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sábado, 27 de fevereiro de 2021

Você realmente sabe o que é conduta autolesiva e quais as suas funções?

1) Conduta autolesiva é um ato direto e deliberado de autolesão e é mantido pelo alívio momentâneo e imediato que pode trazer, sendo utilizado como forma de regulação emocional.

2) Esse tipo de comportamento pode ser suicida, quando há intenção de pôr fim à própria vida e subdivide-se em ideação, plano e tentativa. 

3) Já os comportamentos autolesivos não suicidas são aqueles em que há engajamento deliberado em autolesão sem intenção de tirar a própria vida e classificam-se em ameaça ou gesto suicida, pensamentos autolesivos e conduta autolesiva.

4) Nos comportamentos indiretamente autolesivos não existe intencão de causar dano a si, são realizados porque causam prazer ou diversão, sendo o dano um efeito indireto e na maior parte das vezes involuntário (por exemplo: beber de forma excessiva em festas).

5) A conduta autolesiva pode se agravar quando passa a não proporcionar mais alívio e diminuir emoções negativas, pois o indivíduo tende a procurar outras formas de se machucar que tragam esse resultado.

Por: Giulia

Referência: Silva-Santos, L. C., & Faro, A. (2019). Condutas autolesivas e suicídio: o que há em comum, além da dor? In V. A. Angerami (Org.), Suicídio e suas interfaces: o ardiloso emaranhado da autodestruição (pp. 83-104). Minas Gerais: Artesã.





sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Criando crianças com autoestima elevada

 

Brummelman, E., & Sedikides, C. (2020). Raising children with high self‐esteem (but not narcissism). Child Development Perspectives14(2), 83-89.  https://doi.org/10.1111/cdep.12362

 

 

Resenhado por Luiz Guilherme L. Silva.

            O desenvolvimento de crianças é um tema importante para pais e cuidadores. Em relação ao aspecto psicológico, a autoestima é um construto relevante a ser estudado, uma vez que indivíduos com altos níveis tendem a ter menos transtornos mentais e menor nível de sofrimento psíquico. A autoestima se refere à avaliação geral que a pessoa tem de si. Muitas vezes os cuidadores não sabem como desenvolver a autoestima de crianças e acabam por influenciar o aparecimento de características como superioridade, pensamento distorcido da realidade e um senso frágil sobre si, o que caracteriza o traço narcisista. O estudo sumarizou algumas atitudes de cuidadores que podem ser benéficas no desenvolvimento da autoestima de crianças a partir de três pilares: o realismo, o crescimento e a robustez.

            O realismo se refere a cognições realistas quanto a si e seus comportamentos, visto que os cuidadores não incentivam a ter metas ou crenças que não condizem com a realidade do indivíduo, como “meu pai diz que sou a menina mais inteligente que já existiu”. Esse exemplo mostra uma crença de uma criança que é irreal. Crianças com autoestima saudável tenderão a apresentar visões congruentes com a realidade e um  exemplo disso é a frase “meu pai diz que sou uma menina muito inteligente”.

            O crescimento diz respeito ao interesse e curiosidade que uma criança tem em se aprimorar com o tempo. Um indivíduo com autoestima elevada pode até se comparar aos outros, mas tende a refletir sobre como melhorou determinado aspecto durante um período. A frase “eu andava de bicicleta com rodinha e hoje não ando mais” pode exemplificar a reflexão de uma criança em relação ao comportamento andar de bicicleta. Elas tendem a ser curiosas e demonstrar interesse em atividades desafiadoras. Em contrapartida, indivíduos que se acham superiores e diminuem outros, como “mamãe diz que pedalo melhor do que você, porque sou melhor em tudo”, podem demonstrar comportamentos de superioridade em relação às demais.

            A robustez se refere aos sentimentos que uma criança tem de si diante do fracasso. Ela sabe que tem suas qualidades e falhas, ao passo que isso lhe dá um senso de estabilidade em relação a si. Por outro lado, crianças com sentimentos instáveis sobre si podem demonstrar arrogância e vergonha frente a erros. Neste caso, são mais propensas a desenvolverem sintomas de ansiedade e depressão durante a infância.

            O desenvolvimento psicológico sadio de crianças é um tema relevante para a Psicologia da Saúde, uma vez que eventos ocorridos na infância podem desencadear outros no decorrer do curso de vida do indivíduo, fenômeno conhecido por cascata desenvolvimental. Vale ressaltar que no contexto da pandemia do novo coronavírus, a autoestima dos indivíduos pode rebaixar devido ao isolamento social e outros fatores. O foco de estudos referentes à autoestima na infância é importante, visto que esse construto é considerado um fator preditivo para transtornos mentais, como a depressão e a ansiedade, assim como para o engajamento em atividades sociais e lúdicas com outras crianças. Desse modo, recomenda-se o estudo da autoestima nessa população considerando o contexto da atual pandemia da COVID-19 e o isolamento social.



