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domingo, 27 de outubro de 2019

Autismo em bebês: como identificar?


Resenhado por Giulia Oliveira

A identificação precoce do autismo é fundamental para o tratamento mais adequado e o entendimento mais claro do prognóstico da doença. Portanto, é necessário estar atento aos principais sintomas do Transtorno do Espectro Autista em crianças, de forma que o diagnóstico possa ser feito o mais cedo possível.


sábado, 26 de outubro de 2019

Terapia Cognitivo-Comportamental para transtornos alimentares: A visão de psicoterapeutas sobre o tratamento

Oliveira, L. L., & Deiro, C. P.. (2013). Terapia cognitivo-comportamental para transtornos alimentares: A visão de psicoterapeutas sobre o tratamento. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 15(1), 36-49.
Resenhado por Elvis Leal

O presente estudo foi voltado para os transtornos alimentares (TA) anorexia nervosa (AN) e bulimia nervosa (BN). Esses transtornos se caracterizam pelo medo de engordar, redução do consumo nutricional, ingestão de grande quantidade de alimentos seguida de indução de vômito e uso abusivo de laxantes e/ou diuréticos. Os TA atingem principalmente a população feminina na faixa etária de 13 a 20 anos (aproximadamente 1% nessa população). Vale ressaltar que parte da população não preenche todos os critérios, mas possuem traços de comportamento anoréxico ou bulímico. Alguns tratamentos para os TA envolvem dietas para o ganho de peso, porém a taxa de recaída é alta. Um desvio na dieta pode ser visto como um fracasso levando à desistência temporária do controle da alimentação.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem se mostrado eficiente no tratamento dos TA. Fairburn (1991) usa essa abordagem para fazer o cliente analisar seus pressupostos, modificar suas crenças, pensamentos automáticos e os comportamentos disfuncionais. Pensamentos dicotômicos são comuns. Outra tendência disfuncional é a atenção seletiva, de modo a tentar confirmar as crenças, e ignorando ou distorcendo as que contradizem a crença. O tratamento para os TA sugeridos pela TCC têm como meta a diminuição da compulsão e da restrição alimentar, dos episódios bulímicos, da frequência de atividade física, a diminuição do distúrbio da imagem corporal, a modificação do sistema disfuncional de crenças associadas à aparência, peso e alimentação e o aumento da autoestima.
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi investigar como se dá o tratamento dos TA. Foram selecionados quatro psicoterapeutas que atuam a mais de 5 anos na área para responder algumas perguntas. O processo para o tratamento do TA consiste em três etapas com oito entrevistas cada uma, sendo duas entrevistas por semana. A primeira etapa consiste em traçar os objetivos: expectativas, intenções e esperança. Outro ponto a ser abordado nas primeiras sessões é a ingestão de alimentos, é necessário prevenir que o cliente entre em uma dieta e tenha um episódio bulímico. São indicados dieta fixa e uso de técnicas comportamentais como a evitação de situações de estresse. A segunda fase é a reestruturação cognitiva. Nesse ponto o cliente é levado a identificar e modificar as crenças disfuncionais que fazem a manutenção do TA. Por fim, é necessário que se elabore um plano de prevenção a recaídas.
De acordo com a literatura, a família tem um papel fundamental no tratamento do TA, muitas vezes se envolvendo diretamente no tratamento. Um problema relatado pelos psicoterapeutas em relação ao tratamento dos TA foi a falta de padronização na inserção da família no tratamento. Outros problemas envolvem a falta de motivação por parte de alguns clientes e também questões financeiras.
Os quatro entrevistados concordaram que a abordagem etiológica do transtorno é muito relevante. O momento para se fazer isso pode ser após a atenuação dos sintomas do TA ou desde o começo do tratamento. As considerações para se dar alta ao cliente varia entre esperar uma situação estressante para ver como o cliente lida com a situação à elaboração do plano de prevenção de recaídas.
Como foi apontado na pesquisa, a TCC carece de estudos acerca desses transtornos. A Psicologia da Saúde pode contribuir com pesquisas com enfoco nas distorções da autoimagem, principalmente no contexto brasileiro.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Qualidade de vida no Transtorno Obsessivo-Compulsivo: um estudo com usuários da Atenção Básica


Scholl, C. C., Tabeleão, V. P., Stigger, R. S., Trettim, J. P., Mattos, M. B. D., Pires, A. J., ... & Quevedo, L. D. A. (2017). Qualidade de vida no Transtorno Obsessivo-Compulsivo: um estudo com usuários da Atenção Básica. Ciência & Saúde Coletiva22, 1353-1360.

