Páginas

sábado, 29 de setembro de 2018

O método Life Kinetik® sob a perspectiva das neurociências e educação: uma análise teórica

Herrera, H. J. T., Schmitz, H., Faro, A. (2017). O método Life Kinetik® sob a perspectiva das neurociências e educação: uma análise teórica. Revista Educação em questão (Online), 55, 127-151.

Resenhado por Danielle Alves

Dados estatísticos educacionais do Brasil, em comparação com índices de outros países, demonstra a existência de lacunas quanto ao uso de estratégias para melhorar o processo de aprendizagem. Diante da necessidade de buscar ferramentas pedagógicas inovadoras, o artigo, por meio dos pressupostos neurocientíficos, visa discutir teoricamente o fenômeno da aprendizagem e possibilidades de potencialização desse processo através do método Life Kinetik®, além de avaliar a sua aplicabilidade no âmbito escolar.
Aprendizagem é um processo através do qual experiências modificam o sistema nervoso e, consequentemente, o comportamento das pessoas. Tais mudanças estariam relacionadas à aquisição de novas habilidades e atitudes ante uma capacidade já existente. Do ponto de vista neurocientífico, é um processo que envolve complexas operações bioquímicas e estruturais, tanto no nível do neurônio como no nível de redes neurais, que perfazem processos perceptivos, atencionais, de detecção de recompensas e/ou ameaças, ações motoras e identificação da relação entre ação-consequências ambientais. Especificamente concebe-se que há um tipo de aprendizagem, a associativa, que se encontra estreitamente relacionada com a motora. A aprendizagem associativa pressupõe a percepção da relação entre elementos a ponto de predizer o que pode acontecer. A aprendizagem motora diz respeito à capacidade de aprender procedimentos tornando-os automáticos. Assim, parte-se da ideia de que a automatização de uma ação depende de cadeias associativas entre comportamentos e consequências ambientais.
O método Life Kinetik® tem como objetivo unir tarefas cognitivas e motoras, por meio das quais o cérebro conseguiria criar novas ligações cerebrais, as quais seriam utilizadas posteriormente na vida cotidiana. Ante a complexidade de exercícios, todo o córtex seria ativado, ampliando o envolvimento de áreas cerebrais. Haveria a influência na aprendizagem de outras tarefas não necessariamente motoras. Estudos com camundongos têm mostrado que a exposição a tarefas motoras estimulou a neurogênese em regiões responsáveis pela memória. Transpondo para o funcionamento de humanos e adultos, seria possível pensar em um aumento de sua capacidade de aprendizagem.
Pesquisas aplicadas ao campo educacional já referiram aumento da atenção, concentração e do desempenho após a utilização de métodos psicomotores. Entende-se que o Life Kinetik® estimula outros tipos de aprendizagem que aumentam a ativação cerebral, o que, por sua vez, deixam o cérebro mais propenso a formar novas conexões. Apesar dos achados, faltariam evidências científicas suficientemente fortes para recomendar esse método para a melhora de processos de aprendizagem nas escolas, lacunas que poderiam ser esclarecidas com maior investimento em pesquisas.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Autoeficácia, lócus de controle e adesão ao tratamento em pacientes com diabetes tipo 2

Santos, C. M. D. J., & Faro, A. (2018). Autoeficácia, lócus de controle e adesão ao tratamento em pacientes com diabetes tipo 2. Revista da SBPH21, 74-91.

Resenhado por Daiane Nunes

Atualmente, mais de 400 milhões de pessoas vivem com diabetes no mundo, sendo o Diabetes Mellitus (DM) 2 o tipo de maior prevalência no número total de casos. Os cuidados no manejo da doença envolvem dieta alimentar, exercícios físicos, ingestão de antidiabéticos orais e/ou injeções de insulina e automonitoração constante do nível de glicose no sangue. A não adesão ao tratamento é reconhecida como umas das principais causas do surgimento de complicações e produz uma série de consequências na qualidade de vida do paciente. Diferentes fatores estão associados à adesão, entre eles, os relacionados ao paciente, incluindo suas crenças, percepções, conhecimentos sobre sua doença, atitudes, expectativas e motivação diante do tratamento, bem como algumas variáveis psicológicas como a percepção de lócus de controle e de autoeficácia.
A autoeficácia é definida como a crença que o indivíduo tem sobre suas capacidades em produzir um determinado resultado, o qual irá interferir em eventos de sua vida. O lócus de controle trata-se de um construto que diz respeito a uma tendência relativamente estável das pessoas em explicar a causalidade dos eventos que ocorrem em suas vidas, podendo ser determinada pela sua própria conduta (lócus de controle interno) ou por fatores externos (lócus de controle externo). Ambas as variáveis exercem papel importante na adoção de comportamentos em saúde e podem influenciar no manejo do tratamento do DM Tipo 2. Diante disso, o estudo em questão teve como objetivo analisar como as variáveis autoeficácia, lócus de controle, sociodemográficas e clínicas influenciam no processo de autocuidado dos pacientes, buscou-se também identificar os principais preditores da adesão desses pacientes.
A amostra foi constituída por indivíduos com DM Tipo 2 de ambos os sexos, que realizavam acompanhamento há mais de seis meses com equipe de Saúde da Família de Itabaiana - SE. Os instrumentos utilizados incluíram um questionário sociodemográfico e clínico, o Questionário de Atividades de Autocuidado com o Diabetes (QAD), a versão brasileira da Diabetes Self-Efficacy Scale (DSES) e a Escala de Lócus de Controle Multidimensional de Levenson. Os procedimentos para análise dos dados incluíram análises exploratórias-descritivas e testes inferenciais. Realizou-se análise de Regressão Logística Múltipla a fim de verificar o poder preditivo das variáveis independentes sobre a adesão.
No que se refere aos fatores psicológicos, as variáveis preditoras da adesão ao tratamento foram o Lócus de controle – Internalidade [IHLC] (OR = 2,3; p = 0,001) e a Autoeficácia (OR = 12,8; p < 0,001). No que diz respeito à autoeficácia, indivíduos que apresentaram maior percepção de autoeficácia exibiram quase treze vezes mais chances de compor o grupo com maior adesão ao tratamento. Quanto ao IHLC (Internalidade), os participantes que pontuaram abaixo ou igual à média do escore dessa variável (M = 26,18; DP = 2,82) apresentaram maior poder preditivo de adesão, isto é, duas vezes mais chances de compor o grupo de adesão.
Em suma, evidenciou-se que a percepção das capacidades e do controle das ações voltadas para o autocuidado se comportou como fatores relevantes no manejo do tratamento do diabetes, devendo ser consideradas em pesquisas e em intervenções de caráter preventivo, voltadas para o autocuidado em diabetes.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Implantação de um boletim informativo como proposta de humanização no pronto-socorro de um hospital público

