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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Religiosidade e qualidade de vida relacionada à saúde dos idosos em um município na Bahia, Brasil


Santos, N. C., & Abdala, G. A. (2014). Religiosidade e qualidade de vida relacionada à saúde dos idosos em um município na Bahia, Brasil. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia17(4), 795-805.

Resenhado por Maísa Carvalho

Sabe-se que a religiosidade é tida como um elemento deveras significativo para muitos idosos, tanto em termos existenciais quanto em termos de saúde e qualidade de vida, visto que é utilizada como uma importante estratégia de enfrentamento para muitas situações. Em sua definição, entende-se por religiosidade como comportamentos, atitudes, valores, crenças, sentimentos e experiências favorecidas por um contexto religioso, podendo ser dividida em três dimensões: religiosidade organizacional (RO), que consiste em comportamentos religiosos que ocorrem dentro de uma instituição; religiosidade não organizacional (RNO), relacionada a comportamentos privados ou informais que ocorrem fora de uma instituição; e religiosidade intrínseca (RI), que é a percepção individual a respeito da religiosidade e de como ela se manifesta na vida do sujeito.
Ao compreender que indivíduos adeptos de alguma religião possuem menor probabilidade de riscos comportamentais, o presente estudo buscou avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde de idosos e sua relação com as três dimensões de religiosidade mencionada.  O estudo foi realizado no bairro Capoeiruçu, situado no município de Cachoeira-Bahia, e contou com uma amostra aleatória de 82 idosos cadastrados na Estratégia de Saúde da Família da comunidade mencionada, em sua maioria do sexo feminino (61%) e com média de 71 anos de idade. Foram utilizados como instrumentos o Índice de Religiosidade de Duke e o Short Form-36 (SF-36). Os dados foram tratados e analisados pelo programa de pacotes estatísticos SPSS (versão 17).
No que se refere aos resultados das três dimensões do Índice de Religiosidade de Duke, 37% dos idosos frequentam a igreja, templo ou encontro religioso mais de uma vez na semana [dimensão RO], 43% dedicam seu tempo a realizar atividades individuais (preces, rezas, meditações, etc) mais de uma vez ao dia [dimensão RNO] e 67% dizem ser totalmente verdade de que sentem a presença de Deus ou do Espírito Santo em suas vidas, 52,4% afirmam que é totalmente verdade que suas crenças religiosas estão por trás da maneira de viver e 48,8% também afirmam que é totalmente verdade que se esforçam muito para viver a religião em todos os aspectos da vida [dimensão RI].
Quanto ao SF-36, os participantes obtiveram escore maior que 50 em todas as 8 dimensões da escala, a saber: capacidade funcional (81,7%), aspectos físicos (61,4%), dor (70,7%), saúde geral (74,5%), vitalidade (74,7%), aspectos sociais (75,9%), aspectos emocionais (83,1%) e saúde mental (83,8%). Na associação entre os dois instrumentos utilizando o teste do qui-quadrado, se constatou que “limitações por aspectos emocionais” foi a dimensão que esteve mais associada com à RO (X² = 11,534; p = 0,001), RNO (X² = 7,949; p = 0,005) e RI (X² = 5,126; p = 0,005). Também foi encontrada uma associação positiva sobre as dimensões “limitações por aspectos físicos”, “dor”, “saúde geral”, “aspectos sociais” e “saúde mental”.
Os resultados encontrados evidenciaram que os idosos estudados tem a religiosidade como um elemento importante em suas vidas, bem como possuem um elevado índice de qualidade de vida. Além disso, foi encontrada uma associação positiva entre os dois construtos, demonstrando que a presença da religiosidade pode contribuir para uma melhor qualidade de vida. Sendo assim, compreende-se a importância da realização de novos estudos sobre essas duas temáticas na área da Psicologia da Saúde, visto que as práticas religiosas podem servir como bons elementos terapêuticos para esse e outros grupos. 


sábado, 22 de dezembro de 2018

Avaliação psicológica no Brasil: Avanços e desafios


Chiodi, M. G., & Wechsler, S. M. (2008). Avaliação Psicológica: Contribuições brasileiras. Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXVIII, 2(8), 197-210.

Resenhado por Laís Santos


A avaliação psicológica é um processo amplo e complexo que visa a testagem de hipóteses ou mesmo o diagnóstico de indivíduos e/ou grupos. Por exemplo, o psicólogo pode avaliar a competência de candidatos frente à realização de determinada tarefa ou função diante de um processo seletivo em uma empresa. Um dos grandes desafios da avaliação psicológica se associa aos embates em torno do uso de testes psicológicos no que diz respeito à utilização de medidas válidas e confiáveis. Durante muitos anos diversos profissionais utilizaram instrumentos sem evidências consistentes de suas qualidades psicométricas, principalmente no que se refere ao uso de instrumentos internacionais não adaptados para a realidade nacional, o que acarretou em certa medida no surgimento de impressões negativas quanto à veracidade dos resultados obtidos através de tais medidas.
A validade é condição essencial de todo teste psicológico, uma vez que, na psicologia trabalha-se com a ideia de traço latente e a representação do mesmo, por meio dos itens e fatores que traduzem o construto psicológico em questão. Nesse sentido, um teste é válido quando realmente ele mede o que se propõe medir. Por outro lado, a precisão, confiabilidade ou fidedignidade das medidas psicológicas também é considerada outro aspecto essencial dos testes, e se associa aos critérios psicométricos do instrumento. Entende-se por precisão a capacidade do teste medir o que se propõe com o máximo de objetividade possível e menor chance de erro estatístico. Na prática, se um teste é preciso, significa dizer que um mesmo teste psicológico exibirá resultados iguais ao ser utilizado por uma mesma pessoa em ocasiões diferentes, por exemplo, no começo e no final de uma sessão terapêutica.
Atualmente pesquisadores da área têm se esforçado para construir medidas que atendam aos parâmetros necessários para sua utilização. Outra ação importante corresponde à criação de Laboratórios e grupos de pesquisa, bem como, a própria criação em 1997 do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP) e da Revista Brasileira de Avaliação Psicológica, em 2002. Por fim, vale salientar que apesar dos avanços evidentes, como por exemplo, o crescimento do número de publicações na área, e especificamente de estudos que avaliam evidências de validade de instrumentos, há muito a se fazer. Contudo, independente da situação da avaliação psicológica no Brasil, é de suma importância enfatizar que é dever não apenas de professores, pesquisadores e todo o meio acadêmico, mas também dos profissionais da psicologia como um todo primar pela qualidade das medidas usadas, visto que o uso de testes psicológicos é prática exclusiva do psicólogo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Psychoneuroimmunological Processes in Aging and Health / Processos Psiconeuroimunológicos no Envelhecimento e na Saúde


Gruenewald, T.L.; Kemeny; M. E. Psychoneuroimmunological Processes in Aging and Health (2007). IN: Aldwin. C. M., Park, C. L.; Spiro, A. (Orgs.). Handbook of health psychology and aging. The Guilford Press: New York, NY.

