Páginas

terça-feira, 30 de junho de 2020

Estratégias de enfretamento utilizadas pela equipe de enfermagem de um CTI adulto perante situações de estresse

Colossi, E., Calesso-Moreira, M., & Pizzinato, A. (2011). Estratégias de enfretamento utilizadas pela equipe de enfermagem de um CTI adulto perante situações de estresse. Revista Ciência & Saúde, 4(1). 14-21. 
Resenhado por Mariana Serrão 

O presente artigo teve como objetivo identificar as estratégias de coping utilizada pelos profissionais de saúde frente à iminência de morte dos pacientes. O coping é definido como esforços cognitivos e comportamentais com o objetivo de vencer, controlar, tolerar ou reduzir demandas de sofrimento interna ou externa. Folkman e Lazarus sugerem quatro conceitos para o coping: é um processo ou interação entre o indivíduo e o ambiente; sua função é administrar a situação estressora e não controlar ou dominar a mesma; considera a interpretação cognitiva do evento pelo indivíduo; implica em mobilização de esforço para lidar com a situação estressora.  
O modo como a pessoa lida com as situações estressoras tem um papel relevante no processo saúde-doença. Sendo assim, caso as estratégias de enfrentamento funcionem de modo ideal o processo de coping terá efeitos adaptativos. Existem alguns tipos de estratégia de enfrentamento, são elas: coping ativo, planejamento, supressão de atividades concomitantes, coping moderado, busca de suporte social por razões instrumentais, busca de suporte social por razões emocionais, foco na expressão de emoções, desligamento comportamental, desligamento mental, reinterpretação positiva, negação, aceitação, religiosidade, humor e o uso de substância. 
A pesquisa foi realizada com 37 pessoas da equipe de enfermagem de um CTI adulto na cidade de Porto Alegre, como instrumentos foram utilizados o questionário sociodemográfico e o inventário de COPE – Escala de Estratégias de Enfretamento.   
Verificou-se que a estratégia de coping mais usada pela equipe foi a reinterpretação positiva, essa estratégia está relacionada positivamente com uma maior realização profissional. A reinterpretação positiva consiste em redimensionar o estressor por meio da modificação do estado emocional, facilitando um maior equilíbrio emocional. Esta é uma estratégia, considerando o ambiente de trabalho dos profissionais,classificada como adaptativa  
 O coping ativo, busca por suporte social e religiosidade foram estratégias utilizadas de forma moderada pela amostra. O primeiro consiste em estabelecer passos sucessivos para remover, atenuar ou melhorar os efeitos do estressor. Segundo estudos, essa estratégia parece ser um fator de proteção eficaz para Síndrome de Burnout, o coping ativo também se relaciona positivamente com o sentimento de realização profissional. O suporte social é definido pela existência e disponibilidade de pessoas que indivíduo pode confiar, que demonstram preocupação com o mesmo, valorizam e demonstram afeto.  
De modo geral, os profissionais que responderam à pesquisa usaram estratégias de coping adequadas e adaptativas de acordo com o seu ambiente, o que contribui para o bem estar psicológico dos indivíduos e satisfação profissional. As estratégias de coping podem variar ao longo do tempo, bem como ser aprendidas e desenvolvida. Ademais, as estratégias de coping que foram efetivas em algum momento estressor da vida do indivíduo podem ser readotadas para lidar com novos estressores.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Expectativas, medo e percepção de médicos durante a pandemia da COVID-19


Expectations, Fears and Perceptions of doctors during Covid-19 Pandemic

Urooj, U., Ansari, A., Siraj, A., Khan, S., & Tariq, H. (2020). Expectations, Fears and Perceptions of doctors during Covid-19 Pandemic. Pakistan Journal of Medical Sciences36(COVID19-S4). Doi: 10.12669/pjms.36.COVID19-S4.2643

