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sexta-feira, 29 de março de 2019

Envelhecimento saudável e autoeficácia do idoso: Revisão sistemática

Martinez, L. C. D. F., Magalhães, C. M. C., & Pedroso, J. D. S. (2018). Envelhecimento saudável e autoeficácia do idoso: Revisão Sistemática. Revista de Psicologia da IMED, 10(2), 103-118.

Resenhado por Luanna Silva

Formulado por Bandura ao propor a Teoria Social Cognitiva, o termo autoeficácia se refere a crença sobre a capacidade pessoal em executar determinadas ações. O autor afirma que as pessoas que apresentam elevada autoeficácia tendem a ser mais confiantes em suas próprias habilidades e a perceber os problemas não como uma ameaça, mas como um desafio a superar.  Por ser considerada um fator protetivo, esse construto é frequentemente utilizado na discussão do envelhecimento saudável.
Esse estudo realizou uma revisão da literatura dos últimos 10 anos, nas bases de dados PubMed, Medline Complete e PsycInfo (APA), procurando identificar pesquisas referentes ao envelhecimento e autoeficácia do idoso, assim como os principais instrumentos utilizados nessas investigações. Os autores utilizaram os seguintes descritores: self-efficay AND elderly AND gerentology. Quinze estudos foram qualificados para a revisão.
Os trabalhos sugerem que os efeitos negativos de saúde, característicos ao envelhecimento, influenciam de modo negativo os resultados de autoeficácia, indicando ainda a redução da Autoeficácia Intelectual em função da passagem do tempo. Destacam que a autoeficácia percebida pode sofrer prejuízos em função de características sociais, como estereótipos negativos relacionados à idade. Nesse sentido, os autores apontam como sendo relevante as características dos grupos em que os idosos estão inseridos, pois quando cercados por pessoas que desacreditam suas habilidades em dominar uma ação, a percepção de autoeficácia do idoso poderá ser comprometida.
Foi encontrada relação entre autoeficácia percebida e condições de saúde e bem-estar. A baixa autoeficácia geral percebida está associada à depressão, enquanto que alta autoeficácia geral percebida à felicidade e bem-estar. Ficou demonstrada relação positiva entre religiosidade e autoeficácia geral, visto que um alto nível de espiritualidade levou a um maior nível de autoeficácia. Além disso, idosos não institucionalizados apresentaram melhores índices de autoeficácia percebida quando comparados a idosos residentes em instituições de longa permanência. Todos os artigos analisados empregaram escalas em seus estudos, contudo percebeu-se uma grande variação na escolha do instrumento usado para avaliar a autoeficácia. Os autores ressaltam a necessidade da criação de medidas que considerem as particularidades próprias do envelhecimento e frisam que dos quinze artigos selecionados, apenas um utilizou instrumento específico para o público idoso.
Considerando que a autoeficácia pode ser descrita como um facilitador importante, mediando os eventos estressores característicos do envelhecimento; é necessário discutir intervenções que promovam o desenvolvimento de crenças adaptativas de autoeficácia em idosos. Os estudos apontaram que a participação em redes sociais e grupos comunitários, intervenção de inserção tecnológica e atividades de aprendizagem contribuem para o aumento dos índices de autoeficácia nessa população. Estratégias dessa natureza possibilitam que pessoas idosas adquiram novas habilidades de enfrentamento e promovem um envelhecimento bem-sucedido. Portanto, pesquisas sobre autoeficácia em idosos se mostram relevantes uma vez que se tornam importantes recursos na construção de políticas públicas de saúde.
         Apesar das perdas e declínios impostos pelo envelhecimento, essa fase do desenvolvimento também pode proporcionar reorganizações e reais aquisições de novas aptidões. A Psicologia da Saúde pode contribuir para esse processo, favorecendo o envelhecimento saudável através da busca de estratégias para a promoção da saúde e a atenção às especificidades dos idosos.

quinta-feira, 28 de março de 2019

Avaliação da qualidade de vida em idosos submetidos ao tratamento hemodialítico


Takamoto, A. Y., Okubo, P., Bebendo, J., & Carreira, L. (2011). Avaliação da qualidade de vida em idosos submetidos ao tratamento hemodialítico. Revista Gaúcha de Enfermagem, 32(2), 256-262. Doi: 10.1590/S1983-14472011000200007

Resenhado por Uquênia Lemos Brito

A Doença Renal Crônica (DRC) é a destruição progressiva e irreversível da função renal, tendo como alguns causadores a diabetes mellitus e a hipertensão Arterial. Entre os tratamentos disponíveis, tem-se a hemodiálise, cujo processo consiste na filtração do sangue, realizado de forma extracorpórea por intermédio de uma máquina. Esse tratamento que é contínuo e limitante pode ocasionar conflitos psicossociais, como alteração da imagem corporal, frequentes internações hospitalares, perspectiva de uma morte potencial, restrições alimentares, além de possíveis alterações na vida pessoal e familiar. Sendo assim, há uma necessidade de uma adaptação à nova rotina, na qual pacientes e familiares precisam absorver informações, indicações e prescrições, o que pode desencadear ansiedade, cansaço e estresse, alterando a qualidade de vida.
Diante do cenário de envelhecimento populacional brasileiro, observa-se que a maioria dos pacientes com DRC estão entre a população de 40 e 80 anos de idade, o que mostra a importância da avaliação da qualidade de vida nessa faixa etária. Aliado a essa complexa situação, é importante acrescentar as dificuldades impostas pelo avançar da idade. Dessa forma, o objetivo do estudo foi avaliar a qualidade de vida dos idosos com insuficiência renal crônica, submetidos ao tratamento de hemodiálise.
Trata-se de uma pesquisa quantitativa, de caráter descritivo exploratório, com idosos em tratamento por DRC em um serviço especializado em hemodiálise de Guarapuava, Paraná. Da amostra de 40 idosos, 29 (72,5%) foram homens e 11 (27,5%) mulheres, com idade média de 68,7 anos, com variação entre 6,5 anos (61-83) anos. A coleta de dados foi realizada através da aplicação do instrumento de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-brief), o qual é composto por 26 perguntas e que estão divididas em quatro domínios: Físico, Psicológico, Social e Meio Ambiente.
Os resultados foram obtidos através de um escore analógico, variando de 0 a 100, em que quanto maior o escore, maior a qualidade de vida, os quais tiveram suas análises realizadas com o auxílio do software Statistica 7.1. Analisando os domínios do questionário, o maior escore diz respeito ao domínio social (70,42) e o menor, ao domínio físico (49,37), o que mostra que a qualidade de vida desses idosos apresentou-se baixa, com variações de acordo com os domínios pesquisados. Pela análise também se percebe que esses domínios não podem ser tratados como um problema isolado, o escore baixo físico influenciou os demais domínios, afetando todo contexto de vida da pessoa, tendo como consequência uma baixa na qualidade de vida dos participantes. Observou-se que os idosos que tinham alterações biológicas, como fadiga, dificuldades para dormir, sintomas desagradáveis por conta da hemodiálise, assim como a retirada ou excesso de líquidos no corpo, apresentaram alterações no domínio psicológico, tais como: mudança de humor, depressão, além de também mostrarem mudanças no escore do meio ambiente, como: incômodo com ruídos, a ausência de participação em locais de lazer e a falta de prática de exercícios físicos.
Diante da análise, observa-se importância da percepção que cada idoso tem sobre o impacto da doença na sua vida pessoal e familiar, principalmente pela longa e sofrida adaptação à patologia e tratamento. Assim, a Psicologia da Saúde deve promover medidas e/ou intervenções psicológicas com esses idosos, no sentido de desenvolver estratégias de readequação para uma melhora na qualidade de vida, além de auxiliar na produção pesquisas sobre o tema.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Esperança e Qualidade de Vida em idosos


Martins, R., & Mestre, M. (2014). Esperança e qualidade de vida em idosos. Millenium, 47, 153-162.

