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domingo, 29 de dezembro de 2019

Implicações da vinculação amorosa e suporte social na autoestima em jovens universitários


Freitas, V., & Mota, C. P. (2015). Implicações da vinculação amorosa e suporte social na autoestima em jovens universitários. Análise Psicológica33(3), 303-315. doi: 10.14417/ap.863

Resenhado por Daiane Nunes

A natureza e qualidade dos laços emocionais, construídos nos primeiros anos de vida, assumem relevância significativa ao longo do desenvolvimento psicológico. Com o passar dos anos, o processo de vinculação se torna mais complexo e diversificado, sendo influenciado pelas representações internas de si, dos outros e do mundo. Na infância, a criança procura segurança na figura vinculativa representada pelos pais. De modo semelhante, jovens adultos experimentam sentimentos de procura de segurança nos seus relacionamentos amorosos. Embora esses indivíduos disponham de uma extensa rede de figuras relevantes, o par romântico assume um lugar primordial na hierarquia das figuras de vinculação. Nesse processo, o suporte social e a autoestima estabelecem uma relação de reciprocidade no desenvolvimento da qualidade das relações. Assim, o presente estudo analisou em que medida a qualidade da relação com o par amoroso e o suporte social percebido afetam a autoestima de jovens universitários.
A amostra foi constituída por 334 estudantes universitários, com idades entre 18 e 25 anos (M = 20,1; DP = 1,92), de ambos os sexos. Desses, 53,5% indicaram estar em um relacionamento amoroso. Foram utilizados o Questionário de Vinculação Amorosa (QVA), o Social Support Appraisals (SSA) e a Escala de Autoestima de Rosenberg (EAR). Realizou-se análise de regressão linear múltipla para identificar os preditores de autoestima e ANCOVA para analisar o papel moderador da vinculação amorosa na relação entre suporte social e autoestima.
A variável percepção de apoio social geral se apresentou como um preditor positivo mais forte de autoestima (β = 0,49), seguido pela percepção de apoio dos professores (β = 0,12) e pela percepção de apoio familiar (β = 0,10). Isto é, figuras pertencentes à rede social do participante parecem oferecer uma sensação de segurança e conforto que permite ao jovem ter a percepção de que ele é cuidado, estimado e valorizado e, consequentemente, isso reflete em sua autoestima. Na variável vinculação amorosa, as dimensões dependência e ambivalência foram preditores negativos de autoestima (β = -0,16). Infere-se que essas dimensões apresentam um efeito negativo na autoestima, repercutindo-se na forma como o participante se sente na relação romântica. Jovens com padrão de ambivalência e dependência nas relações com os pares românticos poderão evidenciar vivências inseguras e modelos internos de si negativos.
 Na ANCOVA, apenas a variável qualidade de vinculação amorosa com efeito da dependência e em função da variável percepção de apoio em geral apresentou significância (F[1,306] = 4,67; p = 0,03). Assim, os estudantes com uma alta percepção de apoio geral e baixa dependência na vinculação amorosa, evidenciam mais autoestima, comparativamente aos estudantes com uma baixa percepção de apoio geral e uma alta dependência na vinculação amorosa.
Por fim, os autores destacam que os resultados encontrados apresentam importantes implicações práticas, em especial, à pertinência dos dados de suporte social conferida aos jovens em contexto universitário. Frequentemente são apontados processos de desadaptação e adoecimento nesse público, demonstrando a relevância do desenvolvimento de relações interpessoais de apoio por parte de figuras parentais, grupo de pares ou par romântico no processo de ajustamento psicológico.

domingo, 22 de dezembro de 2019

Como anda a saúde mental na Universidade?


Postado por Millena Bahiano

As notícias sobre adoecimento mental e suicídio entre estudantes universitários têm trazido à tona um fenômeno que vem preocupando a comunidade acadêmica e a sociedade em geral. O estresse, sofrimento e adoecimento mental na universidade têm evidenciado as pressões, tensões e impasses relativos à vida universitária. Dessa maneira, a intervenção do psicólogo se torna imprescindível para a promoção, prevenção e recuperação da saúde, tanto de discentes quanto de docentes no contexto acadêmico.


