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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Associação entre exposição a material particulado e depressão: Efeitos mediadores da luz solar, atividade física e reciprocidade na vizinhança

 

Wang, R., Liu, Y., Xue, D., Yao, Y., Liu, P., & Helbich, M. (2019). Cross-sectional associations between long-term exposure to particulate matter and depression in China: The mediating effects of sunlight, physical activity, and neighborly reciprocity. Journal of Affective Disorders249, 8-14.

 

Resenhado por Luiz Guilherme L. Silva.

            O transtorno depressivo é um sério problema de saúde em países em desenvolvimento, como o Brasil e China. Esse transtorno é um dos que mais causam incapacidade, não apenas com a diminuição na qualidade de vida, mas também com o aumento do risco de doenças físicas crônicas. Alguns estudos têm mostrado que ambientes residenciais podem contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde mental. Dentre alguns fatores de risco está a poluição do ar, que tem recebido atenção considerável desde o início do século XXI. Uma revisão de literatura demonstrou que o contato de longo prazo com ambientes poluídos podem aumentar o risco de transtornos mentais. Desse modo, o estudo teve como hipótese que a concentração de materiais particulados – partículas cujo diâmetro é de 2,5 μm ou menor – (PM2,5) no ar influenciaria no risco de depressão, visto que essas partículas podem causar estresse oxidativo ou inflamação induzida por fatores ambientais, que estão implicadas na patogênese da depressão.

            O estudo foi derivado dos dados da China Labor-force Dynamics Survey (CLDS) em 2016, com uma amostra estratificada probabilística de 20861 indivíduos. Os sintomas depressivos foram mensurados pela escala Center for Epidemiology Studies-Depression scale (CES-D). A concentração de PM2,5 foi extraída do Índice de material particulado e qualidade do ar de 2016. Os autores examinaram se atividade física, reciprocidade na vizinhança e exposição à luz solar mediavam a relação entre o nível de PM2,5 e depressão.

            Evidenciou-se que habitantes de áreas mais poluídas tinham significativamente menores níveis de atividade física. Houve associação negativa entre a reciprocidade na vizinhança e a concentração de PM2,5. Também foi encontrado uma relação negativa entre a concentração de PM2,5 e o tempo de atividade física realizada fora de casa. Vale ressaltar que este achado confirma outros acerca da disposição de se exercitar em ambientes exteriores e diminuir os efeitos em saúde de realizar tal comportamento. Foi encontrada uma forte associação entre o nível de material particulado e o escore da CES-D. Também notaram associação negativa entre intensidade da atividade física, percepção de luz solar e reciprocidade na vizinhança com os escores da escala de depressão. Um dos principais achados do estudo foi que o nível de poluição do ar esteve significativamente relacionado à depressão. Em suma, o estudo demonstrou uma associação entre ambientes com maior nível de material particulado e sintomatologia depressiva.

            A Psicologia da Saúde, ao levar em consideração o aspecto biopsicossocial do indíviduo, leva em conta a análise do ambiente como forma de avaliar os fatores protetivos e de risco relacionados ao desenvolvimento de doenças. Desse modo, além de analisar fatores genéticos como histórico familiar de transtornos psicológicos e fatores comportamentais, o psicólogo da saúde também precisa investigar fatores relacionados à poluição do ambiente. Essa investigação é necessária porque além de fornecer um quadro mais amplo acerca dos fatores relacionados à doença, pode ajudar o profissional de saúde a traçar intervenções terapêuticas que são mais adequadas conforme o caso.

                                     

domingo, 29 de novembro de 2020

Estresse parental: Revisão sistemática de estudos empíricos

  

de Brito, A., & Faro, A. (2016). Estresse parental: Revisão sistemática de estudos empíricos. Revista Psicologia em Pesquisa10(1). https://doi.org/10.24879/201600100010048

 

Resenhado por Daiane Nunes

 

            O estresse parental é definido como um desequilíbrio adaptativo que ocorre quando os pais avaliam que seus recursos são insuficientes para lidar com as exigências e demandas de seu compromisso com o papel parental. Tal fenômeno tem sido associado a problemas de comportamento e bem-estar infantil, às práticas educativas parentais negativas e ao contexto de pais com filhos com alguma condição clínica. Considerando a importância dos estudos de revisão sistemática para obtenção de um panorama acerca de determinada temática, o presente estudo objetivou descrever as características de estudos empíricos nacionais que tiveram como foco o estresse decorrente da parentalidade e/ou da relação pais-filhos.

            A busca foi realizada utilizando os descritores “estresse parental”, “estresse e família”, “estresse e pais”, “estresse e mães” nas bases de dados PePSIC e SciELO. O levantamento reuniu 43 estudos, tendo restado 11 artigos após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão que respondiam aos objetivos da pesquisa. Os dados foram analisados considerando (1) tópicos metodológicos e (2) principais resultados. Os principais achados foram agrupados em quatro categorias, a saber: (a) diagnóstico do estresse parental; (b) estressores ligados ao estresse parental; (c) suporte social como moderador do estresse parental; e (d) comportamento dos filhos, dinâmica familiar e estresse parental.

            Viu-se que quase metade dos estudos (46,0%) foi realizada apenas com mães e mesmo aqueles com amostras de ambos os sexos eram compostos principalmente por mães. Isso implica dizer que grande parte do conhecimento que se tem atualmente sobre a temática parece estar associada ao estresse materno. Tal fato reforça que as mães permanecem exercendo o papel principal de cuidador, ainda que o panorama atual de pesquisas sobre família venha evidenciando a importância da paternidade para o desenvolvimento infantil e o funcionamento familiar.

            Na categoria Diagnóstico do estresse parental, verificou-se que os maiores índices de estresse foram visualizados em pais de filhos com alguma condição clínica e/ou desenvolvimento atípico. Viu-se, ainda, que o estresse parental se constitui em um risco tanto para os pais/mães, quanto para o desenvolvimento e bem-estar da criança, e a dinâmica familiar, facilitando o desenvolvimento da parentalidade disfuncional. Os principais Estressores ligados ao estresse parental foram as práticas educativas parentais, as características dos pais e dos filhos, fatores sociodemográficos como renda, trabalho, escolaridade e número de filhos. 

