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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A intervenção do psicólogo oncológico através de técnicas de relaxamento

Lufiego, C. A. F., Schneider, R. H., & Bós, A. J. C. (2017). Avaliação do estresse e ansiedade em pacientes quimioterápicos submetidos a relaxamento. Psicologia, Saúde & Doenças, 18(3), 789-800. doi:10.15309/17psd180313

Resenhado por Lizandra Menezes Soares

Pesquisadores apontam uma relação entre o estresse, sintomas de ansiedade e diminuição da imunidade em doenças como o câncer, situação em que a presença de sintomas ansiosos e estresse tendem a piorar o quadro. Por essa razão, intervenções que promovam possibilidade de adaptação às mudanças tendem a ser colaborativas nesses casos. O relaxamento, por exemplo, é uma técnica interventiva que provoca alterações de padrões de pensamentos específicos e, consequentemente, alterações fisiológicas. A quimioterapia, uma técnica usada no tratamento do câncer, visa controle, cura e paliação do quadro clínico. Pacientes terminais encaram um forte período de estresse constante durante a quimioterapia, enfrentando efeitos psicofisiológicos persistentes, isso porque nesse tipo de tratamento são utilizadas substâncias citotóxicas que provocam efeitos colaterais, os quais muitas vezes aumentam o sofrimento psicológico enfrentado pelos indivíduos expostos a ela.
Dessa forma, o estudo em questão teve por objetivo avaliar a eficácia de técnicas de relaxamento por indução de imagens como método interventivo para o tratamento de sintomas de ansiedade e estresse em pacientes submetidos à quimioterapia. Para tanto, foi realizado um ensaio clínico, quase-experimental e quantitativo, com seguimento, utilizando o Inventário de Ansiedade Beck (BAI) e o Termômetro de Distress (TD). A amostra foi composta por 113 participantes (57 no Grupo Experimental (GE) e 56 no Grupo Controle (GC)), todos em tratamento quimioterápico em um hospital universitário de Porto Alegre (Brasil).  A análise estatística foi realizada por meio do teste t-Student, antes e depois da intervenção.
Como resultado foi observado que após 14 semanas de intervenção houve diminuição considerável dos níveis de ansiedade e estresse no grupo experimental. Já o grupo controle apresentou aumento nesses níveis, embora não significativos (estatisticamente). Ou seja, intervenções com relaxamento podem fornecer efeitos positivos na redução de ansiedade e estresse em pacientes expostos a tratamento quimioterápico.
Levando em consideração que a presença de sintomas de ansiedade e estresse provoca mal-estar, compreender os mecanismos que envolvem estes construtos é essencial para o controle dessas variáveis. Portanto, essa pesquisa contribui com as discussões sobre fatores que podem agravar casos oncológicos, permitindo ao psicólogo compreender e escolher formas de intervenção mais efetivas. O teste da eficácia de técnicas como o relaxamento auxiliam esse manejo e a atuação da psicologia da saúde nesse cenário, colaborando para a saúde e bem-estar desse público.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Vivências emocionais e perspectivas de futuro em mulheres com câncer de mama

Ferreira, V. S., Salazar, V., Peruchi, R. C., Donelli, T. M. S., & Castro, E. K. (2015). Vivências emocionais e perspectivas de futuro em mulheres com câncer de mama. Psicologia Hospitalar, 13, 42-63.

Resenhado por Ariana Moura

A considerável melhoria nos procedimentos de detecção precoce do câncer e os avanços no tratamento têm modificado o cenário desta doença, elevando as estatísticas de sobrevivência ao longo dos anos (Crist & Grunfeld, 2013; Kluthcovsky & Urbanetz, 2002; Pinto & Ribeiro, 2006).
Nesse contexto, foi realizado um estudo qualitativo exploratório que objetivou responder às seguintes questões norteadoras: (1) quais as vivências emocionais relatadas pelas mulheresem tratamento para o câncer de mama? (2) qual é a percepção das mulheres em relação às perspectivas de futuro ao longo do processo do tratamento? Os dados foram coletados em um hospital público e em um hospital privado, ambos em Porto Alegre - RS.
Os resultados mostraram uma diversidade de vivências emocionais entre as pacientes entrevistadas. Em seguida, foram listadas às categorias de análise e os principais achados.
1. Vivências emocionais nas diferentes fases do tratamento:observou-se que as pacientes foram unânimes ao relatar a carência de um manejo clínico humanizado no momento da comunicação do diagnóstico.
2. Apoio e suporte social no diagnóstico e durante o tratamento: o apoio e suporte emocional e social foram tópicos mencionados em todos os relatos, como uma ferramenta importante de motivação para realização do tratamento e de planejamentos futuros.
3. Percepção de si: foram evidenciadas questões referentes à sensação de forte desamparo no momento do diagnóstico. Além disso,algumas pacientes relataram mudança na percepção de sua própria existência mediante o confronto ocasionado pelo diagnóstico e o risco iminente de morte.
4.  Perspectiva de Futuro: foram destacados os diferentes desejos futuros durante o tratamento, ressaltando-se a importância de fazer este exercício para que se sentissem vivas.
Para finalizar, constatou-se que por se tratar de uma doença crônica com forte impacto psicológico para a paciente, é fundamental o acompanhamento psicológico durante o tratamento, possibilitando melhor condição de enfrentamento da doença. Esta questão ratificou a necessidade de intervenção psicológica nas instituições hospitalares e serviços de saúde. O objetivo de tal ação seria proporcionar um espaço de acompanhamento clínico tanto de ordem grupal como individual para possibilitar um espaço de suporte emocional e melhora da qualidade de vida dos pacientes oncológicos durante o tratamento e também na sobrevida.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Aspectos biopsicossociais e qualidade de vida de pessoas com dermatoses crónicas*

Calvetti, P. U., Rivas, R. S. J., Coser, J., Barbosa, A. C. M., & Ramos, D. (2017). Aspectos biopsicossociais e qualidade de vida de pessoas com dermatoses crónicas. Psicologia, Saúde & Doenças, 18(2), 297-307. doi:10.15309/17psd180202