Já parou para pensar em como você tem se sentido no seu curso e na sua universidade? Tem se alimentado bem, dormido bem, praticado atividades de lazer? Está se sentindo feliz e apoiado pelos colegas, familiares e membros da comunidade acadêmica? Ou está mais para sobrecarregado, esgotado e, quem sabe, até sem tempo para ler esse texto ou falar sobre isso?
O período de formação acadêmica é comumente caracterizado como uma etapa de transição que requer alto grau de adaptação a estressores institucionais, pessoais, sociais e econômicos. Nem sempre esses estressores são ruins, uma vez que é importante para nossa formação aprendermos a passar por situações de dificuldade. Existem momentos, porém, em que esses períodos de grande estresse passam a ser um problema. Quando isso acontece?
Segundo dados da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), a maior parte dos estudantes que ingressam no ensino superior encontra-se numa faixa etária de transição à vida adulta. Dessa forma, eles estão passando por uma fase que envolve a aquisição de maiores responsabilidades e autonomia, expectativas com o curso e com a vida, a construção da identidade pessoal, a busca por independência financeira e, em muitos casos, a formação de novos vínculos e distanciamento de casa. Soma-se a isso o fato de que, como mostram alguns estudos, essa é uma faixa etária em que sinais e sintomas relacionados ao adoecimento mental costumam ter início ou são mais percebidos/agravados em pessoas predispostas. Ou seja, o adoecimento mental dentro da universidade não é algo simples: é um fenômeno multifatorial que envolve diversas questões biológicas, psicológicas e socioambientais.
Não é de hoje que nos deparamos com assustadores dados de depressão e ansiedade – que podem chegar a até um terço dos estudantes –, assim como de estresse ou síndrome de burnout – esta última caracterizada por um processo de estresse crônico e/ou intenso, relacionado ao trabalho (ou estudo) –, de uso abusivo de substâncias ou tecnologia e até mesmo de casos de suicídio no ambiente acadêmico que causam grande impacto e comoção em toda a comunidade e familiares. O adoecimento mental não está restrito à graduação, uma vez que parece persistir e até se intensificar nos demais graus de formação. Apesar desses dados alarmantes, ainda são muitas as pessoas em sofrimento que não se sentem apoiadas pelos colegas, professores ou pela própria instituição. Esse sentimento de desamparo tem consequências muito negativas: atrasa a busca por ajuda e gera um sentimento de solidão. Soma-se a isso a ocorrência do fenômeno de estigmatização das doenças mentais, que é um dos principais entraves à busca de ajuda e identificação precoce de sofrimento psíquico. Mas o que será que contribui para esse quadro? Além dos fatores já citados, podemos ainda identificar a cultura da performance, em que o indivíduo, perante uma extenuante pressão e carga de trabalho, acredita que deva assumir a responsabilidade integral pelos seus resultados e, por isso, constrói sua identidade baseada na ideia de produtividade. Essa cultura estimula a competitividade e inibe a cooperação, aumentando o sentimento de que pedir ajuda pode ser entendido como uma fraqueza. Outros fatores são as formas de ensino e avaliação, muitas vezes pouco sensíveis a dificuldades e fatores individuais envolvidos no processo de aprendizagem, além dos diversos tipos de assédios morais e discriminações.
Resumindo: sabemos que o estresse é uma característica adaptativa evolutiva e necessária para a adequada formação profissional. Assim, ele faz parte de toda a vida. Será que, então, se reduzirmos os estímulos e os estressores dentro da academia, não vamos ter como resultado uma queda da produtividade e formação de profissionais piores? A resposta é não. Estudos sugerem que tanto a ausência de estresse como estímulo em demasia não garantem resultados melhores, mas, sim, um declínio de produtividade.
Algumas experiências internacionais também reforçam essa hipótese: na Universidade de Saint Louis, em 2010, mudanças curriculares importantes foram feitas visando a melhorias na qualidade de vida de seus estudantes: a carga horária do curso foi reduzida em 10%, atividades de descanso, lazer e voluntárias foram incentivadas e a avaliação foi alterada apenas para “aprovado” ou “não aprovado”. Após 5 anos, os alunos apresentaram melhor qualidade de vida, menores níveis de estresse e de sintomas depressivos e melhor performance acadêmica, sem prejuízo na avaliação geral da universidade.
Levando em consideração esse cenário e buscando suscitar ainda mais a discussão sobre saúde mental e incentivar estratégias de prevenção no ambiente universitário, criamos o Pega Leve, ação de extensão da UFRGS focada no estudante e que estimula seu empoderamento e autonomia. Entre as ações do projeto, organizamos palestras – exposições dialogadas sobre saúde mental do estudante universitário – baseadas em psicoeducação e combate ao estigma.
Mas, afinal, para que isso tudo agora se “sempre foi assim” e “todos passam por isso”? Realmente, já passou da hora de nos focarmos mais em evidências e trabalharmos juntos para uma mudança cultural em nossas universidades, valorizando seus pontos positivos (que são muitos!) e potencializando seu papel de espaço universal de construção de saberes, cooperações e diversidades.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Depressão em professores: Revisão integrativa da literatura



Resenhado por Gabriela de Queiroz

Galinari, P. C., de Castro, J. M., da Costa Martins, R. E., Azevedo, M. A., de Castro Oliveira, T. V., de Souza Proti, E., ... & Costa, W. J. T. (2020). Depressão em professores: Revisão integrativa da literatura. Revista Eletrônica Acervo Enfermagem2. doi: 10.25248/reaenf.e2546.2020


            A depressão é caracterizada por um conjunto de sintomas psicológicos e fisiológicos, com diversos níveis de intensidade, que podem aparecer de forma episódica ou contínua. Comumente, é acompanhada pela incapacidade de realizar tarefas diárias, por no mínimo duas semanas, além de ser definida por sentimentos de tristeza persistente, humor deprimido e perda de interesse em afazeres que costumavam ser satisfatórios. Seus sintomas podem ser caracterizados em quatro categorias: físicos (redução da atividade física, sono), emocionais (tristeza, desesperança), motivacionais (baixa energia) e cognitivos (culpa, dificuldade em solucionar conflitos).
            Transtornos mentais, tais como a depressão, são considerados a terceira causa de afastamento do trabalho no Brasil. No ambiente laboral, a sobrecarga e o conflito de interesses, contribuem para o desequilíbrio e o esgotamento, que levam ao agravamento das condições de saúde mental. No caso dos professores, é possível afirmar que algumas das pressões que sofrem tendem a interferir na duração da carreira; além disto, um dos principais fatores de risco aos transtornos mentais em professores é a baixa remuneração, situação que os leva a trabalhar em mais de uma instituição de ensino ou a cumprirem longas jornadas de trabalho.
            Estudos apontam que professores deprimidos no ambiente escolar, podem tornar o ensino pesado e negativo, por isso buscam demonstrar a importância em pesquisar sobre a depressão nesta classe de profissionais, uma vez que afeta o bem-estar dos mesmos, interferindo nos processos de trabalho, incluindo o processo de ensino-aprendizagem, o que impacta diretamente nos estudantes. Diante disso, o presente estudo buscou sistematizar resultados de investigações relacionadas a prevalência de depressão em professores.
            Foi realizada uma revisão sistemática da literatura, cuja coleta de dados ocorreu em setembro de 2019, utilizando os descritores: depressão, professores e saúde ocupacional. A amostra final foi composta por cinco artigos, nos quais as temáticas centrais foram a prevalência de depressão em professores e o afastamento do trabalho relacionado à depressão. Os achados apresentam que a maior ocorrência de depressão e sintomas ansiosos, concentra-se em professores com idades superiores a 40 anos e do sexo feminino, bem como constatou-se que a depressão se destaca como a principal causa de afastamento do trabalho relacionada à transtornos mentais.
            Portanto, é possível considerar primeiramente a importância de criação de medidas preventivas frente à depressão, uma vez que suas consequências são de âmbito pessoal e também coletivo, uma vez que os professores atuam diretamente na qualidade de ensino. Assim, é possível pensar na atuação do psicólogo na criação de tais estratégias preventivas, uma vez que é considerado o profissional que se dedica ao estudo e desenvolvimento de práticas promotoras de saúde nos mais diversos espaços, podendo elaborar intervenções no ambiente acadêmico que possam contribuir para a manutenção da saúde mental e melhor ajustamento psicológico dos professores.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Consumo de bebidas alcoólicas por estudantes de escolas públicas da cidade do Recife-PE