            O suporte social consiste em todo apoio emocional, prático e/ou material tais como, afeto, assistência e auxílio material, fornecido pela família, amigos ou pessoas próximas, gerando a sensação de cuidado e segurança no indivíduo, resultando em melhorias na saúde. Os achados dos estudos primários apontaram que quanto maior o suporte social e a satisfação com o suporte percebido, menor o estresse parental. Assim, a percepção do suporte social atua como moderador do estresse, pois funciona como um amortecedor dos impactos produzidos pelas demandas relacionadas ao papel parental.

            Por fim, viu-se que programas que visam diminuir problemas emocionais de pais/mães e capacitá-los para lidar com os problemas comportamentais dos filhos, podem influir positivamente na redução do estresse parental, na dinâmica familiar disfuncional e qualidade de vida parental.  



sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Técnicas cognitivo-comportamentais no tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo: uma investigação baseada em evidências

 

Oliveira, A.J., Rosa, D.G., Ferro, L.A., & Rezende, M.M. (2018). Técnicas cognitivo-comportamentais no tratamento obsessivo-compulsivo: uma investigação baseada em evidências. Revista de Psicologia da UNESP, 18 (1), 30-49.

Resenhado por: Catiele Reis

 

O transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC) é considerado umas das maiores causas de incapacitação para o trabalho e para a vida acadêmica, uma vez que, em 10% dos casos, sua sintomatologia mostra-se tão incapacitante quanto os sintomas encontrados em pacientes esquizofrênicos (Niederauer, Braga, Souza, Meyer & Cordioli, 2007; Cordioli, 2014). Ele é caracterizado por obsessões e compulsões que afeta significativamente a qualidade de vida dos indivíduos. Na esfera do tratamento, a Terapia Cognitivo comportamental (TCC) vem demonstrando resultados satisfatórios na remissão dos sintomas obsessivo-compulsivos devido à união de técnicas cognitivas e a aplicação da terapia comportamental denominada de Exposição de Prevenção de Respostas (EPR) (Rodrigues, 2014).

Este estudo objetivou identificar quais técnicas de Terapia Comportamental Cognitiva (TCC) mais utilizadas em psicoterapia para que seus resultados sirvam de base para a tomada de decisões clínicas baseadas em evidências. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de revisão de literatura integrativa buscando estudos de casos clínicos.

A psicoeducação foi a técnica mencionada em todos os casos clínicos considerados pelo estudo e ocorreu na primeira fase do tratamento. Considera-se que a psicoeducação seja uma das prerrogativas básicas da TCC que é ensinar ao paciente a pensar sobre aquilo que ele vivência e os pensamentos que advém deste processo. Ademais, outras técnicas também foram mencionadas, a exemplo, da exposição gradativa as situações, além da exposição por imaginação foram muito utilizados. Em ambos os casos, os pacientes construíam colaborativamente com o terapeuta eventos e rotinas desencadeantes ao TOC para que eles pudessem passar gradualmente por cada uma delas. Outros recursos usados foram a restruturação cognitiva e técnicas de relaxamento.

Ressalta-se como limitações deste artigo o pequeno número de estudos de casos publicados relacionado ao tema, o que foi um dificultador para a produção desta pesquisa. Observou-se, em todos os relatos de caso levantados, que a psicoeducação foi utilizada no intuito de facilitar a inserção dos exercícios de EPR, uma vez que o paciente pode mostrar-se relutante ao se deparar com os estímulos temidos.

                   

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Técnicas cognitivos

 

Petersen, C.S., Koller, S.H., Vasconcelos, D., & Teixeira, M.A.P (2008). Efeitos da terapia cognitivo comportamental em pessoas vivendo com HIV/aids. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 4 (2), 91-106. doi: 10.5935/1808-5687.20080017

Resenhado por: Catiele Reis

 

 

O objetivo deste estudo foi investigar os efeitos de terapia cognitivo-comportamental em grupo – o projeto Eurovihta, para promover qualidade de vida em pessoas vivendo com HIV/aids. Nesse sentido, a melhoria do constructo está diretamente relacionada à adesão à terapia anti-retroviral e pode influenciar na ocorrência de comportamentos positivos aos cuidados de saúde, reduzindo ou eliminando comportamentos de risco.

O Eurovihta foi um programa de intervenção que agregou técnicas cognitivas, comportamentais e da abordagem gestáltica, com o objetivo de auxiliar os pacientes a enfrentarem de um modo mais efetivo as questões relacionadas à doença. A intervenção baseada no Eurovihta Project foi composta de diferentes atividades que pretendiam facilitar a discussão de problemas que afetam as pessoas que dele participam. Participaram do estudo 89 pessoas organizadas em dois grupos: com e sem tratamento psicológico (Grupos G1 e G2). Ao final restaram apenas 30 pacientes, sendo 19 do G1 e os demais do G2.

O grupo G1 seguiu com a proposta do programa Eurovihta Project com o objetivo de auxiliar os pacientes a enfrentarem mais efetivamente a doença. Diferentes atividades buscaram facilitar a discussão de problemas que afetavam as pessoas. Essa terapia consistiu em encontros de grupo que duravam cerca de duas horas cada, e eram iniciadas por um exercício de relaxamento (20 a 30 min) e finalizadas com um tempo livre de 45 minutos em cada encontro. As variáveis qualidade de vida, depressão, estresse, apoio social, CD4 e carga viral foram mensuradas antes e depois da intervenção.

O presente estudo apontou resultados positivos quanto à possível efetividade de um modelo de terapia cognitivo-comportamental em grupo (Eurovitha) para tratar depressão em pessoas vivendo com aids. As estratégias cognitivas e comportamentais têm se mostrado eficazes para manejo de estresse, melhora do estado psicológico e para promover qualidade de vida em pessoas vivendo com HIV/aids. Os resultados mostraram redução na depressão e aumento no apoio social instrumental no grupo que participou da intervenção. As variáveis CD4 e carga viral não mostraram nenhuma relação com o tratamento psicológico preconizado neste estudo. Implicações destes resultados para serviços de atenção a pacientes com HIV/ aids são apresentadas.

