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sexta-feira, 28 de abril de 2017

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Habilidades sociais, possibilidades terapêuticas para pacientes com Parkinson na clínica escola FisioIguaçu

Resenhado por Brenda Fernanda

Figueiredo, A., V., & Oliveira, M. S. (2016). Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Habilidades sociais, possibilidades terapêuticas para pacientes com Parkinson na clínica escola FisioIguaçu. Sustinere, 4(2), 287-304.

A TCC, em função de sua composição estruturada, objetiva e direcionada para solução de problemas com base na modificação de crenças e comportamentos, tem sido bem sucedida no que diz respeito a atender as demandas da saúde. O Parkinson, enquanto uma doença neurodegenerativa, recorrente e progressiva, pode ocasionar uma cadeia de sintomas graves, incluindo aspectos psicológicos. A depressão é um dos acometimentos que pode advir do Parkinson, afetando significativamente a qualidade de vida dos portadores da doença.
No que diz respeito às habilidades sociais, é sabido que o desempenho social adequado está fortemente relacionado com a qualidade de vida. Desse modo, pode-se dizer que o repertório precário de habilidades sociais interfere nas relações interpessoais, estando associado a uma gama de transtornos psicológicos, dentre eles, a depressão. Assim, faz-se importante avaliar aspectos das habilidades sociais em pacientes com perdas significativas em diversas esferas cognitivas e motoras, atentando para a possível relação entre o declínio destas capacidades com o desejo pelo isolamento e a perda pelo prazer. Alguns estudos trazem como resultados a correlação entre as deficiências em habilidades sociais e a depressão.
O presente estudo foi realizado com sete indivíduos diagnosticados com Parkinson, sendo utilizado o BDI (Inventário de Depressão de Beck) para mensurar a severidade da depressão. Também foi utilizado o IHS (Inventário de Habilidades Sociais), instrumento de autorrelato para aferir o repertório de habilidades sociais. Além disso, trabalhou-se também com a psicoterapia grupal e a psicoeducação.
Os resultados obtidos na presente pesquisa apontaram que o treino das habilidades sociais como estratégia da Psicoterapia reduziu em 86% o nível de depressão nos pacientes portadores de Parkinson e, consequentemente, houve melhora na qualidade de vida. Outro ponto importante evidenciado foi o de que a experiência grupal foi extremamente positiva para os participantes. Os autores ressaltam que, ao longo das sessões, verificou-se um aumento gradativo da confiança, que se expressavam sem inibição e algumas vezes se emocionavam uns com os outros. Dentre as estratégias utilizadas para diminuir os níveis de depressão, foi aplicada uma técnica de relaxamento, sendo observada eficácia do procedimento em todos os participantes.

Diante dos resultados obtidos, pode-se observar o quanto aspectos psicológicos, cognitivos e emocionais podem influenciar a qualidade de vida de pacientes acometidos pela Doença de Parkinson, bem como o modo com que as estratégias da psicologia podem promover melhor adaptação e enfrentamento à situação do adoecimento. 

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Doença de Parkinson: O que é e quais seus sintomas?

Postado por Sara Andrade

A Doença ou Mal de Parkinson, como costuma ser conhecida, é uma afecção do sistema nervoso central, que resulta da diminuição de transmissão dopaminérgica nos neurônios (gânglios da base). É uma doença crônica, progressiva e ainda sem cura, cujos principais sintomas são tremores e rigidez muscular, o que acontece predominantemente quando o corpo se encontra em estado de repouso. No vídeo abaixo se pode verificar mais algumas explicações valiosas sobre a origem da doença, seu curso e desenvolvimento.
 


 

terça-feira, 18 de abril de 2017

Parkinson, por dentro do mistério.

Postado por Juliane Ishimaru

Por ser uma doença neurodegenerativa incurável, o diagnóstico do mal de Parkinson está atrelado ao medo e a insegurança em relação às perspectivas de melhora e todo o procedimento de adaptação a ela. Atualmente, vê-se o crescimento do número de estudos sobre essa doença em diversas áreas, o que permite o aprimoramento das práticas de cuidado existentes, bem como também, desmistificar muitos conceitos a despeito do mal de Parkinson e proporcionar mais qualidade de vida àqueles que necessitam conviver dia a dia com ela.