Resenhado por Sara Andrade

A Organização Mundial da Saúde (OMS), define a qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Esta pode ser afetada por diversos fatores, dentre eles, a presença de transtornos mentais.
Um dos transtornos mentais mais incapacitantes é o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), que hoje já é a 10ª causa de incapacidade no mundo. O TOC é caracterizado por ideias obsessivas e/ou por comportamentos compulsivos recorrentes e tem curso crônico. Os sintomas atrapalham e consomem tempo da vida do sujeito, interferindo ocupacional e socialmente. As consequências mais comuns do TOC são a diminuição da autoestima e do bem-estar subjetivo e a interferência negativa na vida estudantil, profissional, familiar, afetiva e social. Estudos populacionais mostram que a qualidade de vida no TOC é menor quando comparada à população geral.
A avaliação e o acompanhamento dos índices de qualidade de vida em pacientes com transtornos mentais permitem a identificação de suas prioridades, sendo possível a implementação de ações efetivas para melhorar a dos usuários do sistema de saúde. A atenção primária é a porta de entrada da atenção em saúde no Brasil, sendo definida como estratégia de organização do sistema para realizar ações de promoção à saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento e reabilitação individual e coletiva. Diante de tais informações, o objetivo do estudo foi avaliar a qualidade de vida em portadores de TOC usuários da atenção primária à saúde.
Tratou-se de um estudo transversal alinhado a um de intervenção  conduzido em quatro unidades de básicas de saúde (UBS) vinculadas à Universidade Católica de Pelotas no município de Pelotas (Rio Grande do Sul). A amostra foi selecionada por conveniência, incluindo todos os usuários das três UBS que buscaram algum tipo de atendimento no período de 1º de março a 30 de julho de 2009. Para avaliar a QV foi utilizada a WHOQOL–Bref, e o TOC foi avaliado através da M.I.N.I. Foram avaliados 1081 indivíduos. A prevalência de TOC encontrada foi de 3,9%. Portadores de TOC apresentaram médias inferiores em todos os domínios da QV, sendo o aspecto psicológico o mais afetado, quando comparados ,aos indivíduos sem TOC (p < 0,001). Tal achado corroborou com os dados da OMS que mencionam o transtorno como um dos mais incapacitantes. 
A partir dos achados do estudo, supõe-se que a qualidade de vida é influenciada negativamente pelo transtorno mental, o qual apresenta altas prevalências na atenção primária. Os achados deste estudo enfatizam a importância de utilizar a QV como instrumento de monitoramento da melhora do transtorno no âmbito da atenção básica à saúde. Por isso, conclui-se também a necessidade de verificar e reforçar a importância do trabalho de psicólogos da saúde junto a equipe de atenção básica, com vista à redução dos impactos que o TOC acarreta na vida das pessoas que buscam o serviço.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Transtornos por uso de substâncias psicoativas e esquemas iniciais desadaptativos: Revisão sistemática de literatura


Rocha, I. C. O., Lopes, E. J., & Lopes, R. F. F. (2019). Transtornos por uso de substâncias psicoativas e esquemas iniciais desadaptativos: Revisão sistemática de literatura. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 11(1), 76-94.

