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quarta-feira, 31 de julho de 2019

Estratégias de enfrentamento de pacientes com transtornos mentais


Lima, M. F., & Ferreira, C. B. (2018). Estratégias de enfrentamento de pacientes com transtornos mentais. Pesquisas e Práticas Psicossociais, 13(2), 1-15.

Resenhado por Márcio Diego Reis

Por muito tempo, os portadores de sofrimento mental foram associados a estereótipos negativos, tais como indivíduos irracionais e que representavam perigo à sociedade. Esses indivíduos eram tratados em hospitais psiquiátricos e/ou manicômios, geralmente em condições precárias com frequente negligência e maus tratos.
Em 1978 começam a surgir no Brasil os primeiros movimentos construídos por familiares e organizações sociais que denunciam o sofrimento vivido pelos internos dos hospitais psiquiátricos. Esses movimentos caracterizaram a reforma psiquiátrica brasileira e é em meio a essa luta que surgem os primeiros Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), visando à humanização das práticas de assistência aos pacientes com transtornos mentais. Adotam-se, no CAPS, assim como preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS), os princípios de cuidado no modelo biopsicossocial.
Mesmo com o modelo do CAPS, a convivência com o um transtorno mental causa mudanças drásticas tanto para o indivíduo quanto para os familiares, pois envolve o uso de medicamentos, exige uma atenção especial ao indivíduo, e o acompanhamento de profissionais de saúde. Assim, toda uma reestruturação familiar e demandada, a fim de encontrarem estratégias para melhor lidar com o sofrimento experimentado na convivência com o transtorno.
As estratégias de enfrentamento (coping) são processos que envolvem esforços cognitivos e comportamentais do indivíduo para lidar com determinadas demandas internas e externas que são por ele avaliadas como além dos seus próprios recursos. Existem dois tipos de enfrentamento: o enfrentamento focalizado no problema e o enfrentamento focalizado na emoção. Nas estratégias de enfrentamento focalizadas no problema os esforços estão voltados para a definição do problema com a intenção de produzir alternativas de solução baseadas no custo benefício. Nas estratégias de enfrentamento focalizada na emoção, o indivíduo avalia que não pode modificar as condições do ambiente e que essas mudanças devem acontecer no seu estado emocional.
A presente pesquisa esteve centrada nas estratégias de enfrentamento de usuários de um CAPS que conta com uma equipe multidisciplinar e está localizado numa cidade do interior de Goiânia. O instrumento utilizado foi uma entrevista semiestruturada, com o objetivo de identificar as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos participantes. As estratégias de enfrentamento foram analisadas e ancoradas na teoria de coping e em estudos sobre a temática do enfrentamento para pacientes crônicos.
Sobre as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos entrevistados, seus depoimentos mostraram a utilização de estratégias focadas no problema e focadas na emoção, além de outras estratégias que foram relevantes no processo de enfrentamento, a exemplo da fé, a religiosidade e o suporte social. A pesquisa possibilitou identificar um amplo leque de estratégias utilizadas pelos indivíduos a fim de amenizar o sofrimento que o transtorno psíquico acarreta.
Assim, como sofrimento psíquico é um tema pouco estudado em usuários de saúde mental, bem como em pacientes com doenças crônicas, a Psicologia da saúde pode contribuir com estudos e possíveis estratégias que diminuam o sofrimento do paciente e seus familiares. Tais ações também poderiam contribuir com a valorização da subjetividade do paciente, auxiliando na construção do seu próprio projeto terapêutico.

Sintomatologia depressiva e regulação emocional em pacientes com Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa


Menezes, M. S., & Faro, A. (2018). Depressive symptomatology and emotional regulation in pacients with crohn’s disease and ulcerative colitis. Psicologia, Saúde & Doenças, 19(3), 743–754. doi: 10.15309/18psd190321

Resenhado por Camila Menezes

A Doença de Crohn (DC) e a Retocolite Ulcerativa (RCU) são as Doenças Inflamatórias do Intestino (DII) mais comuns e provocam diarreia, dor abdominal, febre e sangramento retal durante os períodos de crise. Além das manifestações físicas, em maior ou menor intensidade, a DC e a RCU provocam mudanças psicológicas e sociais que interferem negativamente a qualidade de vida e reduzem os níveis de bem-estar, isto é, contribuem para o entendimento da ocorrência de sintomas depressivos em pessoas acometidas por tais condições clínicas. Essas doenças, portanto, exigem que o indivíduo busque desenvolver um nível favorável de reajustamento psicológico frente a sua enfermidade. O presente estudo possui o suporte de pesquisas anteriores que discriminam a alta prevalência de depressão e seus efeitos entre esses pacientes, que parece exacerbar os sintomas da doença, rebaixar a atividade imunológica, aumentar a resposta inflamatória e diminuir a adesão ao tratamento. Dessa forma, este artigo investigou a sintomatologia depressiva e aspectos relativos à regulação emocional de pessoas que possuem essas duas Doenças Inflamatórias do Intestino, atendidas no Ambulatório de Coloproctologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe.
Foram avaliados 63 pacientes com Doenças Inflamatórias Intestinais (DC e RCU), de ambos os sexos e idade entre 18 e 70 anos, que aguardavam atendimento no ambulatório de coloproctologia. A maior parte da amostra foi de mulheres (66,7%) e a média da idade dos participantes foi de 42 anos. Observou-se que 52,4% receberam o diagnóstico de rastreamento positivo para sintomatologia depressiva. Outro dado relevante, foi a relação entre escolaridade e depressão, que exibiu a maior razão de chances dentre todas as variáveis analisadas, chegando a ser cinco vezes maior a chance para aqueles com a escolaridade média ou superior. Tal achado contrariou a literatura consultada, que tende a mostrar que os índices de depressão são mais elevados em pessoas de baixa escolaridade. Por isso, acredita-se que a relação entre escolaridade e sintomas depressivos em pessoas com DII deve ser estudada de modo mais minucioso, uma vez que podem influenciar, por exemplo, a adesão ao tratamento.
Finalmente, entende-se que a realização desta investigação acerca das DII no Nordeste brasileiro é uma importante contribuição, de forma que existe uma deficiência de estudos sobre DII nessa região do país. Soma-se a isso a avaliação da relação entre depressão e Regulação Emocional feita por este estudo, pois parece não haver pesquisas que avaliem essa relação entre pacientes com DII no cenário acadêmico brasileiro. Trata-se, então, de uma contribuição na área da Psicologia da Saúde em interface com a Proctologia, voltada a aspectos psicológicos ainda pouco estudados nas DII, mas que parecem exercer influência na exacerbação dos sintomas e dos processos inflamatórios.

terça-feira, 30 de julho de 2019

Intervenção Cognitivo-Comportamental em Transtorno de Personalidade Dependente: Relato de Caso


Zanin, C. R., & Valerio, N. I. (2004). Intervenção Cognitivo-Comportamental em Transtorno de Personalidade Dependente: Relato de caso. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 081-092.

