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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

“De repente os primeiros cinquenta anos de minha vida fizeram sentido”: Experiências de pessoas adultas com autismo


“Suddenly the first years of my life made sense”: Experiences o folder people with autism.

Hickey, A., Crabtree, J., & Stott, J. (2017). ‘Suddenly the first fifty years of my life made sense’: Experiences of older people with autism. Autism, 11(1), 1-11. doi: 10.1177/1362361316680914.

Resenhado por Catiele Reis

            O autismo causa um impacto na vida de familiares e portadores da doença, porém adultos com autismo correm mais risco de desenvolver um quadro de ansiedade, depressão, dentre outras desordens psicológicas (Moss et al., 2015). Para além destes fatores, nos adultos, a vivência e as representações trazidas pelo autismo durante a infância refletem negativamente nas relações sociais e no autoconceito do indivíduo (Happe, & Chalton, 2012).
            Ao pensar neste impacto e nas diferenças de limitações que existem entre cada sujeito com autismo, os autores deste texto buscaram explorar as experiências vivenciadas pelos sujeitos com mais de 50 anos. Assim, objetivaram explorar as vivencias do autismo nos sujeitos adultos e suas percepções acerca do suporte social e saúde. Partindo de um pressuposto qualitativo, os autores selecionaram 13 pessoas residentes no Reino Unido, diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e que possuíam mais de 50 anos. Os participantes responderam a um questionário sociodemográfico e uma entrevista semiestruturada  com duração de 1 hora e 20 minutos, em média. Os dados foram analisados a partir do método de categorização temática na qual buscavam-se aproximar as falas por eixo, surgindo assim, três categorias de análise: (1) Diferenças; (2) Revisão da vida e; (3) Ansiando por conexão.
            Percebeu-se que os indivíduos buscam sempre ferramentas para reduzir à visibilidade as diferenças. Isto ocorre porque o diagnóstico promove certa ruptura, algo parecido como uma quebra de conexão com o mundo externo, além de ser considerado, por vezes, um tabu para sociedade. Assim, buscam-se estratégias para fortalecer os entrelaçamentos pessoais e sociais com as pessoas. Ressaltou-se aqui a importância de um suporte social positivo, aceitação por parte da sociedade e o oferecimento de oportunidades aos portadores de TEA.
            Por fim, os autores ressaltaram que mais estudos nestes moldes poderiam servir para que psicólogos da saúde possam traçar intervenções mais eficazes em todos os níveis de saúda. Este é o primeiro estudo qualitativo com adultos diagnosticados com TEA e refletem que os resultados encontrados aqui se assemelham muito aos resultados das pesquisas realizadas com indivíduos mais jovens, sugerindo novas pesquisas e ações voltadas ao incremento de suporte social e ressaltando a importância de reduzir o isolamento e promover o acesso ao diagnóstico.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Intervenções comportamentais para o transtorno de escoriação: Revisão de artigos publicados em periódicos de saúde.


Richartz, M., Gon, M.C.C. &Zazula, R. (2017). Intervenções comportamentais para o transtorno de escoriação: Revisão de artigos publicados em periódicos de saúde. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, 13(2), 2526-6551. http://dx.doi.org/10.18542/rebac.v13i2.5903

