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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Como o trauma pode mudar você para melhor

Postado por : Iracema R. O. Freitas



Apesar das pessoas acreditarem que não serão acometidas por eventos traumáticos, como por exemplo, acidentes, doenças, violência e perdas, pesquisas recentes estimam que 75% das pessoas passarão por algum tipo de evento traumático.  Estudos realizados pelos psicólogos Richard Tedeschi e Lawrence Calhoun, identificaram mudanças positivas após os traumas. Em entrevista realizada com mais de  600 pessoas se constatou que boa parte delas relataram  que as suas vidas se tornaram melhores após as experiências traumáticas. Segundo Jim Rendon, as pessoas podem mudar, usando o trauma como um recurso de enfrentamento que as levem refletir e dar novo significado as suas vidas.

« Everyone hopes they’ll avoid the worst life has to offer—accidents, illness, loss or violence. Unfortunately, few of us will get through life unscathed. According to recent PTSD research, 75 percent of people will experience a traumatic event in their lifetime. These traumatic events will inevitably cause great suffering. But it’s not all bad news. Trauma can also be a powerful force for positive change.
In the 1980s two psychologists, Richard Tedeschi and Lawrence Calhoun, at the University of North Carolina, Charlotte, discovered that trauma was changing people in fundamental ways. Some of those changes were negative, but to their surprise, the majority of trauma survivors they interviewed reported that their lives had changed for the better. Survivors of all kinds—they contacted more than 600 people—said they had much greater inner strength than they ever thought, that they were closer to friends and family members, that life had more meaning, or that they were reorienting their lives towards more fulfilling goals.
This mirrored what the pair was hearing from their clients, many of whom had experienced the death of children or suffered from cancer or survived terrible life-altering accidents. The suffering that resulted from these horrible experiences was not an endpoint. Instead it acted as a catalyst, pushing these people to change for the better. In a 1996 paper Tedeschi and Calhoun coined the term post-traumatic growth to describe what they had found.
Since then researchers around the world have begun delving into post-traumatic growth. Studies have found that more than half of all trauma survivors report positive change—far more than report the much better-known post-traumatic stress disorder.
Post-traumatic growth can be transformative. Post-traumatic growth can be powerful. Many people I interviewed for my book told me that despite the physical pain they suffered, the daily struggles they faced, their lives were unquestionably better today than before their traumatic experiences. Trauma sent them on a path they never would have found otherwise.
One woman, a professional extreme skier, was even thankful for a wingsuit flying accident that nearly killer her and almost cost her a leg. She lost her career as an athlete but it opened up an entire part of her identity she never would have known about otherwise. She was forced to change and the change was overwhelmingly positive.
Growth begins with healing from trauma—it is not a free pass to avoid suffering. But, as researchers now know, people have the capacity to do far more than just heal. Given the right environment and mindset, they can change, using the trauma, the suffering and struggle that ensues, as an opportunity to reflect, to search for meaning in their lives, to ultimately become better versions of themselves.

Jim Rendon is the author of Upside: The New Science of Post-Traumatic Growth. »
Link: http://time.com/3967885/how-trauma-can-change-you-for-the-better/

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Crescimento pós-traumático e aplicabilidade em Psicologia da Saúde.

Postado por Danielle Alves Menezes

Referência: Tedeschi R. G. & Calhoun, L. G. (2004): Posttraumatic growth: Conceptual foundations and empirical evidence. International Journal for the Advancement of Psychological Theory, 15 (1), 1-18, doi: 10.1207/s15327965pli1501_01

