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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Enfrentamento, locus de controle e preconceito: um estudo com pessoas de orientação sexual homoafetiva


Faro, A., & Fernandes, S. C. S. (2009). Enfrentamento, locus de controle e preconceito: um estudo com pessoas de orientação sexual homoafetiva. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 15, n. 3, p. 101-119.

Resenhado por Maísa Carvalho

Sabe-se que indivíduos de orientação homoafetiva cotidianamente são alvos de preconceito sexual e, em consequência, podem desenvolver altos níveis de estresse ocasionados por respostas mal administradas. Conceitualmente, estratégias de enfrentamento são entendidas como ações, comportamentos e/ou pensamentos que são utilizados para lidar com um conjunto de estressores. Essas estratégias se dividem principalmente em foco no problema, que enfatiza a demanda causadora, e foco na emoção, que direciona a resposta emocional. Além destas, destaca-se também a relevância da religiosidade e do suporte social como outros tipos de enfrentamento.
A forma como o indivíduo percebe e vivencia o estresse costuma ser determinante para a escolha do modo de enfrentamento, a qual pode ser explicada através da teoria do locus de controle. Em sua definição, locus de controle são crenças a respeito dos resultados das ações, que podem ser atribuídas a si mesmo (locus interno) ou a eventos que estão fora do nosso controle (locus externo).
Mediante o exposto, os autores do estudo buscaram identificar as estratégias de enfrentamento utilizadas por pessoas de orientação sexual homoafetiva, verificar a adesão ao locus de controle utilizado e analisar a relação entre ambos os processos. A amostra foi composta por 31 participantes que se declararam homossexuais, bissexuais ou transgêneros, os quais participavam de um evento a respeito do preconceito sexual na cidade de Aracaju/SE. Os instrumentos utilizados foram a Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP) e uma escala de Locus de Controle.
Os resultados apontaram que os participantes utilizam o foco no problema (M = 3,56; DP = 0,68) e o suporte social (M = 3,54; DP = 0,71) como os principais modos de enfrentamento. No que se refere à atribuição de causalidade, a adesão ao locus de controle interno (M = 4,26; DP = 0,47) foi preponderante entre a amostra coletada. A correlação parcial entre as variáveis atrelou o locus interno ao foco no problema (r = 0,568; p < 0,01) e ao suporte social (r = 0,501; p < 0,05), e o locus externo ao foco na emoção (r = 0,544; p < 0,01) e ao foco na religiosidade (r = 0,434; p < 0,05).
Com base nos resultados apresentados, o estudo identificou que as duas estratégias de enfrentamento utilizadas pelos participantes – foco no problema e suporte social – indicam que, ao encararem situações de preconceito, esses sujeitos favorecem a análise dos fatores estressores, bem como atribuem a si a responsabilidade por seus comportamentos e reações em geral.
Ao compreender a relação entre os construtos apresentados, torna-se relevante a produção de mais estudos neste e em diferentes grupos sociais concentrados na área da Psicologia da Saúde, com o fito de fomentar o interesse de políticas públicas em promover projetos de amparo e/ou aconselhamento psicológico em públicos vulneráveis.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Síndrome de Burnout em Médicos Intensivistas: Estudo em UTIs de Sergipe


Almeida, S. P., Araújo, M. R. M., Barreto, A. L. P., Barros, M. M. S., Faro, A., Faro, S. R. S. (2016). Síndrome de Burnout em médicos intensivistas: estudo em UTIs de Sergipe. Temas em Psicologia, n.1, 377-389. doi: 10.9788/TP2016.1-26

Resenhado por Uquênia Lemos

O exercício da medicina intensiva é permeado por tarefas árduas e desgastantes, realizadas numa organização de trabalho com carga horária excessiva, ritmo intenso de atendimentos, controle rigoroso das atividades, pressão temporal e necessidade de profissionais polivalentes, além de estarem num ambiente com estímulos emocionais intensos, como: o adoecer, a dor e o sofrimento. Diante disso, os médicos intensivistas podem vivenciar uma insatisfação profissional no seu cotidiano, assim como um adoecimento físico e psicológico, ocasionando doenças, tais como: transtornos mentais comuns (depressão, ansiedade), estresse, e, em particular, a síndrome de burnout.
A síndrome de burnout é uma resposta ao estresse crônico, quando falham as estratégias de enfrentamento que, normalmente, o indivíduo emprega para lidar com os estressores laborais. Ela é composta pelas dimensões: Realização Pessoal (RP), que se refere à tendência do profissional em se avaliar negativamente, gerando sentimentos de incompetência e baixa autoestima, o que afeta a realização do trabalho e a relação com os pacientes; o Esgotamento Emocional (EE), que ocorre quando o médico passa a se defender contra a carga emocional derivada do contato direto com outras pessoas, não conseguindo dar mais de si mesmo a nível afetivo; e a Despersonalização (DE), quando o profissional passa a ter um endurecimento afetivo, desenvolvendo sentimentos negativos, de atitudes e condutas de cinismo voltadas a usuários do trabalho. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi identificar a presença da síndrome de burnout junto aos médicos intensivistas do Estado de Sergipe, além de possíveis preditores da síndrome.
Foram utilizados um questionário para caracterização sociodemográfica, laboral e psicossociais da amostra e o Maslach Burnout Inventory - Human Services Survey (MBI-HSS). O instrumento contém 22 questões, sendo nove relativas à dimensão EE, cinco à DE e oito à RP. A amostra foi composta por 122 médicos intensivistas, atuantes em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) há, no mínimo, seis meses. Os participantes eram predominantes casados (61,5%), com filhos (66,4%) e idade média em 38,7 anos (DP = 8,39), não havendo predominância de sexo (50,8% do sexo masculino). Os resultados indicam altos níveis de EE (66,4%) e DE (54,9%), em contrapartida a dimensão RP (67,2%) apresentou-se majoritariamente em nível baixo. Observou-se, então, que 42,6% (n = 52) dos participantes se encaixavam no diagnóstico positivo para a síndrome de burnout e os preditores identificados foram: trabalhar na UTI por necessidade, sentir-se sobrecarregado, vivenciar uma relação estressante com colegas de trabalho, além de não utilizar o horário livre para assistir TV ou para dormir.
Por fim, ressalta-se a importância da Psicologia da Saúde na promoção de estratégias de enfrentamento protetivos e preventivos junto a estes profissionais, a partir do desenvolvimento de programas de prevenção e promoção de saúde necessária para trabalhar questões de relacionamentos interpessoais, carreira profissional, desempenho de atividades e aproveitamento de horas livres.


terça-feira, 27 de novembro de 2018

Solidão e depressão em adultos


Barroso, S. M., Baptista, M. N., Zanon, C. (2018). Solidão como variável preditora na depressão em adultos. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 9(3supl), 26-37. doi: 10.5433/2236-6407.2018v9n3suplp26

