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sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Psicologia neonatal: Teorias e prática

Postado por Brenda Fernanda

Adamson-Macedo, E. N. (2016). Psicologia neonatal: Teorias e prática. Journal of Human Growth and Development, 26(2), 129-132. doi:10.7322/jhgd.119236

Neonatologia é uma subdisciplina da medicina que se refere aos cuidados médicos com o recém-nascido, sendo que um cuidado especial é dado aos recém-nascidos de risco ou prematuros. É também uma especialidade praticada no hospital e geralmente acontece na unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN). O presente artigo discorre sobre a experiência da Psicologia dentro da Neonatologia, bem como sobre a importância da assistência psicológica aos bebês e suas mães.
A Neonatologia ganhou força entre as décadas de 70 e 80, trazendo à luz a importância de unir os conhecimentos e experiências da equipe de saúde, psicólogos e pais, visando a melhorar a qualidade dos cuidados físicos e psicológicos do recém-nascido, principalmente nos casos de prematuros que estão hospitalizados.
A autora define a Psicologia Neonatal como “o estudo científico dos fenômenos da vida mental e o comportamento do prematuro como um sistema emergente, coacional e hierárquico”. Ressalta-se que, na década de 90, com o estabelecimento da Psicologia da Saúde, redefiniu-se a psicologia neonatal em Psicologia da Saúde Neonatal (PSN), passando-se a conceituá-la como “o estudo científico dos processos biopsicosociais e comportamentais nos cuidados da saúde em estado saudável e em doenças do recém-nascido durante seus primeiros 28 dias de vida e a relação desses processos com o desenvolvimento posterior”.
Cita-se que para avaliar a qualidade dos cuidados em Neonatologia, existem três áreas que abrangem a PSN: 1) avaliação: procedimentos e métodos de diagnóstico; 2) programas de intervenção que visem à nutrição sensorial do bebê, o apoio à família e aos profissionais da saúde que cuidam do bebê; 3) propostas de paradigmas novos.
Por fim, ressalta-se a necessidade de se oferecer cuidados psicológicos de qualidade desde o nascimento. Além disso, é pontuado que há ainda muito a se fazer para promover a formação de psicólogos neonatais, visando à promoção da saúde e desenvolvimento adequado de prematuros hospitalizados.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O papel da psicologia no cuidado de crianças com microcefalia.

Postado por Danielle Alves Menezes

A microcefalia não é uma doença e sim uma condição neurológica em que a medida da circunferência craniana do bebê é menor que o normal. Essa medida (que para crianças nascidas a termo foi padronizada para 32 cm e para crianças com microcefalia, 28 cm, além de estar abaixo dos desvios padrão na tabela Fenton) faz referência ao processo dinâmico e contínuo de maturação cerebral e desenvolvimento do sistema nervoso (entenda melhor neste vídeo: https://tv.uol/13so8)
Alterações do sistema nervoso associadas à microcefalia surgem quando, no período neonatal, há a presença de alguns fatores de risco, tais como: prematuridade, condições genéticas, infecções maternas durante o período gestacional, erros de metabolismo (como hipertireoidismo congênito), asfixia perinatal e distúrbios metabólicos (hipoglicemia). Além desses fatores, desde 2016, pesquisas têm encontrado fortes indícios da correlação entre o zika vírus e alterações típicas. Embora tenha sido descoberto em 1947, o zika vírus não chamava atenção porque era raro e se pensava que ele causava apenas sintomas leves. Atualmente a Organização Mundial da Saúde declarou emergência global, tendo em vista sua disseminação rápida e forte vinculação com danos neurológicos. A revista Science demonstrou em um artigo publicado em setembro deste ano o potencial do vírus em favorecer mutações em proteínas essenciais para o desenvolvimento do feto (confira o artigo na íntegra em http://science.sciencemag.org/content/early/2017/09/27/science.aam7120.full).
As alterações afetam a fala, audição, visão, cognição e a motricidade, fazendo com que as crianças não atinjam marcos importantes do desenvolvimento. Por exemplo, crianças com microcefalia podem apresentar perdas auditivas de diferentes graus e tipos e/ou atraso nas habilidades auditivas, baixa visão, demora para andar e falar.
Diante da complexidade do quadro, é desnecessário ressaltar que o trabalho deve ser multidisciplinar para que o cuidado da criança seja feito de forma integral. Mas, com relação à psicologia propriamente, quais as possibilidades de atuação? Primeiramente, é importante observar três aspectos: os cognitivos, motores e afetivos. Os dois primeiros podem ser trabalhados diretamente com a criança, a partir da estimulação precoce; o aspecto afetivo depende de um trabalho efetivo com a família, oportunidade em que a relações são constantemente avaliadas.
Na estimulação precoce, o desenvolvimento de habilidades motoras, auditivas, visuais, táteis e cognitivas é realizado a partir de estratégias lúdicas planejadas e adequadas às necessidades e à faixa etária da criança (confira a cartilha “Brincar para todos”, disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/brincartodos.pdf ).
Outra faceta do trabalho com a estimulação precoce é a possibilidade de estreitar a vinculação dos familiares com a criança, o que é feito inserindo-os nas sessões de forma que eles participem e percebam avanços das crianças e para que eles possam se empoderar do cuidado delas.
Esse também é um momento delicado para os familiares e, por essa razão, a Organização Mundial de Saúde lançou, em 2016, um guia de apoio psicossocial a mulheres grávidas e famílias com microcefalia e outras complicações neurológicas no contexto do zika vírus. Dentre as recomendações estão a importância de oferecer informações precisas sobre a doença e suas consequências, incentivar para que as mães se envolvam e convidem uma pessoa de confiança para sessões de acompanhamento, realizar uma comunicação de apoio, prestar apoio psicossocial básico (que significa perguntar sobre suas necessidades e preocupações, e tentar ajudar a resolvê-las), ajudar os familiares a decidir de que forma querem fortalecer seu suporte social, incentivar o enfrentamento por meio da resolução de problemas, desencorajar o uso de tabaco, álcool e drogas como uma maneira de lidar com a situação, incentivar o enfrentamento positivo e ensinar a gerenciar o estresse (confira como em http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/204492/5/WHO_ZIKV_MOC_16.6_por.pdf).