Aquino, J. M. D., Teixeira, K. D. S., Silva, D. M. R. D., Xavier, R. D. F., Medeiros, S. E. G. D., & Falcão, V. T. F. L. (2019). Consumo de bebidas alcoólicas por estudantes de escolas públicas da cidade do Recife-PE. SMAD. Revista eletrônica de saúde mental, álcool e drogas15(2), 60-68. doi:10.11606/issn.1806-6976.smad.2019.000419

Resenhado por Mariana Menezes

A adolescência é um período no qual ocorrem intensas mudanças psicossociais e biológicas, com uma maior busca por novas experiências e curiosidade por novas sensações. O consumo de álcool entre adolescentes tem se revelado uma prática comum apesar da venda de bebidas alcoólicas ser proibida para menores de 18 anos em alguns países, como é o caso do Brasil. O uso de bebidas alcoólicas nessa fase da vida é considerado um problema mundial de saúde pública, pois pode resultar em prejuízos para a saúde física e mental. O consumo excessivo de álcool é responsável por mais de 60 tipos de doenças e lesões e causa principal de algumas doenças, como também é um componente importante em diversas causas de óbito. O consumo exagerado de álcool por adolescentes pode afetar gravemente as habilidades de memória, inteligência e aprendizagem.
Estando sob efeito do álcool, os indivíduos, incluindo os adolescentes, podem se expor a situações de risco tais como a prática de sexo sem proteção (o que predispõe ao contágio por doenças sexualmente transmissíveis) e o envolvimento em brigas ou em atos de vandalismo. Deste modo, a pesquisa buscou analisar o consumo de álcool entre adolescentes estudantes de escolas públicas na cidade de Recife-PE. Participaram da pesquisa adolescentes de ambos os sexos e idade entre 12 e 17 anos. Os instrumentos utilizados foram um questionário sociodemográfico e o Alcohol Use Disorders Indentification Test (AUDIT).
De acordo com os resultados da pesquisa, foi possível constatar a precocidade da experimentação de álcool pelos adolescentes. Quanto ao padrão de consumo de álcool, observou-se que mesmo em menor proporção, alguns estudantes apresentaram elevados níveis de consumo, caracterizando o consumo como de risco e alto risco. A maioria deles foram enquadrados no padrão de risco moderado, estando, desta forma, vulneráveis a padrões maiores de consumo. Além disso, foram identificados como fatores de risco que influenciam o consumo de álcool: a idade, histórico de reprovação escolar e a quantidade de pessoas com quem mora.
Com relação à idade, os participantes que assumiram os maiores padrões de consumo foram àqueles com maior idade. A respeito da relação entre consumo de álcool e reprovação escolar, a reprovação pode se configurar como um fator que antecede ou resulta do consumo de substâncias. A maioria dos adolescentes que fizeram o consumo de bebidas alcoólicas de baixo risco esteve presente no grupo que residia com uma menor quantidade de pessoas (menos de 5 pessoas). Uma explicação possível para tal achado é que famílias que possuem quantitativo menor de integrantes permite que os pais ou outros responsáveis assistam melhor os seus filhos. Outro achado interessante foi que a ausência da figura paterna também se configurou como um fator de risco e triplicou os dados da amostra nos padrões de risco e alto risco.
Portanto, a pesquisa é relevante para a área da Psicologia da Saúde, pois permitiu conhecer os padrões de consumo de álcool entre adolescentes e poderá servir para orientar políticas de saúde pública voltadas para esta população. A elaboração de tais políticas públicas poderá ser de caráter preventivo ou interventivo e focar no controle dos riscos identificados na pesquisa, contribuindo assim para a redução de danos decorrentes do abuso de álcool por adolescentes e para a promoção da saúde deles.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Esforço Emocional e Burnout: Uma revisão de literatura

"Emotional Labor and Burnout: A review of the literature"

Jeung, D. Y., Kim, C., & Chang, S. J. (2018). Emotional labor and burnout: A review of the literature. Yonsei Medical Journal59(2), 187-193. doi: 10.3349/ymj.2018.59.2.187
Resenhado por Maísa Carvalho

Um ambiente e trabalho estressantes podem contribuir na diminuição da percepção de bem-estar laboral, baixa adaptação psicológica e, consequentemente, podem ocasionar o desenvolvimento de transtornos mentais. Algumas variáveis psicológicas explicam o adoecimento mental do trabalhador, a exemplo do esforço emocional, um estressor comumente associado a trabalhos que demandam constante interação com clientes. Quando o trabalhador demonstra emoções desejadas pela organização, mesmo que não sejam genuínas, ele realiza um esforço emocional. Logo, o presente trabalho revisou a literatura mais recente sobre a associação entre o esforço emocional e Burnout, bem como investigou o papel da personalidade nessa relação.
Problemas organizacionais como um ambiente de trabalho violento e estressante, alta demanda de atividades, além de abuso verbal de clientes e chefes são características predisponentes ao esforço emocional. Em decorrência do desgaste resultante desse processo, o trabalhador pode experienciar distresse, sintomatologia depressiva, insatisfação com o trabalho, perda de memória, despersonalização, hipertensão, doenças cardíacas e Burnout. Dentre os problemas de saúde mencionados, a literatura vem apontando uma ligação estreita entre esse último e o esforço emocional.
A Síndrome de Burnout é definida como um estado de exaustão emocional, mental e física causado por estresse prolongado e em excesso. Proveniente da exposição frequente a um ambiente de trabalho estressor, ela resulta em absenteísmo, altos índices de turnover e diminuição da performance do trabalhador. Alguns estudos vêm apontando que o Burnout e o esforço emocional estão intimamente ligados ao processo de dissonância emocional, conceitualizada como um conflito entre o que é sentido e manifestado. A exaustão emocional resultante dessa atividade facilita a adoção de estratégias de enfrentamento disfuncionais pelo trabalhador, que pode apresentar comportamentos negativos no trabalho, tais como a falta de cooperação em atividades importantes, diálogos hostis com colegas e clientes, indiferença relativa aos colegas de trabalho, baixa produtividade e autoavaliação negativa.
Embora a experiência contínua de estressores no trabalho combinada com o baixo senso de autoeficácia, baixo suporte social e dificuldade em lidar com situações que demandam esforço emocional sejam fatores de risco comuns a Síndrome de Burnout, estudos mais recentes mostram que a personalidade desempenha um papel importante no desenvolvimento dessa doença. Características individuais e fatores de autorregulação podem resultar em recursos funcionais, dificultando a ocorrência do Burnout. Algumas pesquisas apontam, inclusive, que indivíduos que possuem a personalidade do tipo A – caracterizada por comportamentos impulsivos, competitivos, agressivos e impacientes – são mais suscetíveis a possuir baixa adaptação a ambientes adversos e experienciar distresse.
A partir deste estudo é possível compreender a relevância das investigações em Psicologia da Saúde envolvendo temas como estresse, regulação emocional e diferenças individuais. O desenvolvimento dessas pesquisas possibilita maior conhecimento sobre as relações entre essas variáveis, facilitando a formulação de ações e estratégias em saúde ocupacional cada vez mais eficazes a fim de proporcionar bem-estar e maior adaptação psicológica em situações de estresse no trabalho.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

