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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Religiosidade e qualidade de vida relacionada à saúde dos idosos em um município na Bahia, Brasil


Santos, N. C., & Abdala, G. A. (2014). Religiosidade e qualidade de vida relacionada à saúde dos idosos em um município na Bahia, Brasil. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia17(4), 795-805.

Resenhado por Maísa Carvalho

Sabe-se que a religiosidade é tida como um elemento deveras significativo para muitos idosos, tanto em termos existenciais quanto em termos de saúde e qualidade de vida, visto que é utilizada como uma importante estratégia de enfrentamento para muitas situações. Em sua definição, entende-se por religiosidade como comportamentos, atitudes, valores, crenças, sentimentos e experiências favorecidas por um contexto religioso, podendo ser dividida em três dimensões: religiosidade organizacional (RO), que consiste em comportamentos religiosos que ocorrem dentro de uma instituição; religiosidade não organizacional (RNO), relacionada a comportamentos privados ou informais que ocorrem fora de uma instituição; e religiosidade intrínseca (RI), que é a percepção individual a respeito da religiosidade e de como ela se manifesta na vida do sujeito.
Ao compreender que indivíduos adeptos de alguma religião possuem menor probabilidade de riscos comportamentais, o presente estudo buscou avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde de idosos e sua relação com as três dimensões de religiosidade mencionada.  O estudo foi realizado no bairro Capoeiruçu, situado no município de Cachoeira-Bahia, e contou com uma amostra aleatória de 82 idosos cadastrados na Estratégia de Saúde da Família da comunidade mencionada, em sua maioria do sexo feminino (61%) e com média de 71 anos de idade. Foram utilizados como instrumentos o Índice de Religiosidade de Duke e o Short Form-36 (SF-36). Os dados foram tratados e analisados pelo programa de pacotes estatísticos SPSS (versão 17).
No que se refere aos resultados das três dimensões do Índice de Religiosidade de Duke, 37% dos idosos frequentam a igreja, templo ou encontro religioso mais de uma vez na semana [dimensão RO], 43% dedicam seu tempo a realizar atividades individuais (preces, rezas, meditações, etc) mais de uma vez ao dia [dimensão RNO] e 67% dizem ser totalmente verdade de que sentem a presença de Deus ou do Espírito Santo em suas vidas, 52,4% afirmam que é totalmente verdade que suas crenças religiosas estão por trás da maneira de viver e 48,8% também afirmam que é totalmente verdade que se esforçam muito para viver a religião em todos os aspectos da vida [dimensão RI].
Quanto ao SF-36, os participantes obtiveram escore maior que 50 em todas as 8 dimensões da escala, a saber: capacidade funcional (81,7%), aspectos físicos (61,4%), dor (70,7%), saúde geral (74,5%), vitalidade (74,7%), aspectos sociais (75,9%), aspectos emocionais (83,1%) e saúde mental (83,8%). Na associação entre os dois instrumentos utilizando o teste do qui-quadrado, se constatou que “limitações por aspectos emocionais” foi a dimensão que esteve mais associada com à RO (X² = 11,534; p = 0,001), RNO (X² = 7,949; p = 0,005) e RI (X² = 5,126; p = 0,005). Também foi encontrada uma associação positiva sobre as dimensões “limitações por aspectos físicos”, “dor”, “saúde geral”, “aspectos sociais” e “saúde mental”.
Os resultados encontrados evidenciaram que os idosos estudados tem a religiosidade como um elemento importante em suas vidas, bem como possuem um elevado índice de qualidade de vida. Além disso, foi encontrada uma associação positiva entre os dois construtos, demonstrando que a presença da religiosidade pode contribuir para uma melhor qualidade de vida. Sendo assim, compreende-se a importância da realização de novos estudos sobre essas duas temáticas na área da Psicologia da Saúde, visto que as práticas religiosas podem servir como bons elementos terapêuticos para esse e outros grupos. 


sábado, 22 de dezembro de 2018

Avaliação psicológica no Brasil: Avanços e desafios


Chiodi, M. G., & Wechsler, S. M. (2008). Avaliação Psicológica: Contribuições brasileiras. Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXVIII, 2(8), 197-210.