                                 

 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Traços de personalidade de pessoas portadoras de hipertensão arterial crônica e doenças associadas

 

Leopaci, J. A., Santos, I. F., Honorato, N. P., & Coqueiro, D. P. (2016).  Traços de personalidade de pessoas portadoras de hipertensão arterial crônica e doenças associadas. Mudanças – Psicologia da Saúde, 24(1), 19-25. https://doi.org/10.15603/2176-1019/mud.v24n1p19-25

 

Resenhado por Kelyane Sousa

 

A hipertensão é considerada a mais frequente entre as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e o principal fator de risco para complicações cardiovasculares e doença renal crônica terminal. As principais condições clínicas associadas são a diabetes mellitus (DM), a doença renal crônica, a síndrome metabólica, obesidade, acidente vascular encefálico e doença arterial coronariana.

A doença hipertensiva demanda controle rigoroso e acompanhamento permanente para evitar complicações. Seu tratamento pode ser não medicamentoso, mas sim focado nas mudanças de hábitos de vida. Tais mudanças, que podem ser intensas, impactam na rotina, nos costumes e também nos aspectos emocionais dos indivíduos. Alguns estudos apontam a relação entre estes e a hipertensão, indicando que pacientes hipertensos são mais ansiosos, bloqueados emocionalmente, estressados e apresentam mais traços de raiva e depressão.

Esta pesquisa, realizada com 33 pessoas, com idade média de 61 anos, teve como objetivo compreender a relação entre os traços de personalidade e as características sociodemográficas e clínicas de pessoas portadoras de hipertensão e doenças associadas. Para isso, foram utilizados dois instrumentos: um questionário de caracterização, que continha informações acerca de dados sobre o tratamento e sociodemográfico, e o Inventário de Temperamento e Caráter de Cloninger, composto por itens que permitem o diagnóstico diferencial entre subtipos de personalidade, baseado na abordagem psicobiológica da personalidade.

Os resultados encontrados indicaram que os indivíduos portadores de DM associada à hipertensão foram avaliados como menos tímidos, tenderam a não antecipar os problemas e não inibir comportamentos frente à punição. Foram também mais tolerantes e empáticos. Foram pessoas menos impulsivas e pessimistas, mais sociáveis, cooperativas e tolerantes quando comparadas a indivíduos que possuiam apenas diagnóstico de hipertensão. Dessa forma, foi possível inferir que essas pessoas, por serem menos impulsivas e pessimistas, são pacientes mais propensos a terem menos medo de um novo tratamento ou de uma mudança de rotina/hábitos. Ainda, demonstraram menos ansiedade e não cessam comportamentos frente à punição (ou fracasso), aspecto este benéfico a um tratamento de doença crônica, que exige cuidados a longo prazo.

Tais dados contribuem para o fomento do estudo da relação entre traços de personalidade e adoecimento. Dessa forma, contribuem para a psicologia da saúde como ampliação de formas de conhecimento e cuidados no enfrentamento do indivíduo diante da necessidade de ajustamento ao ser acometido por uma doença crônica a exemplo da hipertensão e até mesmo a diabetes mellitus.

                                    

terça-feira, 24 de novembro de 2020

O que os terapeutas da Gestalt fazem na clínica?

 

What do Gestalt therapists do in the clinic? The expert consensus

 

Fogarty, M., Bhar, S., Theiler, S., & O’Shea, L. (2016). What do Gestalt therapists do in the clinic? The expert consensus. British Gestalt Journal, 25, 32-41

Postado por Giulia

            A Gestalt é uma abordagem terapêutica holística com ampla gama literária e diversidade teórica, o que dificultou a definição de um consenso acerca de seus conceitos característicos. Em decorrência disso, observa-se certa dificuldade da comunidade gestáltica em descrever as práticas clínicas que diferem essa abordagem das outras, o que também representa uma ameaça para o futuro dessa abordagem.                 

            Para dirimir esse problema, buscou-se delinear oito princípios-chave da Gestalt terapia, tendo como base uma ampla revisão da literatura e consultas com especialistas. O primeiro conceito-chave encontrado foi o do desenvolvimento da consciência, considerado o maior objetivo da terapia gestáltica e sendo central para todos os outros conceitos. Esse desenvolvimento é alcançado através da exploração física e emocional das experiências e criação de sentido para o mundo e as relações.

            O segundo conceito central elucidado foi o da perspectiva relacional, o qual, partindo da premissa de que a experiência humana é moldada pelo contexto, foca em trabalhar a relação entre terapeuta e paciente, as nuances do processo emocional e temas relacionais duradouros. Para tanto, o terapeuta se compromete profundamente com o paciente, sem que haja uma agenda a ser cumprida. O terceiro conceito diz respeito à ênfase na experiência imediata, sendo este um material essencial para o tratamento. Assim, os conteúdos levantados na sessão que façam referência ao passado ou futuro são guiados para explorar comportamentos e afetos do presente.

            Outro tema importante é o da prática fenomenológica, que explora as situações trazidas para a terapia pelo paciente. São investigados todos os aspectos da experiência subjetiva e é estimulada uma linguagem descritiva que capte esses elementos. Busca-se manter aproximação com a experiência do paciente e aprofundar os significados por ele atribuídos. Além disso, a atenção aos aspectos corporais e o modo como emoções podem culminar em reações somáticas também são fundamentos gestálticos. É desenvolvida a autoconsciência corporal e a compreensão de como a expressão física é reveladora a respeito do paciente.

            A Gestalt também trabalha a prática de campo, conceito que representa a análise de relações causais de tal modo que qualquer evento ou experiência é tido como produto de diversos fatores que emergiram no espaço de vida do cliente. Assim, as figuras de interesse não são consideradas como entidades isoladas do contexto. São abordados três campos importantes: o experiencial, o relacional e o sócio-histórico e cultural.

            Os últimos dois conceitos-chave elucidados no estudo foram o ciclo de contato e a atitude experimental. O primeiro trata do desenvolvimento da autoconsciência através do foco nos estilos de contato, auxiliando a compreender como se dá a formação de caráter do indivíduo, sua relação com o ambiente na busca de atender necessidades e a subsequente criação de significados, podendo, inclusive, ajudar a identificar padrões relacionais não saudáveis. Por fim, a atitude experimental é um processo que utiliza conteúdos que emergem no encontro terapêutico para testar novos comportamentos com potencial para produzir novas significações e aprofundar a autoconsciência do paciente. É importante ressaltar que esses conceitos são base para a maior parte das sessões clínicas da Gestalt e não necessariamente serão trabalhados de forma isolada, é provável que em uma única sessão sejam utilizados mais de um deles. Esses conceitos também podem beneficiar a Psicologia da Saúde, norteando suas práticas futuras.

