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segunda-feira, 29 de abril de 2019

Terapia cognitivo-comportamental para transtornos de ansiedade: Uma atualização sobre as evidências empíricas / Cognitive-behavioral therapy for anxiety disorders: An update on the empirical evidence


Kaczkurkin, A. N., & Foa, E. B. (2015). Cognitive-behavioral therapy for anxiety disorders: An update on the empirical evidence. Dialogues in clinical neuroscience, 17(3), 337-346.

Resenhado por Luanna Silva

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem se mostrado eficaz no tratamento dos transtornos de ansiedade, sendo associada ao aumento da qualidade de vida em pacientes que apresentam esse diagnóstico. Essa abordagem terapêutica é constituída pela integração de conceitos e técnicas cognitivas e comportamentais, sendo caracterizada pela curta duração e por ser focal. A TCC visa à mudança de respostas emocionais desadaptativas através da modificação dos pensamentos e comportamentos. O presente estudo apresentou uma visão geral de duas das principais estratégias utilizadas na TCC para o tratamento de transtornos de ansiedade, a exposição e a terapia cognitiva.
A técnica de exposição é baseada na teoria do processamento emocional. Essa teoria postula que o medo é representado por redes associativas, mantidas por comportamentos evitativos, que armazenam informações sobre o estímulo temido, respostas de medo e o significado dos estímulos e respostas. Quando a estrutura de medo é patológica, a relação entre estímulo, resposta e significado não corresponde com a realidade. Desse modo, a finalidade da terapia de exposição é modificar a estrutura patológica. Para tanto, primeiro a ativa, para em seguida fornecer novas informações que contrariam as associações irrealistas; espera-se que dessa forma o medo diminua. A exposição pode ser imaginária, in vivo ou interoceptiva. Usualmente, a terapia de exposição é de curta duração, sendo finalizada em cerca de dez sessões.
Uma grande quantidade de pesquisas tem apresentado a eficácia e efetividade da terapia de exposição para tratamento de diferentes transtornos ansiosos. Por exemplo, em pacientes com fobia específica, a exposição in vivo é considerada a melhor escolha. Em casos de transtorno do pânico, a exposição interoceptiva é amplamente usada, visando desconfirmar a ideia de que as sensações físicas levarão a eventos prejudiciais.
Por sua vez, a terapia cognitiva, baseada na teoria desenvolvida por Aaron T. Beck, defende que que o modo como vemos e interpretamos a realidade influencia na forma como sentimos e nos comportamos. Assim, a terapia cognitiva objetiva tratar os pensamentos distorcidos, buscando alcançar uma avaliação realista, a fim de produzir melhora no humor e no comportamento. Para alcançar esse intento, propõe uso de técnicas como identificação de crenças distorcidas, exame de evidências, reestruturação cognitiva, psicoeducação, entre outras. Tarefas de casa são próprias da terapia cognitiva e possibilitam que o paciente coloque em prática as habilidades aprendidas durante a sessão.
Em pacientes diagnosticados com transtorno de ansiedade generalizada, as técnicas cognitivas ajudam a diminuir a preocupação excessiva. Estudos sugerem que em associação com a exposição, quando comparada com o uso de relaxamento e lista de espera, são encontrados melhores resultados a longo prazo. No transtorno de ansiedade social, a terapia cognitiva possibilita que o paciente identifique e mude fatores cognitivos associados a manutenção do transtorno.
Considerando que os transtornos ansiosos são altamente prevalentes na população e causam intenso sofrimento aos pacientes, é importante que psicólogos da saúde se debrucem sobre esse tema, buscando conhecer e pesquisar tratamentos que apresentem evidências de eficácia e efetividade, como a terapia cognitivo-comportamental.

domingo, 28 de abril de 2019

Intervenções cognitivo-comportamentais no câncer de mama: Relato de uma experiência


Seabra, R. C., Aguiar, M., Rudnicki, T. (2016). Intervenções cognitivo-comportamentais no câncer de mama: relato de uma experiência. Revista saúde e Desenvolvimento Humano, 4, 69-77. doi: 10.18316/2317-8582.16.20

Resenhado por Uquênia Lemos Brito

 O câncer de mama (CM) é a multiplicação desordenada de células anômalas que ocorre na região/glândula mamária, sendo predominante entre mulheres com faixa etária a partir dos 50 anos. O diagnóstico deste tipo de câncer é um dos mais temidos pelas mulheres, pois traz um forte estigma de morte, além de afetar a percepção da sexualidade, feminilidade e também provocar possíveis alterações psicológicas. Assim, o presente trabalho tem por objetivo apresentar o relato de uma experiência em prática clínica, com intervenções baseadas na terapia cognitivo-comportamental (TCC), visando a diminuição do sofrimento psíquico em função do CM e consequentemente o aumento da qualidade de vida da paciente.
O estudo traz o relato de uma paciente de 42 anos que durante o tratamento de câncer de mama apresentou ansiedade elevada e medo de morrer, sendo assim foi sido encaminhada à psicóloga de uma instituição para pacientes oncológicos. Inicialmente, foi explicado à paciente o modelo cognitivo e a inter-relação entre pensamento, emoção e comportamento. Logo após norteou-se o plano terapêutico com a utilização das seguintes técnicas: Psicoeducação, Relaxamento, Parada do Pensamento e Questionamento Socrático.
Para uma melhor compreensão dos processos psicológicos apresentados pela paciente, foram coletados dados através dos conteúdos das sessões e levantamento dos Inventários Beck de Depressão e Ansiedade (BDI e BAI). Em relação à sintomatologia depressiva os escores mantiveram-se estáveis e dentro da normalidade (escore: 10, nível mínimo), já a ansiedade mostrou uma redução significativa durante a psicoterapia, em que no 1° mês de atendimento obteve-se 28 pontos (nível moderado), no 6° mês 16 pontos (nível leve) e no 12º mês, sete pontos (nível mínimo). Os atendimentos foram realizados durante o período de 14 meses, totalizando 54 sessões.
A paciente também relatou a associação do surgimento do câncer com algumas questões emocionais vivenciadas e demonstrava intensa culpa. Nesta questão, a psicoeducação foi utilizada para trabalhar as possíveis causas reais do câncer. O treinamento de técnicas de relaxamento foi utilizado com intuito de reduzir os sintomas decorrentes do tratamento: indisposição, náuseas, dores e reações de ansiedade. Em relação ao pensamento catastrófico relacionado ao prognóstico (“medo de morrer”), utilizou-se a parada do pensamento aliada ao questionamento socrático, com a identificação dos dados clínicos da realidade. Desta forma foram percebidas as possibilidades reais de prognóstico, contribuindo para uma redução dos níveis de ansiedade. 
A TCC é uma abordagem que pode ser utilizada pela Psicologia da Saúde, pois se fundamenta cientificamente como uma abordagem terapêutica estruturada, diretiva, com curta duração de tempo, que apresenta metas claras e definidas pelo psicólogo e paciente. Sendo assim, pode ser eficaz para a Psicooncologia devido à urgência do manejo dos prejuízos emocionais causados pelo câncer de mama, promover o fortalecimento das estratégias de enfrentamento necessárias e, como consequência, gerar uma melhoria na qualidade de vida dos pacientes.

sábado, 27 de abril de 2019

TCC nos transtornos alimentares: a visão dos psicoterapeutas sobre o tratamento


Oliveira, L. L., & Deiro, C. P. (2013). Terapia cognitivo-comportamental para transtornos alimentares: a visão de psicoterapeutas sobre o tratamento. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva15(1), 36-49.