Resenhado por Sara Andrade

Ao longo da vida, os indivíduos constroem representações mentais daquilo que virão a ser ao envelhecer. Esse processo de adaptação dos idosos consiste em aderir a uma série de comportamentos e conceitos como: estabelecimento de objetivos, sentido de vida, esperança e bem-estar (Fonseca, 2008). Dentre estes, a esperança configura como variável psicológica de bastante interesse para estudos. A definição da mesma está ligada com a ideia de crenças, a qual seria uma crença no acontecimento de resultados positivos e na capacidade do indivíduo de atingir esses mesmos objetivos.
Estudos anteriores demonstram que a esperança possui potencial para terapêutica, funcionando como importante preditor de saúde e qualidade de vida (Martins & Santos, 2008). A qualidade de vida seria também, portanto, um construto importante para entender e estudar a terceira idade. Em função disso, o estudo buscou identificar os níveis de esperança e qualidade de vida em idosos, bem como quais seriam seus fatores determinantes.
                Tratou-se de um estudo quantitativo, não experimental e descritivo-correlacional. Foi utilizada uma amostra por conveniência composta por 100 idosos, residentes do centro do país, em dois grupos: institucionalizados (n = 50) e idosos residentes na comunidade (em domicílios) (n= 50). A maioria dos idosos era do sexo feminino (69%), com uma média de idade de 84,3 anos. Utilizaram como instrumentos uma ficha sociodemográfica, a Escala de Esperança e por uma Grelha de Avaliação da Qualidade de Vida dos Idosos disponibilizada pela Direção Geral de Saúde em 2003.
Os resultados apontaram que a população estudada, maioritariamente feminina, tinha uma média de idade de 81 anos, era predominantemente composta por viúvos, com baixos níveis de instrução; 89% dos idosos tinham filhos, sendo que a maioria com  mais de 2. A maior parte destes idosos viviam sozinhos. Em contrapartida, aqueles que residem na comunidade possuíam idades inferiores há 81 anos, apresentavam habilitações literárias básicas, dividiam-se entre os que vivem sós e os que viviam com o cônjuge, e tendo entre 2 a 3 filhos. Em relação aos que moram em instituições, verificou-se que suas idades eram superiores há 81 anos, menos habilitados para leitura, e com mais de 3 filhos. Ambos os grupos percebem o seu estado de saúde como mau ou indiferenciado, e classificam a preocupação da família como sendo pouca ou muito pouca.
Os níveis de esperança encontrados divergiram entre os participantes. Contudo, 55% dos idosos apresentaram níveis elevados (> 53 pontos), 7% moderados (entre 50 e 53 pontos) e 38% baixos (< 43 pontos). Do mesmo modo, a maioria (92%) dos idosos apresentou boa qualidade de vida, porém esta foi superior nos idosos residentes na comunidade. Os autores também evidenciaram que os fatores determinantes com significância estatística com relação à esperança foram apenas: o número de filhos (ter mais de 3 filhos), ter percepção de um melhor estado de saúde e índices mais elevados de qualidade de vida.
O estudo da esperança frente ao envelhecimento parece ser relevante na medida em que ela pode funcionar como fator protetivo, bem como estratégia de enfrentamento diante das incertezas vivenciadas pelos idosos, seja institucionalizados ou aqueles que vivem em suas próprias casas. A qualidade de vida também parece se relacionar a níveis maiores de esperança. Desta forma, a Psicologia da Saúde tem o papel de integrar conhecimentos sobre a correlação dos construtos, para futuras analises e propostas interventivas nesse campo.

terça-feira, 26 de março de 2019

A instituição hospitalar e as práticas psicológicas no contexto da Saúde Pública: notas para reflexão


Ribeiro, J. C. S., & Dacal, M. D. P. O. (2012). A instituição hospitalar e as práticas psicológicas no contexto da Saúde Pública: notas para reflexão. Revista da SBPH,15(2), 65-84.

Resenhado por: Renata Elly

A presença da psicologia nos hospitais faz parte da história e do desenvolvimento dessa ciência. Assim, compreender como tais instituições surgiram possibilita melhor entendimento sobre a constituição do conceito de hospital. Os primeiros espaços onde se originaram os hospitais não tinham exatamente o caráter de assistência em saúde. Primeiramente, apresentavam assistência social eminentemente religiosa, exerciam a função de separar e excluir do convívio social aqueles que ameaçavam a coletividade. Somente a partir do século XVIII foram consolidadas as bases dos hospitais atuais. Dessa forma, políticas de “desospitalização” foram implantadas, favorecendo a racionalização da oferta em serviços hospitalares, a redução do tempo de internação, bem como o fechamento ou a fusão de alguns hospitais.
Diante dessas transformações, a prática brasileira em saúde, com a implantação da rede SUS (Sistema Único de Saúde), passa a se defrontar com um fator bastante significativo: a constatação de carências e necessidades em torno da formação superior para a atuação no serviço público. Começa então um movimento para que as instituições educacionais não priorizassem apenas a assimilação de conhecimentos básicos, mas que também a aquisição de atitudes e valores associados a uma compreensão mais ampla da prática profissional, para uma atuação condizente com os princípios e diretrizes do SUS. Sob essa nova perspectiva, as equipes tornaram-se multidisciplinares e o profissional da psicologia passou a ser convocado para atuar na saúde pública, inserindo-se nos mais diversos contextos: saúde mental, saúde geral, penitenciárias, regulação/gestão, entre outros. Com isso, os autores apontaram a necessidade de questionar o quanto essa nova política de assistência foi de fato incorporada nas práticas profissionais, e o quanto a mera formação de equipes multidisciplinares é insuficiente para a concretização dos princípios norteadores do SUS.
Um estudo realizado por Spink, Bernardes, Santos e Gamba (2010) abordou a inserção do psicólogo na saúde pública por meio de um levantamento de motivações responsáveis pela inserção dos psicólogos na rede pública de saúde. Dentre os achados, destacaram-se as motivações relativas à ocorrência de concursos e a falta de horizontes no mercado de trabalho. Os resultados obtidos a partir de entrevistas com os psicólogos atuantes na rede SUS naquele período revelaram que pouco mais de 27,49% dos psicólogos entrevistados identificavam-se com a área da saúde pública, 14,45% mencionaram falta de horizontes em outras áreas, 12,32% relataram trajetórias pessoais e/ou convites que viabilizaram o ingresso no SUS.
Ainda em relação aos dados da pesquisa referida, tem-se que 14.407 profissionais da Psicologia se encontravam inseridos na rede SUS, com uma média nacional de 10,08% do número total de psicólogos que possuem algum vínculo com o setor público de saúde. A partir de tais dados é possível afirmar que o SUS representa uma parcela importante do mercado de trabalho, absorvendo um número significativo de profissionais formados e em atividade.
Portanto, é necessária uma formação mais abrangente que abarque os princípios. A formação em psicologia da saúde é também importante para a atuação nesses espaços, uma vez que objetiva aplicar conhecimentos e técnicas psicológicas no cuidado em saúde, prevenção e promoção de saúde. Além disso, pode ser necessário pensar em ações políticas da classe de psicólogos na inserção mais efetiva de suas práticas no espaço da saúde pública, para que seja cada vez mais reconhecida a importância desse profissional nesses serviços.

