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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Predileção, Expectativa e Experiência de Parto: O que pensam grávidas e primíparas?

Souza, Y., & Faro, A. (2018). Predileção, Expectativa e Experiência de Parto: O que pensam grávidas e primíparas? Psicologia, Saúde & Doenças19(2), 243-254. doi:15309/18psd190207

Resenhado por Maísa Carvalho

Para mulheres que já possuem ou desejam ter um filho, a gravidez representa um evento singular, incomparável e repleto de sensações que irão marcar sua história. Desde a detecção se inicia um ciclo de preparação física e psicológica para o parto, comumente temido por ser um momento repleto de sofrimento e desgaste para as mães. Assim, a escolha da modalidade do parto – normal ou cesárea – costuma se apresentar como um aspecto propulsor de satisfação nessa experiência, a qual é influenciada por uma série de diversos fatores.
Com o fito de averiguar os fatores que atravessam a experiência do parto, o presente estudo
entrevistou 25 primíparas acima de 18 anos e residentes em Aracaju (Sergipe), usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) ou de planos de saúde privados. Destas, 10 se encontravam no período gestacional e 15 em até cerca de 12 meses após o parto. Cerca de 68% das participantes apresentaram predileção ao parto normal, todavia, 60% das entrevistadas após o parto relataram ter experienciado o cesáreo.
A coleta de dados foi realizada através de um questionário sociodemográfico e uma entrevista semi-estruturada dividida por eixos temáticos. Para as que estavam em período gestacional, os eixos foram: (a) Fatores que motivaram a predileção pelo tipo de parto e (b) Expectativas sobre o parto com base na modalidade predileta. Para as entrevistadas pós-parto, foram utilizados os eixos: (a) Fatores que influenciaram a modalidade do parto e (b) Avaliação da experiência de parto com base na modalidade escolhida.
Os dados foram analisados através do IRAMUTEQ, software que realiza análises léxicas através de um corpus textual. A partir da técnica de Classificação Hierárquica Descendente (CHD), quatro classes foram geradas através da repartição dos segmentos textuais.
Classe 1 – Aspectos que desmotivam o parto normal (19,67%): Os fatores que reforçaram a escolha pela cesárea se deram a partir de aspectos negativos e desvantagens do parto natural, que normalmente se associa ao sofrimento excessivo.
Classe 2 – Aspectos que motivam o parto normal (22,7%): As principais motivações que levam as mulheres a optar pelo parto normal se dá pela rápida recuperação e a própria naturalidade do processo, eventualmente menos danoso.
Classe 3 – Fatores importantes para a escolha (36,3%): Opiniões médicas costumam ser um aspecto preponderante na escolha da modalidade do parto. Considerações de familiares, embora em menor número, também exerceram influência nessa escolha.
Classe 4 – Experiência de parto (21,3%): As vivências alusivas ao momento do parto costumam ser associadas ao medo da dor. Nessa classe, as dores experienciadas em partos normais foram analisadas como semelhantes e características dessa modalidade.
Portanto, as vivências relacionadas a gestação, parto e puerpério são permeadas de diversas alterações biopsicossociais que influenciam direta e indiretamente nas representações sobre a gravidez. O estudo em questão se relaciona com a Psicologia da Saúde ao passo que focou na detecção de fatores e alterações capazes de pôr em risco a saúde mental da mulher durante e após o parto. Além disso, forneceu informações que podem servir para orientar o trabalho de psicólogos responsáveis por acompanhar essas mulheres durante esses períodos para que possam proporcionar a elas melhor ajustamento psíquico e uma experiência de maternidade o mais positiva possível.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Medidas do estresse: Uma revisão narrativa


Faro, A.  & Pereira, M. E. (2013). Medidas do estresse: Uma revisão narrativa. Psicologia, Saúde & doenças, 14, 101-124.

Resenhado por: Iracema R.O. Freitas

            O Estresse tem sido abordado como uma variável significativa na avaliação do processo saúde-doença. Pesquisas apontam o impacto do estresse sobre o aumento na vulnerabilidade a infecções respiratória, déficits de memória declarativa e episódica, dificuldade da regeneração de tecidos, entre outros. De acordo com Santos (2010), o estresse é descrito como um processo adaptativo que reflete o nível de repercussão de estressores internos e/ou externos sobre a capacidade de adaptação humana às adversidades, e pode surgir conciliado à percepção frente a uma ameaça real ou imaginária que é interpretada como capaz de afetar a integridade física e/ou mental do indivíduo. Este estudo utilizou o método de revisão narrativa com o objetivo de reunir informações sobre medidas do estresse segundo a perspectiva teórica que subsidia os modos de estudo na temática. Por se tratar de um objeto de estudo multifacetado, as medidas do Estresse têm sido estudadas a partir de algumas perspectivas.
A perspectiva baseada na resposta trabalha com indicadores biológicos através da compreensão do funcionamento do organismo quando sofre o estresse. As medidas biológicas utilizadas são: as medidas bioquímicas, trabalhadas na psicoimunologia e na neurofisiologia, em que são analisadas as catecolaminas, o cortisol, os níveis do hormônio do crescimento, a insulina e outros; e as medidas fisiológicas investigadas pela psicoendocrinologia e a neuroendocrinologia, que têm o propósito de analisar o funcionamento de órgãos e tecidos, priorizando a avaliação dos níveis de desgaste e/ou alteração do padrão funcional de determinados sistemas ou estruturas do organismo diante de eventos estressógenos. Por exemplo, na análise da carga alostática, que se refere ao estado de vulnerabilidade produzido por um contínuo desgaste da reação adaptativa na exposição cumulativa aos estressores, são avaliados os custos que órgãos e tecidos pagam pela superativação ou manejo ineficiente dos estressores. A perspectiva baseada no estímulo, que trabalha com a mensuração dos estressores, chamados EVE’s (eventos vitais estressores), foi categorizada segundo a intensidade, o tempo de exposição e a valoração da experiência. A medida ambiental do estresse, defende que há situações que são naturalmente estressoras em qualquer nível considerado (macro, meso ou microssocial) e sua repercussão está ligada às características objetivas do estímulo. A medida de autopercepção do estresse tem um viés cognitivo e considera a percepção e avaliação do estressor. A mensuração é realizada através da Escala de Estresse Percebido (Perceived Stress Scale, PSS), que verifica o quanto o indivíduo avaliou como estressora uma situação qualquer, real ou imaginária, para a qual atribuiu um significado particular.
Ao estudar o estresse e os seus desdobramentos sobre o indivíduo, a Psicologia da Saúde pode fazer uso dos dados, para desenvolver e aplicar técnicas que minimizem o impacto do estresse sobre a cognição do sujeito frente às adversidades. Em parceria com demais ciências, torna-se possível desenvolver um trabalho conjunto que favoreça um contexto mais suscetível à mudanças e promoção de bem-estar físico e mental.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Déficits neurocognitivos em crianças com condições crônicas de saúde

Compas, B. E., Jaser, S. S., Reeslund, K., Patel, N., & Yarboi, J. (2017). Neurocognitive deficits in children with chronic health conditions. The American Psychologist, 72(4), 326–338. doi:10.1037/amp0000042

