupo. Entre as causas do problema, estão a hipertensão, o diabetes e o uso excessivo de anti-inflamatórios, vendidos sem controle nas farmácias. Esse tipo de medicamento, se consumido rotineiramente ou em excesso, pode provocar lesão nos rins.
Política pública 
O senador Eduardo Amorim (PSDB-SE), que foi quem pediu a sessão especial realizada no Dia Mundial do Rim, afirma: “A prevenção é o melhor, o mais barato, o mais eficiente e o menos sofrido de todos os remédios, mas tem efeito lento e gradativo. Nós precisamos ter uma política preventiva mais eficiente e mais capilarizada pelo país. Muitas vezes o cidadão é hipertenso, mas não sabe disso, e alguns anos depois, por causa desse desconhecimento, acaba desenvolvendo uma doença renal crônica”. O rim é um órgão vital para o equilíbrio da saúde. Do formato de um grão de feijão gigante e do tamanho de uma mão humana fechada, é normalmente duplo, mas pode-se viver com apenas um. É o filtro do corpo humano e precisa de muita água. O Dia Mundial do Rim foi criado para chamar a atenção da sociedade para a doença renal crônica, que é a perda progressiva — e muitas vezes irreversível — da função dos rins, o que pode fazer o paciente necessitar de hemodiálise ou transplante para não morrer.
Toxinas
A hemodiálise é o procedimento no qual uma máquina faz o trabalho do rim doente, ou seja, limpar e filtrar o sangue, eliminando resíduos prejudiciais à saúde, controlando a pressão arterial e mantendo o equilíbrio de sódio, potássio, ureia e creatinina, entre outros sais e minerais. Todo o sangue é filtrado várias vezes ao dia, fazendo com que ele volte limpo ao coração. As toxinas são eliminadas na forma de urina.
Doença silenciosa
A retenção de toxinas resulta numa condição muito séria conhecida como uremia. Os sintomas da uremia incluem náuseas, debilidade, fadiga, desorientação, dispneia e edema nos braços e pernas. Beber muita água e ter a urina clara, porém, não é garantia de que os rins estão saudáveis. Muitas das doenças que atingem o órgão são silenciosas, detectáveis apenas por meio de exames clínicos ou de imagem, e têm sintomas tardios. A doença renal crônica não acomete apenas idosos, mas também muitos jovens.O publicitário Felipe Peçanha, de 26 anos, sentiu os primeiros sintomas aos 17, quando foi internado com pressão alta e inchaço nos pés. “Na época, eu era muito jovem, estava na escola, não levei o problema a sério e não me cuidei direito. Um ou dois anos depois, tive outra crise e comecei a fazer hemodiálise”. Ele hoje precisa fazer hemodiálise três vezes por semana e espera poder se submeter logo ao transplante — seu pai lhe doará um dos rins. A nefrologista Isadora Calvo, do Hospital Regional de Sobradinho (DF), alerta para a necessidade de exames de sangue e urina periódicos, pelo menos uma vez ao ano, para que qualquer problema seja detectado precocemente. “Muitos pacientes apresentam os sintomas e em muito pouco tempo já estão na hemodiálise. Chegam em estágio avançadíssimo” — diz. O centro de hemodiálise do Hospital Regional de Sobradinho atende atualmente 60 pacientes. A unidade tem 13 máquinas de hemodiálise, sendo uma exclusiva para a UTI. Cada paciente geralmente precisa de três sessões por semana, com duração média de quatro horas. No entanto, o número de casos de doentes renais supera a capacidade de atendimento — realidade que a nefrologista acredita estar presente em muitos hospitais públicos. Outro problema lembrado pelo senador Eduardo Amorim é a defasagem no valor que o Sistema Único de Saúde (SUS) paga por sessão de hemodiálise. O valor é inferior aos reais custos do tratamento, o que, segundo ele, tem levado muitas clínicas pelo país a fechar as portas. “Veja que contradição: aumenta o número de pacientes renais crônicos, que precisam de hemodiálise, e muitas clínicas estão fechando. Os leitos de hemodiálise são insuficientes. O que o SUS paga, dizem os especialistas, não é suficiente para cobrir os custos”. 
Fatores de risco
No Brasil, a campanha iniciada todo ano no Dia Mundial do Rim é coordenada pela Sociedade Brasileira de Nefrologia. Neste ano, o foco é obesidade, situação que pode causar ou agravar problemas renais. A entidade chama a atenção para os fatores de risco que obrigam o cidadão a ter ainda mais cuidado com os rins: pressão alta, diabetes, idade superior a 50 anos, histórico de doenças renais na família, uso de remédios sem orientação médica, tabagismo e doenças cardiovasculares, além do sobrepeso ou da obesidade. A Clínica de Doenças Renais de Brasília tem 150 pacientes em hemodiálise. O diretor do estabelecimento, nefrologista Rafael Bagustti, explica que a obesidade está diretamente relacionada ao estilo de vida das pessoas. E a obesidade, como a hipertensão e o diabetes, aumenta a filtração realizada pelos rins, causando envelhecimento precoce do órgão. 
Escolas
Bagustti concorda que prevenção é uma das melhores soluções: “Se conseguirmos ter uma dieta saudável, sem excesso de calorias e com baixo teor de açúcar e sódio, teremos uma população menos obesa, menos diabética, menos hipertensa e menos portadora de doenças renais crônicas”. Segundo o médico, a prevenção deve começar na infância: “Seria importante fazer em todas as escolas uma aferição básica de pressão arterial, porque na criança a hipertensão é um sinal claro de que o rim pode estar afetado. O check-up anual é muito importante, desde a juventude”. O médico lembra ainda que vários outros tipos de doenças podem atingir os rins, como infecções do trato urinário, cálculo renal, rins policísticos, lúpus, artrites que acometem o rim e muitas outras.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Estresse e Depressão no Meio Acadêmico