O papel mediador da autoeficácia na relação entre a sobrecarga de trabalho e as dimensões de Burnout em professores

 Carlotto, M. S., Silva, S. R. D., Batista, J. B. V., & Diehl, L. (2015). O papel mediador da autoeficácia na relação entre a sobrecarga de trabalho e as dimensões de Burnout em professores. Psico-USF, 20(1), 13-23.

Resenhado por Luanna Silva

O estresse ocupacional tem implicações negativas na saúde física e mental do trabalhador e quando é persistente pode ocasionar a Síndrome de Burnout (SB). Frequentemente presente em trabalhos em que existe pressão excessiva, conflitos e poucas recompensas emocionais, a SB é composta por quatro dimensões:  ilusão pelo trabalho é descrita pela avaliação de que o trabalho proporciona desafios e realização pessoal; o desgaste psíquico é definido pelo cansaço físico e emocional em decorrência do trabalho; indolência se refere à presença de atitudes negativas frente aos colegas, clientes e organização; por fim, culpa é a dimensão relacionada ao sentimento de culpabilização por não atingir as expectativas associadas ao papel profissional.
Professores estão entre os profissionais que apresentam os maiores níveis de estresse ocupacional, por ser uma das atividades laborais mais expostas a ambientes conflituosos e à exigência de trabalho. Destaca-se, nesse processo, a ampliação da prática funcional docente. Além de precisar ministrar aulas que atendam as novas demandas do atual contexto educacional, os professores precisam lidar com trabalhos administrativos, atividades extraescolares, atendimento a pais, cuidar do patrimônio da instituição e manejar dificuldades de aprendizagem individuais dos alunos. Contraditoriamente, o aumento de funções a desempenhar não se reflete na remuneração, reconhecimento ou apoio. Assim, o professor vivencia não somente sobrecarga de trabalho, mas também sobrecarga cognitiva e emocional.
Fatores individuais como características da personalidade, estratégias de enfrentamento e sistema de crenças são apontados como mediador entre os estressores da SB. A autoeficácia, definida como um conjunto de crenças sobre a capacidade pessoal em executar determinadas ações, demonstram possuir relação negativa com Burnout. Os estudos mostram que independente da profissão, a autoeficácia exerce papel importante no desenvolvimento da SB. Especificamente em professores, conclui-se que docentes com altos níveis de autoeficácia na gestão da sala de aula apresentam menores níveis de Burnout, ainda que não contem com ambiente favorável ou com suporte da administração.
            Esse artigo avaliou se a autoeficácia poderia funcionar como variável mediadora na relação entre a sobrecarga de trabalho e as dimensões de SB. Participaram 982 professores que exercem atividade docente em nove escolas públicas e seis escolas privadas localizadas na zona urbana de três cidades da região metropolitana de Porto Alegre. Foram utilizados como instrumentos de pesquisa o Questionário para Avaliação da Síndrome de Burnout, versão para professores, a Escala Geral de Autoeficácia e a subescala de sobrecarga laboral do Organizational Stress Questionnaire. Os resultados obtidos por meio da análise de regressão linear confirmaram a hipótese de que a autoeficácia desempenha um papel mediador entre a sobrecarga de trabalho e as dimensões de Burnout.
            Intervenções que contemplem o desenvolvimento da autoeficácia em professores são um recurso eficaz tanto para prevenir a ocorrência da SB como para reabilitar o docente, ajudá-lo a melhorar seu desempenho e manter-se na profissão. Um dos objetivos da Psicologia da Saúde é estudar e promover fatores de proteção à saúde dos indivíduos. Portanto, ressalta-se a importância de estudar e elaborar intervenções que favoreçam o desenvolvimento de mecanismos psicológicos protetivos, como a autoeficácia.

domingo, 15 de dezembro de 2019

Esgotamento profissional no professor


Postado por Luana C. Silva-Santos

Diante das várias notícias veiculadas acerca da saúde do professor, discutir tal assunto mostra-se relevante e atual. Em 1974 já se falava sobre a exaustão profissional, denominada burnout, para designar o estado de exaustão física e mental experimentado após trabalhar sob forte pressão. Além do sofrimento individual causado, essa pressão frequentemente resulta em absenteísmo, insatisfação e rotatividade de funcionários, além de causar reações adversas psicológicas (ansiedade, depressão), fisiológicas (dores de cabeça, taquicardia, hipertensão) e comportamentais (abuso de substâncias, estilos não saudáveis de vida). Nesse sentido, a atuação do psicólogo, além da psicoeducação e atuação na prevenção é de alta relevância.



sábado, 14 de dezembro de 2019

Cyberbullying, agressão cibernética e seu impacto na vítima - o professor

Cyberbullying, cyber aggression and their impact on the victim - the teacher.