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Comportamento suicida e problemas com regulação emocional

 

Suicidal behavior and problems with emotion regulation

 

Neacsiu, A. D., Fang, C. M., Rodriguez, M., & Rosenthal, M. Z. (2017). Suicidal behavior and problems with emotion regulation. Suicide and Life-Threatening Behavior, 48(1), 52-74. doi:10.1111/sltb.12335 

 

Postado por Giulia

            Desregulação emocional é o uso precário e problemático de estratégias de regulação emocional que rompem com o processo normativo de regulação dos afetos, sendo mantido pelo uso insuficiente de estratégias regulatórias eficientes e uso excessivo de estratégias maladaptativas. Tal adoção de estratégias inapropriadas está conectada com o desenvolvimento, curso e severidade de transtornos mentais. O comportamento suicida, incluindo ideação, comportamento autolesivo e tentativa de suicídio, é classificado como uma dessas estratégias utilizadas de forma inadequada como recurso para diminuir afetos negativos intensos e duradouros, como vergonha, desamparo, raiva e culpa.

            Os autores conduziram dois estudos separadamente a fim de investigar se as dificuldades de regulação emocional poderiam predizer ideação suicida e se adultos deprimidos e com um histórico de tentativas de suicídio exibiriam maior dificuldade de regulação emocional quando comparados com adultos saudáveis e adultos com depressão, mas sem histórico de tentativas. Os achados dos estudos são descritos a seguir.

            No primeiro estudo, foi encontrado que possuir dificuldades de regulação emocional atuava como um preditor para ideação suicida, assim como estado civil dos participantes. Além disso, problemas de claridade emocional também estavam relacionados com o desfecho de ideação suicida.

            No segundo estudo, os resultados apontaram a prevalência de afetos negativos e de todos os mecanismos de regulação emocional problemáticos em pessoas que já haviam tentado pôr fim à vida em comparação aos participantes saudáveis (sem depressão) que não tinham esse histórico. Os participantes que tinham depressão mas nunca haviam tentado suicídio reportaram significativamente menos dificuldades em entender suas emoções (claridade emocional) e em controlar a impulsividade quando confrontados com emoções negativas do que os participantes com histórico de tentativa. Também foi encontrado que os participantes com precedente de tentativa de suicídio tiveram mais dificuldade para retornar à frequência cardíaca inicial após serem expostos a um estressor e, consequentemente, tiveram maior reatividade emocional a um segundo estressor.

            As descobertas desses estudos são de grande importância para o trabalho psicoterapêutico e apontam para a regulação emocional como um construto valioso que poderá nortear estudos e intervenções da Psicologia da Saúde no sentido de diminuir a probabilidade de desfechos graves como o suicídio.



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Crenças irracionais, gravidade da condição cirúrgica e idade como preditores de ansiedade pré-operatória, depressão e distresse psicológico

Colcear, D., Ciuce, C., Georgescu-Ilea, D., Zanfir, A., & Drasovean, R. (2017). Irrational beliefs, surgical condition severity and age as predictors of preoperative anxiety, depression and psychilogical distress. Public Health and Management, 22(3), 6–10. Recuperado de http://www.amtsibiu.ro/Arhiva/2017/Nr3-en/Colcear.pdf

Resenhado por Luanna Silva 

Submeter-se a uma cirurgia pode ser uma fonte de sofrimento psicológico, com consequências negativas para a saúde mental e recuperação pós-operatória. Comumente, pacientes em condições cirúrgicas podem experimentar ansiedade intensa. Durante a espera pela cirurgia o paciente pode sofrer com a separação dos amigos e familiares, a sensação de perda de controle e dependência de estranhos, assim como a permanência em um ambiente desconhecido. Casos mais severos de ansiedade podem ser marcados pela ocorrência de ataques de pânico, com respostas fisiológicas adversas, a exemplo de taquicardia, hipertensão, arritmias e hiperventilação. Presença de sintomas depressivos também são frequentes nessa população, havendo na literatura registros de que cerca de 60% dos pacientes pré-cirúrgicos sofrem com esse quadro, estando sua manifestação associada a dor crônica e delírio no pós-operatório, baixa imunidade e um risco aumentado de infecções.

Estudos demonstram que a autoeficácia e crenças irracionais desempenham um papel importante na ocorrência e persistência dos sintomas de ansiedade e depressão em pacientes cirúrgicos. Autoeficácia pode ser definida como a percepção da capacidade para lidar com sucesso com uma situação. Altos níveis de autoeficácia são associados a realizações pessoais, redução dos índices de estresse e diminuição da vulnerabilidade à depressão. Em contrapartida, pessoas com baixa percepção de autoeficácia tendem a ser mais vulneráveis ao distresse psicológico e à depressão. Crenças irracionais, por sua vez, são caracterizadas pela ausência de evidências de suporte, lógica e funcionalidade, resultando em comportamentos disfuncionais e emoções negativas. São identificadas quatro categorias de crenças irracionais: exigência, catastrofização, intolerância à frustração e autocrítica. Dados de pesquisas indicam que essas quatro classes de crenças estão associadas a vários tipos de desfechos psicológicos negativos, como ansiedade, depressão, raiva e culpa.