Postado por Aline Souza

Para alguns, os problemas na universidade começam antes mesmo de estar nela. A tensão de passar no vestibular, de não “fracassar”, de agradar aos pais e à família, muitas vezes pode gerar uma cobrança excessiva em torno de si, levando o indivíduo a desenvolver um quadro de estresse crônico que, em alguns casos, pode chegar à depressão.
Preocupado em passar no vestibular e receoso quanto à educação que recebeu, ele passou a estudar a maior parte do tempo; quando não estava no curso pré-vestibular, estudava em casa, quase que ininterruptamente, já que não tinha nenhuma outra ocupação, além dos estudos. “Ele estudava muito, muito mesmo. Não tinha horário para descanso nem para o lazer. Então, ele começou a ficar mais afobado, falando coisas sem nexo e completamente sem noção de espaço. Só após meses notamos esse comportamento nele, um comportamento que só foi se agravando. No decorrer de uma semana, já com esse quadro de comportamentos estranhos, ele surtou”, conta Karla Santos, 24, técnica de enfermagem, a experiência vivida por um amigo de infância.
Segundo Karla, os sintomas apresentados após o surto eram relatos de perseguição e de ilusão: “Ele dizia que tinha um helicóptero que vinha buscá-lo. Você tá ouvindo um barulho de helicóptero? Tá descendo! Ele falava que tinha pessoas olhando pra ele, quando na verdade, só havia conhecidos e amigos. Certa vez ele estava comigo em casa e começou a falar de várias coisas ao mesmo tempo, de política, de religião, tudo sem o menor sentido. Às vezes a gente levava na brincadeira, querendo acreditar que era brincadeira, porque ele sempre foi muito brincalhão, mas nós sabíamos que ele estava doente. Só que é muito difícil pra um amigo chegar a uma mãe e dizer: olhe, seu filho está assim, assim... a gente não tinha essa coragem”.
Quando a família veio perceber, ele já estava desesperado, não tinha mais controle. “Saía correndo de casa, parava o trânsito, correndo o risco de ser atropelado, sem saber onde estava. Foi aí que a mãe decidiu interná-lo”. Segundo a amiga, ele ficou internado por uma semana, tomando medicamentos controlados e foi diagnosticado com esquizofrenia. Muito embora ele não tenha nenhum histórico de igual natureza ou algo parecido.
Agora, já passado esse transtorno, ele conseguiu seus objetivos, passou em dois vestibulares e dois concursos. Vive como uma pessoa normal com a medicação, sem a medicação ele corre o risco de surtar novamente. “Hoje ele está trabalhando em um dos concursos que passou e está no quarto período de Direito. Tem uma vida social, trabalha, estuda, viaja, se diverte. E de lá pra cá, nunca teve uma recaída. Ele se preserva muito, não se expõe a situações de muita tensão, que lhe possa apresentar riscos. A família e nós amigos temos toda essa preocupação, mas sem que ele perceba, pra não parecer uma superproteção.
A gente quer que ele se torne uma pessoa ainda mais independente. Que ele perceba que aquela doença não tirou sua independência. E ele não deixou de ter os seus amigos”, concluiu Karla. Em um estudo intitulado “Estresse e estressores na pós-graduação: estudo com mestrandos e doutorandos no Brasil”, realizado por André Faro, professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe, o estresse é definido como um fenômeno psicossocial com repercussão biológica, que ocorre quando há a percepção de ameaça real ou imaginada, avaliada como capaz de alterar o estado de bem-estar subjetivo, provocando sensações de mal-estar, sofrimento e/ou desconforto transitório ou persistente. Ainda de acordo com o professor, além de impactar negativamente a saúde, o estresse prejudica o desempenho do estudante e pode levar ao desestímulo em relação à carreira acadêmica.