Resenhado por Danielle Alves

Atualmente se tem estudado cada vez mais a relação entre fatores psicológicos e biológicos no envelhecimento. Pesquisas têm demonstrado que variáveis de ordem social, psicológica e comportamental podem modular processos imunológicos, neurais e endócrinos, agindo como mediadores primários nos desfechos clínicos em idosos, o que ressalta a importância de estudos mais robustos e a inclusão da idade como variável moderadora das associações com o objetivo de melhor caracterizá-las.
Dentre os achados encontrados, já se sabe que mudanças na regulação biológica podem elevar o risco para doenças e incapacidade. Tais mudanças demandariam adaptações constantes às novas situações, o que revela a importância de maior conhecimento acerca dos estressores psicossociais e fisiológicos. Alterações dos sistemas neuroendócrinos e imunológicos se mostram associadas a importantes variáveis psicológicas, tais como isolamento social, percepção de domínio, apoio social, otimismo, auto eficácia, estresse do cuidador, humor depressivo e ansioso. Evidências revelaram a capacidade preditiva delas para incapacidade, mortalidade e doença.
Com relação ao sistema neuroendócrino, destacaram-se mudanças nos níveis e na atividade hormonal, principalmente aquelas relacionadas ao eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, impactando na regulação do sono e na quantidade de cortisol no organismo. Alterações imunológicas referentes à disponibilidade de células T (células fundamentais para a eficiência das defesas ante a patogênicos) e células β (relacionadas a produção de anticorpos) elevaram processos inflamatórios, infecções fúngicas e bacterianas. Ambas modificações biológicas predispuseram a prejuízos físicos (doenças cardiovasculares, risco de quedas, mortalidade), declínios cognitivos (memória e habilidades intelectuais), e rebaixamento de condições psicológicas (em decorrência de estressores crônicos, tais como morte de amigos e familiares, depressão e ansiedade).
 Foram também efeitos da condição física o isolamento social e baixos níveis de integração social. Estudos destacaram que quanto maior os níveis de apoio social, melhores os indicadores referentes ao funcionamento cardiovascular, neuroendócrino e imunológico, além de diminuição do risco de declínio físico e cognitivo. Maiores índices de depressão relacionaram-se ao aumento de biomarcadores inflamatórios, doença cardíaca coronariana, câncer e mortalidade. Crenças de auto eficácia, controle e domínio pessoal predisseram menor probabilidade de declínios no funcionamento cognitivo.
Conforme as evidências reunidas, é inegável que a relação entre dinâmicas físicas e psicológicas tem se mostrado cada vez mais estreita nos estudos. A psicologia da saúde, como especialidade da psicologia que enfatiza essa relação, poderá futuramente contribuir significativamente para o esclarecimento das lacunas teórico-práticas que ainda se impõem nesse campo.





sábado, 15 de dezembro de 2018

Prevalência e fatores associados ao consumo de álcool e de tabaco em idosos não institucionalizados


Barbosa, M. B., Pereira, C. V., Cruz, D.T., & Leite, I. C. G. (2018). Prevalência e fatores associados ao consumo de álcool e de tabaco em idosos não institucionalizados. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia21(2), 123-133. doi: 10.1590/1981-22562018021.170185

Resenhado por Daiane Nunes

            Independentemente do padrão de consumo (quantidade e frequência), o uso de álcool e tabaco pode ser potencialmente nocivo à saúde dos idosos, produzindo impactos significativos em seu estado físico e mental, contribuindo também para o isolamento social e comprometimento do desempenho cognitivo. No Brasil, existem poucos dados sobre a prevalência do tabagismo e consumo de álcool entre idosos, de modo que, o presente estudo objetivou avaliar a prevalência e os fatores associados ao uso de tabaco e de álcool nessa população em Juiz de Fora-MG.
            As variáveis dependentes analisadas foram o consumo de álcool e/ou tabaco, enquanto que as independentes foram classificadas em três blocos: 1- Variáveis demográficas e socioeconômicas (sexo, idade, escolaridade, situação conjugal, etc.); 2- Variáveis referentes à saúde do idoso (morbidades autorreferidas, fragilidade, ansiedade e/ou depressão); e 3- Variáveis relacionadas ao serviço de saúde (uso do Sistema Único de Saúde, plano de saúde, satisfação com o serviço médico de saúde, etc.). A amostra foi constituída por 400 idosos, com média de idade de 73,8 anos (±8,0); em sua maioria  mulheres (64,5%), casados (55,8%), autodeclarados brancos (45,5%), com renda média bruta familiar mensal entre 1.147,00 e 1.685,00 reais (59,0%) e escolaridade de 4,2 anos (±3,4). Os instrumentos utilizados incluíram a Escala de Edmonton, a Patient Health Questionnaire (PHQ-4), o Teste de Fagerstrom e o Audit-C. Os dados foram submetidos à análise estatística descritiva e regressão multinomial.
            Quanto aos resultados, observou-se a presença de comorbidades em 89,0% dos idosos e 57,8% apresentaram algum nível de fragilidade. A prevalência de tabagismo foi de 9,0% e de ex-tabagista 32,0%, o consumo de álcool foi de 26,7% e o uso concomitante de álcool e tabaco de 3,2%. A análise multivariada por blocos apontou que, no bloco 1, a variável sexo apresentou significância estatística (p < 0,05) tanto para o consumo de álcool, quanto para o tabagismo, enquanto que a idade foi estatisticamente significativa apenas para o tabagismo; no bloco 2, as variáveis fragilidade e presença de comorbidade autorreferida foram estatisticamente significativas para o consumo de álcool e para o tabagismo, respectivamente; e no bloco 3, nenhuma variável apresentou significância estatística para os referidos desfechos. Os resultados da regressão logística multinominal apontaram que permaneceram no modelo final a variável sexo masculino para o consumo de álcool e para o tabagismo, idade e presença de comorbidades autorrelatadas para o tabagismo e para o consumo de álcool manteve-se a presença de fragilidade. Isto é, o perfil mais associado aos hábitos em questão foi o idoso masculino, mais jovem e frágil.
            Por fim, concluiu-se que, embora pouco estudado e diagnosticado, o consumo de álcool e tabaco é comum neste grupo etário e carece de mais atenção por parte dos pesquisadores e profissionais da saúde. Apontou-se, ainda, a necessidade de ações de saúde, de prevenção e intervenção integradas com os aspectos biopsicossociais, a fim de diminuir o consumo e prevenir seus malefícios à saúde.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Emotional Regulation Questionnaire (ERQ): Indicadores Psicométricos e Relações com Medidas Afetivas em Amostra Idosa


Batistoni, S. S. T., Ordonez, T. N., Silva, T. B. L., Nascimento, P. P. P., & Cachioni, M. (2013). Emotional Regulation Questionnaire (ERQ): Indicadores psicométricos e relações com medidas afetivas em amostra idosa. Psicologia: Reflexão e Crítica, 26, 10-18. doi: 10.1590/S0102-79722013000100002