Resenhado por Laís Santos

A depressão é um transtorno mental de elevada prevalência mundial. Fatores de personalidade, tais como o neuroticismo e fatores comportamentais como o consumo de álcool e outras drogas, maus hábitos e o sedentarismo, associam-se positivamente à presença de sintomas depressivos e ansiosos. Estima-se que a solidão seja outro aspecto que se relaciona a maior presença de sintomas depressivos, ansiosos e à ideação suicida. Sabe-se que a solidão se associa a quantidade e a qualidade que uma pessoa percebe os seus relacionamentos interpessoais e os que gostaria de ter. No Brasil, pesquisas sobre o impacto da solidão sobre a depressão ainda são recentes e pouco presentes. Com isso, este estudo avaliou o papel preditor da solidão frente à depressão em adultos quando controlados fatores, tais como a ansiedade e o neuroticismo. Participaram do estudo 297 estudantes universitários (70%; n = 208 eram mulheres), de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, com idades entre 17 e 76 anos. Os instrumentos utilizados foram a Escala Baptista de Depressão (Versão Adulto) (EBADEP-A), a Depression, Anxiety and Stress Scale (DASS-21), a Escala Brasileira de Solidão UCLA (UCLA-BR), o Inventário de Saúde Mental de 5 itens (MHI-5), o Inventário dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade (IGFP-5) e um questionário sociodemográfico e clínico.
            Os resultados gerados a partir de regressão múltipla hierárquica em três passos, revelaram que o modelo 1 (variáveis sociodemográficas) explicou aproximadamente 10% da presença de sintomas depressivos. Ao acrescentar o neuroticismo e outras psicopatologias ao modelo, houve o aumento de 60% da capacidade preditiva, somando então 70%. Por último, o modelo 3 (acréscimo da solidão) adicionou 1% de variância exclusiva do modelo total explicado, que somou o total de 71%. Observou-se que na amostra em questão os fatores de maior impacto foram o índice de saúde mental e a solidão, sendo que esta última permaneceu significativa mesmo controlando outros aspectos. A presença de fatores múltiplos de impacto na depressão era algo esperado frente a complexidade de tal transtorno. Especificamente quanto à solidão, constatou-se que tal construto atua como um importante fator preditor da depressão, embora não tenha adicionado grande variância explicativa ao modelo testado. Sugere-se a realização de pesquisas com amostras de outras faixas etárias tais como a infância e adolescência, a fim de avaliar o impacto preditor dessa variável em diferentes fases do desenvolvimento. Para a Psicologia da Saúde, identificar quais fatores exercem maior impacto no surgimento de transtornos mentais comuns, especificamente a depressão é extremamente importante, principalmente no que concerne a elaboração de estratégias de intervenção e prevenção dessas patologias.

sábado, 24 de novembro de 2018

Suicidal ideation, anxiety, and depression in patients with multiple sclerosis/ Ideação suicida, ansiedade e depressão em pacientes com esclerose múltipla


Tauil, C. B., Grippe, T. C., Dias, R. M., Dias-Carneiro, R. P. C., Carneiro, N. M., Aguilar, A. C. R., ... & Giovannelli, E. D. C. (2018). Suicidal ideation, anxiety, and depression in patients with multiple sclerosis. Arquivos de Neuro-psiquiatria76(5), 296-301.doi.org/10.1590/0004-282X20180036

Resenhado por Iracema R. O. Freitas

A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória crônica e degenerativa do sistema nervoso central com maior prevalência entre as mulheres, ou seja, para cada três mulheres com EM temos um homem com a doença.  Os sintomas clínicos se manifestam através de fadiga, déficits sensoriais e motores, alterações esfincterianas, neurite óptica, diplopia, sinais cerebelares, alterações na marcha, espasticidade e disfunção cognitiva. Tais sintomas estão relacionados à incapacidade e alterações cognitivas e psicológicas, além dos déficits físicos cumulativos, que comprometem a qualidade de vida dos pacientes, incluindo sua vida social e profissional. Os transtornos de humor e ansiedade foram os distúrbios psiquiátricos mais frequentes nesses pacientes. Estima-se que 25% dos pacientes com EM sofrem de depressão, um dos fatores pode está relacionadas às chamadas terapias modificadoras da doença, onde os efeitos adversos do medicamento modulam o humor. Outros fatores incluem os níveis elevados de fadiga, alto estresse, perda de oportunidade de lazer e a má qualidade de relacionamentos.
Esse estudo teve por objetivo determinar a prevalência e a gravidade de depressão, ansiedade e ideação suicida em pacientes com EM e verificar a relação entre o status funcional, a gravidade da doença, o tratamento atual e o uso de antidepressivos.  A amostra foi composta por 132 pacientes com diagnóstico confirmado, com idades entre 18 e 60 anos, a média foi de 35 anos. Destes, 22% (n = 29) eram homens e 78% (n = 103) eram mulheres. Foram utilizadas a Escala Expandida de Incapacidade (EDSS), Inventário de Depressão – II (BDI- II), Escala de Beck para Ideação Suicida (BSI) e Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS; subescala de ansiedade: HADS-A; subescala de depressão: HADS-D). Os dados foram analisados usando o software PRISMTM v.6.
Os resultados apontaram que houve maior taxa de sintomas de ideação suicida e ansiedade em pacientes com mais de dois anos com a doença, se comparado com a população geral. Foi identificado maior prevalência de sintomas depressivos leves em 30,6%, sintomas depressivos moderados em 29,3% e sintomas depressivos graves em 5,3% dos pacientes. Estes achados sugerem que há simultaneidade entre a progressão da doença e os transtornos psiquiátricos. Já a relação entre a alta taxa de depressão e ideação suicida por meio da evolução da doença podem ser efeitos colaterais da doença ou sintomas associados. Para a Psicologia da Saúde o adoecimento pode afetar a qualidade de vida, bem como aumentar o risco de morte por suicídio em indivíduos com EM, servindo de alerta para o problema. Por isso a importância de analisar o vinculo entre os medicamentos de EM e a presença dos distúrbios psiquiátricos, para que haja um acompanhamento psicológico por parte de um profissional habilitado.


quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Estresse e estratégias de enfrentamento em pacientes que serão submetidos à cirurgia de colecistectomia


Santos, A. F., Santos, L. D. A., Melo, D. O., & Alves Júnior, A. (2006). Estresse e estratégias de enfrentamento em pacientes que serão submetidos à cirurgia de colecistectomia. Interação em Psicologia, 10(1). doi:10.5380/psi.v10i1.5772.

