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terça-feira, 25 de maio de 2021

O impacto do lockdown no uso de redes sociais, problemas de imagem corporal e autoestima em adolescentes e mulheres jovens

 

Resenhado por Luiz Guilherme L. Silva.

Vall-Roqué, H., Andrés, A., & Saldaña, C. (2021). The impact of COVID-19 lockdown on social network sites use, body image disturbances and self-esteem among adolescent and young women. Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry110, 110293. https://doi.org/10.1016/j.pnpbp.2021.110293

            A pandemia da COVID-19, apesar de ser um problema global de saúde física, tem potencial para se tornar uma crise em saúde mental devido às consequências do lockdown. Dentre os impactos resultantes das medidas de contenção do vírus, podem ser citadas a associação com a ansiedade, depressão, estresse, transtorno de estresse pós-traumático e problemas de sono. Alguns estudos sugeriram ainda que a pandemia pode impactar no risco e desenvolvimento de transtornos alimentares. Nesse contexto, o estudo buscou examinar o impacto do lockdown quanto ao uso de redes sociais, bem como se tal uso estava associado a distúrbios na imagem corporal e autoestima rebaixada em adolescentes e mulheres jovens.

            A amostra foi composta por 2601 mulheres, residentes na Espanha, entre 14 e 35 anos. O estudo teve delineamento retrospectivo e transversal, no qual as participantes foram indagadas quanto ao uso de redes sociais antes e depois do lockdown. A amostra foi recrutada pelo Facebook, Twitter, Instagram e pela lista de contatos dos pesquisadores. Foram requeridas as informações sociodemográficas, como idade, gênero, status de relacionamento, além do peso e da altura para o cálculo do índice de massa corporal (IMC). Em relação à COVID-19, as participantes informaram se elas ou algum conhecido foram infectados ou se conheciam alguém que morreu devido às complicações da COVID-19. Foram usadas escalas de autorrelato do tipo Likert acerca do uso de redes sociais antes e depois do lockdown. As subescalas de insatisfação corporal e desejo de ser magra retiradas do Inventário de Transtornos Alimentares foram utilizadas. As duas subescalas têm 17 itens que são respondidos por meio de  uma escala Likert de 6 pontos. A autoestima foi mensurada com a Escala de Autoestima de Rosenberg,  que possui 10 itens com escala Likert de 4 pontos.

            A amostra foi dicotomizada em geração Z, que tinha entre 14 e 24 anos, e geração Y, que tinha de 25 a 35 anos. A geração Z teve maior uso de aplicativos, como Instagram, YouTube, TikTok e Twitter, ao passo que a geração Y passou mais tempo usando o Facebook. A proporção de mulheres acompanhando contas focadas em aparência no Instagram não diferiu entre os grupos. De modo geral, houve aumento significativo quanto ao uso de todas as redes sociais no estudo, assim como aumentou o número de mulheres acompanhando conteúdos relativos à aparência em comparação ao período anterior ao lockdown. A frequência de uso do Instagram teve associação com insatisfação corporal, autoestima e desejo de ser magra. Análises post-hoc demonstraram que participantes que passavam mais de 2 horas por dia no Instagram apresentaram maiores níveis de insatisfação corporal, desejo de ser magra e autoestima rebaixada. Outros achados do estudo foi que a idade e o IMC foram preditores significativos de desejo de ser magra e, em relação à geração Y, a frequência de uso do Instagram foi associado ao desejo de ser magra.

            As redes sociais são ferramentas eficazes para mitigar a solidão durante o lockdown, pois têm a capacidade de aproximar as pessoas de uma forma segura em relação ao contágio do novo coronavírus. Entretanto, é necessário ressaltar que as redes sociais podem ser uma ferramenta que traz sofrimento psicológico aos indivíduos, uma vez que há predominância de um padrão corporal em detrimento dos demais. Esse padrão pode trazer crenças de imperfeições e inadequações diante de  uma expectativa da sociedade, que muitas vezes é inalcançável. Diante disso, a Psicologia da Saúde pode promover formas mais saudáveis de utilização de tais ferramentas a exemplo da conscientização frente ao uso insalubre de aplicativos, assim como a conscientização dos usuários acerca do padrão corporal disseminado pelas redes sociais.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Empatia, depressão, ansiedade e estresse em Profissionais de Saúde Brasileiros

