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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Transtornos de ansiedade em crianças: da neurociência à prática clínica baseada em evidência

Postado por Danielle Alves Menezes

Salum, G. A., Desousa, D. A., do Rosário, M. C., Pine, D. S., & Manfro, G. G. (2013). Pediatric anxiety disorders: from neuroscience to evidence-based clinical practice. Revista Brasileira De Psiquiatria (Sao Paulo, Brazil: 1999), 35 Suppl 1, S03-21. https://doi.org/10.1590/1516-4446-2013-S108

O artigo é uma revisão de literatura que tem por objetivo descrever a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, diagnóstico e tratamento de transtornos de ansiedade no âmbito da pediatria.
Quanto aos aspectos epidemiológicos, chama atenção a grande variabilidade de dados encontrados, por razões metodológicas dos artigos e por questões interculturais, as quais dizem respeito a crenças culturais e consideração do que seja fator de risco, ambos interferentes no processo de ansiedade. Entretanto, há uma estimativa de que prevalência global de qualquer transtorno de ansiedade na faixa etária de 3 a 17 anos, ajustado por diferenças de fatores metodológicos, seja de 7,2%, sendo os mais precoces na infância a ansiedade de separação e transtorno de pânico (entre 5 e 8 anos de idade). Dos adultos que possuem transtono de ansiedade, de 60 a 80% relataram sintomas ainda na infância. Apesar disso, sabe-se que o curso natural da sintomatologia é variável, podendo inclusive diminuir ao longo do tempo. Dados ainda mostram que um terço das crianças possuem remissão espontânea a longo prazo, outra terça parte persiste com o mesmo quadro e uma terça parte se desenvolve com co-moribidades, principalmente depressão maior. Estão associados a um curso desfavorável: sexo feminino, severidade dos sintomas, duração da doença, idade precoce, evasão escolar grave em razão de déficits, história parental de psicopatologia e temperamento inibido.
No que diz respeito aos fatores genéticos, atualmente há um grande volume de pesquisas em neurociência que já atestam grupos específicos aliados a uma interação ainda complexa e não totalmente desvendada com o ambiente, em especial o escolar e familiar super protetor. Correlatos neurais estão associados às funções de processamento de informações envolvidas no processamento emocional (em particular de processamento de ameaça) e controle cognitivo. Os autores destacam ainda um conjunto de processos mentais disfuncionais que  podem ser classificados em cinco grupos de funções de processamento de informações: 1) interações com atenção voltada para ou afastar-se de ameaças; 2) tendência para classificar e responder a estímulos neutros ou inofensivos como se fossem perigosos; 3) processos de memória e de aprendizagem recrutados em associações entre estímulos seguros e perigosos, como aprendizagem por observação de respostas parentais a certos estímulos; 4) processos de avaliação social (uma tendência para as crianças ansiosas se preocuparem com a avaliação dos pares); 5) maior sensibilidade às recompensas (uma tendência para as crianças ansiosas alterarem mais fortemente seu comportamento ao tentar obter recompensas). Este conjunto de achados sugerem que os transtornos de ansiedade envolvem processos disfuncionais em vários processos emocionais e cognitivos. Cada um desses processos, por sua vez, é regulado por várias regiões cerebrais tais como: a amígdala, várias porções do córtex pré-frontal particularmente os ventrolateral e dorsomedial divisões e disfunções nos gânglios basais.
Vale destacar que, no diagnóstico dos transtornos de ansiedade na infância é crucial a variação da expressão desses sintomas em frequência, intensidade, duração e/ ou a interferência em funcionamento. A figura abaixo resume de forma interessante aspectos diagnósticos citados no artigo.





sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Desmistificando o Transtorno de Ansiedade

Postado por Danielle Alves Menezes


O Crash Course Psychology é um canal de vídeos do Youtube dedicado a apresentar de maneira clara, simples e didática, temas complexos da psicologia. O vídeo “OCD & Anxiety Disorders” não foge à regra, esclarecendo de maneira científica e interessante termos que atualmente beiram à banalização.

O vídeo destaca que os transtornos de ansiedade são um “padrão angustiante de pensamentos, sentimentos e comportamentos que interfere em nossa habilidade de agir de maneira saudável”. 



sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Psicologia neonatal: Teorias e prática

Postado por Brenda Fernanda

Adamson-Macedo, E. N. (2016). Psicologia neonatal: Teorias e prática. Journal of Human Growth and Development, 26(2), 129-132. doi:10.7322/jhgd.119236