Fonte: http://super.abril.com.br/saude/parkinson-por-dentro-do-misterio/
As primeiras mudanças no organismo não chamam a atenção. No início, aparece uma sensação constante de cansaço ou mal-estar no fim do dia. Depois, vêm as dores musculares, especialmente na região lombar. Aos poucos, a caligrafia tende a ficar menos legível. Sem motivo aparente, o paciente se sente deprimido e irritadiço. A voz torna-se monótona e menos articulada e os movimentos vão ficando vagarosos. Pernas e braços parecem rígidos. Atividades cotidianas, como abotoar uma blusa, antes executadas com facilidade, viram tarefas complicadas. Mas o susto vem quando, subitamente, aparece o tremor.A doença de Parkinson integra o rol das enfermidades ligadas ao envelhecimento. Acomete pessoas na faixa dos 60 anos de idade em diante, mas pode, eventualmente, aparecer antes – como no caso do ator canadense Michael J. Fox, que descobriu a doença aos 30 anos. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, atualmente a doença atinge 4,7 milhões de indivíduos em todo o planeta. Devido à maior expectativa de vida da população mundial, o número de casos de Parkinson tende a crescer. Por isso, cientistas têm se debruçado com ávido interesse sobre a doença, buscando decifrar suas misteriosas causas e, assim, tornar possíveis tanto a prevenção quanto a cura.A doença de Parkinson se desenvolve quando células de uma pequena área do cérebro, chamada de “substância negra” devido à sua pigmentação escura, começam a morrer progressivamente. Esses neurônios jurados de morte são responsáveis pela produção de dopamina, um neurotransmissor – ou seja, um mensageiro químico – incumbido de transmitir informações às áreas cerebrais que comandam os movimentos. Como as células vão se degenerando, a quantidade normal de dopamina deixa de ser liberada e, assim, surgem falhas nos mecanismos de controle motor do indivíduo.
(...) Apesar de os sintomas variarem de acordo com cada indivíduo, a doença produz quatro sinais típicos, dos quais derivam as demais complicações: tremor em repouso, rigidez muscular, redução na quantidade de movimentos (acinesia) e alterações na postura e no equilíbrio.Mas não se trata de um diagnóstico simples. Afinal, tremor, rigidez e acinesia não são características exclusivas da doença de Parkinson. Estão presentes em um conjunto de enfermidades designadas pelo termo genérico de “parkinsonismo”. Essas enfermidades também provocam distúrbios motores, como a doença de Parkinson, mas todas elas têm causas determinadas – e nenhuma relação com os neurônios da substância negra. Estima-se que de 20% a 25% dos pacientes diagnosticados com doença de Parkinson venham a descobrir que sofrem, na verdade, de uma outra forma de parkinsonismo.(...) Mas não seria somente o sistema de degradação de proteínas que estaria alterado na doença. “Haveria também um acúmulo de radicais livres nos neurônios dopaminérgicos”, afirma a neurocientista brasileira Simone Engelender, do Instituto de Tecnologia Technion, de Israel.
(...) “Como as duas hipóteses são possíveis, a causa da doença de Parkinson pode ser a combinação de múltiplos fatores intracelulares”, diz Simone.Não se sabe exatamente o que motivaria tais alterações internas dos neurônios. Hoje, os cientistas admitem que a predisposição genética, combinada com fatores ambientais, pode ser determinante no aparecimento da doença. (...)Outra frente de pesquisas dedica-se a encontrar caminhos para a prevenção do Parkinson. A neurocientista australiana Kay Doule, da Universidade de Würzburg, na Alemanha, pesquisa um exame de sangue que identificaria a presença da doença antes de boa parte de a substância negra ter sido perdida e os sintomas surgirem. (...)Mesmo com a quantidade considerável de pesquisas perscrutando as causas do Parkinson, no momento a cura da doença ainda permanece um sonho intangível. No entanto, se há algumas décadas pouco se podia fazer pelo paciente, os tratamentos hoje disponíveis, aliados a terapias não-medicamentosas, como a fisioterapia e a fonoaudiologia, mantêm os sintomas do Parkinson sob controle e possibilitam que os pacientes tenham uma vida satisfatória e produtiva.Existem também duas modalidades de cirurgia como opção para os pacientes que já não respondem bem aos medicamentos. Uma delas é a cirurgia ablativa, que visa destruir áreas específicas do cérebro alteradas pela doença. A outra chama-se estimulação cerebral profunda e consiste na implantação de um marca-passo para corrigir estímulos incorretos enviados de uma região cerebral para outra. Essas cirurgias não são curativas, mas aliviam sintomas fora do controle.Estão em testes, na Suécia e nos Estados Unidos, onde o aborto é legalizado, os polêmicos transplantes de células fetais. Neurônios produtores de dopamina retirados de fetos abortados são implantados no putâmen dos pacientes. Já foram feitas cerca de 150 cirurgias desse tipo e os resultados têm sido razoáveis. (...)
A crença do parkinsoniano na sua capacidade de superação dos limites motores também parece ser um componente fundamental no tratamento. A equipe do neurologista Jon Stoessl, da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, estudou o papel do efeito placebo na reversão dos sintomas do Parkinson. Eles constataram que a expectativa da recompensa (a melhora na condição física) por si só ativa o sistema de produção de dopamina e de outros neurotransmissores. “Medicamentos usados para controlar os sintomas da doença aumentam a disponibilidade de dopamina ou mimetizam seus efeitos”, diz Stoessl. “O efeito placebo apresenta um mecanismo similar, que pode maximizar os benefícios terapêuticos.”
 