                                          

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

A essência da Abordagem Centrada na Pessoa

 

Lux M., Motschnig-Pitrik R., Cornelius-White J. (2013) The essence of the Person-Centered Approach. In: Cornelius-White J., Motschnig-Pitrik R., Lux M. (Eds) Interdisciplinary Handbook of the Person-Centered Approach. Springer, New York. doi: 10.1007/978-1-4614-7141-7_2

Resenhado por Luanna Silva

 

A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) foi fundada por Carl Ransom Rogers, psicólogo norte-americano, cofundador da Psicologia Humanista. Contrária aos paradigmas comportamentais e psicanalíticos predominantes da época, um dos pressupostos centrais da ACP é que cada indivíduo tem em si mesmo o necessário para se entender e mudar autoconceitos, assim quando um contexto de atitudes psicológicas facilitadoras é fornecido, esses recursos internos são ativados. Para Rogers, todo ser busca tanto sua manutenção quanto seu aprimoramento. Em circunstâncias ideais, essa tendência motivacional guia o organismo para um desenvolvimento construtivo de seus potenciais inerentes. No entanto, em condições menos favoráveis, pode acontecer um distanciamento da tendência de atualização, o que resultaria no surgimento de transtornos mentais e de outras formas de desajustes.

 A saúde mental é atingida quando é garantido o melhor acesso possível aos recursos psíquicos, é a abertura de consciência para a totalidade das experiências. Isso significa aceitar o que está presente agora, sem evitar qualquer experiência, seja ela agradável ou não. A tendência de atualização orienta essa aceitação em direção à pessoa em pleno funcionamento. Esse estado é marcado pela percepção dos processos dentro e fora do organismo, como consequência se alcança a criatividade, uma vida emocional rica e confiança na utilidade da intuição na tomada de decisões.

Para que o cliente prossiga na direção do funcionamento pleno é necessário criar um clima interpessoal, caracterizado pela empatia, congruência e consideração positiva incondicional. Uma vez que a realidade subjetiva é compreendida como crucial para a forma como o indivíduo se orienta no mundo, a empatia é considerada a melhor forma de compreender uma pessoa, e implica ressoar emocionalmente com o outro, sem se perder nas vivências dele. A congruência é descrita como a capacidade de se abrir e aceitar completamente a experiência vinda da outra pessoa, integrando as suas próprias vivências para uma compreensão empática. A consideração positiva incondicional se refere a uma aceitação livre de julgamentos e demandas. Assim, o terapeuta é capaz de sentir compaixão, carinho, cordialidade ou amor pelo outro. A partir desse tipo de contato, o cliente sente segurança, o que facilita sua disposição para a auto exploração, permitindo abertura para viver experiências. Esse relacionamento entre cliente e terapeuta deve ser construído sem estruturas hierárquicas rígidas. O terapeuta não deve indicar a forma de lidar com os problemas, mas estabelecer as condições em que o cliente poderá encontrar o caminho a partir de sua autodeterminação.

Dentro do contexto da Psicologia da Saúde, as técnicas usadas na ACP podem, dentre outras coisas, ser úteis para auxiliar o paciente na adaptação ao adoecimento, tendo em vista que essa abordagem valoriza a vivência no aqui e agora e aceitação das experiências positivas e negativas. Desse modo, essa pode ser uma relevante perspectiva para o desenvolvimento de práticas na área.

                                 

domingo, 22 de novembro de 2020

Terapia cognitivo-comportamental no tratamento do transtorno bipolar

 

What do Gestalt therapists do in the clinic? The expert consensus

 

Fogarty, M., Bhar, S., Theiler, S., & O’Shea, L. (2016). What do Gestalt therapists do in the clinic? The expert consensus. British Gestalt Journal, 25, 32-41

Postado por Giulia

            A Gestalt é uma abordagem terapêutica holística com ampla gama literária e diversidade teórica, o que dificultou a definição de um consenso acerca de seus conceitos característicos. Em decorrência disso, observa-se certa dificuldade da comunidade gestáltica em descrever as práticas clínicas que diferem essa abordagem das outras, o que também representa uma ameaça para o futuro dessa abordagem.                 

            Para dirimir esse problema, buscou-se delinear oito princípios-chave da Gestalt terapia, tendo como base uma ampla revisão da literatura e consultas com especialistas. O primeiro conceito-chave encontrado foi o do desenvolvimento da consciência, considerado o maior objetivo da terapia gestáltica e sendo central para todos os outros conceitos. Esse desenvolvimento é alcançado através da exploração física e emocional das experiências e criação de sentido para o mundo e as relações.

            O segundo conceito central elucidado foi o da perspectiva relacional, o qual, partindo da premissa de que a experiência humana é moldada pelo contexto, foca em trabalhar a relação entre terapeuta e paciente, as nuances do processo emocional e temas relacionais duradouros. Para tanto, o terapeuta se compromete profundamente com o paciente, sem que haja uma agenda a ser cumprida. O terceiro conceito diz respeito à ênfase na experiência imediata, sendo este um material essencial para o tratamento. Assim, os conteúdos levantados na sessão que façam referência ao passado ou futuro são guiados para explorar comportamentos e afetos do presente.

            Outro tema importante é o da prática fenomenológica, que explora as situações trazidas para a terapia pelo paciente. São investigados todos os aspectos da experiência subjetiva e é estimulada uma linguagem descritiva que capte esses elementos. Busca-se manter aproximação com a experiência do paciente e aprofundar os significados por ele atribuídos. Além disso, a atenção aos aspectos corporais e o modo como emoções podem culminar em reações somáticas também são fundamentos gestálticos. É desenvolvida a autoconsciência corporal e a compreensão de como a expressão física é reveladora a respeito do paciente.

            A Gestalt também trabalha a prática de campo, conceito que representa a análise de relações causais de tal modo que qualquer evento ou experiência é tido como produto de diversos fatores que emergiram no espaço de vida do cliente. Assim, as figuras de interesse não são consideradas como entidades isoladas do contexto. São abordados três campos importantes: o experiencial, o relacional e o sócio-histórico e cultural.