Resenhado por Daiane Nunes

A pandemia de Covid-19 é um cenário único e sem precedentes para os profissionais de saúde e suas famílias. A luta contra o novo coronavírus é de longo prazo e requer proteção à saúde mental dos trabalhadores que estão na linha de frente. A situação de estresse crônico e medo constante têm provocado efeitos deletérios nesse grupo. Assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar as percepções, expectativas e medos de médicos durante a pandemia de Covid-19 e identificar aspectos de sua saúde mental que precisam ser abordadas.
Tratou-se de uma pesquisa transversal, com coleta de dados virtual através de formulários do Google. O instrumento continha 12 perguntas abertas e fechadas. Participaram do estudo 222 médicos do Paquistão, do Reino Unido e dos Estados Unidos da América que estavam ativamente envolvidos na prática clínica durante a pandemia de Covid-19. Em sua maioria constituída por mulheres (67,5%; n = 150), com idade média de 33,5 anos (DP = 4,21).
O medo mais frequente apontado pelos profissionais foi o de infectar familiares (79,7%; n = 177), seguido pelo medo da rápida propagação da doença (63,0%; n = 140), das complicações da doença (60,3%; n = 136), de se tornar um portador (28,8%; n = 64) e de perder o diagnóstico (28,0%; n = 62). Outros sentimentos relatados foram a incerteza e o medo, senso de dever, ansiedade, preocupação, motivação, esperança, cautela, apreensão e confusão. As principais expectativas dos médicos se relacionavam ao apoio total, fornecimento de equipamentos de proteção, cooperação e organização da administração. Além disso, 99% dos médicos expressaram sentimentos, pensamentos e expectativas centrados em suas famílias.
Por fim, os autores destacam os numerosos desafios impostos pela pandemia de Covid-19 aos profissionais de saúde em todo o mundo. Torna-se necessário escutar as percepções de médicos e outros trabalhadores, a fim de planejar estratégias de enfrentamento que busquem proteger a saúde física e mental desse grupo. 

sábado, 27 de junho de 2020

Saúde mental entre sobreviventes e profissionais de saúde expostos ao COVID-19 em Wuhan, China: um estudo transversal


Mental health among COVID-19 survivors and healthcare workers exposed to COVID-19 in Wuhan, China: a cross-sectional study

Chen, B., Wang, Y., Wang, T., Li, C. and Sun, Z., 2020. Mental health among COVID-19 survivors and healthcare workers exposed to COVID-19 in Wuhan, China: a cross-sectional study. In: Health Economics & Outcomes Research. doi:10.21203/rs.3.rs-30351/v1
Postado por Giulia

            Embora a pandemia tenha potencial para gerar uma crise de saúde mental, ainda se sabe pouco sobre os efeitos psicológicos causados pela exposição ao vírus em sobreviventes, cuja incerteza a respeito do prognóstico da doença e ameaça de morte podem gerar problemas sérios como ansiedade, depressão e angústia severa, mesmo após a recuperação. Em profissionais da saúde efeitos parecidos também foram constatados, principalmente por conta da grande pressão, insuficiência de equipamentos de trabalho e sobrecarga de trabalho a que estão submetidos, o que além de afetar seu desempenho no cuidado dos pacientes, também pode ter influência de longa duração em sua saúde geral.
            Por conta do planejamento insatisfatório, falta de comunicação entre os serviços médicos e de saúde mental e escassez de psicólogos e psiquiatras experientes, sobreviventes e profissionais de saúde não adquiriram apoio psicológico suficiente para enfrentar as adversidades da pandemia. Desse modo, no intuito de ter conhecimento sobre os fatores de risco e procurar soluções para os problemas gerados nesses grupos, tornou-se necessário investigar seu quadro de saúde mental. 
Participaram da pesquisa 20 sobreviventes do COVID-19 e 78 profissionais de saúde, sendo eles higienistas e enfermeiros. Foi aplicada uma escala multidimensional de sintomas auto-relatados para estimar o status psicológico dos participantes. A escala composta por 90 itens foi classificada em nove dimensões: somatização, obsessivo-compulsivo, sensibilidade interpessoal, depressão, ansiedade, raiva-hostilidade, fobia, ideação paranóica e psicoticismo.
            Os sobreviventes foram os que apresentaram pontuação mais alta na escala, especialmente nas dimensões de somatização, obsessivo-compulsivo, ansiedade e fobia, seguidos pelos higienistas e por último os enfermeiros. Participantes com menor nível educacional e mulheres também demonstraram maior severidade no estado de saúde mental. Os principais problemas apresentados em todos os participantes foram ansiedade e psicoticismo.
            Suporte psicológico deve ser oferecido imediatamente aos sobreviventes do novo coronavírus, que demonstraram severos problemas de saúde mental. É essencial o estudo desses indivíduos a médio e longo prazo por parte da Psicologia da Saúde, a fim de investigar possíveis efeitos duradouros e desenvolver estratégias de cuidado voltadas para esse grupo.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Qualidade de vida no início da doença de Alzheimer: O papel moderador da família e das estratégias de enfrentamento sob a perspectiva do paciente


Lima, S., Sevilha, S., & Pereira, M. G. (2020). Quality of life in early‐stage Alzheimer's disease: the moderator role of family variables and coping strategies from the patients' perspective. Psychogeriatrics. doi:10.1111/psyg.12544

Resenhado por Luiz Guilherme L. Silva.
           