Foi o que aconteceu com um aluno de 22 anos da UFS, que prefere não se identificar. Para ele o estresse e desconforto foram provocados desde que percebeu que não “se encontrava” no curso. Para ele, de modo geral, as pessoas passam no vestibular sem saber como vai ser o curso, mas à medida que o tempo vai passando, os alunos vão se identificando e quando isso não acontece, tem coragem para assumir. No seu caso, ele relata que não possuía expectativas em relação ao curso e que no primeiro período se sentia muito bem. Porém, a partir do segundo período, quando começaram as disciplinas práticas, elas o incomodavam de algum modo, justamente por ele ter que lidar com a instabilidade que essas disciplinas representavam. "Foi a partir do segundo período que comecei a perceber que não me encaixava no curso, pelo menos numa parte dele. Mas não tive coragem de assumir, de trancar o curso, por exemplo, e repensar no que de fato queria. Encontrei no trabalho minha válvula de escape. Tranquei assim, as disciplinas práticas, usei o trabalho como desculpa. Eu sabia que do jeito que eu estava e como me sentia, essas disciplinas não iriam me fazer bem”, relata.
Embora se sentisse angustiado, ele continuou no curso. Até que chegou o momento de fazer o TCC e todas essas questões vieram à tona de uma só vez. Diante disso, ele chegou a desistir, mas voltou atrás em sua decisão. Agora segue fazendo o TCC e não pensa mais em desistir. Segundo André Faro, alguns fatores que contribuem para um possível quadro de estresse e depressão é a cobrança excessiva, paralelamente com o aumento no nível de exigências em relação ao aluno e o baixo senso de autoeficácia.  O estudante está sempre na busca do bom desempenho, por ser cobrado constantemente, seja pelos professores ou colegas em sala de aula, seja pela cobrança que faz sobre si mesmo. Para Faro, a percepção de eficácia depende do quanto ele se acha capaz de realizar aquilo que ele pretende. “Muitas das vezes a dificuldade de adaptação é por ter uma visão discrepante da realidade. Por exemplo, há muita exigência por meio de leitura, talvez o nível e limite que essa pessoa tem, às vezes são muito baixos. Não é que seja excesso de exigência, mas às vezes, o nível de adaptação é muito frágil, que qualquer coisa ultrapassa ele”.
Para o psicólogo, a universidade é um meio favorável por lidar, em geral com indivíduo em fase de transição, onde eles saem, mais claramente, da adolescência para idade adulta. Em alguns casos, muitos deles ainda têm um comportamento infantil até entrar na universidade onde passam por um amadurecimento constante. “Até o ano passado muitos deles ainda estava estudando sete dias por semana, o dia todo em pré - vestibular e de repente cai na universidade, saindo de um universo quase infantil para um universo adulto. É um contexto que sobrecarrega”. Chegando à universidade o estudante tem de lidar quase sempre com conteúdos e situações nunca vivenciadas. Alguns simplesmente não conseguem desenvolver algumas competências e por diversas vezes acabam se frustrando. “O meio acadêmico não exige de você somente os conhecimentos específicos bem desenvolvidos, mas dentro da universidade se desafia mais a habilidade sócio emocional dos alunos; regulação emocional, capacidade de manter relacionamentos saudáveis e produtivos. Então, muitos não desenvolveram essas competências ao longo da vida e na universidade isso se torna mais evidente”.  
Ainda de acordo com Faro, rebaixamento do humor, choro fácil, isolamento social e agressividade são alguns dos sinais que antecedem a depressão. Mas, ele adverte que é necessário um diagnóstico clínico para que esses sintomas sejam categorizados como um quadro de depressão. “Nós temos a tríade da depressão, que envolve o baixo senso de autoeficácia, a falta de perspectiva em relação a si, os outros e ao próprio futuro”. O meio acadêmico é permeado por muita vaidade o que pode inibir o indivíduo a procurar ajuda, pois isso pode ser interpretado como um sinal de fraqueza. Ou, em alguns casos, a própria instituição não tem uma estrutura que acolha aqueles que precisam desse tipo de atendimento. “Na UFS tem esse serviço no Núcleo de atendimento que é coordenado por um psicólogo, mas poucos sabem que temos esse serviço aqui”, acrescenta André.