            Os últimos dois conceitos-chave elucidados no estudo foram o ciclo de contato e a atitude experimental. O primeiro trata do desenvolvimento da autoconsciência através do foco nos estilos de contato, auxiliando a compreender como se dá a formação de caráter do indivíduo, sua relação com o ambiente na busca de atender necessidades e a subsequente criação de significados, podendo, inclusive, ajudar a identificar padrões relacionais não saudáveis. Por fim, a atitude experimental é um processo que utiliza conteúdos que emergem no encontro terapêutico para testar novos comportamentos com potencial para produzir novas significações e aprofundar a autoconsciência do paciente. É importante ressaltar que esses conceitos são base para a maior parte das sessões clínicas da Gestalt e não necessariamente serão trabalhados de forma isolada, é provável que em uma única sessão sejam utilizados mais de um deles. Esses conceitos também podem beneficiar a Psicologia da Saúde, norteando suas práticas futuras.

                                     

sábado, 21 de novembro de 2020

Terapia cognitiva-comportamental com crianças com TDAH

 

de Matos Souza, J. (2020). Intervenção da terapia cognitivo-comportamental (TCC) com crianças com TDAH. Pretextos-Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, 5(9), 400-414. Disponível em: http://200.229.32.43/index.php/pretextos/article/view/24409.

 

Resenhado por Lizandra Soares

 

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem que une aspectos cognitivos e aspectos comportamentais. A adaptação da TCC para intervenções com crianças, a exemplo de infantis com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção Hiperatividade (TDAH) necessitou de mudanças e de influências diferenciadas do ponto de vista do funcionamento cognitivo das crianças, adaptações de linguagem e utilização de materiais lúdicos, trabalhos manuais e artísticos. Ou seja, outras atividades que não exigem dedicação verbal e pudessem ser benéficas para o tratamento.

Atualmente, a TCC é uma abordagem muito utilizada no tratamento de crianças com diagnóstico de TDAH, a qual é embasada em princípios básicos apresentados por Beck, autor da teoria. O primeiro princípio é a formulação de caso em desenvolvimento contínuo e a conceitualização individual de cada paciente em termos cognitivos. É importante a criação de uma aliança terapêutica sólida. A colaboração e a participação ativa do paciente, no caso do público infantil, a participação dos pais também é essencial. A TCC é orientada para objetivos e focada em problemas. Inicialmente enfatiza o presente. Educativa e tem como objetivo ensinar o paciente a se tornar seu próprio terapeuta a fim de evitar está recaídas. Visa ser limitada no tempo. Possui sessões estruturadas. Possui como proposito ensinar o paciente a identificar, avaliar e responder aos seus pensamentos e crenças disfuncionais. Usar uma variedade de técnicas para mudar o pensamento, humor e o comportamento da criança.

O tratamento do TDAH envolve uma abordagem múltipla que muitas vezes inclui o uso de psicofármacos e intervenções psicossociais. A TCC é considerada um método capaz de contribuir significativamente para a melhoria da criança, em especial, na mudança dos seus comportamentos e transformação dos seus pensamentos. Assim, trata-se de uma técnica cuja finalidade é promover mudanças que possibilitem novas emoções e novos comportamentos, mais adaptados à realidade.

 A presente revisão narrativa da literatura resenhada objetivou revisar o conteúdo científico a respeito de intervenções utilizando a TCC na prática clínica com crianças com diagnóstico de TDAH. Foi realizada com o intuito de demonstrar, de forma exploratória e qualitativa, a eficácia de intervenções utilizando essa abordagem. Para tanto, realizou-se uma revisão através das bases de dados virtuais: biblioteca virtual em saúde (BVS), Science eletronic library on-line (SciELO) e Periódicos eletrônicos de psicologia (PePI-SCI), Tendo como período de referência publicações entre 2011 e 2018. Os resultados apontaram a eficácia da TCC para o tratamento de crianças com diagnóstico de TDAH, principalmente, no que se refere às estratégias de manejo cognitivo e comportamental com satisfatória redução de sintomas, mudanças referentes a organização, rendimento escolar e melhorias nas relações sociais e familiares.

Do ponto de vista da psicologia da saúde, o estudo da eficácia da TCC no tratamento do TDAH em crianças é importante por possibilitar o acompanhamento e desenvolvimento de habilidades, mudança de comportamento, controle emocional e desenvolvimento de habilidades para a convivência social. O diagnóstico precoce é fundamental para que medidas necessárias sejam efetivadas com objetivo de diminuir dificuldades emocionais posteriores. Além disso, o cuidado psicológico dessas crianças pode ser benéfico, pois aborda aspectos relativos à baixa autoestima, à dificuldade de funcionamento social e relacional, à instabilidade de humor, à frustração e outras dificuldades, evitando prejuízo na vida adulta.

 


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Papel de focar no lado positivo durante o surto da COVID-19: Perspectiva da saúde mental da psicologia positiva

 

Role of focusing on the positive side during COVID-19 outbreak: Mental health perspective from positive psychology

 


Yamaguchi, K., Takebayashi, Y., Miyamae, M., Komazawa, A., Yokoyama, C., & Ito, M. (2020). Role of focusing on the positive side during COVID-19 outbreak: Mental health perspective from positive psychology. Psychological Trauma: Theory, Research, Practice, and Policy, 12(S1), S49-S50. doi: 10.1037/tra0000807

 

Resenhado por Geovanna Turri

 

 

A disseminação do coronavírus espalhou sensação de medo e desesperança nas pessoas, deixando a sensação de que parece não haver um lugar seguro em qualquer parte do mundo. As crises de saúde mental ocorreram em todo o mundo, afetando os indivíduos de várias maneiras, aumentando os níveis de estresse, ansiedade, medo, desamparo e depressão. Embora o número de infecções por COVID-19 e as taxas de mortalidade tenham se estabilizado em diversos países, ainda há vários lugares à espera de uma propagação explosiva da infecção e, devido a isso, houve um aumento de interesse pela atenção à saúde mental.

Anteriormente, sabia-se que emoções positivas, como felicidade, alegria e gratidão, poderiam ajudar a manter e melhorar a saúde mental. No entanto, dado que as emoções positivas são frequentemente vivenciadas nas relações interpessoais, a pandemia da COVID-19, ao exigir o distanciamento social entre as pessoas, inibiu o desenvolvimento de emoções positivas e contribuiu para uma crise na saúde mental da população.

Na situação atual, várias iniciativas foram implementadas em todo o mundo para manter conexões divertidas e emocionais por meio da interação social, mantendo o distanciamento físico. Esses esforços, reunidos para facilitar a conexão emocional, representam um ponto positivo durante a pandemia da COVID-19.