Resenhado por Brenda Fernanda

    Os autores iniciam o artigo discorrendo sobre as características e função da pele, que consiste, entre outras coisas, em proteção, participação no sistema imunológico e regulação da temperatura corpórea. Destacam que as dermatoses causam impacto no estado emocional, nas relações sociais e nas atividades cotidianas em ao menos um terço dos indivíduos acometidos. Estes, podem ser ocasionados em função dos estigmas originados pela estética das lesões na pele e estão relacionados quadros de estresse, depressão e ansiedade, que também exacerbam as lesões. Ressalta-se também a associação entre a pele e a imagem corporal, indicando que as alterações na imagem ocasionadas pelas condições dermatológicas podem acarretar sofrimento psicológico.
     No que diz respeito à etiologia das doenças de pele, os fatores que a desencadeiam ainda não estão completamente estabelecidos, mas sabe-se que fatores biológicos e psicológicos influenciam a percepção do estresse e a resposta ao tratamento dermatológico. Além disso, destaca-se que a literatura atual tem demonstrado evidências quanto à eficácia de intervenções psicoterapêuticas e psicofarmacológicas para a redução do estresse e melhor resposta ao tratamento da psoríase. Em função da necessidade de se conhecer melhor as aspectos biopsicossociais relacionados às doenças de pele, o presente estudo objetivou avaliar os aspectos biopsicossociais e qualidade de vida de pessoas com dermatoses crônicas atendidas em centro de dermatologia da rede pública de saúde.
      O presente estudo apresentou delineamento transversal descritivo e analítico, na qual participaram 130 adultos, portadores de dermatose crônica, atendidos em um centro de saúde de dermatologia do sul do Brasil. Os critérios de inclusão foram: idade entre 18 e 80 anos e ter diagnóstico médico dermatológico de dermatose crônica (vitiligo, psoríase, pênfigo, rosácea, dermatite atópica, etc.). Os critérios de exclusão foram diagnóstico de HIV/AIDS e câncer. Utilizou-se questionário sociodemográfico e clínico e Índice de Qualidade de Vida em Dermatologia (DLQI-BRA).
      Observou-se que mais da metade da amostra (56,5%) relacionou algum evento estressor ao início de sua doença de pele. Quanto à qualidade de vida, 62,6% a perceberam como boa ou muito boa; 56,5% dos respondentes demonstraram satisfação em relação à sua autoimagem e autoestima; 51,1% dos participantes afirmou não ter alterado sua rotina profissional, de lazer ou social em decorrência da dermatose; 67,2% referiu não ter sofrido qualquer tipo de preconceito.
    Em suma, os resultados apontaram para uma boa qualidade de vida na população em estudo, divergindo dos achados mais comuns da literatura. Tal fato pode ser explicado pela boa adesão ao tratamento medicamentoso e pela presença da equipe de Psicologia no serviço de saúde, evidenciando a importância da intervenção psicológica associada ao tratamento dermatológico para resultados mais eficazes e melhora na qualidade de vida dos pacientes. Além disso, os respondentes também destacaram a presença de suporte social positivo, que poderia funcionar como fator protetivo em relação ao desencadeamento de sofrimento psicológico.

*Foi mantida a grafia original da palavra (artigo em Português de Portugal).

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Dia do Psicólogo: Comemorando existência e persistência da profissão

Produzido por Sara Andrade e Laís Santos

O psicólogo é um profissional multifacetado, que deseja constantemente se encontrar com outros seres humanos, seja em terapia, na pesquisa ou em vivências. Caminha sozinho rumo ao entendimento do complexo, ainda que busque utilizar métodos simples e generalizáveis para tal feito. E quem já não se fez um pouco psicólogo na vida, não é mesmo? Contudo, não se enganem. Ser psicólogo é desbravar diariamente um jeito de existir: o humano. Jeito tal que nem ele supera, já que não é exclusivo observador de seu objeto, mas também seu próprio objeto de conhecimento.
Wundt, Pavlov, Skinner, Freud, Bandura, Piaget, Vygotsky, Rogers, William James, Erik Erikson, Kurt Lewin, Aaron Beck. Significativos nomes emergem em nossas memórias mais remotas de conhecimento. Cada um em seu momento, trilhando seu caminho. O que todos têm em comum talvez seja a sede por fazer do ser humano e seu comportamento um elemento mais cognoscível e admirável. Foi o desejo comum de variados autores que fez nascer isso que chamamos de Psicologia. O inquieto e curioso profissional, conhecido como “psicólogo”, nada mais ou menos é que um desbravador de teorias prévias a sua própria existência. Teorias que constroem cada qual seu entendimento de “homem”, até de funcionamento do mesmo. E esse dia 27, pretensioso como é, objetiva homenagear a todos, sejam quais forem seus métodos, teorias de base, compreensão de ser humano ou explicações para os comportamentos.
O dia 27 não é só o dia do psicólogo, é o dia da Psicologia científica. Não se deve comemorar apenas a existência de profissionais que aliviam tormentas emocionais, mas também a perseverança dessa área do conhecimento que está longe do ápice de suas descobertas. Sejamos então dispostos por essa ciência, não só por sua existência, mas também pela persistência. Feliz dia do psicólogo a todos os psicólogos e estudantes!

domingo, 26 de agosto de 2018

Entrevista: CRP-19 e a Psicologia da Saúde

Entrevistado: Frederico A. de Almeida (CRP 19/2849)
Psicólogo, Presidente do Conselheiro Regional de Psicologia 19 (Lattes)

1. Como é o campo da psicologia da saúde em Sergipe?
Na Psicologia, quando se fala de saúde, a gente tem pensar um conceito que tem sofrido consideráveis mudanças. Tradicionalmente, podemos pensar saúde dentro do campo da psicologia hospitalar, ou da atuação dos psicólogos na saúde mental, como CAPS, por exemplo. Vale dizer que essa é uma visão mais tradicional. Hoje em dia falamos de saúde em um sentido mais amplo, por exemplo, quando o profissional da Psicologia trabalha com usuários do SUAS (Sistema Único de Assistência Social), dos novos debates da psicologia, ou mesmo da clínica ampliada. Tudo isso está envolvido com a noção de saúde, indo desde a ação na perspectiva da saúde mental do indivíduo, à questão de integralidade em sua complexidade biopsicossocial e espiritual, por exemplo. É nesse emaranhado de áreas e de formas de enxergar a saúde que os psicólogos atuam no Estado.

2. Quais as ações do CRP-19 relacionadas à área de psicologia da saúde?
No CRP-19 temos comissões e grupos de trabalho: o GT de psicologia hospitalar e o GT de saúde mental. Porém, é importante dizer que estamos em período de desenvolvimento de uma proposta para 2019, que seria criar uma Comissão de Saúde, a qual se pretende que gerencie discussões na temática em relação à cidade de Aracaju.

3. Como estudantes de psicologia que têm interesse em saúde podem ter acesso às ações relacionadas a essa temática em parceria com o Conselho?
De maneira simples: as pessoas têm que conhecer o que a gente se propõe a fazer e como são os grupos de trabalho. Além disso, podem entrar em contato com o Conselho e dizer que tem interesse naquela discussão ou tema e, assim, haverá o convite para fazer parte dessas discussões. A pessoa pode, inclusive, procurar o coordenador ou a coordenadora do GT em nosso CRP, como também pode entrar em contato até com os presidentes das comissões para obter informações e passar a fazer parte das discussões.

sábado, 25 de agosto de 2018

Protocolo de intervenção em resiliência para cuidadores informais de pacientes com Alzheimer

Córdoba, A. M. C. & Poches, D. K. P. (2015). Modelo de intervenção psicológica na resiliência de cuidadores informais de pacientes com Alzheimer. Diversitas: Perspectivas en Psicología , 11(2), 181-192.