Santana, A. T. L., Liao, N. S., Oliveira, C.; Lima, J., & Faro, A. (2018). Implantação de um boletim informativo como proposta de humanização no pronto-socorro de um hospital público. Revista Baiana de Saúde Pública (online), 41(2), 537-550. doi: . 10.22278/2318-2660.2017

Resenhado por Catiele Reis

O conceito de Humanização é complexo e vai além de ações pontuais. Busca promover ao paciente e aos seus cuidadores um atendimento eficaz e humano de forma a minimizar o desgaste físico e emocional que está presente em todo o momento de internação. Nestas, o paciente e seus acompanhantes ficam longos períodos sem contato com o mundo externo. O Sistema Único de Saúde tem uma rede ampliada e descentralizada em saúde. Em Sergipe, a referência em Urgência e Emergência é o Hospital de Urgências de Sergipe (HUSE), mais conhecido como Hospital Governador João Alves Filho. O Pronto-Socorro está organizado em um sistema de Classificação de Risco para avaliar a gravidade dos pacientes, por meio de cores que compreendem a Área Azul, Área Verde, Área Amarela e Área Vermelha.
O trabalho desenvolvido teve como foco a área Vermelha, objetivando montar um boletim de acompanhamento para familiares e visitantes de forma que as informações acerca do quadro de saúde fossem expostas de forma simples e clara para o paciente e seus acompanhantes. Essa proposta compôs uma parte do Plano de Educação pelo Trabalho para Saúde/redes de urgência e Emergência, tendo sido proposto em decorrência da ausência de um instrumento sistematizado para o acolhimento. Além disso, constatou-se a dificuldade de obtenção das informações que são passadas durante a visita, o que tende a produzir insatisfação recorrente entre pacientes e familiares.
O boletim foi composto por informações de registro do paciente, assim como informações sobre seu estado de saúde e as medicações que ele faz uso. Suas partes objetivaram criar um instrumento que pudesse trazer informações mais concretas acerca da realidade do paciente internado, fazendo surgir assim, um trabalho assistencial mais completo, com a criação de uma rotina institucional que ligue os diferentes setores de cuidados envolvidos no processo.
Como principais conclusões, destacam-se a aproximação dos alunos do Plano de Educação pelo Trabalho para Saúde/Redes de Urgência e Emergência com o cotidiano de trabalho no Sistema Único de Saúde e a ratificação da importância da interdisciplinaridade no planejamento da assistência hospitalar.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Tradução, adaptação e validação do Servant Leadership Questionnaire (Escala de Liderança Servidora)

Almeida, S. P., & Faro, A. (2016). Tradução, adaptação e validação do Servant Leadership Questionnaire (Escala de Liderança Servidora). Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 16(3), 285-297. doi:10.17652/rpot/2016.3.11929.

Resenhado por Brenda Fernanda

A liderança tem sido um dos temas mais investigados na área organizacional e pode ser entendida como um processo que envolve influência nos objetivos, tarefas e ações de um grupo, visando a implementar estratégias e alcançar objetivos. Outra definição é a ideia de liderança servidora, que encara o líder como um servo, dedicado aos indivíduos e grupos que pretende liderar. Nas décadas de 80 e 90 houve aumento do interesse na liderança servidora, que promove a criação do autointeresse dos líderes na busca de melhoria e desenvolvimento de seus liderados, bem como incorpora ideais de emancipação, qualidade total, formação de equipes e gestão participativa, além da ética ao servir.
Os autores apontaram uma lacuna no que diz respeito à investigação do construto no Brasil, indicando a necessidade de disponibilização de um instrumento visando a incentivar pesquisas empíricas acerca da liderança servidora. Diante disso, o estudo objetivou traduzir, adaptar e validar o Servant Leadership Questionnaire (SLQ) para o português brasileiro, realizar validação convergente entre as dimensões da liderança servidora e da liderança transformacional, além de realizar validação preditiva entre as dimensões da liderança servidora e a satisfação com a chefia a fim de atestar a estrutura fatorial encontrada.
O estudo possuiu abordagem quantitativa e delineamento transversal, com amostragem não probabilística por conveniência. Participaram 337 indivíduos, entre alunos de graduação e pós-graduação (61,4%; n = 207), funcionários efetivos (22,6%; n = 76) e terceirizados (16,0%; n = 54), com maior número de mulheres (52,2%) e idades variando entre 19 e 62 anos (M = 29,58; DP = 8,99). Utilizaram-se questionário sociodemográfico, Servant Leadership Questionnaire (SLQ), Escala de Atitudes frente a Estilos de Liderança e Escala de Satisfação no Trabalho (EST). Os pesquisadores conduziram procedimentos de adaptação e validação de instrumento no Brasil, incluindo tradução, avaliação por experts, retradução e avaliação pelo público-alvo. Utilizou-se o software SPSS para análise de dados.
A partir da Análise Fatorial Exploratória (AFE) observou-se que estruturalmente a ELSE se diferencia da SLQ na quantidade de dimensões, visto que a versão original possui cinco fatores (vocação altruísta, cura emocional, sabedoria, pensamento persuasivo e intendência organizacional) e a traduzida apenas três fatores (abnegação, influência visionária e intendência organizacional). Quanto à validade convergente, foram constatadas correlações significativas e moderadas na relação entre as dimensões da liderança servidora e a liderança transformadora, conforme esperado.
Por fim, destaca-se que adaptações e validações de instrumentos na área da Psicologia fazem-se necessárias a fim de que se tenham instrumentos confiáveis, robustos e adequados para mensuração de construtos em contexto nacional.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Estratégias de enfrentamento e o sofrimento de mães de filhos com paralisia cerebral

Nascimento, A. O., Faro, A. (2015). Estratégias de enfrentamento e o sofrimento de mães de filhos com paralisia cerebral. Salud&Sociedad, 6(3), 195-210.