Resenhado por Laís Santos


A avaliação psicológica é um processo amplo e complexo que visa a testagem de hipóteses ou mesmo o diagnóstico de indivíduos e/ou grupos. Por exemplo, o psicólogo pode avaliar a competência de candidatos frente à realização de determinada tarefa ou função diante de um processo seletivo em uma empresa. Um dos grandes desafios da avaliação psicológica se associa aos embates em torno do uso de testes psicológicos no que diz respeito à utilização de medidas válidas e confiáveis. Durante muitos anos diversos profissionais utilizaram instrumentos sem evidências consistentes de suas qualidades psicométricas, principalmente no que se refere ao uso de instrumentos internacionais não adaptados para a realidade nacional, o que acarretou em certa medida no surgimento de impressões negativas quanto à veracidade dos resultados obtidos através de tais medidas.
A validade é condição essencial de todo teste psicológico, uma vez que, na psicologia trabalha-se com a ideia de traço latente e a representação do mesmo, por meio dos itens e fatores que traduzem o construto psicológico em questão. Nesse sentido, um teste é válido quando realmente ele mede o que se propõe medir. Por outro lado, a precisão, confiabilidade ou fidedignidade das medidas psicológicas também é considerada outro aspecto essencial dos testes, e se associa aos critérios psicométricos do instrumento. Entende-se por precisão a capacidade do teste medir o que se propõe com o máximo de objetividade possível e menor chance de erro estatístico. Na prática, se um teste é preciso, significa dizer que um mesmo teste psicológico exibirá resultados iguais ao ser utilizado por uma mesma pessoa em ocasiões diferentes, por exemplo, no começo e no final de uma sessão terapêutica.
Atualmente pesquisadores da área têm se esforçado para construir medidas que atendam aos parâmetros necessários para sua utilização. Outra ação importante corresponde à criação de Laboratórios e grupos de pesquisa, bem como, a própria criação em 1997 do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP) e da Revista Brasileira de Avaliação Psicológica, em 2002. Por fim, vale salientar que apesar dos avanços evidentes, como por exemplo, o crescimento do número de publicações na área, e especificamente de estudos que avaliam evidências de validade de instrumentos, há muito a se fazer. Contudo, independente da situação da avaliação psicológica no Brasil, é de suma importância enfatizar que é dever não apenas de professores, pesquisadores e todo o meio acadêmico, mas também dos profissionais da psicologia como um todo primar pela qualidade das medidas usadas, visto que o uso de testes psicológicos é prática exclusiva do psicólogo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Psychoneuroimmunological Processes in Aging and Health / Processos Psiconeuroimunológicos no Envelhecimento e na Saúde


Gruenewald, T.L.; Kemeny; M. E. Psychoneuroimmunological Processes in Aging and Health (2007). IN: Aldwin. C. M., Park, C. L.; Spiro, A. (Orgs.). Handbook of health psychology and aging. The Guilford Press: New York, NY.

Resenhado por Danielle Alves

Atualmente se tem estudado cada vez mais a relação entre fatores psicológicos e biológicos no envelhecimento. Pesquisas têm demonstrado que variáveis de ordem social, psicológica e comportamental podem modular processos imunológicos, neurais e endócrinos, agindo como mediadores primários nos desfechos clínicos em idosos, o que ressalta a importância de estudos mais robustos e a inclusão da idade como variável moderadora das associações com o objetivo de melhor caracterizá-las.
Dentre os achados encontrados, já se sabe que mudanças na regulação biológica podem elevar o risco para doenças e incapacidade. Tais mudanças demandariam adaptações constantes às novas situações, o que revela a importância de maior conhecimento acerca dos estressores psicossociais e fisiológicos. Alterações dos sistemas neuroendócrinos e imunológicos se mostram associadas a importantes variáveis psicológicas, tais como isolamento social, percepção de domínio, apoio social, otimismo, auto eficácia, estresse do cuidador, humor depressivo e ansioso. Evidências revelaram a capacidade preditiva delas para incapacidade, mortalidade e doença.
Com relação ao sistema neuroendócrino, destacaram-se mudanças nos níveis e na atividade hormonal, principalmente aquelas relacionadas ao eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, impactando na regulação do sono e na quantidade de cortisol no organismo. Alterações imunológicas referentes à disponibilidade de células T (células fundamentais para a eficiência das defesas ante a patogênicos) e células β (relacionadas a produção de anticorpos) elevaram processos inflamatórios, infecções fúngicas e bacterianas. Ambas modificações biológicas predispuseram a prejuízos físicos (doenças cardiovasculares, risco de quedas, mortalidade), declínios cognitivos (memória e habilidades intelectuais), e rebaixamento de condições psicológicas (em decorrência de estressores crônicos, tais como morte de amigos e familiares, depressão e ansiedade).
 Foram também efeitos da condição física o isolamento social e baixos níveis de integração social. Estudos destacaram que quanto maior os níveis de apoio social, melhores os indicadores referentes ao funcionamento cardiovascular, neuroendócrino e imunológico, além de diminuição do risco de declínio físico e cognitivo. Maiores índices de depressão relacionaram-se ao aumento de biomarcadores inflamatórios, doença cardíaca coronariana, câncer e mortalidade. Crenças de auto eficácia, controle e domínio pessoal predisseram menor probabilidade de declínios no funcionamento cognitivo.
Conforme as evidências reunidas, é inegável que a relação entre dinâmicas físicas e psicológicas tem se mostrado cada vez mais estreita nos estudos. A psicologia da saúde, como especialidade da psicologia que enfatiza essa relação, poderá futuramente contribuir significativamente para o esclarecimento das lacunas teórico-práticas que ainda se impõem nesse campo.