Resenhado por Keylla Carvalho

O Transtorno de Personalidade Dependente (TPD) é definido como um padrão de comportamento submisso e dependente, juntamente com uma necessidade excessiva de ser cuidado e protegido. Tais indivíduos tem uma percepção de si mesmos como sendo incapazes de funcionar sem o auxílio de outras pessoas e possuem grandes dificuldades em tomar decisões sem o conselho ou reasseguramento de outros. Dessa forma, mostram-se como pessoas passivas, evitam responsabilidades e permitem que outros tomem decisões importantes por eles. Este é um transtorno relativamente comum na prática clínica, sendo diagnosticado com mais frequência em mulheres. Seu início, geralmente, se dá no começo da idade adulta e tem seu curso crônico.
É importante ressaltar que tais indivíduos tendem a apresentar pensamentos automáticos negativos como: “Eu não consigo sobreviver sem alguém que tome conta de mim”, “Se eu fosse mais independente ficaria isolada e só”, “Independência significa estar completamente só”. Assim, fazendo uma avaliação racional dos pensamentos, nota-se que a principal distorção cognitiva do TPD é o pensamento dicotômico com respeito a independência. As pessoas que sofrem desse transtorno acreditam que ou se é completamente dependente e indefeso ou independente e só; não existe meio termo. Da mesma forma é vista sua capacidade para variadas situações, se não agirem de uma forma “completamente adequada” são vistos como “um fracasso total”. 
O objetivo deste estudo foi demonstrar o impacto da intervenção cognitivo-comportamental na redução das características sintomáticas do TPD. Participou dessa pesquisa uma universitária de 24 anos, submetida a 28 sessões. Foram utilizadas entrevistas, critérios diagnósticos para TPD, Inventário Beck de Depressão, Inventário de Ansiedade Traço-Estado, e para intervenção, estratégias e técnicas cognitivo-comportamentais como instrumentos de medida. O tratamento cognitivo-comportamental incluiu avaliação inicial, registro de pensamentos disfuncionais, reestruturação cognitiva, treino de assertividade, relaxamento, treino de habilidades sociais, exposição, ensaio comportamental, envolvendo role-playing e treino para autonomia, que foi um objetivo inicial do tratamento, o desenvolvimento da autonomia do indivíduo. Tais técnicas visaram a aumentar a autoconfiança e autoeficácia em todos os aspectos da vida.
Os resultados deste estudo constataram que a intervenção cognitivo-comportamental teve um impacto positivo no tratamento do TPD, principalmente na redução dos sintomas de ansiedade e depressão, por meio da modificação de crenças centrais e aumento do seu repertório comportamental e cognitivo. Houve diminuição significativa nas queixas características do TPD: a pessoa em questão passou a tomar decisões sem uma quantidade excessiva de conselhos, assumir responsabilidades em grandes áreas da vida, expressar discordância de outros, encontrar prazer em momentos que está só, pensar de forma mais racional, dentre outras mudanças. Após a alta ela foi acompanhada por um período de oito meses e se constatou a manutenção dos ganhos terapêuticos.    
Finalmente, salienta-se a importância de estudos como este para a psicologia da saúde, visto que tal diagnóstico é relativamente comum no contexto de saúde mental atual. Assim, é importante que os profissionais de saúde mental se mantenham atualizados acerca do TPD, bem como formas de tratamento eficientes, visando um melhor prognóstico do indivíduo.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Prevenção e promoção da saúde mental no envelhecimento: Conceitos e intervenções


Leandro-França, C., & Murta, S. G. (2014). Prevenção e promoção da saúde mental no envelhecimento: Conceitos e intervenções. Psicologia: Ciência e Profissão34(2), 318-329. doi: 10.1590/1982-3703001152013

Resenhado por Thais Aragão

         A população idosa vem aumentando nos últimos 10 anos, não somente em países desenvolvidos. A previsão é que o Brasil, até 2020, esteja entre os países com mais pessoas idosas no mundo. Tal fenômeno na saúde é chamado de “revolução da longevidade” e requer políticas públicas que possam estabelecer intervenções que viabilizem a promoção de uma velhice saudável e ativa. Essas ações estão contempladas no Plano Internacional de Ação sobre o Envelhecimento, aprovado em Madrid, pelos países membros da ONU, na Constituição de 1988, na Política Nacional do Idoso e no Estatuto do Idoso.
      O presente artigo objetiva conhecer, através dos aspectos históricos e conceituais sobre prevenção e promoção da saúde mental dos idosos, como o envelhecimento no mundo atual tem se configurado e quais intervenções são direcionadas a esse publico, tendo em vista que esse processo deve ser vivenciado com autonomia, reconhecimento de direitos, segurança, bem-estar e saúde. Para isso, foi realizado um trabalho de revisão teórica das literaturas nacional e internacional sobre o tema.
     Com base nessa revisão, o termo “envelhecimento ativo” foi adotado para denominar a velhice como um processo natural do ciclo da vida, que é determinado através de fatores culturais e de gênero, além dos aspectos pessoais, comportamentais, econômicos, sociais, ambientais, de saúde física e mental. Dentre esses aspectos, a saúde mental da pessoa idosa merece especial atenção, pois os idosos são caracterizados como um grupo populacional de alto risco para a depressão e suicídio. Fatores psicológicos (solidão, inatividade, inutilidade, falta de projeto de vida e tendência a reviver o passado), fatores familiares (perda dos familiares, viuvez, mudança de domicílio e situações de desamparo), fatores de ordem social (aposentadoria, perda do prestigio social, isolamento social, atitude hostil e pejorativa da sociedade), bem como doenças crônicas (Parkinson e Alzheimer), abuso de álcool e outras drogas são fatores de risco ao suicídio nessa fase da vida.
        Considerando o conceito histórico de prevenção e promoção da saúde, percebe-se que ele passou por alguns processos adaptativos até chegar ao atual, que entende a promoção da saúde como uma área específica da prevenção e destaca a integração entre prevenção, promoção e tratamento, sendo proposto que essas áreas se complementem em suas atribuições. Estudos sobre intervenções preventivas e de promoção da saúde mental de pessoas idosas são escassos na literatura, demostrando que os idosos não são alvos muito frequentes dessas ações e, quando o são, têm como foco principal a potencialização de competências e recursos para enfrentar os eventos estressores em detrimento da redução dos riscos de surgimento de problemas ou transtornos. Os resultados deste estudo recomendam que haja uma articulação entre a ciência, estado, sociedade, famílias, comunidade, profissionais de saúde, entidades públicas e privadas nas ações de intervenção de prevenção e promoção da saúde mental da população idosa.
     Investir em prevenção de doenças e promoção da saúde mental no envelhecimento se faz importante para a Psicologia da Saúde, uma vez que esta tem o objetivo de promover uma velhice saudável. Tais ações são essenciais na redução de risco de surgimento de transtornos como depressão, ansiedade e suicídio em pessoas idosas.