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Qualidade de vida em idosos portadores da Doença de Parkinson

 Resenhado por Sara Andrade

Luna, A. A., Agathão, B. T., Catarino, C. F., & Entringer, A. P. (2017). Avaliação da qualidade de vida de idosos portadores da Doença de Parkinson. Revista Rede de Cuidados em Saúde, 10(1), 1-10.

Nas últimas décadas o Brasil tem passado por um processo de envelhecimento de sua população, bem como por aumento no número de adoecimentos crônicos. Apesar desse crescimento, não é correto afirmar uma relação direta entre doenças crônicas e envelhecimento, pois isso não quer dizer que o idoso não possa gerir sua vida, preservando a qualidade da mesma.
Dentre as doenças crônicas que mais tem acometido a população idosa está a Doença de Parkinson (DP), que se define como uma doença neurológica degenerativa, que afeta primordialmente os neurônios dopaminérgicos da substância negra do mesencéfalo, acarretando déficits de dopamina e levando a distúrbios motores significativos. Além da morte de grande parte das células, a DP influencia negativamente na qualidade de vida do indivíduo levando-o ao isolamento e à uma diminuição de seu bem-estar. A qualidade de vida é um aspecto não associado somente à satisfação das necessidades materiais, mas também das não materiais, o que garante o status subjetivo desta, podendo apenas o próprio indivíduo caracterizá-la. Em função disso, a presente pesquisa teve por objetivo identificar a qualidade de vida de pacientes idosos portadores de Doença de Parkinson na Associação Brasil Parkinson (ABP).
            Foi selecionada uma amostra por conveniência com dezessete pacientes, e como critério de inclusão estes deveriam possuir idade maior ou igual a sessenta anos e diagnóstico de Doença de Parkinson há, no mínimo, um ano. Foram utilizados dois instrumentos. O primeiro foi o Formulário para Registro de Dados Clínicos e Pessoais, com finalidade de identificar a população-alvo da pesquisa. E o segundo instrumento aplicado foi o Índice de Qualidade de Vida (IQV), desenvolvido por Ferrans e Powers (1985). O IQV é composto por duas partes: a primeira mede a satisfação em relação a quatro diferentes domínios da vida – saúde e funcionamento, social e econômico, psicológico e espiritual, e família – e a segunda mede a importância de cada um desses domínios para o respondente.
            A idade dos pacientes variou entre 60 e 81 anos, e a média foi de 73,8 anos. O tempo de doença dos pacientes variou entre 2 e 15 anos, e a média foi de 7,05 anos. No primeiro domínio do IQV, denominado Saúde e Funcionamento, a maioria dos pacientes apresentaram-se muito satisfeitos (42%), no entanto 11% demonstraram algum nível de insatisfação. Já no domínio Socioeconômico, quase metade (49%) dos indivíduos mostram-se muito satisfeitos. Quanto ao domínio Psicológico, Espiritual e Família, 99% dos entrevistados apresentaram algum nível de satisfação.
            Sobre o grau de importância atribuído aos domínios descritos, os resultados foram similares ao grau de satisfação, mostrando que a grande maioria dos pacientes demonstrou algum grau de importância nos quatro domínios. O domínio que apresentou maior percentual de pacientes que relataram “muita importância” foi o Domínio Família (91%) e aquele com o maior percentual de indivíduos que declararam algum grau “sem importância” foi o Saúde e funcionamento (9%). O domínio social e econômico foi o que apresentou o IQV mais baixo, representado por um índice de 23,46 e o domínio família, por outro lado, apresentou o IQV mais alto, totalizando em 27,55.
            Dados como estes sobre a Doença de Parkinson são relevantes para que sejam aprofundadas as discussões acerca da necessidade de ampliar as práticas de saúde concernentes ao cuidado e ao aumento da qualidade de vida dos indivíduos acometidos pela doença.