Kopecký, K., & Szotkowski, R. (2017). Cyberbullying, cyber aggression and their impact on the victim - the teacher. Telematics and Informatics, 34(2), 506-517. doi: 10.1016/j.tele.2016.08.014

Resenhado por Geovanna Turri

O cyberbullying tem conceituação baseada nas definições existentes de bullying, o qual é percebido como atos ou comportamentos agressivos, intencionais e repetidos, realizados contra um indivíduo ou grupo que não pode se defender facilmente. Entre as definições mais conhecidas de cyberbullying está a que o define como um ato deliberado e repetitivo de atividades prejudiciais que ocorrem por meio de um computador, telefone celular ou outros dispositivos eletrônicos. Nos últimos anos tem sido registrado um alto número de casos de bullying e cyberbullying destinados a professores de escolas primárias e secundárias, tanto por meio de alunos, como por meio de seus pais. O cyberbullying é emocionalmente prejudicial para a saúde do professor, podendo causar tensão, medo, estresse, baixa autoestima, depressão, distúrbios do sono, pensamentos suicidas, instabilidade mental, aumento de impulsividade e agressividade, dentre outros sintomas que interferem na vida pessoal e profissional de uma pessoa. Diante disso, Kopecký e Szotkowski (2017) buscaram investigar os impactos do cyberbullying e da agressão cibernética na vida de professores.  
Os autores utilizaram um questionário online anônimo que foi direcionado a professores de escolas primárias e secundárias. A pesquisa teve uma amostra total de 5.136 professores entrevistados de ambos os sexos, com idade média de 46 anos. Os pesquisadores criaram um questionário que visava investigar as informações sobre a prevalência de cyberbullying e ataques cibernéticos nas escolas. O questionário foi composto por cinco seções contendo 44 itens focados em identificar as informações demográficas sobre os entrevistados e a instituição em que trabalham; identificação da prevalência de ataques cibernéticos contra professores; informações sobre os autores dos ataques, estratégias empregadas nos ataques a professores e também informações sobre como o cyberbullying do professor foi resolvido.
Os resultados revelaram que 1118 professores foram vítimas de algumas das formas de cyberbullying e 318 já sofreram ao menos um ataque cibernético durante os últimos 12 meses, porém ao ampliar o período de tempo para mais de 12 meses, 754 dos professores entrevistados confirmaram que foram vítimas de um ataque cibernético. No entanto, esses dados incluem também incidentes únicos que não foram repetitivos. O cyberbullying com período superior a uma semana foi comprovado em metade dos professores (55,8%). No ciberespaço, os professores frequentemente se tornam vítimas de agressão verbal, particularmente humilhante, insultos e calúnias. Outras formas generalizadas de ataques relatados incluem: assédio por telefone, ameaças, intimidação ou divulgação de fotos humilhantes. Quanto à maneira mais comum pela qual os professores respondem à agressão cibernética, foram relatadas emoções como raiva acompanhada de tristeza, além de insegurança e relutância em ir trabalhar.
Em suma, os autores concluíram que passar por uma agressão cibernética ou cyberbullying apresenta impactos sobre os professores - tanto na área emocional quanto na fisiológica e comportamental. No caso de ataques de longo prazo, os professores podem desenvolver uma variedade de problemas de saúde, como dores de cabeça, dor no estômago, dificuldade para dormir, concentração diminuída, etc. O presente trabalho revela sua importância para a Psicologia da Saúde ao mostrar a relevância de ações que visem controlar situações de agressão cibernética e cyberbullying que podem levar ao adoecimento físico e psicológico de professores.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Associação de depressão com risco de lúpus eritematoso sistêmico em mulheres avaliadas ao longo de duas décadas

Association of Depression With Risk of Incident Systemic Lupus Erythematosus in Women Assessed Across 2 Decades

Roberts, A. L., Kubzansky, L. D., Malspeis, S., Feldman, C. H. & Costenbader, K. H. (2018). Association of Depression With Risk of Incident Systemic Lupus Erythematosus in Women Assessed Across 2 Decades. JAMA Psychiatry, 75 (12) 1225 – 1233.

Resenhado por Joelma Araújo

Vários estudos sugerem que a depressão pode ser um fator de risco para doenças autoimunes. O artigo em questão investigou a associação da depressão com o lúpus eritematoso sistêmico (LES), um distúrbio autoimune, potencialmente grave, caracterizado pelo amplo envolvimento do sistema orgânico e está associado à morbidade de forma precoce. O maior estudo transversal, realizado por Bachen, Chesney e Criswell (2009), constatou que mulheres com LES relataram uma prevalência 1,7 vezes maior de depressão do que as mulheres na população em geral
Segundo os autores do artigo, para determinar se a depressão aumenta o risco de LES, é fundamental considerar as estruturas causais possíveis: (1) a depressão pode ser um sintoma precoce do LES; (2) os sintomas pré-diagnóstico do LES podem levar à depressão; e (3) o LES pode ser inicialmente diagnosticado como depressão. Se a depressão realmente contribui para o risco de LES, é importante considerar como se dá essa influência. A depressão leva ao aumento da inflamação crônica, marcada por níveis mais altos de biomarcadores, o que é parcialmente explicado por fatores de saúde, como maior índice de massa corporal (IMC) e tabagismo.  Assim, uma maior prevalência de fatores de risco à saúde entre pessoas com depressão pode ser responsável por um risco aumentado de desenvolver LES.  Portanto, o estudo visou investigar se existe uma associação entre o risco da incidência de LES e o diagnóstico de depressão, relacionando também com o papel potencial dos fatores de risco à saúde.
Para tanto, realizou-se um estudo de coorte longitudinal e prospectivo de 20 anos que avaliou dados coletados de dois grupos de coortes de mulheres participantes do Estudo de Saúde das Enfermeiras (1996-2012) e do Estudo de Saúde das Enfermeiras II (1993-2013).  Foram incluídos dados de 194.483 mulheres (93% brancas; 28-93 anos). Durante o acompanhamento, ocorreram 145 casos de LES. Comparadas com mulheres sem depressão, as com histórico depressivo tiveram um aumento subsequente do risco de LES (HR, 2,67; IC 95%, 1,91-3,75; p  <0,001). O ajuste do índice de massa corporal, contracepção oral, tabagismo e hormônio pós-menopausa usam associações levemente atenuadas (FC ajustada, 2,45; IC 95%, 1,74-3,45; P <0,001). O risco de LES foi elevado com cada um dos três seguintes indicadores de depressão modelados separadamente: diagnóstico clínico de depressão (FC, 2,19; IC95%, 1,29-3,71), uso de antidepressivos (HR, 2,80; IC95%, 1,94-4,05) e os escores do MHI-5 indicando humor deprimido (HR, 1,70; IC95%, 1,18-2,44). As associações permaneceram fortes quando o status de depressão foi defasado em 4 anos em relação ao resultado (HR, 1,99; IC 95%, 1,32-3,00) e quando o status de depressão na linha de base foi usado como exposição (HR, 2,28; IC95%, 1,54 -3,37).
Portanto, no referido estudo as mulheres com histórico de depressão apresentaram um aumento de mais de duas vezes no risco subsequente de desenvolver lúpus eritematoso sistêmico em comparação com mulheres sem depressão. O ajuste para comportamentos de saúde atenuou ligeiramente as associações. Dessa forma, a psicologia da saúde tem um papel importante em também desenvolver estudos e intervenções na área, visando à promoção de saúde e prevenção de agravos, já que a depressão também pode contribuir para incidência de LES. Além disso, o papel do psicólogo hospitalar é fundamental, pois o paciente com LES também requer um cuidado da saúde mental de forma contínua.  