            O aumento da qualidade de vida tem proporcionado a um maior número de pessoas a chegada à velhice. Com esse aumento, a demência se tornou um problema mundial por conta da sua alta prevalência e do seu impacto na vida dessas pessoas e suas famílias. A demência associada a doença de Alzheimer (DA) – doença neurodegenerativa caracterizada por deterioração cognitiva, agnosia, apraxia e perda das funções executivas –  é a forma mais comum. Transtornos ansiosos e depressivos têm efeito negativo na qualidade de vida afetando o funcionamento familiar e dificultando atividades rotineiras. Apesar de não haver consenso em relação ao impacto da depressão na demência, diversos estudos a consideram um fator de risco para DA. Deste modo, o estudo focou na qualidade de vida dos pacientes em estágio inicial da DA quando eles ainda tinham consciência de suas perdas cognitivas e funcionais.
            O estudo de delineamento longitudinal teve sua amostra constituída por 158 participantes portugueses com DA em estágio inicial tendo como base diagnóstica o DSM-V. Para mensuração da qualidade de vida, foi aplicado questionário sociodemográfico para coletar dados sobre idade, gênero, estado civil, educação e frequência de exercício, a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS), o Questionário de Estilos de Coping, o Questionário de Atitudes Religiosas relacionadas ao Adoecimento, a Escala de Adaptabilidade Familiar e Coesão, a Escala de Satisfação Familiar, a Escala de Comunicação Familiar, o Índice de Barthel usado para mensurar a independência do paciente e a Escala de Qualidade de Vida na Doença de Alzheimer.
            O estudo mostrou que ser do gênero masculino estava associado e contribuiu para uma melhor qualidade de vida, corroborando estudos anteriores. Este resultado está de acordo com a literatura, visto que o gênero feminino tem maior expectativa de vida, maior incidência de DA e neurodegeneração mais rápida especialmente em mulheres após a menopausa. Dentre os pacientes com DA, a maior frequência de exercício contribuiu para uma melhor qualidade de vida e esteve associada com comunicação e satisfação familiar. Outros estudos ressaltaram que a prática de exercícios físicos ajudam a mitigar os efeitos da DA, assim como retardar o aparecimento e progressão dos sintomas. Também foi encontrado que declínio cognitivo e funcionalidade estavam associados a qualidade de vida. As variáveis relativas à família foram associadas positivamente com a qualidade de vida do paciente, como demonstrado anteriormente pela literatura científica.
            Diante dos dados apresentados pelo estudo em questão, a Psicologia da Saúde tem como papel promover a saúde de pacientes com DA por meio de mudanças comportamentais, por exemplo, a adesão aos exercícios físicos e a melhora das relações interpessoais a fim de contribuir para uma melhor qualidade de vida não apenas do idoso, bem como da família que também está passando por mudanças na rotina. Vale ressaltar ainda que, para aqueles que são adeptos a alguma religião, o incentivo de práticas religiosas pode ajudar no enfrentamento da doença.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da COVID-19


Goes, E. F., Ramos, D. O., & Ferreira, A. J. F. (2020). Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da Covid-19. Trabalho, Educação e Saúde, 18(3).