Resenhado por Danielle Alves Menezes

Estima-se que mais de 1 em cada 3 de 74 milhões de crianças e adolescente na América, com idades entre o nascimento até 18 anos, vivem com uma condição crônica de saúde. Avanços em pesquisas têm contribuído para que as taxas de sobrevivência desse público aumentem. Ao chegarem à idade adulta, são comuns comprometimentos de estruturas cerebrais e consequentemente de funções cognitivas em razão do longo tratamento, implicando diretamente na trajetória educacional, ocupacional, saúde mental e qualidade de vida. O referido artigo analisa essas variáveis a partir de metanálises e, pela primeira vez, em um conjunto selecionado de seis doenças crônicas pediátricas de saúde: a leucemia, tumores cerebrais, anemia falciforme, doença cardíaca congênita, diabetes tipo 1 e lesão cerebral traumática. O objetivo foi de definir a magnitude do problema e identificar as direções para futuras pesquisas e atendimento clínico.
Medidas de QI foram utilizadas para identificar as alterações, sendo comparada à média populacional. Houve evidências significativas de problemas cognitivos em crianças com uma ampla gama de condições crônicas de saúde, variando de sobreviventes de doenças agudas a crianças com problemas congênitos ao longo da vida, e aqueles com problemas que surgem durante o desenvolvimento. A magnitude dos problemas neurocognitivos esteve associada a outros fatores-chave como idade (por exemplo, anemia falciforme), gravidade (por exemplo, traumatismo craniano), e o tempo decorrido desde o diagnóstico ou o início da doença (por exemplo, câncer).
Prejuízos no funcionamento executivo decorrentes de mudanças estruturais significativas no cérebro durante o tratamento, principalmente na substância branca, demonstraram comprometer a capacidade de gerenciar relacionamentos, regular as emoções, e lidar com o estresse, os quais contribuíram para aumento do risco de desenvolver sintomas de ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental.
Finalmente, a psicologia da saúde, em parceria com a neuropsicologia, poderá desempenhar um papel essencial a partir de pesquisas que busquem investigar intervenções psicológicas e comportamentais. Os objetivos podem ser prevenir ou remediar os problemas cognitivos nesta população. Além disso, uma importante possibilidade seria verificar efeitos de intervenções biomédicas sobre a função cognitiva.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Estresse parental: Revisão sistemática de estudos empíricos

Brito, A., & Faro, A. (2016). Estresse parental: Revisão sistemática de estudos empíricos. Psicologia em Pesquisa10, 64-75.

Resenhado por Daiane Nunes

            O estudo em questão teve como objetivo descrever as características de investigações empíricas nacionais que tiveram o estresse parental como objeto de pesquisa. Buscou-se analisar e categorizar os objetivos, métodos (participantes e instrumentos) e principais resultados encontrados, a fim de identificar variáveis e contextos relacionados ao estresse parental.
            O estresse parental pode ser definido como um desequilíbrio desadaptativo que ocorre quando os pais avaliam que seus recursos não são suficientes para lidar com demandas implicadas em seu papel parental. O fenômeno está associado a uma série de fatores, incluindo problemas de comportamento e bem-estar infantil, práticas parentais negativas e o contexto de pais de filhos com alguma condição clínica que demanda atenção e cuidados específicos.
            A pesquisa bibliográfica foi realizada nas duas principais bases de dados nacionais e de livre acesso (PePSIC e SciELO), utilizando a palavra-chave “estresse parental”, em português e inglês. Realizou-se uma filtragem dos artigos levantados a partir do critério de inclusão do levantamento: ter como objetivo a relação entre estresse e parentalidade e o/ou relação pais-filho. Foram excluídos os artigos teóricos, de revisão, não produzidos no Brasil e que privilegiavam exclusivamente o estresse do filho. Ao final, foram selecionados 11 artigos publicados entre os anos de 2006 e 2014 que compuseram a amostra do estudo. Os dados foram submetidos a dois tipos de análise: (1) tópicos metodológicos: participantes e instrumentos; (2) descritiva dos principais resultados: dividida em quatro categorias (diagnóstico do estresse parental; estressores ligados ao estresse parental; suporte social e estresse parental; e comportamento dos filhos, dinâmica familiar e estresse parental).
            Com relação às análises dos tópicos metodológicos, cinco estudos (46,0%) foram realizados apenas com amostra de mães, quatro (36,0%) tinham como participantes mães, pais e cuidadores e dois (18,0%) envolviam mães, pais, cuidadores e os filhos. O instrumento mais utilizado (46,0%) foi o Índice de Estresse Parental (PSI) (Parenting Stress Index PSI), em sua versão reduzida (PSI-SF). Outros instrumentos também foram utilizados, incluindo o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) (36,0%) e o Questionário de Estresse para Pais de Crianças com Transtornos do Desenvolvimento (QE-PTD) (18,0%).
            Quanto à análise dos principais resultados, observou-se que o estresse parental se constituiu como um risco tanto para os pais/cuidadores como para o bem-estar dos filhos e para a dinâmica familiar, contribuindo, ainda, para o desenvolvimento da parentalidade disfuncional. O principal estressor para o contexto parental referiu-se às características dos filhos e as variáveis sociodemográficas, como escolaridade dos pais, renda familiar e número de filhos. O suporte social percebido e a satisfação atuaram como moderadores do estresse, pois auxiliaram no manejo das adversidades vivenciadas na parentalidade. O estresse parental apareceu, ainda, associado com problemas de comportamento infantil e como elemento que influenciou a dinâmica familiar disfuncional.
            Por fim, notou-se que os estudos voltados para o estresse parental a nível nacional tiveram como foco o estresse de pais/mães de filhos com alguma condição clínica, em especial das mães. Observou-se também que a ausência de instrumentos validados especificamente para o Brasil que mensurassem o fenômeno. Sugere-se que novas estratégias de busca sejam pensadas, para que um cenário mais amplo das produções nacionais sobre o fenômeno possa emergir.

sábado, 20 de outubro de 2018

Suicídio na adolescência: Panorama, cuidados e escuta


Faro, A., & Santos, L. C. S. (2017). Suicídio na adolescência: Panorama, cuidados e escuta. In V. A. Angerami (Org.), Sobre o suicídio: A psicoterapia diante da autodestruição (pp. 169-189). Belo Horizonte: Artesã.