Resenhado por Sara Andrade

Os transtornos alimentares são caracterizados por medo de engordar, redução ou aumento exponencial de forma voluntária do consumo alimentar.   O consumo excessivo é seguido de estratégias de descarte alimentar como uso de diuréticos e laxantes, bem como indução de vômitos. Dentre os transtornos, os mais comuns são anorexia e bulimia, que se tornaram problemas de alta prevalência nas últimas décadas. Não há ainda a descoberta de uma etiologia específica para esses quadros, o que leva a utilização de modelo multidimensional de tratamento.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) se tornou uma das principais abordagens para o tratamento dos transtornos alimentares (Duchesne & Almeida, 2002). O tratamento consiste em técnicas para redução da ansiedade, automanejo dos comportamentos e modificação de distorções cognitivas. Porém, apesar de reconhecida como possibilidade de tratamento dessas condições psicopatológicas, não há muitos estudos controlados que demonstrem os resultados da TCC. Por isso, o objetivo do estudo foi investigar a visão de psicoterapeutas cognitivo-comportamentais sobre o uso do referencial teórico da TCC no tratamento de tais condições.
Utilizou-se o delineamento de Estudo de Casos Múltiplos (Yin, 1993). Participaram quatro psicoterapeutas especializados em TCC, que haviam atendido no mínimo cinco casos de transtornos alimentares, tendo utilizado a TCC para o tratamento. Os psicoterapeutas responderam individualmente a uma entrevista (desenvolvida para o estudo) com oito questões abertas, no intuito de investigar vantagens e limitações do tratamento dos transtornos alimentares através da TCC, como se dá o vínculo paciente-terapeuta, como a família influencia e se envolve no processo terapêutico, participação em equipe interdisciplinar, abordagem da etiologia da doença ao longo da terapia, critérios de alta e necessidade de mais trabalhos científicos na área. Por fim, as entrevistas foram analisadas por meio da técnica de Análise de Conteúdo de Bardin.
Os resultados apontaram a importância do vínculo terapêutico, da interdisciplinaridade e do envolvimento familiar no tratamento. Entre as vantagens da TCC, foram citadas a resposta rápida, a eficácia das técnicas, a objetividade da abordagem, a psicoeducação sobre os transtornos e instrução nos métodos de enfrentamento. Quanto às limitações, foram mencionados aspectos como pouca motivação dos pacientes, a não aceitação persistente dos pacientes quanto a sua estrutura corporal/biológica (no caso daqueles com real tendência para o ganho de peso), a falta de colaboração dos familiares no tratamento e questões econômicas. O principal critério de alta utilizado foi o funcionamento global adequado. Descobriu-se também um consenso na literatura quanto à importância do vínculo terapeuta-paciente para o bom desenvolvimento do tratamento, bem como a necessidade de um trabalho interdisciplinar que auxilie o paciente e os familiares na luta contra o adoecimento psicológico e alimentar.
Os autores concluíram a necessidade de novas pesquisas na área para a consolidação e ampliação do referencial teórico da TCC, visando a melhorar os resultados do tratamento. A Psicologia da Saúde, aliando-se à clínica, pode contribuir para produção de pesquisas qualitativas com o objetivo de melhor compreender como trabalham os terapeutas cognitivo-comportamentais e sua avaliação dos aspectos positivos e contraproducentes deste referencial teórico.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Relato de um caso de Transtorno Obsessivo-compulsivo infantil à luz da Análise do Comportamento


Silveira, C., & Vermes, J. (2014). Relato de um caso de Transtorno Obsessivo-Compulsivo infantil à luz da Análise do Comportamento. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 16(3), 82-92

Resenhado por Renata Elly

A literatura sobre transtorno obsessivo-compulsivo na análise do comportamento ressalta a relevância da análise funcional como ferramenta no processo terapêutico. Apesar dos critérios diagnósticos do DSM-IV auxiliarem na identificação de comportamentos considerados típicos em cada transtorno, ainda é insuficiente para o analista do comportamento, pois o terapeuta intervém procurando variáveis instaladoras e mantedoras dos comportamentos-problema do cliente.
O transtorno obsessivo-compulsivo, em uma das interpretações comportamentais proposta por Vermes e Zamignani (2012), difere as obsessões das compulsões. As obsessões são entendidas como imagens, ideias e/ou pensamentos intrusivos que produzem desconforto e ansiedade para o indivíduo. Já as compulsões são respostas, reforçadas negativamente, para prevenir ou eliminar as obsessões ou ansiedade. A principal estratégia utilizada por terapeutas comportamentais para intervenção nesse transtorno é a exposição gradual aos estímulos ansiogênicos, dando a devida atenção as contingências de reforçamento que operam sobre os comportamentos obsessivo-compulsivos.
O artigo apresenta o caso de uma criança de 5 anos de idade, do sexo feminino, que mora com os pais e a irmã de 12 anos. Ela é alfabetizada e estuda em escola particular. A queixa apresentada pelos pais é que a menina pedia muitas desculpas, emitia muita preocupação com o que iam pensar dela, vivia a se justificar sobre qualquer comportamento, exigia muita perfeição sobre si mesma e irritava-se quando errava nas brincadeiras ou atividades da escola. Além disso, demonstrava muita preocupação com que os pais a esquecessem na escola, perguntando repetidamente se chegariam atrasados, o que aconteceria se isso viesse a acontecer, etc. A mãe também relatou se sentir culpada pelo desenvolvimento desses comportamentos na filha, uma vez que, quando a filha desobedecia, anunciava que contaria sobre o seu comportamento para a professora preferida da criança.
O psicólogo que acompanhou o caso suspeitou que se tratava de TOC infantil, observando padrões de comportamentos obsessivos-compulsivos relacionados a segredos e insistentes questionamentos se a psicóloga contaria para alguém o que acontecia nas sessões.  Os comportamentos que foram alvos de intervenção da terapeuta, foram os obsessivos – compulsivos apresentados em sessão, como “você tá brava comigo?” (sic), “você tá triste comigo?” (sic), “desculpa?” (sic).
O terapeuta comportamental do caso em questão interviu não participando dos rituais que a criança estabelecia com ele, pois confirmar o que a cliente estava perguntando funcionava como alívio momentâneo da ansiedade da criança. Além disso, foi realizado sessões com a família sobre evitar as respostas às questões repetidas da criança, fazendo com que ela mesma pense e hipotetize respostas sobre suas próprias perguntas. O terapeuta também sugeriu que os pais mostrassem afeto com a criança não só após a realização de comportamentos bem sucedidos, para que a criança se sentisse amada independente do que realizasse. A partir disso, o reforçamento dessas contingências seria extinto e provavelmente os comportamentos frequentes de justificação também. Ao final do processo terapêutico a cliente demonstrou avanços na aceitação de pensamentos desagradáveis e supressão de antigos rituais. Foi enfatizado com a família a importância das intervenções apreendidas continuarem, mesmo após o término da terapia.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Terapia cognitivo-comportamental breve para sintomas de ansiedade e depressão / Brief cognitive-behavioral therapy for anxiety and depressive symptoms


Moreno, A. L., & Carvalho, R. G. N. (2014). Terapia cognitivo-comportamental breve para sintomas de ansiedade e depressão. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas10(2), 70-75. doi:10.5935/1808-5687.20140012