segunda-feira, 25 de março de 2019

Transtorno mental comum na população idosa: pesquisa de base populacional no Município de Campinas, São Paulo, Brasil


Borim, F. S. A., Barros, M. B. A., & Botega, N. J. (2013). Transtorno mental comum na população idosa: pesquisa de base populacional no Município de Campinas, São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública29(7), 1415-1426. doi: 10.1590/S0102-311X2013000700015

Resenhado por Millena Bahiano

O número de idosos no Brasil tem aumentado nos últimos anos e associado ao processo de envelhecimento da população percebe-se também o aumento dos agravos concernentes à saúde física e mental do idoso, principalmente, entre aqueles que se encontram em condição de vulnerabilidade social. A partir do momento que se envelhece os problemas de saúde tendem a aumentar e o risco ao acometimento de transtornos ansiosos e depressivos, doenças crônicas, declínio cognitivo, quedas e isolamento social podem ocorrer mais facilmente.
Os transtornos mentais comuns se referem ao conjunto de sintomas psiquiátricos não psicóticos caracterizados por sintomas e queixas somáticas como irritabilidade, fadiga, insônia, dificuldade de concentração, esquecimento, ansiedade e nervosismo Em geral, os usuários dos serviços de atenção básica à saúde apresentam uma alta incidência de transtornos mentais comuns e geralmente esses sintomas são pouco compreendidos e identificados, o que compromete o diagnóstico e tratamento precoce da desordem mental. Apesar da alta prevalência, tais transtornos têm sido pouco estudados na população idosa.
O presente estudo buscou identificar a prevalência do transtorno mental comum e os fatores associados na população idosa, bem como compreender o impacto da perturbação mental comum no estado geral de saúde dos idosos, a fim de que haja uma melhor compreensão dos profissionais de saúde e orientação no planejamento de intervenções. A amostragem da pesquisa foi por conglomerados e realizada em dois estágios, e ao fim do processo foram analisados 1.432 idosos com idade média de 69,9 anos, sendo 57,2% do sexo feminino. Para a coleta dos dados foram utilizados questionários demográficos, socioeconômicos e de comportamentos relacionados à saúde e morbidades, além do instrumento Self Reporting Questionnaire 20 (SRQ-20) para a investigação do transtorno mental comum.
Dentre os principais resultados encontrados verificou-se uma maior prevalência de transtorno mental comum nas mulheres, donas de casa, desempregados e nas pessoas com idade igual ou superior a 80 anos e com renda inferior a 0,5 salário mínimo. Também se associou positivamente ao transtorno mental comum a presença de morbidades e os idosos ativos ou insuficientemente ativos apresentaram menor prevalência a esse tipo de sofrimento mental. Na análise do SRQ-20, viu-se que sentir-se inútil, cansado, chorar em demasia, perder o interesse pelas coisas e ter pensamentos de morte estiveram significativamente associados ao transtorno mental comum na população idosa.
Para a Psicologia da Saúde se faz importante o conhecimento destas variáveis para que, cada vez mais, os transtornos mentais comuns possam ser identificados precocemente e estratégias de prevenção e promoção à saúde mental do idoso sejam elaboradas de maneira assertiva pelos profissionais da saúde.



sábado, 23 de março de 2019

Consideração Empática e Tomada de Perspectiva para o Perdão Interpessoal

Riqué, J., Camino, C., Formiga, N., Medeiros, F., & Luna, V. (2010). Consideração Empática e Tomada de Perspectiva para o Perdão Interpessoal. Interamerican Journal of Psychology, 44(3), 515-522.

Resenhado por Michelle Leite

                Este estudo verificou empiricamente um modelo teórico das relações entre a consideração empática, a tomada de perspectiva do outro e a atitude para o perdão interpessoal. A empatia é um fenômeno multidimensional e relaciona-se à adoção do ponto de vista do outro e diferenciá-lo do seu próprio, compreender motivações e necessidades do outro e atribuir atitudes e comportamentos ao outro. Entre as suas dimensões estão: a tomada de perspectiva do outro e a consideração empática. A primeira entende-se como a capacidade de diferenciação dos pontos de vista, e a segunda é a capacidade de simpatizar com o outro e de se motivar para ajudá-lo. Ambas, apesar de formarem o construto global da empatia, são processos psicológicos diferentes.
            Através de uma perspectiva cognitiva, o perdão pode ser definido como a capacidade de relevar o ressentimento e desenvolver compaixão para com um ofensor. Um importante fator presente no processo de perdão é o reframing. Este refere-se a uma mudança de pensamento da pessoa ofendida sobre a situação e o ofensor. Fazem parte do processo de reframing a consideração empática e a tomada de perspectiva. Enquanto a consideração empática atua na intensidade da mágoa, a tomada de perspectiva do outro reorganiza o pensamento sobre a mágoa sofrida. O resultado do reframing ajuda na redução da dor e possibilita o surgimento de uma disposição para o perdão.
            O estudo foi realizado com 200 participantes, com idades entre 14 e 46 anos, em sua maioria mulheres (69,5%), na cidade de João Pessoa-PB. Os instrumentos utilizados na coleta foram: a Escala de Consideração Empática e de Tomada de Perspectiva do Outro da Escola Multidimensional de Reatividade Interpessoal de Davis, a Escala do Perdão, o Item do Perdão e um questionário demográfico. Quanto à análise de dados, foram realizadas estatísticas descritivas e foram computados e avaliados os indicadores estatísticos para o Modelo de Equações Estruturais.
            Os resultados indicaram que a consideração empática relacionou-se positivamente com a tomada de perspectiva, o grau de perdão e a intensidade da mágoa. A tomada de perspectiva, por sua vez, relacionou-se positivamente com o perdão, mas negativamente com a intensidade da mágoa. Por fim, as variáveis dependentes, o grau de perdão e intensidade da mágoa, relacionaram-se negativamente entre eles. Diante desses achados, os autores confirmaram o modelo proposto no objetivo do estudo, corroborando que a consideração empática relaciona-se positivamente com a tomada de perspectiva e ambas influenciam positivamente o perdão.
            Este tipo de pesquisa evidencia que o perdão não constitui um processo automático, espontâneo e baseado unicamente nos afetos. A perspectiva cognitiva defende que é preciso razão, ou seja, processo cognitivo, para mostrar compaixão e alcançar o perdão. Esse processo ocorre mediante exercícios cognitivos que possam reenquadrar a vítima e o ofensor numa nova perspectiva, de modo que o exercício cognitivo preceda os afetos. Nessa concepção, achados como estes orientam os psicoterapeutas cognitivos a trabalharem exercícios terapêuticos que se direcionem para a consideração empática e para a tomada de perspectiva, pois, só assim, a vítima refletiria sobre si mesma, sobre o ofensor e sobre a injustiça sofrida, se tornando mais propensa ao perdão.
           

sexta-feira, 22 de março de 2019

Aspectos positivos na Terapia Cognitivo-Comportamental de Grupo para idosos: uma revisão sistemática da literatura/ Positive aspects in Cognitive-Behavioral Group Therapy for elderly: a systematic review of the literature


Freitas, E., Barbosa, A., & Neufeld, C. (2016). Positive aspects in Cognitive-Behavioral Group Therapy for elderly: a systematic review of the literature. Revista Brasileira de Terapia Cognitiva Comportamental, 8(2), 86-99.