Estresse na Pós-Graduação

Um estudo feito por André Faro, sobre estresse e estressores na pós- graduação teve sua maioria, composta pelo sexo feminino, o que salienta o crescimento no número de mulheres tituladas no Brasil. O estudo revela que os pós-graduandos não possuíam filhos, embora mantivessem relacionamentos conjugais estáveis e possuíam uma média de 28 anos. A maioria dos participantes do Sul e Sudeste exibiu uma média de 29,1 de estresse, um valor acima do esperado, numa escala que vai de 28 a 56.  O valor de 29,1 se situa no estrato médio da escala, mas, bem próximo ao estrato considerado alto (entre 31 e 36 pontos).  As mulheres exibiram maior estresse em comparação aos homens, o que pode ser incrementado pela sobreposição de outras demandas sociais que são designadas às mulheres, que, por fim, tendem a sobrecarregar sua capacidade adaptativa. A relação vista para a renda foi que quanto menor, maior o índice de estresse.
O estudo contou com 2.157 pós-graduandos no Brasil, entre mestrandos e doutorandos de 66 instituições, de mais de 100 programas de pós-graduação, com exceção de participantes do Piauí e Roraima. Foram 39 vinculados a universidades federais, 15 estaduais, 9 privadas e 3 institutos de pesquisa. Contou-se com representantes de todas as áreas do conhecimento da CAPES (Ciências Agrárias, Biológicas, da Saúde, Exatas e da Terra, Humanas, Sociais Aplicadas, Engenharias, e Linguística, Letras e Artes). Ainda não se tem dados da quantidade de casos, mas nota-se uma maior visibilidade do assunto. Hoje já se tem um estudo com diagnóstico. Segundo Faro, a atenção ao assunto ainda é pouca, carece de pesquisa-diagnóstico, bem como do acompanhamento dessas pessoas. Mesmo sendo diagnosticado, pouco se acompanha. Faltam pesquisadores da temática. “Não tem tantos pesquisadores qualificados quanto se imagina. Muito se fala, mas pouco se pesquisa, efetivamente. Só é possível desenvolver um trabalho preventivo ou paliativo se tivéssemos a ideia da incidência. São pesquisas relativamente baratas, mas que demandam recursos” conclui o pesquisador.

Texto retirado de: https://labjoronline.blogspot.com.br/2016/04/estresse-e-depressao-no-meio-academico.html?showComment=1489517095305#c5132632642361066052

quinta-feira, 23 de março de 2017

Doença renal crônica e a atuação do psicólogo

Postado por Brenda Fernanda

A doença renal crônica consiste em lesão renal e perda progressiva e irreversível da função dos rins. De acordo com a literatura, a DRC compromete, progressivamente, o metabolismo e a vida celular de todos os órgãos do corpo e, atualmente, constitui-se como um importante problema médico e de saúde pública. Os portadores desta patologia têm de enfrentar o tratamento já cientes da irreversibilidade de sua doença e, ao longo desse percurso, enfrentam com uma série de perdas, que vão além da função do rim e incluem questões socioeconômicas psicoemocionais. Frente ao impacto emocional que o adoecimento pode acarretar, o psicólogo como parte integrante da equipe de saúde possui uma função de extrema importância, a fim de auxiliar o paciente em uma melhor adaptação, aceitação da doença e maior qualidade de vida.

Fonte: Freitas, P. P. W., & Cosmo, M. (2010). Atuação do Psicólogo em Hemodiálise. Revista da SBPH, 13, 19-32.

terça-feira, 21 de março de 2017

A prática do Psicólogo da Saúde com pacientes portadores de doença renal crônica


Postado por Beatriz Reis 

Entre os diversos setores possíveis de atuação do Psicólogo da Saúde, podemos destacar as unidades de atendimento a pacientes com doença renal crônica, ou seja, os centros de diálises, como um setor que possui demandas específica e que reforça a importância da assistência deste profissional.
De acordo com uma matéria publicada pela Fundação Pró-Ruim, em seu site, “não é fácil, tanto para o paciente como para os familiares, “habitar” ou conviver com uma doença crônica (a insuficiência renal crônica), que se caracteriza atualmente por um curso demorado, podendo ser progressiva, eventualmente fatal ou resultar em diversos prejuízos, requerendo tratamentos dialíticos prolongados, rigorosos, freqüentes e dispendiosos, facilitando sentimentos de impotência, desânimo generalizado e sensação permanente de ameaça à integridade corporal do paciente.
Assim, ainda de acordo com a Fundação, a “O atendimento psicológico na unidade de diálise tem ainda como finalidade vivenciar junto ao paciente renal crônico seus conflitos frente a sua nova condição de ser, escutando suas experiências, despojando-se dos condicionamentos e predisposições inerentes da condição humana. Nesse atendimento, o psicólogo poderá avaliar o grau de comprometimento emocional causado pela doença e pelo tratamento, proporcionando condições para que o paciente possa desenvolver ou manter capacidades e funções não prejudicadas pela doença.”
Esta e outras informações acerca da assistência psicológica a portadores de doença renal crônica você encontra abaixo na matéria completa, vale a pena conferir!