Resenhado por Danielle Alves

O artigo tem como objetivo mapear e comparar as estratégias de enfrentamento de dois grupos: pacientes no pré-operatório da cirurgia de colecistectomia (n = 15) e aqueles submetidos ao tratamento clínico de gastrite (n = 10). Foi utilizado o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp e o Inventário de Estratégias de Coping de Folkman e Lazarus.
Entendeu-se que o momento da cirurgia é potencialmente estressor, demandando adaptação dos pacientes frente aos desafios impostos. O conhecimento da dinâmica que envolve o ajustamento contribuiria para melhor planejamento do pós-operatório, tendo em vista que seria possível rastrear e promover a redução de níves consideráveis de ansiedade e depressão, fatores psicológicos que interferem negativamente no prognóstico. Em especial, a colecistectomia, que consiste na remoção cirúrgica da vesícula biliar, e é uma das cirurgias mais freqüentes nos Brasil, justificando a necessidade de maior atenção à maneira pela qual esses pacientes promovem ajustamento psicológico.
Os resultados mostraram que a maioria dos pacientes apresentaram estresse na fase de resistência, incindindo massivamente em mulheres. Nessa fase há predominância de sintomas físicos como problemas de memória, mal-estar generalizado, desgaste físico e cansaço constante. Essas reações impactam não só psicologicamente como fisicamente, pois o excesso de cortisol gerado interfere na resposta inflamatória e imunológica, e o aumento da pressão arterial pode vir a comprometer o procedimento cirúrgico.
A maioria dos participantes se encontrou em fase de evolução do estresse, sugerindo que a doença em si, enquanto situação estressora, já predispõe a fatores de risco para o pós-operatório. Já no grupo de pacientes com tratamento clínico de gastrite, não foram encontrados níveis de estresse considerados prejudiciais. O fato revelou que a atuação do psicólogo deve se concentrar em pacientes cirúrgicos, pois seria possível maior contribuição para recuperação dos pacientes.
Em termos de estratégia de enfrentamento, a fuga-esquiva foi característica de pacientes cirúrgicos. Essa estratégia se encontra no leque de alternativas focadas na emoção, indicando que esse tipo de paciente percebe a situação estressora de forma rígida, como não passível de mudanças.
A avaliação de recursos internos e externos mostrou que esses pacientes não tiveram recursos internos suficientes para considerar a cirurgia como um evento estressor de menor potencial, e que recursos externos parecem não ter favorecido a atenuação das conseqüências da situação estressante. Sugeriu-se intervenção com vídeos educativos como suporte externo, a qual possui evidências científicas na redução da ansiedade antes da cirurgia.
Por fim, entendeu-se que maior conhecimento acerca da dinâmica que estabelece o ajustamento desses pacientes permite melhor rapport com a equipe e eleva a qualidade de vida do paciente, favorecendo o reestabelecimento da saúde. A psicologia da saúde, portanto, é promissora e agrega potencial contribuição aos estudos que esclarecerão as diferentes formas de ajustamento, elevando as possibilidades de intervenção eficaz nesses casos.


terça-feira, 20 de novembro de 2018

Escala de Autoeficácia para a Atividade com Sentido: Encontrando sentido no envelhecimento ativo


Oliveira, A., Lima, M. P., & Portugal, P. (2016). Escala de Autoeficácia para a Atividade com Sentido: Encontrando sentido no envelhecimento ativo. Revista Portuguesa de Investigação Comportamental e Social: RPICS2(1), 3-13.

Resenhado por Daiane Nunes

            As atividades ocupacionais consideradas significativas são aquelas desempenhadas ao longo do tempo, às quais se atribui sentido que preservam a participação ativa. Esse sentido é expresso como uma dimensão de valor por parte do indivíduo que percebe sua ocupação como importante e significativa. Em idades avançadas, as atividades ocupacionais são mantidas de acordo com a valoração e o sentido atribuído a elas, sobretudo numa etapa da vida em que se pode assistir a uma ausência de papéis definidos ou funções com estatuto social mais reduzido. As fontes de sentido implicadas às atividades ocupacionais nos idosos são compreendidas em termos de identidade e desenvolvimento pessoal, utilidade, controle e competência percebidos, além de propósito e envolvimento com a vida. Essas fontes de sentindo são responsáveis por mediar crenças de autoeficácia na população idosa, consideradas elementos fundamentais para o envelhecimento ativo.
            Partindo dessa ideia, os autores desenvolveram a Escala de Autoeficácia para a Atividade com Sentido (EAASentido). Inicialmente foram realizadas entrevistas de grupo focal com 23 idosos, tendo como objetivo identificar os comportamentos específicos dos participantes nas seguintes dimensões: (1) Atividades instrumentais (sentido instrumental); (2) Atividades profissionais/ocupacionais (sentido ocupacional); (3) Atividades de participação social (sentido de participação); (4) Atividades de desenvolvimento pessoal e de lazer (sentido identitário); (5) Atividades espirituais/religiosas (sentido existencial). Os 20 itens gerados a partir desse processo foram submetidos a um pré-teste com os mesmos participantes dos grupos focais. Após os ajustes necessários, a escala foi aplicada em 503 idosos europeus, com idade média de 71,66 anos (DP = 7,77; Mínimo = 51 anos e Máximo = 96 anos), sendo a maioria do sexo feminino (63,0%; n = 317). Os instrumentos utilizados incluíram a EAASentido, a Escala de Autoestima de Rosenberg, a Escala Atividades Instrumentais da Vida Diária, a Positive Affect and Negative Affect Scale, a Satisfaction With Life Scale, o Meaning in Life Questionnaire e a Escala de Autoeficácia para a Autodireção em Saúde.
Os resultados demonstraram bons indicadores de validade e de consistência interna (α = 0,94). A análise de componentes principais apontou a existência de três dimensões e não as cinco inicialmente previstas: atividades de desenvolvimento pessoal e participação social, atividades instrumentais, e atividades espirituais/religiosas. Após análise das saturações dos itens, os autores propuseram a reformulação da escala, eliminando cinco itens. A consistência interna global dos 15 itens manteve-se elevada (α = 0,92). Os resultados da validade de construto e discriminante demonstraram correlações significativas com todos os instrumentos utilizados. Foram evidenciadas correlações negativas com as variáveis afetividade negativa e idade, apontando que quanto mais o idoso se sente capaz de se engajar em diferentes atividades, maior a sua percepção de autoestima, de afeto positivo, de satisfação com a vida, de presença de sentido na vida e de autoeficácia para a saúde.
Por fim, evidenciou-se robustez e adequação psicométrica da EAASentido, recomendando seu uso para avaliar em que medida os idosos têm confiança na sua capacidade para se envolverem em atividades com sentido. Contudo, no que concerne à dimensionalidade da medida, sugeriu-se mais estudos que testem a reconfiguração proposta, nomeadamente através de análises fatoriais mais robustas.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Entrevista: Saúde do homem e a prevenção do câncer de próstata


Roteiro elaborado por Mariana Menezes
Entrevistada: Psicóloga Geovanna Turri

“Novembro Azul” é uma campanha mundial que visa à conscientização da sociedade e, principalmente dos homens, sobre a importância de cuidar da saúde masculina e prevenir o câncer de próstata. Sabe-se que os homens costumam negligenciar os cuidados com a própria saúde e que o câncer de próstata é uma das principais causas de morte entre eles. Nesse mês dedicado à saúde do homem, o GEPPS convidou a psicóloga e integrante do grupo Geovanna Turri (CRP 19/3077 / Lattes) para responder a algumas questões sobre o tema.  