domingo, 28 de julho de 2019

Borderline: Em uma tempestade de emoções

Postado por Matheus Macena

"As emoções são essenciais para sobrevivermos e tomarmos nossas decisões, mas elas podem nos atrapalhar quando são constantemente excessivas e instáveis, como ocorre no Transtorno de Personalidade Borderline.”

Fonte: Minutos Psíquicos



sábado, 27 de julho de 2019

Relações entre estratégias de coping e adaptabilidade acadêmica em estudantes universitários


Luca, L., Noronha, A. P. P., & Queluz, F. N. F. R. (2018). Relações entre estratégias de coping e adaptabilidade acadêmica em estudantes universitários. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 19(2), 169-176. doi: 1026707/1984-7270/2019v19n2p169

Resenhado por Amanda Feitosa

O ingresso no ensino superior acarreta uma série de mudanças importantes na vida dos indivíduos, tais como a alteração de sua rotina e o contato com novas pessoas. Por ser um período de transformação em termos de saúde mental, é importante que o universitário lide com esses novos desafios de forma satisfatória, sendo o coping uma ferramenta útil no processo de adaptação do indivíduo. De acordo com Lazarus e Folkman, o coping é conceituado como um conjunto de esforços cognitivos e comportamentais utilizados pelas pessoas para se adaptarem a circunstâncias avaliadas como adversas ou estressantes, os quais podem contribuir para o bem-estar físico e psicológico do indivíduo. A boa adaptabilidade do estudante é refletida, por exemplo, em seu envolvimento em atividades extracurriculares, melhor desempenho no contexto acadêmico e sua própria vivência saudável no ensino superior.
Considerando os benefícios que as estratégias de coping trazem para o indivíduo, o artigo quis investigar se estudantes com mais estratégias de enfrentamento possuem uma maior adaptabilidade no contexto acadêmico. A amostra foi composta por 927 estudantes universitários, sendo 60,6% mulheres com idade média de 26,04 anos (DP = 7,66) de duas instituições de ensino superior. Os instrumentos utilizados foram o Inventário de Estratégias de Coping (IEC) de Lazarus e Folkman e o Questionário de Adaptação ao Ensino Superior (QAES) composto por cinco dimensões: Projeto de Carreira, Adaptação Social, Adaptação Pessoal-Emocional, Adaptação ao Estudo e Adaptação Institucional.
Os resultados mostraram como a maioria dos construtos do IEC e do QAES encontraram uma correlação positiva significativa. O fator Afastamento e Aceitação do IEC foi o único que não encontrou correlação com a maioria dos fatores do QAES. Por esse fator ser um tipo de coping com foco na emoção, ele funciona como forma de regulação emocional e é visto como menos eficaz do que o coping com foco no problema. Pelos dados encontrados, é confirmada a hipótese de que a adaptabilidade acadêmica dos estudantes está correlacionada positivamente com o repertório abrangente de estratégias de coping que eles utilizam.
Para a Psicologia da Saúde, o coping é um conceito chave. Pela sua importância no processo de ajustamento dos indivíduos em situações adversas ou estressantes, ele possui um papel fundamental na promoção da saúde das pessoas. O estudo de estratégias de enfrentamento no contexto acadêmico é benéfico para o entendimento do processo de adaptação de universitários e no planejamento de futuras intervenções. Assim, mostram-se válidas mais pesquisas sobre esse assunto – particularmente pela Psicologia da Saúde e pela Escolar –, que priorizem a descoberta de fatores que interferem no ajustamento do indivíduo no ambiente acadêmico e das estratégias de enfrentamento mais eficazes nesse contexto específico.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Transtorno bipolar em crianças e adolescentes: Critérios para diagnóstico e revisão de intervenções psicossociais


Moraes, R. G. A., Gon, M. C. C., & Zazula, R. (2016). Transtorno bipolar em crianças e adolescentes: Critérios para diagnóstico e revisão de intervenções psicossociais. Psico, 47(1), 78-87. doi: 10.15448/1980-8623.2016.1.19994