O propósito deste estudo foi investigar em que medida crenças irracionais, autoeficácia percebida, idade do paciente e gravidade da condição cirúrgica são preditores de ansiedade, depressão e distresse pré-operatórios. Participaram 40 indivíduos, com idade acima de 18 anos, que sofriam de uma condição médica que exigia cirurgia. Os instrumentos aplicados foram o Emotional Distress Profile, Hospital Anxiety and Depression Scale, Attitude and Belief Scale, Perceived Self-efficacy Scale e Surgical Condition Severity. Os resultados mostraram que a idade foi o preditor mais importante para todas as variáveis avaliadas, explicando 13,6% da variância da ansiedade pré-operatória, 17,4% da variância da depressão pré-operatória e 14,2% da variância do distresse emocional. O segundo preditor mais significativo foram as crenças irracionais, que explicaram 11% da variância da ansiedade pré-operatória e 11,1% da variância da depressão pré-operatória, bem como 7,4% da variância do distresse emocional. A gravidade da condição cirúrgica provou ser um preditor significativo apenas para distresse emocional, explicando a maioria de sua variância (22,3%). A autoeficácia não demonstrou contribuição significativa para nenhuma das variáveis de desfecho mensuradas, o que indica que seu nível de importância no pré-operatório é baixo. Conclui-se que é importante que profissionais da saúde estejam cientes das vulnerabilidades dos pacientes cirúrgicos. A psicologia da saúde tem papel relevante no cumprimento desse objetivo, contribuindo para investigação de fatores que podem ter impacto adverso na saúde mental dessa população.



terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

A autoestima e o comportamento suicida em estudantes universitários: uma revisão da literatura

Silva, D. A. (2019). A autoestima e o comportamento suicida em estudantes universitários: uma revisão da literatura. Revista Eletrônica Acervo Saúde, (23), e422. doi:10.25248/reas.e422.2019


Resenhado por Millena Bahiano

 

A autoestima pode ser compreendida como um sentimento que decorre da aprovação ou desaprovação de si mesmo, sendo também caracterizada pela autoavaliação. Atualmente, a autoestima, tem sido considerada como um relevante indicador de saúde mental e se relaciona, intensamente, com o processo de tomada de decisões e enfrentamento de adversidades.

Ao ingressar na universidade os estudantes precisam lidar com a fadiga decorrente do elevado número de atividade e de avalições, com a insegurança do futuro profissional e com autocobrança. Além disso, por vezes, vivenciam a separação do núcleo familiar e pressão por resultados, tendo em vista os investimentos realizados. Tais variáveis podem gerar sentimentos de angústia, tristeza e vir a comprometer a saúde mental dos acadêmicos tornando-os mais suscetíveis ao desenvolvimento de problemas relacionados a autoestima e ao risco de apresentar comportamento suicida.

Tratou-se de uma revisão narrativa da literatura cujo objetivo foi compreender as relações entre a autoestima e o comportamento suicida em estudantes universitários. A pesquisa foi realizada de forma não sistemática, a partir da leitura na íntegra e análise crítica dos artigos encontrados em bases de dados científicas gratuitas e disponíveis. Os resultados, evidenciaram o papel protetivo da autoestima mediante situações de estresse em universitários, uma vez que, a autoestima elevada combateu o estresse a baixa autoestima amplificou as adversidades atreladas ao contexto acadêmico.

Os autores também pontuaram que a autoestima tem o potencial de interferir, positivamente ou negativamente, na vida dos estudantes e encontra-se associada ao sucesso ou fracasso no desempenho acadêmico. Ademais, com a autoestima diminuída, sentimentos negativos e autodestrutivos podem se instalar e ocasionar problemas decorrentes do uso abusivo de medicamentos e substâncias psicoativas, além de favorecer a presença de comportamento suicida nos estudantes.

De acordo com os dados observados, a autoestima pode ser desenvolvida a partir de vivências do cotidiano e as relações interpessoais tem papel importante nisso, uma vez que, ao favorecer a construção da autoestima propicia a formação da identidade do sujeito. Desse modo, cabe à Psicologia da Saúde, elaborar ações, debates e intervenções que visem a recuperação da saúde mental do estudante no ambiente acadêmico. A fim de que a universidade seja um espaço de crescimento, aprendizado e bem-estar psicológico, não limitando-se apenas a formação profissional baseada em aprovação curricular.

 


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Dor, incapacidade e catastrofização em indivíduos com osteoartrite de joelho

 

Silva, N., Cardoso, S., Andrade, E., Battistela, R & Alfieri, F. (2020). Dor, incapacidade e catastrofização em indivíduos com osteoartrite de joelho. Jornal da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor, 3, 1–6. doi: 10.5935/2595-0118.20201193.

Resenhado por Catiele Reis

 

A osteoartrite (AO) do joelho está entre as principais causas de incapacidade crônica e pode ter como consequência a depressão, ansiedade e catastrofização, sintoma no qual há a intensificação da percepção da dor, prejudicando a adesão ao tratamento e piorando drasticamente a qualidade de vida das pessoas. O objetivo deste estudo foi investigar a influência da catastrofização da dor nas atitudes e na percepção da dor e a funcionalidade de indivíduos com osteoartrite do joelho.