1. Como a psicologia explica o fato de os homens morrerem mais cedo em comparação às mulheres?

Ouvimos relatos, não só na literatura da área, mas no senso comum, que as mulheres buscam mais atendimentos preventivos do que os homens. Isso porque, de forma geral, é enraizado na sociedade que a mulher é mais sensível e frágil, portanto devem se cuidar mais. Já a representação do homem é de virilidade, assim, admitir que precisa de ajuda se torna um ato de fraqueza para muitos, pois é como se o homem estivesse assumindo sua fragilidade. Para a Psicologia isso está relacionado às crenças e ao apoio social, dentre outras coisas. As crenças e o apoio da família e dos amigos podem fazer com que os homens tenham atitudes positivas ou negativas sobre o exame de toque retal. Quando essas atitudes são mais positivas, consequentemente, maiores são as chances de que o homem realize o exame. Por exemplo, se um homem acredita que fazer o exame do toque retal depende dele, que será bom para se prevenir de um câncer de próstata e que seus amigos e familiares o apoiam, as chances dele fazer o exame aumentam muito. Por isso o suporte fornecido à população masculina é tão importante e as intervenções devem ser feitas não somente com esse público, mas com todos, visto que a influência social pode aumentar ou diminuir a adesão ao exame e até mesmo interferir no risco de mortalidade.

2. Porque alguns homens têm resistência para realizar exames preventivos do câncer de próstata?

Mesmo sem sintomas, a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que os homens que têm acima de 50 anos e os que têm 40 anos com histórico familiar de câncer de próstata busquem anualmente um urologista para fazer check-up da próstata. Para prevenir esse tipo de câncer, o exame do toque retal é considerado o método de maior acurácia diagnóstica nesses casos, aliado a outros exames como o exame de sangue PSA. Diante de todo o preconceito que cerca o exame do toque e da crença que ele pode afetar a masculinidade, os homens optam, muitas vezes, por fazer apenas o exame de sangue, já que esse é considerado por eles um exame simples e sem contato íntimo.
O exame do toque geralmente é associado a dor e ao desconforto físico e psicológico de estar sendo tocado. Esse desconforto está, na maioria das vezes, relacionado ao preconceito. Por exigir contato corporal com a região anal do homem, o exame tem sido alvo de preconceitos, levando a pouca adesão. A baixa adesão ao exame do toque é um reflexo da baixa adesão dos homens aos serviços de atenção primária e, em muitos casos, do pouco conhecimento acerca da relevância dos exames preventivos. O preconceito em saúde relaciona-se com a concepção de masculinidade e machismo, na qual muitos homens acreditam que são fortes e por isso não precisam fazer exames preventivos, considerando o cuidado em saúde função feminina. Essa crença de que o cuidado é função feminina, aponta para algumas questões de gênero e machismo, que se mostram mais relevantes quando se constata o alto índice de homens que poderiam ter a chance de morte reduzida para determinadas doenças se realizassem exames preventivos.
Então, o que esses homens devem ter em mente é que é preciso realizar os exames que o médico pede, pois ele avalia a necessidade de cada caso, e se o mesmo indicou o exame do toque é porque realmente é necessário. Nesse momento, o homem deve buscar ter controle sobre aspectos que podem funcionar como fatores impeditivos para a realização do exame.  

3. Quais aspectos psicológicos podem influenciar a decisão dos homens de realizar o exame de toque retal?

Várias coisas podem funcionar como fatores impeditivos para realização do exame, sendo os principais o preconceito, o machismo e as crenças distorcidas acerca do exame. Por ser realizado numa zona considerada “íntima” por muitos homens, que é a região anal, o exame traz uma carga negativa muito forte entre eles. Por exemplo, muitos acreditam que fazer o exame poderá mudar sua sexualidade (diante de pessoas conhecidas), que o tornará vulnerável e que sua masculinidade será colocada à prova, quando a realidade é bem diferente. O exame do toque retal é um exame como qualquer outro, realizado com técnica e profissionalismo. Nada além do câncer de próstata está sendo avaliado, então eles não precisam se preocupar em se tornarem mais ou menos homens por aceitar realizar o exame.

4. Como a Psicologia da Saúde pode contribuir para que os homens tenham comportamentos de saúde e como pode ajudar na prevenção do câncer de próstata?

Não se pode deixar de pensar nos constrangimentos que muitos homens sentem ao realizar o exame, mesmo aqueles que procuram ser mais racionais frente à sua realização. Por conseguinte, não há como desconsiderar aspectos simbólicos que interferem na intenção e decisão de realizar o exame, uma vez que o toque retal pode ser visto como comprometimento da virilidade e da masculinidade. Dentro desse contexto posso dizer que a Psicologia da Saúde tem sido usada para explicar comportamentos de saúde, contribuindo assim para a melhor compreensão desses comportamentos. Nesse sentido, as pesquisas da área da Psicologia da saúde podem orientar campanhas e ações em saúde, direcionando-as de forma mais eficaz.
Ressalto ainda a importância da Psicologia da Saúde na investigação de comportamentos protetivos e preventivos relacionados a saúde do homem e de qualquer outro público, pois a mesma considera todos os aspectos (psicológicos, clínicos e fisiológicos) e contribui para a promoção e manutenção da saúde, prevenção e tratamento de doenças, e identificação de relações etiológicas e diagnósticas de saúde.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Ambiência domiciliar para a realização da diálise peritoneal

Abud, A. C. F., Zanetti, M. L., Inagaki, A. D. M., Santos, A. F., Lima, R. S., & Moura, R. P. (2017). Ambiência domiciliar para a realização da diálise peritoneal. Revista Enfermagem UERJ, 25: e15210. doi: 10.12957/reuerj.2017.1521.