Resenhado por Brenda Fernanda

Evidências têm apontado a relevância das emoções como recurso adaptativo frente às mudanças durante o envelhecimento. Em discussões da década de 90, altos índices de bem-estar na velhice soavam como um fenômeno paradoxal, visto que se trata de uma fase marcada por perdas e limitações. No entanto, estudos têm revelado o quanto idosos são mais propensos a relatar maior controle emocional do que os jovens, principalmente no que diz respeito à regulação da experiência interna de estados negativos, como a raiva, e da expressão externa de felicidade e tristeza. Nesse sentido, o presente estudo objetivou apresentar indicadores psicométricos de validade e fidedignidade (validade de construto, consistência interna e confiabilidade teste-reteste) da versão brasileira da escala de regulação emocional aplicada a idosos; e identificar relações entre as estratégias de regulação emocional (reavaliação cognitiva e supressão emocional) e medidas de experiência afetiva, satisfação com a vida e depressão entre idosos.
Participaram do estudo 153 idosos com idade igual e superior a 60 anos, inscritos no 1º semestre de 2010 na Universidade Aberta à Terceira Idade. Destes, 63 foram submetidos à retestagem. Utilizaram-se, como instrumentos, um questionário sociodemográfico, o Questionário de Regulação Emocional (QRE), a Escala de Afetos Positivos e Negativos (EAPN), a Escala para Medida da Satisfação Geral com a Vida e a Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15).
Quanto aos resultados, os testes de esfericidade de Bartlett e o de Kaiser-Meyer Olkin indicaram a possibilidade da realização de uma Análise Fatorial Exploratória (AFE). A QRE apresentou dois fatores (reavaliação cognitiva e supressão emocional) que, juntos, explicaram 50,1% da variância total e possuiu índices de consistência interna considerados moderados e índices de estabilidade temporal bons. Observou-se que a pontuação média da amostra no fator de reavaliação cognitiva foi maior do que a média em supressão emocional. Além disso, a frequência de afetos positivos foi superior à experiência de afetos negativos. No que concerne às relações entre Regulação Emocional, Afetos Positivos e Negativos, Satisfação com a Vida e Depressão, a reavaliação cognitiva associou-se positivamente com afetos positivos e satisfação com a vida e negativamente com afetos negativos. Afetos positivos associaram-se positivamente com satisfação com a vida e negativamente com depressão. Afetos negativos, por sua vez, associaram-se positivamente depressão e negativamente com satisfação com a vida e com os afetos positivos. Satisfação com a vida associou-se negativamente com depressão.
Conclui-se sobre a importância da validação de medidas para amostras brasileiras, bem como para contextos específicos, dando destaque ao grupo da terceira idade. Diante das evidências quanto ao funcionamento cognitivo e emocional diferenciado dos idosos em determinadas situações, é fundamental que se realizem estudos voltados para essa faixa etária, visando a proporcionar melhor entendimento e assistência à saúde destes.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Anxiety and depression symptoms and migraine: a symptom-based approach research / Sintomas de ansiedade e depressão e enxaqueca: uma pesquisa de abordagem baseada em sintomas


Peres, M., Mercante, J., Tobo, P., Kamei, H., Bigal. M. (2017). Anxiety and depression symptoms and migraine: A symptom-based approach research. The Journal of Headache and Pain, 18(37). doi 10.1186/s10194-017-0742-1


Resenhado por Ariana Moura

A enxaqueca é conhecida por ser um distúrbio multifatorial, com aspectos genéticos, hormonais, ambientais, dietéticos, do sono e psicológicos, desempenhando um papel diferente em cada indivíduo. Pesquisas antigas e recentes têm observado os transtornos de ansiedade e de humor como as comorbidades psiquiátricas mais relevantes associadas à enxaqueca, influenciando a prevalência da doença, o prognóstico, o tratamento e os desfechos clínicos. Estudos relataram que transtornos de humor e ansiedade são duas a dez vezes mais comuns em pacientes com enxaqueca do que na população geral. Além disso, eles estão relacionados, tanto no ambiente clínico quanto na população em geral, a pior qualidade de vida e aumento do risco de suicídio.
Transtornos de ansiedade e humor coexistem na população em geral e também em pacientes com dor de cabeça. A marca da ansiedade é a preocupação excessiva, enquanto na depressão falta de energia, motivação e tristeza prevalecem. Ambas as desordens exibem sintomas físicos significativos. Na ansiedade, irritabilidade, problemas de concentração e agitação são comuns, enquanto que na depressão, fadiga, distúrbios de sono e mudanças no apetite estão incluídos na definição diagnóstica.
Diante disso, o objetivo do estudo foi testar a hipótese de que a enxaqueca pode não estar igualmente relacionada à ansiedade e a depressão. De 967 participantes entrevistados, 782 completaram o questionário e 213 pacientes se encaixaram em critérios diagnósticos para enxaqueca.
Nos resultados, observou-se que a maioria dos itens de ansiedade e depressão foram significativamente relacionados à enxaqueca em comparação com os controles sem cefaleia. No entanto, ao comparar os sintomas de ansiedade e depressão e sua relação com a enxaqueca, a razão de chances é muito maior para os sintomas de ansiedade do que para os sintomas depressivos. Itens de ansiedade tiveram chances cada vez maiores, significando que quanto maior a pontuação, maior a chance de enxaqueca. Isso não foi visto para a maioria dos sintomas de depressão. 
Para os autores, a incapacidade de controlar a preocupação e não conseguir relaxar são os problemas mais proeminentes na comorbidade psiquiátrica da enxaqueca. A implicação de não controlar a ansiedade no dia a dia, bem como não relaxar facilmente, sentir-se ansioso e experimentar um excesso diário de preocupação devem ser levados em consideração no manejo da enxaqueca.
A detecção de sintomas de ansiedade e a implementação de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos poderiam melhorar o controle da dor de cabeça e a qualidade de vida dos pacientes. Psicoterapias, assim como técnicas de relaxamento físico e mental, podem ser úteis para estratégias terapêuticas de prevenção da enxaqueca.
Por fim, ressalta-se a relevância desta pesquisa dentro da Psicologia da Saúde por investigar a relação entre enxaqueca e transtornos mentais comuns, depressão e ansiedade, observando a influência destes no desfecho da doença, bem como a importância da psicoterapia no controle da dor.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Viuvez Feminina: A fala de um grupo de Idosas


Baldin, C., & Fortes, V. (2008). Viuvez feminina: A fala de um grupo de idosas. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, v.5, n.1, 43-54. doi:10.5335/rbceh.2012.257
                                                                           Resenhado por Uquênia Lemos

No Brasil, de acordo com os dados do IBGE, a população de pessoas com mais de 60 anos em 2000, correspondia a 14.536.029, sendo que deste total, as mulheres idosas representavam 8.002.245, o que denota um envelhecimento predominantemente do gênero feminino. Uma grande parte deste contingente feminino de idosas é formada por viúvas, isso devido ao fato das mulheres terem uma maior expectativa de vida e da tendência dos homens viúvos casarem novamente. A viuvez traz à mulher idosa inúmeras transformações nos aspectos físicos, psicológicos e sociais, representando um novo desafio em sua vida. Diante disso, o estudo objetivou conhecer as mudanças que mulheres idosas mais perceberam em seu cotidiano após a morte do cônjuge.
 Tratou-se de um estudo de caráter exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, realizado no município de Vacaria-Rio Grande do Sul. Contou-se com a participação de oito idosas com idade entre 60 e 78 anos, viúvas de primeira vez, excluindo-se aquelas com viuvez subsequentes ou que tiveram um segundo relacionamento. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas contendo questões norteadoras e sociodemográficas, com duração de quarenta minutos no máximo. Metade das entrevistadas morava sozinha e as demais com familiares. Quanto ao número de filhos, as idosas tinham entre um e cinco filhos; apenas uma não tinha filhos. Todas possuíam casa própria, eram aposentadas e pensionistas. O tempo de vida conjugal foi de 12 a 44 anos e a viuvez variou de 9 a 37 anos, sete enviuvaram na idade adulta, entre os 34 e os 56 anos, apenas uma enviuvou após os 60 anos, nenhuma delas teve um novo relacionamento após a viuvez.
Os dados coletados foram analisados por meio da análise de conteúdo e classificados por categorias: “repercussões da viuvez” incluindo o impacto da perda e a superação, “a participação da família após a perda do companheiro” e “as atividades em que a idosa viúva se envolve.” As idosas, ao rememorar o acontecimento da viuvez, independentemente da idade que ocorreu, relataram que vivenciaram adoecimentos físicos e emocionais, manifestados por: depressão, angústia e solidão, contudo referiram que a presença da família e mudanças de hábitos, tais como: envolvimento com atividades domésticas e sociais (trabalho voluntários e religiosos) contribuíram para ajudar a superar a perda e manter um envelhecimento saudável.
Por fim, apontou-se que a viuvez feminina é um acontecimento que pode desencadear danos psicológicos, sociais e físicos devido à perda do cônjuge com quem, geralmente, estiveram unidas durante um longo período de tempo. Ressalta-se a importância da Psicologia da saúde na promoção de pesquisas e estratégias de enfrentamento de suporte, proteção e prevenção junto a idosas viúvas.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Prevalência de transtornos mentais comuns e fatores associados entre idosos de um município do Brasil