Participaram 18 indivíduos, os quais foram avaliados quanto ao peso e à estatura, e responderam a Escala de Pensamentos Catastróficos sobre a Dor (EPCD), o Inventário de Atitudes frente à Dor (IAD), a Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index (WOMAC) e escala analógica visual (EAV). Os sintomas e a incapacidade foram avaliados pelo Índice de Lequesne, a mobilidade funcional foi avaliada pelo teste Timed Up and Go (TUG). Os limiares de tolerância à dor à pressão (LTDP) foram avaliados por um algômetro digital.

Os resultados apontaram que a média do índice de massa corporal da amostra foi classificado como obesa (32,2±4,3). Quando divididas pela mediana do EPCD, foram observadas diferenças na maioria dos domínios das atitudes frente à dor. Notou-se que os pacientes com maiores pontuações na escala de pensamentos catastróficos demoraram mais para realizar o TUG e apresentaram mais dor, rigidez articular e pior funcionalidade (WOMAC). Ainda que pacientes acima do escore mediano do EPCD tenham apresentado tendencia de relatar mais dor (EAV), não foram observadas diferenças entre os grupos com maior ou menor catastrofização em relação aos LTDP. Foram observadas associações positivas e significantes entre o fator ruminação da EPCD e o WOMAC, bem como entre o fator Desesperança e TUG, Lequesne e WOMAC.

            Por fim, conclui-se que quanto mais alta a presença de pensamentos catastróficos em pacientes com OA de joelho, piores são suas atitudes em relação à dor e sua funcionalidade física.



domingo, 21 de fevereiro de 2021

Autoeficácia: Aspectos conceituais e implicações no campo da saúde

Nunes, D., & Faro, A. (2019). Autoeficácia: Aspectos conceituais e implicações no campo da saúde. Em A. Faro, M. E. O. Lima, S. R. F. Enumo & C. R. Pereira (Eds.), Psicologia social e psicologia da saúde (pp. 157-177). Editora CRV.


Resenhado por Michelle Leite

            A autoeficácia (AE) é definida como a crença pessoal na capacidade de organizar e executar cursos de ação requeridos para produzir certas realizações. Em outras palavras, é a noção de competência pessoal que permite os indivíduos avaliarem suas capacidades de realizar tarefas e alcançar os resultados desejados. Criada por Albert Bandura, em 1977, o ponto central da teoria da AE indica que iniciar e persistir em comportamentos dependem dos julgamentos e expectativas das pessoas em relação às suas habilidades comportamentais e capacidades de lidar com as demandas ambientais. Logo, infere-se que esse construto psicológico pode ter influências na regulação de comportamentos, resultados e cuidados em saúde, tornando-se um importante tópico na Psicologia da Saúde.

            A Psicologia da Saúde é um subcampo da Psicologia que aplica princípios e pesquisas psicológicos para melhoria da saúde e o tratamento e prevenção de doenças. O entendimento de como as diferenças individuais impactam nos processos de saúde e doença está dentre as questões chaves desse campo. Dessa forma, como a AE é distinta para cada pessoa, ela tem ganhado notoriedade nos estudos de Psicologia da Saúde e demonstrado capacidade explicativa acerca da probabilidade de pessoas virem a adoecer ou se manterem saudáveis a depender dos seus níveis de AE. Isso acontece pois ela está no cerne dos processos de ajustamento e adaptação psicológicos, fatores que se referem à habilidade de reequilibrar-se de maneira saudável diante das adversidades.

            A AE influencia no processo adaptativo e de ajustamento de três formas: na definição de metas e persistência, na eficiência cognitiva e na adaptabilidade emocional. A primeira forma indica que pessoas com AE mais positiva tendem a estabelecer metas pessoais mais desafiadoras e persistir em direção aos seus objetivos, aumentando as chances de atingir o sucesso nas suas realizações. O segundo caminho demonstra que indivíduos com maior AE usam seus recursos cognitivos com mais eficiência, o que leva a melhores soluções e maior realização diante de problemas. Por fim, entende-se que a AE influencia na adaptabilidade emocional, pois pessoas com alta percepção de AE são mais propensas a interpretarem situações estressoras de modo mais positivo e se tornarem mais engajadas na busca ativa de soluções. Todos esses fatores em conjunto podem ser considerados determinantes psicológicos da saúde.

            Em relação à saúde mental, há evidências de que a AE pode ser variável preditora e protetiva na ocorrência de transtornos mentais comuns, como a depressão e os transtornos de ansiedade. Quanto à depressão, baixos níveis de AE podem provocar falta de interesse em uma tarefa e sentimentos de apatia, inutilidade, inadequação e incapacidade, agravando ou propiciando a ocorrência de quadros de humor depressivo. Em relação à ansiedade, a baixa AE refere-se à uma percepção de incapacidade de lidar comportamental e cognitivamente com ameaças potenciais. No tratamento dessas condições, investir em variáveis como a AE possibilita o aumento do senso de controle e motivação dos pacientes para se engajarem em atividades terapêuticas essenciais para a eficácia da intervenção psicoterápica.