Resenhado por Mariana Serrão

         Ao longo do tempo a velhice foi vista como uma fase de declínio do indivíduo. Entretanto, desde a década de 1980 essa visão está sendo alterada. A terceira idade passou a ser considerada uma fase como qualquer outra na qual há desenvolvimento, mudança, aquisição, extinção e manutenção de comportamentos. A partir dessa nova perspectiva da terceira idade sugere-se como importante o desenvolvimento da psicoterapia em grupo para idosos, utilizando a abordagem cognitiva comportamental.           A psicoterapia em grupo deve além de tratar das doenças e dos sintomas, trazer para idosos os aspectos positivos do envelhecimento, bem como caraterísticas positivas do indivíduo e estratégias de enfretamento, desenvolvimento de habilidades, solução de problemas. Essa compreensão da terceira idade para além de tratamento de doenças e sintomas é denominada como envelhecimento positivo.
        O presente estudo teve como objetivo geral fazer uma análise sistemática dos construtos e processos positivos presentes na literatura sobre Terapia Cognitivo Comportamental em Grupo (TCCG) com pessoas idosas.
       Os resultados obtidos mostraram que a produção de TCCG com idosos é quase exclusivamente centrada no tratamento dos sintomas relacionados com doenças, especialmente depressão e ansiedade. Isso acontece, provavelmente, porque são transtornos comuns nesta faixa etária. Encontraram também estudos relacionados ao Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e sobre dores crônicas. Também muito comum em idosos, a dor crônica deve ser pauta da psicoterapia em pacientes da terceira idade. No que diz respeito aos aspectos positivos, os mais encontrados nos artigos são: qualidade de vida, satisfação com a vida e coping.
Além disso, o presente estudo questiona o fato dos aspectos positivos aparecerem nos artigos de forma secundária, confirmando que a maioria dos trabalhos são feitos relacionados à doença e sintoma. Sugere-se que mais trabalhos científicos sejam produzidos e que o objetivo da terapia seja voltado também para o desenvolvimento de estratégias de enfretamento para lidar de modo mais saudável com as questões da terceira idade e não apenas com a redução ou eliminação dos sintomas. É papel do psicólogo da saúde desenvolver junto ao indivíduo, por meio de técnicas, métodos para lidar com a doença de forma que essa experiência seja menos dolorosa e limitante.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Por que as crianças são maltratadas? Explicações para a prática de maus-tratos infantis na literatura

Gomes, R., Deslades, S. F., Veiga, M. M., Bhering, C., & Santos, J. F. (2002). Por que as crianças são maltratadas?: Explicações para a prática de maus-tratos infantis na literatura. Cadernos de Saúde Pública18, 707-714.

Resenhado por Mariana Menezes

A violência é um fenômeno que se constitui como um problema de saúde pública na maior parte do mundo. O Brasil está entre as nações que se destacam na mortalidade por homicídio ou lesões intencionais. Além disso, no país, a violência é a principal causa de morte de crianças a partir de cinco anos e de adolescentes. Alguns tipos de violências cometidas contra crianças e adolescentes podem não provocar a morte, mas resultar em outros tipos de lesões físicas ou causar graves danos emocionais. A violência doméstica ou intrafamiliar é uma delas e faz parte do cotidiano de muitas crianças e adolescentes, em grande parte das vezes, de forma oculta.
A referida pesquisa conduziu uma revisão da literatura a fim de compreender como os maus-tratos cometidos contra crianças e adolescentes vêm sendo explicados no campo da saúde, especialmente na área de saúde infantil. Para isso foi feito um levantamento em três revistas nacionais representativas da Pediatria. Foram considerados todos os artigos que abordavam, especificamente, os maus-tratos cometidos contra crianças, não sendo incluídos os que abordavam questões relacionadas, simultaneamente, a crianças e adolescentes. Ao final, 14 trabalhos foram analisados através do método de análise de conteúdo.
Os autores apontaram nos resultados que diversos tipos de maus-tratos contra as crianças são em sua maioria de teor doméstico, de forma que os pais ou parentes da criança são os agressores. Além disso, constataram que os maus-tratos infantis podem ser explicados em termos de reprodução das experiências de violência familiar. De acordo com essa perspectiva, pessoas que sofreram maus-tratos quando crianças, tornam-se adultos agressores, contribuindo para a perpetuação da violência. Desta forma, pais que sofreram maus-tratos na infância estariam mais predispostos a cometer os mesmos tipos de violência que sofreram contra seus filhos. Há fortes evidências de que pais que sofreram abuso sexual na infância têm mais chances de cometer abuso sexual com seus filhos. Do mesmo modo, mães que sofreram abuso na infância tendem a ser coniventes com o companheiro abusador de seus filhos assumindo uma postura omissa, evitando denunciar ou confrontar o agressor.
A ideia de violência como produto de desajustes familiares, psíquicos e do alcoolismo também tem servido de explicação para os maus-tratos contra crianças. Acerca da negligência cometida por algumas mães, por exemplo, vertentes afirmam que estas geralmente são jovens e despreparadas para a maternidade, além disso, na maioria dos casos, a gravidez foi indesejada. Quanto ao alcoolismo, em geral, os autores relatam que ele acaba ocasionando violências incontroláveis e, no caso de ser crônico, provocando negligência e abandono dos cuidados com o filho. Outra explicação para os maus-tratos infantis é de que estes podem ser influenciados por dificuldades econômicas. Comportamentos agressivos costumam ser mais evidentes em populações de baixa renda e isso pode ser atribuído ao estresse decorrente das dificuldades econômicas que essas pessoas enfrentam.
Por fim, cabe ressaltar que nenhum dos modelos explica por si só as causas dos diversos tipos de violência infantil, assim, é importante que os profissionais da saúde tomem cuidado com possíveis reducionismos sobre o assunto. Quanto à relevância da pesquisa para o campo da Psicologia da Saúde, destaca-se que possibilitou o conhecimento de características dos agressores e de situações que parecem compor a etiologia dos comportamentos violentos contra crianças. Isso pode contribuir para a realização de intervenções diretivas por parte de profissionais da saúde que visem a prevenção dos maus-tratos infantis ou até mesmo o tratamento daqueles que já cometeram tais agressões, evitando a sua recorrência.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Depressão em Idosos Institucionalizados no distrito de Bragança

Vaz, S. F. A., & Gaspar, N. M. S. (2011). Depressão em idosos institucionalizados no distrito de Bragança. Revista de Enfermagem Referência, (4), 49-58.

Resenhado por Maria Clara

Devido ao fenômeno de envelhecimento da população em geral, a depressão na velhice tem sido uma temática bastante discutida por ser comumente detectada neste grupo. No entanto, ao contrário do que se pensa o senso comum, a depressão não faz parte do processo natural de envelhecimento. Na população idosa institucionalizada, a prevalência de depressão gira em torno de 48% e apesar disso, é sub-diagnosticada e sub-tratada. Algumas disposições psicossociais se configuram enquanto fatores de risco para a depressão, como luto, isolamento socioafetivo, falta de confidente, dificuldade em realizar as tarefas de vida diária, entre outras. Estar institucionalizado também tem sido apontado como fator de risco para o desenvolvimento da depressão.
Apesar disso, a institucionalização provoca debate controverso na literatura. Extensa parte das investigações se ocupam em avaliar apenas a vida do idoso pós-admissão, ignorando seu histórico anterior, empregando um caráter de sistema fechado às instituições. Enquanto outros autores afirmam que as instituições não devem ser culpadas pelos problemas econômicos estruturais, pois alguns idosos encaram de maneira positiva a nova condição. Experiências de solidão, dificuldades em realizar atividades de vida diária, dificuldades cognitivas e falta de atividades de lazer também estão associados a presença de sintomatologia depressiva
Este estudo avaliou a presença de fatores de risco para depressão em 186 idosos institucionalizados em Bragança, com média de idade de 80,96 e 61% do sexo feminino. Os resultados indicaram que nível cognitivo, menor adaptação, menor participação em atividades de lazer, e maior dependência nas atividades de vida diária tiveram correlação negativa significativa com depressão. Maior solidão se correlacionou positivamente com a depressão, sendo o índice que melhor prediz sua presença. Também foi encontrado que o sexo feminino obteve maior pontuação nos níveis de depressão.
Os achados revelam a institucionalização induz o estresse, agudizando os níveis de depressão devido ao isolamento social, distanciamento dos parentes e solidão. O desfecho mais grave para depressão na velhice é a mortalidade, e por ser sub-diagnosticada acaba passando despercebida dos olhares dos profissionais. Diante do exposto, faz-se necessária a presença de um psicólogo nas equipes de cuidado dos idosos institucionalizados, afim de contribuir no conhecimento acerca dos sintomas e impactos da depressão, auxiliando na melhoria das práticas dos profissionais. Promovendo assim, estratégias de cuidado que reduzam o isolamento social, a solidão e engajem os idosos em atividade de lazer, produzindo assim uma melhor qualidade de vida.