sábado, 15 de dezembro de 2018

Prevalência e fatores associados ao consumo de álcool e de tabaco em idosos não institucionalizados


Barbosa, M. B., Pereira, C. V., Cruz, D.T., & Leite, I. C. G. (2018). Prevalência e fatores associados ao consumo de álcool e de tabaco em idosos não institucionalizados. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia21(2), 123-133. doi: 10.1590/1981-22562018021.170185

Resenhado por Daiane Nunes

            Independentemente do padrão de consumo (quantidade e frequência), o uso de álcool e tabaco pode ser potencialmente nocivo à saúde dos idosos, produzindo impactos significativos em seu estado físico e mental, contribuindo também para o isolamento social e comprometimento do desempenho cognitivo. No Brasil, existem poucos dados sobre a prevalência do tabagismo e consumo de álcool entre idosos, de modo que, o presente estudo objetivou avaliar a prevalência e os fatores associados ao uso de tabaco e de álcool nessa população em Juiz de Fora-MG.
            As variáveis dependentes analisadas foram o consumo de álcool e/ou tabaco, enquanto que as independentes foram classificadas em três blocos: 1- Variáveis demográficas e socioeconômicas (sexo, idade, escolaridade, situação conjugal, etc.); 2- Variáveis referentes à saúde do idoso (morbidades autorreferidas, fragilidade, ansiedade e/ou depressão); e 3- Variáveis relacionadas ao serviço de saúde (uso do Sistema Único de Saúde, plano de saúde, satisfação com o serviço médico de saúde, etc.). A amostra foi constituída por 400 idosos, com média de idade de 73,8 anos (±8,0); em sua maioria  mulheres (64,5%), casados (55,8%), autodeclarados brancos (45,5%), com renda média bruta familiar mensal entre 1.147,00 e 1.685,00 reais (59,0%) e escolaridade de 4,2 anos (±3,4). Os instrumentos utilizados incluíram a Escala de Edmonton, a Patient Health Questionnaire (PHQ-4), o Teste de Fagerstrom e o Audit-C. Os dados foram submetidos à análise estatística descritiva e regressão multinomial.
            Quanto aos resultados, observou-se a presença de comorbidades em 89,0% dos idosos e 57,8% apresentaram algum nível de fragilidade. A prevalência de tabagismo foi de 9,0% e de ex-tabagista 32,0%, o consumo de álcool foi de 26,7% e o uso concomitante de álcool e tabaco de 3,2%. A análise multivariada por blocos apontou que, no bloco 1, a variável sexo apresentou significância estatística (p < 0,05) tanto para o consumo de álcool, quanto para o tabagismo, enquanto que a idade foi estatisticamente significativa apenas para o tabagismo; no bloco 2, as variáveis fragilidade e presença de comorbidade autorreferida foram estatisticamente significativas para o consumo de álcool e para o tabagismo, respectivamente; e no bloco 3, nenhuma variável apresentou significância estatística para os referidos desfechos. Os resultados da regressão logística multinominal apontaram que permaneceram no modelo final a variável sexo masculino para o consumo de álcool e para o tabagismo, idade e presença de comorbidades autorrelatadas para o tabagismo e para o consumo de álcool manteve-se a presença de fragilidade. Isto é, o perfil mais associado aos hábitos em questão foi o idoso masculino, mais jovem e frágil.
            Por fim, concluiu-se que, embora pouco estudado e diagnosticado, o consumo de álcool e tabaco é comum neste grupo etário e carece de mais atenção por parte dos pesquisadores e profissionais da saúde. Apontou-se, ainda, a necessidade de ações de saúde, de prevenção e intervenção integradas com os aspectos biopsicossociais, a fim de diminuir o consumo e prevenir seus malefícios à saúde.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Emotional Regulation Questionnaire (ERQ): Indicadores Psicométricos e Relações com Medidas Afetivas em Amostra Idosa