Resenhado por Renata Elly

O consumo de substâncias psicoativas é disseminado em todas as classes sociais, faixas etárias e culturas. Segundo dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, 2018), aproximadamente 31 milhões de pessoas fazem uso de drogas de forma problemática e apresentam transtornos relacionados ao consumo de substâncias, incluindo a dependência. O DSM-V define o transtorno por uso de substâncias (TUS) como um agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos relacionados ao uso contínuo de substâncias apesar de problemas significativos, com graves consequências sociais e clínicas.
A dependência de substâncias deve ser compreendida de modo multidimensional e integrativo, incluindo aspectos biológicos, psíquicos, sociais e ambientais, por isso é considerado de difícil tratamento. As terapias cognitivas e comportamentais apresentam claras evidências de que a compreensão de comportamentos e cognições disfuncionais é relevante, sendo a TCC o modelo de terapia mais amplamente utilizado.
Uma das abordagens estudadas nesse contexto é a Terapia do Esquema (TE), onde a partir de esquemas o indivíduo seleciona e elabora informações do ambiente para interpretar e atribuir significado aos eventos. Alguns esquemas se desenvolvem como resultado de experiências nocivas na infância, chamados de esquemas iniciais desadaptativos (EIDs), levando os indivíduos a criarem na vida adulta as condições de infância que lhe foram mais prejudiciais. Diversos autores propõem que, em resposta a esses esquemas, muitas pessoas desenvolvem mecanismos de enfrentamentos desadaptativos, como o abuso de álcool e outras drogas.
O presente estudo investiga, a partir de uma revisão de literatura, quais componentes cognitivos e comportamentais estão envolvidos no comportamento aditivo. Foi observado um significativo número de estudos que relacionam os EIDs à possível manutenção do TUS, porém não se pode concluir que haja, na literatura, um padrão de EIDs que caracterize essa população, uma vez que, os achados indicam EIDS distintos. No entanto, alguns esquemas como “autocontrole/autodisciplina”, “desconfiança/abuso”, “autossacrifício” são os que frequentemente apresentam escores mais elevados. Foram encontrados poucos estudos que avaliassem a eficácia da Terapia do Esquema, sendo mais comumente identificada no tratamento de transtornos de personalidade. Ball (2007) indicou que a identificação e modificação das EIDS resultaram em uma diminuição mais rápida no uso de substâncias do que a teoria tradicional dos 12 passos. Porém, é importante salientar que pela dificuldade do tratamento da dependência química, dificilmente um modelo único de intervenção será suficiente.
Portanto, é necessário o desenvolvimento de pesquisas que investiguem a relação dos EIDS e o abuso de substâncias. A psicologia da saúde pode contribuir na possibilidade da identificação de estratégias mais eficazes de prevenção e tratamento.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Revisão integrativa de instrumentos de distorções cognitivas depressivas/ Integrative review of instruments of depressive cognitive distortions


Cunha, F. A., & Baptista, M. N. (2017). Revisão integrativa de instrumentos de distorções cognitivas depressivas. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas13(1), 64-73. doi:10.5935/1808-5687.20170010

Resenhado por Millena Bahiano

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a depressão é caracterizada pela presença de vários sintomas, tais como: humor deprimido, anedonia, alterações no apetite, insônia ou hipersonia, fadiga, sentimento de inutilidade ou culpa, diminuição de concentração, entre outros. Contudo, já é visto na literatura que muitos autores têm desenvolvido modelos explicativos no intuito de compreender a relação existente entre a sintomatologia depressiva e a presença de pensamentos distorcidos e erros cognitivos, os quais frequentemente tem sido mais identificados em indivíduos depressivos do que em pessoas que não apresentam sintomas de depressão.
Esta pesquisa se trata de uma revisão integrativa da literatura, cujo objetivo foi identificar e analisar estudos que utilizaram definições teóricas e instrumentos para a avaliação de distorções cognitivas depressivas em diferentes amostras [universitários, pacientes depressivos, clínica (HIV), menores infratores e estudantes do ensino médio]. Para tanto, realizaram-se buscas nas bases de dados Scielo e PsycInfo entre os anos de 2007 e 2017. Ao todo foram encontrados 1.840 artigos e, após o processo de identificação e análise dos artigos selecionados, somente 15 estudos primários foram incluídos na presente revisão integrativa.
Nos resultados, viu-se que os instrumentos que de fato avaliaram as distorções cognitivas foram o Cognitive Erros Questionnaire (CEQ), Cognitive Triad Inventory (CTI), Depressive Cognition Scale (DCS), Cognitive Escape Scale (CES) e The How I Think Questionnaire (HIT-Q). A maioria dos estudos se ateve às propriedades psicométricas dos instrumentos. Tal resultado foi considerado pelos autores como um ponto importante para o avanço na área da psicologia e pesquisa. Especificamente no Brasil, não foi encontrado nenhum instrumento psicológico sobre distorções cognitivas depressivas. Em geral, observou-se que os constructos que mais estiveram relacionados aos pensamentos distorcidos e erros cognitivos foram depressão, crenças e pensamentos automáticos negativos.
Por fim, compreende-se que para os profissionais da psicologia se torna importante, cada vez mais, que a avaliação psicológica do paciente seja seguida pelo uso de instrumentos psicológicos de rastreamento. Dessa maneira, o psicólogo pode dispor de intervenções mais precisas durante o tratamento psicoterapêutico de distorções cognitivas relacionadas à depressão e, com isso, ter a sua prática e intervenções clínicas intermediadas por ferramentas que auxiliem na compreensão de estados mentais subjacentes ao adoecimento mental.