Crescimento pós-traumático é um conceito relativamente novo, proposto por Tedeschi & Caulhon em 2004, e diz respeito à experiência de mudança psicológica positiva que ocorre como resultado de lutas em momentos altamente desafiadores da vida. Fazendo parte dessas mudanças são relatadas atribuição de maior relevância à vida e a relações interpessoais, vida espiritual e existencial mais rica, mudança de prioridades, aumento da sensação de força pessoal.
As circunstâncias que envolvem crescimento pós-traumático incluem desafios significativos aos recursos adaptativos do indivíduo e implicam ressignificação de formas de ser e estar no mundo, como aqueles que se contituem como traumas ou situações angustiantes (a exemplo do adoecimento). Não se refere a um retorno a um estado psicológico anterior ao evento, mas a uma profunda experiência de mudança positiva.  Ele ocorre concomitantemente a consequências negativas de eventos estressores e às tentativas de adaptação do indivíduo, seja nos aspecto físicos ou emocionais.
Os estudos que relevam mudanças positivas, presente desde os anos 1980,  vão na contramão de uma perspectiva ainda predominante em relevar apenas as experiências negativas, gerando um interesse pelos aspectos psicológicos que permitem que experiências traumáticas se transformem em crescimento pessoal.
O crescimento pós-traumático se difere dos conceitos de resiliência, otimismo, resistência e senso de coerência: o primeiro diz respeito uma habilidade para continuar com a vida após dificuldades e adversidades, ou para continuar a viver de forma organizada, mesmo depois de experimentar dificuldades e adversidades. Otimismo envolve expectativas de resultados positivos para eventos. Resistência consiste em tendências para o empenho, controle e desafio em resposta a eventos de vida. Senso de coerência descreve pessoas que conseguem reagir bem ao estresse, pois o gerenciam ou o enfrentam encontrando um significado importante para eles.
O crescimento pós-traumático é um construto, ligado à descrição de um processo e ao mesmo tempo resultado, refere-se a uma mudança nas pessoas que vai além de uma capacidade para resistir e não ser prejudicado pelas circunstâncias altamente estressoras, e envolve um movimento para além dos níveis anteriores ao trauma de adaptação. Tem, então, uma qualidade de transformação, ou uma mudança qualitativa em funcionamento que envolve mudança de esquemas ao contrário dos conceitos aparentemente semelhantes de resiliência, senso de coerência, otimismo e resistência. Ele não acontece como resultado direto do trauma, que continua sendo percebido como angustiante, mas a reestruturação cognitiva incorporada a esquemas anteriores e a expectativas de eventos futuros (como a mudança de possibilidades de vida futuras).
Características individuais como traços de personalidade, forma de gerenciamento das emoções, suporte social são alguns dos aspectos responsáveis pelos níveis de variabilidade referentes ao construto.
Percebe-se, por fim, que é um construto relevante se formos considerar situações limites ligadas ao adoecimento físico, inaugurando um campo relevante para a Psicologia da Saúde que poderá contribuir para o desenvolvimento de habilidades mais adequadas para o enfrentamento.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Post-traumatic growth as positive personality change: Evidence, controversies and future directions

Postado por Brenda Fernanda

Jayawickreme, E., & Blackie, L. E. R. (2014). Post-traumatic growth as positive personality change: Evidence, controversies and future directions. European Journal of Personality, 28, 312-331. doi: 10.1002/per.1963

Recentemente, tem crescido o interesse em investigar sobre a forma como eventos traumáticos podem funcionar como catalisadores para mudanças positivas na vida. O presente estudo volta-se para o construto do crescimento pós-traumático, que discorre acerca das mudanças psicológicas que acontecem como resultado da luta frente a experiências desafiadoras na vida. Ainda que existam algumas discordâncias sobre o modo como o crescimento pós-traumático se manifesta na vida de um indivíduo, acredita-se que este ocorra através de pelo menos cinco formas: na melhora da relação com o outro, na identificação de novas possibilidades de vida, no aumento da percepção sobre a força pessoal, no crescimento espiritual e maior apreciação da vida.
As principais teorias sobre o crescimento pós-traumático o definem como uma mudança de personalidade, em decorrência das profundas transformações cognitivas pelas quais o indivíduo passa, alterando também seus padrões de comportamento. Os autores ressaltam que essa área ainda sofre de limitações metodológicas e, em função disso, descreveram algumas formas como a ciência da personalidade pode ser enriquecida pelo estudo desse fenômeno.
Algumas evidências são apresentadas sobre o construto, tanto no que diz respeito ao crescimento pós-traumático como um resultado valioso em si mesmo – mensuração de que tal variável de fato existe e sua prevalência –, como em pesquisas que demonstram os importantes resultados promovidos pelo crescimento pós-traumático para o ajustamento do indivíduo. Em relação à primeira opção, existem provas consideráveis ​​de que muitos indivíduos relatam ter experimentado ao menos uma mudança positiva após eventos traumáticos, geralmente demonstrando relacionamentos interpessoais mais fortes e mais íntimos. No que concerne ao potencial resultado clínico significativo do crescimento pós-traumático autorrelatado, foi observado que estudos individuais que incluíram medidas de saúde mental e física revelaram evidências misturadas e inconsistentes, com relações positivas, negativas e nulas entre medidas de crescimento pós-traumático e saúde mental e física relatadas.
Ao longo do texto, os autores discorrem sobre a conceituação do crescimento pós-traumático, mecanismos associados a este construto, mensuração de tal variável, evidências empíricas sobre ele, limitações quanto a seu estudo, explicações alternativas para o crescimento, o que se tem aprendido com as pesquisas, aspectos do construto relacionados à personalidade e a forma como o estudo de tal variável pode enriquecer o campo da psicologia da personalidade. Por fim, discutem sobre a necessidade da realização de mais pesquisas, bem como da maior elaboração destas, focando principalmente em aspectos metodológicos.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Traumas podem trazer mudanças positivas, diz pesquisador