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Adoecimento mental em professores brasileiros


Diehl, L., & Marin, A. H. (2016). Adoecimento mental em professores brasileiros: revisão sistemática da literatura. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 7(2), 64-85. doi: 10.5433/2236-6407.2016v7n2p64.

Resenhado por Lizandra Soares

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera que a profissão de docente é uma das mais estressantes, já que suas repercussões são desgastantes na saúde física e mental, além de impactar sobre o desempenho profissional. Tal afirmação encontra-se evidenciada em muitos estudos atuais que testificam a presença de doenças osteomusculares e transtornos mentais nessa população, tais como estresse e síndrome de Burnout. Além disso, as modificações da sociedade atual têm provocado alterações no papel do professor. As rápidas transformações do contexto sociocultural têm imposto a esse profissional a ampliação de responsabilidades e competências, sendo necessário para além de um trabalho pedagógico, o que permearia aspectos sociais, emocionais e de saúde dos alunos.
Com o objetivo de sistematizar as produções científicas nacionais publicadas nos últimos seis anos (2010 a 2015), cujo intuito foi detectar sintomas de adoecimento psicológico entre os professores brasileiros. A revisão sistemática realizada foi com base na literatura nacional respeitando as diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and MetaAnalyses (Moher et al., 2009). A busca foi realizada em junho de 2015 e atualizada em maio de 2016 nas bases de dados: LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SciELO (Scientific Electronic Library Online), Index Psi, Educ@ e PePSIC (Periódicos Eletrônicos de Psicologia). Foram analisados artigos completos e de acesso gratuito. Foram identificados 97 artigos. Após a eliminação dos duplicados, restaram 50 artigos que foram triados inicialmente pela leitura dos títulos e dos resumos, sendo excluídos 27 por não contemplarem a temática e um por não abordar professores brasileiros, restando 21 para a leitura na integra. A amostra final foi composta por 15 artigos, em virtude da exclusão de 6 artigos (3 por não serem empíricos e 3 por não trabalharem com amostras exclusivas de professores).
Os resultados encontrados foram sugestivos de que o adoecimento dos professores se relacionava com: a) falta de reconhecimento; b) problemas motivacionais e comportamentais dos alunos (falta de limite, dificuldade de relacionamento); c) pouco acompanhamento familiar; e d) problemas ergonômicos no ambiente de trabalho. Ou seja, o professor está exposto a estresse ocupacional, principalmente em consequências das transformações sociais e nos modelos educacionais. No caso dos docentes de nível superior, a pressão para produção intelectual e a sobrecarga de trabalho foram os aspectos mais apontados como fontes de adoecimento. Os artigos pesquisados concentraram-se em aspetos específicos do sofrimento emocional desses professores: síndrome de Burnout, a qualidade de vida dos professores, os transtornos mentais e comportamentais ou comuns, o estresse, a ansiedade e o desgaste físico e emocional.
Como limitação do estudo, pode-se apontar para a combinação dos descritores, o que pode ter deixado de fora material de outras áreas. Os autores frisam que no caso do Brasil, as condições sociais e econômicas marcam o contexto e influenciam as políticas públicas, o que impacta diretamente o exercício da profissão. Dado esse fato, espera-se que o estudo realizado abra margem para a reflexão e planejamento de intervenções para esse público. Na visão da psicologia da saúde, a compreensão dos fatores de adoecimento nos professores serviria justamente a esse propósito: construção de intervenções assertivas e eficazes que promovam bem-estar e saúde a esse público.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Homofobia na escola: relato de universitários sobre as piores experiências


Albuquerque, P. P. & Williams, L. C. A. (2015). Homofobia na escola: relatos de universitários sobre as piores experiências. Temas em Psicologia,23(3), 663-676 doi: 10.9788/TP2015.3-11

Resenhado por Márcio Diego Reis

A escola enfrenta diversos desafios para lidar como a diversidade, inclusive com a questão da homossexualidade e da homofobia. A homofobia é definida como atitudes e comportamentos negativos contra pessoas que se identificam como ou são percebidas como lésbicas, gays, bissexuais ou transgêneros (LGBT). Quando essas atitudes e comportamentos aparecem em ações ou palavras, há o risco de tornar-se bullying homofóbico e são inúmeras as pesquisas que documentam a violência, o assédio e a falta de segurança para os estudantes LGBT. Dentre os efeitos do bullying homofóbico listados na literatura, destacam-se: depressão, transtorno de estresse pós-traumático, ideação suicida e/ou tentativa de suicídio, abuso de drogas, práticas sexuais não seguras, desempenho escolar empobrecido, comportamento violento, homofobia internalizada e culpa após a vitimização.
Diante do exposto, o estudo de Albuquerque e Williams (2015) buscou descrever os relatos retrospectivos de estudantes universitários sobre suas piores experiências escolares motivadas por homofobia, apontando a duração, os principais agressores e os sintomas advindos dessas experiências. Para isso, foi utilizado um banco de dados de um estudo mais amplo, do qual participaram 691 estudantes de uma universidade pública, que responderam à Escala sobre Experiências Escolares Traumáticas em Estudantes - Revisada (ExpT-R), composta por 58 itens que tratam das experiências aversivas no contexto escolar e o autor da experiência, e 105 itens que tratam de sintomas comuns após situações traumáticas. Desse estudo, foram selecionados participantes que descreveram vitimização escolar homofóbica como a pior experiência escolar, sendo tal número igual a 21. A média de idade desses participantes foi de 21,3 anos; sendo 14 do sexo masculino e 7 do sexo feminino.
Os resultados mostraram que os principais incidentes relatados pelos estudantes foram os de vitimização verbal e as situações de isolamento social por parte dos colegas. Quanto à idade que tinham na época da pior experiência, a média foi de 11,4 anos. Dos alunos, 16 apontaram que estavam no Ensino Fundamental e 4 no Ensino Médio; um deles afirmou que ocorreu nos dois períodos. No que se refere à autoria da pior experiência, 19 apontaram que foi de outros estudantes, 1 relatou a autoria de professor e 1 o envolvimento de estudantes e de professor. Quanto ao sexo dos autores da experiência, 18 participantes apontaram que o autor era do sexo masculino e apenas 2 apontaram que eram do sexo feminino. Os sintomas clinicamente significativos desenvolvidos pelos participantes foram a hipervigilância, evitação, entorpecimento, depressão, desesperança, reexperienciação do trauma, dissociação, excitabilidade aumentada, somatização, desajustamento mental e comportamento opositivo.
Os relatos dos estudantes estão de acordo com os dados da literatura no que se refere à frequência, duração das experiências, tipos de violências e envolvimento de professores e de outros estudantes como autores das piores experiências escolares homofóbicas. Os principais sintomas descritos pelos participantes após tais experiências preocupam ao apontar sérios impactos sobre o bem-estar e a saúde mental dos jovens, como risco de depressão e suicídio. Esses estudantes encontram-se em situação de vulnerabilidade, demandando, da psicologia da saúde, uma maior atenção a esses públicos. Nesse sentido, cabem novos estudos que visem a descoberta de fatores que interferem no ajustamento dos indivíduos nesse contexto, também que indiquem estratégias de enfrentamento para estudantes que sofrem homofobia.