Com base nas descobertas das pesquisas em psicologia, as emoções positivas se mostraram importantes para o processo de recuperação psicológica de indivíduos que passaram por estresse intenso ou desenvolveram transtornos mentais, como a depressão. Embora seja normal sentir-se ansioso e exausto durante a crise em curso, focar nas emoções positivas que podem ser sentidas em meio a ela pode servir como o primeiro passo para se sentir mais tranquilo. Além disso, a crise psicológica que é enfrentada atualmente pode ser um ponto de inflexão para refletir acerca do que é realmente importante para cada pessoa e também para descobrir novos aspectos sobre si mesmo. Por exemplo, reconhecer os recursos sociais, físicos e psicológicos ao redor e buscar seus pontos fortes pode ajudar a construir resiliência pessoal.

Yamaguchi et al., (2020) ressaltam que a pandemia da COVID-19 prenuncia ser mais prolongada do que esperado inicialmente, sendo importante conceber um modo de vida que permita acompanhar os sentimentos positivos, como alegria, calma e felicidade, mesmo em situação de crise, o que pode auxiliar na manutenção da saúde mental a longo prazo. Em suma, a psicologia positiva tem desempenhado um papel de extrema importância no combate à COVID-19, pois atua com foco na promoção de saúde mental, seja na pandemia da COVID-19 ou fora deste contexto.

                            

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Hardiness: Definição e Relação com a Psicologia da Saúde

 

Maddi, S. R., & Khoshaba, D. M. (1994). Hardiness and mental health. Journal of personality Assessment63(2), 265-274. https://doi.org/10.1207/s15327752jpa6302_6

Kowalski, C. M., & Schermer, J. A. (2019). Hardiness, perseverative cognition, anxiety, and health-related outcomes: A case for and against psychological hardiness. Psychological Reports122(6), 2096-2118. https://doi.org/10.1177/0033294118800444   

 

Resenhado por Daiane Nunes

 

            O construto hardiness foi introduzido no campo da Psicologia a partir da década de 1970 com intuito de responder ao seguinte questionamento: há alguma característica individual ou traço de personalidade específico que explica a diferença na maneira como lidamos com o estresse e o enfrentamos? O conceito de hardiness busca explicar por que alguns indivíduos respondem com maior resistência a eventos estressores, comparativamente a outros indivíduos que apresentam desfechos negativos em saúde em situações semelhantes. Nesse sentido, o hardiness atua como mediador da relação entre estresse e adoecimento através de três elementos: o comprometimento, o controle e o desafio.

            O comprometimento é expresso pela capacidade de se envolver com o que se faz ou com o que lhe é relevante, incluindo eventos, pessoas, trabalho, entre outros aspectos da vida. Tal característica reduz a ameaça percebida de situações estressantes, proporcionando um senso de propósito, com a crença de que eles podem recorrer aos outros quando precisam e com o conhecimento de que há uma série de elementos que depende deles. O controle diz respeito à habilidade do indivíduo de agir sobre o gerenciamento dos eventos que afetam a sua vida. A percepção de controle atua como moderadora na reação ao estresse, ou seja, amplia a percepção de que os eventos experimentados são resultado natural de uma série de circunstâncias incluindo as suas ações, não como situações inesperadas. A percepção de controle conduz a ações que transformam os eventos em algo consistente, algo sobre o qual o individuo pode agir para modificar ou manter certo desfecho, desenvolvendo possibilidades de respostas ao estresse. Por sua vez, a noção de desafio é entendida a partir da crença de que a instabilidade é algo normal na vida e que as mudanças podem ser interessantes ao crescimento pessoal. Assim, o desafio atua como um atenuante aos estressores com a percepção de que tais eventos requerem um ajustamento, sendo entendidos como uma oportunidade e não como uma ameaça.

            Evidências na literatura apontam que pessoas com níveis mais elevados de hardiness apresentam menores níveis de adoecimento mental. Tal característica desempenha um papel protetivo no enfrentamento a estressores, atuando como um amortecedor dos efeitos negativos dos eventos adversos. Verificou-se que em ambientes altamente estressantes, os indivíduos com maior hardiness apresentaram menores níveis de adoecimento devido aos seus sentimentos de compromisso, controle e desafio em relação ao evento estressor. Além disso, considerando as dimensões do hardiness, esses indivíduos empreendem estratégias de enfrentamento mais bem-sucedidas, influenciando os desfechos em saúde.

            Por fim, cumpre destacar que ter uma personalidade resistente ao estresse não significa que a pessoa jamais sofra com os seus efeitos deletérios, apenas que sua capacidade de lidar com adversidades é maior. Ressalta-se, ainda, que níveis de hardiness são desenvolvidos a partir de interações com o ambiente, portanto, são modificáveis e podem ser ajustadas para aperfeiçoar a habilidade de enfrentamento a situações que sobrepõem à capacidade adaptativa do indivíduo.

                                    

 

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Crenças em saúde acerca do exame do toque retal

 

Turri, G. S. D. S., & Faro, A. (2018). Crenças em saúde acerca do exame do toque retal. Arquivos Brasileiros de   Psicologia70(2), 49-64.

Resenhado por Franciely Santos

 

Os homens têm uma expectativa de vida menor que as mulheres, segundo dados do Ministério da Saúde, e como principal motivo tem-se a busca tardia por atendimento médico. Desse modo, visando melhorias na saúde desse público, com a aplicação de políticas específicas, foi criada a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH). O câncer de próstata é uma das principais causas de morte entre homens, e como uma das medidas preventivas eficazes tem o Exame de Toque Retal (ETR). No entanto, possui baixa procura por se tratar de um exame com contato na região anal do homem, por isso há uma série de preconceitos. A questão da masculinidade influencia a não adesão por colocar o homem como forte e, por isso, não adoece. Assim, é importante entender quais as crenças que levam os homens a adotarem ou não comportamentos de saúde.

O estudo foi composto por uma amostra de 174 homens, com idade entre 45 e 68 anos. A mostra foi dividida em dois grupos: G1, composto por homens que já realizaram o ETR; e G2, composto por homens que nunca fizeram o ETR. A coleta foi feita em seis bairros do município de Aracaju, e foi utilizado um questionário com questões sociodemográficas e clínicas, além da técnica de evocação livre a partir do termo indutor “exame do toque retal”. Para análise dos dados, usou-se os programa SPSS e o OpenEvoc.