A psicologia e a doença renal crônica

O enfrentamento das incapacidades e perdas geradas pela doença crônica: um estudo de portadores de insuficiência renal crônica em hemodiálise. 

O tratamento hemodialítico constitui-se em recurso terapêutico bastante difundido no tratamento da insuficiência renal crônica. A avaliação do processo de adoecimento do paciente renal crônico a partir de seu próprio convívio com a doença e tratamento hemodialítico identificou que estes pacientes utilizam estratégias de enfrentamento que envolvem “esforços intrapsíquicos”, “voltar-se para os outros” e também a “ação direta”, em decorrência das perdas e incapacidades geradas pela doença (perda do poder físico, perdas sociais, econômicas, sexuais, perda da liberdade e privacidade). 
Constatou-se que não é fácil, tanto para o paciente como para os familiares, “habitar” ou conviver com uma doença crônica (a insuficiência renal crônica), que se caracteriza atualmente por um curso demorado, podendo ser progressiva, eventualmente fatal ou resultar em diversos prejuízos, requerendo tratamentos dialíticos prolongados, rigorosos, freqüentes e dispendiosos, facilitando sentimentos de impotência, desânimo generalizado e sensação permanente de ameaça à integridade corporal do paciente. 
Além disso, o tratamento hemodialítico evoca uma questão paradoxal para o paciente: como um tratamento pode ser tão desprazeiroso? Acresce-se a questão da desinformação o que aumenta os efeitos ansiogenos gerados pela vivência da doença e do tratamento aos pacientes. 
Assim, verificou-se neste estudo que o doente renal crônico luta para entender e aceitar sua doença, procurando incansavelmente, através de estratégias de enfrentamento, compreender a doença e seu respectivo tratamento. 
A atual tendência da Psicologia e das ciências voltadas para a área da saúde é considerar o homem como um ser no mundo, dentro de uma perspectiva holística que integre três esferas biológica, psicológica e social, que são interdependentes e só podem ser compreendidas uma em função da outra.
Assim, o profissional de saúde deveria pensar no doente como um ser humano dotado de corpo e alma e que naquele momento de sua vida necessita de cuidado pessoal e especial. Nesse sentido, o apoio psicológico no tratamento do paciente portador de insuficiência renal crônica é um aspecto fundamental em todo o programa terapêutico eficaz e humano, tendo em vista as múltiplas situações difíceis e ameaçadoras que esse paciente atravessa na vivência da doença.
O psicólogo que atua no hospital geral trabalha com o ser doente, que a todo momento procura resgatar sua essência de vida, interrompida pela ocorrência do fenômeno doença. Além disso, firmada na posição humanística de especial atenção aos pacientes e familiares, o psicólogo hospitalar considera a pessoa humana em sua globalidade e integridade, única em suas condições pessoais, com seus direitos humanamente definidos e respeitados.
Deste modo, o psicólogo que atua na unidade de diálise procura ser o intermediário psicológico, buscando atingir a compreensão das relações entre profissionais, entre profissionais/pacientes e profissionais/família, pois muitas vezes a angústia ou a depressão do paciente renal crônico refere-se à destruição do corpo, sofrimento, invalidez, medo do tratamento hemodialítico, gerando, então, dificuldades na relação médico - paciente. Além disso, deve-se considerar a história de vida do paciente como referencial para suas atitudes de enfrentamento e relações.
O psicólogo junto ao paciente portador de insuficiência renal crônica em tratamento hemodialítico deve procurar investigar a vivência do doente, identificando o que se passa na consciência deste a partir do momento em que passa a conviver com uma doença crônica, através de uma relação envolvente, empática e flexível, visando um encontro real e se afastando da postura impessoal que permeia o atendimento psicológico clínico tradicional.
A assistência psicológica na unidade de diálise busca o alívio emocional do paciente como também de seus familiares. Nesse sentido, o psicólogo tem como função entender e compreender o que está envolvido na queixa, no sintoma e na patologia, para ter uma visão ampla do que está se passando com o paciente renal crônico, para que possa auxiliá-lo no enfrentamento desse difícil processo, bem como dar à família e à equipe de saúde subsídios para uma compreensão melhor do momentum de vida da pessoa enferma.
Assim, o psicólogo como membro da equipe de uma unidade de diálise tem, que observar e ouvir com paciência as palavras e silêncios, já que este profissional é quem mais pode oferecer, no campo da terapêutica, a possibilidade de confronto do paciente com sua angústia e sofrimento na fase de doença e tratamento, buscando superar os momentos de crise.
O atendimento psicológico na unidade de diálise tem ainda como finalidade vivenciar junto ao paciente renal crônico seus conflitos frente a sua nova condição de ser, escutando suas experiências, despojando-se dos condicionamentos e predisposições inerentes da condição humana. Nesse atendimento, o psicólogo poderá avaliar o grau de comprometimento emocional causado pela doença e pelo tratamento, proporcionando condições para que o paciente possa desenvolver ou manter capacidades e funções não prejudicadas pela doença.
Assim, ao favorecer ao paciente a expressão de seus sentimentos sobre a doença e tratamento, situações por sí só mobilizadoras de conflito, o psicólogo facilitará também a ampliação das estratégias adaptativas do paciente, neutralizando ou minimizando o sofrimento inerente ao ser e estar doente com insuficiência renal crônica.