Silva, P. A. dos S. da; Rocha, S. V.; Santos, L. B.; Santos, C. A. dos; Amorim, C. R.; & Vilela, A. B. A. (2018). Prevalência de transtornos mentais comuns e fatores associados entre idosos de um município do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva23(2), 639-646.

Resenhado por Michelle Leite

Os transtornos metais comuns (TMC) se caracterizam por um conjunto de sintomas como ansiedade, insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas, e são uma das morbidades psíquicas mais presentes. No Brasil, a prevalência entre os idosos varia entre 29,7% a 47,7%. Devido à alta prevalência e aos graves efeitos sobre o bem-estar pessoal, familiar, no trabalho e no uso de serviços de saúde, os TMC são considerados como um problema de saúde pública.
Em virtude da carência de pesquisas  populacionais acerca da saúde mental dos idosos, o presente estudo teve como objetivo estimar a prevalência e os fatores associados aos TMC entre idosos de um município do Brasil. O estudo teve um corte transversal e foi realizado com 310 idosos da cidade de Ibicuí (BA). Os critérios de inclusão estabelecidos foram: a idade (igual ou maior que 60 anos) e o local de moradia (Ibicuí-BA). Foram excluídos todos os indivíduos com diagnóstico de demência ou qualquer outro tipo de alteração cognitiva. Os instrumentos utilizados na coleta de dados foram o Instrumento de Avaliação da Saúde de Idosos (IASI), o Self Reporting Quetionnaire (SRQ-20) e um questionário sociodemográfico. Os dados foram analisados através do SPSS. Foram feitas análises descritivas e calculadas razões de prevalência e análise de regressão.
Os resultados indicaram que a prevalência geral de TMC foi de 55.8%. Os sintomas mais relevantes foram assustar-se com facilidade (57,4%) e sentir-se nervoso, tenso ou preocupado (54,5%). Identificou-se maior prevalência de TMC entre idosos do sexo feminino (66,9%), faixa etária maior ou igual a 80 anos (62%) e não alfabetizados (61%). A presença de TMC também foi mais acentuada em indivíduos que referiram maior tempo gasto sentado (62,6%), inativos no lazer (48,5%), que consumiam bebidas alcóolicas regularmente (61,5%) e que fumam atualmente (58,3%). Pessoas do sexo feminino e que referiram reumatismo apresentaram maiores prevalências de TMC.
O processo de envelhecimento está relacionado a diversos fatores como a elevada presença de comorbidades e incapacidades, condições precárias de vida, acúmulo de episódios de estresse durante a vida e isolamento social, que favorecem o desenvolvimento dos TMC. Nessa perspectiva, dados como estes encontrados no estudo, juntamente à atuação da psicologia da saúde, contribuem para construção do conhecimento para este grupo ainda pouco estudado e para as políticas públicas de atenção à saúde e qualidade de vida dos idosos, de modo a promover mais medidas de intervenção direcionadas.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Ageing and the prevalence and treatment of mental health problems / Envelhecimento e prevalência e tratamento de problemas de saúde mental


Jokela, M., Batty, G. D., & Kivimäki, M. (2013). Ageing and the prevalence and treatment of mental health problems. Psychological medicine43(10), 2037-2045.

Resenhado por Mariana Menezes

O envelhecimento é um fator importante no desenvolvimento de problemas de saúde mental e seus tratamentos. Ao longo da vida ocorrem mudanças na incidência e prevalência de Transtornos Mentais Comuns (TMCs). De acordo com algumas pesquisas, a saúde mental tende a melhorar na terceira idade, no entanto, outros estudos sugerem que a saúde mental fica mais prejudicada nessa fase da vida.
Segundo os autores, não é possível afirmar com certeza se a saúde mental tende a melhorar na terceira idade, pois a maioria das pesquisas que investigaram a saúde mental entre os idosos não pesquisaram aqueles com idade acima dos 70 anos e, desta forma, os dados disponíveis não permitem ter clareza sobre se o desenvolvimento positivo da saúde mental continua além da velhice precoce.
As poucas pesquisas que incluíram idosos com mais de 70 anos na amostra identificaram que o transtorno mental mais comum entre os idosos dessa faixa etária é a depressão. Quanto a assistência de saúde que é prestada aos idosos existe uma preocupação geral sobre se recebem os cuidados adequados, tendo em vista que é uma fase em que, dentre outras coisas, a saúde fica mais debilitada, os problemas de saúde aumentam, o organismo fica mais fragilizado e a resposta aos tratamentos é mais lenta.
Ainda que se saiba que existem diferenças entre as pessoas, inclusive na saúde mental, devido a idade e coorte de nascimento, ainda não se sabe muito sobre qual é o papel desses fatores no envelhecimento. Diante disso, a hipótese de pesquisa do artigo foi a seguinte: Os TMCs e a utilização do tratamento psicoterápico se tornam menos prevalentes com a idade e os TMCs podem ter se tornado mais prevalentes nos anos mais recentes e nas coortes mais jovens. Não houve hipóteses específicas sobre o período de tempo ou efeitos de coorte no tratamento psicoterápico.
A pesquisa foi realizada em diferentes países do Reino Unido. Tratou-se de uma investigação longitudinal com duração de 18 anos (de 1991 a 2009). Participaram da pesquisa 30.224 idosos com idade entre 15 e 100 anos. Os TMCs foram avaliados com o General Health Questionnaire (GHQ). Os participantes também foram solicitados a relatar se haviam ou não utilizado diferentes serviços de saúde desde um determinado mês do ano anterior. Um dos itens da lista era psicoterapia incluindo psiquiatria ou análise e a opção de resposta era dicotômica (sim ou não). Na análise dos dados foi realizada uma Regressão Logística.
Os resultados revelaram que houve menores taxas de TMCs e maior uso de psicoterapia entre indivíduos de 15 a 24 anos, prevalência levemente decrescente de TMCs com o tempo naqueles com idade entre 25 e 54 anos e decréscimo no uso de psicoterapia após os 55 anos. Além disso, os autores também identificaram aumento dos TMCs após os 75 anos e que os idosos com essa faixa etária foram os mais propensos a apresentar TMCs e os menos propensos a utilizar serviços de psicoterapia.
Desta forma, a pesquisa pode ser considerada uma contribuição para a área da Psicologia da Saúde ao passo que apresentou achados importantes para a compreensão do funcionamento mental de idosos, além de outras questões relacionadas à saúde mental dessa população que está crescendo rapidamente em várias regiões do mundo.


sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Enfrentamento, locus de controle e preconceito: um estudo com pessoas de orientação sexual homoafetiva


Faro, A., & Fernandes, S. C. S. (2009). Enfrentamento, locus de controle e preconceito: um estudo com pessoas de orientação sexual homoafetiva. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 15, n. 3, p. 101-119.