Resenhado por Daiane Nunes

            O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva que produz impactos psicológicos não somente à pessoa acometida, mas também aos seus familiares. Em geral, um dos membros da família passa a exercer o papel do cuidador deste paciente, em que se estabelece um “contrato” informal dessa função. O cuidador informal fornece ajuda integral não remunerada em contexto doméstico, por tempo indeterminado, comprometendo seu trabalho, suas relações interpessoais e outras atividades externas. Desempenhar essa função, por vezes, pode trazer consequências como a vivência de sintomas depressivos, de ansiedade, sentimentos de culpa e de sobrecarga, altos níveis de estresse, baixa satisfação com a vida, bem como problemas trabalhistas.
            O estudo em questão teve como objetivo apresentar um modelo de intervenção psicológica na abordagem cognitivo-comportamental com foco na promoção de resiliência. A resiliência é entendida como uma característica positiva que permite a adaptação do indivíduo a situações consideradas adversas (Wagnild & Young, 1993). A formulação do Protocolo de Intervenção Psicológica em Resiliência foi dividida em três fases (desenho, formulação do protocolo em si e formulação dos protocolos de avaliação de estrutura e processo).
            Na fase de desenho do protocolo foi construindo um modelo de intervenção em resiliência. A fase II consistiu na formulação do protocolo de intervenção psicológica, que constou de dez sessões, com duração de noventa minutos cada uma delas. Foi dirigida a cuidadores informais de paciente com Alzheimer, maiores de dezoito anos. Na fase III realizou-se, por fim, a formulação dos protocolos de validação da estrutura e do processo, guiado pelo modelo de atenção médica que consiste na necessidade de validar de forma integral qualquer serviço de saúde.
            O estudo apresenta um protocolo que fornece informações necessárias para facilitar sua replicação em outros contextos, incluindo os procedimentos para implementação e avaliação de sua estrutura e processo. Os autores ressaltam a importância da elaboração de programas de intervenção para cuidadores de pacientes com Alzheimer com foco na promoção de resiliência para reduzir o sofrimento psicológico e emocional implicado a esta função.
            Por fim, sugere-se que a aplicação do protocolo esteja associada a outras ações com foco no suporte psicossocial, levando em consideração que os cuidadores não dispõem de tempo e, em sua maioria, encontram-se com baixa motivação, o que pode ocasionar no desinteresse ou retirada de sua participação em programas de intervenção. 

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Convivendo com a Doença de Huntington: Dificuldades enfrentadas pela família

Silva, A. H., Camelo, E. R., Melo, L. C. O., Souza, S. F., Silva, G. G., & Pereira, F. G. (2014). Huntington: Dificuldades enfrentadas pela família. Journal of the Health Sciences Institute, 32(2), 168-172.

Resenhado por Sara Andrade

A Doença de Huntington (DH) é uma patologia hereditária autossômica, degenerativa do sistema nervoso central, cujo principais sintomas são um conjunto de alterações cognitivas, emocionais e motoras. Pode acometer pessoas em diferentes faixas etárias, mas a idade média é de 40 anos. Possui três estágios, os quais incluem desde dificuldades na coordenação, movimentos, pensamentos e humor, até falhas na fala e deglutição, culminando em estado de total dependência dos outros.
A progressão da doença resulta em dificuldades no relacionamento familiar, devido às alterações na personalidade das pessoas adoecidas, levando a desadaptação na vida e ambiente que as rodeia. Somado aos sintomas supracitados, pacientes com DH tendem a desenvolver condições e sintomas psiquiátricos, como depressão, sintomas obsessivos, agressividade, entre outros. O presente estudo objetivou identificar as principais dificuldades vivenciadas pelos familiares dos portadores de DH em um município de Goiás, bem como relacioná-las com os já encontrados na literatura.
A pesquisa teve caráter exploratório e, por ser a DH uma doença rara, contou apenas com dois familiares entrevistados. Os dados foram analisados através da analise de conteúdo de Bardin. Os resultados levaram às categorias de dificuldades: falta de liberdade, estresse, dependência de outras pessoas, agressividade, risco de suicídio, compaixão, medo de desenvolver a doença, frustração, revolta, raiva, angústia e desconhecimento da doença.
Dentre todas as dificuldades, a falta de liberdade, a dependência dos outros, o estresse, a agressividade e o medo de desenvolver a doença foram os mais relacionados aos estudos da literatura, também foram percebidos como mais impactantes na convivência diária com a DH. Os autores concluem que as mudanças advindas do diagnóstico de DH são inúmeras, podendo ir desde abandono de empregos até amadurecimento prematuro dos familiares, que depositam seus esforços em cuidar da pessoa adoecida, frequentemente muito jovem.
Por fim, os autores salientaram a escassez de estudos consistentes sobre a doença e sobre os impactos nos familiares. Cabe analisar a necessidade do trabalho do psicólogo, especialmente atuante em Psicologia da Saúde, visto que através dela é possível pensar estratégias de enfrentamento, recursos de regulação emocional, e manejo cognitivo diante da condição de DH, tanto com pacientes, quanto familiares. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Medicalização dos Desvios de Comportamento na Infância: Aspectos positivos e negativos

Brzozowski, F. & de Caponi, S. (2013). Medicalização dos desvios de comportamentos na infância: Aspectos positivos e negativos. Psicologia: Ciência e Profissão. 33, 208- 221.

Resenhado por Renata E. B. Fontes

A medicalização é um fenômeno que começou a ser estudado a partir da década de 70, surgindo quando profissionais da saúde começaram a fornecer explicações e tratamentos médicos para comportamentos que anteriormente não eram medicalizados. Os comportamentos considerados desviantes são aqueles onde, em determinados contextos, sofrem um julgamento social negativo e, portanto, são patologizados pelo discurso médico e cientifico a exemplos dos comportamentos relacionados ao alcoolismo, hiperatividade, transexualidade, dentre outros. A medicalização também pode ocorrer em processos naturais da vida, como a sexualidade, o desenvolvimento infantil, o envelhecimento, etc.
O presente artigo pretende fazer uma discussão sobre a medicalização dos comportamentos na infância, elencando seus aspectos positivos e negativos, além das consequências do fenômeno da medicalização. Inicialmente, os autores expõem que é errôneo creditar somente aspectos negativos a esse fenômeno, principalmente porque a sociedade aceita e valoriza o saber médico na produção de diagnósticos. Assim, destaca-se que o principal aspecto positivo é o de que o individuo diagnosticado recebe um cuidado individualizado e maior compreensão acerca dos seus comportamentos.
No trabalho os autores ainda expõem que grande parte dos desvios de comportamento considerados patológicos são observados ainda na infância, principalmente durante o processo de alfabetização, seja por não aprender a ler em uma determinada idade ou a dificuldade em prestar atenção na aula. Percebeu-se, então, o quão rasa é a percepção desses desvios, bem como o quanto ela é normativa, visto depender do contexto no qual o comportamento ocorre.
Um exemplo de patologia medicalizada é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O tratamento medicamentoso é um dos mais indicados por profissionais de saúde para o TDAH, além de ser mais barato do que outros tipos de intervenções, tais como a psicoterapia e o atendimento individualizado na escola. Talvez este seja o motivo pelo qual a indústria farmacêutica aplicada à normalização de comportamentos desviantes seja altamente rentável. O indivíduo que anteriormente seria considerado como desobediente, inquieto, ganha o rótulo de doente, que precisa de um novo cuidado.
A reflexão proposta pelo artigo não nega a evolução de pesquisas na farmacologia, mas salienta a forma pela qual a medicalização promove uma individualização (patológica ou não) desses comportamentos, ao invés de analisá-los a partir de uma perspectiva social. Nessa lógica, o discurso fármaco-científico aparece como aquele que tem o poder de dizer quais comportamentos é patológico, de modo que os indivíduos que apresentem comportamentos desviantes sejam excluídos ou recorram aos medicamentos para alcançar um dado nível de ajustamento esperado. A psicologia também se insere nesse contexto de atenção e cabe ao psicólogo a criação de estratégias e instrumentos para a realização do diagnóstico e possibilidades de tratamento do TDAH de forma mais adequada. Essa ação se dá em um trabalho multidisciplinar, não somente com a equipe de saúde, mas também em parceria com as escolas.