Neonatologia é uma subdisciplina da medicina que se refere aos cuidados médicos com o recém-nascido, sendo que um cuidado especial é dado aos recém-nascidos de risco ou prematuros. É também uma especialidade praticada no hospital e geralmente acontece na unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN). O presente artigo discorre sobre a experiência da Psicologia dentro da Neonatologia, bem como sobre a importância da assistência psicológica aos bebês e suas mães.
A Neonatologia ganhou força entre as décadas de 70 e 80, trazendo à luz a importância de unir os conhecimentos e experiências da equipe de saúde, psicólogos e pais, visando a melhorar a qualidade dos cuidados físicos e psicológicos do recém-nascido, principalmente nos casos de prematuros que estão hospitalizados.
A autora define a Psicologia Neonatal como “o estudo científico dos fenômenos da vida mental e o comportamento do prematuro como um sistema emergente, coacional e hierárquico”. Ressalta-se que, na década de 90, com o estabelecimento da Psicologia da Saúde, redefiniu-se a psicologia neonatal em Psicologia da Saúde Neonatal (PSN), passando-se a conceituá-la como “o estudo científico dos processos biopsicosociais e comportamentais nos cuidados da saúde em estado saudável e em doenças do recém-nascido durante seus primeiros 28 dias de vida e a relação desses processos com o desenvolvimento posterior”.
Cita-se que para avaliar a qualidade dos cuidados em Neonatologia, existem três áreas que abrangem a PSN: 1) avaliação: procedimentos e métodos de diagnóstico; 2) programas de intervenção que visem à nutrição sensorial do bebê, o apoio à família e aos profissionais da saúde que cuidam do bebê; 3) propostas de paradigmas novos.
Por fim, ressalta-se a necessidade de se oferecer cuidados psicológicos de qualidade desde o nascimento. Além disso, é pontuado que há ainda muito a se fazer para promover a formação de psicólogos neonatais, visando à promoção da saúde e desenvolvimento adequado de prematuros hospitalizados.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O papel da psicologia no cuidado de crianças com microcefalia.

Postado por Danielle Alves Menezes

A microcefalia não é uma doença e sim uma condição neurológica em que a medida da circunferência craniana do bebê é menor que o normal. Essa medida (que para crianças nascidas a termo foi padronizada para 32 cm e para crianças com microcefalia, 28 cm, além de estar abaixo dos desvios padrão na tabela Fenton) faz referência ao processo dinâmico e contínuo de maturação cerebral e desenvolvimento do sistema nervoso (entenda melhor neste vídeo: https://tv.uol/13so8)
Alterações do sistema nervoso associadas à microcefalia surgem quando, no período neonatal, há a presença de alguns fatores de risco, tais como: prematuridade, condições genéticas, infecções maternas durante o período gestacional, erros de metabolismo (como hipertireoidismo congênito), asfixia perinatal e distúrbios metabólicos (hipoglicemia). Além desses fatores, desde 2016, pesquisas têm encontrado fortes indícios da correlação entre o zika vírus e alterações típicas. Embora tenha sido descoberto em 1947, o zika vírus não chamava atenção porque era raro e se pensava que ele causava apenas sintomas leves. Atualmente a Organização Mundial da Saúde declarou emergência global, tendo em vista sua disseminação rápida e forte vinculação com danos neurológicos. A revista Science demonstrou em um artigo publicado em setembro deste ano o potencial do vírus em favorecer mutações em proteínas essenciais para o desenvolvimento do feto (confira o artigo na íntegra em http://science.sciencemag.org/content/early/2017/09/27/science.aam7120.full).
As alterações afetam a fala, audição, visão, cognição e a motricidade, fazendo com que as crianças não atinjam marcos importantes do desenvolvimento. Por exemplo, crianças com microcefalia podem apresentar perdas auditivas de diferentes graus e tipos e/ou atraso nas habilidades auditivas, baixa visão, demora para andar e falar.
Diante da complexidade do quadro, é desnecessário ressaltar que o trabalho deve ser multidisciplinar para que o cuidado da criança seja feito de forma integral. Mas, com relação à psicologia propriamente, quais as possibilidades de atuação? Primeiramente, é importante observar três aspectos: os cognitivos, motores e afetivos. Os dois primeiros podem ser trabalhados diretamente com a criança, a partir da estimulação precoce; o aspecto afetivo depende de um trabalho efetivo com a família, oportunidade em que a relações são constantemente avaliadas.
Na estimulação precoce, o desenvolvimento de habilidades motoras, auditivas, visuais, táteis e cognitivas é realizado a partir de estratégias lúdicas planejadas e adequadas às necessidades e à faixa etária da criança (confira a cartilha “Brincar para todos”, disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/brincartodos.pdf ).
Outra faceta do trabalho com a estimulação precoce é a possibilidade de estreitar a vinculação dos familiares com a criança, o que é feito inserindo-os nas sessões de forma que eles participem e percebam avanços das crianças e para que eles possam se empoderar do cuidado delas.
Esse também é um momento delicado para os familiares e, por essa razão, a Organização Mundial de Saúde lançou, em 2016, um guia de apoio psicossocial a mulheres grávidas e famílias com microcefalia e outras complicações neurológicas no contexto do zika vírus. Dentre as recomendações estão a importância de oferecer informações precisas sobre a doença e suas consequências, incentivar para que as mães se envolvam e convidem uma pessoa de confiança para sessões de acompanhamento, realizar uma comunicação de apoio, prestar apoio psicossocial básico (que significa perguntar sobre suas necessidades e preocupações, e tentar ajudar a resolvê-las), ajudar os familiares a decidir de que forma querem fortalecer seu suporte social, incentivar o enfrentamento por meio da resolução de problemas, desencorajar o uso de tabaco, álcool e drogas como uma maneira de lidar com a situação, incentivar o enfrentamento positivo e ensinar a gerenciar o estresse (confira como em http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/204492/5/WHO_ZIKV_MOC_16.6_por.pdf).