Resenhado por Luanna Silva

O transtorno bipolar (TB) é caracterizado por episódios de humor bifásico de mania e depressão, é crônico, recorrente e associado a severo comprometimento da funcionalidade do individuo. Globalmente, mais de 1% da população adulta é afetada por este transtorno. Ainda que não haja dados conclusivos sobre a prevalência do TB em crianças e adolescentes, é crescente a quantidade de pesquisas que apresentam a prevalência deste quadro em pessoas com idade inferior aos 20 anos.
Os principais sintomas de TB em crianças e adolescentes incluem dificuldades de seguir regras, irritabilidade, agressividade, humor misto, desesperança e baixo repertório de coping. Além disso, a ocorrência de eventos negativos e estresse crônico parece ser uma importante contingência presente na vida destes indivíduos. Diferentemente do que usualmente ocorre com pacientes adultos, crianças e adolescentes tendem a apresentar ciclagem mais rápida e alterações bruscas diárias de humor, sendo importante observar os comportamentos esperados de acordo com a fase de desenvolvimento. O diagnóstico nesta população é complexo, sendo necessário atentar para os sintomas apresentados, bem como investigar detalhadamente a evolução clínica da doença e o histórico familiar.
A coocorrência de outros quadros patológicos é frequente em pacientes diagnosticados com TB. Transtorno de déficit de atenção, comportamento opositor, transtornos de ansiedade, distúrbios alimentares e abuso de substâncias estão entre as comorbidades observadas em crianças e adolescentes que apresentam este transtorno. As altas taxas de comorbidade podem ser fator confundidor no processo de avaliação diagnóstica, sendo, portanto, importante estar atento a esta condição.  
A escolha dos medicamentos utilizados no tratamento farmacológico de crianças e adolescentes se assemelha ao de adultos. Observa-se que seu uso é associado ao controle de sintomas, prevenção de recaídas e estabilização de humor. Quanto ao tratamento não farmacoterápico, as intervenções psicossociais apresentam resultados positivos. Diferentes estratégias são utilizadas, destacando-se a Terapia dialética comportamental para adolescentes, a Terapia cognitivo-comportamental focada na criança e adolescente, a Terapia periódica interpessoal e social, entre outras. Estudos têm demostrando a eficácia destas intervenções, incluindo a redução significativa nos sintomas de TB, melhora no relacionamento familiar, melhorias no rendimento escolar e mudança no comportamento dos pais frente ao diagnóstico dos filhos. A comunicação e a informação são componentes essenciais nesse processo.
Enfim, ainda é pequena a quantidade de pesquisas sobre TB em crianças e adolescentes. A Psicologia da Saúde pode contribuir com a continuidade de pesquisas desenvolvidas nessa área para que se possa conhecer mais sobre esse quadro patológico, elaborar intervenções eficazes e auxiliar pacientes e suas famílias a conviverem melhor com a doença.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Sintomas depressivos no câncer de mama: Inventário de Depressão de Beck – Short Form


Barra, A. A., Cangussu, R. O., Nicolato, R., & Soares, T. B. C. (2010). Sintomas depressivos no câncer de mama: Inventário de Depressão de Beck – Short Form. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. 59(2), 106-110. doi:10.1590/S0047-20852010000200005

Resenhado por Uquênia Lemos Brito

O câncer de mama ainda se apresenta como uma grande preocupação mundial por causa de sua alta incidência e mortalidade. Entretanto, devido à possibilidade de diagnósticos mais precoces e a evolução dos métodos de tratamento, tem se observado que a sobrevida dessas mulheres vem aumentando. Por este motivo, torna-se necessária uma visão mais global para esse grupo específico, pois fatores físicos e emocionais, principalmente a depressão, quando relacionados ao câncer, costumam influenciar na qualidade dessa sobrevivência. Sendo assim, o presente artigo objetivou investigar a prevalência de sintomas depressivos e fatores de riscos associados a estes sintomas em mulheres com câncer de mama.
Trata-se de um estudo transversal com 71 mulheres com câncer de mama, as quais eram atendidas no Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG). Os critérios de inclusão eram que as pacientes tivessem mais de seis meses de diagnóstico e que não apresentassem nenhum transtorno mental ou cognitivo grave. As entrevistas ocorreram de outubro de 2008 a agosto de 2009. Os instrumentos utilizados foram o Inventário de Depressão de Beck – Short Form, mais precisamente a subescala cognitiva chamada de BDI-SF, e um questionário com dados sociodemográficos, clínicos e hábitos de vida. As análises foram feitas por meio do programa estatístico SPSS. Os fatores de risco associados aos sintomas depressivos foram avaliados pelo teste qui-quadrado, considerando resultados significativos um valor p < 0,05.
As entrevistadas tinham em média idade de 60,7 (DP = 8,6), em sua maioria casadas (60,6%), possuíam o ensino médio (46,4%) e estavam na classe econômica B (57,7%). Entre as mulheres do estudo, a maior parte delas (45,1%) foi submetida a tratamento quimioterápico. A prevalência de sintomas depressivos das mulheres que participaram da pesquisa foi de 21 casos (29,6%), o escore médio foi de 3,8 pontos e o escore máximo de 18. De acordo com a análise realizada observou-se também que ter se submetido a tratamento quimioterápico (p = 0,021), a presença de dor (p = 0,018) e a limitação de movimento no membro superior (p = 0,010) foram associados com sintomas depressivos. Àquelas que tiveram uma pior percepção da saúde também apresentou um maior risco de sintomas depressivos (p = 0,018).
Por fim, percebe-se a partir dos resultados que são necessárias ações investigativas voltadas tanto nos aspectos físicos como nos aspectos psíquicos, mesmo após anos do diagnóstico, pois a partir da análise desses pode se propor a intervenção adequada para aquelas que precisam. Portanto, cabe aos profissionais da Psicologia da Saúde estarem atentos quanto à saúde mental das mulheres acometidas pelo câncer de mama, promovendo pesquisas, estratégias de suporte e prevenção quando necessário, com objetivo de proporcionar qualidade de vida a essas mulheres.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Esquizofrenia: adesão ao tratamento e crenças sobre o transtorno e terapêutica medicamentosa


Nicolino, P. S., Vedana, K. G. G., Miasso, A. I., Cardoso, L., & Galera, S. A. F. (2011). Esquizofrenia: adesão ao tratamento e crenças sobre o transtorno e terapêutica medicamentosa. Revista da Escola de Enfermagem da USP45(3), 708-715.