Batistoni, S. S. T., Ordonez, T. N., Silva, T. B. L., Nascimento, P. P. P., & Cachioni, M. (2013). Emotional Regulation Questionnaire (ERQ): Indicadores psicométricos e relações com medidas afetivas em amostra idosa. Psicologia: Reflexão e Crítica, 26, 10-18. doi: 10.1590/S0102-79722013000100002

Resenhado por Brenda Fernanda

Evidências têm apontado a relevância das emoções como recurso adaptativo frente às mudanças durante o envelhecimento. Em discussões da década de 90, altos índices de bem-estar na velhice soavam como um fenômeno paradoxal, visto que se trata de uma fase marcada por perdas e limitações. No entanto, estudos têm revelado o quanto idosos são mais propensos a relatar maior controle emocional do que os jovens, principalmente no que diz respeito à regulação da experiência interna de estados negativos, como a raiva, e da expressão externa de felicidade e tristeza. Nesse sentido, o presente estudo objetivou apresentar indicadores psicométricos de validade e fidedignidade (validade de construto, consistência interna e confiabilidade teste-reteste) da versão brasileira da escala de regulação emocional aplicada a idosos; e identificar relações entre as estratégias de regulação emocional (reavaliação cognitiva e supressão emocional) e medidas de experiência afetiva, satisfação com a vida e depressão entre idosos.
Participaram do estudo 153 idosos com idade igual e superior a 60 anos, inscritos no 1º semestre de 2010 na Universidade Aberta à Terceira Idade. Destes, 63 foram submetidos à retestagem. Utilizaram-se, como instrumentos, um questionário sociodemográfico, o Questionário de Regulação Emocional (QRE), a Escala de Afetos Positivos e Negativos (EAPN), a Escala para Medida da Satisfação Geral com a Vida e a Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15).
Quanto aos resultados, os testes de esfericidade de Bartlett e o de Kaiser-Meyer Olkin indicaram a possibilidade da realização de uma Análise Fatorial Exploratória (AFE). A QRE apresentou dois fatores (reavaliação cognitiva e supressão emocional) que, juntos, explicaram 50,1% da variância total e possuiu índices de consistência interna considerados moderados e índices de estabilidade temporal bons. Observou-se que a pontuação média da amostra no fator de reavaliação cognitiva foi maior do que a média em supressão emocional. Além disso, a frequência de afetos positivos foi superior à experiência de afetos negativos. No que concerne às relações entre Regulação Emocional, Afetos Positivos e Negativos, Satisfação com a Vida e Depressão, a reavaliação cognitiva associou-se positivamente com afetos positivos e satisfação com a vida e negativamente com afetos negativos. Afetos positivos associaram-se positivamente com satisfação com a vida e negativamente com depressão. Afetos negativos, por sua vez, associaram-se positivamente depressão e negativamente com satisfação com a vida e com os afetos positivos. Satisfação com a vida associou-se negativamente com depressão.
Conclui-se sobre a importância da validação de medidas para amostras brasileiras, bem como para contextos específicos, dando destaque ao grupo da terceira idade. Diante das evidências quanto ao funcionamento cognitivo e emocional diferenciado dos idosos em determinadas situações, é fundamental que se realizem estudos voltados para essa faixa etária, visando a proporcionar melhor entendimento e assistência à saúde destes.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Anxiety and depression symptoms and migraine: a symptom-based approach research / Sintomas de ansiedade e depressão e enxaqueca: uma pesquisa de abordagem baseada em sintomas