Resenhado por Renata Elly

A pandemia do novo coronavírus tem sido um maior desafio para populações vulneráveis. O Brasil é um país que apresenta diversas desigualdades internas, concebidas, sobretudo, pelo racismo. O racismo é um processo histórico e um sistema estruturante, gerador de comportamentos, crenças, preconceitos e práticas, que fundamentam desigualdades evitáveis e injustas entre grupos sociais, baseadas pela raça ou etnia. O racismo é também estudado como um determinante social da saúde, uma vez que expõe mulheres e homens negros a situações mais vulneráveis de adoecimento e morte, além de influenciar no acesso desse público aos sistemas de saúde e qualidade dos atendimentos.
Estudos indicaram que a população afro-estadunidense é a menos testada nos EUA, quando comparecem para o atendimento apresentando sintomas característicos da Covid-19. Em alguns estados, a exemplo de Michigan, a população negra é 14% da população e apresenta 30% dos casos positivos da Covid-19, apesar da subnotificação. Em Chicago, os afro-estadunidenses representam 29% da população da cidade e 70% das mortes (dados de abril de 2020). A análise mais elaborada nos EUA, no entanto, ainda não é possível, uma vez que não existam dados a respeito de todos os estados e cidades sobre a testagem distribuída por raça ou etnia.
No Brasil, considerando a ausência de vários direitos, sabe-se que o desfecho negativo e um sofrimento mais severo pode atingir em maior grau a população negra. Em relação a outras doenças, a população negra apresenta maior prevalência em comparação a população branca, a exemplo da hipertensão e diabetes. O presente artigo, diante dos motivos apresentados acima, coloca a população negra como mais um grupo de risco para Covid-19, além dos indicados pela OMS, como idade maior que 60 anos e portadores de doenças imunossupressoras e hematopoiéticas. Os locais onde reside uma significativa proporção da população negra são precários e sem acesso a serviços básicos de saneamento, água potável e serviços de saúde, resultando no acúmulo de agravos à saúde.
A população negra é também a que ocupa a maior parte dos trabalhos informais e está sendo condicionada a não adoção da principal medida de prevenção da Covid-19, o distanciamento social. Em estudos realizados nos EUA, a população que apresentava melhores índices de distanciamento é a branca, rica e com maior escolaridade. O combate ao racismo está para além das demandas atuais da pandemia, porém, o presente cenário demanda ações específicas de proteção social que não estão sendo cumpridas e, por isso, deve ser exigido maior transparências dos órgãos, maior realização de testes em áreas vulneráveis e na população privada da liberdade.
Diante disso, é possível notar que a pandemia é vivenciada de forma diferente a partir do local que você ocupa na sociedade e as políticas públicas disponíveis. A Psicologia da Saúde insere-se nesse contexto demonstrando a importância de maior equidade entre populações de diferentes classes e raça, para uma maior prevenção e cuidados em saúde, o que, possivelmente, melhoraria os números relacionados aos óbitos e casos da pandemia da Covid-19.

domingo, 21 de junho de 2020

Como o estresse afeta o seu cérebro



Postado por Michelle Leite

            O estresse pode ser definido como um fenômeno psicossocial ativado diante de uma ameaça real ou imaginária à integridade mental ou física de uma pessoa, resultando em respostas fisiológicas. O estresse é danoso ao organismo somente quando o estressor supera a capacidade adaptativa individual. Entendida como distresse, a condição de estresse crônico gera desgaste no sistema adaptativo e favorece o aparecimento de doenças físicas e psicológicas. Devido ao seu caráter longitudinal e ameaçador, o cenário pandêmico pode resultar em respostas de estresse crônico e persistente. O vídeo abaixo demonstra os efeitos do estresse no nosso cérebro e pode ser útil nesse momento de pandemia para entendermos como o nosso corpo reage aos vários fatores estressantes provocados pela crise do novo coronavírus e identificarmos o momento em que devemos procurar ajuda profissional para lidar com isso.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

O surto do novo coronavírus: amplificação das consequências de saúde pública pela exposição da mídia


Garfin, D. R., Silver, R. C., & Holman, E. A. (2020). The novel coronavirus (COVID-2019) outbreak: Amplification of public health consequences by media exposure. Health Psychology. doi: 10.1037/hea0000875