sábado, 8 de abril de 2017

Estudo aponta que em cinco anos poderá existir um tratamento mais eficaz contra o Parkinson

Postado por Laís Santos

O mal de Parkinson atinge cerca de 5 milhões de pessoas em todo o mundo, e por volta de 200 mil no Brasil. Sabe-se que essa doença não afeta apenas as capacidades motoras, mas interfere na qualidade de vida, gerando prejuízos no âmbito familiar, social e financeiro das pessoas. De acordo com a pesquisadora e fisiologista brasileira Elaine Del Bel, uma das líderes do estudo, um antibiótico chamado doxiciclina, utilizado há anos no tratamento da acne, demonstrou efeitos positivos no que tange ao evitar a destruição das células em camundongos. Tal resultado pode representar para equipes de saúde e principalmente para as pessoas acometidas por essa doença, uma luz no fim do túnel, uma vez que os tratamentos disponíveis apenas ajudam a aliviar os sintomas desse mal.

Uma pesquisa brasileira descobriu que um medicamento barato, que já existe no mercado, pode ser a esperança para o tratamento de quem sofre com o Parkinson. Um antibiótico chamado doxiciclina, utilizado há cinquenta anos no tratamento de casos graves de acne, pode ser capaz de proteger os neurônios afetados pela doença degenerativa, que atinge o sistema nervoso central.
A fisiologista Elaine Del Bel, uma das líderes da equipe responsável pela descoberta, percebeu, quase por acaso, que a droga era capaz de evitar que camundongos sofressem com a destruição das células. Até o momento, todos os tratamentos disponíveis apenas aliviam os sintomas do Parkinson. Mas a pesquisa brasileira pode ser capaz de tratar uma das reações químicas relacionadas à síndrome e resgatar a qualidade de vida de quem sofre com a patologia.As últimas conclusões do estudo feitas em conjunto com institutos internacionais e publicadas recentemente na revista Scientific Reports, do prestigiado grupo Nature, revelam o funcionamento da doxiciclina no cérebro, um passo fundamental antes de testes em humanos para que, futuramente, a substância possa funcionar como um tratamento. “Se todas as conclusões foram confirmadas, em cerca de cinco anos o medicamente deve estar liberado e poderemos ter um tratamento eficaz contra o Parkinson”, afirmou Elaine ao site de VEJA. Nesta entrevista, a cientista que estuda a doença há duas décadas na USP de Ribeirão Preto, conta como aconteceu a descoberta e de que forma um antibiótico simples poderia barrar o avanço da Parkinson que atinge cerca de 5 milhões de pessoas em todo o mundo.
O primeiro estudo sobre os efeitos da doxiciclina em Parkinson é de 2013. Por que só agora se percebeu que a droga pode ser um tratamento eficaz? A descoberta aconteceu quase por acaso, em 2011, quando um ex-aluno estudava a doença no Instituto de Medicina Experimental Max Planck, na Alemanha. Ele estava introduzindo o Parkinson em camundongos para observar as lesões no cérebro. Contudo, quando começaram as análises dos cérebros dos roedores, ele observou que, de quarenta, apenas dois estavam com Parkinson. Depois de revisar todos os procedimentos, ele percebeu que a ração que havia dado aos camundongos continha o antibiótico doxiciclina. A partir desse ponto, a pesquisa tomou outro rumo: repetimos o experimento com esse medicamento e, após vários testes e análises, constatamos que ele realmente protege os neurônios nos estágios iniciais do Parkinson. O medicamento é capaz de evitar a degeneração e a consequente progressão da doença. Publicamos a descoberta em 2013, mas faltava mapear como a droga age no cérebro, para analisar de que maneira ela é capaz de ter todos esses efeitos na enfermidade. O estudo com essas conclusões foi publicado no início deste ano.
Qual a importância dessa descoberta para os portadores da síndrome, que, só no Brasil, afeta cerca de 200.000 pessoas? Segundo nosso estudo, a doxiciclina poderia atuar como um retardador do Parkinson. Ela tem o potencial de impedir sua evolução – ou seja, representa uma grande esperança para quem sofre com ela. Depois da publicação, muitos parkinsonianos me procuraram, voluntariando-se para os testes que, se tudo correr bem, devem ser feitos em breve. Doenças degenerativas como o Parkinson são muito cruéis, pois impedem que as pessoas realizem as tarefas do cotidiano – o indivíduo não consegue ficar parado, abotoar um botão ou se alimentar.