Depressão, dor e qualidade de vida em pacientes com esclerose lateral amiotrófica: Estudo transversal

Pizzimenti, A., Aragona, M., Onesti, E., & Inghilleri, M. (2013). Depression, pain and quality of life in patients with amyotrophic lateral sclerosis: A cross-sectional study. Functional Neurology28(2), 115–119.

Resenhado por Millena Bahiano

A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença crônica e neurodegenerativa progressiva que causa fraqueza muscular devido a comprometimentos dos neurônios motores. A ocorrência de dor durante a progressão da doença é uma das possíveis complicações nos pacientes com ELA, bem como o aumento do risco para a depressão e efeitos negativos na qualidade de vida (QV). Como ainda não há possibilidade de cura, os cuidados oferecidos são atrelados às intercorrências da doença e cuidados paliativos.
Este estudo foi conduzido com uma amostra de 36 participantes em um serviço ambulatorial multidisciplinar, da Universidade Sapienza de Roma. Os objetivos visaram a avaliar a prevalência de dor em pacientes diagnosticados com ELA, comparar às medidas de depressão e qualidade de vida e compreender a influência dos escores de depressão e dor, em relação à QV dos pacientes com ELA. Os instrumentos utilizados para a investigação da depressão e da qualidade de vida foram respectivamente, a Escala de Depressão de Auto-Avaliação de Zung e o Índice de Qualidade de Vida (QL- Index), já para a investigação da intensidade da dor foi utilizada a Escala Visual Analógica (VAS).
Dentre os resultados, verificou-se que 72% dos pacientes apresentaram pelo menos um sintoma doloroso e classificaram a dor como bastante angustiante. A intensidade da dor foi estatisticamente significativa em relação à deterioração da QV (p < 0,05) dos pacientes com ELA.  Os índices de depressão minoraram significativamente a QV (p < 0,02) e este efeito continuou estatisticamente significativo após considerar a intensidade da dor como uma covariável (p < 0,05). Os autores sugerem que os profissionais de saúde, envolvidos na atenção e cuidados de pacientes diagnosticados com ELA, atentem-se à presença da dor e de sintomas depressivos no período do tratamento.
Para a psicologia da saúde, tal evidência se faz importante na compreensão do estado mental do paciente diagnosticado com ELA e que possui a dor como um dos sintomas da doença. Além disso, permite que estratégias de intervenção e promoção à saúde sejam elaboradas, a fim de minimizar os agravos físicos e psicológicos causados pela doença e que comprometem a qualidade de vida do indivíduo.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Impacto do trauma infantil no curso do transtorno do pânico: Contribuições das características clínicas e de personalidade

De Venter, M., Van Den Eede, F., Pattyn T., Wouters K., Veltman, D.J., Penninx, B.W.J.H., & Sabbe, B.G. (2017). Impact of childhood trauma on course of panic disorder: Contribution of clinical and personality characteristics. Acta Psychiatrica Scandinavica, 135(6),554-563. doi: 10.1111/acps.12726.

Resenhado por Michelle Leite

            Sabe-se que os traumas da infância estão relacionados com o aumento do risco e comorbidade de transtornos de ansiedade na vida adulta. Estudos evidenciam que relatos de traumas infantis, e não das histórias de vida, se associam a desfechos mais desfavoráveis em adultos com ansiedade ou depressão.
            O transtorno do pânico é caracterizado por recorrentes e inesperados períodos de intenso medo e desconforto, tendo no mínimo 4 dos 13 sintomas adicionais que incluem taquicardia, sudorese, tremores, sensação de falta de ar, dor ou desconforto torácico, sensação de asfixia, náusea, sensação de desmaio, calafrios, sensação de formigamento, desrealização, medo de perder o controle ou enlouquecer e medo de morrer (DSM-V, 2014). Possui uma prevalência de 3,8% e é um transtorno comum com alto grau de sofrimento e também com um papel central em casos de abuso infantil em sua patogênese.
            No tocante às causas subjacentes entre a associação entre traumas infantis e o curso do transtorno do pânico, os mecanismos de enfrentamento mal adaptativos e as distorções cognitivas que superenfatizam o perigo e a adversidade podem estar no cerne dessa relação. As experiências traumáticas podem também estar associadas aos traços da personalidade. Estudos constataram que o abuso sexual estava relacionado a sintomas de personalidade esquiva. Além disso, características clinicas como alta gravidade, início precoce e maior duração dos sintomas, bem como traços da personalidade como níveis elevados de neuroticismo e desesperança, locus de controle externo e níveis baixos de extroversão estão entre os preditores mais fortes de um curso clínico ruim do transtorno.
            O estudo em questão examinou a influência do trauma infantil no curso clínico do transtorno do pânico, bem como os efeitos diferenciais dos tipos de trauma infantil e do papel dos fatores clínicos e de personalidade nessa relação. Os pesquisadores retiraram de uma amostra de um estudo longitudinal com 539 participantes entre 18 e 65 anos diagnosticados com transtorno do pânico atual, sendo a maioria do sexo feminino (69,8%). O trauma de infância foi medido através de uma entrevista estruturada e dividido em 4 tipos: negligencia emocional, abuso psicológico, abuso físico e abuso sexual. Além do transtorno do pânico, a ocorrência de outros transtornos de ansiedade também foi analisada. Observou-se que os traumas de infância não foram fatores preditivos da persistência do transtorno do pânico, mas que negligência emocional e abuso psicológico estavam associados a maior ocorrência da fobia social e a maior cronicidade de sintomas gerais de ansiedade. Essas relações foram parcialmente explicadas pela duração e severidade dos sintomas ansiosos e depressivos, do neuroticismo e da extroversão.
            Chama-se atenção que tal associação pode ajudar a reduzir a subestimação do impacto da negligência e do abuso psicológico, o que pode proporcionar maior reconhecimento e intervenções adequadas para prevenir sintomas e transtornos de ansiedade a longo prazo. Cabe à psicologia o papel de legitimar ocorrência de tal impacto e atuar na intervenção com foco na ressignificação da experiência traumática, com a correção de possíveis distorções cognitivas, além de promover melhores estratégias de enfrentamento.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

A importância do acompanhamento psicológico sobre os indivíduos portadores de doença de Parkinson e Parkinsonismo usuários de L-DOPA

Barreto, M. A. M., & de Oliveira Fermoseli, A. F. (2018). A importância do acompanhamento Psicológico sobre os indivíduos portadores de Doença de Parkinson e Parkinsonismo usuários de l-dopa. Caderno de Graduação-Ciências Humanas e Sociais-UNIT-ALAGOAS, 4(2), 29.