Resenhado por Maísa Carvalho

O novo coronavírus (COVID-19) é uma doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, que pode originar desde infecções assintomáticas até quadros graves de insuficiência respiratória. Os primeiros casos do vírus foram registrados na China ao final de 2019 e rapidamente se tornou uma pandemia global, ocasionando danos expressivos nas esferas social, econômica e de saúde. Em decorrência do desconhecimento acerca de métodos preventivos e eficazes, a exemplo de medicamentos e vacinas, cientistas e autoridades competentes constantemente informam à população sobre medidas preventivas para conter a transmissão do vírus. Não obstante, percebem-se efeitos físicos e psicológicos adversos provenientes da massiva exposição à mídia, como distresse e aumento de ansiedade, que podem gerar comportamentos de autocuidado desproporcionais à ameaça real; sobrecarregando os serviços de saúde que já se encontram em estado crítico.
Em crises de saúde, em que sentimentos de incerteza perante o futuro se tornam mais frequentes, as pessoas tendem a buscar notícias e informações sobre as situações que vivenciam. Logo, a mídia ganha um papel ainda mais imprescindível para divulgar dados de cunho crítico, com embasamento científico e recomendações que possam vir a auxiliar a população a adotar hábitos de enfrentamento saudáveis. Estudos que analisaram os desfechos em saúde provenientes de outras crises – como o surto de H1N1, o 11 de setembro e ataques com mortes em massa – mostraram que a inexistência de informações oficiais gerou a proliferação de notícias falsas, ocasionando estresse e aumento de sintomatologia ansiosa.
No entanto, o consumo excessivo de notícias concernentes a cenários desfavoráveis também está associado ao aumento de estresse e reações desproporcionais. Pesquisas sobre epidemias anteriores apontaram que o tipo e a quantidade de informações afetam toda a comunidade, alimentando um ciclo de contágio emocional. Observa-se uma repercussão semelhante na pandemia do novo coronavírus, visto que mesmo em locais onde não é percebida uma alta incidência da doença, as pessoas estocam alimentos e adquirem equipamentos de proteção individual, colocando em risco pessoas que realmente necessitam, como profissionais de saúde. Além disso, percebe-se que os efeitos na saúde física em decorrência do estresse também estão relacionados a uma maior exposição à doença, pois muitas vezes geram a necessidade de atendimento médico.
Diante do exposto, é imperativo que a mídia divulgue o máximo de notícias com acurácia, assiduidade e responsabilidade social; desprovida de elementos sensacionalistas e imagens que não representem a realidade. O uso de redes sociais como Instagram, Facebook, Twitter, dentre outras, vem sendo percebido como um aliado importante na disseminação de informações sobre comportamentos de autocuidado em saúde mental recomendados pelo meio científico e autoridades competentes, a exemplo da Organização Mundial da Saúde (OMS), Ministério da Saúde (MS) e Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Essas estratégias podem ser capazes de proporcionar alívio mental, bem como instigam as pessoas a compreender sinais de alerta e buscar ajuda quando necessário.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Uma segunda-feira que é terça-feira que é domingo: Quando a COVID-19 interrompe relógios internos


Traduzido e adaptado por Luanna Silva

O dia parece ter perdido seu ritmo e estrutura devido às mudanças causadas pela pandemia do novo coronavírus. O distanciamento social, lockdown e transferência de atividades, a exemplo de estudo e trabalho, para casa leva as pessoas a se queixarem de viver uma mesmice que afeta seu senso de tempo. "Não há nada diferente entre quinta e domingo ou segunda. A mesmice parece entorpecente. Eu acho que isso estragou completamente meu senso de tempo. Nunca tive isso antes, exceto quando estava profundamente deprimida.", relata Jenny Rappaport.
Vários grupos de pesquisa aproveitaram esse experimento natural não planejado para avaliar os impactos psicológicos das distorções do tempo e, por sua vez, seus efeitos na saúde mental. "É um evento social que terá uma profunda influência psicológica sobre nós", explica Philip Gable, da Universidade do Alabama, acrescentando que a mudança temporal é parte integrante de nossa percepção e sentimentos sobre o que está acontecendo. O senso do tempo está ligado ao bem-estar e uma percepção lenta de passagem de tempo pode representar sinais de depressão ou transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Para alguns indivíduos em quarentena, o tempo se estende, mas também se comprime. Essas percepções podem ser atribuídas a um cabo de guerra entre dois conceitos: tempo retrospectivo e prospectivo. Uma pessoa pode experimentar os dois modos em diferentes ocasiões. Se alguém passa o dia checando o relógio, as horas podem parecer se arrastar em uma sucessão entediante. Esse efeito ocorre porque, no modo de tempo prospectivo, quanto mais atenção dedico ao pensamento sobre a passagem do tempo, mais demorado parecerá. Com o tempo retrospectivo, quanto mais eventos uma pessoa lembra que aconteceu durante um determinado período, mais longo esse intervalo parecerá. Durante um desligamento, a ausência de eventos memoráveis que diferenciam um dia do próximo pode fazer com que pareça que o tempo passou voando.
Distorções no tempo, especialmente intensas, estão associadas a problemas de saúde mental mesmo anos após a ocorrência do evento. Pessoas que sofrem de trauma relatam que o tempo parece parar ou se mover em câmera lenta. Os pesquisadores temem que a pandemia da COVID-19 cause efeitos psicológicos semelhantes nas pessoas mais afetadas.