Resenhado por Thais Aragão

Pessoas com transtorno de escoriação apresentam comportamentos compulsivos de lesionar a pele (coçar, picar, arranhar, furar), podendo levar ao surgimento de cicatrizes e deformações na pele. Acomete aproximadamente 3% da população feminina. É considerado um problema dermatológico, mas também apresenta características de transtornos psiquiátricos. O DSM-5 classificou o transtorno de escoriação como excesso de comportamento de beliscar a pele e déficit de respostas em controlar o impulso para tal ação, causando sofrimento emocional e prejuízo em nível social e profissional. As alterações cutâneas causadas pelo comportamento de escoriar a pele gera preconceito e dificulta as interações sociais.De acordo com Gupta e A. K Gupta (1996), provocar lesões na própria pele tem relação com sentimentos de inadequação social, insegurança, sensação de vazio e solidão.
O presente estudo constituiu-se de uma revisão bibliográfica em periódicos de saúde para identificar pesquisas aplicadas ou relatos de casos com indivíduos com desenvolvimento típico que apresentassem escoriação, bem como descrever as intervenções comportamentais empregadas e relatar os métodos e os resultados dos procedimentos. Foi realizada uma pesquisa eletrônica nas bases de dados PsycINFO, Web of Science, PubMed/MEDLINE e BVS com os descritores ‘escoriação’, ‘neuroticexcoriation’ ou psychogenicexcoriation’, combinados com ‘behavioraltreatment.
O resultado desta revisão mostra que a primeira pesquisa aplicada encontrada sobre esse tema foi realizada por Perarlstein e Orentreich (1968) e que apenas no ano 2000 aumentou o interesse dos pesquisadores pelo tema. Em 2013 o transtorno de escoriação foi classificado no DSM V (APA, 2013).Nas pesquisas analisadas, observam-se semelhanças em relação ao método. Os participantes eram adultos acima de 18 anos e estudos sobre escoriação de crianças e adolescentes são escassos. Pelo fato de ocorrer em situações privativas, não foi observado em nenhum estudo o comportamento de escoriação de modo direto, os dados eram obtidos através de fichas de autorregistro, que tinham a função de auto-observação para o cliente e obtenção de dados para uma análise funcional do comportamento de escoriação. Com relação às intervenções utilizadas, a TRH (Terapia de reversão de hábitos) foi amplamente utilizada e sua efetividade para a redução da frequência de comportamento de escoriação foi constatada em alguns estudos. Para pesquisas futuras, sugere-se a realização de estudos com diferentes faixas etárias, com delimitação e descrição funcional dos comportamentos de escoriação.
Estudos brasileiros sobre transtorno de escoriação em psicologia são muito escassos, apesar da correlação feita pela literatura dermatológica entre fatores afetivos e emocionais, enquadrando-o como umapsicodermatose. A Psicologia da Saúde pode contribuir com mais estudos que foquem nos aspectos psicológicos, visando a contribuir na diminuição do comportamento de escoriação e melhorar a qualidade de vida das pessoas acometidas por tal transtorno.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Atuação do Psicólogo Frente aos Transtornos Globais do Desenvolvimento Infantil

Souza, J. C., Fraga, L. L., de Oliveira, M. R., Buchara, M. dos S., Straliotto, N. C., do Rosário, S. P., & Rezende, T. M. (2004). Atuação do psicólogo frente aos transtornos globais do desenvolvimento infantil. Psicologia Ciência e Profissão24(2), 24–31. doi: 10.1590/S1414-9893200400020000
Resenhado por Giulia Oliveira
          O desenvolvimento humano é composto por aspectos físicos, cognitivos e psicossociais em interação com fatores internos do indivíduo e o ambiente em que vive. Nas crianças, o desenvolvimento costuma seguir as mesmas etapas de maneira sistemática, coerente e organizada, traçando um “curso normal” de alterações. Desse modo é possível perceber quando há um desvio indicando a existência de um transtorno do desenvolvimento, o qual costuma se manifestar nos primeiros anos de vida.                                                   
De acordo com o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), os transtornos do desenvolvimento são caracterizados por prejuízo severo em diversas áreas, principalmente as concernentes à interação social.Nesse manual constam como transtornos do desenvolvimento o autismo infantil, a síndrome de Asperger, a síndrome de Rett, o transtorno desintegrativo da infância e o transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação.  O plano de tratamento deve ser individualizado e as necessidades da criança precisam ser reconhecidas e acomodadas ao seu contexto, principalmente no ambiente escolar, a fim de que suas dificuldades possam ser minimizadas. Crianças com comprometimento mais severo de suas capacidades podem se beneficiar de um atendimento especializado na escola, ao passo que as crianças com menor comprometimento podem ser mais favorecidas pela convivência com outras crianças em um ambiente integrado. Quando as demandas individuais não são reconhecidas e respeitadas, o tratamento se torna mais árduo e a criança encontra mais obstáculos para se adaptar às exigências do cotidiano.
            A multidisciplinaridade profissional também é imprescindível no tratamento de qualquer transtorno do desenvolvimento, o que inclui o acompanhamento com psicólogo especializado. Esse profissional é capaz de detectar as áreas comprometidas e orientar a família e professores quanto à melhor maneira de lidar com o quadro da criança, de forma que se tornem importantes agentes na evolução dos filhos/alunos. Além disso, é fundamental que a avaliação diagnóstica do indivíduo tenha como foco suas capacidades independentemente de suas limitações, para que seu potencial possa ser otimizado.
            Nesse sentido, a psicologia da saúde tem muito a oferecer no aprimoramento do conhecimento sobre esses transtornos através de pesquisas sobre as etapas do desenvolvimento humano e os transtornos que podem dele decorrer, o que também facilitaria o diagnóstico precoce. Assim, novos projetos terapêuticos poderiam ser elaborados com o propósito de ajudar os portadores desses transtornos a adquirirem um repertório mais saudável e funcional, bem como reduzir distúrbios da conduta, possibilitando um tratamento mais eficaz ao paciente.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