Resenhado por Ariana Moura

A Paralisia Cerebral (PC) pode ser entendida como um distúrbio permanente que provoca deficiência nos movimentos e na postura, devido à lesão não progressiva no cérebro, no começo da vida.  A pessoa com PC necessita de cuidados especiais e na maioria dos casos a mãe é responsável por tal zelo.Todo esse tempo de dedicação tende a se configurar como estressor e pode gerar estresse crônico. Diante desse estresse, o cuidador precisará utilizar estratégias para lidar com as situações impactantes que fogem da sua capacidade de suportar ou solucionar, o que é chamado de enfrentamento.
O objetivo da pesquisa foi identificar as mudanças ocorridas na vida de cuidadoras de crianças e adolescentes com PC e quais os impactos e as estratégias de enfrentamento desenvolvidas por elas. Participaram do estudo 11 mães. Os discursos das mães foram categorizados em três classes: na primeira classe, englobaram falas referentes ao parto, diagnóstico, primeiras informações sobre a PC e decisões a serem tomadas pelas mães posteriormente. A segunda classe trouxe principalmente a discriminação da sociedade e, secundariamente, a rejeição inicial das próprias mães. Já a terceira classe tratou da família como principal fonte de apoio nos diferentes momentos da trajetória do cuidado.
A partir dos resultados encontrados, observou-se que, apesar de saber das limitações e impossibilidades que a PC acarreta, as mães tenderam a se apegar à fé religiosa, criando a expectativa de que o prognóstico do filho não será tão limitante. Tal estratégia pareceu facilitar a adaptação de algumas mães nos anos iniciais dos filhos, visto que, passado este momento primeiro de enfrentamento, os discursos passaram a ser mais carregados de resignação.
Diante do exposto, é importante pontuar a necessidade de que se desenvolvam programas educativos nos serviços de saúde, a fim de que os profissionais de saúde possam mais bem atender e orientar as mães sobre a PC, já que o diagnóstico e as primeiras mudanças advindas foram relatados como períodos de maior transformação na vida das mães.Levando em consideração que o cuidador na maioria das vezes dedica-se exclusivamente aos cuidados do filho doente e coloca em segundo plano todos os outros aspectos de sua vida. O psicólogo pode contribuir auxiliando no resgate da individualidade do cuidador, fornecendo-lhe suporte para cuidar da própria saúde e qualidade de vida e ajudá-lo a encontrar um lugar apropriado para o paciente em sua vida, lembrando-o que a vida não se resume apenas ao ato de cuidar.

sábado, 22 de setembro de 2018

Estigma em pacientes admitidos em urgência/emergência por tentativa de suicídio: análise de estudantes e profissionais da saúde a partir de casos hipotéticos

Dória, A. R., & Faro, A. (2017). Estigma em pacientes admitidos em urgência/emergência por tentativa de suicídio: Análise de estudantes e profissionais da saúde a partir de casos hipotéticos. Salud & Sociedad8(3), 200-215. doi:10.22199/SO7187475.2017.0003.00001.

Resenhado por Uquênia Lemos

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2015), mais de 800 mil pessoas morreram em decorrência do suicídio em 2015. No Brasil, a taxa de suicídio cresceu cerca de 60% nos últimos 45 anos. A literatura mostra que pacientes admitidos em urgências/emergências por tentativa de suicídio podem sofrer negligência, hostilização ou outras características negativas durante o atendimento e permanência hospitalar, devido aos estigmas existentes no comportamento dos profissionais da saúde. Estigma é definido como a atribuição de estereótipos negativos que marca o indivíduo. Sendo assim, essa pesquisa objetivou analisar, segundo estudantes e profissionais da saúde, estigmas que perpassam o atendimento ao paciente admitido na emergência/urgência por tentativa de suicídio.
Para tanto, foram criados hipoteticamente três cenários de estudo (CEs), com cinco casos clínicos, dentre eles uma vítima de tentativa de suicídio. Os CEs variavam de acordo com o tipo de deliberação da causa da internação. Na deliberação ativa (DA), atribui-se ao indivíduo internado a culpa direta e intencional pelo seu adoecimento. Na deliberação passiva (DP) o paciente é culpado indiretamente com base na ideia de que o desfecho não é intencional.  Já o cenário AC (aproximação do cotidiano) se refere aos casos rotineiros observados em atendimentos de pronto-socorro. A partir destes CEs criou-se uma situação fictícia sendo informado aos profissionais de saúde que os pacientes precisavam de suporte de ventilação mecânica (VM), contudo só havia três disponíveis. Desta forma, cabia aos participantes estabelecer uma ordem de prioridade, que variou do 1º ao 5º lugar de recebimento da VM entre os pacientes. Os participantes classificaram apenas um CE e não sabiam da existência dos outros. Participaram do estudo 174 profissionais e estudantes das áreas de medicina e enfermagem, sendo 135 mulheres e 39 homens, com uma média de idade de 29,5 anos.
Inicialmente se constatou uma média limítrofe de prioridade do paciente que dá entrada na urgência por tentativa de suicídio, o equivalente a 2,9 (DP=1,40). Comparando as médias de colocação de cada paciente vítima de tentativa de suicídio com cada um dos CEs, observou-se uma significância estatística. O paciente vítima de tentativa de suicídio no cenário de DA apresentou a média mais baixa (M=1,7; DP=1,10) e mais alta nos de DP (M=3,5; DP=1,20) e no de AC (M=3,4; DP=1,14). Assim, percebe-se que não houve diferença significativa entre DP e AC (p>0,05). Nestes cenários o paciente ficaria acima da terceira posição, não sendo considerado prioridade para receber a VM, enquanto que no contexto do DA, a vítima de tentativa de suicídio receberia a VM, pois ficou entre a primeira e a segunda posição. Essa diferença verificada na média de priorização do paciente que tentou suicídio por CEs mostra que os estigmas direcionados às vítimas de tentativa de suicídio não é estático e que a estigmatização por parte de profissionais da saúde depende de influências externas.
Enfim, entende-se que para diminuir a estigmatização sobre o paciente vítima de tentativa de suicídio se faz necessário promover mais conhecimento e capacitação dos profissionais da saúde, assim como buscar entender as consequências negativas que a estigmatização pode exercer sobre tais pacientes.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Representações sociais do usuário de crack para familiares e profissionais de saúde

Silva, N. F., & Faro, A. (2016). Representações sociais do usuário de crack para familiares e profissionais de saúde. Psychologica, 59, 25-41. doi: 10.14195/1647-8606_59_1_2. 