Fonte: https://www.scientificamerican.com/article/a-monday-is-a-tuesday-is-a-sunday-as-covid-19-disrupts-internal-clocks/?fbclid=IwAR2bPsB3D_dv7fB0n0CxpCmmP_vkA4rwSllSrQVOgCSjuYI23VEJOdWELt0

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Transtorno de ansiedade generalizada, sintomas depressivos e qualidade do sono durante o surto de COVID-19 na China: uma pesquisa transversal baseada na web


Generalized anxiety disorder, depressive symptoms and sleep quality during COVID-19 outbreak in China: a web-based cross-sectional survey

Huang, Y., & Zhao, N.  (2020). Generalized anxiety disorder, depressive symptoms and sleep quality during COVID-19 outbreak in China: a web-based cross-sectional survey. Psychiatry Research, 288. doi: 10.1016/j.psychres.2020.112954

Resenhado por Luana C. Silva-Santos

A COVID-19 se tornou uma das principais causas de morte, sendo incluída pela Organização Mundial da Saúde como Emergência de Saúde Pública de interesse internacional. Desde dezembro de 2019, afetou severamente a China, de onde espalhou-se mundialmente. Além dos danos físicos, têm sido observados danos à saúde mental da população, principalmente relacionados à Transtornos Mentais Comuns, como ansiedade e depressão, por exemplo. Nesse sentido, Huang e Zhao (2020) coletaram dados de 7.236 voluntários via pesquisa transversal online, buscando investigar além de dados sociodemográficos para fins de caracterização da amostra, o nível de conhecimento em relação à COVID-19 (tempo diário gasto com foco em informações sobre a COVID-19 e conhecimento sobre a doença em termos de contágio, período de incubação do vírus e medicamentos), sintomatologia característica de ansiedade (pela escala Generalized Anxiety Disorder, a GAD-7)  e depressão (pela Center for Epidemiology Scale for Depression, a CES-D) e qualidade do sono (pela versão chinesa do Pittsburgh Sleep Quality Index).
Os participantes tinham em média 35 anos [Média (M) = 35,3; Desvio Padrão (DP) = 5,6], sendo que 54,6% (n = 3.952) e 31,1% (n = 2.250) eram profissionais da saúde. Sobre o conhecimento acerca da COVID-19, 43,6% (n = 3.155) passavam pelo menos três horas diárias com foco em informações sobre o vírus e 78,8% (n = 5.702) tinham bastante conhecimento sobre o tema. A prevalência de sintomatologia indicativa de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) foi de 35,1% (n = 2.539) e de sintomas depressivos foi de 20,1% (n = 1454). Sobre o sono, 18,2% (n = 1.316) dos participantes não tinham uma boa qualidade de sono. As pessoas mais jovens relataram uma prevalência significativamente maior de TAG e sintomas depressivos do que as pessoas mais velhas. Comparados com outro grupo ocupacional, os profissionais de saúde apresentaram maior probabilidade de ter má qualidade do sono. A regressão logística multivariada mostrou que a idade (menor que 35 anos) e o tempo gasto com foco no COVID-19 (pelo menos 3 horas por dia) foram associados ao TAG e aos sintomas depressivos e os profissionais de saúde estavam em alto risco para a má qualidade do sono.
Nesse sentido, o estudo indicou que pessoas mais jovens, pessoas que passam muito tempo pensando no surto e profissionais de saúde correm alto risco de desenvolver TMC, o que remete a importância da vigilância contínua das consequências psicológicas de surtos como o da COVID-19 como parte dos esforços de preparação em todo o mundo.

domingo, 14 de junho de 2020

Psicólogos oferecem atendimento gratuito pela internet para profissionais da saúde e pacientes com Covid-19