Referências

Ministério da Saúde (2016). Programa de estimulação precoce. Brasília, DF.
Organização Mundia de Saúde (2016). Apoio Psicossocial para mulheres grávidas e famílias com microcefalia e outras complicações neurológicas no contexto do zika vírus: Guia preliminar para provedores de cuidados à saúde. Genebra, Suíça. Retrieved from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/204492/5/WHO_ZIKV_MOC_16.6_por.pdf
Yuan, L., Huang, X.-Y., Liu, Z.-Y., Zhang, F., Zhu, X.-L., Yu, J.-Y., … Qin, C.-F. (2017). A single mutation in the prM protein of Zika virus contributes to fetal microcephaly. Science. https://doi.org/10.1126/science.aam7120

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Bebês e crianças podem sofrer com doença mental, se não receberem tratamento

Postado por Danielle Alves Menezes

Bebês e crianças podem sofrer graves distúrbios de saúde mental, mas em geral não são uma população suscetível de receber tratamento. Atitude contrária poderia evitar o surgimento de problemas no desenvolvimento, de acordo com pesquisa publicada pela American Psychological Association (APA). O perfil que associa idade mais tenra, pobreza e histórico de abuso enfrentam maior risco.
Uma barreira aos cuidados de saúde mental para crianças pequenas é “a difundida, mas equivocada, impressão de que as crianças não desenvolvem problemas de saúde mental e são imunes aos efeitos de traumas, de acordo com pesquisadores Joy D. Osofsky, PhD, da Universidade Estadual da Louisiana, e Alicia F. Lieberman, PhD, da Universidade da Califórnia, em San Francisco.
Contrariamente às crenças tradicionais de que as crianças não podem ter problemas de saúde mental “porque eles não têm vida mental”, até mesmo crianças pequenas podem reagir ao significado das intenções e emoções, pois elas têm suas próprias intenções rudimentares e emoções, de acordo com um artigo de Tronick e Marjorie Beeghly, PhD, da Wayne State University. O trauma pode ser um fator significativo no desenvolvimento de problemas de saúde mental, por isso os autores incentivam mais estudos sobre o impacto da vida cotidiana e interações contínuas entre crianças e pais ou outros cuidadores.
“As crianças elaboram sentido sobre si mesmas e sobre sua relação com o mundo de pessoas e coisas,”  afirmam Tronick e Beeghly, e quando essa “apropriação se dá de maneira danosa, pode levar ao desenvolvimento de problemas de saúde mental”. “Algumas crianças podem desenvolver o sentido de impotência e desesperança, podendo se tornar apáticas, deprimidas e retraídas. Outras podem se sentir ameaçadas pelo mundo e, por isso, tornarem-se hiper vigilantes e ansiosas.
Porque a saúde mental na primeira infância é alvo de poucos estudos, muitas vezes é difícil para os pais ou programas infantis encontrar suporte quando necessário, de acordo com Osofsky e Lieberman. Entretanto, muitas vezes esse cuidado não consegue ser ampliado pelo fato de que “as crianças mais novas, desde o nascimento até 5 anos de idade, sofrem desproporcionalmente altas taxas de maus tratos com consequências a longo prazo para a saúde física e mental, saúde pediátrica e os cuidadores raramente identificam ou procuram serviços de saúde mental”, de acordo com Osofsky e Lieberman. O estudo cita o Departamento de Saúde e Serviços Humanos estatísticas de 2008 e 2010 do Estados Unidos mostrando que 79,8% das crianças que morreram por conta de abuso e negligência tinham menos de 4 anos de idade, e que o primeiro ano de vida é o mais perigoso. O documento também examina o impacto da pobreza e salienta que estudos anteriores revelaram que “uma em cada cinco crianças em situação de pobreza tem um distúrbio de saúde mental diagnosticável”.
Com o objetivo de solucionar a questão, pesquisadores recomendam, sobretudo, melhora de estratégias de rastreio precoce para bebês e crianças com a finalidade de detectar problemas de saúde mental (como distúrbios de relacionamento, depressão e problemas de auto-regulação) e formar profissionais na área da saúde mental, pediatria, entre outras relacionadas para reconhecer os fatores de risco.



Fonte: http://www.apa.org/news/press/releases/2011/02/babies-mental-illness.aspx

sábado, 28 de outubro de 2017

Psoríase: Campanha de conscientização nacional, mitos e aspectos psicológicos associados

Postado por Brenda Fernanda

Outubro é o mês da Campanha Nacional de Conscientização da Psoríase e a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) programou uma série de ações para informar sobre a doença. O foco especial da campanha é ressaltar as perspectivas de tratamento da psoríase para uma melhor qualidade de vida dos pacientes. Apesar de ser uma doença crônica, sem cura, existe tratamento para a psoríase, sendo possível mantê-la sob controle.
A SBD reforça que, com tratamento adequado e realizado por médicos dermatologistas, é possível que o paciente consiga mudar a forma de encarar a sua doença, vivenciando melhor as situações do dia-a-dia.
Em decorrência dos aspectos emocionais relacionados com o aparecimento e o exacerbação das lesões da psoríase, em alguns casos é indicado o acompanhamento também por psicólogos e/ou psiquiatras.
O diagnóstico correto e o acesso à informação são fundamentais para combater o preconceito e o estigma associados à psoríase. Além disso, o apoio de familiares e de pessoas próximas também são peças-chave para que o paciente aprenda a se cuidar e a manejar sua doença de forma adequada.

Fonte: http://www.sbd.org.br/psoriasetemtratamento/campanha/




sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Precisamos falar sobre Psoríase!