sábado, 19 de outubro de 2019

Super-heróis como recursos para promoção de resiliência em crianças e adolescentes


Weschenfelder, G. V., Fradkin, C., & Yunes, M. A. M. (2017). Super-heróis como recursos para promoção de resiliência em crianças e adolescentes. Psicologia: Teoria e Pesquisa33, 1-8. doi: 10.1590/0102.3772e33425

Resenhado por Mariana Menezes

As histórias em quadrinhos (HQs) de super-heróis não se restringem ao entretenimento, pois essas histórias abordam algumas questões de suma importância enfrentadas no cotidiano de pessoas. Tais questões estão ligadas à superação de adversidades, construção de identidade pessoal, elementos de ética, moral, justiça, enfrentamento de medos, de situações de violência, entre outros. Em todo o mundo, inclusive no Brasil, muitas pessoas vivem em condições desfavoráveis. Crianças e adolescentes constituem um grupo fragilizado da população brasileira, sendo que muitos são vítimas de negligência (76,35%), violência psicológica (47,76%), violência física (42,66%) e violência sexual (21,90%). Crianças e adolescentes em situação de risco psicossocial podem estar mais vulneráveis a apresentar comportamentos com consequências negativas na vida adulta. Sem a intervenção adequada, os resultados, como baixa autoestima, tendências suicidas, uso de substâncias e comportamento sexual de risco podem se agravar ao longo da adolescência e perdurar na idade adulta.
Diante disso, a pesquisa de Weschenfelder, Fradkin e Yunes (2017) analisou uma amostra de 20 super-heróis de maior visibilidade na cultura pop e conduziu uma indexação detalhada a fim de fazer um levantamento analítico das relações entre adversidades da vida ficcional de personagens super-heróis e adversidades citadas na vida real de crianças desfavorecidas psicossocialmente.
Nos resultados, verificou-se que todos os super-heróis passaram por adversidades similares aos grupos de crianças em risco, tais como: violência doméstica, orfandade (Homem-Aranha, Superman, Batman), abandono pela família (Hulk, Superman, Viúva Negra), assassinato de parentes (Homem-Aranha, Batman), pobreza ou limitações econômicas (Capitão América, Homem-Aranha) e bullying (Homem-Aranha, Capitão América). Foram detectadas ainda adversidades isoladas: ser portador de deficiências como cegueira, ter a mãe estuprada pelo padrasto e ter atividade no crime. A análise dos achados evidencia que os personagens sofriam não apenas com uma situação de risco, mas com mais de uma ao mesmo tempo, assim como muitas crianças e adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade social.
Em muitas histórias, as adversidades enfrentadas pelos super-heróis parecem fazer com que eles se desenvolvam diferentemente após o trauma sofrido. Essa dimensão teórica possibilita considerar que o personagem super-herói pode ser um modelo de resiliência, pois ele se transforma e se torna habilidoso para superar as suas adversidades. Para profissionais que trabalham com crianças menos favorecidas socialmente, a história comum existente entre os super-heróis e a vida da criança em risco pode ser utilizada para informar à criança que ela não é a única e tão somente uma vítima e que esses personagens lutaram com os mesmos problemas pelos quais muitas delas vivenciaram ou convivem. Para essas crianças, esse conhecimento pode reduzir a sensação de isolamento e impotência e criar um sentimento de desejo de fazer parte de uma comunidade de fortes e vencedores. Desta forma, os personagens das HQs podem, assim, vir a ser modelos inspiradores de superação e de resiliência.
Portanto, esta pesquisa conversa diretamente com a Psicologia da saúde, uma vez que o recurso de utilizar personagens de HQS como exemplo para crianças que enfrentam dificuldades semelhantes apresenta potencial para ser desenvolvido em intervenções psicoeducacionais e subsidiar políticas públicas para a promoção de resiliência nessa população.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Coping e Estresse Familiar e Enfrentamento na Perspectiva do Transtorno do Espectro Autista


Carvalho-Filha, F. S. S., Silva, H. M. C., Castro, R. D. P. D., Moraes-Filho, I. M. D., & Nascimento, F. L. S. C. D. (2018). Coping e estresse familiar e enfrentamento na perspectiva do transtorno do espectro do autismo. Revista de Divulgação Científica Sena Aires7(1), 23-30.