 Por que o estudo está sendo considerado tão promissor? Até o momento, todas as linhas de pesquisa focam no tratamento de sintomas, já que a causa do Parkinson é desconhecida. Os Institutos Nacionais de Saúde americanos (NIH, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, conduzem diversos estudos de ponta nesse sentido. Contudo, nosso estudo é o primeiro que analisa uma substância que age como um neuroprotetor, blindando o cérebro das lesões causadas pela doença. A doxiciclina, um antibiótico barato, usado há cinquenta anos no tratamento de casos graves de acne e inflamações na gengiva, é a única conhecida a ter esse efeito. Por ser tão acessível, já testada em humanos e com implicações tão positivas, a doxiciclina é tão inovadora para o tratamento de Parkinson.Como o antibiótico atua no cérebro com o Parkinson? Doenças neurodegenerativas, como essa, apresentam o que chamamos de marcadores, algo que os médicos identificam como o indício da patologia. Quem tem Parkinson exibe a formação de corpúsculos de Lewy, um acúmulo anormal de proteínas nas células cerebrais. Ela acontece quando uma proteína cerebral, chamada α-sinucleína, se quebra em pequenos pedaços e se amontoa, formando agregados insolúveis, causando a morte do neurônio. Nessa última fase da pesquisa, nós observamos que a doxiciclina impede a formação dessa estrutura, evitando a degradação do sistema nervoso.Ou seja, ela protege contra um dos mecanismos relacionados à doença, já que não conhecemos suas causas? Nossos estudos em camundongos mostraram que sim. Mas ainda precisamos verificar como ele atua no cérebro humano e fazer estudos sobre as consequências em longo prazo. Atualmente, o tratamento de Parkinson é a reposição de dopamina, um neurotransmissor que cai a níveis baixíssimos em seus portadores, por meio de comprimidos uma ou duas vezes ao dia. A dose depende do estágio da doença e funciona como a injeção de insulina em diabéticos, já que os parkinsonianos não produzem a dopamina. O problema é que o tratamento funciona apenas de cinco a dez anos. Depois disso, o paciente apresenta diversos efeitos colaterais, como movimentos involuntários – uma das piores consequências do Parkinson. Com a doxiciclina esperamos barrar o avanço da doença para que esses efeitos sejam atrasados ou eliminados.Há alguma previsão para que o tratamento esteja disponível para os pacientes? Até agora temos resultados confiáveis em animais e outras conclusões sobre as consequências do tratamento serão publicadas até o fim do ano. Não observamos qualquer efeito negativo nos camundongos, mas não sabemos como será a reação em humanos. A ingestão da doxiciclina deve ser contínua e precisamos descobrir se não fará mal em cinco ou dez anos, já que isso não é observável em modelos animais. Para testar a medicação em portadores da doença, vamos submeter um projeto à Fundação Michael J. Fox para Pesquisa do Parkinson, que fica nos Estados Unidos. Se for aceito, os testes em cerca de quinhentos pacientes levariam pouco mais de um ano, a um custo de nove milhões e meio de reais. Como a doxicilina já é utilizada há mais de meio século contra infecções bacterianas em doses ainda mais altas que as necessárias para proteger o cérebro do Parkinson, a trajetória para ela chegar até os pacientes é mais curta. Se tudo correr bem, em cinco anos, o antibiótico deve estar liberado para o tratamento da doença. Imaginamos que isso seja feito com comprimidos diários.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Doença de Parkinson

                                                                                                         Resenhado por Iracema R.O. Freitas

Kummer, A., Teixeira, A. L. (2009). Neuropsychiatry of Parkinson’s disease. Arquivos de Neuro-psiquiatria, 67(3-B), 930-939. doi:10.1590/S0004-282X2009000500033