Postado por Gabriela Queiroz

No dia 29 de Outubro é celebrado internacionalmente o Dia Mundial da Psoríase. Com a aproximação desta data, torna-se ainda mais importante falar um pouco sobre esta dermatose e seu impacto na vida das pessoas que precisam lidar com a doença.
A psoríase é uma doença inflamatória de pele, sistêmica de base genética, não contagiosa e de caráter crônico, que em geral acomete as extremidades do corpo, como mãos, pés, joelhos, cotovelos e couro cabeludo, mas que pode atingir outras regiões. Trata-se de uma enfermidade incurável, que atinge cerca de cinco milhões de brasileiros e seus principais sintomas são extensas lesões vermelhas e descamativas pelo corpo que causam coceira constante. Infelizmente, devido à falta de conhecimento da população às pessoas que tem a doença sofrem com olhares estranhos nas ruas e sentem vergonha da aparência de suas peles, sentimentos estes que geram sérios impactos em seus ambientes de trabalho, lazer e principalmente em suas relações pessoais.
Um fator de relevância para o surgimento ou agravamento da doença é o estresse. A doença considerada multifatorial, de causa que não é completamente conhecida, sofre com interações de componentes genéticos, autoimunes e emocionais. De acordo com a dermatologista Tathya Taranto, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) o estresse é um gatilho e pode tanto começar quanto perpetuar uma psoríase sendo um dos fatores principais de desenvolvimento da doença. Por isso, além do dermatologista é importante o acompanhamento de um psiquiatra ou psicólogo no processo de tratamento.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa em Felicidade da Dinamarca 54% das mulheres com psoríase sofrem com os impactos da doença em seu cotidiano, ao passo que 28% dos homens tem essa percepção. Esta pesquisa também revela o impacto negativo da doença na felicidade das pessoas com psoríase a partir de um relatório global produzido em 184 países e com mais de 120 mil entrevistados. No índice mundial, o Brasil classifica-se como o quarto país mais feliz do mundo, no entanto cerca de 69% acreditam que não há conscientização pública suficiente sobre a doença. 



Instituto de Pesquisa em Felicidade da Dinamarca e Dermatologistas entrevistados.

Fonte: http://hojeemdia.com.br/horizontes/psor%C3%ADase-atinge-2-da-popula%C3%A7%C3%A3o-brasileira-e-afeta-a-felicidade-de-quem-tem-a-doen%C3%A7a-1.568265

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Psicodermatologia: como pele e emoções se relacionam?

Postado: Gabriela de Queiroz Cerqueira Leite


A psicodermatologia é um campo de estudo que reúne todos os aspectos de como a mente e o corpo se relacionam quanto ao início e ao progresso de doenças da pele. Os fatores psicológicos têm sido associados à doenças dermatológicas de diversas maneiras, desta forma, há uma subdivisão de grupos de doenças psicodermatológicas através da qual, torna-se evidente o tipo de relação existente entre as doenças de pele e as condições psicológicas, a tabela abaixo apresenta de forma resumida a definição de cada grupo e exemplos de doenças que neles se enquadram:


Grupos
Definição
Doenças
Transtornos Psiquiátricos Secundários
Doenças de pele que podem levar a problemas emocionais, como quadros de isolamento social e depressão.
Albinismo
Alopecia areata
Vitiligo

Dermatoses influenciadas pelo estado emocional
A condição de pele desenvolve-se e é exacerbada por condições emocionais como estresse.
Acne
Dermatite atópica
       Psoríase
Transtornos Psiquiátricos Primários
Não há doença primária de pele e todas as manifestações cutâneas são auto induzidas.
Transtorno Obsessivo-compulsivo
        Transtorno Somatoformes
Lesões dermatológicas por uso de psicotrópicos
As condições dermatológicas são consequências do uso de drogas psicotrópicas
Antipsicóticos
Antidepressivos
Ansiolíticos

          
Há uma estimativa de que 40% a 80% dos pacientes em tratamento num ambulatório dermatológico experimentam problemas psicológicos ou psiquiátricos significativos, com isto foi possível constatar alguns fatores que podem estar relacionados à este índice. 
Em primeiro lugar a visibilidade da doença pode chamar a atenção das pessoas de maneira negativa, e isto gera sofrimento, uma vez que não há como o paciente controlar quem sabe sobre sua condição, nem quando saberão. Em segundo lugar, há um sofrimento associado a mitos que relacionam a doença de pele à falta de higiene e contágio, o que gera estigmas e dificulta a interação social. Um último e terceiro ponto, diz respeito ao caráter episódico e progressivo de muitas destas doenças, o que requer constante adaptação do paciente às mudanças em sua aparência e faz com que apresentem autoestima mais baixa do que a população em geral, além de outros problemas emocionais e psicossociais.
Com base no apresentado é possível perceber o quanto a pele pode expressar emoções e sentimentos, bem como a necessidade de se estudar tais doenças sob diferentes pontos de vistas, como propõe a psicodermatologia: unir conhecimentos de dermatologistas, psiquiatras e psicólogos a fim de oferecer tratamentos mais completos à pessoas que sofrem com tais distúrbios.

Taborda, M. V. V., Weber, M. B., & Freitas, E. S. (2005). Avaliação da prevalência de sofrimento psíquico em pacientes com dermatoses do espectro dos transtornos psicocutâneos. Anais Brasileiros de Dermatologia80(4), 351-354. doi.org/10.1590/S0365-05962005000400004
Walker C, Papadopoulos L. (2005). Psychodermatology: The psychological impact of skin disorders. Cambridge: Cambridge University Press.
            

