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sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Implicações do ambiente, condições e organização do trabalho na saúde do professor: Uma revisão sistemática


Luz, J. G. D., Pessa, S. L. R., Luz, R. P. D., & Schenatto, F. J. A. (2019). Implicações do ambiente, condições e organização do trabalho na saúde do professor: Uma revisão sistemática. Ciência & Saúde Coletiva, 24, 4621-4632.

Resenhado por Franciely Santos

            O professor é peça imprescindível no ambiente educacional, e este exige flexibilidade e dinamismo frente as mudanças. Nesse cenário, o professor está sempre sendo desafiado, devido à precariedade dos espaços, a sobrecarga de trabalho, os baixos salários e os alunos que muitas vezes agem com indisciplina. Essas situações influenciam negativamente na satisfação do profissional, o que acarreta, consequentemente, em má relação com sua função e seu bem-estar físico e emocional. Assim, a saúde dos professores é afetada, principalmente a saúde mental, e a síndrome de Burnout aparece continuamente com destaque nos estudos. 
            Foi realizada uma revisão sistemática no período de junho e julho de 2016. Após a triagem restaram 32 artigos que estavam de acordo com o objeto de pesquisa. Apesar de a busca ser feita com artigos a partir de 1997, nenhum artigo entre esse ano e 2001 foram encontrados. No que se refere a níveis de ensino, 7 estudos foram de ensino primário e secundário, 5 com professores universitários, 4 não especificaram, 3 ensino secundário e escola de gramática, 1 da pré-escola e 1 pré-escola e ensino. Quanto ao gênero, 26 abordaram tanto professores como professoras, 4 apenas professoras e 2 não explicitaram. Foram usados 47 questionários, além de dados pessoais e sociodemográficos.
            O estudo incluiu diversas regiões do mundo e diferentes níveis de ensino. Entretanto, as contestações feitas pelos docentes foram homogêneas em diversos aspectos como: pressão e péssimas condições de trabalho, carga horária excessiva e falta de apoio. Em relação ao ambiente, organização e condições de trabalho os principais responsáveis pelas más condições foram: carga horária excessiva, sendo que 20% dos docentes afirmaram trabalhar 60 h ou mais em 5 dias da semana; e as horas extras que acarretam em sentimento de fadiga nos professores. Como alternativa para essas questões estão os acordos flexíveis, que possibilitam aos docentes um controle sobre as decisões que tem impacto direto na sua jornada diária.
            Ademais, os resultados discorreram sobre a saúde do professor, principalmente a saúde mental. Questões relacionadas a saúde mental estão em lugar de destaque quando se trata de condições de trabalho e docente. O estresse e a síndrome de Burnout são os assuntos que mais aparecem nas pesquisas dessa área. Além de eventos externos, a condição pessoal do docente também contribui nos níveis de estresse que o professor pode apresentar, como investigado em um estudo no Reino Unido. Outro estudo, realizado com professores chineses, realçou que uma intervenção válida é adaptar o ambiente as necessidades do indivíduo, gerando assim diminuição em índices de sobrecarga, atuação do ambiente físico sobre o estresse, e aumento da capacidade para o trabalho.
            Saúde e bem-estar dos professores são temas pertinentes à psicologia da saúde. Causas ligadas direta e indiretamente, como estresse, fadiga e satisfação laboral, são fatores de preocupações e que merecem atenção especial como é apontado em muitos estudos. Visto que há um vasto corpo docente acometido por diversos transtornos mentais (principalmente, estresse e síndrome de Burnout), faz-se necessário pesquisas que investiguem estratégias de enfrentamento mais eficazes que auxiliem esse público-alvo.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Angústia Psicológica em uma Amostra de Professores


Psychological Distress in a Sample of Teachers

            Schonfeld, I. S.(1990). Psychological Distress in a Sample of Teachers. The Journal of   Psychology124(3), 321–338. doi: 10.1080/00223980.1990.10543227

Resenhado por Giulia Oliveira


            Estudos acerca do estresse ocupacional na área do ensino possuem fraquezas que dificultam a interpretação dos resultados encontrados. Nesses estudos frequentemente é feita uma confusão operacional entre os potenciais estressores do trabalho e a angústia que supostamente produzem, sendo raras vezes medidos separadamente. Além disso, muitos questionários usados para medir estresse são instrumentos de burnout, ou seja, são falhos para identificar causadores de angústia emocional e problemas de saúde mental em professores.
            Neste estudo, objetivava-se averiguar se a amostra de professores selecionada possuiria scores tão altos quantos os obtidos em outras áreas geográficas utilizando a escala Escala de Depressão do Centro de Estudos Epidemiológicos (CES-D). Tal instrumento bem validado mede sintomas depressivos, investiga a relação entre sintomas psicológicos e moral relacionada ao trabalho e estressores ligados ao ambiente escolar, bem como sua relação com o suporte de colegas. Foi obtida uma amostra de 67 professores da cidade de Nova York, aos quais foi aplicado um questionário dividido em quatro seções: demográfico, saúde/moral, estressor e suporte dos colegas.
            Os resultados obtidos mostram que o score médio dos professores para sintomas depressivos foi significativamente maior que o de outras amostras. Em levantamentos comunitários anteriores entre 5 e 19% da amostra teve scores de 16 ou mais pontos nessa escala, para os professores essa porcentagem foi de 32%. Em relação a satisfação profissional os professores tiveram valor médio próximo ao meio da escala (a alternativa “nem satisfeito, nem insatisfeito” com o atual trabalho do respondente). Além disso 40,2% da amostra expressou insatisfação ou indiferença com seus trabalhos e apenas 13,4% relatou estar “muito satisfeito”. Enquanto isso, o apoio de colegas está relacionado a menores níveis de sintomas psicofisiológicos e maiores níveis de satisfação profissional.
            No que tange à área da Psicologia da Saúde, revela-se urgente conduzir mais pesquisas que busquem localizar os principais causadores de estresse e angústia nos educadores, bem como desenvolver estratégias que objetivem diminuir os altos níveis desses sintomas nesse grupo de acordo com seu ambiente de trabalho, por fim evitando maiores problemas de saúde mental. É necessário investir na criação de novos instrumentos bem validados que consigam medir com precisão os níveis de angústia e problemas de saúde mental em amostras de professores, para que assim os estudos possuam maior validade científica.