Resenhado por Milena Bahiano

No Brasil, o crescimento do consumo do crack tornou-se um dos maiores problemas de saúde pública e tem sido considerado uma epidemia por muitos estudiosos da saúde mental. Derivado da cocaína, o crack possui rápida absorção no organismo e elevado potencial, à curto prazo, de desenvolvimento de dependência física e psicológica no usuário. Como dispositivo de acolhimento e atenção à saúde mental, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ocupam atualmente um espaço importante na rede de atenção e cuidados aos usuários de álcool e outras drogas, bem como de seus familiares.
Neste estudo, utilizou-se como referencial teórico a Teoria das Representações Sociais com enfoque na Teoria do Núcleo Central. A pesquisa foi desenvolvida em um CAPS AD (Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e outras Drogas) e em três CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) situados no Estado de Sergipe. A amostra foi composta por 20 familiares e 30 profissionais inseridos nos CAPS, sendo que, ambos os participantes deveriam ter contato direto nos cuidados e atenção à saúde do usuário de crack. Os dados foram coletados com base na técnica de evocação livre e as três primeiras evocações foram consideradas na análise. Perguntou-se aos participantes: “O que vem a sua mente quando ouve a expressão ‘usuário de crack’?”. Já na análise dos dados utilizou-se o software Ensemble de Programmes Permettant l’Analyse des Evocations (EVOC).
Nos resultados apresentados, os autores analisaram as representações sociais atribuídas aos usuários de crack, na concepção de familiares e profissionais de saúde inseridos nos CAPS, e uma análise comparativa foi realizada entre as evocações apresentadas pelos grupos a partir do termo indutor usuário de crack. As evocações dos familiares se relacionaram significativamente com as mudanças ocorridas no âmbito familiar, já os profissionais de saúde se ativeram sobre os comportamentos de esquiva e necessidade de ajuda a esses indivíduos. Por fim, os resultados do estudo objetivaram contribuir para a ampliação dos conhecimentos sobre o usuário de crack assim como auxiliar os profissionais de saúde na elaboração de estratégias que envolvam o tratamento e acolhimento do usuário e sua família.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Sentido de Vida e Saúde Geral: O que se insere nessa relação?

Silva, S. R. A., & Faro, A. (2017). Sentido de Vida e Saúde Geral: O que se insere nessa relação? Clínica & Cultura, 6, 48-56.

Resenhado por Michelle Leite

            Este artigo foi resultado de um estudo que buscou relacionar dois construtos: Sentido de Vida (SV) e Saúde Geral (SG). O primeiro construto foi desenvolvido pelo psiquiatra Viktor E. Frankl e pode ser conceituado como uma percepção de coerência quanto à própria existência e um processo situacional pessoal, numa relação entre o homem e o mundo. O segundo surgiu a partir da necessidade de estudar a saúde através de uma compreensão mais ampla e esclarecedora que apenas a ausência de doença.
Apesar da busca pelo SV ocasionar tensão interior nos indivíduos, sua presença pode gerar bem-estar físico e psicológico e ser preditora de esperança, ao passo que sua ausência está relacionada a maiores níveis de depressão, ansiedade e ideação suicida. Por meio dessas mensurações, evidencia-se a importância de se estudar a relação existente entre SV e SG. Dessa forma, o estudo em questão objetivou analisar essa relação, além de verificar se ela é influenciada pelas variáveis sexo, idade e religiosidade.
O estudo possuiu uma amostra de 550 pessoas de ambos os sexos com idades entre 18 e 65 anos e renda familiar média de R$ 3,303. A coleta foi feita em domicílio em 15 bairros da cidade de Aracaju/SE. Foram aplicados três instrumentos: o Teste de Propósito de Vida (PilTest-12), o Questionários de Saúde Geral (QSG-12) e um questionário sociodemográfico. Para a análise de dados foi utilizado o programa SPSS (versão 20), através do qual foram conduzidas as estatísticas descritivas e as análises correlacionais entre as variáveis. Observou-se uma correlação positiva entre as variáveis SV e SG. Ou seja, o aumento nos níveis de SV ocorreu conjuntamente ao aumento nos níveis de SG, e vice-versa. Além disso, outras correlações apontaram relação significativa entre SG e religiosidade e SV e religiosidade, enquanto que as variáveis sexo e idade não se correlacionaram com as demais variáveis.
O SV permite o engajamento em metas, decisões mais compatíveis com a capacidade pessoal, mais perspectivas quanto à autonomia e expressão de sentimentos e desejos, e, associados a aspectos físicos e psicológicos, culminam em altos níveis de SG. O SV pode ser promovido pela religiosidade, uma vez que esta proporciona reflexões acerca das questões existenciais, finitude da vida e, através da religião, pode ser uma forma de atribuição de sentido de vida.
Atentar-se para essas associações permite a ampliação do campo de compreensão entre o sentido da vida e da saúde geral e leva a uma análise biopsicossocial da saúde. Pois, não só fatores biológicos e psicológicos, mas também socioculturais, como a religiosidade, agem em conjunto na determinação de saúde e vulnerabilidade do indivíduo à doença. Dessa forma, cabe ao psicólogo estar atento à essas relações e utilizá-las como ferramentas focais no trabalho para promoção da saúde.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Estresse e Estratégias de Enfrentamento em Mestrandos de Ciências da Saúde

Santos, A. F. & Alves Júnior, A. (2007). Estresse e Estratégias de Enfrentamento em Mestrandos de Ciências da Saúde. Psicologia: Reflexão e Crítica, 20, 104-113.