Postado por Gabriela Queiroz

É muito comum pensarmos que situações traumáticas, como a perda de um ente querido, acidentes, ataques terroristas ou outros desastres, podem trazer graves consequências à saúde mental das pessoas que vivenciam tais situações servindo de gatilho para transtornos como o estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. No entanto, na contramão do que é estudado há anos pela psicologia, mas sem desconsiderar tais consequências, surge a Psicologia do Crescimento Pós-traumático, a partir de pesquisas desenvolvidas com sobreviventes de acidentes e ataques terroristas, nas quais foi possível constatar que após estas experiências traumáticas, também era possível observar mudanças positivas, de modo que o trauma passara a oferecer uma nova perspectiva de vida para estas pessoas. É possível afirmar que esta é uma “descoberta” recente, porém relevante, justamente por alertar para uma tendência humana de fazer da dor um impulso para o crescimento pessoal.


“Tragédias naturais, acidentes aéreos, atentados terroristas, assaltos. Estes são alguns exemplos de situações que podem deixar traumas irreparáveis entre os sobreviventes que, muitas vezes, acabam presenciando cenas horríveis e perdendo entes queridos.
Em coluna do jornal britânico Daily Mail, o professor Stephen Joseph discorre sobre o assunto. Ele é co-diretor do Centro de Trauma, Resiliência e Crescimento da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, e esteve envolvido em pesquisas ligadas aos sobreviventes de um dos mais impactantes desastres marítimos do século 20. O acidente com a balsa Herald Of Free, na Bélgica, em 1987, deixou 193 mortos. Alguns meses depois, os advogados dos sobreviventes entraram em contato com o Instituto de Psiquiatria de Londres, pedindo ajuda.
O professor observou que, imediatamente após o desastre, os níveis de sofrimento psicológico estavam altos e muitos sobreviventes desenvolveram desordens pós-traumáticas como memórias angustiantes, pesadelos dificuldades para dormir e de concentração. Como já era de se esperar, muitos lutaram para lidar com isso, e viram seu trabalho e suas relações serem impactadas. Três anos depois, a universidade aplicou uma pesquisa de acompanhamento. Os níveis de sofrimento psicológico tinham baixado, embora muitos deles ainda tivessem que se esforçar bastante.
Além disso, durante o estudo, muitas coisas inesperadas aconteceram, segundo relata Joseph. Ele percebeu que muitos sobreviventes falavam sobre mudanças positivas em suas vidas: o trauma ofereceu uma nova perspectiva. Explorando isso, os pesquisadores envolvidos adicionaram uma nova questão ao questionário: "sua visão sobre a vida mudou depois do desastre - e, se sim, mudou de forma positiva ou negativa?"
Os resultados foram surpreendentes, segundo relata o especialista. Embora 46% disseram que a visão sobre a vida tinha mudado pra pior, 43% afirmaram ter mudado para melhor.” [...]

domingo, 24 de setembro de 2017

Crescimento pós-traumático e fatores relacionados ao pós-operatório de pacientes com câncer de mama.