Resenhado por Brenda Fernanda

A doença renal crônica (DRC) diz respeito ao comprometimento da função renal e se constitui, atualmente, como problema mundial de saúde pública. Ao chegar em seu estágio final, denominado insuficiência renal crônica (IRC), existe a possibilidade de o paciente ser submetido a um programa de terapia renal substitutiva (TRS), seja hemodiálise (HD), diálise peritoneal (DP) ou transplante renal. Considera-se a DP um método substitutivo eficiente para a retirada de líquido e de produtos de degradação urêmica do corpo.
 A DP apresenta-se como uma modalidade de tratamento com resultados similares ao da HD e possui várias vantagens, entre elas, a melhoria da qualidade de vida do paciente e a possibilidade de fazer o tratamento em casa. No entanto, existem problemas como peritonite (infecção do peritônio), ultrafiltração inadequada e deficiência na eliminação de solutos urêmicos. Ademais, fatores sociais podem constituir indicação para a mudança do procedimento de DP para HD. Assim, o objetivo do referido estudo foi avaliar a estrutura física do domicílio de pacientes em diálise peritoneal.
O estudo apresentou delineamento quantitativo transversal, sendo realizado com todos os pacientes adultos em diálise peritoneal assistidos em uma clínica conveniada com o SUS no Estado de Sergipe. Para obtenção dos dados, inicialmente foi realizada análise dos prontuários e, a partir daí, foram selecionados 90 pacientes que se encontravam em DP há pelo menos 6 meses, com idade igual ou superior a 18 anos. Depois de selecionados os pacientes, os pesquisadores entraram em contato por telefone para agendar a visita. O agendamento foi realizado com 24 horas de antecedência, para que não houvesse tempo hábil para mudanças no ambiente domiciliar.
Utilizou-se questionário semiestruturado com as variáveis relacionadas à estrutura física do domicilio e sociodemográficas (sexo, idade, escolaridade e renda). O tempo médio de entrevista e observação atingiu 40 minutos. A observação favoreceu a coleta de dados relativos à realização do procedimento de diálise. Observaram-se paredes, piso do local onde era realizada a troca de solução, pia para higienização das mãos, rede de água e esgotamento sanitário, acondicionamento do material e local utilizado para desprezar o dialisato efluente. Para a análise, utilizou-se o componente estrutura da avaliação de cuidados em saúde.
Como resultado, observou-se que o ambiente mais utilizado para a realização da DP, no domicílio, era o quarto, com maioria apresentando paredes íntegras, revestimento no teto, piso íntegro, presença de pia e utilização de água tratada para a higienização das mãos, bem como rede de esgotamento sanitário. Os materiais para DP eram armazenados em local e forma adequados. Contudo, em alguns casos, foram encontradas rachaduras, infiltrações e utilização de água de poço artesiano, além do armazenamento inadequado do material e descarte do dialisato efluente de forma incorreta, expondo os pacientes a riscos que podem agravar o seu estado de saúde.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Adaptação ao estresse: breve revisão sobre as estratégias de enfrentamento (Coping)

Faro, A. (2017). Adaptação ao estresse: breve revisão sobre as estratégias de enfrentamento (Coping). In: A. Faro & M. R. M. Araújo. (Org.). Teorias e estudos em psicologia social: A contemporaneidade em temas clássico (pp. 207-218). São Cristóvão: EDUFS.

Resenhado por Ariana Moura

O estresse, como aporte teórico para estudo da adaptação dos indivíduos às adversidades, destaca-se entre as temáticas de investigação da Psicologia da Saúde. Conceitualmente, o estresse pode ser entendido como um conjunto de reações mentais e corporais que ocorre diante da percepção que demandas internas ou externas excedem a capacidade adaptativa do indivíduo, suscitando a ativação de recursos biológicos, sociais e psicológicos para o retorno ao (ou busca do) estado de bem-estar subjetivo. Tais recursos são entendidos como estratégias de enfrentamento.O trabalho teve como objetivo revisar o papel do enfrentamento nos estudos do estresse e no campo da Psicologia da Saúde.
A fim de diferenciar as estratégias de enfrentamento de outros recursos adaptativos, quatro aspectos merecem destaque: primeiro, o enfrentamento é um processo situacional, ou seja, não é um traço estável da personalidade; segundo, é uma atitude orientada e não um automatismo, pois o indivíduo se esforça para encontrar o melhor nível de ajustamento; terceiro, é uma ação afirmativa e não prediz o seu resultado, pois varia de acordo com o contexto e situação psicológica; e quarto, o manejo da situação é que caracteriza o enfrentamento, para o qual não necessariamente a extinção do estressor é esperada, mas o esforço em reduzir o caráter inadaptativo da situação é o que ressalta a ação 
O enfrentamento do estresse é dividido em duas principais dimensões: o foco no problema e o foco na emoção. O primeiro se refere aos esforços empreendidos na busca por manejar ou solucionar a situação eliciadora do estresse, o que envolve, por exemplo, a busca por informações e a resolução de conflitos. O segundo focaliza na regulação das emoções derivadas da avaliação do estressor, objetivando administrar a repercussão afetiva ocasionada pelo estímulo, como por exemplo, evitar confrontar-se com o estressor, distanciamento afetivo, atenção seletiva, atribuição de afetos positivos a contextos percebidos como negativos, dentre outros.
Em duas décadas de estudo do estresse foram documentados doze tipos de enfrentamento, dentre esses, dois ganharam destaque ultimamente: o enfrentamento religioso, que é entendido como o nível em que a religiosidade está envolvida no processo de manejo do estresse e o suporte social, entendido como relações de apoio e/ou suporte percebido pelo indivíduo.
Diante do exposto, entende-se que as estratégias de enfrentamento exibem significativo lastro de evidências de impacto sobre o estresse, justificando sua inclusão como um possível mediador do processo saúde-doença. Assim, considera-se o enfrentamento como um campo promissor para o seguimento das investigações a respeito do estresse,  especialmente em âmbito nacional, pois ainda é necessário compreender melhor como esse mecanismo adaptativo impacta sobre a variabilidade do fenômeno, seja isoladamente ou em conjunto com outros recursos disponíveis.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Características epidemiológicas da mortalidade de pacientes de 0 a 18 anos em um hospital de urgência

Santos, B. R., Alves, A. T. L. S., & Faro, A. (2017). Características epidemiológicas da mortalidade de pacientes de 0 a 18 anos em um hospital de urgência. Journal of Health & Biological Sciences, 6(1), 28-34. doi: http://dx.doi.org/10.12662/2317-3076jhbs.v6i1.1410.p28-34.2018