Resenhado por Mariana Menezes

A Doença de Parkinson (DP) e o Parkinsonismo são patologias que têm se revelado altamente prevalentes entre os idosos. A DP, em particular, é a segunda doença neurodegenerativa que mais acomete os indivíduos da terceira idade. Tanto a DP como o Parkinsonismo são doenças neurodegenerativas, ou seja, responsáveis pela morte progressiva dos neurônios. Ambas as doenças costumam provocar sintomas muito parecidos tais como tremor, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural.
Não se sabe exatamente o que causa essas patologias, mas do que se tem conhecimento a degeneração dos neurônios característica desses quadros se dá devido a diminuição na produção de dopamina na substância nigra. A etiologia dessas doenças também parece ter um caráter distinto em alguns aspectos de forma que a DP parece ter causa predominantemente genética enquanto que os fatores responsáveis pelo desenvolvimento do Parkinsonismo parecem estar ligados a causas externas tais como exposição a drogas bloqueadoras como dopaminérgicos, antipsicóticos e metoclopramida ou devido a traumatismos cranianos.
A qualidade de vida dos que convivem com essas doenças é significativamente afetada. Nesse sentido, somado a outros fatores, o apoio da equipe de saúde é fundamental para a promoção e manutenção do bem-estar dessas pessoas. O psicólogo é o profissional capacitado para acompanhar os indivíduos com DP e Parkinsonismo e fornecer a ajuda psicológica necessária. A intervenção psicológica nesses casos pode proporcionar uma melhora significativa desses indivíduos.
Dentre as possibilidades de intervenção existentes, os psicólogos podem intervir: trabalhando a aceitação da doença junto a esses pacientes e seus familiares; ajudando-os a lidar melhor com os efeitos negativos que tais doenças podem promover no dia a dia, contribuindo para pensar estratégias que auxiliem os pacientes a se engajarem de forma mais efetiva no tratamento da patologia e que facilitem a rotina dos que são responsáveis pela prestação de cuidados, contribuindo inclusive para diminuir a sobrecarga ligada a esse papel; e fornecendo orientações quanto ao uso das medicações.
Sobre esse último ponto, sabe-se que o tratamento farmacológico é essencial para a melhora dos sintomas e que o uso de algumas medicações utilizadas no tratamento da DP e do Parkinsonismo pode resultar em consequências drásticas sobretudo em pacientes idosos. Alternativas menos agressivas são as medicações que levam a L-dopa em sua composição, porém, como toda medicação o uso prolongado e por tempo indeterminado pode acarretar prejuízos à saúde. Além disso, para alcançar os efeitos desejados, o uso dessas medicações deve ser rigidamente controlado devendo ser administradas na dosagem e horários adequados.
Em resumo, o trabalho do psicólogo no contexto da Doença de Parkinson e do Parkinsionismo pode contribuir, dentre outras coisas, para a aceitação do estado de doença e para a promoção de melhorias no cotidiano tanto do paciente como dos seus cuidadores e familiares e, por fim, para o controle no uso de medicações.

sábado, 18 de agosto de 2018

Relação entre os pensamentos ruminativos e índices de ansiedade e depressão em estudantes de psicologia

Bezerra, M. L. O., Siquara, G. M., & Abreu, J. N. S. (2018). Relação entre os pensamentos ruminativos e índices de ansiedade e depressão em estudantes de psicologia. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, 7(2), 62-71. doi: 10.17267/2317- 3394rpds.v7i2.1906

Resenhado por Mariana Serrão

     Ao ingressar na Universidade o indivíduo se depara com diversas mudanças decorrente da transição da adolescência para a vida a adulta. Dentre essas mudanças, se encontra, por exemplo, o aumento das responsabilidades por suas escolhas e decisões, autonomia, morar sozinho e/ou longe dos pais, algumas vezes conciliar o trabalho e a universidade. Assim, é principalmente nesse período em que se começa a planejar e traçar o futuro profissional, o que pode ser um fator de risco para alteração da saúde mental.
     A depressão tem como principais sintomas sentimento a perda de interesse e prazer por atividades corriqueiras, alterações no humor, cansaço exagerado, apatia e em alguns casos há a comorbidade com transtornos de ansiedade. A ruminação é um tipo de cognição que está relacionada com a manutenção de sintomas ansiosos e depressivos, além de ser considerada um fator etiológico da depressão. As pessoas que ruminam frequentemente uma situação ruim ou triste, tendem a apresentar mais afetos e comportamentos negativos comparadas a pessoas que não apresentam esse tipo de pensamento. Os pensamentos ruminativos quando apresentam conteúdo negativo, contribuem para o surgimento, bem como a manutenção e intensificação de sintomas de ansiedade e depressão, causando um efeito negativo no rendimento dos estudantes.
     O estudo em questão objetivou avaliar a relação entre ansiedade, depressão e pensamentos ruminativos. A pesquisa foi realizada em três Universidades em Salvador (BA), participaram 166 sujeitos, a maioria da amostra foi de mulheres e de estudantes de Universidade pública, a média de idade da amostra foi de 21 anos.
     Ao final das análises, verificaram-se relações positivas entre ruminação, ansiedade e depressão, bem como entre a depressão e sintomas ansiosos. Não houve significância estatística ao avaliar se alunos que estavam no começo ou no final do curso apresentavam mais ou menos depressão e ansiedade. Esses resultados indicam que fatores cognitivos, como a ruminação, têm relação com a manutenção e etiologia com a depressão e os transtornos de ansiedade. Para a Psicologia da Saúde, dados como esses apresentam bastante relevância, visto que investigar melhor os aspectos cognitivos que se relacionam com os Transtornos Mentais Comuns auxiliam o trabalho de intervenção do psicólogo.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Entender para melhor atender: A depressão no pós-AVC


Terroni, L. D. M. N., Mattos, P. F., Sobreiro, M. D. F. M., Guajardo, V. D., & Fráguas, R. (2009). Depressão pós-AVC: Aspectos psicológicos, neuropsicológicos, eixo HHA, correlato neuroanatômico e tratamento. Revista de Psiquiatria Clínica36(suppl 3), 100-108.
Resenhado por Maria Clara