Resenhado por Maísa Carvalho

Sabe-se que indivíduos de orientação homoafetiva cotidianamente são alvos de preconceito sexual e, em consequência, podem desenvolver altos níveis de estresse ocasionados por respostas mal administradas. Conceitualmente, estratégias de enfrentamento são entendidas como ações, comportamentos e/ou pensamentos que são utilizados para lidar com um conjunto de estressores. Essas estratégias se dividem principalmente em foco no problema, que enfatiza a demanda causadora, e foco na emoção, que direciona a resposta emocional. Além destas, destaca-se também a relevância da religiosidade e do suporte social como outros tipos de enfrentamento.
A forma como o indivíduo percebe e vivencia o estresse costuma ser determinante para a escolha do modo de enfrentamento, a qual pode ser explicada através da teoria do locus de controle. Em sua definição, locus de controle são crenças a respeito dos resultados das ações, que podem ser atribuídas a si mesmo (locus interno) ou a eventos que estão fora do nosso controle (locus externo).
Mediante o exposto, os autores do estudo buscaram identificar as estratégias de enfrentamento utilizadas por pessoas de orientação sexual homoafetiva, verificar a adesão ao locus de controle utilizado e analisar a relação entre ambos os processos. A amostra foi composta por 31 participantes que se declararam homossexuais, bissexuais ou transgêneros, os quais participavam de um evento a respeito do preconceito sexual na cidade de Aracaju/SE. Os instrumentos utilizados foram a Escala de Modos de Enfrentamento de Problemas (EMEP) e uma escala de Locus de Controle.
Os resultados apontaram que os participantes utilizam o foco no problema (M = 3,56; DP = 0,68) e o suporte social (M = 3,54; DP = 0,71) como os principais modos de enfrentamento. No que se refere à atribuição de causalidade, a adesão ao locus de controle interno (M = 4,26; DP = 0,47) foi preponderante entre a amostra coletada. A correlação parcial entre as variáveis atrelou o locus interno ao foco no problema (r = 0,568; p < 0,01) e ao suporte social (r = 0,501; p < 0,05), e o locus externo ao foco na emoção (r = 0,544; p < 0,01) e ao foco na religiosidade (r = 0,434; p < 0,05).
Com base nos resultados apresentados, o estudo identificou que as duas estratégias de enfrentamento utilizadas pelos participantes – foco no problema e suporte social – indicam que, ao encararem situações de preconceito, esses sujeitos favorecem a análise dos fatores estressores, bem como atribuem a si a responsabilidade por seus comportamentos e reações em geral.
Ao compreender a relação entre os construtos apresentados, torna-se relevante a produção de mais estudos neste e em diferentes grupos sociais concentrados na área da Psicologia da Saúde, com o fito de fomentar o interesse de políticas públicas em promover projetos de amparo e/ou aconselhamento psicológico em públicos vulneráveis.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Síndrome de Burnout em Médicos Intensivistas: Estudo em UTIs de Sergipe


Almeida, S. P., Araújo, M. R. M., Barreto, A. L. P., Barros, M. M. S., Faro, A., Faro, S. R. S. (2016). Síndrome de Burnout em médicos intensivistas: estudo em UTIs de Sergipe. Temas em Psicologia, n.1, 377-389. doi: 10.9788/TP2016.1-26

Resenhado por Uquênia Lemos

O exercício da medicina intensiva é permeado por tarefas árduas e desgastantes, realizadas numa organização de trabalho com carga horária excessiva, ritmo intenso de atendimentos, controle rigoroso das atividades, pressão temporal e necessidade de profissionais polivalentes, além de estarem num ambiente com estímulos emocionais intensos, como: o adoecer, a dor e o sofrimento. Diante disso, os médicos intensivistas podem vivenciar uma insatisfação profissional no seu cotidiano, assim como um adoecimento físico e psicológico, ocasionando doenças, tais como: transtornos mentais comuns (depressão, ansiedade), estresse, e, em particular, a síndrome de burnout.
A síndrome de burnout é uma resposta ao estresse crônico, quando falham as estratégias de enfrentamento que, normalmente, o indivíduo emprega para lidar com os estressores laborais. Ela é composta pelas dimensões: Realização Pessoal (RP), que se refere à tendência do profissional em se avaliar negativamente, gerando sentimentos de incompetência e baixa autoestima, o que afeta a realização do trabalho e a relação com os pacientes; o Esgotamento Emocional (EE), que ocorre quando o médico passa a se defender contra a carga emocional derivada do contato direto com outras pessoas, não conseguindo dar mais de si mesmo a nível afetivo; e a Despersonalização (DE), quando o profissional passa a ter um endurecimento afetivo, desenvolvendo sentimentos negativos, de atitudes e condutas de cinismo voltadas a usuários do trabalho. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi identificar a presença da síndrome de burnout junto aos médicos intensivistas do Estado de Sergipe, além de possíveis preditores da síndrome.
Foram utilizados um questionário para caracterização sociodemográfica, laboral e psicossociais da amostra e o Maslach Burnout Inventory - Human Services Survey (MBI-HSS). O instrumento contém 22 questões, sendo nove relativas à dimensão EE, cinco à DE e oito à RP. A amostra foi composta por 122 médicos intensivistas, atuantes em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) há, no mínimo, seis meses. Os participantes eram predominantes casados (61,5%), com filhos (66,4%) e idade média em 38,7 anos (DP = 8,39), não havendo predominância de sexo (50,8% do sexo masculino). Os resultados indicam altos níveis de EE (66,4%) e DE (54,9%), em contrapartida a dimensão RP (67,2%) apresentou-se majoritariamente em nível baixo. Observou-se, então, que 42,6% (n = 52) dos participantes se encaixavam no diagnóstico positivo para a síndrome de burnout e os preditores identificados foram: trabalhar na UTI por necessidade, sentir-se sobrecarregado, vivenciar uma relação estressante com colegas de trabalho, além de não utilizar o horário livre para assistir TV ou para dormir.
Por fim, ressalta-se a importância da Psicologia da Saúde na promoção de estratégias de enfrentamento protetivos e preventivos junto a estes profissionais, a partir do desenvolvimento de programas de prevenção e promoção de saúde necessária para trabalhar questões de relacionamentos interpessoais, carreira profissional, desempenho de atividades e aproveitamento de horas livres.


terça-feira, 27 de novembro de 2018

Solidão e depressão em adultos


Barroso, S. M., Baptista, M. N., Zanon, C. (2018). Solidão como variável preditora na depressão em adultos. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 9(3supl), 26-37. doi: 10.5433/2236-6407.2018v9n3suplp26