Por: Claudia Tavares Ruggi

sábado, 18 de março de 2017

A doença renal crônica afeta 10% da população mundial

Postado por Laís Santos

A doença renal crônica (DRC) apesar de silenciosa, afeta grande parte da população em todo o mundo. Sabe-se que o envelhecimento, bem como, o aumento de doenças como a obesidade e o diabetes são alguns dos fatores que atuam como preditores da DRC. Além de provocar limitações físicas e toda uma reorganização da rotina do paciente, a DRC afeta o bem-estar e a qualidade de vida, no âmbito físico e psicológico, não apenas dos que são acometidos por ela, mas também de seus familiares. Com isso, evidencia-se a necessidade do surgimento de novos estudos que forneçam dados aos profissionais da saúde direcionando o auxílio ao cuidado prestado, melhor prognóstico e maior qualidade de vida dessa população.

Fonte: http://www.acritica.net/editorias/saude/silenciosa-a-doenca-renal-cronica-afeta-10-da-populacao-mundial/192263/ 
A relação albumina creatinina (ACR) dosada na urina aliada ao exame físico anual do paciente auxilia na detecção precoce da doença. Uma ameaça silenciosa, a doença renal crônica (DRC) envolve a perda progressiva da função dos rins. Essa condição afeta 10% da população mundial, um número que tem crescido nos últimos anos devido ao envelhecimento da população e ao aumento da incidência de doenças crônicas que são consideradas fatores de risco para a DRC, como a diabetes melitus e a hipertensão. Estudos do Global Burden of Disease (GBD) apontam que o número de mortes por DRC aumentou 134% de 1990 a 2013. Neste ano, o tema da Campanha do Dia Mundial do Rim, 9 de março, aponta a obesidade como um fator de alto risco para o desenvolvimento de doenças renais crônicas, pois há maior probabilidade de se desenvolver comorbidades que levam ao comprometimento renal, como a síndrome metabólica, diabetes melitus tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares, além de sobrecarregar o funcionamento dos rins. Se descoberta precocemente, seu desenvolvimento pode ser interrompido ou adiado. Como geralmente a doença não apresenta sintomas clínicos visíveis, os testes de triagem em pacientes de alto risco são o primeiro passo para uma melhor prevenção e, consequentemente, a diminuição de terapias invasivas como a diálise ou o transplante de órgão. Dentro do grupo de pacientes com alto risco para doenças renais estão as pessoas acima de 60 anos, diabéticos, hipertensos e pessoas com histórico de lesão renal aguda ou com histórico familiar para estas doenças.
Exames para diagnóstico de doenças renaisEm 2012, a Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) atualizou as recomendações para a avaliação de pacientes de alto risco. De acordo com as novas diretrizes, os profissionais de saúde devem realizar uma triagem anual dos pacientes do grupo de risco avaliando a relação albumina-creatinina (ACR) da urina dos pacientes. Os níveis elevados de albumina na urina indicam um alerta precoce de alteração no funcionamento dos rins. Atendendo a essa exigência, a Siemens Healthineers disponibiliza testes para avaliação da ACR que podem ser realizados tanto nas tiras de urina CLINITEK Microalbumin, utilizadas nos analisadores CLINITEK Status e CLINITEK Status +, quanto nos cartuchos DCA Microalbumina/Creatinina utilizados no analisador DCA Vantage. A dosagem da relação ACR é fundamental para detectar precocemente problemas renais e elimina a necessidade da coleta de urina pelo período de 24 horas, proporcionando mais conforto ao paciente. Além dos testes laboratoriais clássicos, a companhia oferece ensaios para a determinação de Cistatina C, um recente marcador renal que complementa a plataforma de nefelometria e bioquímica. A Cistatina C sofre menos interações com relação à Creatina (medicamentos, peso, sexo, reabsorção no corpo, etc), gerando resultados mais precisos principalmente na fase aguda da doença.Custos e consequências da doença renal crônicaA doença renal não tem cura. Enquanto o diagnóstico precoce permite tratamentos que podem retardar a progressão da doença, a falta de uma identificação prévia do problema pode acarretar uma insuficiência renal, exigindo que o paciente realize terapia de diálise ou até mesmo o transplante do órgão. Nesses casos, o paciente também pode desenvolver doenças cardiovasculares, levando-o à morte prematura ou sequelas graves. Os custos para se tratar a doença renal crônica e suas consequências sobrecarregam os sistemas de saúde em todo o mundo. Somente no Brasil, em 2016, o Ministério da Saúde anunciou um investimento de 11 milhões de reais a mais por ano no custeio dos procedimentos de diálise peritoneal, uma terapia indicada para pacientes que apresentam quadros de insuficiência renal aguda ou crônica. Com internações, transplantes e medicamentos, o Ministério da Saúde aplica quase 4 bilhões por ano na Terapia Renal Substitutiva, que são a hemodiálise e a diálise peritoneal, de acordo com informações do Portal da Saúde.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Optimismo disposicional y estrategias de afrontamiento en pacientes com transplante renal