Resenhado por Mariana Serrão

  O presente estudo teve como objetivo detectar a ocorrência de estresse em mestrandos de Ciências da Saúde na Universidade Federal de Sergipe, bem como traçar as estratégias de enfrentamento utilizadas por eles para lidar com o estresse acadêmico.
O estresse é um mecanismo que tem como objetivo adaptar o organismo a uma condição interna ou externa que esteja alterando o bem-estar do indivíduo de alguma maneira. Devido a duração da ação do estressor e por conta do surgimento de sintomas orgânicos ou psicológicos, o estresse apresenta quatro etapas: alarme, resistência, quase-exaustão e exaustão. O estresse é considerado um mecanismo necessário para o equilíbrio do indivíduo, entretanto, quando ultrapassa a sua função adaptativa, pode acarretar danos psicológicos e físicos. Dentre as situações da vida do sujeito disparadoras de estresse, está o ingresso na pós-graduação, visto que envolve o desenvolvimento de vários tipos de adaptação. Devido a isso, considerou-se importante o estudo sobre o estresse em mestrandos, bem como a forma de enfrentamento utilizada por eles.
A pesquisa foi realizada com 27 mestrandos de Ciências da Saúde, sendo 11 homens e 16 mulheres. Percebeu-se a partir dos resultados da pesquisa que 40,7% exibiram estresse e a maioria revelou estar na fase de resistência, apresentando sintomas físicos. Identificou-se diferença por sexo de modo que as mulheres demonstraram maiores níveis de estresse (81,8%).
Em relação às estratégias de enfrentamento, os participantes do sexo masculino que estavam no grupo que exibiu estresse, manifestou como estratégias mais utilizadas o foco na emoção e suporte social. Enquanto o sexo feminino utilizou com maior frequência foco no problema e foco na emoção. O grupo sem estresse demonstrou utilizar com maior frequência foco no problema.
Para além da investigação do nível de estresse, é importante conhecer também as estratégias de enfrentamento que são empregadas pelos indivíduos em situação de estresse. O objetivo desse conhecimento é trabalhar as estratégias mais eficazes, bem como potencializar os recursos de enfrentamento mais efetivos que eles estão habituados a utilizar.

sábado, 15 de setembro de 2018

Resilience in Survivors of Child Sexual Abuse: A Systematic Review of the Literature/ Resiliência em Sobreviventes do Abuso Sexual Infantil: Uma Revisão Sistemática da Literatura

Domhardt, M., Münzer, A., Fegert, J. M., & Goldbeck, L. (2015). Resilience in survivors of child sexual abuse: A systematic review of the literature. Trauma, Violence, & Abuse, 16(4), 476-493.

Resenhado por Mariana Menezes

O abuso sexual infantil pode comprometer o ajustamento psicossocial e a saúde das vítimas, além de ter relação com uma gama de transtornos mentais, tais como transtorno de estresse pós-traumático, depressão, ansiedade, agressão e abuso de substâncias. No entanto, apesar do aumento do risco de transtornos mentais, há evidências de que alguns indivíduos que foram sexualmente abusados ​​exibem níveis de funcionamento considerados normais.
A resiliência, que pode ser entendida como a capacidade de se adaptar de forma positiva frente às adversidades, parece exercer grande influência nessas pessoas. Além disso, alguns fatores de proteção têm se mostrado associados à resiliência. Fatores de proteção se referem a características do indivíduo e do ambiente que modificam, melhoram ou alteram a resposta das pessoas a algum risco ambiental que predispõe a um resultado mal-adaptativo.
Os autores do artigo realizaram uma revisão de literatura sobre pesquisas empíricas acerca da resiliência em sobreviventes de abuso sexual infantil e discutiram fatores de proteção associados ao funcionamento adaptativo, apesar da vitimização sexual. Os resultados da pesquisa indicaram que as vítimas sobreviventes de abuso sexual, apesar do histórico de abuso, demonstraram um nível normal de funcionamento que variou de 10% a 53%. Ainda, os fatores de proteção mais associados foram educação, competência interpessoal e emocional, crenças de controle, enfrentamento ativo, otimismo, apego social, atribuição externa de culpa e, principalmente, o apoio familiar e o ambiente social mais amplo.
Os autores concluem o artigo alertando para a importância de se realizar intervenções preventivas e clínicas voltadas para pessoas que sofreram abuso sexual na infância. Essas intervenções devem utilizar estratégias psicoeducacionais e cognitivas adaptadas ao nível de desenvolvimento da vítima, além de que devem buscar melhorar sua rede de apoio social.
Portanto, o artigo é significativamente útil para o campo da Psicologia da Saúde uma vez que aborda construtos relevantes para os estudos nessa área. Além do mais,  compreender como a resiliência e os fatores protetivos se comportam no contexto do abuso sexual infantil, evidenciando o papel da resiliência no ajustamento psicológico e investigando quais são os fatores de proteção associados a ela, é fundamental para se criar estratégias de intervenção eficazes e fornecer assistência psicológica efetiva para as pessoas vítimas de abuso sexual infantil.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Câncer e Suicídio em Idosos: Determinantes psicossociais do risco, psicopatologia e oportunidades para prevenção

Santos, M. A. D. (2017). Câncer e suicídio em idosos: Determinantes psicossociais do risco, psicopatologia e oportunidades para prevenção. Ciência & Saúde Coletiva22, 3061-3075. doi:10.1590/1413-81232017229.05882016

Resenhado por Maísa Carvalho

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é considerado como um problema de saúde pública em virtude do aumento exponencial de casos em todo o mundo, especialmente em idosos. O risco é intensificado quando associado a outros fatores, como, por exemplo, a condição de saúde. Sendo assim, considerando que o envelhecimento se configura como principal fator de risco ao desenvolvimento do câncer, quadro clínico que demanda alta carga emocional, torna-se relevante a avaliação de risco do fenômeno na população geriátrica.
O artigo em questão objetivou avaliar a literatura científica sobre os fatores de risco associados ao suicídio em pacientes idosos com câncer. Para tal, foram selecionados 20 artigos das bases de dados PubMed, CINAHL, PsycINFO, Lilacs e SciELO que seguissem os critérios: (1) publicados entre janeiro de 2000 e janeiro de 2015; (2) serem dos idiomas português, espanhol e inglês; (3) realizados com pacientes de 65 anos de idade e mais velhos; (4) que abordassem a questão do suicídio em pacientes oncológicos; (5) com foco em resultados decorrentes de problemas emocionais e comportamentais, quali­dade de vida ou ajustamento psicossocial, que po­dem potencializar o comportamento suicida.
De acordo com os estudos selecionados, o maior risco de suicídio em pacientes geriátricos diagnosticados com câncer pode ser explicado com base em alguns fatores, a saber:

1)  Depressão e outras condições psiquiátricas: O diagnóstico da depressão e suas formas subclínicas (ex: humor disfuncional), ansiedade, sentimentos de desesperança e demais fatores contribuintes.
2)   Associação com outras condições médicas: A presença de patologias físicas graves – tais como doenças malignas, deficiência visual e distúrbios neurológicos –associadas ao diagnóstico de câncer, aumentam o risco de autoextermínio.
3)  Fatores sociodemográficos: Homens brancos, solteiros, com condições de vida estressantes e com elevado número de hospitalizações.
4) Apoio social: Uma forte rede de suporte social está associada a menores níveis de depressão, além de maior adesão ao tratamento.
5) Tipos de câncer: Neoplasias de cabeça e pescoço, pulmão, brônquios e estômago são associadas a presença de depressão.
6)  Grau de estadiamento do tumor: Pacientes com grau avançado da doença possuem maior risco de tentar suicídio.
7)  Tempo de diagnóstico: Indivíduos que possuam maior tempo de diagnóstico.
8) Comorbidades: A junção entre a faixa etária e a deficiência no sistema imunológico decorrente do câncer conduz a maiores chances do paciente ser acometido por outras doenças/condições clínicas.