Resenhado por Maria Clara

O autismo é um Transtorno Global do Desenvolvimento caracterizado por déficits na interação social, na comunicação, na sensibilidade sensorial, coordenação motora e atenção, além de implicações na execução de tarefas de vida diária, variando em intensidade e severidade. A chegada de uma criança promove bastante comoção no seio familiar pois os pais sonham com o futuro de seus filhos, e o diagnóstico de autismo provoca uma ruptura de todas as expectativas outrora criadas.
Por ser um transtorno que acarreta em grande perda das habilidades sociais, causa sofrimento aos cuidadores que se encontram impossibilitados que estabelecer uma comunicação com seus filhos. As principais respostas emocionais emitidas pelos cuidadores após o diagnóstico são alívio por entenderem os comportamentos dos filhos, culpa por acharem que erraram durante a gestação e perda dos planos futuros sonhados.
O estudo objetivou avaliar o cotidiano de 32 cuidadores de autistas que frequentavam instituições que ofereciam apoio e tratamento a esse grupo. Foi observado que a dificuldade na comunicação prejudicava o desenvolvimento de atividades diárias e a relação os autistas com seus cuidadores, que diversas vezes não entendiam o que seus filhos queriam. Identificou-se ainda que as demandas de cuidado exigiam disponibilidade integral dos cuidadores, restando pouco tempo para que eles tenham cuidado consigo próprio, principalmente as mães.
Constatou-se que após o diagnóstico, a vida da família gira em torno das necessidades da pessoa com autismo. Desta forma, ocorrem muitas mudanças especialmente no que tange à vida do social dos cuidadores, pois estes passarão mais tempo buscando informações e acompanhando o tratamento. A ausência do apoio de outros membros acarreta em sobrecarga para os cuidadores primários, prejudicando a qualidade de vida dos mesmos.
A rede de apoio, seja ela familiar ou estatal, foi identificada como uma variável de alto valor protetivo, pois a inserção num grupo estimula diversas habilidades nos pacientes autistas, auxiliando no desenvolvimento e contribuindo para melhor qualidade de vida deles e de seus cuidadores. É importante que os psicólogos da saúde presentes nessas instituições promovam grupos de apoio a fim de potencializar o suporte social para pacientes e cuidadores.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Alexitimia e suas associações com depressão, suicídio e agressão: Uma visão geral da literatura / Alexithymia and its associations with depression, suicidality, and aggression: An overview of the literature

Hemming, L., Haddock, G., Shaw, J., & Pratt, D. (2019). Alexithymia and its associations with depression, suicidality and aggression: An overview of the literature. Frontiers in psychiatry10, 1-7. doi: 10.3389/fpsyt.2019.00203