A doença de Parkinson (DP) é reconhecida clinicamente por sinais como bradicinesia (lentidão anormal dos movimentos voluntários), rigidez, instabilidade postural e tremor de repouso. Estes sinais motores da DP respondem de forma positiva às drogas dopaminérgicas. Porém, além dos sinais motores existem ainda os aspectos não-motores da doença, que são comuns e por vezes incapacitantes, isso porque, eles precedem os sinais motores e limitam o tratamento efetivo, aumentando a deficiência e reduzindo a qualidade de vida dos pacientes. No artigo publicado no Jounal of Geriatric Psychiatry and Neurolgy (1999), por exemplo, estudos de neuroimagem detectaram sinas de Parkinson na substância negra após um período de 4 a 7 anos de depressão, o que demonstra a relevância dos sinais não-motores como preditivos da DP.
Frente a importância e a elevada frequência de transtornos psiquiátricos presentes na DP, esse artigo reuniu as principais síndromes neuropsiquiátricas da DP (depressão, ansiedade, TOC - Transtorno Obsessivo Compulsivo, sintomas psicóticos e outros) e as terapias disponíveis para o tratamento.
Em relação a depressão, estudos sugerem que ela seja mais comum entre pacientes com DP do que em outras doenças crônicas debilitantes. Vê-se que a depressão menor e a moderada são os tipos mais frequentes e os principais fatores de risco são: gênero, idade avançada, aumento da gravidade da doença, rigidez acinética (que não se move), instabilidade postural, sinais motores que não respondem a levodopa e histórico familiar de DP. Caso haja comorbidade, é comum um comprometimento maior do desempenho motor em pacientes que se enquadrem na categoria de risco. Os instrumentos para diagnóstico mais usados são: entrevistas semi-estruturadas, Escala de Hamilton, Inventário de Depressão de Beck e o Montgonmery-Asberg. Além do tratamento farmacológico, a Terapia Cognitiva Comportamental demonstrou grande eficácia como tratamento não-farmacológico.
Por sua vez, o transtorno de ansiedade social acomete em média 50% dos pacientes com DP que podem ser diagnosticados com, por exemplo, fobia social. Em geral, o transtorno de ansiedade social tem como principais características: apreensão, preocupação ou medo, fadiga, tensão, insônia e problemas de atenção. No caso de pacientes com DP, os sinais de alteração motora e mudanças na aparência poderiam explicar ansiedade em situações sociais. O tratamento não-farmacológico abrange apoio psicológico, psicoeducação e aconselhamento.
A relação entre TOC e Parkinson continua em estudo, descobertas observaram que sintomas obsessivo-compulsivos de contaminação e limpeza foram sinalizados através de sinapses vistas em neuroimagem. Outros estudos apontam para uma “personalidade parkinsoniana”, cujo perfil inclui comportamentos de busca de novidade e aceitação, menor predisposição ao vício, inflexibilidade e menor expressão de raiva. Quanto a terapia para o TOC na DP, não há estudos sistemáticos sobre o tema.
O sintoma psicótico é descrito pela presença de pensamentos distorcidos (delírio), senso-percepção (ilusões e alucinações) e sonhos (vividos como reais). Existe uma prevalência de psicose na comunidade de doentes parkinsonianos entre 15% e 20%, sendo as alucinações visuais complexas o fenômeno mais comum. Os fatores de risco comuns são: declínio cognitivo, depressão, idade avançada, maior duração da doença e outros. O tratamento farmacológico são os antipsicóticos.
Por fim, observa-se que a doença de Parkinson é de ordem multifatorial, trata-se de uma doença crônica e incapacitante, que degenera o funcionamento cerebral e cognitivo do paciente, uma vez que há uma redução gradativa da produção de dopamina decorrente da morte das células que compõe uma estrutura no cérebro chamada parte compacta da substância negra. Estudos ainda estão em aberto na busca de maior compreensão e novos tratamentos. O cuidado com tais pacientes deve ser composto por atenção médica, uso de fármacos, acompanhamento psicológico e familiar.


domingo, 2 de abril de 2017

Doença de Parkinson e Psicologia

Postado por Brenda Fernanda


A doença de Parkinson (DP) caracteriza-se como uma doença crônica e neurodegenerativa, que ocorre na população acima de 65 anos, possuindo incidência de 1 a 2% em todo o mundo e prevalência no Brasil de 3%. Diante da cronicidade e progressão da doença, outras complicações físicas vão aparecendo, ocasionado diminuição da força muscular e condicionamento físico e também impactando no estado mental, social e econômico dos indivíduos portadores e de seus familiares. Frente ao adoecimento e suas consequências, o profissional de psicologia se faz necessário a fim de orientar e oferecer suporte a esses indivíduos, buscando minimizar o sofrimento e proporcionar melhor enfrentamento e qualidade de vida.


Fonte: Peternella, F. M. N., & Marcon, S. S. (2009). Descobrindo a Doença de Parkinson: impacto para o parkinsoniano e seu familiar. Revista Brasileira de Enfermagem, 62, 25-31.