A depressão é o desfecho psiquiátrico mais comumente associado ao Acidente Vascular Cerebral (AVC). Ela se relaciona a maiores taxas de mortalidade, prejuízo físico e na linguagem, além de danos a qualidade de vida do paciente. Mesmo causando tantos malefícios, a Depressão Pós-Acidente Vascular Cerebral (DPAVC) é subdiagnosticada e apenas 20% a 50% dos casos são identificados podendo assim serem tratados. Os sintomas da DPAVC se distribuem nas áreas afetivas, somática e cognitiva.
O prognóstico do paciente pós-AVC se agrava diante da DPAVC, prolongando o período de hospitalização e aumentando o comprometimento funcional. Além disso, interfere também na aderência terapêutica, pois distorce sua visão geral de saúde, diminuindo a motivação e alterando o senso positivo de bem-estar subjetivo. Há ainda o caminho inverso da relação, onde a depressão exacerba o risco para ocorrência do AVC.
Diagnosticar, avaliar e tratar a DPAVC garante a possibilidade de melhor recuperação, adaptação e ajustamento frente ao AVC. A percepção subjetiva e avaliação da situação se refletem nos aspectos psicológicos, sendo de extrema importância para o enfrentamento da condição. A fim de atenuar esse quadro, a Psicologia da Saúde auxilia na busca de recursos emocionais e cognitivos que sejam mais adaptativos e se enquadrem nas restrições provocadas pela própria doença.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O adolescente com Fibrose Cística: Crescer na diferença

Reisinho, M. D. C., & Gomes, B. (2016). O adolescente com fibrose cística: Crescer na diferença. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, (SPE3), 85-94. doi: 10.19131/rpesm.0123
Resenhado por Maísa Carvalho
A adolescência se caracteriza como um período do desenvolvimento onde ocorrem múltiplas alterações biopsicossociais que, frequentemente, impulsionam o sujeito a exercitar a sua capacidade de ajustamento, almejando um desenvolvimento social saudável. A presença de uma doença crônica como a Fibrose Cística (FC), patologia caracterizada por disfunção nas glândulas exócrinas e que apresenta manifestações clínicas como tosse crônica, pneumonias, desnutrição e suor salgado, exponenciam as dificuldades relacionadas a essa etapa e podem interferir a autoimagem e vida social do adolescente.
O estudo em questão utilizou como aporte teórico a Teoria das Transições de Meleis e como opção metodológica a Teoria Fundamentada nos Dados (TFD). A apreensão dos dados foi feita com o uso de entrevistas semiestruturadas que possuíam duas perguntas base – “Experiência como doente com FC?” e “Ter FC é...?”. A amostra foi constituída por 16 adolescentes (5 do sexo masculino e 11 do feminino), com idades entre 11 e 23 anos, diagnosticados com FC há mais de 1 ano e escolaridade entre 5° ano e mestrado.
Os resultados obtidos dos relatos dos adolescentes foram subdivididos em 5 categorias, que juntas demonstram o processo de conscientização da doença, o que abarca desde o conhecimento do diagnóstico até a autonomia nos tratamentos. A seguir são descritas as categorias e suas respectivas definições.  
1) Condições Causais – Mudança e Diferença: A doença é identificada ainda na infância, em idade escolar. A aceitação geralmente vem na mesma medida em que o indivíduo percebe sua diferença em relação aos outros por conta de pequenas manifestações patológicas.
2) Contexto – Acontecimentos e Pontos Críticos: Por estarem inseridos em diferentes contextos sociais, os adolescentes sentem a necessidade de explicitar limitações físicas, sociais e temporais concernentes à doença, que implicam em sua rotina.
3) Intervenientes – Espaço Temporal da Transição: Existe uma transição entre o diagnóstico e aceitação, esta última mais assimilada quando o adolescente sente-se capaz de realizar atividades como os outros pares que não possuem a FC.
4) Estratégias de ação – Empenhamento: Refere-se as ações realizadas pelos jovens para conhecer um pouco mais sobre seu quadro clínico. Na pesquisa, a internet e os questionamentos a pessoas de confiança, tais como pais e profissionais de saúde, os elementos mais utilizados.
5) Consequências – Domínios de Novas Competências: Ao final da transição, os adolescentes sentem a necessidade de exercitar sua autonomia e responsabilidade em virtude de viver com uma doença crônica. A curiosidade em conhecer a FC é um dos fatores que propulsionam esse desejo.
A vivência de doenças, especialmente as crônicas e terminais, demandam maior acompanhamento e apoio por parte dos profissionais de saúde. O psicólogo, em especial, busca trabalhar a autonomia e adaptação do indivíduo dentro das suas limitações, além de outras questões pertinentes que possam afetar o processo de adesão ao tratamento.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Intervenção breve de autoajuda guiada para sofrimento psicológico em pacientes em cuidados paliativos: Um estudo randomizado controlado

Galfin, J., Walkins, E., & Harlow, T. (2012). A brief guided self-help intervention for psychological distress in palliative care patients: A randomised controlled trial. Palliative Medicine, 26, 197-205.

Resenhado por Luana Santos

É considerado paciente terminal aquele cujo estado da saúde esteja tão prejudicado que não haja mais nenhum tratamento que recupere seu bem-estar, tornando necessário a atuação da equipe responsável pelo tratamento desse paciente iniciar os cuidados paliativos. Nesses pacientes, a ruminação é importante fator presente em seu sofrimento psicológico e sua redução pode também reduzir a angústia psíquica causada pelo diagnóstico terminal.
Galfin, Walkins e Harlow (2012) hipotetizaram que uma breve técnica de autoajuda direcionada à ruminação reduziria o sofrimento psicológico em pacientes em cuidados paliativos. Assim, um estudo randomizado controlado feito pelos autores avaliou durante quatro semanas a aplicação de técnicas de autoajuda guiada em pacientes em cuidados paliativos que estivessem fisicamente bem para participar do estudo. A técnica de autoajuda guiada envolvia a prática de pensamentos mais concretos a partir da lembrança de memórias específicas e vívidas de atividades ou cenas. Além disso, os participantes respondiam instrumentos de avaliação de ansiedade, depressão e qualidade de vida. Nesse estudo, um grupo de 19 pacientes recebeu o tratamento citado e 15 constituíram o grupo controle recebendo o tratamento usual.
Galfin et al. (2012) confirmaram sua hipótese, observando que os pacientes que receberam a intervenção focada em diminuir a ruminação revelaram diminuição significativamente maior na ansiedade do que os do grupo controle, não havendo efeito significativo para depressão e qualidade de vida. Seus resultados sugerem que uma breve intervenção de autoajuda guiada com base no treinamento de pensamentos concretos e não ruminativos pode ser eficaz no tratamento da ansiedade em cuidados paliativos. Nesse sentido, diversos profissionais envolvidos com esses pacientes podem otimizar suas práticas, inclusive o profissional da psicologia, indo além do acolhimento e escuta e proporcionando novas percepções tanto ao paciente como a sua família.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Parir dói: Violência obstétrica sofrida por mulheres no momento do parto

Guimarães, L.B.E., Jonas, E., & Amaral, L.R.O.G. (2018). Violência obstétrica em maternidades públicas do estado do Tocantins. Revista Estudos Feministas, 26.