Resenhado por Millena Bahiano

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem psicoterápica bastante utilizada no acompanhamento de pacientes com variados tipos de adoecimento mental. A partir da compreensão diagnóstica do problema e o estabelecimento de estratégias clínicas focadas, a TCC tem apresentado bons resultados no tratamento das desordens mentais e na minoração de sintomas psicológicos ocasionados pela doença. A literatura indica que a TCC tem sido uma opção breve e eficaz, a qual gera bons resultados nos atendimentos e cuidados prestados ao indivíduo em sofrimento mental.
Este estudo objetivou avaliar o efeito dos atendimentos breves na abordagem da TCC em pacientes com sintomas de depressão e ansiedade, bem como, analisar alterações na qualidade de vida desses participantes no período da pesquisa. Para tanto, foram analisados os prontuários de atendimento de pacientes de uma clínica-escola de um curso de Psicologia. Como critério de inclusão foram selecionadas as pessoas com idade superior a 18 anos e que já haviam relatado sintomas depressivos e ansiosos em seus atendimentos. Por fim, 21 pessoas constituíram a amostra final da pesquisa. Os instrumentos utilizados na investigação da ansiedade, depressão e qualidade de vida foram: o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), Inventário de Depressão de Beck (BDI), Inventário de Pensamentos Ansiosos (IPAn) e o Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-Bref). A fim de efeitos comparativos, todos os instrumentos relacionados foram aplicados na primeira sessão e reaplicados na última sessão.
Nos resultados, observou-se que a média de idade dos participantes foi de 35,6 anos (DP = 13,02), 47,61% possuíam o ensino médio completo. A maioria da amostra foi composta por pessoas do sexo feminino (85,6%) e de solteiras (66%). Dentre os achados apontados, viu-se que antes da intervenção a ansiedade foi avaliada em nível moderado e após as intervenções, os participantes tiveram a ansiedade diminuída para nível leve. A avaliação dos sintomas depressivos não se alterou na amostra, permanecendo as características de depressão leve nos dois momentos de intervenção. Quanto a investigação sobre a qualidade de vida, os atendimentos breves em TCC contribuíram significativamente para a melhora da qualidade de vida no momento da pesquisa. Em suma, o estudo sugeriu que as intervenções em TCC podem auxiliar na promoção de saúde, principalmente, em locais onde ainda há uma carência de profissionais ou de recursos que limitam a possibilidade de atendimentos psicológicos mais extensos.
Ademais, o uso de intervenções nos atendimentos em saúde que sejam voltados a resolutividade do problema e melhora do quadro clínico do paciente também favorece a redução dos custos e ganhos em saúde. Para a Psicologia da Saúde, a utilização da TCC no tratamento de sintomas e transtornos psicológicos se faz relevante, além de que pode otimizar os cuidados prestados na atenção à saúde mental do indivíduo em variados espaços de promoção e recuperação de saúde.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Ansiedade Social: Do que é feita?


Postado por Mariana Menezes
Fobia Social ou Transtorno de Ansiedade Social consiste num medo acentuado de situações sociais. Nesse tipo de transtorno o medo de ser avaliado por outros e de viver situações embaraçosas é predominante. Pessoas com Fobia Social podem sentir medo de estar em contato com outras pessoas, de falar em público, de se alimentar em público ou até mesmo de assinar o próprio nome na frente de outros. Quem sofre de Fobia Social pode evitar conhecer pessoas; deixar de fazer coisas que gosta como atividade física ao ar livre, frequentar restaurantes e ir a festas; ou recusar participar de atividades importantes para o seu crescimento acadêmico ou profissional. Desta forma, a Fobia Social costuma provocar limitações diárias e sofrimento significativo. Mas do que a Fobia Social é feita? No vídeo abaixo a psicóloga Taciana dos Santos Anjo fala sobre um dos elementos que compõem a Fobia Social: o componente cognitivo. Os pensamentos que temos sobre o mundo, a respeito das outras pessoas e de nós mesmos influenciam diretamente no desenvolvimento da Fobia Social e na ocorrência dos seus sintomas. Então, como identificar tais pensamentos? No vídeo, a profissional nos orienta sobre como reconhecer os pensamentos que são mais comuns na Fobia Social, inclusive quais são os que ocorrem antes, durante e depois de situações que são consideradas ansiogênicas para aqueles que sofrem com o transtorno.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Terapia cognitivo-comportamental no manejo da desesperança e pensamentos suicidas


Marback, R. F., & Pelisoli, C. (2014). Terapia cognitivo-comportamental no manejo da desesperança e pensamentos suicidas. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 10(2), 122-129.

Resenhado por Michelle Leite.

            De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o suicídio pode ser conceituado como o ato deliberado de matar a si mesmo e se constitui como um grave problema de saúde pública. O comportamento suicida é compreendido pela ideação suicida, o planejamento para o suicídio, a tentativa de suicídio e o suicídio propriamente dito. A ideação são as cognições ligadas ao fim da própria vida; o planejamento é a fase em que o indivíduo planeja detalhes da realização do ato suicida; a tentativa é o ato, porém interrompido antes do resultado morte; e o suicídio é quando o comportamento auto agressivo resulta em morte.
            A desesperança é um dos fatores associados ao risco de suicídio. Sintoma central da depressão, é caracterizada pela a crença de um futuro sem perspectivas, perda de motivação pela vida e desejo arruinado de viver. O paciente com desesperança tende se perceber como alguém falho e sem valor, bem como analisa negativamente suas experiencias atuais e seu futuro. Pesquisas comprovam a existência da relação entre alto nível de desesperança e forte pensamento suicida.
            A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem estruturada, focal, diretiva e ativa, cuja eficácia no tratamento de diversos transtornos psiquiátricos é comprovada cientificamente. Algumas estratégias e técnicas da TCC podem ser utilizadas no manejo da desesperança e dos pensamentos suicidas: identificação de pensamentos e crenças ativadas antes da tentativa de suicídio; desenvolvimento de pensamentos adaptativos como enfrentamento nas situações estressoras; treino de habilidades para resolução de problemas e controle dos impulsos; busca de ferramentas cognitivas para identificar razões para viver e promover esperança; e promoção de estratégias que ampliem a ligação do paciente com suas redes sociais de apoio.
            Na fase inicial do tratamento, deve-se trabalhar engajamento do paciente no processo terapêutico, avaliar os riscos de comportamentos suicidas, desenvolver planos para trabalhar possíveis fatores desencadeadores de crises e transmitir esperança para o paciente. Para a avaliação do risco de suicídio alguns instrumentos podem ser úteis: a Escala de Desesperança, Escala de Ideação Suicida e a Escala de Intenção Suicida. Ainda na fase inicial devem ser realizados os planos de segurança, que são compostos pelo reconhecimento de sinais que antecedem as crises suicidas, a utilização de estratégias de enfrentamento à situação e o contato de familiares ou outras pessoas de confiança.
            A fase intermediária deve enfatizar o encorajamento do paciente através da reestruturação cognitiva e mudanças no comportamento. Outrossim, o terapeuta deve criar estratégias de intervenções comportamentais, afetivas e cognitivas, que serão responsáveis pela contenção das crises suicidas; além de identificar razões para viver, por meio do aumento da realização de atividades prazerosas e utilização de lembretes que contenham essas razões, resgatando pensamentos adaptativos durante a crise. Além disso, deve promover o desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas, bem como a redução de comportamentos de impulsividade; e aprimorar a rede social de apoio.  
Na fase final é primordial o foco na prevenção das recaídas, assim como a avaliação do aprendizado e das aplicações de todas as habilidades aprendidas pelo paciente durante a terapia para lidar com a crise suicida.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Fundamentos e aplicações da Terapia Cognitivo Comportamental com crianças e adolescentes