Resenhado por Maísa Carvalho

Alexitimia é um fenômeno em que os indivíduos possuem a inabilidade de identificar e descrever seus sentimentos. O construto é derivado da neurociência e não se constitui como uma doença diagnosticada, mas sim como um aspecto clínico que está geralmente associado à outras desordens médicas, como, por exemplo, a depressão, o suicídio e o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Embora o conceito seja aparentemente similar ao de regulação emocional, a alexitimia é mais considerada como uma nuance e um tipo específico de regulação emocional. Este estudo pretendeu resumir o que já foi encontrado na literatura sobre a alexitimia e, mais precisamente, revisar pesquisas que relacionaram o conceito com a depressão, o suicídio e a agressão.
Os critérios diagnósticos básicos da alexitimia são: (a) dificuldade de identificar suas emoções; (b) dificuldade de descrever verbalmente seus sentimentos; (c) redução ou incapacidade de experienciar emoções; (d) estilo cognitivo orientado para o externo e (e) pobre capacidade de fantasiar ou ter pensamentos simbólicos. Na literatura, são considerados dois tipos distintos: primário e secundário. O tipo primário é tido como um traço estável de personalidade, o qual é desenvolvido naturalmente e emerge durante o período da infância ou os períodos iniciais da vida adulta. Em contraste, o tipo secundário postula que a alexitimia não surge ao longo do desenvolvimento, mas pode ser originada em qualquer momento do ciclo vital como consequência de eventos estressantes ou traumas. Feito o diagnóstico, podem ser escrutinadas as origens da alexitimia e classificado o tipo, sendo este um passo importante para guiar o tratamento, em especial psicoterápico.
Ao associar a depressão com a alexitimia, muitos estudos expressam ambos os construtos como correlacionados. Entretanto, ainda não existe um consenso científico quanto a forma de correlação: se a alexitimia predispõe o desenvolvimento de um transtorno depressivo, se é a consequência da depressão, ou se ambos apenas coexistem. No que se refere à sua associação com o suicídio, a literatura aponta que existem maiores evidências de que a alexitimia é mais fortemente relacionada com a ideação suicida. Além da depressão, outros fatores como baixa autoestima e fraco suporte social mediam a relação entre o construto e o suicídio. Quanto à relação com a agressão, os achados são atenuados com as variações de definição usadas para violência – os que tratam a agressão como um traço estável de personalidade ou estado de resposta momentânea. Estudos feitos com populações inerentemente agressivas, tais como agressores sexuais e adolescentes em conflito com a lei, e os também feitos apenas com adolescentes, sugerem forte associação entre a alexitimia e a agressão.
Apesar de se saber que a presença da alexitimia pode afetar a adesão e o crescimento no tratamento de doenças como a depressão, bulimia nervosa, transtorno do pânico e dentre outros, esta é geralmente tratada como um fator secundário e não isoladamente. Ou seja, o tratamento é feito apenas na redução dos sintomas psicopatológicos e não possui efeito direto na alexitimia. Pesquisas apontam que o ensino de inteligência emocional, terapias com base na regulação emocional e abordagens educacionais sobre as emoções podem diminuir os escores do construto. Logo, novos estudos em Psicologia da Saúde podem ser feitos a fim de obter novas evidências a respeito da incidência da alexitimia na população, bem como no desenvolvimento de instrumentos de detecção, formas de tratamento e ferramentas psicoeducativas.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Dançaterapia no autismo: Um estudo de caso


Teixeira-Machado, L. (2015). Dançaterapia no autismo: Um estudo de caso. Fisioterapia e pesquisa, 22(2), 205-211. doi: 10.590/1809-2950/11137322022015
Resenhado por Luanna Silva

O autismo é uma desordem neurológica que afeta o desenvolvimento neuropsicomotor. Dificuldades de socialização, padrões estereotipados repetitivos de comportamento, transtornos na comunicação verbal e não-verbal, prejuízos na habilidade de imitação caracterizam essa condição. A base patológica desse transtorno é desconhecida, contudo, considera-se que o dano principal pode ser no sistema de neurônios espelho. Esse sistema pode ser necessário para a compreensão da ação de outras pessoas e para aprender novas aquisições motoras por meio da repetição.
Um dos problemas centrais do autismo é a dificuldade sensorial, uma vez que essa envolve os obstáculos à socialização e comunicação, assim como restringe o repertório de interesses e atividades. Intervenções terapêuticas que apresentam esse elemento como foco têm demonstrado resultados positivos. A dançaterapia favorece a interação social e estimula vários sistemas que interferem na percepção do movimento, logo se mostra importante para o progresso do aparato neuromotor, desenvolvimento emocional-social e para a interconexão de áreas responsáveis pela associação do movimento.
O objetivo desse estudo foi investigar os efeitos da dançaterapia em um adolescente de 15 anos, diagnosticado com transtorno do desenvolvimento no espectro autista. Foram realizadas 120 sessões de dançaterapia, com duração de 30 minutos, duas vezes por semana, durante um ano. As sessões foram compostas por tarefas de lateralidade e percepção musical e rítmica. As músicas e sequências coreografadas eram modificadas a cada 20 sessões. Quanto aos instrumentos de avaliação, para medir o desempenho motor e gestual foi utilizada a Medida da Função Motora (MFM); o Teste de Tinetti foi utilizado para avaliar o equilíbrio corporal e as anormalidades da marcha; e a Escala de Avaliação do Autismo Infantil (Childhood Autism Rating Scale – CARS) para mensurar aspectos referentes à qualidade de vida e à gravidade do autismo.
Os resultados demonstraram melhora no desempenho motor e gestual, no equilíbrio corporal e na marcha. O escore total da MFM aumentou 27,08% e o Teste de Tinetti foi de 68% para 75%.  Ademais, a dançaterapia favoreceu melhora da qualidade de vida do adolescente e redução da gravidade do espectro autista. Na avaliação inicial, o jovem era classificado como autista grave apresentando um escore de 41,5 pontos na CARS. Após 12 meses de intervenção, a pontuação foi de 32,5, identificado como autista de leve a moderado.
A atividade física tem sido apontada como importante fonte de benefícios para essa população. A dança está presente em todas as culturas e envolve diversos comportamentos criativos, favorecendo que o indivíduo com autismo exponha seu completo potencial cognitivo, comportamental, social e comunicativo. Considerando os resultados positivos que terapias alternativas e complementares apresentam, é importante que psicólogos da saúde estejam atentos a fim de promover a aplicação e adesão de ações semelhantes junto a esse público.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