Peres, M., Mercante, J., Tobo, P., Kamei, H., Bigal. M. (2017). Anxiety and depression symptoms and migraine: A symptom-based approach research. The Journal of Headache and Pain, 18(37). doi 10.1186/s10194-017-0742-1


Resenhado por Ariana Moura

A enxaqueca é conhecida por ser um distúrbio multifatorial, com aspectos genéticos, hormonais, ambientais, dietéticos, do sono e psicológicos, desempenhando um papel diferente em cada indivíduo. Pesquisas antigas e recentes têm observado os transtornos de ansiedade e de humor como as comorbidades psiquiátricas mais relevantes associadas à enxaqueca, influenciando a prevalência da doença, o prognóstico, o tratamento e os desfechos clínicos. Estudos relataram que transtornos de humor e ansiedade são duas a dez vezes mais comuns em pacientes com enxaqueca do que na população geral. Além disso, eles estão relacionados, tanto no ambiente clínico quanto na população em geral, a pior qualidade de vida e aumento do risco de suicídio.
Transtornos de ansiedade e humor coexistem na população em geral e também em pacientes com dor de cabeça. A marca da ansiedade é a preocupação excessiva, enquanto na depressão falta de energia, motivação e tristeza prevalecem. Ambas as desordens exibem sintomas físicos significativos. Na ansiedade, irritabilidade, problemas de concentração e agitação são comuns, enquanto que na depressão, fadiga, distúrbios de sono e mudanças no apetite estão incluídos na definição diagnóstica.
Diante disso, o objetivo do estudo foi testar a hipótese de que a enxaqueca pode não estar igualmente relacionada à ansiedade e a depressão. De 967 participantes entrevistados, 782 completaram o questionário e 213 pacientes se encaixaram em critérios diagnósticos para enxaqueca.
Nos resultados, observou-se que a maioria dos itens de ansiedade e depressão foram significativamente relacionados à enxaqueca em comparação com os controles sem cefaleia. No entanto, ao comparar os sintomas de ansiedade e depressão e sua relação com a enxaqueca, a razão de chances é muito maior para os sintomas de ansiedade do que para os sintomas depressivos. Itens de ansiedade tiveram chances cada vez maiores, significando que quanto maior a pontuação, maior a chance de enxaqueca. Isso não foi visto para a maioria dos sintomas de depressão. 
Para os autores, a incapacidade de controlar a preocupação e não conseguir relaxar são os problemas mais proeminentes na comorbidade psiquiátrica da enxaqueca. A implicação de não controlar a ansiedade no dia a dia, bem como não relaxar facilmente, sentir-se ansioso e experimentar um excesso diário de preocupação devem ser levados em consideração no manejo da enxaqueca.
A detecção de sintomas de ansiedade e a implementação de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos poderiam melhorar o controle da dor de cabeça e a qualidade de vida dos pacientes. Psicoterapias, assim como técnicas de relaxamento físico e mental, podem ser úteis para estratégias terapêuticas de prevenção da enxaqueca.
Por fim, ressalta-se a relevância desta pesquisa dentro da Psicologia da Saúde por investigar a relação entre enxaqueca e transtornos mentais comuns, depressão e ansiedade, observando a influência destes no desfecho da doença, bem como a importância da psicoterapia no controle da dor.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Viuvez Feminina: A fala de um grupo de Idosas


Baldin, C., & Fortes, V. (2008). Viuvez feminina: A fala de um grupo de idosas. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, v.5, n.1, 43-54. doi:10.5335/rbceh.2012.257
                                                                           Resenhado por Uquênia Lemos