Resenhado por Brenda Fernanda

            Os autores iniciam o capítulo discorrendo sobre a série 13 Reasons Why, que abordou a temática do suicídio e destacou as razões apontadas pela protagonista para que este acontecesse, como o bullying, a ausência de suporte social, a dificuldade de manutenção de vínculos afetivos saudáveis e sentimentos de desesperança e baixa autoestima. A série colocou em pauta a discussão sobre um tema que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), figura entre a segunda principal causa de morte entre jovens entre 15 e 29 anos, evidenciando-se a necessidade de intervenções eficazes.
            Um dos destaques do capítulo é a busca pela resposta à pergunta: ‘como podemos compreender a morte de um adolescente?’. Frente a isso, os autores propõem discussões e oferecem algumas evidências visando a explanar a problemática do suicídio na adolescência. Para isso, traçam possíveis características sobre o perfil do adolescente que comete o suicídio e apresentam os principais fatores sociodemográficos e psicológicos associados ao ato de tirar a própria vida. Destaca-se também a importância de se reconhecer sinais e mudanças comportamentais que normalmente se relacionam ao comportamento suicida. Diante disso, apresenta-se uma proposta de escuta clínica voltada para a temática do suicídio, a fim de se fornecer orientações gerais ao psicólogo. Por fim, discorre-se sobre possíveis ações preventivas com base em ações psicoterápicas voltadas tanto para os adolescentes quanto para sua rede de suporte (família e amigos).
            O primeiro subtópico do capítulo, intitulado ‘Quem é o adolescente que tenta ou comete suicídio?’ conceitua o suicídio como ato intencional para tirar a própria vida (OMS, 2002) e destaca que o suicídio tem se configurado como uma das principais causas de morte entre adolescentes no mundo inteiro. O segundo subtópico, denominado ‘Fatores sociodemográficos’, apresenta variáveis como sexo, idade, status socioeconômico e orientação sexual como relacionadas à maior ocorrência de suicídio entre os jovens. Outras evidências relacionadas ao suicídio seriam eventos negativos de vida, adversidades familiares, fatores psiquiátricos e psicológicos e fatores interpessoais. Diante dessas evidências, os autores destacam possíveis sinais de alerta apresentados pelos adolescentes e a necessidade de uma escuta psicoterápica qualificada, oferecendo uma proposta didática para os profissionais da psicologia.
            Por fim, ressalta-se a importância do processo terapêutico e do engajamento de familiares e amigos neste processo, a fim de que se ofereça suporte emocional adequado aos adolescentes com ideação e/ou tentativas suicidas. Ao orientar essas pessoas em sofrimento a falar sobre seus pensamentos e sentimentos em relação ao suicídio e o que os fizeram chegar a esse ponto, a Psicologia consegue identificar as causas para intervir e trabalhar o manejo do sofrimento e de situações que funcionariam como gatilho, proporcionando desfechos mais saudáveis. Nesse sentido, destaca-se também a importância de ações preventivas e de valorização da vida, promovendo intervenções tanto no âmbito da saúde pública quanto da educação, além da realização de parcerias multiprofissionais e oferecimento de acolhimento eficaz a esses adolescentes.   

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Relações entre Autoestima e Sentido da vida


Santos, L.C.S., & Faro, A. (2015). Relações entre Autoestima e Sentido da vida: Estudo com amostragem domiciliar em Aracaju (SE). Clínica & Cultura, 4(2), 54-69.

Resenhado por Ariana Moura

Conceitualmente, a autoestima se refere à avaliação positiva ou negativa que o indivíduo faz de si mesmo, agregando o reconhecimento do seu papel fundamental na construção da identidade. Assim, pode-se entender a autoestima como um processo de autovaloração que envolve tanto a esfera afetiva (sentimento), quanto a esfera cognitiva (pensamento), resultando em um comportamento (ação) que objetiva a afirmação desse autovalor.
Paralelamente à importância do estudo da autoestima por seu valor adaptativo, outros fenômenos podem fazer parte desse escrutínio da capacidade de ajustamento, sendo um deles o sentido de vida. Tal fenômeno refere-se ao desejo de encontrar um significado para a vida, um sentido que, caso encontrado, geraria um ímpeto de responsabilidade para o ser humano. Diferentemente dos valores (sociais) e instintos (herdados), o processo de significação é particular a cada pessoa, ou seja, os significados devem ser procurados e encontrados por cada indivíduo.
Logo, assim como a autoestima, o sentido de vida elevado tende a proteger as pessoas contra os efeitos nocivos decorrentes de desafios adaptativos tornando-o relevante na compreensão das diferenças individuais frente às adversidades. Dado o exposto, o estudo buscou conhecer a distribuição social da autoestima e do sentido de vida, investigar como elas se relacionam entre si e com variáveis sociodemográficas e clínicas. A amostra foi composta por 646 indivíduos adultos entre 18 e 65 anos, residentes de 15 bairros na cidade de Aracaju (SE).
Nos resultados, inicialmente, viu-se que duas variáveis se associaram ao construto autoestima: sentido de vida e satisfação com a vida, enquanto três associaram-se com o sentido de vida: autoestima, satisfação com a vida e ocupação. Na regressão linear, a autoestima e o sentido de vida tiveram impacto aditivo um sobre o outro, basicamente com o mesmo poder associativo em ambas as direções. Exceto a satisfação com a vida, que se associou a ambos, e ocupação, que se relacionou com sentido de vida, todas as demais variáveis perderam significância estatística. Tal resultado indicou que quanto mais bem definido o propósito na vida de uma pessoa, maior será a tendência que se sinta melhor consigo mesma. Por outro lado, viu-se que entre os participantes, os que mais se sentem bem consigo mesmos foram aqueles que mais pontuaram quanto a ter um propósito mais claro na vida.
Sabe-se que grupos de indivíduos não saudáveis apresentam menor autoestima, se comparados com grupos saudáveis, além de menor cuidado pessoal e tendência a não buscar tratamento quando enfermos. Sendo assim, o psicólogo da saúde pode promover espaços de educação onde o público tenha acesso à informação segura referente à relação entre autoestima e saúde, tendo em vista que muitas doenças ocorrem a partir da imunidade baixa e que a imunidade está relacionada à autoestima. Além disso, pode ainda, promover atividades que visem o autoconhecimento e a importância de “olhar” para si mesmo como importante ferramenta para prevenção de doenças e promoção de saúde mental e qualidade de vida.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Enfrentamento de Cuidadores de Crianças com Câncer em Processo de Quimioterapia

Almico, T., & Faro, A. (2014). Enfrentamento de cuidadores de crianças com câncer em processo de quimioterapia. Psicologia, Saúde & Doenças, 15(3), 732-737. doi: http://dx.doi.org/10.15309/14psd150313