Resenhado por Sara Andrade

A esquizofrenia é um transtorno mental grave que acomete cerca de 1% da população, acarreta diversos problemas de ordem social na vida de seus portadores, como também familiares, cuidadores, e sociedade em geral. É uma condição crônica que demanda tratamento medicamentoso a longo prazo, sendo mais comumente utilizados os antipsicóticos, os quais são capazes de reduzir os sintomas, aumentar a adaptação psicossocial e melhorar o bem-estar subjetivo dos portadores da doença.
Apesar da possibilidade de tratamento através dos medicamentos, o sucesso terapêutico é prejudicado pela não adesão dos pacientes com esquizofrenia, processo que está ligado a diversos fatores, dentre os quais se destacam aqueles relativos ao próprio paciente como por exemplo, suas crenças. Em função disso, o estudo objetivou verificar a adesão de pessoas com esquizofrenia à terapêutica medicamentosa, identificar as crenças em relação ao transtorno e tratamento, além de comparar as crenças de pacientes identificados como aderentes e não aderentes no que se refere à susceptibilidade e severidade do transtorno e sobre os benefícios e barreiras ocasionados pelo tratamento.
Participaram do estudo 14 pacientes de um ambulatório de psiquiatria na cidade de Ribeirão Preto/SP. Foi realizada entrevista semi-estruturada e aplicou-se o Teste de Morisky-Green que permite identificar o grau de adesão e discriminar se a eventual não adesão é devida a comportamento intencional ou não intencional. Os dados foram analisados com abordagem quali-quantitativa. Os resultados revelaram que 64,3% dos pacientes não aderiam ao medicamento. Boa parte dos entrevistados considerou a medicação capaz de reduzir a seriedade e severidade do transtorno. Mesmo assim, entre pacientes não aderentes, as barreiras no seguimento da terapêutica foram mais expressivas. Efeitos colaterais foram razão para descontinuidade do tratamento em 80% dos pacientes não aderentes intencionalmente. Observou-se conhecimento insuficiente sobre a esquizofrenia e tratamento medicamentoso. Por fim, a fé foi mencionada pelos pacientes como estratégia para enfrentamento do processo vivenciado.
Portanto, o estudo apontou a necessidade de desenvolver de estratégias que favoreçam a adesão ao tratamento medicamentoso junto a pessoas com esquizofrenia. Parece necessário que a equipe de saúde esteja eticamente considerando as crenças, necessidades e valores dos pacientes, o que colabora no processo de aderir ou não à medicação. O papel da psicologia da saúde pode e deve ser desempenhado como intervenção nessas condições, já que é a área da saúde busca valorizar a subjetividade dos pacientes e colaborar com o direcionamento das estratégias, objetivando que as pessoas portadoras do transtorno se sintam seguras no processo de adesão.

terça-feira, 23 de julho de 2019

Uma abordagem funcional para os comportamentos delirar e alucinar


Bueno, G. N., & Britto, I. A. G. S. (2011). Uma abordagem funcional para os comportamentos delirar e alucinar. Revista Brasileira de Terapia Cognitiva e Comportamental, 13(3), 4-15.

Resenhado por Renata Elly

A esquizofrenia é concebida como um transtorno psicótico no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM IV).  A definição topográfica da esquizofrenia envolve um misto de sinais positivos como delírios e alucinações, e negativos como disfunções cognitivas e emocionais, persistindo por um período de 1 a 6 meses e provocando prejuízos sociais e ocupacionais. Os delírios são descritos no DSM IV como crenças errôneas e as alucinações são observadas em qualquer modalidade sensorial. Na esquizofrenia, a característica mais marcante é a desorganização do pensamento. A prevalência do transtorno é estimada em 0,5% e 1,5% entre adultos.
De acordo com a literatura da análise do comportamento, delirar e alucinar são comportamentos operantes, entendidos a partir da interação entre contingências ambientais de reforçamento e punição, históricas e atuais. Na abordagem funcional proposta por Skinner (1981) é adotado o modelo causal de variação e seleção por consequências da evolução biológica na solução de problemas com os quais somos confrontados. Portanto, delirar e alucinar não são considerados atividades mentais, sintomas de estruturas subjacentes ou processos neurológicos hipotéticos, mas comportamentos verbais controlados por consequências verbais e não-verbais que produzem.
Os analistas comportamentais buscam as contingências que são responsáveis pelos comportamentos verbais dos esquizofrênicos e as circunstâncias pelas quais seus comportamentos verbais se inserem, observando esses comportamentos com ênfase na função e conteúdo de suas verbalizações. Esses comportamentos, geralmente, são considerados inapropriados porque não são característicos do contexto. As pesquisas da literatura comportamental têm dirigido seus esforços para traduzir falas inapropriadas das pessoas com esse diagnóstico e, consequentemente, apontar para relações confiáveis para se intervir nos agentes eliciadores, evocadores e mantenedores de classes de respostas verbais.
Um dos casos apresentados no artigo exemplifica o comportamento verbal apresentado por uma paciente de 49 anos. A paciente relatou histórias sucessivas de hospitalização em função de problemas de ordem emocional e físico, relatou também que pessoas a perseguiam por todos os lugares. Por consequência, passou a responder de forma desorganizada sobre cantos de pássaros, veículos em movimentos ou estacionados, viaturas de polícias militar, deixando então de sair de casa. A terapeuta interviu na tentativa de modificar as classes de respostas verbais definidas como inapropriadas, incluindo procedimentos direcionadas para a diminuição desses relatos. No fim, a participante aprendeu que não existia relação funcional entre o que ela imaginava e os fatos que ocorriam em seu ambiente natural. Isso porque, de acordo com análise comportamental, para modificar o comportamento é imprescindível relacioná-los com as condições que os produziram.
Portanto, intervenções com funções de modelar e controlar repertórios devem ser aplicados, como modelagem, modelação, reforçamento positivo, reforçamento diferencial de comportamentos alternativos e extinção, sendo assim, esses comportamentos são desenvolvidos, fortalecidos, mantidos ou extintos pelas suas próprias consequências. Para a psicologia da saúde, estudos como esses são importantes pois o conhecimentos sobre esses comportamentos possibilita o desenvolvimento de estratégias de intervenção e  enfrentamento mais eficazes.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Problemas dos cuidadores de doentes com esquizofrenia: A sobrecarga familiar/ Problems of caregivers of patients with schizophrenia: The family burden


Alves, J. F. M., Almeida, A. L., Mata, M. A. P., & Pimentel, M. H. (2018). Problemas dos cuidadores de doentes com esquizofrenia: A sobrecarga familiar. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, (19), 8-16.  doi.org/10.19131/rpesm.0197