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Lúpus na Infância

Postado por Danielle Alves Menezes

Fonte: https://br.guiainfantil.com/materias/saude/doencas-da-infancialupus-em-criancas-e-adolescentes/

“O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença autoimune crônica, um tipo de patologia que se produz por um transtorno no nosso sistema de defesa, de tal forma que os anticorpos atacam os tecidos e os órgãos.  Afeta em maior número as mulheres, africanos e asiáticos, e possui uma prevalência entre 4 e 250 casos em cada 100.000 habitantes. Além disso, os filhos de pais que sofrem de lúpus têm 10% mais possibilidades de sofrer também da doença.  O lúpus não pode ser considerado uma doença própria da infância, sobretudo em menores de cinco anos, mas na realidade mais crianças e adolescentes sofrem da doença do que se acredita. A Lupus Foundation of America estima que até 10.000 crianças sofram dessa doença nos Estados Unidos, cerca de 3.000 na Argentina, e em cifras do Instituto Ferran de Reumatologia de Barcelona (IFR), 1.000 casos são diagnosticados na Espanha.  No Brasil, segundo a Associação Brasileira de Pacientes com Lúpus (ABRALES), existe uma média de duas mil pessoas com lúpus a cada dez mil habitantes, e segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, 20% dos doentes são da faixa etária até 16 anos. A doença costuma se manifestar após os 17 anos. Atualmente se desconhece a origem dessa doença, inclusive em muitas ocasiões se confunde com outras doenças como esclerose múltipla ou artrite reumatoide”.

Crianças que sofrem de lúpus apresentam sintomas muito diversos. Dentre eles, os mais frequentes são dores musculares e nas articulações e um cansaço enorme. Outros sinais são problemas nos rins, dores de estômago, chagas na boca, eritemas (rubor)  no rosto e perda de peso e de cabelo.
Ainda que essa doença seja crônica, existem períodos de inatividade nos quais as crianças não apresentarão nenhum sintoma. Em momentos de crises ou recaídas, que é quando há reativação da doença, deve-se ter muito cuidado, já que pode afetar diversos órgãos.
O tratamento voltado para crianças e adolescentes é muito parecido com o dos adultos. Os especialistas do IFR (Instituto Ferran de Reumatologia de Barcelona) aconselham em primeiro lugar evitar os fatores que favoreçam o aparecimento da crise, como as dietas ricas em sal ou a exposição ao sol. Corticoides são os medicamentos utilizados para combater as crises do lúpus, mesmo produzindo danos aos rins, sendo ministrados imunossupressores. 
As doenças crônicas e irregulares como o lúpus são difíceis de acompanhamento pelos pais de crianças doentes e requer acompanhamento contínuo de um especialista. Por esse motivo, é importante tentar explicar às crianças a importância de manter a medicação e a orientação médica, sempre com muita paciência, carinho e compreensão. E de que forma poderíamos realizar essa abordagem com a criança?
Para responder a essa pergunta, a postagem de hoje indica a utilização de uma cartilha explicativa que pode ser utilizada com estratégia de psicoeducação. Ela foi desenvolvida pela psicóloga Maria de Lourdes Leite Guimarães, em 2014. Em dezoito páginas coloridas e em linguagem acessível, a cartilha conta a história de Mila, uma criança com Lúpus Eritematoso Sistêmico Juvenil (LESJ). São explicados de maneira lúdica o surgimento e quais os sintomas, a importância de tomar os medicamentos, dieta, o que ela pode ou não fazer e, sobretudo, conscientiza de que ela pode ter uma vida tranquila. Ao final, a cartilha traz ainda duas sessões em que a própria criança pode anotar a rotina de medicamentos e suas dúvidas, o que só estimula a sua participação ativa no tratamento.

Baixe a cartilha em:
http://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/pdfs/CartilhaLupos_EMCURVAS_FINAL_WEB.pdf

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

“Beyond the Skin”: Genodermatoses na infância, preconceito e aspectos psicológicos.

Postado por Danielle Alves Menezes

Fonte:http://saude.abril.com.br/medicina/video-alem-da-pele-o-preconceito-e-contagioso-a-doenca-nao/

Nada melhor que entender os aspectos psicológicos que estão envolvidos no adoecimento de pessoas que possuem doenças de pele, sobretudo crianças, a partir de experiências reais e concretas.
O vídeo "Beyound the Skin"(link do vimeo, logo abaixo), belíssimo, lançado em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Apoio aos Portadores de Genodermatoses (IBAGEN), inspirado em histórias reais, em poucos minutos convida o expectador à reflexão dos limites, preconceitos e dificuldades que crianças com esse tipo de doença sofrem todos os dias. O filme também é uma importante ferramenta para a conscientização sobre essas doenças genéticas que possuem manifestações cutâneas.