Resenhado por Uquênia Lemos Brito

O câncer compreende um conjunto de doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células malignas. O tratamento mais frequente é a quimioterapia, o qual exige atenção não só para as necessidades físicas, mas também para as necessidades emocionais, assim, é preciso atentar para a falta de compreensão da doença e como o tratamento quimioterápico gera na criança e na família, medo de morte, perdas, intenso sofrimento e possível descontrole. Logo, a família, especialmente o cuidador, precisa se adaptar ao novo contexto e aos desafios inerentes ao processo, tendo como papel principal auxiliar a criança no enfrentamento da doença e na adaptação das dificuldades que surgem com o tratamento. Sendo assim, a pesquisa objetivou caracterizar o processo de enfrentamento quimioterápico por cuidadores de crianças, como também identificar as principais estratégias de enfrentamento utilizadas diante da situação.
Para tanto, foram entrevistadas 11 cuidadoras, cujos filhos, em sua maioria, eram meninas, 6 (54,5%), sendo apenas uma filha única. As crianças estavam em tratamento quimioterápico há pelo menos um mês e recebiam atendimento em casas de apoio às crianças com câncer em Aracaju/Sergipe. O tipo de câncer predominante entre as crianças foi a leucemia (45,4%). Os demais tipos de câncer eram: tumores do sistema nervoso central (n = 3), osteosarcoma (n = 1), linfoma (n = 1) e próstata (n = 1). Foi utilizado um roteiro aberto de entrevista, tendo como base o eixo temático: enfrentamento (da cuidadora e da criança). As entrevistas foram transcritas na íntegra e analisadas através do programa IRAMUTEQ que é um método informatizado utilizado para análise de textos e que busca apreender a estrutura e a organização do discurso. Nesta pesquisa a análise foi executada a partir de um corpus único, sendo utilizada a Classificação Hierárquica Descendente (CHD) e dendograma de classes, obtendo classes de léxicos que, quando agrupados, revelaram as seguintes estratégias de enfrentamento mobilizadas pelas cuidadoras: esforço e dedicação (54,6%), religiosidade como fonte de conforto e segurança para lidar com a enfermidade (31,8%) e o impacto do cuidado no dia a dia e a medicalização do sofrimento (13,6%). Constatou-se ainda que todo sofrimento que surge da sobrecarga do cuidado pode dificultar o enfrentamento, trazendo meios de ajustamento associados à abnegação e resignação, no qual os cuidadores abrem mão de tudo para cuidar do filho doente. Mas, por outro lado, também se encontrou atitudes positivas das cuidadoras durante o tratamento, tais como ajustar-se à situação, buscar manter a integridade familiar e apoiar-se na sua religiosidade, apesar do desgaste da situação.
Enfim, observou-se que o tratamento do câncer pediátrico é uma experiência estressante que sobrecarrega os cuidadores da criança e prejudica a qualidade de vida deles. Assim, percebe-se a relevância desta pesquisa para a Psicologia da Saúde, pois permite compreender as exigências e demandas enfrentadas pelos cuidadores durante a quimioterapia infantil, por isso se torna fundamental a criação de uma rede de suporte e planejamento de programas de intervenção junto a eles, indicando estratégias favoráveis durante o processo quimioterápico.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Estresse Pré-operatório: Comparação entre Pacientes do SUS e Conveniados

Santos, A. F, Santos, L. A., Melo, D. Oliveira., & Alves Júnior, A. (2009). Estresse pré-operatório: Comparação entre pacientes do SUS e conveniados. Psicologia: Reflexão e Crítica22(2), 269-276. doi:10.1590/S0102-79722009000200014

Resenhado por Millena Bahiano

O estresse dos indivíduos que são encaminhados à submissão de cirurgias de médio e grande porte pode comprometer o pré-operatório cirúrgico e a recuperação de muitos pacientes, além de acarretar dificuldades no processo de enfrentamento da doença. O estresse surge quando os recursos são perdidos ou ameaçados e o indivíduo encontra situações cujas exigências ultrapassam o seu poder de lidar com elas. Quatro são as fases que subdividem o estresse, alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão sendo elas determinadas pela duração do agente estressor e pelo surgimento de sintomas físicos e/ou emocionais.
O presente estudo objetivou comparar o estresse vivenciado por pacientes no pré-operatório de colecistectomia e que se encontravam em atendimento no SUS e por convênios de saúde particular. A colecistectomia é um procedimento cirúrgico comumente realizado e deriva-se da extração da vesícula biliar. O diagnóstico decorre da presença de cálculos na vesícula biliar precedido de dores intensas na região abdominal e intolerância a ingestão de alimentos gordurosos. A amostra do estudo foi constituída por 60 participantes, de ambos os sexos, em estágio pré-operatório cirúrgico para a colecistectomia em quatro hospitais da cidade de Aracaju (SE). Dessa maneira, a amostra foi dividida em 30 pacientes atendidos pelo SUS (50,0%) e 30 pacientes atendidos por planos de saúde particular (50%). Para a investigação do estresse utilizou-se o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL).
O perfil sociodemográfico que predominou na amostra foi de pacientes do sexo feminino (78,3%), casados (50,0%) e com idade média de 39,4 anos (DP = 10,77). A maioria dos indivíduos possuíam escolaridade em nível fundamental (35%) ou médio (35,0%), foram de religião católica (83,3%), residentes em Aracaju (58,3%) e com emprego formal (55,0%). Em geral, a média de tempo esperado entre a marcação da cirurgia e a realização da mesma foi de 15,4 dias (DP = 10,38) e a colecistectomia não era o primeiro procedimento cirúrgico ao qual foram submetidos (65,0%). Em relação a consulta pré-anestésica 100% dos pacientes do SUS não a realizaram, em contrapartida 100% dos pacientes dos planos de saúde a fizeram.
Dentre os resultados da amostra total do estudo, 63,3% dos pacientes apresentaram estresse sendo que 63,2% encontravam-se na fase de resistência, 31,6% de exaustão e 5,2% de quase-exaustão.
Os pacientes que apresentaram estresse exibiram pelo menos uma semana antes da cirurgia, sintomatologias psicológicas (89,5%), tais como: pensar constantemente em um só assunto (100%), diminuição da libido (100%) e irritabilidade excessiva (90,5%). Quanto a assistência à saúde oferecida aos pacientes do SUS, observou-se que a maior parte apresentou estresse (93,3%) onde predominou a fase de resistência (64,3%) e sintomatologias psicológicas (92,9%). Em relação aos convênios de saúde, 33,3% dos pacientes apresentaram estresse com predominância de 60% dos indivíduos na fase de resistência e 80,0% com presença de sintomas psicológicos.
            Sabe-se que qualquer cirurgia a ser realizada no indivíduo mobilizará eventos estressores e de natureza ansiosa. Assim, o psicólogo da saúde afim de minimizar o estresse que antecede o processo cirúrgico e o período de adoecimento pode desenvolver ações que promovam o enfrentamento da doença e que contribuam para o bem-estar do paciente no pré-operatório ou após a cirurgia. Com isso, diminui-se o risco de comorbidades e agravos psicológicos ao indivíduo.

sábado, 13 de outubro de 2018

Uso de atividades lúdicas no processo de humanização em ambiente hospitalar pediátrico: Relato de experiência

Araujo, R. S., Ribeiro, M. C. O., Sobral, A. L. O., & Faro, A. (2017). Uso de atividades lúdicas no processo de humanização em ambiente hospitalar pediátrico: Relato de experiência. Interfaces – Revista de Extensão da UFMG, 5, 166-172.