Postado por Geovanna Turri

A psicologia pode contribuir de diversas formas para amenizar os impactos mentais/emocionais causados durante a pandemia da Covid-19. Os psicólogos, assim como outros profissionais da saúde e da atenção psicossocial, têm papel fundamental na promoção de saúde e manejo do adoecimento físico e mental. Uma vez que pode desencadear ansiedade, sintomas depressivos, estresse, etc., é importante que os psicólogos mantenham os atendimentos durante a pandemia, mesmo que este seja realizado por meio de plataformas virtuais. Os atendimentos psicossociais realizados durante o período da pandemia requerem atenção com o manejo, com as reações vivenciadas durante este período, bem como com os indicadores de risco, a exemplo de ideação suicida e manifestação de sofrimento agudo. Esses e outros quadros requerem atenção especializada imediata. Assim sendo, recomenda-se que os psicólogos se preparem para os atendimentos, a fim de contribuir para a redução do adoecimento mental e para a saúde pública nesse período. Ressalta-se que vários psicólogos estão realizando atendimento voluntário pela internet para profissionais da saúde e pacientes com Covid-19, sendo possível verificar os profissionais disponíveis nas páginas dos Conselhos Regionais de Psicologia.

Um projeto de psicólogos voluntários oferece atendimento gratuito pela internet para profissionais da saúde que atuam no atendimento à população durante a pandemia do novo coronavírus.
O serviço também é oferecido para pacientes diagnosticados com a Covid-19. Para receber o atendimento, é necessário preencher um formulário, disponível neste link.
Segundo os organizadores, depois do cadastro, as sessões são realizadas em horário e plataforma online previamente combinados com o profissional da saúde ou o paciente.
O projeto ressalta que o atendimento é feito com sigilo e confidencialidade.
Fernanda Vieira, psicóloga participante do projeto, comenta que muitas pessoas precisam de amparo, em meio às preocupações e incertezas que a pandemia pode provocar.
"O que a gente percebe é que há uma questão coletiva de ansiedade. Por mais que esteja todo mundo em um mesmo barco, cada um vai sofrer por motivos diferentes", conta.

Fonte: https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2020/04/21/psicologos-oferecem-atendimento-gratuito-pela-internet-para-profissionais-da-saude-e-pacientes-com-covid-19.ghtml

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Cuidar de familiares enlutados durante a pandemia do COVID-19: antes e depois da morte


Morris, S. E., Moment, A., & Thomas, J. D. (2020). Caring for bereaved family members during the COVID-19 pandemic: before and after the death of a patient. Journal of Pain and Symptom Management.
Resenhado por Franciely Santos

A covid-19 modificou vários conceitos e costumes que eram rotinas da sociedade, entre eles a forma de se despedir de um ente querido que faleceu. A falta de oportunidade de dizer adeus é um fator que dificulta o processo de luto, podendo torná-lo problemático. Assim, os cuidados paliativos antes e depois da morte são essenciais para mitigar o sofrimento e desespero dos enlutados. Informação acerca do prognóstico do paciente e apoio aos familiares são sugestões de como prestar cuidados aos familiares antes e depois da perda.
A perda de alguém significativo na vida é um grande estressor e pode causar problemas na saúde física e mental dos enlutados. Diferenças individuais interferem no modo de enfrentamento da dor, assim como a relação com o falecido e a causa da morte. Parte da população precisa de auxílio de um profissional para lidar com a perda. No contexto de pandemia e com a necessidade de distanciamento social, a falta de suporte de familiares e amigos contribuem para complicações no luto que podem gerar distúrbio do luto prolongado e estresse pós-traumático. Além disso, mais de uma perda na família, situação recorrente na atualidade, perda em curto tempo e dificuldades financeiras também são agravantes.
Foi visto em pesquisas que os cuidados paliativos com os indivíduos no fim da vida e com sua família estão associados a melhores resultados no enfrentamento do luto. Logo a importância de programas de apoio em hospitais para amenizar o resultado do luto dando suporte antes e depois da perda. Algumas medidas de cuidados antes da morte são: habilidades de comunicação, levar informações sobre o estado do paciente e suas possíveis alterações aos familiares para que criem expectativas realistas, além do esclarecimento a respeito do diagnóstico; como também manter relações de confiança com a família, ambas atitudes são essenciais no contexto de distanciamento social.
O cuidado depois da morte também é fundamental, visto que os rituais não estão autorizados e serviriam como conforto aos enlutados. Portanto, é essencial que os hospitais e a equipe estejam capacitados para manter uma postura adequada de acolhimento. Uma ferramenta que pode ser utilizada é a TCC, que propõe um modelo voltado para a avaliação dos pensamentos, para que esses possam gerar melhores emoções e comportamentos apropriados. No contexto de perda e pandemia, não é incomum que os enlutados tenham pensamentos de culpa e raiva, fazê-los terem avaliações realistas e padronizadas diminui esse sentimento e os ajudam a ter um enfrentamento saudável.
     Dessa forma o processo de luto frente à pandemia da COVID-19 tem maior probabilidade de se tornar complicado e mais doloroso. Por isso os cuidados paliativos se fazem eficazes e importantes pelo seu objetivo de minimizar os danos físicos e mentais dos familiares e amigos que sofrem com a perda. A Psicologia da Saúde pode intensificar discussões e ações para incentivar os hospitais a oferecerem equipes capacitadas para lidar com os enlutados, visando melhor enfrentamento das pessoas.