Resenhado por Maisa Carvalho

Costa-Requena, G., Cantarell-Aixendri, M. C., Parramon-Puig, G., & Serón-Micas, D. (2014). Optimismo disposicional y estrategias de afrontamiento en pacientes con trasplante renal. Nefrología (Madrid), 34(5), 605-610. doi: 10.3265/Nefrologia.pre2014.Jun.11881

As Doenças Renais Crônicas (DRC) são razões de gastos econômicos bilionários e se constituem como uma epidemia mundial, sendo responsáveis por cerca de 28 milhões de mortes prematuras em países de renda média e baixa, segundo a OMS. Por demandarem uma rotina estressante do paciente, afetam seu bem-estar físico e psicológico. Logo, as estratégias de enfrentamento se constituem como esforços cognitivos e comportamentais que visam reduzir o estresse advindo da doença, buscando promover a adaptação ao contexto e melhor qualidade de vida. O otimismo disposicional - crença generalizada de mais acontecimentos positivos no futuro, também se constitui como fator protetor concernente a problemas de saúde, tal como a DRC. Este estudo tem como objetivo analisar as relações entre este construto e as estratégias de enfrentamento, além de observar se a utilização destas se diferencia de acordo com o grau de otimismo.
A amostra foi de 66 sujeitos, composta de 65,2% (n = 43) de homens, com idade média de 56 anos. A causa mais frequente de insuficiência renal é desconhecida (25%, n = 17) ou glomerular (22,7%, n = 15). Antes do transplante, 71% (n = 47) dos pacientes já haviam realizado a terapia de reposição renal com hemodiálise. As correlações entre o otimismo disposicional e as estratégias de enfrentamento foram significativas, em sentido positivo para resolução de problemas (p < 0,05) e reestruturação cognitiva (p < 0,01), e em negativo para a autocrítica (p < 0,05), ou seja, quanto maior o otimismo disposicional mostraram, menor a tendência à autocrítica como estratégia de enfrentamento durante o transplante renal.
Os resultados deste estudo mostraram a importância do otimismo e sua relação com a promoção de saúde, visto que facilita a adaptação a um contexto, além de mudar a percepção dos pacientes relativo à doença. O psicólogo da saúde pode ajudar pacientes em vulnerabilidade física a encontrar e construir estratégias de enfrentamento adequadas à personalidade de cada um, assim, promovendo uma melhor adaptação.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Doença renal crônica e a população idosa

Resenhado por Laís Santos

Gesualdo, G. D., Zazzetta, M. S, Say, K. G., Orlandi, F. de S. (2016). Fatores associados à fragilidade de idosos com doença renal crônica em hemodiálise. Ciência & Saúde Coletiva, 21(11), 3493-3498. doi: 10.1590/1413-812320152111.18222015