 

Rodrigues, S. L., Coelho, O. L., & França, D. N.  P.  M. (2020). Empatia, depressão, ansiedade e estresse em Profissionais de Saúde Brasileiros. Ciências Psicológicas14(2), e2215. doi.org/10.22235/cp.v14i2.2215

 


Resenhado por Millena Bahiano

 

De modo geral, o impacto decorrente de lidar com o sofrimento do outro, aliado às excessivas cargas de trabalho, podem vir a afetar e comprometer a saúde mental de profissionais da saúde. A literatura já indica que a presença de transtornos do sono, alta frequência de distúrbios relacionados à ansiedade e depressão, bem como índices elevados de estresse têm sido, cada vez mais frequentes, entre médicos, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde. Nesse cenário, a empatia pode atuar como um fator de proteção à saúde mental, influenciando a maneira como as pessoas avaliam seu contexto de trabalho e lidam com situações de estresse.

O presente estudo foi realizado com profissionais de saúde que atuam na rede pública do município de Petrolina (PE) e objetivou investigar as relações entre empatia, depressão, ansiedade e estresse em profissionais de saúde pernambucanos. A amostra da pesquisa contou com duzentos participantes, com idades entre 22 e 67 anos, sendo a maioria composta por mulheres (87%). Os instrumentos utilizados na pesquisa foram: o Índice de Reatividade Interpessoal, o Inventário de Sintomas de Estresse, o Inventário de Depressão de Beck e o Inventário de Ansiedade de Beck. Dentre os resultados encontrados, viu-se que 23% dos participantes apresentaram sintomas depressivos leves e 7,5% moderado. Quanto aos sintomas ansiosos, observou-se que 3% da amostra apresentou nível grave e 8% moderado.

No que se refere à empatia, a consideração empática foi a dimensão que obteve maior pontuação média (M = 4,10; DP = 0,65), seguida de tomada de perspectiva (M = 4,06; DP = 0,62), angústia pessoal (M = 2,80; DP = 0,83) e fantasia (M = 2,73; DP = 0,80). De modo geral, viu-se também que os participantes pontuaram mais em componentes empáticos que foram associados ao cuidado com o outro. Além disso, foi identificado no estudo a existência de correlações positivas entre ansiedade e depressão com a empatia, bem como correlações positivas entre angústia pessoal e fantasia com a presença de sintomas de ansiedade e depressão. Já ao que se refere à resposta de estresse, verificou-se que 42% dos participantes apresentaram estresse em alguma fase (alerta, resistência, quase-exaustão ou exaustão), estando a maioria na fase de resistência (32%).

Os autores ressaltaram que uma parte relevante da amostra da pesquisa apresentou sinais de estresse e presença de sintomatologia depressiva e ansiosa. Tais resultados, reforçam a necessidade de se atentar aos prejuízos causados à saúde mental dos profissionais de saúde, principalmente, daqueles profissionais que são submetidos a intensas cargas de trabalho. Para a psicologia da saúde, o presente estudo poderá auxiliar na identificação precoce do estresse ocupacional. Assim como na elaboração de estratégias e de intervenções mais eficazes, as quais possam favorecer as habilidades empáticas e contribuir para a prevenção de agravos psicológicos nessa população.

Efeitos moderadores do hardiness e do otimismo em eventos negativos da vida e na autoeficácia de enfrentamento em alunos do primeiro ano da graduação

 

Moderating effects of hardiness and optimism on negative life events and coping self-efficacy in first year undergraduate students

 

Abbasi, M., Ghadampour, E., Hojati, M., & Senobar, A. (2020). Moderating Effects of Hardiness and optimism on negative life events and coping self-efficacy in first-year undergraduate students. Anales De Psicología/Annals of Psychology36(3), 451-456.