terça-feira, 9 de junho de 2020

COVID-19: Complicando o rito da morte e o luto

Hott, M. C. M. (2020). COVID-19: Complicando o rito da morte e o luto. InterAmerican Journal of Medicine and Health, 3. doi:  10.31005/iajmh.v3i0.121 1

Resenhado por Márcio Diego Reis

O Brasil e o mundo vivem uma verdadeira guerra biológica. A COVID-19 se instaurou em todos os continentes, fazendo o mundo parar. Diante das incertezas, a população científica, médica, política e civil se encontra insegura e receosa. As batalhas para a prevenção e o enfrentamento da enfermidade potencialmente fatal envolve o desejo de “vitória” sobre a morte anunciada em larga escala, mas nem sempre a tentativa de evitar o óbito prospera.
Quando ocorre a morte, advém o luto e este, uma vez instaurado, desencadeia sofrimento. Caso o luto não seja bem elaborado, afetará não somente o portador, mas todo o seu contexto familiar e social. O luto complicado está se configura como um problema de saúde pública e o adoecimento causado pelo excesso de sofrimento requer atenção e intervenção psicológica. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), no capítulo “Condições para estudos posteriores”, aborda o Transtorno do Luto Complexo Persistente como um problema de saúde mesmo sem reconhecimento oficial, uma vez que demanda mais estudos conclusivos sobre o tema.
Reconhecer que o luto é um processo natural, mas que se não for bem concebido pode desencadear sérios problemas físicos e emocionais, já é um indicativo de que a temática não pode ser negligenciada. Nesse contexto, uma questão importante é a eficácia para a elaboração saudável do estado de enlutamento por meio da celebração do funeral. Esse é o ritual mais significativo para o ser humano que vivencia a perda parental: o respeito e a consagração do corpo sem vida. Independente da religiosidade, todos querem velar e sepultar seus mortos. O velório torna o espaço sagrado e, para algumas sociedades, somente através desses rituais a morte se legitima, pois o ser que não é sepultado não está morto.
Contudo, esse ritual, que tem extrema relevância, se depara com uma pandemia sem precedentes que altera o como, o quando e o onde se despedir dos seus mortos. O afastamento do doente durante o tratamento, a espera por notícias que demoram a chegar e pelos corpos abandonados em necrotérios, a ausência de familiares e amigos no velório, o sepultamento em caixões lacrados e em túmulos coletivos, são fatos que, acumulados ou não, provavelmente contribuirão de forma negativa para o processo do luto. Assim, o falecimento de um ente querido pode ser suficiente para desencadear transtornos psíquicos de alta complexidade
Dessa forma, quando o nível traumático do enlutamento é muito alto, os distúrbios emocionais podem ser catastróficos, visto que as estratégias de enfrentamento fracassam. Devido ao novo cenário desenhado pela pandemia, ainda não se encontrou uma maneira de reformular os procedimentos fúnebres que precisam de restrição parcial ou total das práticas que eram comuns até um tempo atrás. Assim, o acolhimento às demandas do enlutado em tempo de pandemia é um desafio a ser pensado.
Enquanto o mundo pensa o cenário após o COVID-19, compete à psicologia vislumbrar, dentro desta perspectiva, como ficarão os sobreviventes, não somente aqueles que foram contagiados e venceram a doença, mas também os que vivenciaram a morte dos seus entes, e não puderam se despedir por meio dos ritos tradicionais em cada cultura. Cabe a psicologia pensar modos e estratégias de enfrentamento para impulsionar o pretencioso “seguir em frente”.