Pureza, J., Ribeiro, A., Pureza, J., & Lisboa, C. (2014). Fundamentos e aplicações da Terapia Cognitiva Comportamental com crianças e adolescentes. Revista Brasileira de Psicoterapia, 16(1), 85-103.
Resenhado por Mariana Serrão

A psicoterapia com crianças e adolescentes é uma área crescente nos últimos anos, principalmente como uma forma de prevenção e promoção de saúde.  A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) é uma das abordagens proposta para atendimentos infantis. Criada por Aaron Beck, propõe que o modo como o indivíduo interpreta a situação é que gera o sofrimento. O objetivo da TCC é intervir no processos distorcidos de informação e interpretação, visto que o sofrimento não é causado pelo evento em si, mas pelas interpretações que o paciente faz das situações e de si mesmo.
A TCC utilizada com crianças e adolescentes, se assemelha muito com a aplicada em adultos. Algumas características são: foco no presente, objetivo de mudança comportamental e cognitiva, sessões estruturadas, entre outros. Entretanto, algumas técnicas e recursos se diferem quando o atendimento é infantil, como por exemplo, intervenções com os pais e uso de recursos não verbais para acessar os processos cognitivos.
Geralmente as crianças e adolescentes chegam à terapia buscando auxílio para questões emocionais e comportamentais. Por este motivo, alguns aspectos são importantes para o desenvolvimento da psicoterapia: identificar e compreender as queixas das crianças; entrevista de anamnese, a qual possibilita uma compreensão completa emocional, social e de vínculos do cliente; e a partir daí a criação de um plano de tratamento.  A etapa de avaliação permite o uso de escalas e questionários que podem ser respondidos pelos pais e, a depender, pelas crianças.  Após a anamnese, a conceituação cognitiva é o próximo passo do tratamento. A conceituação cognitiva busca compreender o indivíduo, nela deve constar identificação de dificuldades atuais do paciente, fatores importantes da infância, identificar principais emoções, pensamentos e comportamentos, suas crenças, estratégias e consequências de cada situação.
Algumas técnicas são utilizadas para trabalhar com crianças e adolescentes. É aconselhável ter brinquedos que auxiliem as crianças a expressar seus pensamentos e emoções, jogos e artifícios que sirvam para fazer metáfora na técnica da reestruturação cognitiva (balança, lentes de aumento, óculos). O Baralho das Emoções pode ser utilizado como um recurso para trabalhar as emoções com os pacientes, o Relógio dos Pensamentos- Sentimento que é feito com  rostos  expressam emoções e ajuda as crianças a reconhecerem os sentimentos e compreender que  eles mudam. São feitas também técnicas de psicoeducação que tem como função orientar o paciente quanto a seu funcionamento, diagnóstico (em caso de diagnóstico), sintomas e sobre o processo de mudança. Existem também técnicas relacionadas à solução de problemas e comportamentais como; relaxamento, treino de respiração, entre outras. Ademais, os métodos para trabalhar as cognições também são aplicados com objetivo de ensinar aos pacientes a classificar os pensamentos como aqueles que “ajudam e como os que atrapalham”, procurando sempre uma forma ilustrativa e concreta para trabalhar com as crianças e adolescentes. TCC é uma abordagem da psicologia que demonstra eficácia significativa em relação a melhora de transtornos psiquiátricos, principalmente a depressão e ansiedade. Portanto é uma das mais utilizadas  pela psicologia da saúde, visto que busca estratégias e forma de enfrentar, interpretar e lidar melhor com o sofrimento.

domingo, 21 de abril de 2019

A terapia cognitivo-comportamental no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada

Moura, I. M., Rocha, V. H. C., Bergamini, G. B., Samuelsson, E., Joner, C., Schneider, L. F., & Menz, P. R. (2018). A terapia cognitivo-comportamental no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada. Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente9(1), 423-441. doi:10.31072/rcf.v9i1.557

Resenhado por Mariana Menezes

O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) tem como características principais ansiedade e preocupações persistentes e excessivas em vários aspectos da vida, sendo os principais sintomas: inquietação, fatigabilidade, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular e perturbação do sono. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem como ideia central o conceito de que as cognições influenciam e controlam as emoções e os comportamentos. Levando em consideração as características do TAG, o tratamento na TCC visa à reestruturação cognitiva e a mudança comportamental, proporcionando ao sujeito ressignificar seus problemas e ter maior controle e domínio de si.
A reestruturação cognitiva, o manejo da ansiedade e a preocupação excessiva são as principais técnicas da TCC que podem ser usadas especificamente no TAG. Na reestruturação cognitiva são trabalhados o registro de pensamentos disfuncional (RPD), a descoberta guiada, o questionamento socrático e a descatastrofização. O RPD é utilizado para auxiliar no rastreamento dos pensamentos disfuncionais e capacitar os pacientes a controlar os significados que atribuíram a eventos perturbadores e criar respostas alternativas ou racionais. A descoberta guiada é realizada por meio do questionamento socrático e tem por objetivo guiar o sujeito a um pensamento mais consciente e a uma maior compreensão a respeito do seu pensamento distorcido. Na descatastrofização, o paciente é levado a avaliar as consequências dos seus pensamentos (estimando a probabilidade de ocorrer um resultado catastrófico, bem como os seus prós e contras; desenvolvendo um plano de enfrentamento caso a catástrofe ocorra, etc.).
O manejo da ansiedade inclui relaxamento, higiene do sono e manejo do tempo. O relaxamento objetiva o alívio dos sintomas ligados ao componente fisiológico da ansiedade. Na higiene do sono os sujeitos são orientados a realizar exercícios físicos; manter uma dieta equilibrada, padronizar horários de dormir e acordar, etc. O manejo do tempo objetiva a redução da ansiedade diária por meio do estabelecimento pelo cliente de suas atividades prioritárias o que acaba gerando uma sensação de domínio em relação ao seu dia-a-dia e seus compromissos.
As técnicas que podem ser utilizadas para trabalhar a preocupação excessiva são a exposição à preocupação, a designação de um tempo para preocupação, a parada de pensamentos e a distração). A exposição à preocupação consiste em expor o paciente de forma gradativa às situações que causam preocupação através de técnicas imaginativas. Na técnica de designar um tempo para preocupar-se o paciente é orientado a escolher um mesmo local e um determinado período de tempo todos os dias para que concentre suas preocupações para esse local e horário estabelecido. A parada de pensamento consiste na interrupção dos pensamentos negativos, substituindo-os por pensamentos adaptativos e mais positivos. A distração consiste em solicitar ao paciente que se concentre de forma intensa em imagens mentais positivas e calmantes ou em algum objeto externo.
O TAG costuma afetar de modo considerável a qualidade de vida das pessoas e é capaz de desencadear uma série de prejuízos em várias áreas do funcionamento do indivíduo. A TCC, por sua vez, é uma abordagem que tem demonstrado grande eficácia no tratamento desse transtorno. Assim, sua utilização por parte dos profissionais da saúde mental pode contribuir para otimizar a saúde da população que sofre com o TAG.