terça-feira, 19 de março de 2019

Religiosidade e estilo de vida de hipertensos da Estratégia de Saúde da Família

Lago, R. C., Abdala, G. A., & Meira, M. D. D. (2017). Religiosidade e estilo de vida de hipertensos da Estratégia de Saúde da Família. Rev. enferm. UFPE online11(supl. 6), 2604-2611.

Resenhado por Maísa Carvalho

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma patologia crônica caracterizada pelos níveis elevados da pressão sanguínea nas artérias. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde (2017), estima-se que 1 a cada 4 indivíduos, em sua maioria mulheres, idosas e com baixos níveis de escolaridade, são diagnosticados com a HAS. É cientificamente comprovado que o aumento da idade eleva as chances de se adquirir pressão alta. Entretanto, estilos de vida mais saudáveis que incluam alimentação regrada e prática regular de atividade física, por exemplo, servem como forma de prevenção e se constituem como a base para o tratamento da hipertensão, principalmente se aliados à práticas religiosas, comumente associadas a melhores índices de saúde.
O presente estudo se propôs a descrever o perfil da religiosidade e estilo de vida de hipertensos em uma unidade de Estratégia de Saúde da Família localizada na zona sul de São Paulo/SP. Participaram 70 indivíduos, de maioria do sexo feminino, com média de 55 anos de idade (DP = 12,4), de cor parda (n = 41) e com baixa escolaridade, tendo 72,9% (n = 51) realizado apenas até 8 anos de estudo. Ademais, 61,4% (n = 43) realizam acompanhamento médico regular e fazem uso de medicação específica.
Os instrumentos utilizados foram o Índice de Religiosidade de Duke (DUREL) e o Questionário de Estilo de Vida Fantástico (QEVF). O DUREL abarca, através de 5 itens, as dimensões de Religiosidade Organizacional (RO), Religiosidade Não-organizacional (RNO) e Religiosidade Intrínseca (RI). Quanto ao QEVF, este mensura o estilo de vida com base em 9 dimensões: família e amigos, atividade física, nutrição, cigarro e drogas, álcool, sono, cinto de segurança, estresse e sexo seguro, introspecção e trabalho. Quanto menor for o escore gerado pela soma dessas dimensões, maior a necessidade de mudança.
Os resultados da DUREL apontaram que a população estudada apresentou altas frequências percentuais para a religiosidade em todas as dimensões. Na RO, 27,1% (n = 19) dos participantes vão à igreja ou outras instituições religiosas mais de uma vez por semana, na RNO, 40% (n = 28) afirmaram que realizam atividades religiosas individuais diariamente e, por fim, quanto a RI, 91,4% (n = 64) sentem a presença de Deus ou do Espírito Santo em suas vidas (RI1), 77,1% (n = 54) afirmaram que suas crenças religiosas estão por trás de todas as suas maneiras de viver (RI2) e 68,6% (n = 48) declararam que se esforçavam totalmente para viver a religião em todos os aspectos da vida. Quanto à classificação geral do estilo de vida “Fantástico”, o estilo dos hipertensos se apresentou como “bom” (48%, n = 33,6), representando que o estilo de vida proporciona benefícios para a saúde. Nesta amostra, os indivíduos afirmaram não exercer comportamentos insalubres como, por exemplo, usar cigarro e drogas (M = 14,05; DP = 1,61) e álcool (M = 11,64; DP = 1,22). Para comportamentos salubres, a prática de atividade física (M = 4,09; DP = 2,38) foi a dimensão que apresentou maior alteração, evidenciando que essa amostra se exercita muito pouco.
Diante do exposto foi possível evidenciar que comportamentos saudáveis e a religiosidade se apresentam como fatores que, especialmente juntos, resultam em maiores níveis de saúde geral, bem como auxiliam no ajustamento e manutenção de doenças já instaladas - a exemplo da hipertensão. Sendo assim, a Psicologia da Saúde pode auxiliar tanto em termos de pesquisa, visto que são temas associados a questões de saúde pública, como em termos de ser um promotor de ações de prevenção, promoção e ajustamento à enfermidade.

segunda-feira, 18 de março de 2019

O impacto de intervenções psicológicas positivas no bem-estar em idosos saudáveis/ The impact of positive psychological interventions on well-being in healthy elderly people

Sutipan, P., Intarakamhang, U., & Macaskill, A. (2016).The impact of positive psychological interventions on well-being in healthy elderly people. Journal of Hapiness Studies, 18, 269-291. doi: 10.1007/s10902-015-9711-z

Resenhado por Luana C. Silva-Santos

Na realidade atual, os idosos têm feito parte de uma parcela populacional em progressivo crescimento, em contrapartida também têm sido mais expostos
à perda de funções biopsicossociais. Nesse sentido, o declínio da saúde mental leva a um risco maior de baixa qualidade de vida e bem-estar prejudicado, enquanto características psicológicas positivas tendem a associar-se a uma vida mais saudável tanto do ponto de vista físico como mental. Assim, pesquisas têm contribuído ao fornecer as denominadas intervenções psicológicas positivas (Positive Psychological Interventions, ou PPI) que se caracterizam por serem intervenções destinadas a cultivar emoções, cognições e comportamentos positivos. Tais pesquisas têm evidenciado que PPI são úteis no aumento do bem-estar e qualidade de vida em geral, induzindo níveis de felicidade, por exemplo.
Diante do exposto, Sutipan, Intarakamhang e Macaskill (2016) objetivaram avaliar o impacto de PPI sobre o bem-estar em idosos saudáveis via revisão sistemática. Para isso, utilizaram três bases de dados eletrônicas (PsycINFO, Scopus e Web of Science) com os seguintes critérios de inclusão: intervenção psicológica positiva, medição do bem-estar, idade acima de 60 anos e estar no idioma inglês. Os trabalhos foram avaliados por dois revisores independentes que avaliaram alcance, eficácia, adoção, implementação e manutenção (tradução literal de reach, efficacy, adoption, implementation and maintenance, RE-AIM) das PPI. Ao final, oito artigos sobre PPI foram analisados, sendo que somente dois estudos foram classificados como de alta qualidade, quatro de qualidade moderada e dois de baixa qualidade. Em relação aos demais critérios, 85% atenderam os critérios de alcance, 89% os critérios para eficácia, 73% os de adoção, 67% os de implementação e 4% os de manutenção.  A partir dos níveis de avaliação RE-AIM, direções para pesquisas futuras e implicações são descritas.
Dado o aumento no número de idosos observado a nível mundial, intervenções que visem a promoção de saúde e bem-estar nessa faixa etária são de particular relevância. A redução das doenças mentais na velhice e o retardo do declínio de funções características dessa fase têm papel importante no aumento da qualidade de vida dessa população, além de diminuir os gastos em saúde.