           


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Comparando psychache, depressão e desesperança em suas associações com o suicídio: um teste da teoria do suicídio de Shneidman

 Troister, T., & Holden, R. R. (2010). Comparing psychache, depression, and hopelessness in their associations with suicidality: A test of Shneidman’s theory of suicide. Personality and Individual Differences49(7), 689-693. doi: 10.1016/j.paid.2010.06.006

Resenhado por Maísa Carvalho

 

O suicídio é um problema de saúde pública que é responsável, anualmente, por 800 mil mortes. Em 2016, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, foi a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Ainda repleto de muitos tabus, sua complexidade reside em suas variadas causas, dentre elas a depressão e a desesperança, comumente associadas ao autoextermínio. Assim como essas variáveis, apenas a detecção ou a combinação de fatores não é o suficiente para predizer ou prevenir o suicídio e seus outros contextos – ideação, planejamento e tentativas. Pensando nisso, Shneidman (1993) propôs uma teoria sobre o suicídio que apontava a psychache, ou dor psicológica, definida como uma dor ou angústia da mente, sendo uma condição necessária para a ocorrência desse fenômeno, sendo os outros fatores secundários, a exemplo da depressão e da desesperança. Logo, o presente estudo objetivou identificar se a dor psicológica pode predizer o suicídio além dos efeitos da depressão e da desesperança em universitários.

O estudo obteve uma amostra de 475 universitários, com idades entre 16 e 45 anos (M = 18,3; DP = 2,09), sendo 71% de mulheres. Foi requisitado aos participantes que respondessem sobre características sociodemográficas (sexo e gênero) e que indicassem se já tinham tentado suicídio e, em caso positivo, quando, como e quantas vezes tentaram ao longo da vida. Ademais, que também respondessem alguns questionários. Foram utilizadas as escalas de Beck de suicídio (The Beck Scale for Suicidal Ideation - BSS), depressão (The Beck Depression Inventory – BDI-II) e desesperança (The Beck Hopelessness Scale - BHS), além da Escala de dor psicológica (The Psychache Scale).

Os resultados apontaram que 2,5% (n = 35) já tentaram suicídio, sendo a intoxicação por medicamentos o método mais utilizado (44,1%), seguido do cutting ou automutilação (26,5%). Os que tentaram suicídio relataram uma média de 41,39 meses (DP = 34,04; Variação = 2 a 168) desde a tentativa mais recente, e um nível moderado a alto de intenção de suicídio no momento da tentativa (M = 3,1; DP = 1,22) em uma escala de avaliação de cinco pontos. O número de tentativas ao longo da vida variou de 1 a 11 (M = 1,6; DP = 1,78). Em relação à hipótese principal, os achados corroboraram as ideias de que a psychache está relacionada significativamente com o suicídio, bem como é o fator mais fortemente associado a qualquer contexto do fenômeno.

A teoria proposta por Shneidman sustenta a relevância da dor psicológica como uma variável reconhecida nos contextos que envolvem o suicídio, mas que recebe menos importância em detrimento dos outros fatores comumente atrelados ao fenômeno. Assim, é relevante a produção de estudos em Psicologia da Saúde que explorem mais a dor psicológica isoladamente, de forma a compreender o comportamento dessa variável em suas relações com o suicídio e seus contextos.



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Percepções de doença e coping na doença pulmonar obstrutiva crônica: Efeitos na qualidade de vida relacionada à saúde

 

Illness perceptions and coping with disease in chronic obstructive pulmonar disease: Effects on health-related quality of life

 

 

Vaske, I., Kenn, K., Keil, D. C., Rief, W., & Stenzel, N. M. (2016). Illness perceptions and coping with disease in chronic obstructive pulmonar disease: Effects on health-related quality of life. Journal of Health Psychology, 22(12), 1570-1581. doi: 10.1177/1359105316631197

 

Resenhado por Luana C. Silva-Santos

 

Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) trata-se de uma doença progressiva e caracterizada principalmente por limitação do fluxo de ar, que não é totalmente reversível e causa principalmente dispneia, aumento da produção de muco e tosse. A promoção de qualidade de vida é de particular importância no contexto das doenças crônicas em geral, na qual há busca pela minimização dos impactos causados pela doença na vida diária e no bem-estar em geral. Nesse sentido, o coping tem papel fundamental enquanto mecanismo de enfrentamento a situações estressoras.

Vaske, Kenn, Keil, Rief e Stenzel (2016) objetivaram analisar a influência da percepção da doença e o coping na qualidade de vida de indivíduos com DPOC. A amostra final contou com 444 participantes, que responderam de forma online uma pesquisa contendo dados sociodemográficos (idade, gênero, estado civil, ser fumante), estado atual da DPOC (grau de severidade e tempo de diagnóstico), percepções sobre a doença (Ilness Perceptions Questionnaire, IPQ), coping (Essener Coping Questionnaire) e qualidade de vida relacionada à saúde (Short Form Health Survey). Foram realizadas uma análise multivariada de variância (MANOVA) com testes post-hoc (Games-Howell), duas regressões múltiplas (com desfechos saúde física e saúde mental) e duas análises de mediação (a pontuação total da IPQ entrou como preditora e as subescalas de coping como potenciais mediadores).