Resenhado por Millena Bahiano

A esquizofrenia é uma perturbação mental grave que apresenta curso e prognóstico que variam ao longo do tratamento. Os sintomas incluem disfunções cognitivas, emocionais e comportamentais que alteram a percepção, a linguagem, a comunicação, o afeto, o pensamento e o discurso do indivíduo. Com o processo de desinstitucionalização dos pacientes psiquiátricos, a família passa a ter um papel fundamental na rede de atenção e assistência em saúde mental dessas pessoas. Quanto ao processo de cuidar do outro, a literatura já vem indicando que os familiares/cuidadores também necessitam de suporte e atenção em saúde mental, devido à sobrecarga inerente aos cuidados prestados ao paciente com adoecimento mental.
O presente estudo foi realizado com 35 familiares de pessoas com diagnóstico de esquizofrenia e que estavam sendo tratadas pelo Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental de um hospital da Zona Centro de Portugal. O objetivo foi avaliar os problemas dos familiares/cuidadores de pessoas com esquizofrenia bem como, a sua relação com as variáveis de caracterização sociodemográfica e tempo de contato com o paciente. Utilizou-se o Questionário de Problemas Familiares (FPQ) que é um instrumento de autopreenchimento formado por 29 itens avaliados de 1 a 4, em escala tipo Likert e composto por cinco subescalas: sobrecarga objetiva, sobrecarga subjetiva, ajuda recebida de profissionais e/ou rede social, atitudes positivas e criticismo.
Dentre os resultados, viu-se que a amostra foi constituída por pessoas do sexo feminino (54,3%) e os participantes possuíam entre 17 e 77 anos. No que concerne ao tempo de contato do familiar com o paciente e a doença, 57,1% afirmaram ter contato há mais de 10 anos. Na escala sobrecarga objetiva foram observados problemas com o sono, negligência com outros familiares e dificuldades para ter períodos de lazer. Na sobrecarga subjetiva, os participantes apresentaram desapontamento pela evolução do quadro clínico do indivíduo e preocupação com o futuro dos familiares. Quanto as atitudes positivas, o item mais pontuado foi relativo ao elogio das qualidades do paciente e no criticismo, observou-se que apesar da sobrecarga identificada na família, os familiares não pretendiam deixar de cuidar do paciente. Já sobre o apoio recebido pelos familiares foi observado que na comunidade em geral, ainda, existe uma carência de dispositivos sociais e em saúde para apoiar essas famílias.
Em suma, diante do diagnóstico positivo para qualquer tipo de transtorno mental severo e persistente, faz-se importante que psicólogos e profissionais de saúde se atentem, cada vez mais às sobrecargas que podem ser ocasionadas aos cuidadores/familiares de pacientes psiquiátricos. Nesse sentido, a Psicologia da Saúde também pode ser contributiva na elaboração de ações e estratégias em saúde que envolvam à minoração de prejuízos psicológicos à saúde mental dos cuidadores.




domingo, 21 de julho de 2019

Publicada lei que inclui dados sobre o autismo no censo demográfico


Os censos demográficos realizados a partir de 2019 incluirão as especificidades inerentes ao transtorno do espectro autista. A nova regra, instituída pela Lei 13.861, de 2019, está publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta sexta-feira (19).
A inclusão de perguntas sobre o autismo no censo ajudará a determinar quantas pessoas no Brasil apresentam esse transtorno e como elas estão distribuídas pelo território. O objetivo é direcionar as políticas públicas para que os recursos sejam corretamente aplicados em prol de quem tem autismo.
A nova lei é oriunda do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 139/2018, aprovado no Senado em 2 de julho, com base em parecer da Comissão de Direitos Humanos (CDH) de autoria da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP). O texto foi sancionado sem vetos.
Comentário por Michelle Leite
Segundo o DSM-V, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits persistentes na comunicação social e por padrões repetitivos de comportamento e interesses restritos. O diagnóstico entre TEA leve, moderado ou severo é baseado na quantidade de apoio substancial necessário em cada caso. Nesse contexto, sem o tratamento adequado e intensivo, indivíduos com TEA podem sofrer uma série de prejuízos, tais como impedimento à aprendizagem, interferência na alimentação e no sono, déficits em capacidades adaptativas e funcionamento psicossocial insatisfatório, interferindo de modo negativo também na saúde dessas pessoas (APA, 2014). Além disso, essa condição exerce influência na dinâmica familiar com sobrecarga dos cuidadores, sobretudo a mãe (Gomes et al., 2015).
Ainda não existe uma contagem oficial acerca do número de pessoas com TEA no Brasil. O censo será a contagem oficial desses dados. Isto se torna relevante pois dados estatísticos são ferramentas tanto para a reivindicação de direitos e políticas públicas voltados para o tratamento do TEA, como para o direcionamento do trabalho dos profissionais. A rede de assistência deve promover o cuidado integral, a partir do oferecimento de atendimentos multidisciplinares adequados, nos quais se faz necessária a presença do psicólogo. Esse profissional poderá atuar no tratamento intensivo dos indivíduos com TEA por meio de treinos comportamentais e de habilidades sociais. Além disso, seu trabalho também envolve temáticas como o luto, coping, resiliência e autoeficácia que podem ser trabalhadas junto a família, de modo a promover melhorias na saúde mental e, por consequência, física dos cuidadores. 


Referências:

American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais DSM V (Vol. 5). Porto Alegre: Artmed.
Gomes, P. T. M., Lima, L. H. L., Bueno, M. K. G., Araújo, L. A., & Souza, N. M. (2015). Autism in Brazil: a systematic review of Family challenges and coping strategies. Jornal de Pediatria, 91(2), 111-121.

sábado, 20 de julho de 2019

Relações entre Autoestima e Sentido de vida: Estudo com amostragem domiciliar em Aracaju (SE)


Santos, L., & Faro, A. (2015). Relações entre autoestima e sentido de vida: estudo com amostragem domiciliar em Aracaju (SE). Clínica & Cultura 4 (2), 54-69.