 

Resenhado por Daiane Nunes

 

O primeiro ano para os alunos de graduação não é apenas um período de aumento do estresse, mas um período de maior risco para o desenvolvimento de problemas de saúde física, social, acadêmica e psicológica. Diferentes estudos apontam a ocorrência de sintomas de depressão, estresse, uso de substâncias e até mesmo ideação suicida nesse público. Os estressores mais comuns desse ambiente são o medo do fracasso, estressores relacionados a avaliações e gerenciamento de tempo, sensação de sobrecarga de trabalho, entre outros. Embora se observe níveis elevados de adoecimento, alguns alunos se adaptam com sucesso a situações estressoras geradas no contexto acadêmico. Um fator que demonstrou influenciar a resposta aos eventos negativos foi a autoeficácia para lidar com a situação. A autoeficácia de enfrentamento se refere às crenças de um indivíduo sobre sua capacidade de lidar com estressores externos. Indivíduos com níveis elevados de autoeficácia de enfrentamento tendem a criar uma abordagem adaptativa que os leva a ver as tarefas ou situações que exigem grandes esforços como desafiadoras e experiências positivas.

Um construto que parece influenciar os níveis de autoeficácia de enfrentamento é o hardiness. Traduzido para o português como resistência psicológica, refere-se a um conjunto de fatores de características de personalidade que funcionam como um recurso de resistência no enfrentamento de eventos estressantes da vida. Indivíduos com maior resistência psicológica gerenciam a resolução de problemas de forma eficiente e, consequentemente, obtém resultados mais favoráveis, reforçando crenças de autoeficácia preexistentes. Assim como o hardiness, o otimismo também é uma variável importante na relação estresse/saúde psicológica e física e influencia crenças de autoeficácia. O otimismo reflete uma tendência a expectativas positivas para o futuro e à confiança na capacidade de enfrentar os desafios. O objetivo deste estudo foi investigar se o hardiness e o otimismo moderam a relação entre eventos negativos da vida e a autoeficácia de enfrentamento em alunos do primeiro ano de graduação.

  Participaram 228 estudantes do primeiro ano de graduação, com idade entre 17 e 18 anos. Foram utilizados instrumentos para mensurar o otimismo [Revised Life Orientation Test (LOT-R)], o hardiness (Hardiness Scale), a autoeficácia de enfrentamento [The Coping Self-Efficacy Scale (CSE)] e os eventos negativos de vida [The Adolescent Life Events Questionnaire (ALEQ)]. Os resultados demonstraram que os eventos negativos da vida foram negativamente correlacionados com a autoeficácia de enfrentamento. Viu-se, ainda, que quando os níveis de hardiness e de otimismo eram mais rebaixados, níveis mais elevados de eventos negativos da vida levaram a uma menor autoeficácia para enfrentar as adversidades.

Os autores explicaram que adolescentes com maior resistência psicológica e mais otimistas utilizam mais estratégias adaptativas de enfrentamento ao lidarem com eventos estressores, com isso, obtém resultados mais satisfatórios e reforçam crenças de autoeficácia mais adaptativas. Assim, as ações em saúde que busquem desenvolver ou aprimorar crenças de autoeficácia de enfrentamento nesse público devem considerar a inclusão do hardiness e do otimismo em suas estratégias de intervenção.

 

 

O papel da autoeficácia parental no bem-estar dos pais e da criança: Uma revisão sistemática dos resultados associados

 

The role of parental self‐efficacy in parent and child well‐being: A systematic review of associated outcomes

 

Albanese, A. M., Russo, G. R., & Geller, P. A. (2019). The role of parental self‐efficacy in parent and child well‐being: A systematic review of associated outcomes. Child: Care, Health and Development45(3), 333-363. https://doi.org/10.1111/cch.12661

 

Resenhado por Daiane Nunes

 

A paternidade é uma experiência repleta de desafios que podem levar ao estresse. Esse evento da vida traz consigo inúmeros estressores como o cansaço físico, mudanças na rotina, padrão do sono, da alimentação, impactos financeiros, mudanças no estilo de vida que podem resultar dessa responsabilidade aumentada. A autoeficácia parental, definida a crença dos pais sobre sua capacidade de influenciar seus filhos de maneira promotora de saúde e de sucesso, emergiu como um alvo importante para o bem-estar dos pais e dos filhos. Por exemplo, uma meta-análise descobriu que a percepção da mãe sobre si mesma e suas habilidades eram um fator significativo em seu risco de depressão pós-parto. Assim, o presente estudo teve como objetivo coletar, sintetizar e apresentar sistematicamente todos os artigos existentes acerca da relação entre a autoeficácia parental e saúde dos pais e da criança.