Resenhado por Lizandra Soares

O perfil da mortalidade do público infanto-juvenil está se modificando a nível epidemiológico nas últimas décadas. A prematuridade, pneumonia e complicações durante o parto são apontadas como as principais causas da mortalidade infantil. No Brasil, o quadro é semelhante, agravado pelo fato de que muitas dessas complicações poderiam ser evitadas, tais como doenças transmissíveis, afecção materna e desnutrição. Entre o público adolescente com faixa etária de 10 a 19 anos, as maiores causas de óbito dizem respeito à condições externas, como acidentes no trânsito. Uma boa fonte de dados sobre a mortalidade é a ficha da Organização de Procura de Órgãos, apesar desta não ser comumente acessada para essa finalidade.
O objetivo da presente pesquisa foi caracterizar a mortalidade infanto-juvenil no Hospital de Urgência em Sergipe (HUSE) entre 2013 e 2014. Foram pesquisadas informações relacionadas aos óbitos no banco de dados da Organização de Procura de Órgãos e Tecidos da instituição, onde foram extraídos os dados descritivos da amostra (sexo, idade, ano do óbito e causa). Obteve-se como resultado 440 óbitos, sendo que 58,9% (n = 259) eram do sexo masculino. Além disso, constatou-se que as doenças infecciosas eram a principal causa de morte imediata. Os dados foram organizados a partir da faixa etária (entre 0 e 18 anos), sexo (masculino e feminino) e causa da morte. No que se refere a causa da morte, esta foi listada de acordo com a Classificação Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde (CID-10). Observou-se que houve mais óbitos em 2013 (51,8%; n = 228) comparativamente a 2014 (48,2%; n = 212).
No que diz respeito à faixa etária, o maior número de óbitos se concentrou em crianças entre 0 e 3 anos de idade, correspondendo a 50,9% (n = 224) dos dados encontrados. Desses, 44,8% (n = 116) eram do sexo masculino. Com relação a causa básica da morte, observou-se predominância de causas externas (24,0%; n = 97) e doenças do aparelho respiratório (21,7%; n = 88).  As doenças infecciosas foram registradas como a causa imediata mais frequente de óbito na população pesquisada, seguida de causas externas, neoplasias e doenças do aparelho respiratório.
          Como limitações do estudo, os autores apontaram a falta de dados sobre procedimentos invasivos e tempo de permanência no hospital, o que dificultou a compreensão mais detalhada a respeito da infecção ser a causa imediata mais frequente de óbito. Outro ponto é a necessidade de aperfeiçoamento do registro e gestão do sistema de mortalidade. Por fim, detectou-se que a infecção foi a causa mais frequente de morte de indivíduos entre 0 a 18 anos assistidos pelo HUSE no período de 2013 e 2014. Pesquisas como essa são importantes por possibilitar o entendimento do obituário do público infanto-juvenil no estado de Sergipe, o que permite a reflexão a respeito das principais causas e de formas de atuação da psicologia da saúde nesse cenário. 

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Prevalência de episódios ansiosos e depressivos em hospital geral

Macellaro, M., Queiroz, V., Pagnin, D., Tedeschi, L. T., Morais, R. Q., Silva, M. M., ... & Rodrigues, L. R. (2018). Prevalência de episódios ansiosos e depressivos em hospital geral. Diversitates International Journal10(1), 59-69.


Resenhado por Sara Andrade

Os sintomas depressivos e ansiosos são verificados em alta prevalência nos contextos de hospital geral, ainda que pouco identificados ou diagnosticados corretamente. Eles são percebidos como agravantes na morbidade e mortalidade de pacientes em diversas condições físicas. No hospital geral, a prevalência desses sintomas gira em torno de 20% e 34%. Apesar de recorrentes não são devidamente diagnosticados por vários fatores, dentre eles a intensidade dos sintomas e o fato de se associarem a outras comorbidades.
O presente estudo buscou verificar a prevalência dos sintomas depressivos e ansiosos em uma enfermaria de um hospital geral. Participaram da pesquisa 115 pacientes recém-internados, que possuíam idade igual ou superior a 18 anos. Fez-se uso do Mini - International Neuropsychiatric Interview e de um questionário sociodemográfico, contendo variáveis como sexo, idade, ocupação, escolaridade e renda salarial.
Os resultados apontaram que 35% (n = 40) dos participantes apresentaram transtornos de humor ou ansiedade, sendo que mulheres eram mais afetadas (22,80%) do que os homens (12,28%). Dentre os que relataram sintomas, 26,31% (n = 30) apresentaram sintomas ansiosos, 21,05% (n = 24) sintomas depressivos e 12,17% (n = 14) episódios de ambos. Verificou-se que a média de idade para esses sintomas foi de 53,10 anos. Esses são achados consonantes com a literatura existente sobre o tema.
Outro dado verificado se refere a maior frequência dos sintomas depressivos e ansiosos em pacientes com doenças hepáticas e endócrinas, sendo de 64% e 62% respectivamente. Cabe ressaltar a falta de acurácia no diagnóstico, o que pode ocorrer devido ao relato dos sintomas ser feito apenas durante as consultas médicas ou até a confusão destes com sintomas puramente orgânicos.
Com este estudo, percebeu-se a necessidade de verificação do quão frequentes e subdiagnosticados são os quadros depressivos e ansiosos em pacientes de hospital geral. A prevalência variou tanto por sexo e idade, como em relação à patologia. Sendo assim, o trabalho da Psicologia da Saúde é o de aprimorar o diagnóstico e se possível tornar rotineiro o uso de instrumentos de rastreamento, a fim de prevenir e/ou tratar, promovendo a qualidade de vida e a integralidade do tratamento.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Satisfação de usuários com o atendimento hospitalar em Aracaju/SE

Ricardo, M. de Brito, A. & Faro, A. (2016). Satisfação de usuários com o atendimento hospitalar em Aracaju/SE. Clínica & Cultura. 5(1), 44-52.

Resenhado por Renata Fontes

O Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), lançado em 2014 pelo Ministério da Saúde, considera como hospital humanizado aquele em que sua estrutura física, humana e administrativa preconiza a valorização do paciente, garantindo-lhe um atendimento de elevada qualidade.  A humanização presente na Constituição Federal Brasileira garante a todos o acesso à assistência à saúde de forma resolutiva, integral e igualitária.
A percepção dos pacientes sobre os serviços é um dos elementos para a avaliação da qualidade em saúde, entendida como medida subjetiva, porém mensurável, a partir do fornecimento das expectativas dos usuários e suas percepções sobre o atendimento. A literatura tem apontado que usuários que demonstram maior satisfação tendem a continuar utilizando os serviços de saúde e recomendá-los (Ricardo, Brito, & Faro, 2016).
O presente estudo objetivou avaliar, sob a percepção dos usuários, a qualidade da estrutura e do atendimento dos serviços do Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE), validando-se a Escala de Satisfação do Usuário de Serviços Hospitalares (ESUSH). A pesquisa contou com a participação de 182 usuários do HUSE. Os instrumentos utilizados incluíram o Questionário de Satisfação do Usuário, baseado no instrumento utilizado por Seleghim, Teixeira, Matsuda e Inoue (2010), um questionário socioeconômico e clínico. A análise dos dados foi feita através do programa SPSS (v. 20), por meio do qual foi possível obter frequências absoluta e percentual, médias e desvio padrão.
A amostra foi constituída em sua maioria pelo sexo masculino (n = 109; 59,9%), com idade mediana de 34,5 anos (DP = 18,18; Mínimo = 14 e Máximo = 81). Com relação à escolaridade, 44,0% (n = 80) tinham ensino fundamental. Os resultados demonstraram que 32,5% (n = 64) dos usuários estavam altamente satisfeitos com o atendimento oferecido pelo HUSE, enquanto que 32,4% (n = 59) estavam com satisfação média e baixa. Sobre a satisfação com a estrutura, atendimento e limpeza, 40,7% (n = 74) relatou baixa satisfação. O fator relacionado ao atendimento médico apresentou maior satisfação por parte dos usuários, pontuando 51,1% (n = 93).
Estudar a satisfação dos usuários com os serviços de saúde permite pensar estratégias para melhoria dos atendimentos, bem como promover benefícios nas intervenções e tratamentos dos usuários. De qualquer modo, ainda é preciso o desenvolvimento de medidas objetivas e fáceis de replicação para o acompanhamento longitudinal das experiências e percepções dos pacientes nos hospitais. 