Esclarecendo, genodermatoses são distúrbios que ocorrem por mutações genéticas (podendo ser transmitidas para os filhos dos portadores) e não têm cura. No entanto, nenhuma delas é contagiosa.
As enfermidades que compõem esse grupo são:

  • Epidermolise bolhosa: conjunto de doenças bolhosas potencialmente graves, causadas por alterações genética que interferem na pele, nas mucosas e, eventualmente, em outros órgãos.
  • Ictiose: nessa condição, a pele fica seca e descamativa. As características dessa descamação variam — podem ser finas ou espessas e se espalhar de forma generalizada ou restrita.
  • Xeroderma pigmentoso: caracterizado por defeitos no reparo do DNA, produz sensibilidade anormal à luz solar, além de aumentar o risco de diversos tipos de câncer de pele.
  • Displasia ectodérmica: outro grupo de doenças que acomete: cabelos, pelos, dentes, unhas e/ou glândulas sudoríparas.  Às vezes, relaciona-se com anomalias em outros órgãos. A displasia ectodérmica também é marcada pela intolerância ao calor, o que pode levar à febre elevada e, consequentemente, convulsões.
Confira o vídeo em:  https://player.vimeo.com/video/155434587 

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Como o trauma pode mudar você para melhor

Postado por : Iracema R. O. Freitas



Apesar das pessoas acreditarem que não serão acometidas por eventos traumáticos, como por exemplo, acidentes, doenças, violência e perdas, pesquisas recentes estimam que 75% das pessoas passarão por algum tipo de evento traumático.  Estudos realizados pelos psicólogos Richard Tedeschi e Lawrence Calhoun, identificaram mudanças positivas após os traumas. Em entrevista realizada com mais de  600 pessoas se constatou que boa parte delas relataram  que as suas vidas se tornaram melhores após as experiências traumáticas. Segundo Jim Rendon, as pessoas podem mudar, usando o trauma como um recurso de enfrentamento que as levem refletir e dar novo significado as suas vidas.

« Everyone hopes they’ll avoid the worst life has to offer—accidents, illness, loss or violence. Unfortunately, few of us will get through life unscathed. According to recent PTSD research, 75 percent of people will experience a traumatic event in their lifetime. These traumatic events will inevitably cause great suffering. But it’s not all bad news. Trauma can also be a powerful force for positive change.
In the 1980s two psychologists, Richard Tedeschi and Lawrence Calhoun, at the University of North Carolina, Charlotte, discovered that trauma was changing people in fundamental ways. Some of those changes were negative, but to their surprise, the majority of trauma survivors they interviewed reported that their lives had changed for the better. Survivors of all kinds—they contacted more than 600 people—said they had much greater inner strength than they ever thought, that they were closer to friends and family members, that life had more meaning, or that they were reorienting their lives towards more fulfilling goals.
This mirrored what the pair was hearing from their clients, many of whom had experienced the death of children or suffered from cancer or survived terrible life-altering accidents. The suffering that resulted from these horrible experiences was not an endpoint. Instead it acted as a catalyst, pushing these people to change for the better. In a 1996 paper Tedeschi and Calhoun coined the term post-traumatic growth to describe what they had found.
Since then researchers around the world have begun delving into post-traumatic growth. Studies have found that more than half of all trauma survivors report positive change—far more than report the much better-known post-traumatic stress disorder.
Post-traumatic growth can be transformative. Post-traumatic growth can be powerful. Many people I interviewed for my book told me that despite the physical pain they suffered, the daily struggles they faced, their lives were unquestionably better today than before their traumatic experiences. Trauma sent them on a path they never would have found otherwise.
One woman, a professional extreme skier, was even thankful for a wingsuit flying accident that nearly killer her and almost cost her a leg. She lost her career as an athlete but it opened up an entire part of her identity she never would have known about otherwise. She was forced to change and the change was overwhelmingly positive.
Growth begins with healing from trauma—it is not a free pass to avoid suffering. But, as researchers now know, people have the capacity to do far more than just heal. Given the right environment and mindset, they can change, using the trauma, the suffering and struggle that ensues, as an opportunity to reflect, to search for meaning in their lives, to ultimately become better versions of themselves.

Jim Rendon is the author of Upside: The New Science of Post-Traumatic Growth. »
Link: http://time.com/3967885/how-trauma-can-change-you-for-the-better/

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Crescimento pós-traumático e aplicabilidade em Psicologia da Saúde.

Postado por Danielle Alves Menezes

Referência: Tedeschi R. G. & Calhoun, L. G. (2004): Posttraumatic growth: Conceptual foundations and empirical evidence. International Journal for the Advancement of Psychological Theory, 15 (1), 1-18, doi: 10.1207/s15327965pli1501_01