Os autores observaram que a percepção da doença e o coping foram preditores da qualidade de vida relacionada à saúde, enquanto a relação entre a percepção da doença e a qualidade de vida relacionada à saúde foi mediada pelas subescalas de coping. Tais resultados denotam a importância do coping em situações estressoras que envolvem doenças crônicas e seu papel no ajuste da qualidade de vida relacionada à saúde naquele momento de vida do indivíduo. Treinar o uso de estratégias de coping no tratamento destes indivíduos torna-se ferramenta importante não só no âmbito da psicologia, mas de todo o acompanhamento multidisciplinar do paciente, melhorando sua percepção de estado de saúde e seu nível de qualidade de vida relacionado à saúde.

 


domingo, 14 de fevereiro de 2021

Autoestima e psicologia da saúde

 

Postado por Geovanna Turri

 

A psicologia pode contribuir de diversas formas para amenizar os impactos emocionais causados pela baixa autoestima na saúde física e mental. De modo geral, a autoestima é entendida como a avaliação positiva ou negativa que o sujeito faz de si mesmo. Ela se caracteriza por um processo valorativo que envolve elementos afetivos (emoções, sentimentos) e cognitivos (pensamentos) que resultam em uma ação. A formação e percepção da autoestima se constitui desde a infância, a partir das interações familiares e de pares, nas quais as experiências grupais e individuais podem influenciar nos níveis de autoestima.



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Mães de crianças com o transtorno do espectro autista: estresse e sobrecarga

  

Nogueira, M. T. D., da Silva Rusch, F., & da Silva Alves, G. D. G. (2021). Mães de crianças com o transtorno do espectro autista: Estresse e sobrecarga. Revista  Humanitaris-B32(2), p-54-75. 

 

Resenhado por Franciely Santos 

  

 A chegada de um filho é muito esperada e idealizada, para a maioria das famílias, o que dificulta na aceitação e adaptação frente ao diagnóstico do filho autista. O transtorno do espectro autista afeta principalmente áreas do desenvolvimento como interação e comunicação social, e comportamentos repetitivos, podendo diferir no nível de gravidade. A mãe é a principal cuidadora do(s) filho(s), abdicando muitas vezes da vida profissional para dedicação de forma integral ao âmbito doméstico. Dessa forma, o estudo em questão pretende avaliar os níveis de estresse e sobrecarga de mães de crianças diagnosticadas com o transtorno do espectro autista. 

O diagnóstico de um filho autista gera mudanças na rotina dos familiares e torna a vivência da maternidade/paternidade mais complexa e desafiadora. Afeta os hábitos, finanças, relação profissional e social, além de causar medo e frustração. O estresse e a sobrecarga estão relacionados a modificações e adaptações. O estresse é necessário para a realização de algumas tarefas, mas torna-se prejudicial quando há em excesso. Já a sobrecarga está relacionada as consequências negativas das atividades que são executadas e que afetam a saúde e o bem-estar físico e psicológico. 

O estudo foi realizado com 55 mães de crianças com o transtorno do espectro autista de até 11 anos, todas sendo responsáveis pelo cuidado do filho. Foram aplicados um questionário sociodemográfico, o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp - ISSL e a Escala de sobrecarga - Burden Interview

A maioria das mães apresentaram algum nível significativo de estresse (78,2%), já em se tratando do nível de sobrecarga, 40% se sentem pouco sobrecarregadas. Neste estudo, a presença do estresse apresentou valor significativo quando associado a ausência de trabalho, sendo que 54,5% da amostra não trabalha. O número de mães que passam a maior parte do tempo com o filho foi 90,4% da amostra, o que corrobora com a literatura, que as mães são as principais responsáveis pelos filhos, e o convívio diário e alta demanda estão associados ao estresse. Os resultados sobre a percepção de sobrecarga trouxeram que 39,5% das mães se sentiam pouco e 37,2% mais ou menos sobrecarregadas. Os resultados também mostraram significância entre as variáveis, presença de estresse e sobrecarga, nas mães que apresentavam níveis altos de estresse. 

Diante disso, as mães, como principais cuidadoras, tendem a se sobrecarregar e pontuar elevados níveis de estresse, e as mudanças e vida após o diagnóstico do filho autista influenciam nesses resultados. Assim, a Psicologia da Saúde pode contribuir com estudos que visem a encontrar as melhores estratégias de enfrentamento para essas mães, de forma que o impacto dessas mudanças e desafios não afetem negativamente o seu bem-estar. 

