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domingo, 31 de maio de 2020

COVID-19 e Saúde Mental: A emergência do cuidado

Faro, A., Andrade, M., Cassia, T., Reis, C., Silva, B. & Vitti, L. (2020). COVID-19 e Saúde Mental: A emergência do cuidado. Scielo Preprints: doi.org/10.1590/SciELOPreprints.146 

Resenhado por Mariana Serrão 

A pandemia do COVID-19 e as medidas de saúde adotadas para minimizar o número de contágio, apesar de serem necessárias podem gerar algumas consequências negativas para saúde mental. A crise em saúde que o mundo está passando, além de gerar a sensação de insegurança, ocasiona mudanças no funcionamento social e nas relações interpessoais.  
No que diz respeito à saúde mental, a medida mais eficaz para conter a doença, o isolamento social, impacta significativamente a saúde mental da população. Estudos apontam que quadros de ansiedade e depressão podem ser desencadeados durante a quarentena e distanciamento social. Por isso, algumas medidas de cuidado devem ser tomadas nesse período como: ter um espaço físico adequado para o isolamento, manter-se informado com notícias fidedignas e permanecer conectado a rede de apoio social.  
Existem diferentes momentos durante uma crise (pré-crise; intracrise e pós crise), com características e aspectos favoráveis e desfavoráveis. O primeiro momento é quando as notícias iniciais sobre a doença são passadas, a constatação que há um problema de saúde. Nesse momento também são informadas as primeiras formas de cuidado, no caso do COVID-19 o distanciamento social, e as medidas que serão adotadas. Orientar a população nesse momento inicial sobre a doença é crucial para a adoção das medidas pela mesma, bem como para reduzir a ansiedade. Também é possível notar o aumento de sintomas depressivos em pessoas de quarentena ou em isolamento, além do estresse agudo na população, em geral, por medo do contágio 
A intracrise é o momento em que a doença já está  instalada, há o aumento na projeção de crescimento do número de casos e a constatação da gravidade e do risco de eventual contágio. O elevado número de casos, internação e óbitos podem impactar intensamente a saúde mental. Além disso, o formato de sepultamento é alterado devido ao alto potencial de contágio podendo tornar o luto dos familiares ainda mais difícil. Durante esse período é possível perceber sintomas de ansiedade, insônia, preocupação exagerada consigo e com o outro, ruminação, facilitando uma carga emocional e física que pode desencadear ou agravar transtornos mentais. 
O terceiro momento, pós-crise, é um período de retomar o funcionamento "normal” individual e social. Aos poucos as atividades retornam, os estabelecimentos voltam a abrir, escolas, universidades mesmo que os casos de contaminação ainda não sejam inexistentes. Apesar da volta as atividades habituais, algumas consequências pós pandemia duram um pouco mais para reverter como é o caso dos danos à saúde mental.  
O artigo destaca a importância do cuidado com a saúde mental durante a pandemia visto que esse contexto pode gerar elevados níveis de estresse, sintomas ansiosos, depressivos, agravar e desencadear quadros de transtornos mentais. É importante ressaltar que grupos de psicólogos tem se colocado à disposição para acolhimento on-line durante a pandemia, alguns conselhos regionais de psicologia disponibilizaram listas de profissionais voluntários. O cuidado com a saúde mental não deve ser negligenciada, sobre tudo neste momento de pandemia. 

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Dialogando sobre a morte como forma de prevenção do luto mal elaborado

Dialoging about death as a prevention for evil fighting 


Rocha, A. P., Fonsêca, L. C., & Sales, R. L. (2019). Dialogando sobre a morte como forma de prevenção do luto mal elaborado. Revista Psicologia & Saberes, v.8, n.12, 2019 doi:10.3333/rps.v8i12.1054 