Resenhado por Ariana Moura

            A violência obstétrica pode ser definida como qualquer conduta, ato ou omissão realizado por profissionais de saúde que, direta ou indiretamente, leva à apropriação indevida dos processos corporais e reprodutivos das mulheres. Tal violência é expressa, por exemplo, no tratamento desumano, abuso da medicalização e patologização dos processos naturais.
A pesquisa em questão identificou as percepções das mulheres sobre violência obstétrica durante o parto em maternidades públicas do Estado do Tocantins, no período de 2010 a 2013. Dentre as 56 entrevistadas, 43 relataram ter sofrido algum tipo de violência por parte dos profissionais de saúde.
Observou-se que a percepção das mulheres sobre a violência obstétrica sofrida está relacionada à falta de qualidade na assistência, destacando-se a ausência de vínculo e comunicação entre profissionais, pacientes e seus familiares, problemas nos diagnósticos médicos, falta de acolhimento e resolutividade. Além disso, as entrevistadas relataram diversos sentimentos vivenciados em decorrência da violência obstétrica, entre eles: chateação, tristeza, medo da morte de seus bebês e delas próprias, sentimentos de incapacidade e fragilidade atribuídos como consequência do atendimento inadequado proporcionado pelos profissionais.
Através dos relatos, os autores observaram que a violência obstétrica é difusa e contempla, além das relações interpessoais, várias faces da violência institucional. Na origem desse ato está a formação precária, a ausência de educação permanente em saúde, a desorganização dos serviços, os problemas estruturais e o descumprimento de práticas baseadas em evidências científicas.
Por fim, o combate a essa prática precisa acontecer nas várias esferas sociais, e,à Psicologia cabe a legitimação do sofrimento decorrente de tal violência, dar voz às vítimas e criar pontes entre a equipe multidisciplinar e as pacientes em busca do resgate da percepção do parto com um momento significativo e único na vida de cada mulher.

sábado, 11 de agosto de 2018

Relação terapêutica e adesão em doentes portadores da infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)

Margalho, R., Paixão, R., & Pereira, M. (2010). Relação terapêutica e adesão em doentes portadores da infeção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Psicologia, Saúde & Doenças, 11(1), 71-81.

Resenhado por Joelma Araújo

A adesão ao tratamento é algo dinâmico, que envolve muitos fatores, variando de acordo com o tratamento farmacológico, as características da doença, os fatores psicossociais, a variabilidade individual, a relação terapêutica e os cuidados de saúde. No caso de pessoas soropositivas (portadoras do Vírus da Imunodeficiência Humana -HIV), o comportamento de adesão é decisivo para a sobrevida, sendo que para o controle da infecção é necessário utilizar de 90 a 95% das doses dos medicamentos antirretrovirais (Lecour, Sarmento, & Castro, 2004).
A relação terapêutica é um elemento essencial para a adesão ao tratamento. Além disso, observa-se que crenças positivas a respeito da eficácia dos medicamentos aumentam os níveis de adesão. É fundamental que comunicação entre médico e paciente advenha de uma relação empática, com um discurso médico simples pautado em prestar informações ao paciente, dirimindo dúvidas e esclarecendo a importância dos medicamentos e de sua adesão ao tratamento.
Desta forma, o presente estudo objetivou avaliar a influência da relação terapêutica no processo de adesão, tendo como hipótese que esta relação quando positiva facilita a aderência ao tratamento. Para isto, um estudo empírico foi realizado tendo com amostra 81 pacientes, sendo 41 deles do sexo feminino, com média 38,7 anos de idade.  Os resultados encontrados corroboraram a hipótese de que a adesão ao tratamento é influenciada pela relação terapêutica positiva, uma vez que se observou maior proporção de doentes que não aderem ao uso da medicação classificam a relação terapêutica como negativa. Outro ponto salientado foi o de que os pacientes que caracterizam a relação como disponível e positiva foram aqueles que apresentam maior tempo de infecção, e consequentemente maior adaptação. Os autores pontuam que essa adaptação é resultado de um somatório de recursos que contribuem para reagir e lidar com a doença.
            Assim, percebe-se a relação terapêutica como fator primordial para o sucesso de qualquer tratamento, especialmente em doenças crônicas e graves como o HIV. Nesse sentido, o profissional de psicologia da saúde tem o papel de auxiliar este processo de adaptação, adesão ao tratamento e de enfrentamento da doença, auxiliando o paciente a agir de forma mais ativa e consciente dos processos necessários para um melhor prognóstico.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Medidas de reserva cognitiva na doença de Alzheimer

Sobral, M., Pestana, M. H., Constança, P. (2014). Measures of cognitive reserve in Alzheimer’s disease. Psychiatry Psychotheraphy, 36(3), 160-168. doi:10.1590/2237-6089-2014-0012 

Resenhado por Iracema R. O. Freitas

       A doença de Alzheimer (DA) é um distúrbio neurodegenerativo progressivo que se caracteriza pela deterioração das capacidades cognitiva e funcional além dos sintomas neuropsiquiátricos e comportamentais. Esse tipo de demência é a mais comum entre os idosos, sendo que quanto maior o tempo de vida maior será a probabilidade do seu surgimento. O conceito de Reserva Cognitiva (RC) se refere a um construto hipotético que fornece informações sobre o envelhecimento cognitivo, na tentativa de conhecer como o cérebro pode lidar com os efeitos dos processos neurodegenerativos e para minimizar os sinais clínicos da demência. A RC pode resultar de inteligência inata ou experiências de vida, e trabalha com a hipótese de que pessoas que possuem maior RC lidam melhor com o avanço da DA. A medida da RC não pode ser realizada diretamente, sendo necessária a aplicação de instrumentos que analisem variáveis relacionadas a experiência ao longo da vida, como educação, ocupação e atividades de lazer, bem como outras variáveis que possam ajudar a manter a função cognitiva na velhice.
    O estudo foi realizado no Hospital Magalhães Lemos (Porto, Portugal), com 75 pacientes ambulatoriais diagnosticados com DA, cuja idade média era de 80 anos, tendo sido avaliadas as capacidades funcionais e neuropsicológicas. Os intrumentos utilizados foram dois questionários: participação em Atividades de Lazer ao Longo da Vida (PLA). Os resultados apontaram que os pacientes com maiores níveis educacionais, ocupações mais complexas e maior atividade intelectual ao longo da vida obtiveram maior RC que aqueles com menor atividade intelectual e científica.
      Para a Psicologia a relevância da RC em pacientes com DA está em possibilitar uma melhora na forma como se lida com a demência, adiando os efeitos da degeneração principalmente em pacientes iniciais. Os itens presentes nos instrumentos descrevem um quadro de atividades cotidianas realizadas durante a vida desses pacientes, tais como tocar instrumentos musicais, hábito da leitura, prática de jogos que exigem concentração e esforça cognitivo, estudo de outros idiomas e outros. Tais habilidades desenvolvidas ao longo da vida possuem um papel determinante na maneira como o Alzheimer pode impactar a vida do paciente em curto e longo prazo.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Percepção masculina acerca das barreiras em procurar ajuda para depressão: Descobertas longitudinais acerca do início e duração dos sintomas