Resenhado por Laís Santos

A depressão é um transtorno mental de elevada prevalência mundial. Fatores de personalidade, tais como o neuroticismo e fatores comportamentais como o consumo de álcool e outras drogas, maus hábitos e o sedentarismo, associam-se positivamente à presença de sintomas depressivos e ansiosos. Estima-se que a solidão seja outro aspecto que se relaciona a maior presença de sintomas depressivos, ansiosos e à ideação suicida. Sabe-se que a solidão se associa a quantidade e a qualidade que uma pessoa percebe os seus relacionamentos interpessoais e os que gostaria de ter. No Brasil, pesquisas sobre o impacto da solidão sobre a depressão ainda são recentes e pouco presentes. Com isso, este estudo avaliou o papel preditor da solidão frente à depressão em adultos quando controlados fatores, tais como a ansiedade e o neuroticismo. Participaram do estudo 297 estudantes universitários (70%; n = 208 eram mulheres), de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, com idades entre 17 e 76 anos. Os instrumentos utilizados foram a Escala Baptista de Depressão (Versão Adulto) (EBADEP-A), a Depression, Anxiety and Stress Scale (DASS-21), a Escala Brasileira de Solidão UCLA (UCLA-BR), o Inventário de Saúde Mental de 5 itens (MHI-5), o Inventário dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade (IGFP-5) e um questionário sociodemográfico e clínico.
            Os resultados gerados a partir de regressão múltipla hierárquica em três passos, revelaram que o modelo 1 (variáveis sociodemográficas) explicou aproximadamente 10% da presença de sintomas depressivos. Ao acrescentar o neuroticismo e outras psicopatologias ao modelo, houve o aumento de 60% da capacidade preditiva, somando então 70%. Por último, o modelo 3 (acréscimo da solidão) adicionou 1% de variância exclusiva do modelo total explicado, que somou o total de 71%. Observou-se que na amostra em questão os fatores de maior impacto foram o índice de saúde mental e a solidão, sendo que esta última permaneceu significativa mesmo controlando outros aspectos. A presença de fatores múltiplos de impacto na depressão era algo esperado frente a complexidade de tal transtorno. Especificamente quanto à solidão, constatou-se que tal construto atua como um importante fator preditor da depressão, embora não tenha adicionado grande variância explicativa ao modelo testado. Sugere-se a realização de pesquisas com amostras de outras faixas etárias tais como a infância e adolescência, a fim de avaliar o impacto preditor dessa variável em diferentes fases do desenvolvimento. Para a Psicologia da Saúde, identificar quais fatores exercem maior impacto no surgimento de transtornos mentais comuns, especificamente a depressão é extremamente importante, principalmente no que concerne a elaboração de estratégias de intervenção e prevenção dessas patologias.

sábado, 24 de novembro de 2018

Suicidal ideation, anxiety, and depression in patients with multiple sclerosis/ Ideação suicida, ansiedade e depressão em pacientes com esclerose múltipla


Tauil, C. B., Grippe, T. C., Dias, R. M., Dias-Carneiro, R. P. C., Carneiro, N. M., Aguilar, A. C. R., ... & Giovannelli, E. D. C. (2018). Suicidal ideation, anxiety, and depression in patients with multiple sclerosis. Arquivos de Neuro-psiquiatria76(5), 296-301.doi.org/10.1590/0004-282X20180036

Resenhado por Iracema R. O. Freitas

A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória crônica e degenerativa do sistema nervoso central com maior prevalência entre as mulheres, ou seja, para cada três mulheres com EM temos um homem com a doença.  Os sintomas clínicos se manifestam através de fadiga, déficits sensoriais e motores, alterações esfincterianas, neurite óptica, diplopia, sinais cerebelares, alterações na marcha, espasticidade e disfunção cognitiva. Tais sintomas estão relacionados à incapacidade e alterações cognitivas e psicológicas, além dos déficits físicos cumulativos, que comprometem a qualidade de vida dos pacientes, incluindo sua vida social e profissional. Os transtornos de humor e ansiedade foram os distúrbios psiquiátricos mais frequentes nesses pacientes. Estima-se que 25% dos pacientes com EM sofrem de depressão, um dos fatores pode está relacionadas às chamadas terapias modificadoras da doença, onde os efeitos adversos do medicamento modulam o humor. Outros fatores incluem os níveis elevados de fadiga, alto estresse, perda de oportunidade de lazer e a má qualidade de relacionamentos.
Esse estudo teve por objetivo determinar a prevalência e a gravidade de depressão, ansiedade e ideação suicida em pacientes com EM e verificar a relação entre o status funcional, a gravidade da doença, o tratamento atual e o uso de antidepressivos.  A amostra foi composta por 132 pacientes com diagnóstico confirmado, com idades entre 18 e 60 anos, a média foi de 35 anos. Destes, 22% (n = 29) eram homens e 78% (n = 103) eram mulheres. Foram utilizadas a Escala Expandida de Incapacidade (EDSS), Inventário de Depressão – II (BDI- II), Escala de Beck para Ideação Suicida (BSI) e Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS; subescala de ansiedade: HADS-A; subescala de depressão: HADS-D). Os dados foram analisados usando o software PRISMTM v.6.
Os resultados apontaram que houve maior taxa de sintomas de ideação suicida e ansiedade em pacientes com mais de dois anos com a doença, se comparado com a população geral. Foi identificado maior prevalência de sintomas depressivos leves em 30,6%, sintomas depressivos moderados em 29,3% e sintomas depressivos graves em 5,3% dos pacientes. Estes achados sugerem que há simultaneidade entre a progressão da doença e os transtornos psiquiátricos. Já a relação entre a alta taxa de depressão e ideação suicida por meio da evolução da doença podem ser efeitos colaterais da doença ou sintomas associados. Para a Psicologia da Saúde o adoecimento pode afetar a qualidade de vida, bem como aumentar o risco de morte por suicídio em indivíduos com EM, servindo de alerta para o problema. Por isso a importância de analisar o vinculo entre os medicamentos de EM e a presença dos distúrbios psiquiátricos, para que haja um acompanhamento psicológico por parte de um profissional habilitado.


quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Estresse e estratégias de enfrentamento em pacientes que serão submetidos à cirurgia de colecistectomia


Santos, A. F., Santos, L. D. A., Melo, D. O., & Alves Júnior, A. (2006). Estresse e estratégias de enfrentamento em pacientes que serão submetidos à cirurgia de colecistectomia. Interação em Psicologia, 10(1). doi:10.5380/psi.v10i1.5772.