Resenhado por Márcio Diego Reis 

Apesar de saber que ocorrerá para todos, a maior parte das pessoas não vê a morte como algo natural. Para alguns, falar sobre a morte pode atraí-la, sendo considerada um tabu. Essa ocultação sobre o tema faz refletir sobre a formação e a prática dos profissionais da saúde, em especial do psicólogo, diante do cenário do luto. A morte é algo difícil de falar em nossa cultura, justamente pela inquietação, medo e ansiedade que dela suscita. Entretanto, é um processo natural e o que nos torna diferente de outros seres é a nossa consciência sobre a finitude.  
O luto é um conjunto de reações decorrente de uma perda e, portanto, deve ser acompanhado em razão da saúde emocional do sujeito. A relação de vínculo entre o enlutado e o falecido, o tipo de morte, a religiosidade e as redes de apoio emocional e social, são alguns dos fatores considerados determinantes no processo de luto, que devem ser valorizados e acompanhados. O objetivo deste trabalho foi dialogar sobre a morte iminente como forma de prevenção de um luto mal elaborado, considerando que existem formas menos dolorosas e mais tranquilas de vivenciar esse momento inerente a existência humana.  
Para Kluber-Ross (2008), um dos aspectos que impede o sujeito de falar sobre a morte, é a incapacidade psicológica que ele tem de conceber a própria morte, ou seja, ele reconhece que o outro morre, porém não concebe sua própria finitude. Dialogar sobre este tema é uma carência social, visto que sua ausência incide em consequências desastrosas, o que pode ser observado em algumas áreas que requer manejo adequado no trato com o ser o humano. Faz-se necessário que os profissionais sejam capacitados para acolher esse sofrimento. 
O ponto de partida pode ser “naturalizando” gradualmente, através do diálogo franco e sem estigmas com crianças, vizinhos, amigos, parentes, etc. Conversar de forma espontânea a respeito da morte leva o indivíduo a se perceber e, de certa forma, aceitar que não é infinito, compreendendo que a evitação não o torna imune à morte. A partir daí, novas condutas podem surgir para facilitar o processo de luto, diante da compreensão que a morte é um processo natural.  
Algumas culturas até conseguem visualizar o lado positivo desse momento final, no entanto, o que prevalece é a negligência diante do sofrimento dos enlutados. Esse tipo de negligência pode levá-los ao luto patológico ou até a depressão. Por isso, há uma necessidade de dialogar amplamente para que este assunto deixe de ser um tabu e passe a ser naturalizado entre os indivíduos.  
Nesse contexto, o psicólogo também possui uma relevância crucial. Deve proporcionar ao enlutado um espaço no qual ele possa expressar o que sente, além de oferecer uma escuta cuidadosa, acolher seu sofrimento e principalmente, mostrar que a dor que sente é totalmente legítima e autorizada. É importante estar atento à forma com que cada enlutado reage a essa ruptura, considerando que as reações variam de acordo com a pessoa e o grau de afetividade com o falecido. O psicólogo pode e deve ser um facilitador do processo de luto, seja no contexto hospitalar por meio dos cuidados paliativos ou no contexto clínico. 

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Terminalidade, Morte e Luto na Pandemia de COVID-19: Demandas Psicológicas Emergentes e Implicações Práticas

Crepaldi, M. A., Schmidt, B., Noal, D. d., Bolze, S. D., & Gabarra, L. M. (15 de Maio de 2020). Terminalidade, Morte e Luto na Pandemia de COVID-19: Demandas Psicológicas. Brasil. 
Postado por Giulia
  
Condições de distanciamento social foram impostas após início da pandemia do novo coronavírus devido à preocupação e incerteza com relação à disponibilidade de recursos proporcionais às crescentes demandas por serviços de saúde, numa tentativa de conter a rápida escalada da doença. Consequentemente, impactos profundos estão serão gerados, causando uma crise socioeconômica e psicológica, de modo que a saúde mental na população geral e nos profissionais de saúde tem sido amplamente afetada. Tal desencadeamento se deve às rápidas alterações cognitivas, emocionais e comportamentais característica do período, atreladas à imprevisibilidade do futuro e a diminuição do contato humano. 
Em face dessas mudanças, o processo de terminalidade e morte também tem sido afetado, pois se tornam mais complexas as realizações de rituais de despedida, o que dificulta a experiência de luto. Assim é evidenciada a necessidade de intervenções psicológicas durante e após a pandemia, uma vez que as implicações emocionais e cognitivas provocadas pela COVID-19 podem ser mais duradouras que a própria doença.  
Sem interações face a face com a rede socioafetiva e com o medo de haver mais membros da família infectados, os rituais de despedida tendem a ser seriamente comprometidos, agravando o impacto psicológico e prejudicando a elaboração de sentido para a perda, deixando as famílias desamparadas. Além disso, os corpos de pessoas mortas pelo vírus devem ser lacrados em caixões sem qualquer limpeza ou preparação para homenagens fúnebres, rompendo com as convenções culturais e religiosas desses rituais e gerando culpa e sensação de negligência nos familiares. 
O luto é um processo saudável de adaptação às perdas e sua dificultação pode acarretar em intensificação do sofrimento, sentimento de sobrecarga e engajamento em comportamentos desadaptativos prejudiciais. Alguns dos fatores de risco que podem levar à essas complicações são: local e condição da morte, perda de mais de uma pessoa próxima, fragilidade de apoio da rede socioafetiva, não realização de ritual funerário em conformidade com práticas culturais e religiosas e sentimento de culpa. 
Nesse contexto, adaptações estão sendo realizadas em diversos países de modo a facilitar o processamento do luto frente às restrições enfrentadas, algumas delas são: expressão de sentimentos de luto nas redes sociais, celebrações religiosas virtuais e realização de rituais individuais.  Apesar de não substituírem as práticas tradicionais, essas são opções que podem auxiliar na resolução do luto, pois oferecem oportunidades emocionais e cognitivas para lidar com a perda. 
Diante desse cenário, psicólogosm se mostrado de grande relevância, explorando a compreensão do quadro da doença e os desejos e condições emocionais tanto do paciente, quanto das pessoas mais próximas a ele para a realização de um ritual de despedida. O apoio psicológico também ameniza os obstáculos relativos à elaboração da morte diante das restrições da pandemia e auxilia no manejo das situações desafiadoras por eles geradas. Além disso, o acompanhamento pós-luto realizado por psicólogos é altamente recomendado, para que sejam feitas as devidas orientações e encaminhamentos, bem como oferecimento de suporte emocional.