A relação entre índice de massa corporal e imagem corporal em adultos brasileiros


Kakeshita, Idalina S., & Almeida, Sebastião Sousa. (2008). The relationship between body mass index and body
image in Brazilian adults. Psychology & Neuroscience, 1(2), 103-107.

Resenhada por Elvis Leal

Um grande número de instrumentos foi desenvolvido para avaliar a imagem corporal. Na atualidade, os estudos sobre imagem corporal se concentram em sua maioria na insatisfação com a imagem corporal, com o objetivo de encontrar discrepâncias na percepção desse construto, importante para a prevenção e o tratamento de vários distúrbios. A ferramenta mais utilizada para fazer a avaliação do tamanho corporal é a Escala de Classificação de Figuras. Ela é simples e de baixo custo, não necessitando de equipamentos tecnológicos para sua aplicação. A escala é composta por 15 cartões com desenho de silhuetas para cada gênero e cada cartão representa um intervalo de IMC que varia entre 12,5 kg/m² a 47,5 kg/m².
O objetivo desta pesquisa foi avaliar a percepção da imagem corporal em uma amostra de adultos brasileiros, de acordo com o índice de massa corporal (IMC), sendo feito o uso da Escala de Classificação de Figuras. Não foi possível atingir o número desejado de participantes devido à baixa ocorrência de brasileiros correspondentes às silhuetas com baixo IMC. Por fim, a pesquisa realizada na zona urbana de duas cidades interioranas no estado de São Paulo, teve 280 voluntários, na faixa etária de 18 a 59 anos, com uma proporção aproximada entre os gêneros.
            Para a aplicação foram apresentadas as escalas referentes ao gênero do participante em ordem crescente de silhueta. Foi solicitado que os participantes indicassem qual figura melhor representa seu tamanho corporal atual e desejado, e ainda o tamanho corporal que acreditavam ser o ideal em geral. Após isso foi calculado o IMC real do participante. A disparidade entre o IMC atual e o real foi chamada de discrepância corporal.As análises mostraram que homens e mulheres distorceram seu tamanho corporal atual. Porém, as mulheres apresentaram maior superestimação do tamanho corporal. O único grupo que não apresentou superestimação foi o de homens com IMC normal, pois esses tendem a subestimar seu tamanho corporal. Todos os participantes apresentam distorção, desejando, na maioria, serem mais magros.
            Os resultados reforçam os achados anteriores de que mulheres distorcem mais a imagem corporal, principalmente superestimando seu tamanho. Mulheres com sobrepeso ou pré-obesas apresentam maior distorção. O motivo pode ser por não serem classificadas como obesas e estarem longe do padrão sociocultural de beleza, sendo que isso as deixa vulneráveis à vergonha do próprio corpo.
Esse construto, a imagem corporal, necessita de mais pesquisas visto a importância, pessoas obesas são mais suscetíveis a sentirem vergonha e a terem reações problemáticas no comportamento alimentar, deixando de participar de programas para prevenir a obesidade e as comorbidades relacionadas à obesidade. A psicologia da saúde pode contribuir para o aprofundamento das pesquisas acerca desse construto e, desse modo, pode-se desenvolverpolíticas públicas que façam uma abordagem mais efetiva dessa população.