Resenhado por Michelle Leite

            O artigo em questão discorre sobre uma experiência de campo realizada por monitores do programa “PET/Saúde REDES” na enfermaria pediátrica de um hospital de urgência da cidade de Aracaju/SE. Sabe-se que o processo de hospitalização interfere no comportamento e no estado de humor da criança, com alterações como ansiedade, estresse e medo. Os fatores envolvidos nessa situação são: a mudança da rotina diária, o ambiente estranho e pouco acolhedor, a ausência de atividades escolares e recreativas, a presença constante de pessoas desconhecidas e a doença e suas comorbidades em si.
            A utilização do lúdico é uma das estratégias utilizadas para tornar o ambiente hospitalar mais acolhedor e humanizado para as crianças, de forma a amenizar as mazelas do processo de hospitalização. O lúdico é algo que possui a natureza do brincar e seu uso favorece a adaptação da criança ao ambiente hospitalar, facilita o processo de expressão de sentimentos e interesses dos infantes, acelera o processo de recuperação clínica, diminuindo o tempo de hospitalização, além de promover uma maior adesão ao tratamento, entre outros benefícios. Cabe salientar que é exigida por lei a existência de brinquedotecas nas dependências dos hospitais brasileiros que oferecem atendimento pediátrico.
            O presente estudo teve como objetivo discorrer sobre as atividades lúdicas realizadas pelos alunos monitores com as crianças hospitalizadas. A intervenção ocorreu durante os meses de maio a agosto de 2014 e foi composta por oito horas semanais. Inicialmente os monitores diagnosticaram a ausência de atividades lúdicas e de uma brinquedoteca. Após o diagnóstico inicial, foram coletados materiais para leitura e desenho junto ao setor de Psicologia e, com esse material, as crianças foram abordadas em seus leitos nos momentos em que estavam ociosas. Além dos momentos de leitura, com livros infantis de histórias narrativas e de poesias, houve momentos de desenho e pintura, os quais além de divertir, ensinavam e estimulavam práticas de higiene adequadas. No início de cada abordagem, os alunos se apresentavam como estudantes de graduação, explicavam o intuito da abordagem e conversavam sobre a história do paciente. Após esse momento, era proposta a atividade de acordo com a idade e o nível educacional da criança.
            Por meio das atividades, as crianças puderam manifestar algumas de suas angústias, anseios e perspectivas com maior facilidade, fato que contribuiu para o fortalecimento do vínculo com os monitores, além de propiciar um melhor entendimento sobre seu processo de adoecer. Outrossim, as crianças se apresentaram mais participativas, eufóricas, comunicativas e com o interesse pelas atividades mais aguçado, como também se mostraram menos estressadas com a diminuição do tempo de ociosidade. Tais resultados confirmam os benefícios da utilização do lúdico enquanto estratégia redutora dos danos causados pelo processo de hospitalização e como uma importante ferramenta a ser utilizada com o público infantil.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Significações relacionadas à cirurgia bariátrica: Estudo no pré e pós-operatório

Silva, C., & Faro, A. (2015). Significações relacionadas à cirurgia bariátrica: Estudo no pré e pós operatório. Salud & Sociedade, 6(2), 156-169. doi:10.22199/S07187475.2015.0002.00004

Resenhado por Mariana Serrão

     Segundo o Ministério da Saúde, em 2008,34% da população brasileira apresentava sobrepeso e ainda estimava-se que em 2015 (2,3 bilhões) de pessoas estariam com sobrepeso. A cirurgia bariátrica e metabólica é realizada no aparelho digestivo, considerada a última opção depois de fracassos com dietas, remédios e atividades físicas. A cirurgia também só é feita quando exibe menor perigo em relação à saúde atual do indivíduo devido ao sobrepeso. A indicação da cirurgia bariátrica é baseada em três critérios: índice de massa corpórea, comorbidades e o critério “tempo de doença”.
     Uma equipe de profissionais está envolvida na avaliação da realização da cirurgia bariátrica, dentre eles, o psicólogo. A psicologia tem um papel fundamental na mensuração da aptidão do indivíduo em relação à cirurgia, posto que as mudanças não são apenas alimentares, mas também comportamentais. A atuação do psicólogo pode ocorrer antes, durante e depois da cirurgia.
       O psicólogo da saúde tem como objetivo contribuir para a melhoria do bem-estar dos indivíduos, bem como auxiliá-los na busca do aumento da frequência de hábitos saudáveis. Além disso, visam a incluir no projeto de vida dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica conjuntos de atitudes e comportamentos ativos, que promovam a saúde e previnam as doenças, bem como aperfeiçoar técnicas de enfretamento no processo de ajustamento ao adoecer e às suas possíveis consequências.
       O estudo objetivou verificar o significado atrelado a pacientes bariátricos, tanto no pré quanto no pós-operatório. Os indivíduos moravam na cidade de Aracaju - SE e foram divididos em grupos pré e pós operatório. O primeiro foi composto por oito mulheres e dois homens, com média de idade de 37,4 anos (DP = 12,56), o segundo grupo formado por sete mulheres e três homens, com média de idade de 34 anos (DP = 11,77).
     Como instrumento utilizou-se um roteiro de entrevista que considerava seis eixos temáticos: 1. Motivos/motivações para se fazer a cirurgia; 2. Expectativas no pós-operatório; 3. Mudanças observadas após a cirurgia; 4. A preparação no pré-cirúrgico; 5. Vida no pós-operatório; 6. Importância do psicólogo no processo. A amostra foi composta por pessoas que foram indicadas à pesquisa. Para a análise de dados textuais das entrevistas operou-se o programa Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ).
      O resultados exibiram como classe predominante citada pelos respondentes as motivações sociais (43,9%).  O conteúdo dessa classe centrou nas limitações trazidas pelo sobrepeso e a preocupação com imagem corporal. Em relação à análise de similitude destacaram-se as palavras associadas ao psicólogo, tais como: ‘importância’, ‘importante’, ‘pessoa’, ‘achar’, ‘mudar’, ‘gente’, ‘vida’, o que confirma ainda mais o desejo de transformação.  Essa ideia pode ser resumida na sentença “Acho o psicólogo importante, pois a gente vai mudar de vida”. Por fim, o grupo pré-operatório julgou valer à pena o procedimento para se livrar do sofrimento social e físico que o peso carrega, já o grupo pós-operatório não falou de preconceito e dificuldades sociais, sugerindo uma melhoria nesses quesitos.
     Evidenciou-se a importância do psicólogo nesse contexto, pois tanto quem realizou quanto quem vai realizar a cirurgia tem expectativa de mudança de hábitos e comportamentos, visando a uma vida melhor após a cirurgia, além de ter como objetivo manter o peso adequado após o procedimento.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Trauma infantil e sua associação com transtornos do humor na vida adulta: Uma revisão sistemática

Figueiredo, A. L., Dell’aglio, J. C., Silva, T. L., Souza, L. D. M., & Argimon, I. I. L. (2014). Trauma infantil e sua associação com transtornos do humor na vida adulta: uma revisão sistemática. Psicologia em Revista, 19(3), 480-496.