Os resultados encontrados nos dois grupo foi comparados e discutidos. As crenças que se mostraram mais comuns estão associadas aos termos “constrangimento”, “invasivo” e “horrível”, dentre o G1, ressaltando os fatores negativos que são associados ao exame. Já para o G2, palavras como “necessário” e “prevenção” tiveram destaque, o que leva a concluir que para esse grupo o exame possui aspectos positivos que se sobressaem. Os dois grupos evocaram a palavra “preconceito” que reforça dados encontrados na literatura, nos quais o preconceito em relação ao ETR está fortemente embasado no modelo de masculinidade.

O grupo composto por homens que já realizaram o ETR apresentou mais crenças negativas, que pode estar relacionado a uma experiência desconfortante e reforçadora desse pensamento, além da falta de qualidade no atendimento e acolhimento desse público. Apesar disso, o grupo entende a importância da realização do exame como medida de prevenção do câncer e para o diagnóstico precoce, mostrando que a gravidade e suscetibilidade percebida em relação a doença relacionam-se aos benefícios que o ETR traz. Também foi visto que o grupo 2, é composto por homens mais jovens, e apesar das características positivas mencionadas, não se veem como suscetíveis ao adoecimento, por isso adiam a realização do exame. Vale ressaltar os motivos para realizar o ETR e outros exames como a idade avançada, prevenção, o medo da doença, pressão familiar e indicação médica.

Com isso, é visível que o público masculino possui crenças negativas a respeito do ETR, que leva a baixa adesão do exame como medida protetiva. Assim, a Psicologia da Saúde, deve intensificar os estudos das crenças que influenciam os comportamentos desses indivíduos, bem como os fatores psicossociais, podendo, dessa forma, direcionar intervenções e políticas públicas mais eficientes.

                       

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Reflexões sobre a prática clínica em Gestalt-terapia: Possibilidades de acesso à experiência do cliente

 

Almeida, J. M. T. (2010). Reflexões sobre a prática clínica em Gestalt-terapia: Possibilidades de acesso à experiência do cliente. Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies16(2), 217-221. Recuperado em 16 de novembro de 2020 de https://www.redalyc.org/pdf/3577/357735614012.pdf

Resenhado por Maísa Carvalho

A Gestalt-terapia, fundada por Fritz e Laura Perls em 1940, é uma abordagem psicoterapêutica que bebeu das fontes da fenomenologia, do existencialismo dialógico e da Teoria do campo de Kurt Lewin. Amplamente conhecida por focalizar os processos psicológicos no “aqui e agora” e analisar o ser humano de forma holística, assim como em outras experiências iniciais com outras abordagens, o gestalt-terapeuta iniciante também possui dificuldades sobre como abordar as queixas e problemáticas do cliente sob a luz da abordagem. Pensando nisso, o artigo objetivou discorrer sobre possíveis caminhos que podem guiar o recém-terapeuta no tratamento.

Inicialmente, o cliente chega à terapia apresentando queixas e sintomas, bem como uma falência nas tentativas de resolução desses problemas. É esperado que o cliente tente, e até deseje buscar respostas ou justificativas para tal, entretanto, o papel do gestalt-terapeuta, ancorado na teoria do campo, é acolher e analisar o fenômeno holisticamente, assim como explicitar para o cliente que o psiquismo é explicado pela multiplicidade de eventos. Para a gestalt, buscar os “porquês” pode ser tentador, mas não auxilia no processo de cura e nem alivia o sofrimento.

Outro enfoque importante é a compreensão da experiência e a relação entre cliente e terapeuta. Um dos maiores objetivos da terapia é a investigação e a compreensão da experiência do cliente, percebendo como esse o sente corporalmente e como experiencia os eventos da vida. Nesse ponto, o acolhimento proporcionado pelo psicoterapeuta é essencial e também diferencial, visto que, de forma geral, o papel do psicoterapeuta gestáltico é proporcionar um acolhimento dialógico e fenomenológico ao cliente, evitando os vieses que podem interferir nesse processo, contudo sem esquecer do seu papel na relação.

Em relação à linguagem, para a Gestalt essa é a expressão máxima da capacidade humana de simbolização da experiência. Quando é simbolizada, gera sentido e é integrada ao que já foi vivido pelo cliente. As palavras e pensamentos, tidos como uma fala interiorizada, são significados pela experiência, originando crenças e norteando comportamentos. Assim, a gestalt-terapia enfatiza o acolhimento e encoraja o pensamento que dá suporte à experiência.

Por fim, a pessoa, vista como casa, é o elemento mais importante para a Gestalt. De forma resumida, o percurso terapêutico desta abordagem visa integrar todos os elementos importantes relacionados ao sujeito, não o vendo como um ser fragmentado, e sim percebendo-o como ser unificado e completo. Em sua prática profissional, o psicólogo da saúde pode acolher e realizar intervenções nos pacientes com base na Gestalt-terapia, adaptando-a aos seus contextos de atuação.

Almeida, J. M. T. (2010). Reflexões sobre a prática clínica em Gestalt-terapia: Possibilidades de acesso à experiência do cliente. Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies16(2), 217-221. Recuperado em 16 de novembro de 2020 de https://www.redalyc.org/pdf/3577/357735614012.pdf

Resenhado por Maísa Carvalho

A Gestalt-terapia, fundada por Fritz e Laura Perls em 1940, é uma abordagem psicoterapêutica que bebeu das fontes da fenomenologia, do existencialismo dialógico e da Teoria do campo de Kurt Lewin. Amplamente conhecida por focalizar os processos psicológicos no “aqui e agora” e analisar o ser humano de forma holística, assim como em outras experiências iniciais com outras abordagens, o gestalt-terapeuta iniciante também possui dificuldades sobre como abordar as queixas e problemáticas do cliente sob a luz da abordagem. Pensando nisso, o artigo objetivou discorrer sobre possíveis caminhos que podem guiar o recém-terapeuta no tratamento.