No Brasil, de acordo com os dados do IBGE, a população de pessoas com mais de 60 anos em 2000, correspondia a 14.536.029, sendo que deste total, as mulheres idosas representavam 8.002.245, o que denota um envelhecimento predominantemente do gênero feminino. Uma grande parte deste contingente feminino de idosas é formada por viúvas, isso devido ao fato das mulheres terem uma maior expectativa de vida e da tendência dos homens viúvos casarem novamente. A viuvez traz à mulher idosa inúmeras transformações nos aspectos físicos, psicológicos e sociais, representando um novo desafio em sua vida. Diante disso, o estudo objetivou conhecer as mudanças que mulheres idosas mais perceberam em seu cotidiano após a morte do cônjuge.
 Tratou-se de um estudo de caráter exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, realizado no município de Vacaria-Rio Grande do Sul. Contou-se com a participação de oito idosas com idade entre 60 e 78 anos, viúvas de primeira vez, excluindo-se aquelas com viuvez subsequentes ou que tiveram um segundo relacionamento. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas contendo questões norteadoras e sociodemográficas, com duração de quarenta minutos no máximo. Metade das entrevistadas morava sozinha e as demais com familiares. Quanto ao número de filhos, as idosas tinham entre um e cinco filhos; apenas uma não tinha filhos. Todas possuíam casa própria, eram aposentadas e pensionistas. O tempo de vida conjugal foi de 12 a 44 anos e a viuvez variou de 9 a 37 anos, sete enviuvaram na idade adulta, entre os 34 e os 56 anos, apenas uma enviuvou após os 60 anos, nenhuma delas teve um novo relacionamento após a viuvez.
Os dados coletados foram analisados por meio da análise de conteúdo e classificados por categorias: “repercussões da viuvez” incluindo o impacto da perda e a superação, “a participação da família após a perda do companheiro” e “as atividades em que a idosa viúva se envolve.” As idosas, ao rememorar o acontecimento da viuvez, independentemente da idade que ocorreu, relataram que vivenciaram adoecimentos físicos e emocionais, manifestados por: depressão, angústia e solidão, contudo referiram que a presença da família e mudanças de hábitos, tais como: envolvimento com atividades domésticas e sociais (trabalho voluntários e religiosos) contribuíram para ajudar a superar a perda e manter um envelhecimento saudável.
Por fim, apontou-se que a viuvez feminina é um acontecimento que pode desencadear danos psicológicos, sociais e físicos devido à perda do cônjuge com quem, geralmente, estiveram unidas durante um longo período de tempo. Ressalta-se a importância da Psicologia da saúde na promoção de pesquisas e estratégias de enfrentamento de suporte, proteção e prevenção junto a idosas viúvas.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Prevalência de transtornos mentais comuns e fatores associados entre idosos de um município do Brasil


Silva, P. A. dos S. da; Rocha, S. V.; Santos, L. B.; Santos, C. A. dos; Amorim, C. R.; & Vilela, A. B. A. (2018). Prevalência de transtornos mentais comuns e fatores associados entre idosos de um município do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva23(2), 639-646.

Resenhado por Michelle Leite

Os transtornos metais comuns (TMC) se caracterizam por um conjunto de sintomas como ansiedade, insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas, e são uma das morbidades psíquicas mais presentes. No Brasil, a prevalência entre os idosos varia entre 29,7% a 47,7%. Devido à alta prevalência e aos graves efeitos sobre o bem-estar pessoal, familiar, no trabalho e no uso de serviços de saúde, os TMC são considerados como um problema de saúde pública.
Em virtude da carência de pesquisas  populacionais acerca da saúde mental dos idosos, o presente estudo teve como objetivo estimar a prevalência e os fatores associados aos TMC entre idosos de um município do Brasil. O estudo teve um corte transversal e foi realizado com 310 idosos da cidade de Ibicuí (BA). Os critérios de inclusão estabelecidos foram: a idade (igual ou maior que 60 anos) e o local de moradia (Ibicuí-BA). Foram excluídos todos os indivíduos com diagnóstico de demência ou qualquer outro tipo de alteração cognitiva. Os instrumentos utilizados na coleta de dados foram o Instrumento de Avaliação da Saúde de Idosos (IASI), o Self Reporting Quetionnaire (SRQ-20) e um questionário sociodemográfico. Os dados foram analisados através do SPSS. Foram feitas análises descritivas e calculadas razões de prevalência e análise de regressão.
Os resultados indicaram que a prevalência geral de TMC foi de 55.8%. Os sintomas mais relevantes foram assustar-se com facilidade (57,4%) e sentir-se nervoso, tenso ou preocupado (54,5%). Identificou-se maior prevalência de TMC entre idosos do sexo feminino (66,9%), faixa etária maior ou igual a 80 anos (62%) e não alfabetizados (61%). A presença de TMC também foi mais acentuada em indivíduos que referiram maior tempo gasto sentado (62,6%), inativos no lazer (48,5%), que consumiam bebidas alcóolicas regularmente (61,5%) e que fumam atualmente (58,3%). Pessoas do sexo feminino e que referiram reumatismo apresentaram maiores prevalências de TMC.
O processo de envelhecimento está relacionado a diversos fatores como a elevada presença de comorbidades e incapacidades, condições precárias de vida, acúmulo de episódios de estresse durante a vida e isolamento social, que favorecem o desenvolvimento dos TMC. Nessa perspectiva, dados como estes encontrados no estudo, juntamente à atuação da psicologia da saúde, contribuem para construção do conhecimento para este grupo ainda pouco estudado e para as políticas públicas de atenção à saúde e qualidade de vida dos idosos, de modo a promover mais medidas de intervenção direcionadas.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Ageing and the prevalence and treatment of mental health problems / Envelhecimento e prevalência e tratamento de problemas de saúde mental