sábado, 20 de abril de 2019

A Psicologia Comportamental no TEA

Camargo, S. P. H., & Rispoli, M. (2013). Análise do comportamento aplicada como intervenção para o autismo: definição, características e pressupostos filosóficos. Revista Educação Especial26(47), 639-650.
Resenhado por Maria Clara
O transtorno do espectro do autismo (TEA) é um transtorno do desenvolvimento com curso crônico, sem etiopatologia bem definida ou possibilidade de remissão espontânea. Caracteriza-se essencialmente pelas alterações nas habilidades de interação social, déficits na comunicação e empenho em padrões de comportamentos repetitivos e estereotipias. Ano após ano a prevalência do TEA vem aumentando, é estimado que 1 em cada 50 crianças de 6 a 12 anos são diagnosticadas nos EUA. No Brasil o número de diagnósticos vem aumentando segundo a experiência clínica, o que se deve provavelmente ao fato do maior acesso à conhecimentos acerca do transtornos e instrumentos de identificação precoce.
A Psicologia Comportamental, através do seu aspecto empiricista, baseando-se em evidências, têm se revelado bastante eficaz nas terapias com vistas à redução dos sintomas do TEA, além da promoção de comportamentos adequados e adaptativos. Uma das tecnologias disponíveis na terapia comportamental é a Análise do Comportamento Aplicada ou ABA (Applied Behavior Analysis), sendo empregada nos contextos de vida diária atuando na redução de comportamentos inapropriados e aumento de comportamentos apropriados. Através de procedimentos descritos especificamente para cada comportamento problema, visa estabelecer uma relação funcional, facilitando a predição e controle das variáveis que afetam e mantêm esses comportamentos. O ABA requer inúmeras e extensivas horas de intervenção intensiva, com acompanhamento de uma equipe multiprofissional para abrangência das diversas áreas do comportamento.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Terapia Racional Emotiva

Navas, J.J.R. (1981). Terapia racional emotiva. Revista Latinoamericana de Psicología13, 75-83. Recuperado em 14 de abril de 2019, de https://www.redalyc.org/html/805/80513105/.
Resenhado por Maísa Carvalho

Desenvolvida por Albert Ellis em 1954, a Terapia Racional Emotiva (TRE) é uma abordagem psicoterápica que está incluída no rol das terapias cognitivo-comportamentais de segunda geração e possui como objetivo principal intervir primeiramente nos distúrbios emocionais antes dos problemas comportamentais. É fortemente influenciada pelas filosofias estoicas e budistas, bem como por ideias advindas do neorracionalismo – que aplica a lógica e a razão à ciência. Assim, acredita que o ser humano se comporta de maneira racional e irracional, porém, apenas alcança emoções e comportamentos saudáveis quando age e pensa racionalmente.
Diferente de outras abordagens de mesma linha, a TRE postula que o pensamento e a emoção não são processos completamente diferentes, mas sim que estão diretamente conectados, visto que o pensamento costuma ser uma forma de distinção mais tranquila e menos dirigida que a emoção, a qual ocorre mais ativamente. Ambos atuam em uma relação de causa e efeito, em alguns momentos sendo a mesma coisa, de forma que o pensamento se converte em emoção e a emoção se converte em pensamento. A partir dessa lógica, considera-se que as emoções são sustentadas por cognições, pois o indivíduo sempre está reforçando seus pensamentos e/ou ideias repetidamente através de auto verbalizações e/ou conversas internas.
Para Ellis, a irracionalidade é qualquer pensamento, emoção ou comportamento que leva a consequências auto derrotistas ou autodestrutivas que podem interferir na felicidade do indivíduo ou, inclusive, gerar transtornos mentais como ansiedade e depressão. O autor identificou cerca de 11 crenças irracionais típicas sobre o ego, as pessoas e o mundo, que giram em torno de pensamentos relacionados à alta exigência, catastrofização, baixa tolerância à frustração e avaliação global do valor humano, as quais levam a condutas desadaptativas. Em contrapartida, pessoas que pensam e gerem suas emoções de maneira mais racional aceitam de modo mais tranquilo as realidades da vida, se dedicam a trabalhos produtivos e se comportam de maneira mais salubre em seus grupos sociais.
No que se refere aos aspectos técnicos desta abordagem, o psicoterapeuta utiliza a teoria clássica do A-B-C, originada da própria TRE, que sugere uma relação processual entre eventos ativadores, crenças disfuncionais e consequências (emocionais ou comportamentais), respectivamente, tendo como objetivo auxiliar o paciente a melhor compreender o caminho que origina ao distúrbio emocional. Após essa análise, mostra-se ao indivíduo quais são suas crenças irracionais, ensinando-o a analisa-las em termos mais racionais e adaptativos, dando início ao processo de reestruturação cognitiva.
Assim como outras terapias cognitivo-comportamentais, a TRE é considerada uma abordagem mais ativa e diretiva tanto por parte do psicoterapeuta quanto do paciente, podendo proporcionar ao indivíduo um trabalho árduo e de curto prazo para suas questões emocionais. Com base nessa informação, torna-se possível pensar a atuação de psicólogos clínicos e da saúde em serviços da rede pública, visto que, com poucos recursos, consegue-se obter resultados rápidos e alcançáveis. 

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Pacientes com autolesão deliberada atendidos em serviço de emergência em hospital de cuidado terciário: Análise de 13 meses de perfis clínico-psiquiátricos / Patients with deliberate self-harm attended in emergency setting at a tertiary care hospital: A 13-month analysis of clinical-psychiatric profile

Sing, S., Kumar, S., & Deep, R. (2019). Patients with deliberate self-harm attended in emergency setting at a tertiary care hospital: A 13-month analysis of clinical-psychiatric profile. The International Journal of Psychiatry in Medicine, 0(0), 1-14. doi: 10.1177/0091217419837052

Resenhado por Luana C. Silva-Santos

Os comportamentos autolesivos caracterizam-se por lesão direta e deliberada a si mesmo, sem intenção suicida. Além disso, são marcados por sofrimento psíquico intenso que atinge a vítima e sua rede social proximal, sendo mais prevalentes na juventude. Tais comportamentos têm se configurado problema de saúde pública e sido associados a comportamentos mais graves como o suicídio. Nesse sentido, o senso momentâneo de alívio proporcionado pela autolesão reforça o comportamento, para o qual o indivíduo tende a recorrer sempre que deseja sentir-se aliviado e, em ocasiões futuras, o comportamento pode agravar-se ou intensificar-se na busca pelo senso de alívio, culminando na tentativa ou suicídio propriamente dito.
Sing, Kumar e Deep buscaram descrever o padrão e o perfil clínico e psiquiátrico de pacientes que praticaram autolesão e deram entrada em uma emergência em Delhi, na Índia. Para tanto, analisaram, durante um período de 13 meses (entre janeiro de 2015 e janeiro de 2016), 109 prontuários de pacientes que cometeram autolesão. Durante o período do estudo, 132 pacientes deram entrada com casos de autolesão, sendo que 23 foram classificados como “acidentais”, restando 109 casos. Assim, dentre as emergências mentais e comportamentais atendidas nesse período, a autolesão representou 16,4% (n = 109) dos 666 prontuários registrados. A faixa etária predominante (84,4%) era de pacientes entre 18 e 39 anos, sendo que mulheres (58,7%) se lesionaram mais que os homens. Foi encontrada doença psiquiátrica diagnosticável no momento da internação em 52,3% dos pacientes, sendo mais comum o transtorno depressivo (19,3% da amostra geral), além de 12,5% dos casos apresentarem história pregressa de doença psiquiátrica. Overdose de drogas ou psicotrópicos e ingestão de produtos de limpeza de fenil ou veneno de rato foram os métodos mais comumente encontrados nos relatos. Além disso, houve diferença significativa entre os sexos (p = 0,03) para os eventos precipitadores, dos quais problemas de relacionamento interpessoal foi significativamente mais comum em mulheres (p = 0,03).