O diagnóstico de quadros clínicos graves como o câncer demandam do indivíduo maior ajustamento emocional para lidar com as adversidades decorrentes da doença e seu tratamento, bem como outras questões que possam influenciar na sua saúde mental. Portanto, torna-se relevante a presença do psicólogo junto a equipe de saúde para auxiliar o paciente a lidar com suas demandas emocionais e comportamentais, bem como a identificar aspectos que denotem risco a sua integridade física e mental.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Adesão ao tratamento e lócus de controle em hipertensos

Souza, G. S., & Faro, A. (2015). Adesão ao tratamento e lócus de controle em hipertensos. Veredas Favip-Revista Eletrônica de Ciências, 8, 5-19.

Resenhado por Luana Santos

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é caracterizada por níveis elevados de Pressão Arterial (PA). Essa doença se tornou um dos maiores problemas de saúde pública do Brasil e do mundo, elevando a taxa de morbimortalidade entre mulheres e homens. Na HAS, o controle da PA é o principal objetivo do tratamento, buscando promover o autocuidado do paciente e adaptação à doença. No entanto, o comportamento que o indivíduo tem diante da doença pode elevar ou não a probabilidade de adesão ao tratamento. A adesão ao tratamento é a extensão em que o comportamento do indivíduo coincide com seu tratamento de saúde e a não adesão ocorre quando os pacientes não tomam cerca de 80% dos medicamentos prescritos para sua doença. Diante disso, Souza e Faro (2015) buscaram analisar as relações entre adesão e lócus de controle em hipertensos.
Para tanto, participaram 176 adultos hipertensos, que estavam em tratamento com anti-hipertensivos. Foram aplicados um questionário com variáveis sociodemográficas, clínicas e hábitos de saúde, a escala de Adesão Terapêutica de oito itens de Morisky e a escala Multidimensional Health Locus of Control.
Observou-se, por meio da escala de adesão, que a maior parte dos participantes apresentaram adesão acima da média, enquanto a minoria pontuou adesão abaixo da média. Já o escore da pontuação fornecido pela escala de lócus de controle mostrou que a maioria dos participantes são internalizantes e a minoria pode ser classificada como externalizante. Os participantes se caracterizaram por ter, em sua maioria, boa adesão ao tratamento e serem internalizantes (lócus de controle interno). Embora a maior parte da amostra tenha sido de sujeitos internalizantes, os resultados mostraram que os sujeitos que mais aderem ao tratamento são, em sua maioria, externalizantes (possuem lócus de controle externo).
Os autores discutem os dados apontando que a literatura em saúde aborda o sujeito internalizante como sendo propenso a aderir mais ao tratamento, além de buscarem mais informações a respeito de sua doença, pois acreditam que são responsáveis por seu tratamento e adaptação. No entanto, nesta pesquisa, as pessoas que mais aderiram ao tratamento foram os externalizantes, indo em contraposição ao que é comumente encontrado na literatura, que aborda o sujeito externalizante como aquele que adere menos e costuma ter mais comportamentos prejudiciais à sua saúde. Talvez este resultado esteja ligado ao fato de que pessoas com lócus de controle externo têm grande confiança no agente terapêutico e, teoricamente, estariam mais predispostas a se submeter a um dado procedimento, além de serem considerados pacientes menos graves.
Esta pesquisa revelou que o processo de adesão terapêutica vai, como esperado, além das questões biológicas, sofrendo influência de fatores psicológicos. O estudo contribuiu para a identificação de um processo comportamental (adesão) e psicológico (atribuição de causalidade) que serve para a divulgação da importância de um cuidar que reconheça aspectos subjetivos e clínicos que estão envolvidos ao longo do acompanhamento terapêutico.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Escala de autoestima de Rosenberg (EAR): Validade fatorial e consistência interna

Sbicigo, J. B., Bandeira, D. R., & Dell’Aglio, D. D. (2010) Escala de autoestima de Rosenberg (EAR): validade fatorial e consistência interna. Psico-USF, 15(3), 395-403. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-82712010000300012.

Resenhado por Lizandra Menezes
A autoestima é entendida como um conjunto de pensamentos a respeito do potencial e capacidade que o sujeito tem sobre si, possuindo estreita relação com a percepção de autoimagem. Essa percepção sobre si influencia na forma como o indivíduo projeta suas metas e objetivos presentes e futuros. Tal fenômeno pode ser entendido como uma característica ligada a personalidade e, em níveis baixos, resulta em problemas comportamentais na adolescência como, por exemplo, agressão e delinquência. A autoestima implica no ajustamento psicossocial, sendo considerada um indicador de saúde mental. Sua mensuração pode ser feita através de medidas de autorrelato como a Escala de Autoestima de Rosenberg (EAR). Trata-se de uma escala do tipo Likert, com uma pontuação de quatro cortes (variando entre “concordo totalmente” e “discordo totalmente”). Originalmente, esse instrumento é composto por 10 afirmações, sendo cinco relacionadas a autoconceito positivo e os outras cinco, negativo.
O presente estudo objetivou analisar as propriedades psicométricas da EAR, em função de uma discussão teórica a respeito do seu modelo fatorial. Para tanto, utilizou-se uma amostra de 4.757 participantes, adolescentes entre 14 e 18 anos (M = 15,77; DP = 1,22) em situação de vulnerabilidade social, sendo oriundos das regiões Norte (3,7%), Nordeste (14,2%), Noroeste (15,5%), Centro-Oeste (11,6%), Sudeste (41,5%) e Sul (13,5%). Aproximadamente 36% cursavam ensino fundamental (entre a quarta e a oitava série) e 64% estava no ensino médio.
A análise fatorial exploratória, por meio do método de extração dos componentes principais e rotação oblimin, bem como consideração dos critérios de Kaiser (eigenvalue > 1), Cattell (scree plot) e de Horn (análise paralela), sugerem estrutura bidimensional, a partir da qual 51,4% da variância foi explicada. Com relação às análises de consistência interna (por meio do coeficiente alfa de Cronbach, confiabilidade composta e variância extraída) foram encontrados bons valores de fidedignidade. Com relação ao sexo, diferenças nos escores de autoestima não foram observados. Tais resultados possibilitaram a conclusão de que o instrumento possui bons parâmetros psicométricos e confiabilidade para aplicação na população brasileira.
Compreender como se processa a autoestima é importante na psicologia em vista de se tratar de uma característica que influenciam na forma como o sujeito apreende o mundo e a si mesmo. Por essa razão, para contribuir com o avanço científico dessa profissão enquanto ciência, a criação e adaptação de medidas objetivas de variáveis psicológicas é bastante necessário no cenário atual.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Associações entre estresse parental e práticas socioeducativas parentais em pais/mães de filhos com e sem diabetes mellitus tipo 1