Os dados foram coletados nas bases de dados PsycINFO, PubMed, CINAHL e Web of Science. Foram incluídos artigos que relatassem os efeitos da autoeficácia parental em resultados relacionados à saúde e bem-estar de pais e crianças e excluídos estudos psicométricos, que relatassem fatores que impactam a autoeficácia parental, outras revisões da literatura e estudos interventivos. Os resultados foram categorizados em três temas emergentes de acordo com o tipo de desfecho relatado, a saber: relativos à relação pais e filhos, relativos à saúde mental dos pais ou relativos ao desenvolvimento infantil. 

Viu-se que a autoeficácia parental esteve associada positivamente ao estabelecimento de rotina em casa, a uma comunicação aberta, a atitude mais positiva em relação à paternidade, bem como uma relação pai-filho mais positiva e melhor construção do papel familiar. Cumpre ressaltar que níveis elevados de autoeficácia parental foram frequentemente associados a estilos e comportamentos parentais mais eficazes, especificamente a parentalidade mais responsiva, práticas parentais mais promotoras, menos paternidade coercitiva e estilo parental autoritário, estabelecimento de metas de desenvolvimento para os filhos, habilidade parental aumentada, parentalidade menos disfuncional, sensibilidade parental, entre outros.

Quanto a relação entre autoeficácia parental e saúde dos pais, observou-se que níveis rebaixados de autoeficácia foram preditores de depressão pós-parto e de sintomas depressivos e ansiosos em estágios posteriores da paternidade. Níveis mais elevados de autoeficácia parental estiveram associados ao risco reduzido de sofrimento psicológico para pais e mães, a uma melhor adaptação à paternidade, ao aumento do bem-estar e satisfação paternos. Já os resultados no desenvolvimento dos filhos demonstraram que a autoeficácia parental foi um fator protetivo contra o atraso no desenvolvimento em ambientes familiares de risco, esteve associada a melhores resultados comportamentais, níveis mais baixos de agressão, exclusão, ansiedade, hiperatividade e vitimização por pares em crianças, entre outros.

 Por fim, aponta-se que o número de artigos revisados por si só destaca a relevância da autoeficácia parental no bem-estar e na saúde de pais e filhos, mas a natureza dos resultados aos quais está vinculada ressalta ainda mais sua relevância clínica. Assim, sugere-se que as ações em saúde que visem o enfrentamento positivo dos desafios adaptativos inerentes à paternidade devem considerar as crenças de autoeficácia em suas estratégias de intervenção.

 

domingo, 23 de maio de 2021

Comportamento suicida e religiosidade em estudantes de psicologia

 

Silva, M.C., & Faro, A.. (2020). Comportamento suicida e religiosidade em estudantes de psicologia. Mudanças – psicologia da saúde28(1), 35-42. https://doi.org/44.351.146/0001-57

 

Resenhado por Catiele Reis

 

Este estudo teve o objetivo geral de aferir os níveis de comportamento suicida entre os estudantes de Psicologia e, especificamente, relacioná-los com a avaliação da religiosidade por entendê-la como um importante fator protetivo contra o suicídio. A amostra foi constituída por 129 discentes de uma Universidade pública do estado de Sergipe, de ambos os sexos e idades entre 17 e 53 anos escolhidos por critério de conveniência. O único critério de inclusão estabelecido foi estar devidamente matriculado no curso.

            A avaliação do comportamento suicida foi feita através do Questionário de Comportamentos Suicidas Revisado (Suicide Behavior Questionnaire Revised - QCS-R), validado por Osman et al. (2001). E, para a avaliação da religiosidade se empregou o Índice de Religiosidade de Duke (DUREL), desenvolvido por Koenig, Meador e Parkerson (1997) e validado no Brasil por Taunay et al. (2012). Adicionalmente, aplicou-se um questionário sociodemográfico contendo informações como sexo, idade e período do curso dos participantes. A análise de dados foi feita através do programa estatístico SPSS.