sábado, 16 de março de 2019

Pensamentos ruminativos, ansiedade e depressão em universitários


Bezerra, M. L. O., Siquara, G. M., & Abreu, J. N. S. (2018). Relação entre os pensamentos ruminativos e índices de ansiedade e depressão em estudantes de psicologia. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, 7(2), 235-244. doi: 10.17267/2317-3394rpds.v7i2.1906

Resenhado por Lizandra Soares

A experiência universitária pode ser compreendida como um momento de amadurecimento e crescimento intelectual e pessoal, da mesma forma que tem potencial para precipitar o surgimento de desordens mentais. Bezerra, Siquara e Abreu (2018) afirmaram que as situações vivenciadas na universidade quando percebidas como eventos estressores servem como gatilho para o desenvolvimento de transtornos mentais, em especial quando relacionadas a padrões de pensamentos repetitivos desadaptados à realidade, o que pode configurar-se como ruminação. A ruminação se relaciona mais intimamente com a tristeza que com outros afetos negativos e surge em resposta a situações sofríveis, sendo caracterizada como uma consequência mal adaptativa que resulta em estratégias ineficazes para lidar com as emoções negativas. Os pensamentos ruminativos se relacionam com a depressão e a ansiedade. No público universitário a presença desse tipo de padrão de pensamento pode se resultar na queda do desempenho de alunos e dificuldade de inserção no mercado de trabalho, além de representar risco a saúde mental. O conceito de saúde mental utilizado pelos autores está ligado à noção de resiliência emocional, ou seja, trata-se da capacidade que o homem tem de vivenciar a dor, a tristeza e desapontamento de maneira positiva, permitindo o desenvolvimento pessoal e social. Indivíduos com altos índices de pensamentos ruminativos tendem a apresentar dificuldades para resolver problemas e prolongam seus episódios depressivos.
Com o objetivo de avaliar aspectos da saúde mental, ansiedade e depressão em estudantes Universitários de Psicologia, bem como o grau de pensamentos ruminativos, os autores realizaram uma pesquisa transversal com 166 estudantes universitários de psicologia em 03 instituições de ensino superior da Cidade de Salvador (Bahia). Para tanto foram aplicadas escalas psicométricas (Questionário de Ruminação e Reflexão - QRR, Inventário de Ansiedade Traço-Estado - IDATE e Inventário Beck de Depressão - BDI). Utilizou-se análises descritivas e inferenciais tais como correlação de Sperman e teste t de student. O construto de ruminação mostrou relação forte com sintomas de ansiedade e depressão, tais dados sugerem que os altos índices de pensamentos ruminativos poderiam predizer a presença de sintomas de depressão e ansiedade. Além disso, os níveis de ansiedade e depressão na população universitária, quando comparado a população geral, foram elevados.
Como limitações do estudo, foram apontados o número reduzido de indivíduos na amostra, assim como a aplicação exclusiva no curso de psicologia, o que limita a possibilidade de generalização. Neste sentido, estudos com uma amostra maior e com a inserção de outros cursos permitiriam a comparação entre os grupos e a generalização dos resultados para a comunidade universitária. No que se refere a psicologia da saúde, os achados dessa pesquisa permitem a reflexão sobre a necessidade da criação e adoção de medidas preventivas e/ou intervenções psicológicas com esse grupo, no sentido de desenvolver estratégias de enfrentamento mais efetivas, o que permitiria aprimorar a regulação emocional e, consequentemente, diminuir dos níveis de ansiedade e depressão.

sexta-feira, 15 de março de 2019

Evidências de validade da versão brasileira da Center for Epidemiological Scale – Depression (CES-D) em idosos brasileiros


Batistoni, S. S. T., Néri, A. L., & Cupertino, A. P. (2010). Validade e confiabilidade da versão brasileira da Center for Epidemiological Scale – Depression (CES-D) em idosos brasileiros. Psico-USF, 15(1), 13-22.

Resenhado por Laís Santos

Sabe-se que a depressão é um transtorno mental que acomete mais de 300 milhões de pessoas no mundo em diferentes faixas etárias. A avaliação desse construto psicológico é realizada a partir dos comportamentos e sintomas a ele associados. Escalas e inventários são importantes ferramentas para o rastreio de tais sintomas, voltando-se por exemplo para a identificação da intensidade e frequência dos mesmos. Em geral, as medidas usadas para aferir a depressão são construídas baseadas em amostras clínicas, sendo menos comuns os instrumentos adaptados para rastrear os sintomas depressivos na população geral
Nesse contexto, a Center for Epidemiological Scale – Depression (CES-D) é uma escala mundialmente utilizada, que se baseia nos critérios diagnósticos do DSM-IV. Ela é composta por 4 fatores (humor depressivo, afetos positivos, sintomas sintomáticos e problemas interpessoais), contendo 20 itens e opções de resposta que variam de 0 a 3 pontos. A CES-D foi adaptada e avaliada quanto às suas características psicométricas em diversos países e em diferentes amostras. Entre os idosos, os sintomas de maior prevalência são sintomas somáticos, perda de interesse, fadiga, problemas de memória e desesperança, queixando-se menos de sintomas bastante comuns em populações mais jovens, como o humor deprimido. Desse modo, escalas de rastreio como a CES-D quando aplicadas em idosos podem auxiliar o rastreio dos sintomas depressivos nessa fase do desenvolvimento, viabilizando uma melhor compreensão do transtorno. Com isso, dando continuidade a um estudo nacional anterior, o estudo em questão objetivou avaliar as evidências de validade da CES-D (validade de construto e critério) tendo como base a versão brasileira da Geriatric Depression Scale (GDS).
O estudo em questão contou com uma amostra de 347 idosos, sendo 73,5% de idosos do sexo feminino, com média etária de 71,9 anos (DP = 8,45) e 45% eram alfabetizados ou tinham o primário completo. Foram realizadas análises fatoriais confirmatórias para confirmar o ajuste e a conformação estrutural da escala. Os resultados encontrados apontaram a presença de três fatores, sendo que o fator “afetos negativos” foi o fator de maior capacidade explicativa. O segundo fator de maior capacidade explicativa corresponde aos sintomas volitivos e somáticos, corroborando a literatura que aponta que entre os idosos tais sintomas tendem a se apresentar isolados ou associados aos afetos depressivos. Por fim, concluiu-se que a versão da CES-D apresentou bons índices de validade de construto, confiabilidade, mostrando-se uma escala útil para o rastreio da depressão também entre a população idosa brasileira. Contudo, são necessários novos estudos que avaliem evidências de validade desse instrumento, por exemplo, em amostras de idosos que residem em asilos ou que estão hospitalizados, para assim, evidenciar possíveis adequações e variações necessárias. De todo modo, o uso de instrumentos validos e fidedignos deve ser priorizado em qualquer contexto de avaliação psicológica, independente do foco do estudo ou da amostra, pois dessa forma serão produzidos dados confiáveis e, consequentemente, estratégias eficazes poderão ser traçadas.


quinta-feira, 14 de março de 2019

Mulheres com lúpus eritematoso sistêmico, sintomas depressivos e apoio social


Santos, L. M.,O. (2017). Mulheres com lúpus eritematoso sistêmico, sintomas depressivos e apoio social. Psicologia, Saúde e Doenças. 18 (1) 39-54.