O diferencial do estudo de Sing, Kumar e Deep foi trazer informações relevantes e úteis sobre características transversais das condutas autolesivas em um contexto específico, o que traz implicações para o planejamento de intervenções na prevenção primária e secundária do contexto das emergências, contribuindo para a área.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Revisão sistemática de instrumentos para avaliação de ansiedade na população brasileira

De Sousa, D. A., Moreno, A. L., Gauer, G., Manfro, G. G., Koller, S. H. (2013). Revisão sistemática de instrumentos para avaliação de ansiedade na população brasileira. Avaliação Psicológica, 12(3), 397-410.
Resenhado por Laís Santos
            A ansiedade, embora seja uma condição essencial para a vida humana impulsionando-as a agirem frente às adversidades, pode ser desproporcional ao evento estressor, gerando prejuízos que podem, consequentemente, levar ao surgimento dos chamados Transtornos de Ansiedade (TA). Além de serem os transtornos psiquiátricos mais comuns, os TA provocam mudanças significativas no cotidiano das pessoas, comprometendo, por exemplo, o trabalho e relacionamento social das mesmas. Quando não tratados adequadamente, os TA tendem a se cronificar e até mesmo se relacionar ao desenvolvimento de outros transtornos psiquiátricos, tais como a depressão. Com isso, salienta-se a importância de uma avaliação e tratamentos adequados, a fim de proporcionar melhor prognóstico e menos prejuízos para aqueles que sofrem com TA. Nesse sentido, faz-se necessário que profissionais clínicos e do meio acadêmico utilizem instrumentos de avaliação adequados durante todo o processo de rastreio e diagnóstico dos TA, assegurando assim resultados confiáveis. Dessa forma, o artigo em questão teve como objetivo avaliar, por meio de uma revisão sistemática da literatura, os instrumentos disponíveis para mensurar a ansiedade no contexto nacional.
            Foram realizadas buscas nas bases (Index Psi, PePSIC, SciELO, LILACS, PsycINFO e PUBMED) com o cruzamento dos termos ansiedade, pânico, fobia, preocupação ou medo e instrumentos, escala, teste, inventário, entrevista, questionário, checklist ou screen. Nas bases internacionais (PsycINFO e PUBMED), utilizaram-se os mesmos descritores traduzidos para o inglês, somados aos termos Brazil, Brazilia ou Portuguese. Não houve limitação de data para a seleção dos estudos. Como critério de inclusão primeiro, foram selecionados artigos cujo foco centrava-se em instrumentos de avaliação de ansiedade ou sintomas de ansiedade, através da leitura dos títulos e resumos dos documentos. Foram excluídos todos os estudos duplicados, estudos dos quais não foi possível acessar o texto completo nem o resumo, outras revisões, pesquisas que tinham como foco a avaliação de outros construtos que não a ansiedade, estudos com amostras não nacionais, e estudos que usaram instrumentos para aferir a ansiedade em não-humanos. Além disso, para ampliar o leque de medidas, incluíram-se testes psicológicos aprovados pelo Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), bem como, a consulta a de duas pesquisadoras especialistas na área.  
A amostra final contou com 99 estudos, destes, 69 apresentavam instrumentos de avaliação, os quais foram analisados a partir de dois eixos: caracterização e evidências de adequação das medidas. Em geral, os instrumentos encontrados são frutos de adaptações transculturais, apresentam estilo psicométrico, são autoaplicados e adequados para diferentes faixas etárias e contextos. A maior parte das medidas apresentaram vários índices de validade e precisão elencados. No entanto,  em alguns casos não foi possível identificar nenhuma evidência de validade e precisão nos estudos, por exemplo, em relação à Escala de Ansiedade Pré-operatória de Yale Modificada (EAPY-m) e a Fear of Negative Evaluation Scale.

Por fim, cabe enfatizar a importância da produção de pesquisas como essa, que reúnam evidências práticas e claras a respeito do estado da arte de diversos temas da Psicologia, como neste caso, instrumentos de avaliação de ansiedade. Especificamente sobre a avaliação dos TA, ressalta-se a carência de formação contínua de profissionais e pesquisadores, tanto no que se refere aos sintomas e prognósticos, quanto, a etapa inicial de avaliação e identificação, etapa essa de fundamental importância para o seguimento das demais ações de prevenção e tratamento dos TA.

domingo, 14 de abril de 2019

Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de ansiedade: Relato de Caso

Oliveira, M. I. S. D. (2011). Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de ansiedade: relato de caso. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas7(1), 30-34.

Resenhado por Joelma Araújo

A ansiedade é uma reação natural do corpo, que em excesso pode se tornar prejudicial, levando o individuo a apresentar sinais e sintomas somáticos e psicológicos. Um dos diagnósticos mais comuns nesses casos é a Transtorno de Ansiedade Genera­lizada (TAG), no qual os pacientes preocupam-se em demasiado com o futuro e cometem vários erros do pensamento como, por exemplo, a catastrofização. Segundo a APA, o quadro é caracterizado por excessiva ansiedade e preocupação (expectativa apreensiva), que estão presentes com elevada frequência durante pelo menos seis meses e repercutem em uma série de acontecimentos ou atividades.  
A abordagem cognitiva comportamental em casos de ansiedade de ajustamento ou genera­lizada enfatiza a resolução de problemas e a melhoria na habili­dade de escolhas. A proposta do estudo de caso é mostrar o manejo terapêutico desses transtornos de ansiedade por meio de técnicas que possibilitaram a promoção da autonomia do sujeito (psicoeducação, conceituação cognitiva, reestruturação cognitiva, teste de evidências, análise das vantagens e desvantagens das tomadas de decisões possíveis e resolução de problemas).
            Paciente do sexo masculino, 30 anos, solteiro, desempregado, morava com o irmão, cunhada e sobrinhos. O mesmo apresentava preocupações excessivas que tanto eram baseadas na realidade (sua falta de emprego) quanto eram distorcidas pela ansiedade e interpretações errôneas dos eventos. O psicoterapeuta buscou estimula-lo a verificar as evidências a favor e contra suas ideias e a perceber o quão disfuncional e errônea era a interpretação feita por ele.
Com as estratégias de resolução de problemas, o mesmo pode entender o processo terapêutico e perceber que tinha escolhas (buscou trabalhar com vendas), ao final permaneceu com algumas preocupações, mas a ansiedade reduziu. Importante ressaltar que os atendimentos ocorreram em um ambulatório de referência em saúde mental do município, e que depois o mesmo foi encaminhado para um grupo terapêutico. Foram necessárias 12 semanas para o processo, com bons resultados e tendo sido alcançado o objetivo prin­cipal.