Jokela, M., Batty, G. D., & Kivimäki, M. (2013). Ageing and the prevalence and treatment of mental health problems. Psychological medicine43(10), 2037-2045.

Resenhado por Mariana Menezes

O envelhecimento é um fator importante no desenvolvimento de problemas de saúde mental e seus tratamentos. Ao longo da vida ocorrem mudanças na incidência e prevalência de Transtornos Mentais Comuns (TMCs). De acordo com algumas pesquisas, a saúde mental tende a melhorar na terceira idade, no entanto, outros estudos sugerem que a saúde mental fica mais prejudicada nessa fase da vida.
Segundo os autores, não é possível afirmar com certeza se a saúde mental tende a melhorar na terceira idade, pois a maioria das pesquisas que investigaram a saúde mental entre os idosos não pesquisaram aqueles com idade acima dos 70 anos e, desta forma, os dados disponíveis não permitem ter clareza sobre se o desenvolvimento positivo da saúde mental continua além da velhice precoce.
As poucas pesquisas que incluíram idosos com mais de 70 anos na amostra identificaram que o transtorno mental mais comum entre os idosos dessa faixa etária é a depressão. Quanto a assistência de saúde que é prestada aos idosos existe uma preocupação geral sobre se recebem os cuidados adequados, tendo em vista que é uma fase em que, dentre outras coisas, a saúde fica mais debilitada, os problemas de saúde aumentam, o organismo fica mais fragilizado e a resposta aos tratamentos é mais lenta.
Ainda que se saiba que existem diferenças entre as pessoas, inclusive na saúde mental, devido a idade e coorte de nascimento, ainda não se sabe muito sobre qual é o papel desses fatores no envelhecimento. Diante disso, a hipótese de pesquisa do artigo foi a seguinte: Os TMCs e a utilização do tratamento psicoterápico se tornam menos prevalentes com a idade e os TMCs podem ter se tornado mais prevalentes nos anos mais recentes e nas coortes mais jovens. Não houve hipóteses específicas sobre o período de tempo ou efeitos de coorte no tratamento psicoterápico.
A pesquisa foi realizada em diferentes países do Reino Unido. Tratou-se de uma investigação longitudinal com duração de 18 anos (de 1991 a 2009). Participaram da pesquisa 30.224 idosos com idade entre 15 e 100 anos. Os TMCs foram avaliados com o General Health Questionnaire (GHQ). Os participantes também foram solicitados a relatar se haviam ou não utilizado diferentes serviços de saúde desde um determinado mês do ano anterior. Um dos itens da lista era psicoterapia incluindo psiquiatria ou análise e a opção de resposta era dicotômica (sim ou não). Na análise dos dados foi realizada uma Regressão Logística.
Os resultados revelaram que houve menores taxas de TMCs e maior uso de psicoterapia entre indivíduos de 15 a 24 anos, prevalência levemente decrescente de TMCs com o tempo naqueles com idade entre 25 e 54 anos e decréscimo no uso de psicoterapia após os 55 anos. Além disso, os autores também identificaram aumento dos TMCs após os 75 anos e que os idosos com essa faixa etária foram os mais propensos a apresentar TMCs e os menos propensos a utilizar serviços de psicoterapia.
Desta forma, a pesquisa pode ser considerada uma contribuição para a área da Psicologia da Saúde ao passo que apresentou achados importantes para a compreensão do funcionamento mental de idosos, além de outras questões relacionadas à saúde mental dessa população que está crescendo rapidamente em várias regiões do mundo.