Resenhado por Mariana Menezes

Na atualidade, os transtornos do humor têm se mostrado altamente prevalentes e suas consequências, muitas vezes severas, podem comprometer a vida afetiva, funcional e ocupacional das pessoas, além de prejudicar o bem-estar e a autoimagem. O desenvolvimento de transtornos mentais pode estar associado à ocorrência de eventos estressores traumáticos. Estes podem ser definidos como eventos intensamente perturbadores em que a pessoa esteve envolvida direta ou indiretamente em situações ameaçadoras à vida ou consideradas catastróficas pelo indivíduo.
Os eventos estressores traumáticos que acontecem durante a infância geralmente ocorrem em situações de maus tratos. Os maus tratos contra crianças são classificados em negligência, abuso físico, abuso psicológico e abuso sexual. No Brasil, os maus tratos infantis são a primeira causa de morte de crianças com idade entre 5 e 19 anos. Há evidências de que crianças brasileiras morrem mais por maus tratos do que por doenças físicas. Sabe-se que viver situações traumáticas na infância pode acarretar sérias consequências na vida do indivíduo e da sociedade como um todo, além de desencadear transtornos mentais como os transtornos do humor, inclusive na vida adulta.
Diante disso, Figueiredo, Dell’aglio, Silva, Souza e Argimon (2014) realizaram uma revisão sistemática da literatura no intuito de identificar achados que descreveram associações entre trauma na infância e transtornos do humor na vida adulta. A partir das buscas nas bases de dados, foram encontrados inicialmente 123 artigos. Atendendo aos critérios de inclusão e exclusão, ao final foram selecionados 10 artigos.
Todos os artigos encontrados apontaram alguma relação significativa entre traumas na infância e transtornos do humor na vida adulta, independente das medidas e dos métodos utilizados. Tais artigos também revelaram que, nos casos em que há esse tipo de associação, também são encontradas comorbidades psiquiátricas e pior sintomatologia e prognóstico.
            A exemplo, as conclusões de um dos artigos selecionados na revisão (Gopinath, Katon, Russo, & Ludman, 2006) apontaram que pessoas que sofreram algum tipo de trauma na infância dispõem de menos estratégias para lidar com a depressão. Outro artigo concluiu que existe forte associação entre meninas que foram abusadas sexualmente e sintomas depressivos na vida adulta (Hills, Davis, Byatt, Burnside, Rollinson, & Fear, 2000).
Portanto, tendo em vista que os maus tratos na infância, principal fator causador de traumas psicológicos nessa fase, ocorrem com frequência no Brasil, e que ainda não são combatidos de forma eficaz, a realização desta pesquisa é relevante para a área da Psicologia da Saúde uma vez que permitiu melhor compreensão da relação entre traumas infantis e transtornos do humor. Além disso, esta pesquisa poderá facilitar a criação de estratégias de prevenção e intervenção, contribuindo para evitar a ocorrência desses fenômenos tão prejudiciais ao desenvolvimento saudável dos indivíduos e para diminuir os danos que podem causar à saúde como um todo e, principalmente, à saúde mental.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Como estereótipos negativos validam manifestações de violência


Lima, M.E.O., Faro, A., & Santos, M. R. (2016). A desumanização Presente nos Estereótipos de Índios e Ciganos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 32, 219-228.
Resenhado por Maria Clara

O racismo se operacionaliza através da hierarquização e essencialização das diferenças através da associação de traços físicos, morais e sociais. O primeiro passo para genocídio e holocausto é quando a imagem do outro justifica violência ou indiferença contra ele. Desumanização caracteriza-se como percepção do outro enquanto minoritário, inferior, representando como não-humano, objetificando e legitimando várias formas de violência contra ele.
Os processos de exclusão se apoiam na categorização social e no essencialismo, dois processos cognitivos. Em relação aos processos, sociais os indivíduos se distribuem em endogrupos e exogrupos, e a cada um deles são atribuídas imagens, um conjunto de características, chamado de estereótipos.
 Alguns tipos negativos dos estereótipos afastam os grupos do que representa o ser humano e os aproximam daquilo que tipifica os animais e coisas inanimadas. A desumanização deriva da criação de hierarquia entre os grupos nos quais um se considera mais humano que o outro. No Brasil, os índios e ciganos carregam consigo um histórico de exploração, exclusão e desumanização, além de serem vistos como primitivos, inferiores, vadios, preguiçosos, desonestos.
A amostra do primeiro estudo foi composta por 378 sergipanos que associaram livremente e informaram as três primeiras palavras, sentimentos ou pensamentos que vinham a sua mente quando ouviam a palavra “índio”. Os resultados encontrados apontaram que 65% da amostra moravam longe de índios, no entanto apresentaram crenças desumanizadoras, caracterizando-os como “primitivos”, “isolados” e “naturais”. As crenças coletivas acerca dos índios indicaram sua exclusão social e cultural.
No segundo estudo, participaram 300 não ciganos entrevistados por roteiro estruturado, além da questão “O que você já ouviu falar sobre ciganos?”. Os estereótipos encontrados foram negativos, sendo a ligação da sua imagem com roubo a mais frequente. Também foram vistos como desonestos, trapaceiros e violentos. Quem morava perto de ciganos, apontou estereótipo negativo e desumanizador, enquanto quem morava longe, referiu uma visão mais mística e nômade acerca dos ciganos.
A exclusão moral foi a principal forma de desumanização encontrada, legitimando assim qualquer forma de violência, e os desconsiderando enquanto merecedores de afetos positivos ou ação de cuidado e apoio. A Psicologia da Saúde possui papel fundamental na atuação dos desfechos provocados pela desumanização, como ansiedade, depressão, além do auxílio na busca de mecanismos que possam combater as crenças coletivas negativas acerca dos índios e dos ciganos.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Crenças em saúde acerca do exame do toque retal


Turri, G. S. S., & Faro, A. (2018). Crenças em saúde acerca do exame do toque retal (no prelo). Arquivos Brasileiros de Psicologia.
Resenhado por Luana Santos

Os homens morrem mais cedo quando comparados com as mulheres, pois buscam atendimento preventivo mais tardiamente. Dentre as principais causas de morte entre a população masculina há o câncer de próstata, responsável por mais de 13 mil mortes de homens por ano. Uma das maneiras para evitar seu aparecimento e aumentar a chance de cura consiste na realização de exames preventivos, como o exame do toque retal (ETR), e na ida a consultas regulares. No entanto, muitos homens ainda se negam a tomar tais precauções, devido às crenças distorcidas acerca do ETR, aumentando assim as taxas de morbimortalidade. Entender os mitos e as crenças sobre o exame é de extrema relevância, pois assim medidas mais eficazes podem ser tomadas para aumentar a adesão dos homens às práticas preventivas como a realização do ETR. Dito isto, este trabalho buscou identificar as principais crenças de homens acerca do ETR, comparando as respostas de homens que fizeram o ETR (G1) e dos que ainda não o fizeram (G2).
Para investigar a amostra, utilizou-se um questionário sociodemográfico e clínico, além da técnica de evocação livre de palavras. Os dados foram analisados com auxílio dos programas SPSS e OpenEvoc, sendo que este último forneceu ao estudo um quadro com quatro quadrantes de acordo com a importância de cada evocação. Os resultados foram discutidos com base no Modelo de Crenças em saúde e mostraram que, no G1, as evocações relacionadas à suscetibilidade, gravidade e benefícios do exame foram mais enfatizadas. Já no G2, destacaram-se as crenças voltadas à suscetibilidade e aos benefícios de realizar o exame. Os dados encontrados sugerem que fazer o ETR pode reforçar alguns estereótipos em relação aos aspectos negativos do exame, porém não anula os aspectos positivos.
Supõe-se, a partir dos presentes resultados encontrados, que para ambos os grupos todos os pontos negativos do ETR podem ser enfrentados, já que ele pode detectar o câncer precocemente e evitar uma morte dolorosa e prematura. Embora o G1 tenha salientado mais as Barreiras, os homens do grupo não deixaram de fazer o ETR e mesmo que o G2 não tenha feito o exame, o grupo não deixou de enfatizar seus Benefícios. No quadro geral fornecido pelo OpenEvoc, as evocações dos homens do G2 demonstraram que eles reconhecem que o diagnóstico de uma doença crônica como o câncer de próstata faz surgir a questão da morte, principalmente por estarem cientes que é uma doença de longo tratamento e de difícil cura. Ainda que não tenham feito o exame, tais crenças podem ser indícios de que pretendem realizá-lo num futuro próximo.
Enfim, deve-se levar em consideração a relação paciente-profissional, bem como a condução do profissional durante a realização do ETR, já que barreiras podem estar sendo reforçadas nessa situação. Assim, aponta-se para a necessidade de trabalhar a temática da busca pelo ETR não só com a população-alvo, mas também com os profissionais de saúde. Isso é relevante dentro da psicologia da saúde pois possibilita novas formas de ver e entender as crenças e seu papel dentro de um contexto voltados para as enfermidades.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Aniversário de 5 anos do GEPPS/UFS