 Desta forma, percebe-se a importância do uso de técnicas psicoterapêuticas fora da clinica tradicional. Além disso, cabe ressaltar a relevância da rede de atenção à saúde mental e como o psicólogo da saúde, que também está inserido nesses serviços, contribui na atenção básica com atendimentos individuais, seja na prevenção, tratamento ou promoção de saúde.  

sábado, 13 de abril de 2019

Adaptação de um Protocolo Cognitivo Comportamental para Pacientes com Transtorno de Ansiedade Generalizada com Baixo Nível Educacional

Coutinho, F. C., Dias, G. P., Marques, R. S. F., Rangé, B. P., Brasil, M. A. A., Filpi, A., Nardi, A. E (2017).  Adaptation of a Cognitive-Behavioral Protocol for Generalized Anxiety Disorder Patients with Low Educational Attainment, Ribeirão Preto,  Trends in Psychology, 25(03). 1411-1426. doi: 10.9788/tp2017.3-22 

Resenhado por Iracema R. O. Freitas

O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é uma condição crônica e incapacitante que se caracteriza por preocupação invasiva, incontrolável e excessiva, causando sofrimento e comprometendo aspectos importantes da vida na esfera social, ocupacional e orgânica. Estudos indicaram que os indivíduos com TAG tendem a reduzir as relações sociais e de trabalho, sendo considerado um ônus econômico para sociedade. Profissionais de saúde mental têm discutido sobre os métodos de tratamento mais comuns e recomendados para esse transtorno, os quais incluem a terapia cognitiva comportamental e suas derivações.
Na terapia cognitiva comportamental, o foco consiste em dar atenção aos esquemas desadaptativos, tais como pressentimentos (que envolvem crenças sobre a probabilidade de consequências de ameaças à segurança física e psicológica), a vunerabilidade pessoal (que se refere a crenças sobre inadequação e falta de apoio externo e recursos pessoais para lidar com a ansiedade), a intolerância a incerteza (que abrange crenças sobre a frequência, consequências, evitação e não aceitação de eventos  negativos, incertos ou ambíguos, e a preocupação metacognitiva (que inclui crenças sobre efeitos positivos e negativos da preocupação e seu controle.
Este estudo analisou a eficácia, as dificuldades e desafios enfrentados pelos terapeutas ao realizar sessões de terapia cognitiva (TCC) em pacientes de baixo nível socio econômico e de escolaridade com diagnóstico primário de TAG. O objetivo foi de avaliar a prática clínica entre esses pacientes e tornar a TCC mais acessível a todos através de adaptação das informações contidas no modelo de protocolo de atendimento. A eficácia foi avaliada considerando adesão e continuidade do tratamento, as dificuldades foram relacionadas a incompreensão dos pacientes a respeitos dos conceitos apresentados pelos terapeutas, já os desafios foram sobre modificar os protocolos para aumentar a adesão entre pacientes, sem comprometer a fidedignidade da TCC. Um relato de caso permitiu uma reavaliação da maneira como os cuidadores realizavam a prática ambulatorial com pacientes ansiosos em hospitais públicos entre as populações de baixa escolaridade e socioeconômica.
O resultado do trabalho indicou a importância do ajuste dos termos utilizados na TCC através uma mudança nas terminologias, o uso de exemplos práticos e concretos, condizentes com a realidade do paciente. A postura do terapeuta não deveria ser paternalista, porém empática e compreensiva. O problema do abandono do tratamento no contexto da saúde pública é uma das temáticas estudadas pela psicologia da saúde. Quando se trata de pacientes com TAG que vivem em contexto de vulnerabilidade social, compete ao profissional flexibilizar as suas práticas, tentativa realizada nesse estudo com o objetivo de tornar a TCC acessível e eficaz.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Terapia Cognitiva Comportamental com crianças e adolescentes / Cognitive Behavioral Therapy with Children and Adolescents

Henin, A., Micco, J. A., Schoeller, M., Boudreaux, A., & Hirshfeld-Becker, D. (2016). Cognitive behavioral therapy with children and adolescents. The Massachusetts General Hospital Handbook of Cognitive Behavioral Therapy, 259–275. doi:10.1007/978-1-4939-2605-3_19
Resenhado por Geovanna Turri

A terapia cognitiva comportamental (TCC) demonstrou eficácia no tratamento de vários transtornos em crianças e adolescentes. Os autores expõem que pesquisas ao longo das últimas décadas sugerem que a TCC pode ser usada para tratar transtornos de ansiedade, depressão, transtornos de comportamento disruptivo, TDAH, transtornos de eliminação, transtornos de tiques e hábitos e déficits de habilidades sociais. A utilidade da TCC reside na sua capacidade de direcionar sintomas e distúrbios ao longo de toda a faixa etária da infância, tendo uma abordagem focada no problema visando proporcionar o tratamento de maneira eficiente e limitada no tempo. É passível de avaliações empíricas e seu uso de intervenções padronizadas e manualizadas pode ser implementado de forma sistemática e flexível por profissionais de diferentes formações e treinamentos.
Ao longo do tempo, as adaptações de desenvolvimento das técnicas de TCC e seu uso com crianças de uma ampla faixa etária são enfatizadas. Assim, no artigo os autores buscam fazer uma breve revisão acerca das principais características do uso da TCC com crianças e adolescentes e ilustrar as mesmas por meio de um estudo de caso. O artigo fornece uma descrição detalhada das abordagens e técnicas da TCC que são mais comumente usadas com os jovens, incluindo psicoeducação, treinamento de relaxamento, reestruturação cognitiva, resolução de problemas, exposição comportamental e treinamento de habilidades organizacionais. Além disso, analisa ferramentas de avaliação, estratégias e instrumentos para uso em crianças e adolescentes e discute o papel dos pais no tratamento.
Para os autores, a TCC com crianças e adolescentes tem sua semelhança com a TCC aplicada em adultos. Tem-se como suposição que o comportamento é adaptativo e que a tríade cognitiva ‘pensamentos-emoções-comportamentos’ deve ser trabalhada em conjunto. A TCC é útil com crianças e adolescentes visto reconhecer a importância das variáveis comportamental, emocional, cognitiva e socioambiental na manutenção de qualquer transtorno emocional. Além disso, considera os pais uma ferramenta de auxílio na psicoterapia, o que a torna mais eficaz, uma vez que os problemas das crianças ocorrem muito mais frequentemente fora da terapia (com os pais, na escola, em contextos sociais, etc.). Dessa forma, para modificar o ambiente de uma criança, os pais devem estar associados ao terapeuta, atuando como consultores e colaboradores na psicoterapia de seus filhos.
Na TCC com crianças e adolescentes, o principal desafio do terapeuta consiste em tentar compreender como a tríade cognitiva media o surgimento da psicopatologia nessas faixas etárias. Para que se tenha êxito, a TCC deve utilizar estratégias, sessões estruturadas, intervenções cognitivas e comportamentais para modificar comportamentos, emoções e pensamentos. Algumas dessas técnicas são ilustradas em um exemplo de caso, e o suporte empírico para TCC na juventude é brevemente descrito. Sempre que possível, os autores destacam como a TCC pode ser adaptada para o desenvolvimento em diferentes idades.

Enfim, a TCC é uma forma de intervenção altamente eficaz para crianças e adolescentes com uma série de dificuldades psiquiátricas e pode ser usada com crianças em uma série de estágios de desenvolvimento, incluindo aqueles em idade pré-escolar, podendo ser implementada individualmente, com famílias, em grupos ou até mesmo através de plataformas baseadas na internet a fim de trabalhar com o público infanto-juvenil. 

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Cuidados paliativos e doença renal crônica em crianças: Um diálogo possível?