Crescimento pós-traumático é um conceito relativamente novo, proposto por Tedeschi & Caulhon em 2004, e diz respeito à experiência de mudança psicológica positiva que ocorre como resultado de lutas em momentos altamente desafiadores da vida. Fazendo parte dessas mudanças são relatadas atribuição de maior relevância à vida e a relações interpessoais, vida espiritual e existencial mais rica, mudança de prioridades, aumento da sensação de força pessoal.
As circunstâncias que envolvem crescimento pós-traumático incluem desafios significativos aos recursos adaptativos do indivíduo e implicam ressignificação de formas de ser e estar no mundo, como aqueles que se contituem como traumas ou situações angustiantes (a exemplo do adoecimento). Não se refere a um retorno a um estado psicológico anterior ao evento, mas a uma profunda experiência de mudança positiva.  Ele ocorre concomitantemente a consequências negativas de eventos estressores e às tentativas de adaptação do indivíduo, seja nos aspecto físicos ou emocionais.
Os estudos que relevam mudanças positivas, presente desde os anos 1980,  vão na contramão de uma perspectiva ainda predominante em relevar apenas as experiências negativas, gerando um interesse pelos aspectos psicológicos que permitem que experiências traumáticas se transformem em crescimento pessoal.
O crescimento pós-traumático se difere dos conceitos de resiliência, otimismo, resistência e senso de coerência: o primeiro diz respeito uma habilidade para continuar com a vida após dificuldades e adversidades, ou para continuar a viver de forma organizada, mesmo depois de experimentar dificuldades e adversidades. Otimismo envolve expectativas de resultados positivos para eventos. Resistência consiste em tendências para o empenho, controle e desafio em resposta a eventos de vida. Senso de coerência descreve pessoas que conseguem reagir bem ao estresse, pois o gerenciam ou o enfrentam encontrando um significado importante para eles.
O crescimento pós-traumático é um construto, ligado à descrição de um processo e ao mesmo tempo resultado, refere-se a uma mudança nas pessoas que vai além de uma capacidade para resistir e não ser prejudicado pelas circunstâncias altamente estressoras, e envolve um movimento para além dos níveis anteriores ao trauma de adaptação. Tem, então, uma qualidade de transformação, ou uma mudança qualitativa em funcionamento que envolve mudança de esquemas ao contrário dos conceitos aparentemente semelhantes de resiliência, senso de coerência, otimismo e resistência. Ele não acontece como resultado direto do trauma, que continua sendo percebido como angustiante, mas a reestruturação cognitiva incorporada a esquemas anteriores e a expectativas de eventos futuros (como a mudança de possibilidades de vida futuras).
Características individuais como traços de personalidade, forma de gerenciamento das emoções, suporte social são alguns dos aspectos responsáveis pelos níveis de variabilidade referentes ao construto.
Percebe-se, por fim, que é um construto relevante se formos considerar situações limites ligadas ao adoecimento físico, inaugurando um campo relevante para a Psicologia da Saúde que poderá contribuir para o desenvolvimento de habilidades mais adequadas para o enfrentamento.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Post-traumatic growth as positive personality change: Evidence, controversies and future directions

Postado por Brenda Fernanda

Jayawickreme, E., & Blackie, L. E. R. (2014). Post-traumatic growth as positive personality change: Evidence, controversies and future directions. European Journal of Personality, 28, 312-331. doi: 10.1002/per.1963

Recentemente, tem crescido o interesse em investigar sobre a forma como eventos traumáticos podem funcionar como catalisadores para mudanças positivas na vida. O presente estudo volta-se para o construto do crescimento pós-traumático, que discorre acerca das mudanças psicológicas que acontecem como resultado da luta frente a experiências desafiadoras na vida. Ainda que existam algumas discordâncias sobre o modo como o crescimento pós-traumático se manifesta na vida de um indivíduo, acredita-se que este ocorra através de pelo menos cinco formas: na melhora da relação com o outro, na identificação de novas possibilidades de vida, no aumento da percepção sobre a força pessoal, no crescimento espiritual e maior apreciação da vida.
As principais teorias sobre o crescimento pós-traumático o definem como uma mudança de personalidade, em decorrência das profundas transformações cognitivas pelas quais o indivíduo passa, alterando também seus padrões de comportamento. Os autores ressaltam que essa área ainda sofre de limitações metodológicas e, em função disso, descreveram algumas formas como a ciência da personalidade pode ser enriquecida pelo estudo desse fenômeno.
Algumas evidências são apresentadas sobre o construto, tanto no que diz respeito ao crescimento pós-traumático como um resultado valioso em si mesmo – mensuração de que tal variável de fato existe e sua prevalência –, como em pesquisas que demonstram os importantes resultados promovidos pelo crescimento pós-traumático para o ajustamento do indivíduo. Em relação à primeira opção, existem provas consideráveis ​​de que muitos indivíduos relatam ter experimentado ao menos uma mudança positiva após eventos traumáticos, geralmente demonstrando relacionamentos interpessoais mais fortes e mais íntimos. No que concerne ao potencial resultado clínico significativo do crescimento pós-traumático autorrelatado, foi observado que estudos individuais que incluíram medidas de saúde mental e física revelaram evidências misturadas e inconsistentes, com relações positivas, negativas e nulas entre medidas de crescimento pós-traumático e saúde mental e física relatadas.
Ao longo do texto, os autores discorrem sobre a conceituação do crescimento pós-traumático, mecanismos associados a este construto, mensuração de tal variável, evidências empíricas sobre ele, limitações quanto a seu estudo, explicações alternativas para o crescimento, o que se tem aprendido com as pesquisas, aspectos do construto relacionados à personalidade e a forma como o estudo de tal variável pode enriquecer o campo da psicologia da personalidade. Por fim, discutem sobre a necessidade da realização de mais pesquisas, bem como da maior elaboração destas, focando principalmente em aspectos metodológicos.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Traumas podem trazer mudanças positivas, diz pesquisador

Postado por Gabriela Queiroz

É muito comum pensarmos que situações traumáticas, como a perda de um ente querido, acidentes, ataques terroristas ou outros desastres, podem trazer graves consequências à saúde mental das pessoas que vivenciam tais situações servindo de gatilho para transtornos como o estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. No entanto, na contramão do que é estudado há anos pela psicologia, mas sem desconsiderar tais consequências, surge a Psicologia do Crescimento Pós-traumático, a partir de pesquisas desenvolvidas com sobreviventes de acidentes e ataques terroristas, nas quais foi possível constatar que após estas experiências traumáticas, também era possível observar mudanças positivas, de modo que o trauma passara a oferecer uma nova perspectiva de vida para estas pessoas. É possível afirmar que esta é uma “descoberta” recente, porém relevante, justamente por alertar para uma tendência humana de fazer da dor um impulso para o crescimento pessoal.