Rice, S. M., Aucote, H. M., Parker, A. G., Alvarez-Jimenez, M., Filia, K. M., & Amminger, G. P. (2017). Men’s perceived barriers to help seeking for depression: Longitudinal findings relative to symptom onset and duration. Journal of Health Psychology22(5), 529-536. doi: 10.1177/1359105315605655

Resenhado por Geovanna Turri

A capacidade dos homens em buscar comportamentos em saúde ocorre dentro dos limites de condições influenciadas por valores culturais, históricos e sociais mais amplos, que traz junto uma carga negativa que envolve conceitos como masculinidade. A busca ocorre na maior parte das vezes quando os sintomas já são inegáveis ou estão em estágio mais grave. O presente estudo colabora para a compreensão da psicologia da saúde e suas intervenções junto à população masculina, investigando a relação entre a cronicidade dos sintomas da depressão e a busca por ajuda, em relação ao início e duração dos sintomas.
Participaram deste estudo 125 homens com idade média de 39 anos, que forneceram dados sobre barreiras percebidas para a busca de ajuda em saúde mental e que se auto relataram com depressão. A depressão foi avaliada por meio do Questionário de Saúde do Paciente (Patient Health Questionnaire [PHQ-9]; Kroenke et al., 2001). A busca de ajuda anterior para depressão foi avaliada pelo item único: "Você já esteve em tratamento para depressão?”. Para aqueles que responderam positivamente foi perguntado sobre qual profissional forneceu o tratamento. Foram avaliadas ainda as barreiras presentes durante a busca por ajuda por meio da Barriers to Help-Seeking Scale (BHSS; Mansfield et al., 2005).
Em síntese os resultados mostraram que aqueles homens que afirmaram ter depressão há médio/longo prazo relataram mais barreiras para buscar ajuda do que homens com diagnóstico recente. Esse achado foi consistente em todos os domínios de barreiras pela busca de ajuda e ocorreu independentemente de busca anterior por ajuda psicológica. Ao relatar dados longitudinais relacionados a experiências de sintomas de depressão, este estudo indicou uma relação entre a busca assistida, barreiras percebidas e duração dos sintomas de depressão. A gravidade dos sintomas foi identificada como fator chave para motivar os homens a buscarem ajuda, auxiliando-os a superar a visão de “invulnerabilidade”. 
A experiência da depressão de longa data dos sintomas (maior que 15 semanas) foram insuficientes para alegar que os homens desse grupo superaram as barreiras percebidas. Ao discutir sobre os achados, os autores narraram que é possível que os homens deste estudo que relataram depressão há longa data, podem ter visto seus sintomas como “injustificáveis” para buscar atendimento psicológico. Além disso, baixos níveis de escolaridade e de informações acerca de saúde (e da própria depressão) poderiam ter impedido o reconhecimento de sintomas nos participantes, impedindo que se conscientizassem da necessidade de procurar ajuda. O estudo também revelou que a experiência anterior não garantiria uma nova busca por atendimento e ajuda, indo de encontro a outros estudos. A busca prévia por ajuda psicológica não influenciaria positivamente na atitude de buscar ajuda.
Os presentes achados destacam a necessidade de desenvolver e avaliar intervenções psicológicas para a população masculina que sofre ou que pode vim a sofrer com a depressão. Acredita-se que entender os fatores envolvidos e as barreiras percebidas por esses homens para buscar ajuda é de extrema relevância para traçar estratégias de intervenção mais pontuais e eficazes.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Ansiedade e depressão em pacientes com esclerose múltipla

Young-Blood, M. R., Chirichela, I. A., Pucci Filho, C. R., Camargo, C. H. F., & da Fonseca, R. C. V. (2016). Ansiedade e depressão em pacientes com esclerose múltipla. Revista PsicoFAE: Pluralidades em Saúde Mental5(1), 31-46.

Resenhado por Gabriela de Queiroz

            A Esclerose Múltipla (EM) é caracterizada como uma doença inflamatória, autoimune, crônica, desmielinizante e degenerativa que atinge o Sistema Nervoso. Sua etiologia está ligada a interações entre o ambiente, SNC, sistema imunológico e também fatores hereditários. Comumente, o inicio da doença ocorre entre os 20 e 40 anos, com prognóstico variável, e com taxa de ocorrência 2 vezes maior em mulheres. As taxas de ansiedade e depressão na população acometida pela EM são consideradas elevadas quando comparadas à população geral ou com outras doenças crônicas, sendo estes os transtornos mentais mais prevalentes em pacientes com EM. Há também indícios de que sintomas ansiosos e depressivos estão diretamente relacionados a piora na qualidade de vida de pacientes com EM.
            O presente estudo buscou mensurar a prevalência de depressão e ansiedade em pacientes com diagnóstico de EM em um Estado brasileiro, bem como verificar a correlação entre ansiedade, depressão e a subjetividade dos pacientes acerca do seu adoecimento. Para isto, realizou-se um estudo observacional descritivo transversal, com 11 pacientes em tratamento ambulatorial especializado em um Hospital Universitário. Os instrumentos utilizados foram o BAI (Beck Anxiety Inventory); o BDI (Beck Depression Inventory); e uma entrevista fenomenológica qualitativa com três perguntas, a fim de compreender o impacto da doença na vida pessoal, nas relações sociais e atividades laborais.
            Os resultados indicaram que 50% das mulheres da amostra apresentaram índices de ansiedade superiores ao dos homens. Todos os pacientes apresentaram sintomas depressivos, em maior ou menor grau, mas nenhum deles foi considerado um paciente com depressão severa. Vale ressaltar que 70% dos pacientes faziam uso de ansiolíticos e/ou antidepressivos. Desta forma, entende-se que os medicamentos podem ter reduzido os sintomas, mas que não os eliminou.
            A análise dos dados subjetivos identificou que o impacto da doença na vida do paciente se apresenta na forma de tristeza, pessimismo e isolamento; os pacientes também sinalizam a perda da independência e o efeito disto em suas relações sociais. Por fim, evidenciam o sofrimento causado pelo afastamento do trabalho, causado principalmente pela dor e fadiga que acompanham a doença. Constatou-se que todos estes fatores se correlacionam positivamente ao surgimento de sintomas ansiosos e depressivos.
            Diante desses resultados, foi possível afirmar que o estudo cumpriu com os objetivos pretendidos, bem como destaca a importância de um tratamento mais completo a estes pacientes. Tal proposta deve incluir assistência médica e psicoterápica, a fim de que os pacientes sejam mais bem assistidos emocionalmente, favorecendo, assim, a minimização do impacto psicológico da EM.