Os principais achados deste estudo revelaram índices preocupantes de ideação, tentativas e intenções futuras de suicídio entre os alunos mais jovens do curso de Psicologia. Entretanto, encontrou-se achados interessantes relativos à comunicação do ato, caso se considere a possibilidade de intervenções. A hipótese de que a religiosidade se expressaria como um fator de proteção contra o comportamento suicida foi corroborada, constatando-se que a prática religiosa aparentou inibir ou reduzir o surgimento de comportamentos de risco ao suicídio.

Percebeu-se que exercer a religiosidade em algum nível, seja ele organizacional, não-organizacional ou intrínseco, atuou como um fator protetivo ao suicídio, tendo isso sido evidenciado nas relações com todos os itens do QCS-R. Houve indícios de que possuir uma prática religiosa se constitui como um importante fator protetivo em saúde e costuma atuar como uma estratégia de enfrentamento para uma série de condições clínicas, além de estar associada a bons índices de qualidade de vida, bem-estar e outros benefícios.

Os autores esperam que os achados possam servir como um sinal de alerta para que as instituições de ensino promovam ações preventivas e de enfrentamento para essas questões. Por fim, espera-se que os gestores das universidades se mobilizem para oferecer recursos que possam preparar os jovens universitários para as possíveis dificuldades que poderão enfrentar na academia, visto que os índices de óbito por suicídio nesta população têm crescido perigosamente.

 

 

 

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Quem se preocupa com fobias específicas? - Um estudo de base populacional de fatores de risco

 Coelho, C. M., Gonçalves-Bradley, D., & Zsido, A. N. (2020). Who worries about specific phobias? - A population-based study of risk factors. Journal of psychiatric research, 126, 67–72. https://doi.org/10.1016/j.jpsychires.2020.05.001

 

Resenhado por Amanda Feitosa

 

Fobias específicas são um tipo de transtorno ansioso que se refere a reações de medo extremas e desproporcionais para um determinado estímulo fóbico (ex. animais, ambientes), mesmo na ausência de perigo real. É um dos transtornos de ansiedade mais prevalentes ao longo da vida e, traz prejuízos significativos no funcionamento social, psicológico e físico dos indivíduos. As fobias específicas apresentam elevada comorbidade com transtornos físicos e mentais, sendo boas indicadoras de vulnerabilidade psicológica. Apesar disso, não há muitos estudos acerca dos fatores de risco envolvidos no desenvolvimento desses transtornos. Desta forma, o presente estudo objetivou analisar os fatores de risco associados à preocupação com fobias específicas.

Os dados foram retirados da Pesquisa Nacional de Saúde Mental da Austrália, realizada em 2007. A amostra foi composta por 8461 adultos, sendo 54,6% (n = 4619) dos participantes do público feminino. A idade variou entre 18 e 85 anos (M = 47,6, DP = 18,3). Utilizou-se o CIDI (Composite International Diagnostic Interview) para avaliar a presença de transtornos ansiosos, afetivos e de abuso de substâncias de acordo com os critérios diagnósticos do DSM-IV e do CID-10. Também foram coletados dados sociodemográficos e informações acerca de potenciais fontes de preocupações e ansiedades dos participantes sobre fobias específicas. Realizou-se a análise dos dados com um modelo de regressão em que a preocupação com as fobias específicas foi a variável de saída, e as informações sociodemográficas e transtornos foram as variáveis preditoras.

Cerca de 2,2% dos participantes relataram se preocupar com as fobias. Acredita-se que a prevalência menor do que a literatura indica ocorra pelo fato das pessoas não estarem cientes do que são fobias específicas, ou que apenas indivíduos com níveis extremos de medo relatem se preocupar com o transtorno. Observou-se também que ser do sexo feminino e apresentar um diagnóstico comórbido de depressão e de uso de substâncias foram fatores de risco para se preocupar com as fobias. Estudos apontam que fobias específicas podem aumentar a probabilidade de surgimento de outros transtornos, a exemplo do transtorno depressivo. Além disso, ter vivenciado experiências traumáticas com pessoas próximas e maior número de doenças crônicas também foram fatores de risco para a preocupação. Outras pesquisam demonstraram que transtornos ansiosos se associam fortemente com dor crônica, assim como exposição a eventos traumáticos violentos.