“Tragédias naturais, acidentes aéreos, atentados terroristas, assaltos. Estes são alguns exemplos de situações que podem deixar traumas irreparáveis entre os sobreviventes que, muitas vezes, acabam presenciando cenas horríveis e perdendo entes queridos.
Em coluna do jornal britânico Daily Mail, o professor Stephen Joseph discorre sobre o assunto. Ele é co-diretor do Centro de Trauma, Resiliência e Crescimento da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, e esteve envolvido em pesquisas ligadas aos sobreviventes de um dos mais impactantes desastres marítimos do século 20. O acidente com a balsa Herald Of Free, na Bélgica, em 1987, deixou 193 mortos. Alguns meses depois, os advogados dos sobreviventes entraram em contato com o Instituto de Psiquiatria de Londres, pedindo ajuda.
O professor observou que, imediatamente após o desastre, os níveis de sofrimento psicológico estavam altos e muitos sobreviventes desenvolveram desordens pós-traumáticas como memórias angustiantes, pesadelos dificuldades para dormir e de concentração. Como já era de se esperar, muitos lutaram para lidar com isso, e viram seu trabalho e suas relações serem impactadas. Três anos depois, a universidade aplicou uma pesquisa de acompanhamento. Os níveis de sofrimento psicológico tinham baixado, embora muitos deles ainda tivessem que se esforçar bastante.
Além disso, durante o estudo, muitas coisas inesperadas aconteceram, segundo relata Joseph. Ele percebeu que muitos sobreviventes falavam sobre mudanças positivas em suas vidas: o trauma ofereceu uma nova perspectiva. Explorando isso, os pesquisadores envolvidos adicionaram uma nova questão ao questionário: "sua visão sobre a vida mudou depois do desastre - e, se sim, mudou de forma positiva ou negativa?"
Os resultados foram surpreendentes, segundo relata o especialista. Embora 46% disseram que a visão sobre a vida tinha mudado pra pior, 43% afirmaram ter mudado para melhor.” [...]

domingo, 24 de setembro de 2017

Crescimento pós-traumático e fatores relacionados ao pós-operatório de pacientes com câncer de mama.

Postado por Milena Bahiano
Baglama, B., & Atak, I.E. (2015). Posttraumatic Growth and Related Factors among Postoperative Breast Cancer Patients. Procedia- Social and Behavioral Sciences, 140, 448-454. doi: 10.1016/j.sbspro.2015.05.024


Apesar de eventos traumáticos serem causadores de sofrimento físico e psíquico algumas pessoas após vivenciarem tais eventos apresentam reações e mudanças positivas em sua vida. O estudo do crescimento pós-traumático (CPT) tem viabilizado aos pesquisadores o entendimento das reações positivas e os processos de enfrentamento utilizados pelo indivíduo diante da vivência de eventos traumáticos (Baglama & Atak, 2015). Para a psicologia positiva o estudo desse constructo viabiliza uma maior compreensão quanto as respostas positivas do indivíduo aos acontecimentos traumáticos e estressantes da vida.
Segundo Baglama & Atak (2015), o CPT tem sido um dos conceitos mais estudados entre mulheres com câncer de mama. O objetivo do estudo foi avaliar a relação entre o suporte social, esperança disposicional, locus interno-externo de controle e crescimento pós-traumático entre pacientes no pós-operatório de câncer de mama. O estudo foi realizado com 31 mulheres (idade média = 50,48, DP = 11,59) de cidades diferentes da República Turca do norte de Chipre e que se encontravam em tratamento pós-operatório do câncer de mama. Foram utilizados como instrumentos na pesquisa o Posttraumatic Growth Inventory (PTGI), Multidimensional Scale of Perceived Social Support (MSPSS), The Hope Scale (HS) e a Rotter’s Internal-External of Control Scale (IELCS).
Nesse estudo, os resultados mostraram que após a cirurgia as mulheres com câncer de mama apresentaram crescimento pós-traumático. O estudo apresenta três hipóteses e com base nos resultados, duas hipóteses foram confirmadas, enquanto uma delas não se confirmou. De acordo com os resultados, o apoio social (r = 0,47; p = 0,007) e a esperança disposicional (r = 0,47; p = 0,008) desempenham um papel importante no desenvolvimento do CPT. Mulheres com alto apoio social e alta esperança experimentaram níveis mais altos de crescimento pós-traumático. Contudo, não foi encontrado no locus de controle (r = 0,47; p = 0,0241), que é a terceira variável independente do estudo, relação com a experiência de CPT após a operação. O estudo apresenta uma amostra pequena o que pode acarretar problemas sobre a generalização dos resultados e para melhorar o poder estatístico os pesquisadores sugerem amostras maiores na coleta de dados. Em conclusão, a pesquisa tentou demonstrar que, embora o câncer de mama seja traumático e altamente desafiador as mulheres experimentaram crescimento pós-traumático diante do enfrentamento da doença.