 


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Autoestima, imagem corporal e depressão de adolescentes em diferentes estados nutricionais

Rentz-Fernandes. R. A., Silveira-Viana. M., De Liz. M. C., & Andrade. A. (2017). Autoestima, imagem corporal

e depressão de adolescentes em diferentes estados nutricionais. Salud Pública, 19(1), 66-72. https://doi.org/10.15446/rsap.v19n1.47697

Resenhado por Ariana Moura

 

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo anormal e excessivo de gordura corporal, sendo prejudicial à saúde e à qualidade de vida por estar associada a maior morbidade e mortalidade precoce. Esta complexa condição tem causas multifatoriais que podem ser biológicas, psicológicas ou socioeconômicas. Nos dias atuais a obesidade é um problema de saúde pública, especialmente por estar associada a doenças cardiovasculares, além de aumentar os riscos de patologias biliares e vários tipos de câncer. Sabe-se que problemas psicológicos também são comuns nesta população, inclusive transtornos como depressão e ansiedade, dificuldades de ajustamento social, baixo autoconceito, baixa autoestima e problemas com autoimagem.

A literatura tem demonstrado que adolescentes obesos possuem maiores chances de serem acometidos por transtornos depressivos, bem como aqueles que se autoavaliam como obesos e com maior insatisfação corporal. Deste modo, tanto a condição de obeso quanto a percepção da imagem corporal poderiam estar associadas à depressão. Contudo, os aspectos psicológicos relacionados à obesidade na adolescência não são bem compreendidos e muitas vezes negligenciados. O objetivo do estudo foi investigar a autoestima, a imagem corporal e a depressão em adolescentes em diferentes estados nutricionais. Participaram 418 adolescentes com idade entre 14 e 18 anos. Os instrumentos utilizados foram: caracterização, Inventário de Depressão Infantil, Escala de Autoestima e Escala de Silhuetas. Os estados nutricionais foram classificados por meio do Índice de Massa Corporal (IMC).

Os resultados apontaram que os meninos apresentaram maior prevalência de sobrepeso e obesidade, menor depressão e insatisfação corporal, além de maior autoestima do que as meninas. Embora adolescentes em estados nutricionais superiores fossem mais insatisfeitos, o IMC se relacionou à insatisfação corporal apenas entre as meninas. A relação entre depressão e insatisfação corporal foi negativa entre os meninos e positiva entre as meninas.

As altas taxas de insatisfação corporal podem ser esclarecidas pelo processo a partir do qual as pessoas passam a seguir padrões inadequados de alimentação e atividade física, contribuindo assim para o aumento do peso e consequente insatisfação com o corpo. Além disso, é preciso levar em conta que, a adolescência favorece oscilações da autoestima por ser uma fase de importantes transformações psicossociais.

Os dados encontrados podem contribuir para a promoção de políticas públicas dentro e fora das escolas, a respeito da educação nutricional, de temas relacionados ao corpo e da importância da prática de atividades físicas. Do ponto de vista psicológico, sugere-se, maior atenção às meninas, àqueles mais insatisfeitos com seus corpos e, ainda, aqueles que não praticam atividades físicas. A Psicologia da Saúde pode ofertar suporte na elaboração de estratégias educacionais, necessárias para estimular a conscientização dos adolescentes em adotar um estilo de vida mais saudável, com repercussões na saúde física e psicológica. Para que tais intervenções sejam implementadas, pais, profissionais da saúde e professores têm papel importante na orientação dos jovens. 



quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

O que aconteceu aos pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo durante a pandemia de COVID-19?

 Benatti, B., Albert, U., Maina, G., Fiorillo, A., Celebre, L., Girone, N., ... & Dell’Osso, B. (2020). What happened to patients with obsessive compulsive disorder during the COVID-19 pandemic? A multicentre report from tertiary clinics in northern Italy. Frontiers in Psychiatry11, 720.  https://doi.org/10.3389/fpsyt.2020.00720

 

Resenhado por Daiane Nunes

 

Sabe-se que pandemias impactam não apenas nos contextos biológico e social, mas também no psicológico. Dentre as diversas consequências, o agravamento dos sintomas obsessivo-compulsivos tem sido pouco abordado pela comunidade científica e por prestadores de serviços em saúde. O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é caracterizado por pensamentos ou imagens recorrentes e intrusivos (obsessões) associados a esforços comportamentais que visam neutralizar a ansiedade causada por obsessões (compulsões). Considerando o alto impacto do TOC na qualidade de vida dos pacientes e as altas taxas de comorbidades psiquiátricas, o atual surto de COVID-19 representa um desafio único para pacientes com TOC. Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar o impacto da pandemia em pacientes ambulatoriais com TOC atendidos em clínicas no norte da Itália, região particularmente afetada pelo surto.

A amostra incluiu 123 pacientes ambulatoriais diagnosticados com TOC, de ambos os sexos e de qualquer idade. Os dados foram coletados através de entrevistas, em que foram abordadas questões como presença e tipo de comorbidade psiquiátrica, principais fenótipos de obsessões e compulsões, agravamento do TOC (definido como piora clínica avaliada durante a entrevista clínica e referida aos últimos 3 meses de pandemia), início de novas obsessões ou compulsões, obsessões passadas ou recorrência de compulsões, entre outros.