Postado por Milena Bahiano
Baglama, B., & Atak, I.E. (2015). Posttraumatic Growth and Related Factors among Postoperative Breast Cancer Patients. Procedia- Social and Behavioral Sciences, 140, 448-454. doi: 10.1016/j.sbspro.2015.05.024


Apesar de eventos traumáticos serem causadores de sofrimento físico e psíquico algumas pessoas após vivenciarem tais eventos apresentam reações e mudanças positivas em sua vida. O estudo do crescimento pós-traumático (CPT) tem viabilizado aos pesquisadores o entendimento das reações positivas e os processos de enfrentamento utilizados pelo indivíduo diante da vivência de eventos traumáticos (Baglama & Atak, 2015). Para a psicologia positiva o estudo desse constructo viabiliza uma maior compreensão quanto as respostas positivas do indivíduo aos acontecimentos traumáticos e estressantes da vida.
Segundo Baglama & Atak (2015), o CPT tem sido um dos conceitos mais estudados entre mulheres com câncer de mama. O objetivo do estudo foi avaliar a relação entre o suporte social, esperança disposicional, locus interno-externo de controle e crescimento pós-traumático entre pacientes no pós-operatório de câncer de mama. O estudo foi realizado com 31 mulheres (idade média = 50,48, DP = 11,59) de cidades diferentes da República Turca do norte de Chipre e que se encontravam em tratamento pós-operatório do câncer de mama. Foram utilizados como instrumentos na pesquisa o Posttraumatic Growth Inventory (PTGI), Multidimensional Scale of Perceived Social Support (MSPSS), The Hope Scale (HS) e a Rotter’s Internal-External of Control Scale (IELCS).
Nesse estudo, os resultados mostraram que após a cirurgia as mulheres com câncer de mama apresentaram crescimento pós-traumático. O estudo apresenta três hipóteses e com base nos resultados, duas hipóteses foram confirmadas, enquanto uma delas não se confirmou. De acordo com os resultados, o apoio social (r = 0,47; p = 0,007) e a esperança disposicional (r = 0,47; p = 0,008) desempenham um papel importante no desenvolvimento do CPT. Mulheres com alto apoio social e alta esperança experimentaram níveis mais altos de crescimento pós-traumático. Contudo, não foi encontrado no locus de controle (r = 0,47; p = 0,0241), que é a terceira variável independente do estudo, relação com a experiência de CPT após a operação. O estudo apresenta uma amostra pequena o que pode acarretar problemas sobre a generalização dos resultados e para melhorar o poder estatístico os pesquisadores sugerem amostras maiores na coleta de dados. Em conclusão, a pesquisa tentou demonstrar que, embora o câncer de mama seja traumático e altamente desafiador as mulheres experimentaram crescimento pós-traumático diante do enfrentamento da doença. 

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Ostra feliz não faz pérola – Rubem Alves

Postado por Beatriz Reis

Rubem Alves é pura poesia ao falar, ainda que indiretamente, sobre crescimento pós-traumático. E como hoje é dia de conteúdo criativo no Blog do GEPPS, recorremos a sua grande sensibilidade e as suas lindas palavras para discutirmos um pouco mais sobre o tema do mês.



Ostra feliz não faz pérola.

“Ostras são moluscos, animais sem esqueleto, macias, que representam as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, com pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas – são animais mansos –, seriam uma presa fácil dos predadores. Para que isso não acontecesse, a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem. Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário. Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostras felizes se riam dela e diziam: “Ela não sai da sua depressão...”. Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor. O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de suas aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava seu canto triste, o seu corpo fazia o trabalho – por causa da dor que o grão de areia lhe causava. Um dia, passou por ali um pescador com o seu barco. Lançou a rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-as para casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro de uma ostra. Ele o tomou nos dedos e sorriu de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele a tomou e deu-a de presente para a sua esposa. Isso é verdade para as ostras. E é verdade para os seres humanos. No seu ensaio sobre O nascimento da tragédia grega a partir do espírito da música, Nietzsche observou que os gregos, por oposição aos cristãos, levavam a tragédia a sério. Tragédia era tragédia. Não existia para eles, como existia para os cristãos, um céu onde a tragédia seria transformada em comédia. Ele se perguntou então das razões por que os gregos, sendo dominados por esse sentimento trágico da vida, não sucumbiram ao pessimismo. A resposta que encontrou foi a mesma da ostra que faz uma pérola: eles não se entregaram ao pessimismo porque foram capazes de transformar a tragédia em beleza. A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável. A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas. São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer. Esses são os artistas. Beethoven – como é possível que um homem completamente surdo, no fim da vida, tenha produzido uma obra que canta a alegria? Van Gogh, Cecília Meireles, Fernando Pessoa...”