Brito, A., & Faro, A. (2017). Associações entre estresse parental e práticas socioeducativas parentais em pais/mães de filhos com e sem diabetes mellitus tipo 1. Psychologica, 60, 95-111. doi: 10.14195/1647-8606_60-1_6

Resenhado por Laís Santos

O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica de alta prevalência mundial e nacional, cerca de 382 milhões de pessoas, sendo que no Brasil estima-se em mais de 12 milhões. Observa-se que entre as crianças, o Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) é o que mais tem crescido, ainda que o seu início possa ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento. Especificamente na infância, o diagnóstico do DM1 exige não apenas mudanças nos hábitos alimentares, mas também toda uma reorganização familiar, visto que os pais são os principais cuidadores. Pais e mães de filhos diabéticos necessitam aprender as principais práticas de cuidado associadas ao DM1 a fim de assegurar um melhor prognóstico para seus filhos, bem como auxiliá-los a enfrentar de maneira mais adaptativa e positiva a doença. Com isso, para além das exigências próprias da paternidade e maternidade, esses pais precisam adquirir novos hábitos, o que pode de certo modo inflacionar o efeito do estresse parental vivenciado por esse público e, consequentemente, refletir negativamente em suas práticas. Estima-se que níveis mais altos de estresse parental se associam a práticas parentais negativas, como a punição, estilos mais autoritários e negligentes. Além disso, o estresse parental é visto como um fator de impacto importante para o controle do diabetes das crianças.
O estudo em pauta avaliou a relação entre estresse parental e práticas socioeducativas parentais, em grupos de pais e mães com filhos com e sem o DM1. Objetivou-se também mensurar os níveis de estresse parental (baixo ou alto) e compará-los as práticas parentais utilizadas. A amostra total foi composta por 135 pais e mães (sendo 76 mães) de crianças de 3 a 15 anos de idade. Desses, apenas 45 entrevistados pertenceram ao grupo experimental (ou seja, eram pais/mães de crianças com DM1). Apesar de os pais terem pontuado abaixo do ponto de corte de 50% da escala de estresse, observou-se que em média os pais de filhos com DM1 pontuaram mais alto do que os pais de crianças sem DM1. Constatou-se ainda que os pais que foram classificados no grupo controle de baixo estresse apresentaram maiores chances de usar práticas socioeducativas de afeto, educação e disciplina.
Por fim, avaliar os fatores relacionados à interação entre pais e filhos revela-se um ponto importante, principalmente nos casos em que as crianças apresentam alguma doença crônica como o DM1. Ademais, partindo de uma perspectiva de prevenção primária e desenvolvimento positivo de crianças e adolescentes, mensurar fatores que interferem diretamente no uso de práticas socioeducativas mais positivas e adaptativas, demonstra ser um caminho importante tanto para a saúde física e mental dessas crianças, quanto para a saúde mental dos próprios pais.


sexta-feira, 7 de setembro de 2018

A Residência Multiprofissional e a formação do psicólogo da saúde: um relato de experiência


Reis, B. A. O., & Faro, A. (2016). A residência multiprofissional e a formação do psicólogo da saúde: um relato de experiência. Revista Psicologia e Saúde, 8, 62-70.

Resenhado por Joelma Araújo

            O programa de Residência Multiprofissional de Saúde é uma iniciativa apoiada pelo Ministério da Saúde, que nasce da necessidade de se formar profissionais que atuem de maneira articulada, com o objetivo de romper com tradicionais práticas de saúde, estruturadas na fragmentação do conhecimento de cada profissão.
            O presente trabalho apresenta um relato de experiência de uma psicóloga residente no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe. O mesmo discute a inserção da Psicologia em um programa de Residência Multiprofissional em Saúde (RMS) e a importância dessa inserção para a formação de especialistas em Psicologia da Saúde. Este campo da Psicologia ocupa-se principalmente da maneira como o sujeito vivencia a interface saúde-doença, sua relação consigo mesmo, com os outros e com o seu contexto ambiental. O que cabe ao profissional de Psicologia, através do uso de suas técnicas, é a promoção de saúde, prevenção de agravos e auxílio no enfrentamento e adaptação mais saudáveis do sujeito adoecido.  
  No relato da experiência, foram problematizados: 1) a demanda prospectiva ao atendimento psicológico e 2) o trabalho em equipe multiprofissional e a expectativa da equipe quanto à prática do psicólogo. O primeiro eixo trouxe a questão do serviço de psicologia ser oferecido aos pacientes, sendo o psicólogo não aquele que espera passivamente a demanda, mas que faz triagens e oferta o atendimento, sendo dado ao paciente a autonomia de poder recusar o serviço. Neste ponto, como aspecto positivo, observou-se a oferta do serviço a mais usuários, porém alguns acabaram aceitando e depois se mostrando resistentes, o que pode ser devido ao modelo não favorecer tanto a vinculação. Na oportunidade, são apresentadas limitações quanto à frequência da tutoria e presença de preceptor de referência nos cenários de atuação da residente, o que levava à sobrecarga dos residentes de psicologia, já que existia apenas uma psicóloga em todo o hospital, lotada na pediatria.
Com relação ao segundo ponto, é ressaltada a importância do trabalho interdisciplinar, que vai além da formação de uma equipe composta por diferentes profissões. A equipe constitui-se enquanto inter quando as intervenções passam a ser pensadas em conjunto. Tendo em vista tal fato, é estabelecido um turno para a reunião de planejamento da equipe, o que segundo o relato permitiu ampliar a percepção sobre saúde-doença.
Como aspectos negativos da experiência com a atuação multi, foram pontuados  equívocos cometidos pelos profissionais da equipe, ao sugerirem a residente algo equivocado sobre a sua atuação, afastando-se do que cabe ao psicólogo. Contudo, é esboçado que a definição do papel do psicólogo no hospital e na saúde em geral não está clara nem para o próprio profissional da área. Muitas vezes isso ocorre segundo os autores, devido à recente inserção do psicólogo neste campo, em que houve mudanças de identidade do profissional no panorama nacional, que sai do foco no individual para o social, e também por muitas vezes existirem lacunas em sua formação.
Desta forma, salienta-se a importância da Psicologia ser inserida no RMS, já que permite o desenvolvimento desta especialidade, com a formação de mais profissionais para atuaram em saúde. Possibilitam assim, maior assistência psicológica a pessoas muitas vezes já bastantes fragilizadas pelo adoecimento e proporciona à equipe multiprofissional outro olhar sobre a faceta saúde-doença, contribuindo para a saúde integral do paciente.