Referências

Ministério da Saúde (2016). Programa de estimulação precoce. Brasília, DF.
Organização Mundia de Saúde (2016). Apoio Psicossocial para mulheres grávidas e famílias com microcefalia e outras complicações neurológicas no contexto do zika vírus: Guia preliminar para provedores de cuidados à saúde. Genebra, Suíça. Retrieved from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/204492/5/WHO_ZIKV_MOC_16.6_por.pdf
Yuan, L., Huang, X.-Y., Liu, Z.-Y., Zhang, F., Zhu, X.-L., Yu, J.-Y., … Qin, C.-F. (2017). A single mutation in the prM protein of Zika virus contributes to fetal microcephaly. Science. https://doi.org/10.1126/science.aam7120

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Bebês e crianças podem sofrer com doença mental, se não receberem tratamento

Postado por Danielle Alves Menezes

Bebês e crianças podem sofrer graves distúrbios de saúde mental, mas em geral não são uma população suscetível de receber tratamento. Atitude contrária poderia evitar o surgimento de problemas no desenvolvimento, de acordo com pesquisa publicada pela American Psychological Association (APA). O perfil que associa idade mais tenra, pobreza e histórico de abuso enfrentam maior risco.
Uma barreira aos cuidados de saúde mental para crianças pequenas é “a difundida, mas equivocada, impressão de que as crianças não desenvolvem problemas de saúde mental e são imunes aos efeitos de traumas, de acordo com pesquisadores Joy D. Osofsky, PhD, da Universidade Estadual da Louisiana, e Alicia F. Lieberman, PhD, da Universidade da Califórnia, em San Francisco.
Contrariamente às crenças tradicionais de que as crianças não podem ter problemas de saúde mental “porque eles não têm vida mental”, até mesmo crianças pequenas podem reagir ao significado das intenções e emoções, pois elas têm suas próprias intenções rudimentares e emoções, de acordo com um artigo de Tronick e Marjorie Beeghly, PhD, da Wayne State University. O trauma pode ser um fator significativo no desenvolvimento de problemas de saúde mental, por isso os autores incentivam mais estudos sobre o impacto da vida cotidiana e interações contínuas entre crianças e pais ou outros cuidadores.
“As crianças elaboram sentido sobre si mesmas e sobre sua relação com o mundo de pessoas e coisas,”  afirmam Tronick e Beeghly, e quando essa “apropriação se dá de maneira danosa, pode levar ao desenvolvimento de problemas de saúde mental”. “Algumas crianças podem desenvolver o sentido de impotência e desesperança, podendo se tornar apáticas, deprimidas e retraídas. Outras podem se sentir ameaçadas pelo mundo e, por isso, tornarem-se hiper vigilantes e ansiosas.
Porque a saúde mental na primeira infância é alvo de poucos estudos, muitas vezes é difícil para os pais ou programas infantis encontrar suporte quando necessário, de acordo com Osofsky e Lieberman. Entretanto, muitas vezes esse cuidado não consegue ser ampliado pelo fato de que “as crianças mais novas, desde o nascimento até 5 anos de idade, sofrem desproporcionalmente altas taxas de maus tratos com consequências a longo prazo para a saúde física e mental, saúde pediátrica e os cuidadores raramente identificam ou procuram serviços de saúde mental”, de acordo com Osofsky e Lieberman. O estudo cita o Departamento de Saúde e Serviços Humanos estatísticas de 2008 e 2010 do Estados Unidos mostrando que 79,8% das crianças que morreram por conta de abuso e negligência tinham menos de 4 anos de idade, e que o primeiro ano de vida é o mais perigoso. O documento também examina o impacto da pobreza e salienta que estudos anteriores revelaram que “uma em cada cinco crianças em situação de pobreza tem um distúrbio de saúde mental diagnosticável”.
Com o objetivo de solucionar a questão, pesquisadores recomendam, sobretudo, melhora de estratégias de rastreio precoce para bebês e crianças com a finalidade de detectar problemas de saúde mental (como distúrbios de relacionamento, depressão e problemas de auto-regulação) e formar profissionais na área da saúde mental, pediatria, entre outras relacionadas para reconhecer os fatores de risco.



Fonte: http://www.apa.org/news/press/releases/2011/02/babies-mental-illness.aspx