Referência: Rubem, A. (2008). Ostra feliz não faz pérola.  São Paulo, SP: Planeta do Brasil.



quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Estudo das Características Psicométricas do Posttraumatic Growth Inventory – PGTI – (Inventário de Crescimento Pós-Traumático) para a População Portuguesa.

Postado por Marcelle Leite Mota


Maia, A., Sendas, S., & Resende, C. (2008). Estudo das Características Psicométricas do Posttraumatic Growth Inventory – PGTI – (Inventário de Crescimento Pós-Traumático) para a População Portuguesa. Actas da XIII Conferência Internacional da Avaliação Psicológica: Formas e Contextos. Braga: Psiquilíbrios Edições.

Na perspectiva de diversas religiões e correntes da filosofia, experiências traumáticas podem provocar um crescimento pessoal e desenvolvimento da maturidade. Sendo assim, podem trazer algo de positivo e benéfico. Este foco diferenciado nos fatores salutares vem sendo melhor averiguado pela psicologia positiva. O Crescimento Pós-Traumático (CPT) difere da resiliência onde só há um retorno ao funcionamento psicológico prévio ao trauma, e segundo Tedeschi e Calhoun (1996) configura-se pelas transformações psíquicas positivas percebidas pelo indivíduo, após o confronto psicológico com acontecimentos de vida altamente adversos. Não há uma discriminação quanto ao tipo de acontecimento traumático, apenas que seja severo suficiente para provocar uma ressignificação/reformulação dos esquemas cognitivos. No que se refere à avaliação do Crescimento Pós-Traumático, existem sete instrumentos, sendo o Posttraumatic Growth Inventory (PTGI) de Tedeschi e Calhoun (1996) o mais utilizado internacionalmente. Este inventário é constituído por 21 itens, que se distribuem nos seguintes fatores: “Novas Possibilidades”, “Relação com os Outros”, “Força Pessoal”, “Mudança Espiritual” e “Apreciação da Vida”. Esta configuração pode sofrer algumas alterações quando traduzidos para outros idiomas e populações.
O estudo foi realizado com o objetivo de adaptar e validar o PTGI para a população portuguesa, além de descrever a relação entre o Índice de Crescimento Pós-Traumático e os sintomas de PTSD e de Psicopatologia Geral. O estudo teve uma amostra de 384 sujeitos entre 17-68 anos. Inicialmente foram criadas duas versões do PGTI, a partir destas uma terceira versão foi elaborada e aplicada no estudo piloto, sendo novamente reformulada numa quarta versão que foi comparada com uma tradução direta da PGTI original, afim de verificar a fidedignidade do conteúdo. Esta quarta versão foi aplicada na amostra junto com a Escala de Avaliação da Resposta ao Acontecimento Traumático – E.A.R.A.T. (McIntyre, 1993; McIntyre & Ventura, 1996) e Brief Symptoms Inventory – BSI (Derogatis, 1993; Versão Canavarro, 1995). Os resultados da amostra apontaram uma prevalência de 90,9% que revelou perceber Crescimento Pós-Traumático, 55,8% apresentou de modo parcial estresse pós-traumático e 78,8% não apresentaram sintomas de psicopatologia. Além disso, o estudo indica que o ICPT parece ser uma boa medida para avaliar o crescimento percebido após um acontecimento traumático na população portuguesa. No entanto, diante dos dados obtidos nesta pesquisa, devemos ressaltar como limitação a amostra ser composta apenas por adultos de um centro universitário e de duas pós-graduações.