Resenhado por Danielle Alves

O artigo tem como objetivo mapear e comparar as estratégias de enfrentamento de dois grupos: pacientes no pré-operatório da cirurgia de colecistectomia (n = 15) e aqueles submetidos ao tratamento clínico de gastrite (n = 10). Foi utilizado o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp e o Inventário de Estratégias de Coping de Folkman e Lazarus.
Entendeu-se que o momento da cirurgia é potencialmente estressor, demandando adaptação dos pacientes frente aos desafios impostos. O conhecimento da dinâmica que envolve o ajustamento contribuiria para melhor planejamento do pós-operatório, tendo em vista que seria possível rastrear e promover a redução de níves consideráveis de ansiedade e depressão, fatores psicológicos que interferem negativamente no prognóstico. Em especial, a colecistectomia, que consiste na remoção cirúrgica da vesícula biliar, e é uma das cirurgias mais freqüentes nos Brasil, justificando a necessidade de maior atenção à maneira pela qual esses pacientes promovem ajustamento psicológico.
Os resultados mostraram que a maioria dos pacientes apresentaram estresse na fase de resistência, incindindo massivamente em mulheres. Nessa fase há predominância de sintomas físicos como problemas de memória, mal-estar generalizado, desgaste físico e cansaço constante. Essas reações impactam não só psicologicamente como fisicamente, pois o excesso de cortisol gerado interfere na resposta inflamatória e imunológica, e o aumento da pressão arterial pode vir a comprometer o procedimento cirúrgico.
A maioria dos participantes se encontrou em fase de evolução do estresse, sugerindo que a doença em si, enquanto situação estressora, já predispõe a fatores de risco para o pós-operatório. Já no grupo de pacientes com tratamento clínico de gastrite, não foram encontrados níveis de estresse considerados prejudiciais. O fato revelou que a atuação do psicólogo deve se concentrar em pacientes cirúrgicos, pois seria possível maior contribuição para recuperação dos pacientes.
Em termos de estratégia de enfrentamento, a fuga-esquiva foi característica de pacientes cirúrgicos. Essa estratégia se encontra no leque de alternativas focadas na emoção, indicando que esse tipo de paciente percebe a situação estressora de forma rígida, como não passível de mudanças.
A avaliação de recursos internos e externos mostrou que esses pacientes não tiveram recursos internos suficientes para considerar a cirurgia como um evento estressor de menor potencial, e que recursos externos parecem não ter favorecido a atenuação das conseqüências da situação estressante. Sugeriu-se intervenção com vídeos educativos como suporte externo, a qual possui evidências científicas na redução da ansiedade antes da cirurgia.
Por fim, entendeu-se que maior conhecimento acerca da dinâmica que estabelece o ajustamento desses pacientes permite melhor rapport com a equipe e eleva a qualidade de vida do paciente, favorecendo o reestabelecimento da saúde. A psicologia da saúde, portanto, é promissora e agrega potencial contribuição aos estudos que esclarecerão as diferentes formas de ajustamento, elevando as possibilidades de intervenção eficaz nesses casos.


terça-feira, 20 de novembro de 2018

Escala de Autoeficácia para a Atividade com Sentido: Encontrando sentido no envelhecimento ativo


Oliveira, A., Lima, M. P., & Portugal, P. (2016). Escala de Autoeficácia para a Atividade com Sentido: Encontrando sentido no envelhecimento ativo. Revista Portuguesa de Investigação Comportamental e Social: RPICS2(1), 3-13.

Resenhado por Daiane Nunes

            As atividades ocupacionais consideradas significativas são aquelas desempenhadas ao longo do tempo, às quais se atribui sentido que preservam a participação ativa. Esse sentido é expresso como uma dimensão de valor por parte do indivíduo que percebe sua ocupação como importante e significativa. Em idades avançadas, as atividades ocupacionais são mantidas de acordo com a valoração e o sentido atribuído a elas, sobretudo numa etapa da vida em que se pode assistir a uma ausência de papéis definidos ou funções com estatuto social mais reduzido. As fontes de sentido implicadas às atividades ocupacionais nos idosos são compreendidas em termos de identidade e desenvolvimento pessoal, utilidade, controle e competência percebidos, além de propósito e envolvimento com a vida. Essas fontes de sentindo são responsáveis por mediar crenças de autoeficácia na população idosa, consideradas elementos fundamentais para o envelhecimento ativo.
            Partindo dessa ideia, os autores desenvolveram a Escala de Autoeficácia para a Atividade com Sentido (EAASentido). Inicialmente foram realizadas entrevistas de grupo focal com 23 idosos, tendo como objetivo identificar os comportamentos específicos dos participantes nas seguintes dimensões: (1) Atividades instrumentais (sentido instrumental); (2) Atividades profissionais/ocupacionais (sentido ocupacional); (3) Atividades de participação social (sentido de participação); (4) Atividades de desenvolvimento pessoal e de lazer (sentido identitário); (5) Atividades espirituais/religiosas (sentido existencial). Os 20 itens gerados a partir desse processo foram submetidos a um pré-teste com os mesmos participantes dos grupos focais. Após os ajustes necessários, a escala foi aplicada em 503 idosos europeus, com idade média de 71,66 anos (DP = 7,77; Mínimo = 51 anos e Máximo = 96 anos), sendo a maioria do sexo feminino (63,0%; n = 317). Os instrumentos utilizados incluíram a EAASentido, a Escala de Autoestima de Rosenberg, a Escala Atividades Instrumentais da Vida Diária, a Positive Affect and Negative Affect Scale, a Satisfaction With Life Scale, o Meaning in Life Questionnaire e a Escala de Autoeficácia para a Autodireção em Saúde.
Os resultados demonstraram bons indicadores de validade e de consistência interna (α = 0,94). A análise de componentes principais apontou a existência de três dimensões e não as cinco inicialmente previstas: atividades de desenvolvimento pessoal e participação social, atividades instrumentais, e atividades espirituais/religiosas. Após análise das saturações dos itens, os autores propuseram a reformulação da escala, eliminando cinco itens. A consistência interna global dos 15 itens manteve-se elevada (α = 0,92). Os resultados da validade de construto e discriminante demonstraram correlações significativas com todos os instrumentos utilizados. Foram evidenciadas correlações negativas com as variáveis afetividade negativa e idade, apontando que quanto mais o idoso se sente capaz de se engajar em diferentes atividades, maior a sua percepção de autoestima, de afeto positivo, de satisfação com a vida, de presença de sentido na vida e de autoeficácia para a saúde.
Por fim, evidenciou-se robustez e adequação psicométrica da EAASentido, recomendando seu uso para avaliar em que medida os idosos têm confiança na sua capacidade para se envolverem em atividades com sentido. Contudo, no que concerne à dimensionalidade da medida, sugeriu-se mais estudos que testem a reconfiguração proposta, nomeadamente através de análises fatoriais mais robustas.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Entrevista: Saúde do homem e a prevenção do câncer de próstata


Roteiro elaborado por Mariana Menezes
Entrevistada: Psicóloga Geovanna Turri

“Novembro Azul” é uma campanha mundial que visa à conscientização da sociedade e, principalmente dos homens, sobre a importância de cuidar da saúde masculina e prevenir o câncer de próstata. Sabe-se que os homens costumam negligenciar os cuidados com a própria saúde e que o câncer de próstata é uma das principais causas de morte entre eles. Nesse mês dedicado à saúde do homem, o GEPPS convidou a psicóloga e integrante do grupo Geovanna Turri (CRP 19/3077 / Lattes) para responder a algumas questões sobre o tema.  

1. Como a psicologia explica o fato de os homens morrerem mais cedo em comparação às mulheres?

Ouvimos relatos, não só na literatura da área, mas no senso comum, que as mulheres buscam mais atendimentos preventivos do que os homens. Isso porque, de forma geral, é enraizado na sociedade que a mulher é mais sensível e frágil, portanto devem se cuidar mais. Já a representação do homem é de virilidade, assim, admitir que precisa de ajuda se torna um ato de fraqueza para muitos, pois é como se o homem estivesse assumindo sua fragilidade. Para a Psicologia isso está relacionado às crenças e ao apoio social, dentre outras coisas. As crenças e o apoio da família e dos amigos podem fazer com que os homens tenham atitudes positivas ou negativas sobre o exame de toque retal. Quando essas atitudes são mais positivas, consequentemente, maiores são as chances de que o homem realize o exame. Por exemplo, se um homem acredita que fazer o exame do toque retal depende dele, que será bom para se prevenir de um câncer de próstata e que seus amigos e familiares o apoiam, as chances dele fazer o exame aumentam muito. Por isso o suporte fornecido à população masculina é tão importante e as intervenções devem ser feitas não somente com esse público, mas com todos, visto que a influência social pode aumentar ou diminuir a adesão ao exame e até mesmo interferir no risco de mortalidade.