quinta-feira, 6 de setembro de 2018

As demandas devido ao comportamento suicida nos serviços de emergência pré-hospitalar de Málaga: Características e fatores associados

Jimenez, H. M, et al. (2017). Las demandas por conducta suicida a los servicios de urgencias prehospitalarios de Málaga: características y factores associados. Anales del Sistem. Sanitário de Navarra, 40(3), 379-389. doi:10.23938. /ASSN.0047

Resenhado por Iracema Freitas

        O suicídio é compreendido como um comportamento que possui uma espécie de continuum, pois não se reduz a efetivação da própria morte. Ele abrange as ideias e intenções de suicídio, planos para alcançar os meios de tentar o suicídio (tentativa de suicídio) e, por fim, o suicídio propriamente dito (suicídio consumado). A Organização Mundial da Saúde (OMS) chama “comportamento suicida mortal” aquele em que a tentativa de morte é executada e o objetivo do suicídio é alcançado, já o “comportamento suicida não fatal” é aquele cujo grau de letalidade não foi suficiente para consumação da morte como ideias, planos, ameaças e tentativas.
       Um estudo transversal avaliou a recorrência das demandas de comportamento suicida no serviço de emergência pré-hospitalar em Málaga (Espanha). As demandas foram categorizadas em três grupos:  demandas por problemas psiquiátricos, demandas por comportamento suicida e demandas por problemas físicos. Dos 163.331 atendimentos considerados pelo estudo, 1.380 foram por demanda de comportamento suicida e 9.951 por demandas psiquiátricas, os demais por demandas físicas. A categoria do comportamento suicida acionou o serviço de emergência com maior frequência durante a tarde (39,2%) e a noite (32,2%). O terceiro semestre apresentou a maior demanda por comportamento suicida do que demanda física. No quarto trimestre, houve maior demanda por comportamento suicida do que demanda psiquiátrica. As tentativas de suicídio foram de 83,4% (esse grupo composto por jovens entre 16-45 anos), já o suicídio consumado foi mais comum em idosos do sexo masculino.
        O levantamento realizado por este estudo reitera a necessidade de avaliar todas as variáveis envolvidas no comportamento suicida. Para a Psicologia da Saúde, as cognições que envolvem tal comportamento podem estar associadas a transtornos mentais, desesperança, baixa autoestima, ausência de suporte social e outros reforçadores que podem agravar o quadro. Na pesquisa em questão foi possível traçar um perfil do indivíduo que procura o atendimento hospitalar: são jovens que nos últimos trimestres do ano tentaram suicídio. No entanto, ainda existe outro grupo que não aparece nas estatísticas: aqueles em que a ideação suicida é recorrente, que são considerados potenciais suicidas, uma vez que não há qualquer garantia de que o suicídio não virá a ocorrer.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Aspectos conceituais da conduta autolesiva: Uma revisão teórica

Santos, L., & Faro, A. (2018). Aspectos conceituais da conduta autolesiva: Uma revisão teórica. Revista Psicologia em Pesquisa, 12, 1-10.
Resenhado por Geovanna Turri

As condutas autolesivas podem ser classificadas como comportamentos diretos e deliberados de autolesão que resultam em danos físicos e psicológicos para a vítima e muitas vezes também para todo o seu meio social proximal. Considerado problema de saúde pública, Santos e Faro (2018) reúnem aspectos teóricos relevantes em relação ao comportamento autolesivo contemplando em seu estudo aspectos conceituais, epidemiológicos, clínicos e terapêuticos a partir de uma revisão teórica não sistemática realizada nas bases de dados Web of Science, Scielo, Pepsic e Google Scholar. As palavras-chave pesquisadas foram: autoinjúria (self injury), autolesão, cutting, caving, parassuicídio, dano autoinfligido, conduta autolesiva e comportamento autoletivo (self injurious behavior).
Tal comportamento tende a emergir e ser mais prevalente na adolescência, porém os autores também encontraram dados de engajamento em comportamentos autolesivos na infância (principalmente em crianças com alguma desordem psiquiátrica), adultez e velhice. Além disso, encontrou-se que níveis elevados de psicopatologias (como a esquizofrenia e o Transtorno de Personalidade Borderline, por exemplo), contextos traumáticos ou estressores na infância e influências negativas do meio social proximal são fatores associados ao início e manutenção da autolesão.
Não obstante, a autolesão parece servir a algumas funções específicas como a regulação emocional (minimizar afetos negativos sentidos pela vítima, suprimir pensamentos indesejados etc.), a comunicação social (ganho de atenção ou acesso a materiais, sinalizar a dor ou pedir socorro) e a aprendizagem social (tendo o comportamento sido reflexo do efeito de contágio). Os autores apresentam um modelo explicativo (modelo integrativo de Nock) que traz o comportamento como resultado da combinação de fatores biopsicossociais, mantido por ser eficaz na regulação de emoções e situações adversas.
Ademais, não foram encontradas medidas diagnósticas para a detecção da autolesão, assim como também não há um programa de tratamento específico para o comportamento. Em geral, o programa de intervenção deve ser adaptado às necessidades e sintomas de cada paciente, destacando-se a terapia cognitivo comportamental, que envolve adaptar cognições distorcidas e substituir a autolesão por alternativas comportamentais saudáveis. Tal trabalho mostra sua relevância diante das práticas autolesivas, principalmente entre adolescentes, que vêm aumentando ao passar dos anos.