sábado, 9 de setembro de 2017

O lado bom do lado ruim: Crescimento Pós-Traumático



Postado por Maisa Carvalho



Em múltiplos momentos da vida, vivenciamos situações que nos impactam emocionalmente de forma intensa e nos causam sensação de desajuste, afetando nossa estrutura e algumas crenças diversificadas. Estes traumas podem nos levar a altos níveis de estresse e ansiedade, especialmente em condições que demandem demasiado investimento psíquico e tempo para sua melhora. Não obstante, mesmo causando efeitos negativos, eventos deste tipo podem ocasionar transformações psicológicas relevantes na vida do indivíduo, especialmente no que tange a novas formas de ajustamento e adaptação frente a condições semelhantes, além do surgimento e/ou evolução de aspectos da personalidade que auxiliem nesses processos. O conceito de crescimento pós-traumático – derivado da psicologia positiva – é relacionado e aplicado a estas transformações, sendo esta, uma explicação resumida e prosaica, que consiste em buscar o lado bom do lado ruim dos acontecimentos.
O psicólogo – independente da abordagem terapêutica - é um importante aliado na busca e no incentivo à essas transformações de forma resiliente. Posto que, ao experienciarmos situações de difícil adaptação, nem sempre conseguimos encontrar sozinhos, aspectos positivos e encará-los de forma saudável. 

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Correlatos valorativos do crescimento pós-traumático em uma amostra brasileira

Postado por Iracema R. O. Freitas

Medeiros, E. D.,  Couto,R. N., Fonseca, P. N., Brito, R. C .S., Castro, L. S.(2016). Correlatos valorativos do crescimento pós-traumático em uma amostra brasileira. Psicologia e Saber Social, 5(2), 112-125. doi: 10.12957

O Crescimento Pós-Traumático é um construto que tem sido estudado pela Psicologia Positiva com o objetivo de avaliar como  os eventos estressores ou as crises vivenciadas por cada pessoa as afeta de forma diferenciada. A Psicologia Positiva investiga as respostas favoráveis frente aos eventos traumáticos, ou seja, analisa a habilidade de uma reorganização cognitiva que permita um enfrentamento e superação do fenômeno causador de sofrimento (trauma ou estresse). Osei-Bonsu, Weaver, Eisen e Wal, Calhoun e Tedeschi (2012) relatam que desde 1960 havia evidências da existência de mudanças psicológicas positivas após experiências de alto stress. Tais mudanças psicológicas positivas foram posteriormente categorizadas em cinco domínios: (1) aumento da apreciação de vida no geral; (2) relações interpessoais mais significativas; (3) aumento do sentimento de força pessoal; (4) mudanças de prioridades; e (5) uma vida espiritual e existencial mais rica. Algumas variáveis sociodemográficas relacionadas ao CPT sugerem que pessoas com níveis de escolaridade mais elevados, os mais jovens e as mulheres experimentam maior crescimento após vivencias traumáticas. São fatores relevantes na previsão do CPT: os traços de personalidade, como a extroversão e a abertura à experiência, a gratidão, o apoio social, crenças religiosas e espirituais. Segundo a teoria de valores humanos de Rokeach (1973), os valores apresentam dois eixos e geram seis subfunções que são: social (interativa e normativa), central (suprapessoal e existência) e pessoal (experimentação e realização), e os tipos de motivadores: idealista (interativa, suprapessoal e experimentação) e materialista (normativa, existência e realização).
O estudo realizado com o objetivo de verificar a relação existente entre o Crescimento Pós-Traumático e os valores humanos teve  uma amostra de 212 pessoas de cidades do nordeste brasileiro com idades variando entre 18-86 anos, utilizou as escalas Life Stressor Checklist-Revised (L.S.C.-R.) de Wolfe, Kimerling, Brown, Chresman e Levin (1996), Posttraumatic Growth Inventory (PTGI), Questionário de Valores Básicos (QVB; Gouveia, 2003; Gouveia, Milfont, Fischer, & Santos, 2008), Questões sociodemográficas. Os resultados apontam maior incidência de morte, acidente, violência, abuso emocional e problemas financeiros graves como os eventos de maior magnitude traumática. As mudanças positivas experimentadas pela amostra tiveram maior relevância estatística com  relação aos Valores Humanos na  subfunção existência que alcançou as cinco dimensões do CPT(relação com os outros (r = 0,16; p < 0,05); novas possibilidades (r = 0,14; p < 0,14); mudança pessoal (r = 0,14; p < 0,05); mudança espiritual (r = 0,15; p < 0,05) e apreciação da vida (r = 0,15; p < 0,05). Diante dos dados é possível verificar que as crenças desestruturadas  após um  evento adverso passam a ser reelaboradas favorecendo a reestruturação dos esquemas cognitivos, processo que facilita o desenvolvimento do fenômeno CPT.