Resenhado por Joelma Araújo

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença rara, que pode afetar todos os órgãos. Além disso, é autoimune, o que torna sua causa incerta, porém sabe-se que seu desenvolvimento pode decorrer da interação entre suscetibilidade genética, influências hormonais e causas ambientais. O curso da doença varia em cada indivíduo, sendo imprevisível para o mesmo paciente, pois ao longo do tempo pode ter períodos de remissão de sintomas e exacerbação. O diagnóstico se baseia em critérios clínicos e imunológicos.
            Estudos apontam que pacientes com LES, devido aos muitos danos sofridos decorrentes dos efeitos colaterais dos medicamentos e a própria manifestação da doença, possuem uma severa diminuição da qualidade de vida, prejuízos na realização das atividades diárias, além de serem prejudicados no âmbito psicológico, por depressão e ansiedade. Sendo que, sintomas depressivos nos pacientes com LES têm um caráter multicausal e multifatorial e podem permanecer despercebidos, pois muitos deles se confundem com as manifestações da doença. Pesquisas também sugerem o apoio social como um importante recurso externo para o indivíduo, ajudando no enfrentamento do estresse decorrente da doença.
Assim, este estudo tem como objetivo geral verificar a associação entre sintomas depressivos e apoio social percebido em pacientes com LES. Utilizou-se um questionário sociodemográfico, o Inventário de Depressão de Beck e a Escala de Apoio Social Percebido. Participaram 79 mulheres com média de idade de 35,7 anos. Destas, 53,17% (n=42) apresentaram níveis de sintomas depressivos de leve a grave. Quando se verificou a percepção de apoio social, os resultados mostraram níveis altos pelas participantes do estudo.
Encontrou-se também moderada correlação entre sintomas depressivos e apoio social (r=-0,45, p>0,001), de modo que quanto maior a frequência de apoio menor os escores de depressão. Diante disso, sugere-se que o apoio social, assim como já descrito em outros estudos, agiu como fator protetivo para a população estudada. Importante ressaltar que o apoio social pode influenciar para uma melhor adaptação, bem como ajudar a gerir a situação de forma eficaz.
Desta forma, os autores destacam que o aparecimento de sintomas depressivos na população portadora de LES tem um caráter multifatorial e multicausal, exigindo dos profissionais uma avaliação cuidadosa do paciente, levando em consideração não apenas os aspectos clínicos, mas também fatores psicossociais. Portanto, é fundamental à atuação do psicólogo da saúde junto equipe médica no intuito de contribuir para melhor compreensão dos aspectos emocionais vivenciados pelos pacientes, assim como poderá  estimular a família a dar o suporte social necessário e auxiliar o paciente no enfrentamento do adoecimento.


quarta-feira, 13 de março de 2019

Tratamento do transtorno de ansiedade social em crianças e adolescentes

Isolan, L., Pheula, G., Manfro, G.G.. (2007). Tratamento do transtorno de ansiedade social em crianças e adolescentes. Revista de Psiquiatria e Clínica. 34 (3), 125-132.

Resenhado por Iracema Freitas

O transtorno de ansiedade social (TAS) ou fobia social, é um transtorno de ansiedade que se caracteriza por um medo acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho, em que há necessidade de exposição ou avaliação de pessoas estranhas. O indivíduo teme agir de um modo que lhe seja humilhante ou embaraçoso e as situações fóbicas são evitadas ou enfrentadas com intensa ansiedade e sofrimento. Segundo dados epidemiológicos, há maior prevalência de TAS entre adolescentes que em crianças.  O TAS é um transtorno psiquiátrico comum na infância e na adolescência. Um estudo longitidunal realizado por Costello et al. (1999), evidenciou que transtornos como ansiedade social, pânico, depressão e uso de substâncias aumentavam com a idade, ao passo que o transtorno de ansiedade de separação e o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade tendiam a diminuir com a idade. As modalidades de tratamento para o transtorno vão da psicoterapia ao uso de fármacos.
O objetivo do artigo foi avaliar as diferentes abordagens terapêuticas, tanto psicoterápicas quanto farmacológicas, utilizadas nesse transtorno. A pesquisa realizou uma revisão bibliográfica através da base de dados PubMed, Lilacs, PsycINFO e Cochrane Library, até junho de 2006, utilizando os termos “social anxiety disorder” OR “social phobia” AND  “child*” AND “adolesc*”. No tratamento farmacológico, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) e outras classes de antidepressivos, assim como benzodiazepínicos e determinados anticonvulsivantes, mostraram-se eficazes no tratamento do TAS no adulto Para os adolescentes, os dados sugeriram o uso dos ISRSs como o tratamento farmacológico de primeira escolha nessa condição, porém haveria poucos estudos voltados para crianças e adolescentes. Já no tratamento psicoterápico, a TCC apresentou maiores evidências de eficácia, o que foi atribuído à sua metodologia, já que envolve a utilização de entrevistas estruturadas, avaliadores independentes, protocolos padronizados de tratamento e múltiplas medidas de desfecho.
O TAS é um transtorno comum e que acomete grande parte da população em suas várias fases do desenvolvimento. Para a psicologia da saúde, a adolescência é uma fase que requer uma atenção, tanto no sentido profilático quanto terapêutico. Afinal, trata-se de um período que se caracteriza pela tentativa de ajustamento social, sexual, identitário e de construção de recursos psíquicos para o enfrentamento de situações adversas ao longo da vida. Ao identificar as causas do adoecimento, torna-se possível elaborar maneiras de intervenção e tratamento, tornando a promoção de saúde e bem estar será mais efetiva.

terça-feira, 12 de março de 2019

Fatores psicológicos positivos estão ligados ao envelhecimento cognitivo bem sucedido entre idosos vivendo com HIV/AIDS - Positive psychological factors are linked to successful cognitive aging among older persons living with HIV/AIDS

Moore, D. J., Fazeli, P. L., Moore, R. C., Woods, S. P., Letendre, S. L., Jeste, D. V., & Grant, I. (2018). Positive psychological factors are linked to successful cognitive aging among older persons living with HIV/AIDS. AIDS and Behavior, 22(5), 1551-1561. doi: 10.1007/s10461-017-2001-5
Resenhado por Geovanna Turri