O efeito do estresse no trabalho sobre o esgotamento profissional (burnout) entre professores: O papel mediador da autoeficácia / The effect of work stress on job burnout among teachers: The mediating role of self-efficacy


Yu, X., Wang, P., Zhai, X., Dai, H., & Yang, Q.  (2015). The effect of work stress on job burnout among teachers: The mediating role of self-efficacy. Social Indicators Research, 122(3), 701-708. doi: 10.1007/s11205-014-0716-5

Resenhado por Luana C. Silva-Santos

Conceito introduzido em 1974 por Freudenberger, que o considerava sintoma de exaustão relacionado a profissões de ajuda, o esgotamento profissional (ou burnout) refere-se ao estado de fadiga física e mental experimentado após trabalhar sob forte pressão. Essa pressão frequentemente resulta em absenteísmo, insatisfação e rotatividade de funcionários, além de causar reações adversar psicológicas (ansiedade, depressão), fisiológicas (dores de cabeça, taquicardia, hipertensão) e comportamentais (abuso de substâncias, estilos não saudáveis de vida). A incapacidade de lidar com esse conjunto de fatores relacionados à pressão sofrida no trabalho leva o indivíduo ao burnout. Considerando autoeficácia como a especulação do indivíduo sobre sua própria capacidade de concluir uma ação, estima-se que este seja um construto relacionado ao burnout, que pode servir como mediador do mesmo. Diante disso, Yu, Wang, Zhai, Dai e Yang (2015) investigaram o impacto do estresse no trabalho no burnout, focando em confirmar o papel mediador da autoeficácia. Participaram do estudo 387 professores de ensino médio, 183 homens e 204 mulheres que responderam as escalas Perceived Stress Scale (Escala de Estresse Percebido), General Self-efficacy Scale (Escala de Autoeficácia Geral) e Maslach Burnout Inventory (Inventório de Burnout de Maslach).
Os autores encontraram que tanto estresse percebido como autoeficácia foram significativamente correlacionados ao burnout. Professores que percebiam um maior nível de pressão no trabalho tenderam a desenvolver menor autoeficácia e maior insatisfação, fadiga e cansaço mental relacionado ao trabalho. A modelagem de equações estruturais indicou que a autoeficácia mediou parcialmente o estresse percebido em relação ao burnout e o modelo final também revelou significância estatística em ambas as trajetórias de estresse no trabalho percebido a burnout através da autoeficácia.
Professores com baixa autoeficácia tendiam a adotar táticas evasivas para lidar com contratempos, atribuir seu sucesso ou fracasso ao ensino e à influência de fatores externos, negligenciar sua capacidade e seu esforço interno. A articulação desses fatores com sintomas psicológicos, fisiológicos e comportamentais resultam em sintomas de despersonalização e exaustão emocional e levam ao burnout. Assim, além de estender achados de estudos anteriores, o presente trabalho também fornece evidências para construção de programas preventivos de esgotamento profissional e de promoção da saúde mental dos professores no local de trabalho.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade e o Desenvolvimento de Habilidades Cognitivas


Cantiere, C. N., Micieli, A. P. R., Lellis, V. R. R., de Siqueira, A. R. C., de Freitas Marino, R. L., Teixeira, M. C. T. V., & Carreiro, L. R. R. (2018). Intervenção neuropsicológica no desenvolvimento de habilidades cognitivas em crianças com TDAH: Estudo de caso. Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, 14(2). Recuperado de: http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/cpgdd/article/view/11256/6993.