Em meio as doenças crônicas não transmissíveis, a doença renal crônica (DRC) é vista como um problema de saúde pública em todo o mundo. Dados apontam que entre os 34.366 pacientes que iniciaram o tratamento para a DRC no Brasil em 2012, 31,9% eram idosos (idade igual ou superior a 65 anos). Entre os idosos com DRC em estágio terminal em hemodiálise, é bastante comum a negação da doença, assim como a comorbidade com outras patologias e a presença de limitações que afetam o bem-estar e a qualidade de vida desses sujeitos e de seus familiares. Além disso, estima-se que a fragilidade está presente em 15% dos sujeitos com DRC em comparação a outros grupos. Entende-se por fragilidade um estado mais vulnerável no qual a pessoa está mais propensa a desenvolver outros problemas de saúde, bem como quedas e maior mortalidade. Na literatura não há um consenso sobre a mensuração da fragilidade, ou seja, ela vem sendo interpretada de maneira multidimensional abarcando variáveis ligadas ao aspecto físico, psicológico e social.
O estudo em questão avaliou fatores sociodemográficos e clínicos associados à fragilidade de idosos com doença renal crônica em hemodiálise. A amostra foi de 60 idosos de um Centro de Diálise do interior de São Paulo. Foram usados um Instrumento de Caracterização do Participante - para avaliação dos dados sociodemo­gráficos e clínicos - e a Edmonton Frail Scale, para a mensuração do nível de fragilidade. Os resultados apontaram que 70% dos participantes (n = 42) eram homens, com média etária de 71,1 anos e renda média de 2,8 salários mínimos. Entre os entrevistados 46,7% apresentaram 1 a 2 doenças associadas a DRC e o tempo médio de hemodiálise foi de 40,7 meses. Quanto à avaliação do nível de fragilidade o único fator que apresentou significância estatística foi a renda per capita, em outros termos, viu-se que quanto menor a renda maior a propensão à fragilidade.
Por fim, por si só a velhice é uma fase do desenvolvimento na qual as pessoas estão mais vulneráveis ao desenvolvimento de doenças. Quando há a presença da DRC a qualidade de vida desse público diminui consideravelmente, visto as consequências negativas desta, tais como alterações na rotina, bem-estar e maior propensão à comorbidades. Vê-se então a necessidade de que mais estudos sejam desenvolvidos a fim de mapear os fatores relacionados à fragilidade, melhor prognóstico e qualidade de vida desse público. À Psicologia cabe fornecer suporte adequado e capacitado aos idosos com DRC, assim como, aos seus familiares, além de investigar, por exemplo, quais as estratégias de enfrentamento mais adequadas a fim de proporcionar mais qualidade de vida aos portadores de DRCs e sua família.

terça-feira, 7 de março de 2017

A importância do sono para a função renal

Postado por Mariana Serrão

Estudos indicam que cada 1% de aumento na fragmentação do sono está associada a um aumento de 4% do risco de insuficiência renal. Uma pesquisa realizada com 432 adultos com doença renal crônica apurou que os participantes dormiram uma média de 6,5 horas/noite. Ao longo do período de cinco anos e meio, 70 indivíduos desenvolveram insuficiência renal e 48 pacientes morreram. Ana Ricardo, uma das autoras do estudo, ressaltou o sono como um fator de risco para portadores de doença renal crônica. Contudo, apesar da relação evidente do sono com doenças crônicas renais, tal tema ainda é pouco estudado.

Fonte: https://www.portaldadialise.com/articles/a-importancia-do-sono-na-funcao-renal

“Os pacientes com doença renal crônica que não têm um sono de qualidade apresentam uma pior função renal, sugere um estudo apresentado na semana dedicada ao rim da Sociedade Americana de Nefrologia. Apesar de existir uma evidência crescente de que os distúrbios de sono são comuns nos indivíduos com doença renal crônica, a sua associação com a progressão da doença ainda não é conhecida. De forma a explorar esta temática, os investigadores da Universidade de Illinois, nos EUA, analisaram os padrões de sono de 432 adultos com doença renal crônica. Os participantes utilizaram um monitor de pulso ao longo de cinco a sete dias para medir a duração e qualidade do sono. A saúde dos pacientes foi acompanhada ao longo de uma média de cinco anos. O estudo apurou que os participantes dormiram uma média de 6,5 horas/noite. Ao longo do período de acompanhamento, 70 indivíduos desenvolveram insuficiência renal e 48 pacientes morreram. Após terem ajustado fatores sociodemográficos, índice de massa corporal, pressão arterial, diabetes, doença cardiovascular, e função renal base, cada hora de sono estava associada a um risco 19% menor de desenvolver insuficiência renal.
Os investigadores verificaram que havia uma associação significativa entre a qualidade do sono e o risco de insuficiência renal. Cada 1% de aumento na fragmentação do sono estava associada a um aumento de 4% do risco de insuficiência renal. O estudo apurou também que os pacientes que tinham sonolência durante o dia apresentavam um risco 10% maior de morrerem durante o período de acompanhamento, comparativamente com aqueles que não tinham sono durante o dia. Ana C. Ricardo, uma das autoras do estudo, referiu que um sono curto e fragmentado é um fator de risco para a progressão da doença renal crônica que ainda não tinha sido considerado. Na opinião da investigadora, estes resultados chamam mais uma vez a atenção para a importância do sono na função renal, alertando para a necessidade de desenhar e testar intervenções clínicas para melhorar os hábitos de sono nos indivíduos com doença renal crônica.”