Com o passar dos anos o número de idosos infectados por HIV tem crescido em todo o mundo, principalmente nos Estados Unidos. Acredita-se que até 2030, 73% dos indivíduos infectados pelo HIV (HIV+) tenham mais de 50 anos. Sabe-se que envelhecer com o HIV envolve interações complexas entre uma variedade de fatores a nível individual, incluindo funcionamento neurocognitivo, status funcional, saúde mental, comportamentos de saúde e questões psicossociais. Transtornos neurocognitivos associados ao HIV são observados em pouco mais da metade dos adultos HIV+ e adultos mais velhos com HIV+ também enfrentam desafios psicossociais, incluindo maior isolamento social do que suas contrapartes não infectadas pelo HIV (HIV-). Juntos, esses fatores de risco se traduzem em um fator de desequilíbrio para perturbações na capacidade de se manter independente em relação a atividades diárias, interferindo na qualidade de vida relacionada à saúde, bem-estar e envelhecimento cognitivo bem sucedido. Diante disso, os autores desse trabalho buscaram caracterizar o envelhecimento cognitivo bem sucedido (ECS) entre idosos HIV+ e idosos HIV-, de modo a determinar associações com fatores psicológicos positivos (FPP) e qualidade de vida relacionada à saúde (QVS).
Entrevistaram-se 99 moradores idosos (com 50 anos ou mais) de uma comunidade da Califórnia que eram HIV+ e 46 idosos que eram HIV-. Investigou-se os fatores psicológicos positivos enquanto ausência de: comprometimento neurocognitivo (determinado por uma bateria neurocognitiva abrangente, com sete domínios), diagnóstico atual de transtorno depressivo maior (diagnosticado por meio da Composite International Diagnostic Interview) e dependência em atividades instrumentais de vida diária (determinada com base no declínio e necessidade de assistência estabelecidos no questionário de Lawton e Brody, 1969). Foram comparados fatores psicológicos positivos e QVS em quatro grupos: HIV+/ ECS+, HIV+/ ECS-, HIV-/ECS+ e HIV-/ECS-.
Os resultados mostraram que os FPP foram identificados em 29% da amostra de HIV+. O grupo HIV+/ ECS+ apresentou escores mais altos em 8 de 10 medidas de fatores psicológicos positivos, bem como melhor QVS em comparação com o grupo HIV+/ ECS-. Além disso, os participantes do HIV+/ ECS+ tiveram pontuações comparáveis ​​sobre os HIV-. Menos participantes HIV+ do que HIV- preencheram os critérios da ECS; no entanto, o nível de fatores psicológicos positivos entre o grupo HIV+/ ECS+ foi comparável à amostra do HIV-. Os achados apresentam oportunidades para intervenções otimizarem fatores psicológicos positivos e melhorarem potencialmente o envelhecimento cognitivo bem sucedido entre idosos HIV+.
O presente estudo se mostra de extrema relevância dentro da Psicologia da Saúde ao fornecer suporte empírico para a associação entre envelhecimento, saúde e qualidade de vida. Em conclusão, este estudo amplia a literatura limitada sobre ECS e HIV usando critérios definidos. Os achados sugerem que pesquisas futuras busquem entender melhor o curso do ECS, de forma a identificar seus preditores longitudinais entre as pessoas mais velhas que vivem com HIV.

segunda-feira, 11 de março de 2019

Transtornos ansiosos e depressivos em pacientes idosos com tontura crônica de origem vestibular

Peluso, E. T. P., Quintana, M. I., & Ganança, F. F. (2016). Transtornos ansiosos e depressivos em pacientes idosos com tontura crônica de origem vestibular. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, 82(2), 209-214.

Resenhado por Gabriela de Queiroz

Considerada o principal sintoma das doenças vestibulares, a tontura pode ser provocada por inúmeros fatores. Por ser mais comum entre idosos, seu aparecimento ou aumento da gravidade pode estar relacionado, por exemplo, ao envelhecimento de sistemas responsáveis pelo equilíbrio corporal, bem como a existência de doenças crônicas associadas ao uso contínuo de medicamentos. Diante deste quadro, é importante destacar que a tontura pode aparecer de forma intensa, causando perda de equilíbrio e quedas, e geralmente, se apresenta combinada à sintomas auditivos e neurovegetativos. Além disso, em muitos casos, a tontura é acompanhada por intenso sofrimento emocional e sintomas depressivos e ansiosos. Essa combinação de sintomas físicos e psicoemocionais tende a restringir as atividades sociais e físicas dos pacientes, que desta forma, apresentam mais chances de permanecer sintomáticos.
Devido à carência de pesquisas que abordaram a associação da tontura de origem vestibular e transtornos mentais em idosos, o presente estudo objetivou avaliar a prevalência de transtornos de ansiedade e depressão em pacientes idosos com tontura crônica de origem vestibular.  Realizou-se um estudo de corte transversal, no período de setembro de 2012 a setembro de 2013, em que foram avaliados 44 pacientes com idades entre 60 e 90 anos, que apresentavam queixa de tontura há pelo menos três meses e com diagnóstico de vestibulopatia confirmado por meio de avaliação clínica. Para avaliar os transtornos depressivos e ansiosos utilizou-se o Composite International Diagnostic Interview, versão 2.1 (CIDI 2.1) e as demais variáveis foram verificadas por meio de questionário sociodemográfico e clínico.
Nos resultados, verificou-se que 88,6% dos pacientes eram do sexo feminino, 40,9% da amostra era casada, e apenas um paciente exercia trabalho remunerado, ao passo os demais já estavam aposentados. Quanto aos dados relacionados aos transtornos mentais, foram identificados, nos últimos 12 meses, quadros de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) em 18,2% (n = 8) dos pacientes, fobias específicas em 15,9% (n = 7) da amostra e depressão em 11,4% (n = 5) dos idosos. Não houve ocorrência de pacientes com agorafobia, fobia social e transtorno do pânico.
É possível considerar que além da tontura, o estudo identificou outros fatores de risco para justificar a ocorrência de tais transtornos na população idosa, como por exemplo, a maioria de sexo feminino e a aposentadoria. Ainda assim, o estudo aponta para a existência de comorbidade entre doenças vestibulares e transtornos mentais, destacando a necessidade de uma abordagem interdisciplinar para estes pacientes. A abordagem da psicologia nestes casos seria essencial para aliviar o sofrimento emocional causado pela doença, além de auxiliar o idoso a retomar suas atividades, o que contribuiria na diminuição ou alivio dos sintomas e, principalmente, na melhoria da qualidade de vida.



sábado, 9 de março de 2019

O impacto da lombalgia crônica na performance física, comportamento evitativo e sintomas depressivos: estudo comparativo em uma população de idosos turcos

Telci, E. A., Yagci, N., Can, T., & Cavlak, U. (2013). The impact of chronic low back pain on physical performance, fear avoidance beliefs, and depressive symptoms: A comparative study on Turkish elderly population. Pakistan Journal of Medical Sciences, 29(2), 560-564. doi: 10.12669/pjms.292.3196.

Resenhado por Danielle Alves Menezes

A dor lombar crônica (DLC) é um dos mais importantes problemas de saúde em adultos idosos. A prevalência de lombalgia no idoso pode variar entre 13% e 49%. Esses pacientes frequentemente relatam uma diminuição do nível de mobilidade devido à dor. A mobilidade é um fator vital para que se possa realizar as atividades da vida diária. Sabe-se que limitações da mobilidade decorrentes da dor podem afetar a condição médica e o bem-estar do idoso.
Estudos demonstram que a incidência de sintomas depressivos é maior em pessoas idosas com dor lombar e cervical em comparação com pessoas idosas que não experimentam dor. Entretanto, atualmente a relação entre variáveis psicológicas e desempenho físico não foi totalmente explicada.  
O estudo de Telci et al. (2013) teve como objetivo mostrar o impacto da dor lombar crônica (DLC) na mobilidade, comportamento evitativo e sintomas depressivos em idosos, e descrever as relações entre essas medidas. Foram utilizados testes da Back Performance Scale para avaliar o desempenho físico dos participantes, Questionário de Crenças de Medo e Evitação relacionado à atividade física e a Escala de Depressão Geriátrica
Medidas de uma amostra de 91 idosos turcos com DLC comparadas a um grupo sem DLC com média de idade similiar evidenciaram que o nível de desempenho demonstrado pelo primeiro grupo foi inferior ao dos idosos sem lombalgia. Os grupos tiveram a seguinte composição: 66,1% mulheres e 19 homens (33,9%) com DLC, e 14 mulheres (40%) e 21 homens (60%) nos controles sem lombalgia. Os resultados evidenciaram a associação da presença dos sintomas depressivos à piora da performance física, e fracamente ao medo do movimento, demonstrando que a detecção precoce da depressão pode evitar piora da funcionalidade na terceira idade.
A psicologia da saúde, como especialidade que investiga pressupostos da relação entre condições de saúde/doença e variáveis psicológicas, poderá contribuir para que as lacunas no entendimento dessa relação possam ser reduzidas. Além disso, poderá munir, cada vez mais, os profissionais com evidências científicas acerca dos fatores psicológicos que podem favorecer a piora do quadro clínico em idosos com DLC.