No geral, mais de um terço da amostra relatou piora clínica. Não surgiram diferenças significativas entre os pacientes com e sem piora clínica em termos de fenótipos obsessivos, sendo os mais frequentes a violência/dano e os fenótipos múltiplos (por exemplo, lavar e limpar) em ambos os subgrupos. No entanto, o desenvolvimento de novas obsessões e a recorrência de obsessões anteriores foram significativamente maiores no grupo com piora clínica. Além disso, os pacientes com piora experimentaram um aumento nos comportamentos de evitação. Destaca-se que ambos os subgrupos apresentaram um quadro clínico globalmente comprometido. Em particular, observaram-se taxas significativamente mais altas de ajuste da terapia farmacológica, ideação suicida, distúrbios do sono, entre outros.

Cumpre ressaltar que uma primeira característica clínica relevante relacionada ao subgrupo com piora clínica foi o aparecimento de novas obsessões e compulsões e o reaparecimento de obsessões e compulsões anteriores, que estavam ausentes antes do início da pandemia. Tal achado pode estar relacionado à necessidade de maior controle contra potencial contaminação ou ao aumento do tempo livre durante o lockdown, possivelmente motivando o aumento de comportamentos repetitivos.

A exacerbação da sintomatologia do TOC foi bem documentada anteriormente em outros surtos pandêmicos, como os da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) e da Influenza. Os autores reforçam a necessidade de monitorar cuidadosamente a potencial recidiva da sintomatologia e sua proporcionalidade à situação atual, para evitar retrocessos. Além disso, destaca-se a necessidade de realização de pesquisas adicionais com medidas psicométricas específicas e avaliação de acompanhamento da amostra, para que seja esclarecido o risco potencial e as consequências clínicas da atual pandemia de COVID-19 em pacientes com TOC.



terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Identificação de transtornos mentais e encaminhamentos em saúde mental na adolescência

 DeSousa, D. A., Santos Jr., J. A., Matos, E., Alves, W., & Moreno, A. L. (2018). Identificação de transtornos mentais e encaminhamentos em saúde mental na adolescência. In J. P. Silva, A. Faro, & E. Cerqueira-Santos (Orgs.), Psicologia e adolescência: Gênero, violência e saúde (pp. 209-227). Curitiba: CRV.

 

Resenhado por Brenda Fernanda

 

A adolescência normal é um período marcado por diversas alterações biológicas, psicológicas e sociais, bem como por alterações de humor e comportamentos disruptivos. O capítulo tem como ponto de partida a diferenciação de tais comportamentos entre adolescentes saudáveis e aqueles que sofrem de transtornos mentais comuns. É preciso distinguir a “síndrome da adolescência normal” das psicopatologias. Um dos principais marcadores de que as oscilações de humor e comportamentos “rebeldes” podem indicar algum transtorno é o tempo. Se as alterações emocionais e comportamentais são muito frequentes, duradouras (mais de seis meses, por exemplo) e intensas, causando sofrimento significativo e comprometendo o funcionamento social desses adolescentes, é hora de investigar a possível presença de um transtorno.

Alguns fatores podem ser considerados de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais na adolescência. Na esfera individual, podem ser citados: baixa autoestima, insatisfação com a vida, sentimentos de inutilidade e ideação suicida. No contexto familiar e comunitário, a exposição à violência e abuso é um dos principais fatores de risco. Destaca-se que os fatores de risco podem aumentar a vulnerabilidade dos jovens para a ocorrência de transtornos mentais comuns, sendo relevante identificá-los a fim de conhecer melhor o contexto de prevenção e possível adoecimento.

Dentre os transtornos mentais que acometem os adolescentes, podemos dividi-los em duas principais categorias: internalizantes e externalizantes. Os internalizantes são aqueles relacionados a aspectos emocionais e afetivos, como o transtorno depressivo e o transtorno ansioso. Os transtornos externalizantes, por sua vez, são caracterizados por sintomas comportamentais, tais como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e transtorno de conduta. Além dessas duas grandes categorias, outros transtornos comuns durante a adolescência são os transtornos alimentares e os relacionados a abuso de substâncias.

Para a atuação de profissionais da saúde que lidam com adolescentes, é importante atentar-se ao reconhecimento e auxílio aos jovens que se encontram em situação de risco, bem como identificar possíveis alterações de comportamento nesses indivíduos que possam vir a desencadear um transtorno mental. Quanto mais cedo o sofrimento for identificado, mais cedo também ocorrerá o tratamento, o que provavelmente implica em melhora na qualidade de vida e redução dos riscos de recorrência do transtorno ao longo da vida adulta.

O presente capítulo sumariza alguns dos principais transtornos mentais comuns na adolescência, indicando possíveis fatores de risco e discorrendo sobre a importância do encaminhamento desses jovens para o cuidado à saúde mental. Portanto, conclui-se que, para os profissionais que trabalham com saúde mental na adolescência, dentre eles, o psicólogo da saúde, é de suma importância saber identificar as vulnerabilidades desse público para realizar intervenções preventivas, bem como ofertar tratamento adequado das condições. Para a psicologia da saúde, área de pesquisa e intervenção no que diz respeito à promoção de saúde, também é relevante conhecer aspectos do desenvolvimento humano que podem indicar risco ao adoecimento.