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Suporte social e estresse: Uma revisão da literatura


Aragão, E. I. S., Vieira, S. S., Alves, M. G. G., & Santos, A. F. (2009). Suporte social e estresse: uma revisão da literatura. Psicologia em foco2(1), 79-90.

Resenhado por Mariana Menezes

O artigo em questão consiste em uma revisão de literatura que teve como objetivo investigar acerca de como o suporte social tem sido descrito e sobre como se relaciona com o estresse.
De acordo com Selye, o estresse trata-se de um conjunto de reações do organismo diante de situações de emergência e/ou perigo capazes de causar danos e perturbar a homeostase. A reação a esse fenômeno envolve a união e atuação do cérebro, glândulas, hormônios, sistema imunológico, coração, sangue e pulmões, preparando o organismo para lutar ou fugir diante de ameaças. Durante essa reação, conhecida como reação de luta ou fuga, o sistema nervoso simpático libera substâncias que determinam reações orgânicas adaptativas em situações extremas tais como estressores físicos, químicos ou mesmo fortes emoções.
Assim, o estresse é importante para a adaptação, pois ajuda a reagir diante de uma emergência e a lidar com mudanças. No entanto, quando os recursos adaptativos do ser humano são excedidos gerando sobrecarga e quando a reação ao estresse se torna crônica, o estresse pode enfraquecer o organismo e favorecer o adoecimento.
No que diz respeito aos impactos na saúde, o estresse pode tornar o organismo vulnerável à diversos problemas como disfunções fisiológicas, irritabilidade excessiva, depressão, baixa autoestima, alterações no colesterol, doenças cardiovasculares, entre outros. Porém, os prejuízos à saúde causados pelo estresse dependem da habilidade que cada indivíduo possui para manejar situações novas ou adversas.
Para lidar com as situações estressoras, as pessoas desenvolvem ao longo da vida estratégias de enfrentamento. A capacidade de enfrentamento das pessoas também é conhecida como coping e diz respeito a um conjunto de estratégias cognitivas ou comportamentais utilizadas para se adaptar às circunstâncias adversas ou estressantes.
O suporte social tem sido apontado como importante no enfrentamento ao estresse e relacionado com bons níveis de saúde, com a diminuição de diversas doenças e com o aumento do bem-estar. Para Antunes e Fontaine (2005), o suporte social refere-se ao apoio emocional ou prático fornecido pela família e/ou amigos na forma de afeto, companhia, assistência e informação, ou seja, tudo que faz o indivíduo sentir-se amado, estimado, cuidado, valorizado e seguro.
Em suma, o estresse pode interferir no estado de saúde das pessoas ocasionando doenças quando desadaptativo e o suporte social, por sua vez, pode atuar como mediador do estresse reduzindo o risco de doenças induzidas por ele. Desta forma, tanto o estresse quanto o suporte social são fenômenos essenciais para a Psicologia da Saúde, uma vez que interferem diretamente na redução e/ou na promoção da saúde.


segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Motivações, dificuldades e expectativas acerca da Adoção: Perspectivas de futuros pais adotivos

Araujo, A. I. D. S. F., & Faro, A. (2017). Motivações, dificuldades e expectativas acerca da adoção: Perspectivas de futuros pais adotivos. Psicologia em Revista23(3), 790-810.

Resenhado por Maísa Carvalho

O exercício da parentalidade, seja de forma solitária ou conjunta, representa para muitos uma das maiores realizações pessoais. Em casos onde não é possível conceber um filho pela via biológica, tem-se a adoção como uma alternativa a ser considerada. Todavia, sabe-se que além da lentidão do processo, os postulantes se deparam com uma série de questões culturais e idiossincrásicas que podem facilitar ou causar entraves a esse desejo.
O presente trabalho buscou apreender as motivações, dificuldades e expectativas de futuros pais relacionadas à adoção. A pesquisa contou com a participação de 13 pretendentes cadastrados na Vara da Infância e da Juventude da comarca de Aracaju/SE, os quais deveriam obedecer ao único critério de seleção imposto: adotar pela primeira vez. A coleta de dados se deu através de entrevistas abertas que se ancoravam em 4 eixos temáticos: motivações quanto ao processo de adoção; preferências quanto às características da criança a ser adotada; expectativas concernentes à adoção e receios em torno da adoção.
No que se refere ao perfil dos entrevistados, foram 85% (n = 11) do sexo feminino, 70% (n = 9) casados, 15% (n = 2) divorciados e 15% (n = 2) solteiros. Quanto às características da criança, 53,8% (n = 7) participantes apontaram não ter preferência e 46,2% (n = 6) preferiam meninas. Para a idade, 15% (n = 2) desejavam com até 04 anos de idade e um dos candidatos (15%) optou por adotar uma criança com até 06 meses. Com relação a cor da pele, 8 preferiam cor branca ou parda, 2 optaram pela cor preta e 3 foram indiferentes.
A análise dos dados foi feita através do IRAMUTEQ, software que realiza análises léxicas através de um corpus textual. Dentre as análises disponíveis, os autores optaram pela Classificação Hierárquica Descendente (CHD), a qual gerou 4 classes, a saber:
Classe 1 - O desejo pela adoção (36,4%): Nesta classe surgiram questões abrangentes sobre o desejo de ser pai/mãe, a infertilidade/esterilidade como aspecto propulsor à ideia de adotar, o desejo de dar uma família a uma criança e de ter um filho pela adoção. 
Classe 2 - Dificuldades, receios e mitos frente à adoção (34,5%): Diz respeito às dificuldades com os futuros filhos, além dos mitos e receios que circundam a temática da adoção. É importante pontuar que a maioria dos participantes não mencionaram dificuldades quanto à chegada do filho desejado, demonstrando certa idealização de relação entre pais e filhos. O receio quanto à adoção tardia e a história pregressa da criança também foram abordados.
Classe 3 - Expectativas em torno da adoção (29,1%): Os conteúdos que emergiram nesta classe se referem às expectativas que os pretendentes possuem em torno da adoção, bem como a ansiedade diante da lentidão do processo e a relevância do acompanhamento profissional (em especial, com psicoterapeutas) para o amadurecimento pessoal. A participação em grupos de apoio foi um aspecto mencionado por alguns adotantes e uma sugestão reiterada pelos autores.
Na adoção, a concepção se inicia desde o preenchimento do perfil pretendido e a vinda da criança, assim como o nascimento, costuma ser muito esperada e repleta de sensações diversas. Sendo assim, o acompanhamento psicológico se faz necessário, posto que o bom ajustamento psíquico prepara os pais para o amadurecimento da decisão de adotar, bem como para auxiliá-los a exercitar estratégias de enfrentamento para lidar com as dificuldades que possam surgir.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Levantamento e principais achados de estudos nacionais sobre a depressão-uma revisão sistemática de literatura

Almeida, L. G. R., & Faro, A. (2016). Levantamento e principais achados de estudos nacionais sobre a depressão: Uma revisão sistemática de literatura. RevIPI, 2, 1-16.