Os achados do estudo são relevantes para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e intervenção no campo da Psicologia. Conhecer os fatores de risco das fobias específicas permite o mapeamento efetivo dos grupos que apresentam maior vulnerabilidade psicológica para este transtorno, direcionando a atuação dos profissionais da saúde para um público específico. Por fim, faz-se relevante mais estudos realizados na área da Psicologia da Saúde sobre a associação entre fobias específicas e problemas físicos, visto que este transtorno ansioso se relaciona a perda significativa na funcionalidade do indivíduo.

As características e prevalência de fobias na gravidez

 

Nath, S., Busuulwa, P., Ryan, E. G., Challacombe, F. L., & Howard, L. M. (2020). The characteristics and prevalence of phobias in pregnancy. Midwifery, 82, 1-6. https://doi.org/10.1016/j.midw.2019.102590

 

Resenhado por Amanda Feitosa

 

A fobia específica é o transtorno ansioso mais comum durante o período da gravidez, com a prevalência entre 4% a 19,9% em mulheres grávidas. Algumas fobias são comumente relacionadas a maternidade, como a fobia de sangue-injeção-ferimento, a emetofobia (medo de vômito) e a tocofobia (medo de engravidar e do parto). Estas se relacionam ao comportamento de evitar procedimentos cirúrgicos durante a gravidez, maior estresse e prejuízos no acompanhamento obstétrico e no pré-natal, interferindo na saúde física e mental da mãe e do bebê. Visto o impacto das fobias durante este período, órgãos de saúde sugerem incluir ferramentas específicas de triagem deste transtorno por profissionais de saúde para guiar sua prática durante o atendimento pré-natal. Assim, o presente estudo objetivou mapear a prevalência de fobias específicas e transtornos mentais em uma população de mulheres grávidas e, também, investigar a eficácia de métodos de triagem rotineiros na identificação de fobias específicas.

Participaram do estudo 545 grávidas que realizavam seu primeiro atendimento pré-natal, com idade entre 16 a 46 anos. Para mensurar a presença dos transtornos foi utilizado o Structured Clinical Interview for DSM-IV Axis I Disorders (SCID-I). Além das fobias, este roteiro de entrevista possui questões diagnósticas referentes a transtornos afetivos, o transtorno de estresse pós-traumático e ao estresse agudo. Categorizou-se como fobias específicas relacionadas à gravidez: a emetofobia, a tocofobia e a fobia de sangue-injeção-ferimento. Como métodos de triagem rotineiros foram utilizados: a Generalized Anxiety Disorder Scale (GAD-2) para avaliar sintomas ansiosos na amostra e duas questões breves para o diagnóstico de depressão (Whooley questions), além do questionário sociodemográfico.

A prevalência de fobia específica na amostra foi de 8,4%, sendo que as fobias relacionadas a maternidade foram responsáveis por 1,5% da amostra total e 19% da amostra de mulheres com transtornos fóbicos. Este resultado está de acordo com outros estudos sobre fobias em mulheres grávidas. Em comparação com as mulheres sem fobias, as que apresentaram transtornos fóbicos eram mais jovens. Além disso, observou-se que 52,4% das grávidas com fobias específicas demonstraram transtornos mentais comórbidos, sendo o principal a depressão, seguido pela ansiedade generalizada, fobia social e o transtorno obsessivo-compulsivo. As questões de triagem não foram eficazes para rastrear a presença dos transtornos fóbicos.

Desta forma, percebe-se como fobias relacionadas a gravidez podem prejudicar o acompanhamento clínico das mulheres por evitarem consultas médicas, sendo seu mapeamento relevante para prevenir o surgimento de outros transtornos mentais e comportamentos que possam colocar em risco a saúde deste público. Por fim, ressalta-se também a importância de novas pesquisas na área da Psicologia da Saúde que desenvolvam instrumentos de avaliação mais eficazes para o rastreamento de fobias, com o objetivo de dar suporte aos profissionais de saúde durante sua prática clínica.