domingo, 8 de dezembro de 2019

Depressão em Universitários


Postado por Sara Andrade

            A depressão tem sido um transtorno mental prevalente na população universitária, visto que este contexto se associa, com certa frequência, às exigências cognitivas, sociais, familiares e pessoais às quais os estudantes estão diariamente expostos. Na medida em que o problema avança, é comum se verificar sintomas como o rebaixamento do humor, o isolamento social e o descuido com aspectos gerais de saúde e vida cotidiana. O universitário acometido por depressão vai se enclausurando em problemas da vida acadêmica, o que é prejudicial à sua vida social, familiar e laboral.


sábado, 7 de dezembro de 2019

Estresse e estressores na pós-graduação


Faro, A. (2013). Estresse e estressores na pós-graduação: Estudo com mestrandos e doutorandos no Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 29(1), 51-60. doi:10.1590/S0102-37722013000100007

Resenhado por Danielle Alves Menezes

A produção científica no Brasil tem alcançado números cada vez maiores, considerando as últimas décadas, o que é atribuído ao crescimento do sistema de pós-graduação stricto sensu no país. Esse cenário tem relevado a importância da formação de cientistas, com destaque para exigência crescente de qualificação e volume de produção bibliográfica. Em razão disso, pós-graduandos são uma população potencialmente alvo de estressores que podem afetar o ajustamento psicossocial.
Considerando esse contexto, o artigo teve como objetivo identificar principais estressores que ocorrem na pós-graduação e determinar índice de estresse e variáveis a ele associadas, segundo mestrandos e doutorandos no Brasil. Participaram 2.157 pós-graduandos, que responderam a questões sobre perfil sociodemográfico, formação e atuação profissional, à Escala de Estresse Percebido e a uma lista contendo 28 possíveis estressores na pós-graduação.  A amostra contou com 61,9% de mestrandos e 38,1% de doutorandos, maioria do sexo feminino (71,0%), mediana de idade de 28 anos, maior participação de estudantes da região sudeste (36,2%; n = 780), pertencente a programas da área Ciências Biológicas (27,4%; n = 592). Os pós-graduandos não possuíam filhos em sua maioria, apesar de se encontrarem em relacionamentos estáveis.
Com relação ao nível de estresse, observou-se nível acima do esperado. Esse índice superou, inclusive, pontuações encontradas na mesma população em outros países. Discute-se que, para as mulheres, há uma carga adicional de estresse, o que poderia ser explicado pelo fato de que demandas sociais sobrecarregam sua capacidade adaptativa. Identificou-se que quanto menor renda o estudante possuía, maior nível de estresse, fato associado à dependência de bolsas de estudos e, consequentemente, ao desemprego decorrente dessa condição. Outra relação encontrada foi da proximidade do final do curso e maiores índices de estresse, o que atuaria elevando preocupações acerca da vida profissional posteriormente.
Análise de itens da lista de estressores considerados para mensurar nível de preocupação revelou que o fator Tempo e Recursos Financeiros, o Indicador de Dificuldades e o fator Supervisão e Desempenho foram os mais importantes conjuntos de estressores. Isso pode ser compreendido pelo fato de que o estudante de pós-graduação se encontra constantemente tensionado entre manter atividades ligadas ao curso versus atividades não ligadas ao curso. Dentre estas, a atividade laboral surge como importante dilema ante a necessidade de cumprir prazos e atingir nível considerável de excelência. Soma-se a isso o indicador Dificuldade, e fator Supervisão e Desempenho, representados pelo volume de elementos pré-requisitos para alcançar, com êxito, satisfação e reconhecimento, sua titulação.
O estudo conclui que os estressores identificados podem tornar a experiência da pós-graduação como “estudo-sofrimento”, contribuindo para o descontentamento e desencorajamento frente à carreira acadêmica, além de interferir de forma deletéria na saúde mental de estudantes. Frente a isso, conhecimentos oriundos da psicologia da saúde poderiam embasar melhor compreensão do adoecimento mental em mestrandos e doutorandos, além de incrementar estratégias de programas de prevenção nas universidades, o que contribuiria para melhora do ajustamento psicológico desse público.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

O senso de propósito modera as associações entre estressores diários e bem-estar diário

 Sense of purpose moderates the associations between daily stressors and daily well-being

Hill, P. L., Sin, N. L., Turiano, N. A., Burrow, A. L., & Almeida, D. M. (2018). Sense of purpose moderates the associations between daily stressors and daily well-being. Annals of Behavioral Medicine, 52(8), 724- 729. doi: 10.1093/abm/kax039