Fernandes, J. R., & Barbosa, L. N. F. (2018). Palliative care and chronic kidney disease in children: A possible dialogue?.Hospice & Palliative Medicine International Journal, 2, 169-170.
Resenhado por Gabriela de Queiroz

            De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cuidado paliativo pode ser considerado uma filosofia de cuidados que, através de atendimento multidisciplinar, prioriza a assistência humanizada a fim de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e suas famílias, diante de uma condição que ameace a vida. Os profissionais atuam na prevenção e alívio do sofrimento, desde a avaliação tratamento da dor e demais sintomas físicos, sociais e psicológicos.
          Os cuidados paliativos podem ser aplicados a qualquer condição de adoecimento considerada restritiva, como por exemplo, as demências, doenças degenerativas, cardíacas e pulmonares, câncer, além da insuficiência renal crônica (IRC). A IRC é caracterizada pela perda irreversível e progressiva das funções renais, que persistem por um período igual ou superior a três meses, com ou sem lesão renal.
        A IRC é uma condição clínica capaz de interferir nas atividades diárias do indivíduo, desde atividades escolares e laborais, até a ingestão de alimentos e líquidos, formando um conjunto de fatores que produzem impacto negativo direto sobre a qualidade de vida do indivíduo. Em crianças, a IRC pode ser ainda mais marcante, uma vez que afeta diretamente uma fase do ciclo vital em que boa parte das descobertas e avanços do desenvolvimento ocorrem. Portanto, são muitos os desafios dos cuidados paliativos nessa fase, pois requer um diálogo constante entre paciente, família e equipe multiprofissional, a fim de preservar a qualidade de vida das crianças nos domínios físico, psicológico, social e espiritual.
        O tratamento para IRC amparado pelos cuidados paliativos deve ser orientado para o diagnóstico e tratamento precoce, bem como para a implementação de medidas capazes de preservar a função renal no início da doença. Assim, pode-se garantir  maiores chances de sobrevida e melhor qualidade de vida. Vale ressaltar que a assistência ofertada por uma equipe multiprofissional é essencial para assegurar a preparação e apoio psicológico aos pacientes e seus cuidadores no enfrentamento ao tratamento. O tratamento  requer internações hospitalares frequentes e muitas vezes prolongadas, especialmente devido à diálise, que é considerada a melhor terapia renal substitutiva.
       É importante considerar que a convivência num ambiente hospitalar somada ao diagnóstico da IRC, podem causar e agravar os danos psicossociais, ao desenvolvimento físico, cognitivo e também neurológico das crianças e adolescentes em tratamento. Portanto, ressalta-se a importância não apenas da inserção do cuidado paliativo junto aos tratamentos propostos no campo da nefrologia, mas também a necessidade do psicólogo como parte da equipe multiprofissional. Seu papel busca aliviar o sofrimento emocional causado pela doença e auxiliar o paciente na busca de estratégias de enfrentamento, mantendo o indivíduo com foco no tratamento (e não no seu diagnóstico), o que visa, prioritariamente, à melhora de sua qualidade de vida.

terça-feira, 9 de abril de 2019

Orientação de pais de crianças com fobia social

Porto, P. (2005). Orientação de pais de crianças com fobia social. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 1(1), 101–110.

Resenhado por Danielle Alves Menezes

A fobia social é uma condição precoce, geralmente com origem na infância e pico na adolescência, por volta dos 15-16 anos. É caracterizada como medo patológico de agir de forma constrangedora ou inadequada na presença de outras pessoas. É também vista como preditora de depressão, transtornos de ansiedade, como a agorafobia, e do alcoolismo. Por isso é importante o tratamento precoce devido as suas implicações para o desenvolvimento do indivíduo, desempenho acadêmico e relacionamentos sociais.
Os pais têm um papel fundamental, já que é no seio familiar que comportamentos podem ser adquiridos ou reforçados. Há evidências de que a relação entre o estilo de vínculo parental influencia os próximos relacionamentos sociais da criança.  Especificamente, vínculos pai-filho seguros e relacionamento maternal acolhedor são fatores que podem facilitar que a criança participe de grupos sociais, estabeleça relacionamentos saudáveis com pares e favoreça o comportamento pró-social da criança.
Uma das possibilidades clínicas cruciais, portanto, é a orientação de pais. Ela acontece por meio da psicoeducação sobre o que é a fobia social  e sobre os objetivos do tratamento. Deve-se abrir espaço também para acolher crenças e expectativas dos pais em relação ao seu próprio comportamento e dos filhos, tendo como objetivo avaliar as habilidades parentais.
A psicologia da sáude, como disciplina que enfatiza a contribuição dos aspectos psicológicos nos comportamentos de saúde, auxilia a compreesão de que mudanças significativas podem ser impulsionadas inicialmente, a partir do treino de habilidades para os pais, estimulando a criação de um ambiente favorável ao pleno desenvolvimento da saúde mental de crianças.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Ansiedade materna e maternidade: Revisão da literatura

Donelli, T. M. S., Chemellho, M. R., & Levandowski, D. C. (2017). Ansiedade materna e maternidade: Revisão crítica da literatura. Interação em Psicologia21(1).

Resenhado por Daiane Nunes

A ansiedade é caracterizada por uma resposta a uma ameaça desconhecida, interna, vaga ou de origem conflituosa, fazendo parte inerente de diferentes experiências humana. No entanto, quando ela excede a capacidade do indivíduo de lidar com essas demandas, ela pode desencadear um processo desadaptativo. Na maternidade, a ansiedade pode influenciar o curso da gestação, predispondo a gestante a complicações obstétricas, como a pré-eclampsia, interferências no desfecho do parto, ocasionando o parto prematuro, bem como pode ser preditor para a ocorrência de depressão pós-parto. Considerando a relevância da temática, o presente estudo objetivou apresentar uma revisão sistemática da literatura sobre ansiedade materna e maternidade, entre os anos de 2010 e 2014.
Utilizou-se as bases de dados American Search Premier Complete, Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS), MEDLINE, PsycINFO, Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Web of Science. Foram incluídos artigos completos, publicados em inglês, espanhol e português, por autores da Psicologia, Psiquiatria e outras áreas da saúde, estudos empíricos cujos participantes eram mães de crianças de até três anos e que tivessem foco na investigação de ansiedade nessa população. Foram excluídos artigos que não estivam disponíveis na íntegra, que trataram da ansiedade nas crianças ou cônjuges ou que não contemplaram a temática de interesse. Depois de aplicados os critérios de inclusão e exclusão, 43 artigos compuseram a amostra final.
Os resultados foram agrupados em seis eixos temáticos: o primeiro evidenciou a relação entre o tempo de internação do bebê em UTI Neonatal e aumento da ansiedade das mães, além de ter apontado a ansiedade como fator que dificulta a capacidade materna de responder sensivelmente aos sinais do bebê; o segundo relacionou a ansiedade materna com variáveis sociodemográficas e o desenvolvimento infantil, apontando que quanto menor a escolaridade, a idade, o nível socioeconômico e o desconhecimento dos cuidados com o recém-nascido, maior a ocorrência de ansiedade materna; o terceiro eixo compreendeu a ansiedade materna associada a outros sintomas e/ou quadros psicopatológicos, tais como depressão e estresse, e desenvolvimento infantil. A prevalência de ansiedade e depressão esteve relacionada com baixo peso ao nascer, risco de parto prematuro e prejuízos no desenvolvimento infantil, incluindo a formação de apego inseguro e risco de prejuízos na aquisição da linguagem; o quarto eixo temático agrupou aspectos relacionados à ansiedade materna, comunicação e relação mãe-bebê, demonstrando que a ansiedade pode influenciar negativamente a capacidade de resposta das mães; o quinto eixo compreendeu a ansiedade materna, a relação conjugal e apoio social. Mulheres que tinham dificuldades nos relacionamento conjugais e apoio social insuficiente estiveram mais vulneráveis à ocorrência de ansiedade severa; e o último eixo agrupou os resultados de intervenções voltadas para o manejo da ansiedade.
Por fim, cabe ressaltar a importância da identificação e avaliação da ansiedade desde a gestação, como medida preventiva e protetiva para a saúde mental das mães e o desenvolvimento do bebê. Evidencia-se também que a ansiedade no contexto da maternidade é um fenômeno multifatorial, relacionado a diferentes variáveis, tanto sociodemográficas como psicológicas, demonstrando relevância para o campo da Psicologia da Saúde.