2. Porque alguns homens têm resistência para realizar exames preventivos do câncer de próstata?

Mesmo sem sintomas, a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que os homens que têm acima de 50 anos e os que têm 40 anos com histórico familiar de câncer de próstata busquem anualmente um urologista para fazer check-up da próstata. Para prevenir esse tipo de câncer, o exame do toque retal é considerado o método de maior acurácia diagnóstica nesses casos, aliado a outros exames como o exame de sangue PSA. Diante de todo o preconceito que cerca o exame do toque e da crença que ele pode afetar a masculinidade, os homens optam, muitas vezes, por fazer apenas o exame de sangue, já que esse é considerado por eles um exame simples e sem contato íntimo.
O exame do toque geralmente é associado a dor e ao desconforto físico e psicológico de estar sendo tocado. Esse desconforto está, na maioria das vezes, relacionado ao preconceito. Por exigir contato corporal com a região anal do homem, o exame tem sido alvo de preconceitos, levando a pouca adesão. A baixa adesão ao exame do toque é um reflexo da baixa adesão dos homens aos serviços de atenção primária e, em muitos casos, do pouco conhecimento acerca da relevância dos exames preventivos. O preconceito em saúde relaciona-se com a concepção de masculinidade e machismo, na qual muitos homens acreditam que são fortes e por isso não precisam fazer exames preventivos, considerando o cuidado em saúde função feminina. Essa crença de que o cuidado é função feminina, aponta para algumas questões de gênero e machismo, que se mostram mais relevantes quando se constata o alto índice de homens que poderiam ter a chance de morte reduzida para determinadas doenças se realizassem exames preventivos.
Então, o que esses homens devem ter em mente é que é preciso realizar os exames que o médico pede, pois ele avalia a necessidade de cada caso, e se o mesmo indicou o exame do toque é porque realmente é necessário. Nesse momento, o homem deve buscar ter controle sobre aspectos que podem funcionar como fatores impeditivos para a realização do exame.  

3. Quais aspectos psicológicos podem influenciar a decisão dos homens de realizar o exame de toque retal?

Várias coisas podem funcionar como fatores impeditivos para realização do exame, sendo os principais o preconceito, o machismo e as crenças distorcidas acerca do exame. Por ser realizado numa zona considerada “íntima” por muitos homens, que é a região anal, o exame traz uma carga negativa muito forte entre eles. Por exemplo, muitos acreditam que fazer o exame poderá mudar sua sexualidade (diante de pessoas conhecidas), que o tornará vulnerável e que sua masculinidade será colocada à prova, quando a realidade é bem diferente. O exame do toque retal é um exame como qualquer outro, realizado com técnica e profissionalismo. Nada além do câncer de próstata está sendo avaliado, então eles não precisam se preocupar em se tornarem mais ou menos homens por aceitar realizar o exame.

4. Como a Psicologia da Saúde pode contribuir para que os homens tenham comportamentos de saúde e como pode ajudar na prevenção do câncer de próstata?

Não se pode deixar de pensar nos constrangimentos que muitos homens sentem ao realizar o exame, mesmo aqueles que procuram ser mais racionais frente à sua realização. Por conseguinte, não há como desconsiderar aspectos simbólicos que interferem na intenção e decisão de realizar o exame, uma vez que o toque retal pode ser visto como comprometimento da virilidade e da masculinidade. Dentro desse contexto posso dizer que a Psicologia da Saúde tem sido usada para explicar comportamentos de saúde, contribuindo assim para a melhor compreensão desses comportamentos. Nesse sentido, as pesquisas da área da Psicologia da saúde podem orientar campanhas e ações em saúde, direcionando-as de forma mais eficaz.
Ressalto ainda a importância da Psicologia da Saúde na investigação de comportamentos protetivos e preventivos relacionados a saúde do homem e de qualquer outro público, pois a mesma considera todos os aspectos (psicológicos, clínicos e fisiológicos) e contribui para a promoção e manutenção da saúde, prevenção e tratamento de doenças, e identificação de relações etiológicas e diagnósticas de saúde.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Ambiência domiciliar para a realização da diálise peritoneal

Abud, A. C. F., Zanetti, M. L., Inagaki, A. D. M., Santos, A. F., Lima, R. S., & Moura, R. P. (2017). Ambiência domiciliar para a realização da diálise peritoneal. Revista Enfermagem UERJ, 25: e15210. doi: 10.12957/reuerj.2017.1521.

Resenhado por Brenda Fernanda

A doença renal crônica (DRC) diz respeito ao comprometimento da função renal e se constitui, atualmente, como problema mundial de saúde pública. Ao chegar em seu estágio final, denominado insuficiência renal crônica (IRC), existe a possibilidade de o paciente ser submetido a um programa de terapia renal substitutiva (TRS), seja hemodiálise (HD), diálise peritoneal (DP) ou transplante renal. Considera-se a DP um método substitutivo eficiente para a retirada de líquido e de produtos de degradação urêmica do corpo.
 A DP apresenta-se como uma modalidade de tratamento com resultados similares ao da HD e possui várias vantagens, entre elas, a melhoria da qualidade de vida do paciente e a possibilidade de fazer o tratamento em casa. No entanto, existem problemas como peritonite (infecção do peritônio), ultrafiltração inadequada e deficiência na eliminação de solutos urêmicos. Ademais, fatores sociais podem constituir indicação para a mudança do procedimento de DP para HD. Assim, o objetivo do referido estudo foi avaliar a estrutura física do domicílio de pacientes em diálise peritoneal.
O estudo apresentou delineamento quantitativo transversal, sendo realizado com todos os pacientes adultos em diálise peritoneal assistidos em uma clínica conveniada com o SUS no Estado de Sergipe. Para obtenção dos dados, inicialmente foi realizada análise dos prontuários e, a partir daí, foram selecionados 90 pacientes que se encontravam em DP há pelo menos 6 meses, com idade igual ou superior a 18 anos. Depois de selecionados os pacientes, os pesquisadores entraram em contato por telefone para agendar a visita. O agendamento foi realizado com 24 horas de antecedência, para que não houvesse tempo hábil para mudanças no ambiente domiciliar.
Utilizou-se questionário semiestruturado com as variáveis relacionadas à estrutura física do domicilio e sociodemográficas (sexo, idade, escolaridade e renda). O tempo médio de entrevista e observação atingiu 40 minutos. A observação favoreceu a coleta de dados relativos à realização do procedimento de diálise. Observaram-se paredes, piso do local onde era realizada a troca de solução, pia para higienização das mãos, rede de água e esgotamento sanitário, acondicionamento do material e local utilizado para desprezar o dialisato efluente. Para a análise, utilizou-se o componente estrutura da avaliação de cuidados em saúde.
Como resultado, observou-se que o ambiente mais utilizado para a realização da DP, no domicílio, era o quarto, com maioria apresentando paredes íntegras, revestimento no teto, piso íntegro, presença de pia e utilização de água tratada para a higienização das mãos, bem como rede de esgotamento sanitário. Os materiais para DP eram armazenados em local e forma adequados. Contudo, em alguns casos, foram encontradas rachaduras, infiltrações e utilização de água de poço artesiano, além do armazenamento inadequado do material e descarte do dialisato efluente de forma incorreta, expondo os pacientes a riscos que podem agravar o seu estado de saúde.