Resenhado por Amanda Feitosa

Pessoas com metas e grandes ambições para o futuro costumam ser menos reativas aos estressores da vida diária. A percepção que cada indivíduo tem para o seu futuro é definida como senso de propósito, sendo que esse parte de objetivos de curto prazo até objetivos amplos que dão rumo e sentido para a vida da pessoa. Ele tem um papel fundamental na manutenção da saúde por fazer com que os indivíduos reduzam seus níveis de estresse, a fim de que seus recursos pessoais sejam alocados em objetivos mais à frente. Estudos apontam a importância do senso de propósito por estar associado a, por exemplo, menores índices de inflamação e doenças crônicas, além de ser um preditor de resultados positivos de saúde. Dessa forma, o presente artigo teve como objetivo investigar o senso de propósito como variável moderadora na relação entre estressores diários, sintomas físicos e afetos positivos e negativos diários.
A pesquisa teve como amostra 1949 participantes, sendo esses em sua maioria mulheres (57,7%) e brancos (84,4%), com a média de 56,41 anos de idade (DP= 12,16). O método do estudo consistiu na aplicação de um questionário, o qual incluía questões sobre senso de propósito e autoavaliação de saúde, além de entrevistas telefônicas diárias por um período de oito dias. A medição do senso de propósito foi realizada com a Escala de Bem-estar Psicológico, enquanto que diariamente os participantes eram entrevistados sobre a presença de estressores nas últimas 24 horas (a saber, discussões, evitar possíveis discussões, estressores no trabalho e/ou escola, estressor doméstico, discriminação, etc.). O afeto diário foi mensurado através da frequência de emoções, as quais foram divididas em afeto positivo e afeto negativo.
Os participantes relataram que os estressores ocorreram em 40,0% (DP = 27,00) do período da pesquisa, sendo que o senso de propósito teve uma correlação significativa com maior afeto positivo diário e menores sintomas físicos em dias de ocorrência de estressores. Indivíduos com menor senso de propósito foram mais propensos a um aumento no afeto negativo em dias estressantes quando comparados àqueles com um senso de propósito elevado. Os resultados evidenciam a ideia de que indivíduos com um propósito na vida lidam melhor com obstáculos e são mais capazes de regular suas emoções diariamente. Assim, o senso de propósito está ligado à percepção da pessoa de encontrar diferentes formas para lidar com eventos aversivos, e assim ser menos propensa a avaliar sua vida como estressante.
A psicologia da saúde é uma área que tem como um dos seus objetivos o estudo da influência de variáveis psicológicas na prevenção de doenças. O senso de propósito se destaca pelo seu fator protetivo frente a estressores diários, sendo função da psicologia da saúde fortalecê-lo e, além disso, ensinar as pessoas outras estratégias de enfrentamento adaptativas para que elas lidem de forma mais saudável com desafios. Portanto, se ressalta a importância dessa variável para a promoção do bem-estar individual.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

A psicologia da saúde


Alves, R., Santos, G., Ferreira, P., Costa, A., & Costa, E. (2017). Atualidades sobre a psicologia da saúde e a realidade Brasileira. Psicologia, Saúde & Doenças, 18(2), 545-555. https://dx.doi.org/10.15309/17psd180221
Brannon, L., Feist, J., & Updegraff, J. A. (2013). Health psychology: An introduction to behavior and health (Cap. 1, pp. 1-17). Cengage Learning.

Resenhado por Matheus Macena

A psicologia da saúde é fruto da evolução dos modelos para compreensão do processo saúde-doença e das mudanças no próprio conceito de saúde. O ramo da psicologia da saúde pondera como comportamentos individuais e o estilo de vida afetam a saúde física. Ela engloba contribuições psicológicas para manutenção da saúde, prevenção e tratamento de doenças, identificação de fatores de risco para saúde, a melhoria do sistema de saúde e da formação das opiniões públicas acerca da saúde.
O conceito de saúde por muito tempo foi definido pelo modelo biomédico como ausência de doença, mas este superado quando suas explicações se tornaram insuficientes para as novas condições e tendências do campo da saúde. O modelo alternativo adotado, o biopsicossocial, despontou propondo soluções ao abordar a influência de aspectos biológicos, psicológicos e sociais na saúde. Esse modelo adota as doenças como o resultado de uma combinação de fatores genéticos, fisiológicos, suporte social, controle pessoal, estresse, personalidade, pobreza e crenças culturais, dentre outros. Essas novas dimensões introduzem o bem-estar ao conceito de saúde.
O entendimento da saúde como multidimensional permite a aplicação de conceitos psicológicos em condições de saúde físicas como controle de colesterol, gerenciamento de estresse, alivio de dor, parar de fumar e moderar outros comportamentos de risco. A psicologia da saúde interage com a biologia e a sociologia para produzir desfechos relacionados a saúde e doença.Assim, ajuda a identificar condições que afetam a saúde, o diagnóstico e o tratamento de doenças crônicas e a modificar fatores comportamentais em reabilitação fisiológica ou psicológica.Seu papel é identificar como os aspectos fisiológicos e sociológicos que afetam a saúde interferem de algum modo nos processos biológicos.
A psicologia da saúde é um campo autônomo, mas essencialmente interdisciplinar já que se articula com saberes e práticas originados de múltiplas disciplinas, tais como: a psicologia clínica, a psicologia social, a psicologia comunitária, a saúde pública, a epidemiologia, a antropologia, a sociologia, a medicina comportamental. Para atuar com tal diversidade é necessário reconhecer a construção do conhecimento como um processo dinâmico, pois todo saber é construído a partir de outros saberes já estabelecidos (científicos ou populares). Assim, o conceito de psicologia da saúde evoluiu e se modificou por meio de contribuições e da colaboração de a "ciência que estuda o comportamento no campo da saúde/enfermidade" para uma disciplina que se refere aos aspectos da psicologia relacionados com a experiência da saúde e da enfermidade ou com as condutas que intervêm na determinação e explicação da saúde.
Em suma, a psicologia da saúde é a junção da contribuição de diversas parcelas do saber psicológico e contribuições educacionais, científicas e profissionais da disciplina psicologia à promoção e a manutenção da saúde, a prevenção e o tratamento das enfermidades, a identificação da etiologia e o diagnóstico dos componentes associados à saúde, à doença, à análise do sistema de saúde e ao planejamento da política pública de saúde.