Resenhado por Mariana Serrão

A autoestima é considerada a avaliação positiva ou negativa que o indivíduo faz de si mesmo. Caracteriza-se por um processo de valoração que envolve elementos cognitivos (pensamentos) e afetivos (emoções) que resultam em um comportamento (ação). A percepção da autoestima é constituída desde a infância por meio das interações culturais, familiares, posteriormente passa a receber influência dos pares e do contexto social, experiências grupais bem como individuais tendem a variar os níveis de autoestima.
Atualmente, busca-se entender como a autovaloração auxilia na capacidade do indivíduo diante das adversidades. Estudos apontam que a autoestima é um aspecto importante na manutenção da saúde. Em contextos de alteração do status adaptativo (em direção ao bem ou mal-estar), a autoestima então sofreria o impacto dessas experiências, funcionando tanto como moderador do ajustamento (aumentando ou reduzindo o impacto do estressor), quanto sendo afetada pelo desfecho do enfrentamento (modificação da relação self-percebido e ideal).
Além da autoestima, o sentido de vida pode ser outro fator importante na capacidade de adaptação do sujeito. O sentido de vida é o desejo de encontrar um sentido para vida que, por sua vez, geraria um impulso de responsabilidade para o indivíduo em relação sua própria vida. Esse construto está associado à qualidade de vida e saúde física, em baixos níveis o sentido de vida se relaciona com graus mais elevados de ansiedade e depressão. Um sentido de vida bem definido otimiza a visão da pessoa acerca da situação em que se encontra, mesmo que esta seja negativa. Assim como a autoestima, o sentido de vida pode ser um fator protetivo em momentos de adversidades. O presente estudo teve como objetivo: 1. Conhecer a distribuição social da autoestima e do sentido de vida em uma amostra representativa da população, domiciliar e de adultos; 2. Analisar as relações entre esses construtos e variáveis componentes do perfil sociodemográfico e clínico dos participantes, e 3. Identificar as principais variáveis associadas à autoestima e ao sentido de vida na amostra pesquisada.
A amostra desse estudo foi composta por 646 indivíduos adultos entre 18 e 65 anos, residentes de 15 bairros na cidade de Aracaju (SE). Foram utilizadas a Escala de Autoestima de Rosenberg, o Teste de Propósito de Vida e um questionário sociodemográfico e clínico para coleta de dados. No que diz respeito às análises de dados, primeiro foi realizada uma análise descritiva, em seguida uma regressão linear com as variáveis sentido de vida e autoestima. Em relação às variáveis sociodemográficas e clínicas foram realizados os testes de correlação de Pearson e comparação de médias (t de Student e ANOVA).
Observou-se significância estatística entre autoestima e as variáveis: sentido de vida, religiosidade, qualidade de vida e manter relacionamento afetivo estável. Enquanto para sentido de vida, além da autoestima, mais cinco variáveis apresentaram significância estatística: religiosidade, qualidade de vida, manter relacionamento afetivo estável, professar uma religião e ter ocupação.
Para o psicólogo da saúde, conhecer as variáveis que interferem na capacidade adaptativa do indivíduo é fundamental para trabalhar as estratégias de enfrentamento do sujeito diante as adversidades. Entender que a autoestima afeta a forma de resposta em situações estressoras é uma maneira de saber onde intervir em momentos que essas situações aparecem, por exemplo.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Saúde Mental Infanto-juvenil: A necessidade de Políticas Públicas mais efetivas pelo Estado


Oliveira, S. M., Silva, M. S., & Nogueira, M. C. A. (2018). Saúde Mental Infanto-juvenil: A necessidade de Políticas Públicas mais efetivas pelo Estado. Id on Line Revista de Psicologia12(41), 748-759.

Resenhado por Mariana Menezes

O sistema de saúde atualmente vigente no Brasil ainda não atende de forma satisfatória às necessidades de saúde mental de crianças. A maioria dos estudos, políticas e serviços assistenciais relacionados à saúde mental são direcionados aos adultos. A saúde mental de crianças e adolescentes se trata de um problema de saúde pública e seu cuidado deve ser disponibilizado por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, devido à incapacidade do Estado de fornecer saúde pública com integralidade para a população, essa assistência tem sido prestada por instituições privadas ou filantrópicas, o que tem gerado situações de desassistência, abandono e exclusão.
Tudo isso demonstra que, apesar dos avanços trazidos pela Reforma Psiquiátrica, o Brasil ainda precisa enfrentar diversos desafios, dentre eles o de desenvolver políticas públicas capazes de assegurar os direitos fundamentais básicos da população, inclusive os das crianças. Além disso, é preciso melhorar as diretrizes políticas no sentido de elaborar e implementar ações assecuratórias da saúde mental infanto-juvenil.
Os transtornos infanto-juvenis possuem particularidades de risco e proteção, que carecem de estratégias específicas, não sendo suficiente a adaptação do modelo adulto para tratá-los. Nesse sentido, há três principais problemas a serem enfrentados: (1) a expansão dos serviços de saúde, especificamente dos CAPSi e dos ambulatórios de saúde mental infantil; (2) a gestão territorial, visto que o tratamento de uma enfermidade mental carece de acompanhamento constante; e (3) possibilidade dos menores serem atendidos em CAPS e ambulatórios não específicos, se preciso, sendo necessário que o corpo profissional seja devidamente qualificado para tanto.
Além da aprimoração do setor da saúde, também é importante investir em estudos, pois a investigação das enfermidades mentais infanto-juvenis permite o conhecimento e divulgação das características presentes nas doenças mentais em crianças. O estudo de transtornos mentais permite, ainda, o reconhecimento das debilidades cerebrais com mais facilidade, com o escopo de tomar as medidas cabíveis a sua remediação o mais breve possível. Também se faz necessário o desenvolvimento de estudos para fins de arrecadar dados e informações culturalmente relevantes, para que seja possível elaborar políticas de saúde mental especificas direcionadas ao público infantil que sejam adequadas, principalmente em relação à atenção primária, em razão de ser etapa fundamental no sistema de saúde.
Por fim, o presente artigo trata de uma temática relevante no contexto da Psicologia da Saúde tendo em vista que chama atenção para a necessidade de melhorias por parte do Estado na assistência à saúde mental infanto-juvenil (principalmente na atenção primária). Além disso, o artigo incentiva a qualificação dos profissionais para atuarem junto a esse setor, a realização de estudos para arrecadar informações culturalmente relevantes que ajudem na criação de políticas públicas voltadas para crianças e adolescentes e, por fim, a criação de políticas públicas e ações específicas para o cuidado da população infantil, visando conciliar as particularidades desse grupo com os princípios estabelecidos pelo SUS.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Transtornos mentais maternos graves e risco de malformação congênita do bebê: Uma metanálise


Pereira, P. K., Lima, L. A., Magnanini, M. M. F., Legay, L. F., & Lovisi, G. M. (2011). Transtornos mentais maternos graves e risco de malformação congênita do bebê: Uma metanálise. Cadernos de Saúde Pública27, 2287-2298.