Resenhado por Lizandra Soares

A depressão é entendida como uma doença que se apresenta por meio de sintomas físicos e psicológicos, os quais podem resultar em incapacitação e suicídio. Os principais sintomas associados a esse quadro são o  rebaixamento do humor e a perda de prazer por atividades, antes prazerosas. Tal sintomatologia deve estar presente diariamente por pelo menos um período de 02 semanas, acrescido dos sintomas: apatia, falta de confiança, visões negativas de si e dos outros, alterações no apetite ou peso, sono e atividade psicomotora, fadiga, sentimentos de desvalia ou culpa, energia reduzida, irritabilidade, dificuldade para pensar, concentrar-se ou tomar decisões, perturbação da memória e dificuldade na aprendizagem; isolamento social; pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio (Almeida & Faro, 2016).
O presente estudo teve como objetivo realizar o levantamento das produções nacionais a respeito da temática depressão em dois bancos de dados (PePSIC e SciELO) no período de 2012 a 2014. Para tanto, foi utilizado o método de revisão de literatura mediante pesquisa bibliográfica.  Inicialmente, foram considerados todos os artigos encontrados nas bases de dados citadas. Em seguida, excluiu-se os artigos repetidos, incompletos, resenhas, cartas e comentários de publicações, artigos teóricos, artigos de revisão e produções não realizadas no Brasil. O próximo passo foi a leitura dos resumos do material restante, a fim de verificar se estes se enquadravam na temática (estudos sobre depressão). Foram encontrados 30 artigos na base de dados PePSIC e 111 na SciELO, totalizando 141 trabalhos. Após a filtragem pelos critérios de exclusão estabelecidos, resultaram 23 artigos do PePSIC e 84 do SciELO. Destes, 40 artigos (37,4%) foram publicados em 2012, 41 (38,3%) em 2013 e 26 (24,3%) em 2014.
Por meio da análise bibliométrica foi possível observar que, levando em consideração onde a amostra foi coletada, as publicações se concentraram nas regiões Sudeste (51,9%) e Sul (28,3%). As áreas que mais publicaram a respeito da temática foram a Medicina e a Psicologia. No que diz respeito ao objetivo, foram identificados 4 eixos nos quais os objetivos dos estudos analisados poderiam se encaixar: (1) prevalência, incidência ou ocorrência dos transtornos depressivos; (2) fenômenos e quadros clínicos; (3) perfis sociodemográficos e clínicos (4) medidas dos transtornos depressivos. A faixa etária das amostras em questão variou de 09 a 98 anos, sendo a maior parte com adultos (69,3%), seguido de idosos (40,6%) e crianças ou adolescentes (12,9%). Por fim, os instrumentos mais utilizados para mensurar a depressão nos artigos estudados foram o BDI, (34,5%; n = 48), a EDG, (7,9%; n =11), a HADS (7,2%; n = 10) e a SCID, (7,2%; n = 10).
O estudo dessa temática se faz necessário na Psicologia da Saúde em função dos altos índices de casos de depressão diagnosticados, além da alta probabilidade de se tornar uma doença incapacitante e de oferecer risco a vida (suicídio). Por essa razão, pesquisas sobre depressão são importantes para a compreensão do fenômeno e, a partir disso, criação de medidas de tratamento e profilaxia mais eficazes junto à população em geral.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Avaliação Psicológica no Brasil

Noronha, A. P., & Reppold, C. T. (2010). Considerações sobre a Avaliação Psicológica no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão30(spe), 192-201doi: 10.1590/S1414-98932010000500009.

Resenhado por Laís Santos

Avaliação psicológica envolve um processo amplo de coleta de informações, interpretação de dados, testagem de hipóteses clínicas e elaboração de diagnósticos, os quais são realizados através do uso de instrumentos psicológicos com o objetivo de descrever e fazer predições sobre o comportamento, desempenho e funcionamento de indivíduos e/ou grupos. Inicialmente, seu surgimento esteve associado ao da Psicologia. No Brasil, a partir da segunda metade da década de 1990, movimentos realizados por pesquisadores e profissionais da área foram decisivos para a consolidação e aprimoramento da avaliação psicológica. Como exemplo, pesquisadores, por intermédio do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP) ajudaram o Conselho Federal de Psicologia a implantar em 2003 o Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (SATEPSI).
Com a criação desse sistema, passou-se a avaliar os testes psicológicos disponíveis para uso profissional, classificando-os como aptos ou inaptos. Todavia, muito além de um parecer favorável ou não, com o SATEPSI passaram a elaborar critérios de avaliação baseados em parâmetros internacionais com a finalidade de aferir a adequação de tais instrumentos para uso profissional, visto que grande parte dos processos direcionados à área se relacionavam ao mau uso de instrumentos psicológicos – como, por exemplo, a elaboração de laudos. Outros marcos significativos para a consolidação da área foram a criação da Revista Brasileira de Avaliação Psicológica em 2002 e a de dois institutos (a Associação Brasileira de Rorschach e outros métodos projetivos em 1993 e a IBAP em 1997) com o objetivo de desenvolver e promover a avaliação psicológica no país.
Sabe-se que a avaliação psicológica surgiu precocemente associada às demandas sociais da época mesmo antes da regulamentação da Psicologia enquanto profissão no Brasil, o que veio a acontecer somente a partir da lei 4119 de 1962. No entanto, apesar dos constantes avanços, a avaliação psicológica no Brasil ainda está distante do padrão de excelência das grandes potências mundiais na área. Muito dessa defasagem se deve as carências profundas na formação acadêmica dos estudantes e profissionais de psicologia.
Em 2004, com as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia, deixou-se de ser exigido um currículo mínimo, passando então as instituições a terem maior liberdade de adequar as grades de conteúdo. Como consequência, houve uma diminuição da carga horária e quantidade de disciplinas voltadas para a avaliação psicológica. Ainda, em muitas universidades as disciplinas de avaliação carecem da associação entre teoria, prática e reflexão crítica a respeito da escolha dos instrumentos mais adequados, por exemplo. Muito mais do que simplesmente ensinar princípios básicos de aplicação, correção e interpretação dos resultados, o estudante e especialmente o profissional de Psicologia devem refletir acerca do uso correto e responsável de instrumentos psicológicos, bem como sobre a devolutiva dos resultados e elaboração de laudos técnicos, uma vez que tal prática tem papel decisivo na vida dos indivíduos e grupos, por exemplo, em contextos de avaliação profissional. Assim, independente da afinidade teórica que o profissional de psicologia utilize como parâmetro de atuação profissional, fazem-se necessários avanços teóricos, práticos e principalmente críticos quanto à avaliação psicológica, uma vez que esta é pré-requisito imprescindível para qualquer ação de intervenção e diagnostico situacional.