(texto um pouco longo, mas revelador ao final. Vá espiar.)
    
O Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia da Saúde (GEPPS/UFS) completa 5 anos agora em outubro de 2018. No compasso de sua proposta inicial, geramos conhecimento de qualidade ao longo dessa caminhada, o que se reflete em mais de 100 produções, dentre artigos nacionais e internacionais, livros e capítulos, sem contar com apresentações e premiações em eventos científicos. Temos formado estudantes e profissionais competentes nos mais diversos níveis, cujo retrato é um amplo leque de psicólogas, mestras e, logo em breve, doutoras em Psicologia da Saúde.
O GEPPS originou-se e se alimenta de um sério compromisso para com a Psicologia sergipana. Seja em publicações científicas, seja em comunicações à sociedade, nossa identidade se faz presente. Fazemos absoluta questão de afirmar nossa origem não apenas em referência a Sergipe em nossos trabalhos, mas percorremos todo o nosso território ao desenvolver pesquisas e intervenções, indo de Norte a Sul, de Leste a Oeste do Estado. Nosso grupo busca romper fronteiras Sergipe afora, mas com a certeza “de onde viemos”, para uma maior clareza quanto a “para onde vamos”.
Fazer pesquisa no Brasil e em Psicologia não é fácil, além de que exige muito “sangue no olho”. Obviamente, em Sergipe não é diferente e, por vezes, ainda suspeitamos haver um “quê” de desafios adicionais. Porém, estamos “ok”. Dedicação e criatividade nunca faltaram na ainda breve história do grupo. Nossa jornada é calcada na superação de desafios e, sobretudo, no cuidadoso processo de construção do conhecimento científico. É certo que persistirão desafios. Entretanto, assim como temos aprendido com a experiência, “a gente supera”.
Finalmente, com orgulho e planos para o futuro, esperamos estar contribuindo com o desenvolvimento da Psicologia da Saúde brasileira e, sobretudo, com a Psicologia sergipana. Assim desejamos, a partir dos frutos de nossa dedicação, avisar a todos que se interessem em saber: o GEPPS está aqui e é em Sergipe, viu!

Diferenças por sexo, adaptação e validação da Escala de Estresse Parental

Brito, A., & Faro, A. (2017). Diferenças por sexo, adaptação e validação da Escala de Estresse Parental. Avaliação Psicológica, 16, 38-47.

Resenhado por Lizandra Soares


A temática da parentalidade tem ganhado visibilidade no cenário científico, em especial pela necessidade de compreender o desenvolvimento infantil e a participação que o ambiente familiar possui nesse processo. Por parentalidade entende-se a construção da relação entre pais e filhos. A forma como os pais percebem as demandas de seus filhos, assim como a inabilidade de lidar com tais demandas pode contribuir para o desenvolvimento de estresse. O estresse, no contexto parental, se refere à percepção de possuir poucos recursos para lidar com as demandas do papel de ser pai/mãe. Em casos nos quais os níveis de estresse parental estão elevados, a relação pais-filhos pode ser prejudicada, comprometendo a qualidade de vida dos pais e o desenvolvimento dos filhos.
O estudo realizado por Brito e Faro (2017) teve como objetivo adaptar a Parental Stress Scale (PSS), medida desenvolvida com o intuito de mensurar os níveis de estresses produzidos na relação parental percebidos pelos pais de crianças e adolescentes. Essa escala avalia quatro fatores: 1) recompensas dos pais, 2) estressores dos pais; 3) falta de controle; e 4) satisfação pessoal. Tais fatores se grupam em duas facetas baseadas na noção de prazer e tensão relacionados aos benefícios emocionais e as despesas/restrições frutos dessa relação, respectivamente. Trata-se de uma escala do tipo Likert com graduação de 5 pontos (0 = discordo totalmente a 4 = concordo totalmente). O escore total da escala varia de 0 a 72 pontos, e quanto mais alto o escore, maior nível de estresse.
 Para realizar a adaptação dessa escala para o português brasileiro, esta passou por uma tradução inicial realizada por três tradutores bilíngues da área da Psicologia, sendo posteriormente retraduzida para o idioma original por três tradutores independentes sem conhecimento a respeito da escala. Por fim, as traduções resultantes passaram pela avaliação de um comitê, item por item, a fim de selecionar aqueles mais próximos da versão original. Essa nova versão foi nomeada Escala de Estresse Parental (EEPa). Na validação de conteúdo, a escala foi submetida à avaliação de três juízes da área de Psicologia com o intuito de analisar se os itens possuíam linguagem clara, pertinência prática e relevância teórica.
Foram coletados dados de 304 participantes (152 pais e 152 mãe) escolhidos por conveniência, cujo critério de inclusão era ser pai ou mãe (um por casal) entre 18 a 51 anos (M = 35,3; DP = 6,59) com, no mínimo, um filho(a) com idade de 3 a 13 anos. A análise fatorial exploratória obteve KMO aceitável (0,81). Com relação à consistência interna, a escala obteve coeficiente alfa (α) de 0,81, sendo no Fator “Satisfação parental” 0,69 e no Fator “Estressores parentais”, 0,79; considerados adequados. De acordo com os resultados obtidos através da análise fatorial, a melhor solução foi o modelo de dois fatores [nomeados de “Satisfação parental” (8 itens) e “Estressores parentais” (8 itens)]. Esses dados sugeriram que a escala possui propriedades psicométricas satisfatórias.
O estudo dessa temática se faz necessário na psicologia da saúde em função da relação parental se relacionar com o desenvolvimento das crianças, ao passo que, quando esta é precipitadora de quadros de estresse, pode incidir na saúde mental dos pais e dos filhos. Por essa razão, mais estudos nessa área são necessários, principalmente no que se refere à compreensão do impacto que os altos índice de estresses parental podem ter sobre a saúde geral dos pais.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Investigação do estresse, ansiedade e depressão em mulheres com fibromialgia: um estudo comparativo

Ramiro, F. S, Júnior, I. L., da Silva, R. C. B., Montesano, F. T., de Oliveira, N. R. C., Diniz, R. E. A. S., & da Costa Padovani, R. (2014). Investigação do estresse, ansiedade e depressão em mulheres com fibromialgia: um estudo comparativo. Revista Brasileira de Reumatologia54, 27-32.