Resenhado por Lizandra Soares

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é entendido como um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado essencialmente pelo rebaixamento no desempenho atencional e comportamento hiperativo. Em geral, indivíduos diagnosticados com TDAH relatam dificuldade de manter a atenção ou concentração por um período de tempo prolongado em tarefas como as escolares. Do ponto de vista neuropsicológico, apresentam déficit na memória operacional, o que dificulta a aprendizagem de novas habilidades escolares provocando dificuldade no desempenho escolar, falta de disciplina das atividades em geral (inicia e não conclui tarefas ou/e dificuldade de seguir regras), além de problemas com organização (perdendo objetos com facilidade). Ou seja, esse transtorno provoca prejuízos cognitivos e comportamentais que interferem o desenvolvimento e a vida do indivíduo.
O objetivo do artigo resenhado foi desenvolver, implementar e avaliar indicadores de melhora de um programa de intervenção neuropsicológica para treino de habilidades de atenção e flexibilidade cognitiva. Para tanto realizou-se um estudo de caso com uma criança de 8 anos sem déficit intelectual e com marcadores comportamentais de TDAH. Neste, foi feita uma avaliação pré-intervenção por meio de inventário para a análise do perfil comportamental, teste de atenção voluntária, automática e temporal, função executiva e resistência à distração e velocidade de processamento de informações cognitivas. Após a avaliação, foi implementado um treino de reabilitação neuropsicológica para TDAH com atividades lúdicas realizado em 15 encontros. Finalizada a intervenção, o participante foi reavaliado com os mesmos instrumentos comportamentais e neuropsicológicos, a fim de comparar os dados. Faz-se importante frisar que, durante as intervenções, o participante fez uso de medicação psicoestimulante. Em todas as sessões de intervenção houve a participação de um observador que registrou o treino realizado utilizando um protocolo de observação para categorizar comportamentos alvos no TDAH.
Por meio da intervenção realizada foi possível observar melhora de diferentes indicadores comportamentais e cognitivos, refletindo no desenvolvimento e na inserção educacional e social do participante. O participante apresentou evolução no quadro da desatenção e dos sintomas comportamentais. O paciente, após o treino, aderiu a regras e a necessidade de esperar a sua vez. De igual maneira, nos testes aplicados, apresentou melhor desempenho em planejamento prévio da atividade e flexibilidade cognitiva na resolução de problemas. A limitação do estudo realizado está no fato de ter sido um estudo de caso clínico o que restringe a possibilidade de generalização. Neste sentido, sugere-se a realização de mais estudos sobre nesse modelo utilizando um número maior de pessoas a fim de levantar indicadores estatísticos possíveis de serem analisados de forma mais ampla. Por fim, do ponto de vista da psicologia da saúde, esse tipo de estudo é importante porque permite a reflexão sobre formas de intervenção eficazes dentro da prática clínica da psicologia e da neuropsicologia no que tange o TDAH.  

domingo, 13 de outubro de 2019

Transtornos de Ansiedade: o mal do século?



Postado por Laís Santos

A ansiedade é uma reação normal inerente à condição humana. Quando começa a causar danos ao indivíduo interferindo na vida do sujeito, ela deixa de ser natural e passa a ser um transtorno. Mundialmente, a cada ano, crescem o número de pessoas que são acometidas por algum transtorno de ansiedade. Em muitos casos tais transtornos estão intimamente atrelados a outros transtornos, como por exemplo, os transtornos depressivos. A Psicologia, em especial, a Psicologia da Saúde, tem importante papel no que tange à saúde mental, à medida que desenvolve estratégias de intervenção e cuidado voltadas para o bem-estar e melhoria nos níveis de saúde física e mental das pessoas.