Inicialmente, o cliente chega à terapia apresentando queixas e sintomas, bem como uma falência nas tentativas de resolução desses problemas. É esperado que o cliente tente, e até deseje buscar respostas ou justificativas para tal, entretanto, o papel do gestalt-terapeuta, ancorado na teoria do campo, é acolher e analisar o fenômeno holisticamente, assim como explicitar para o cliente que o psiquismo é explicado pela multiplicidade de eventos. Para a gestalt, buscar os “porquês” pode ser tentador, mas não auxilia no processo de cura e nem alivia o sofrimento.

Outro enfoque importante é a compreensão da experiência e a relação entre cliente e terapeuta. Um dos maiores objetivos da terapia é a investigação e a compreensão da experiência do cliente, percebendo como esse o sente corporalmente e como experiencia os eventos da vida. Nesse ponto, o acolhimento proporcionado pelo psicoterapeuta é essencial e também diferencial, visto que, de forma geral, o papel do psicoterapeuta gestáltico é proporcionar um acolhimento dialógico e fenomenológico ao cliente, evitando os vieses que podem interferir nesse processo, contudo sem esquecer do seu papel na relação.

Em relação à linguagem, para a Gestalt essa é a expressão máxima da capacidade humana de simbolização da experiência. Quando é simbolizada, gera sentido e é integrada ao que já foi vivido pelo cliente. As palavras e pensamentos, tidos como uma fala interiorizada, são significados pela experiência, originando crenças e norteando comportamentos. Assim, a gestalt-terapia enfatiza o acolhimento e encoraja o pensamento que dá suporte à experiência.

Por fim, a pessoa, vista como casa, é o elemento mais importante para a Gestalt. De forma resumida, o percurso terapêutico desta abordagem visa integrar todos os elementos importantes relacionados ao sujeito, não o vendo como um ser fragmentado, e sim percebendo-o como ser unificado e completo. Em sua prática profissional, o psicólogo da saúde pode acolher e realizar intervenções nos pacientes com base na Gestalt-terapia, adaptando-a aos seus contextos de atuação.

 

 

domingo, 15 de novembro de 2020

Burnout em professores

 

Postado por Luana C. Silva-Santos

 

As demandas e pressões presentes no dia a dia afetam pessoas de todas as profissões, uma dessas profissões é a docência, sobre a qual se sabe que atualmente o contexto de ensino pode ser caracterizado por condições cada vez mais negativas, como a insatisfação e o absenteísmo por exemplo, que culminam na prevalência crescente do estresse. A síndrome de burnout refere-se a um evento psicossocial que surge como resposta a estressores crônicos no trabalho e a palavra deriva das expressões inglesas burn (queima) e out (exterior) que denotam desarmonia entre o indivíduo e seu ambiente devido à exaustão de energia, esgotamento físico, psíquico e emocional, como pode ser visto na tirinha abaixo. Entender tal fenômeno da perspectiva da psicologia da saúde permite a construção de estratégias de prevenção eficazes, importantes subsídios para diminuição da prevalência da síndrome.


Fonte: https://chrispearce.wordpress.com/tag/teacher-burnout-comics/

Quadrinho 1: Burnout em professores é um fenômeno atribuído a uma variedade de fatores pertencentes a essa profissão tão exigente.

Quadrinho 2: Interrupções, apostas altas, falta de suporte parental, remuneração, prazos, responsabilidade por notas, tarefas não remuneradas, falta de suporte administrativo.

domingo, 8 de novembro de 2020

Barreiras socioculturais relacionadas ao exame preventivo do câncer de próstata

     Postado por Giulia

 

            O Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata é comemorado no dia 17 de novembro. Nesse mesmo mês também ocorre a campanha “Novembro Azul”, que objetiva estimular uma mudança de paradigma nos cuidados de saúde da população masculina. Um dos principais focos da campanha é sensibilizar a população masculina acerca do câncer de próstata e a importância de um diagnóstico precoce para o seu tratamento, possibilitando que as chances de cura sejam em torno de 90%.                              Sabe-se que o exame do toque retal (ETR) é imprescindível para investigação de tumores referentes ao câncer de próstata, sendo fundamental para formular o diagnóstico da doença. Esse exame permite a detecção de nódulos ou tecidos endurecidos na região prostática, e além de ser o mais eficaz, também é realizado de forma rápida, podendo levar menos de 10 segundos. Entretanto, o imaginário masculino acerca dessa prática de saúde é repleto de crenças estereotipadas e temores que podem constituir obstáculos na aderência ao serviço.

             Em um estudo acerca das crenças de homens sobre o ETR, Turri e Faro (2018) encontraram que o termo mais frequentemente citado pelos participantes foi “constrangedor”, demonstrando que a vergonha associada aos procedimentos do exame é a principal barreira para sua realização, mesmo entre os que reconhecem a gravidade de não realizá-lo. O medo da descoberta da doença ou do exame em si também foram constatados como barreiras para a realização do ETR, o qual foi visto, ainda, como “invasivo” e “horrível”. Além disso, o preconceito foi identificado como um elemento caracterizador do exame no imaginário dos homens, atuando como uma barreira social que reflete nos cuidados de saúde e, consequentemente, na adesão ao ETR.

            No estudo conduzido por Olivieri (2016) acerca do mesmo tema, os estereótipos culturais de masculinidade são citados como principais obstáculos, visto que a fraqueza e fragilidade vinculados à noção de doença são geralmente atribuídos às mulheres, o que leva os homens a negligenciar suas necessidades de cuidado em saúde. Outra barreira relatada nesse estudo foi a percepção do ETR como um procedimento que viola a heterossexualidade masculina devido ao manuseio de suas partes íntimas.

            Conclui-se, por fim, que apesar dos esforços da campanha do “Novembro Azul” para promover mudanças nos comportamentos preventivos dos homens, esse grupo ainda é permeado por uma série de estereótipos e temores que os levam, muitas vezes, a menosprezar suas práticas de saúde. Portanto, é necessário desmistificar as concepções masculinas acerca do autocuidado e do processo de adoecimento.

Fontes:

Turri, G. S. S. de, & Faro, A. (2018). Crenças em saúde acerca do exame do toque retal. Arquivos Brasileiros de Psicologia70(2), 49-64. Recuperado em 04 de novembro de 2020, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672018000200005&lng=pt&tlng=pt.

Olivieri, M. (2016). Representações sociais de homens sobre o exame preventivo do câncer de próstata. (Dissertação de mestrado). Pontíficia Universidade Católica de São Paulo, Sorocaba. Recuperado de https://tede2.pucsp.br/handle/handle/18887