Resenhado por Joelma Araújo

A fibromialgia trata-se de uma síndrome complexa que compromete de forma significativa a qualidade de vida dos pacientes e se caracteriza por dor musculoesquelética difusa e crônica, bem como sítios dolorosos específicos à palpação, denominados tender points (pontos dolorosos). Os sintomas da fibromialgia são físicos, tais como fadiga, rigidez matinal, distúrbios do sono, e psicológicos, tais como prejuízos cognitivos e tantos outros que caracterizam muitas vezes quadros de depressão e ansiedade. Considerando-se o comprometimento da qualidade de vida causado pela fibromialgia, os indivíduos afetados vivenciam elevados níveis de estresse quando comparados a pessoas sem a patologia. As mulheres são mais prejudicadas pela síndrome, principalmente aquelas de idade entre 40 e 50 anos. Além de estarem mais expostas à situação de estresse, devido aos papéis culturais dentro da sociedade, elas também estão mais vulneráveis ao estresse em vista da sua condição biológica. 
        O estresse é entendido como reações psicofisiológicas e comportamentais complexas, originadas quando há um desequilíbrio interno frente a alguma situação ameaçadora. A reação ao estresse é um processo natural do organismo, que gera energia e motivação através da liberação de adrenalina e noradrenalina. Essa reação inicial é denominada fase de alerta e é considerada positiva, no entanto, se o estresse persistir, pode evoluir para as fases de resistência, quase-exaustão e exaustão. 
     Nos quadros de fibromialgia, a quebra da homeostase interna é constante, pois o conjunto de sintomas sobrecarregam a capacidade adaptativa do organismo. Além disso, as variáveis emocionais podem levar ao agravamento dos sintomas da fibromialgia. Diante disso, desenvolveu-se um estudo para ampliar o entendimento de tais variáveis, buscando investigar índices de estresse, ansiedade e depressão em 50 mulheres: 25 com fibromialgia e 25 saudáveis. Os instrumentos utilizados foram o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL), o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) e o Inventário de Depressão Beck (BDI).
     Devido ao alto índice de estresse encontrado no grupo com fibromialgia (96%) os autores discutem os prejuízos funcionais e os relacionados ao bem-estar psicossocial, além de alertar para o risco de o quadro de estresse evoluir para a fase de exaustão, que estava presente em 4% dos sujeitos. Outro ponto discutido foi à constatação de que o traço de ansiedade teve um escore relevante, superior ao estado de ansiedade. O que leva a compreender, segundo os autores, que existe um padrão cognitivo-afetivo e comportamental ansioso relativamente estável nos indivíduos estudados. Também foi identificado um quadro de depressão moderada nas participantes com fibromialgia.
          Desta forma, o presente estudo relaciona-se com a área da Psicologia da Saúde tendo em vista que contribuiu para evidenciar a linha tênue existente entre fatores psíquicos e o adoecimento físico. No caso da fibromialgia, em particular, contribuiu para o controle do estresse e prevenção de transtornos como depressão e ansiedade, fundamentais para a promoção da qualidade de vida. 

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

O significado dos anabolizantes para os adolescentes

Carregosa, M. S., & Faro, A. (2016). O Significado dos Anabolizantes para os Adolescentes. Temas em Psicologia, 24(2), 519-532. doi. 10.9788/TP2016.2-07
Resenhado por Iracema R. O. Freitas

Os esteroides anabólico-androgênicos (EAA) também chamados de “bombas’, são substâncias sintéticas a base de testosterona, cuja função consiste no aumento da massa muscular (efeito anabólico) e desenvolvimento de características sexuais masculinas (efeitos androgênicos). O uso dos EAA é indicado para o tratamento de algumas doenças como deficiência de andrógenos, câncer de mama, ou para a estimulação do desenvolvimento ósseo, dos músculos, do apetite e outros. Em contrapartida, estudos apontam que os EAA possuem efeitos colaterais em casos de uso adequado, e quando se trata do uso recreativo ou abusivo há um risco de danos ainda maiores. Alguns desses danos são problemas que vão desde os sintomas mais simples como dores de cabeça, diarreias, acnes e dor no local da injeção, até os mais complexos e às vezes irreversíveis, tais como: problemas no Sistema Nervoso, cardíacos, hepáticos, infertilidade masculina e morbidade hospitalar.
Segundo um levantamento do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), 1,4% dos estudantes brasileiros já arriscaram a saúde com o uso de anabolizantes para fins estéticos, sem prescrição médica, com aquisição ilícita e motivada em função do baixo custo, do fácil acesso e da resposta em curto prazo. Dados de 508 estudantes do ensino médio com faixa etária média de 16,2 anos, foram analisados através do software IRAMUTEQ. Utilizando-se entrevista semiaberta, investigaram-se o conceito, os benefícios e os malefícios dos anabolizantes.
De acordo com as semelhanças entre os segmentos do texto, o conteúdo foi dividido em três classes temáticas: a primeira sobre o conceito dos anabolizantes (39,3%), a segunda sobre os benefícios derivados dos anabolizantes (19,1%) e a terceira sobre os prejuízos derivados dos anabolizantes (41,6%). Os resultados mostraram que na primeira classe as principais definições foram massa (88,5%), crescimento (70,2%), desempenho (100%), e ainda o paradoxo “mau e bom” que levou os participantes a falarem dos ganhos e perdas do uso dos EAA, visto que de um lado estão os problemas renais (100%) e impotência (100%), e do outro lado foram citados benefícios como a capacidade de proporcionar agilidade (100%) e resultado instantâneo (100%). Na segunda classe, houve um consenso quanto à relação do uso dos EAA e a imagem corporal com ênfase no fator autoestima e todas as suas implicações (ser feliz, chamar a atenção dos pares e outros). Na terceira classe, os adolescentes concluíram que não há nenhum benefício no uso dos anabolizantes.
Ao considerar a visão do adolescente frente ao uso de anabolizantes, é possível para a Psicologia da saúde elaborar uma concepção de como o uso desse tipo de droga tem despertado uma posição ambígua que abrange o desejo por uma aparência física ideal e os riscos à saúde, bem como desenvolver estratégias de psicoeducação e intervenções em determinados contextos. As concepções errôneas podem levar a danos físicos e psíquicos, uma vez que a baixa autoestima, popularidade, reconhecimento social, venda ilegal de anabolizantes, contato com o mundo das academias, a pressão social, o culto ao corpo, dentre outros, podem servir como janela de vulnerabilidade aos anabolizantes. A atenção diferenciada as demandas dessa população contribuem para que a busca pela realização e bem-estar tomem um percurso menos nocivo que o da adesão aos EAA.