Resenhado por Maria Clara

Entre 1980 e 2000, os defeitos congênitos saíram da quinta para segunda causa de óbitos em menores de um ano. Ademais, as anomalias congênitas interferem na gravidade das intercorrências, morbidade, complicações clínicas entre outros. Embora hajam diversos estudos que conjecturam a associação entre transtornos psiquiátricos maternos graves e defeitos congênitos, os resultados ainda são inconclusivos.
A malformação congênita é mais prevalente em gestantes mais jovens e acima dos 35 anos, que fazem uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, além daquelas que não fazem acompanhamento pré-natal adequado e são mais vulneráveis socioeconomicamente. Na população geral, a prevalência gira em torno de 4%. A gravidez e o puerpério configuram-se como o período de maior prevalência de transtornos mentais da vida da mulher, sendo a depressão o mais corrente. Foram avaliados seis estudos extraídos das bases de dados selecionadas, que investigavam a relação entre os transtornos mentais maternos graves com as anomalias congênitas. O transtorno mais explorado foi a esquizofrenia e alguns estudos também avaliaram transtornos afetivos. Todos os estudos encontraram significância estatística para esquizofrenia materna e risco de malformação, e em menor efeito para os transtornos afetivos.
Mães com transtornos mentais graves obtiveram 63% mais chances de suas crianças nascer com malformação congênitas comparado a crianças de mães sem transtorno mental. Este risco se acentua quando o transtorno mental materno em questão é a esquizofrenia. Há muito, a literatura já apresentava informações acerca da associação da prematuridade e baixo peso ao nascer com a presença de alguns transtornos mentais comuns durante a gestação, principalmente a ansiedade e depressão. Os estudos analisados também apontaram alguns mecanismos que engatilhavam a relação entre os transtornos mentais maternos e defeitos congênitos, como efeitos provocados pelo álcool, tabaco, antipsicóticos e outras drogas durante o período gravídico. Ainda haviam aspectos relacionados a vida diária como sedentarismo, maus hábitos em saúde, dieta precária, etc.
Além disso, devido aos próprios sintomas psiquiátricos é possível que as mulheres negligenciem seu estado de saúde, não seguindo as orientações médicas e não realizando adequadamente o pré-natal. Sendo assim, os transtornos mentais maternos graves não afetam somente a saúde da mãe e seu autocuidado, mas podem afetar também negativamente desenvolvimento do feto durante a gestação.  A Psicologia da Saúde auxilia no amparo às portadoras de transtornos mentais graves através de técnicas específicas visando a redução dos seus sintomas, além de promover o aumento da gravidade e suscetibilidade percebida para que as mesmas se engajem em comportamentos de saúde, elevando a adesão terapêutica e empenho na realização do pré-natal.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Terapia de aceitação e compromisso (ACT) e estigma: Revisão narrativa


Monteiro, É. P., Ferreira, G. C. L., Silveira, P. S. D., & Ronzani, T. M. (2015). Terapia de aceitação e compromisso (ACT) e estigma: Revisão narrativa. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas11, 25-31. doi: 10.5935/1808-5687.20150004

Resenhada por Maísa Carvalho

A estigmatização ocorre quando alguma particularidade de um determinado indivíduo (ou grupos) é atribuída como socialmente inaceitável ou inadequada, tornando-o incapacitado para a aceitação social plena. Entretanto, esse processo também pode vir a se desenvolver internamente, quando o indivíduo atribui e aplica em si mesmo o rótulo gerado pelo estigma público como verdadeiro, gerando ainda mais consequências negativas em sua saúde e vida social. Esta revisão narrativa visou explanar a possibilidade de eficácia da Terapia de Aceitação e Compromisso (Acceptance and Commitment Therapy - ACT) no tratamento de questões relacionadas ao estigma, visto que esta é uma abordagem que vem demonstrando evidências positivas para o tratamento de diversas condições em saúde mental.
A ACT é integrante das abordagens cognitivo-comportamentais de terceira onda, um grupo que, diferentemente das mais antigas, é mais sensível ao contexto e funções do fenômeno psicológico. Sendo assim, a ênfase se dá sobre a forma como o indivíduo interage com o mundo e não apenas como pensa ou se comporta. A abordagem clínica em questão apresenta como raiz teórica a Relational Frame Theory (RFT), uma teoria analítica comportamental que postula que o núcleo da linguagem e cognição humanas é aprendido e contextualmente controlado para fazer a relação de eventos e alterar funções de outros.
O principal conceito da ACT é a flexibilidade psicológica, tido como a capacidade do indivíduo se conectar com o momento presente e com suas experiências internas, que, de acordo com o contexto, podem persistir ou ser alteradas por ele em prol de novos objetivos. Para aumentar essa flexibilidade, a abordagem faz uso de seis processos psicológicos de mudança, a saber:
1)      Aceitação: Definida como a ação de acolher as experiências internas, visando diminuir o esforço para mudá-las;
2)      Desfusão cognitiva: Tenta-se reduzir a atribuição de significados das experiências internas, de modo que os pensamentos são só pensamentos, sentimentos apenas sentimentos e comportamentos como apenas comportamentos;
3)      Estar presente: Uma atenção flexível, fluida e voluntária para questões internas e externas como ocorrem, evitando julgamentos, de forma a minimizar o impacto de um mundo cognitivamente construído;
4)      Eu como contexto: Em resumo, o que indivíduo acredita ser;
5)      Valores: Elementos pelos quais o indivíduo se preocupa e se motiva para alcançar determinados objetivos;
6)      Ação comprometida: A aplicação dos valores do indivíduo em seus objetivos e metas pessoais.
Por ser uma abordagem recente, especificamente firmada na literatura no final da década de 90, a ACT possui uma base empírica pouco robusta. Entretanto, no que se refere a temática do estigma, pesquisas narradas no estudo que utilizaram instrumentos baseados nos aspectos teóricos da ACT e também intervenções realizadas com esta abordagem demonstraram resultados bastante satisfatórios e eficazes quanto a resolução de problemas envolvendo o processo de estigmatização. Com base no exposto, o desenvolvimento de novas pesquisas sobre a eficácia da ACT em relação com a Psicologia da Saúde pode beneficiar a produção de intervenções em prevenção, promoção e tratamento, especialmente em saúde pública, aumentando ainda mais a diversidade de aplicações com populações mais carentes.