Autoeficácia na formação superior: Seu papel preditivo na satisfação com a presença acadêmica

 

Santos, A. A. A. D., Zanon, C., & Ilha, V. D. (2019). Autoeficácia na formação superior: Seu papel preditivo na satisfação com a experiência acadêmica. Estudos de Psicologia (Campinas)36, e160077. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0275201936e160077

Resenhado por Maísa Carvalho

Sabe-se que as experiências ocorridas na formação universitária são importantes para o crescimento profissional e pessoal dos alunos, que se utilizam de recursos psicológicos para manejar as atividades acadêmicas, objetivos profissionais e as vivências pessoais atreladas a esse período. Nesse prisma, a autoeficácia, um conceito proposto por Bandura, é definida como a crença associada ao quanto o indivíduo se considera capaz de executar determinadas atividades. A autoeficácia é importante no processo de motivação, impulsionando o indivíduo para a ação. Em níveis elevados, costuma estar associada ao desenvolvimento de atividades mais desafiadoras e a maiores índices de satisfação acadêmica, uma variável cognitivo-afetiva que expressa a avaliação subjetiva de universitários acerca da sua experiência acadêmica. Diante do exposto, de forma geral, este estudo objetivou avaliar o papel da autoeficácia como possível preditora da satisfação acadêmica. Especificamente, objetivou avaliar diferenças entre sexo e diferentes cursos.

Participaram do estudo 372 universitários, sendo 66,4% do sexo feminino, com idades entre 17 e 53 anos (M = 22,8; DP = 6,09) e provenientes dos cursos de Psicologia, Arquitetura e Urbanismo, Administração, Engenharia Civil, Engenharia Química, Engenharia Mecânica, Engenharia de Produção, Engenharia Elétrica e Engenharia da Computação. Os critérios de inclusão foram: possuir idade mínima de 17 anos e estar matriculado nas disciplinas vigentes. Os instrumentos utilizados foram a Escala de Autoeficácia na Formação Superior, de 34 itens em modelo Likert, com alternativas que variavam de 1 (pouco capaz) a 10 (muito capaz), e a Escala de Satisfação com a Experiência Acadêmica, com 34 itens, em modelo Likert, com alternativas que variavam de 1 (nada satisfeito) a 5 (totalmente satisfeito).

Os resultados apontaram que o modelo de regressão logística empregado indicou que o conjunto de facetas da autoeficácia acadêmica explicou - aproximadamente 64% - a maior parte da variância da satisfação com a experiência acadêmica total, ressaltando a relevância da autoeficácia na percepção de satisfação no contexto acadêmico. Entretanto, a faceta de maior expressão na análise foi a de autoeficácia na interação social, tendo apresentado coeficiente de regressão significativo (β = 0,79; p < 0,001). Apesar desse achado expressivo, as demais correlações com as facetas também apresentaram resultados relevantes, já que as correlações pontuaram acima de 0,52. Em suma, entendeu-se que os alunos com maior autoeficácia social tendem a se mostrar mais satisfeitos com o curso escolhido e que essa satisfação também pode advir da interação social com outros alunos.

Os achados presentes neste estudo apontaram a relevância da investigação de aspectos que podem influenciar a satisfação acadêmica, importante para a vivência acadêmica e pós-acadêmica, visto que alunos com maior autoeficácia costumam ser mais resilientes, além de empreenderem mais esforços e empenho na construção da vida profissional e inserção no mercado de trabalho. Sob a ótica da Psicologia da Saúde e, inclusive, em associação com a Psicologia Escolar, a realização de mais estudos que investiguem a autoeficácia em universitários pode ser interessante no levantamento de dados que associem esse construto com a presença de transtornos mentais comuns, a exemplo da depressão e ansiedade, e fenômenos como fracasso e evasão escolar.

 

domingo, 16 de maio de 2021

Estresse por coronavírus entre profissionais de saúde italianos: O papel do humor como estratégia de enfrentamento

 

Canestrari, C., Bongelli, R., Fermani, A., Riccioni, I., Bertolazzi, A., Muzi, M., & Burro, R. (2020). Coronavirus disease stress among Italian healthcare workers: The role of coping humor. Frontiers in Psychology, 11. DOI:  10.3389/fpsyg.2020.601574

Resenhado por Luanna Silva

 

A pandemia causada pelo novo coronavírus tem imposto desafios para profissionais da saúde em todo o mundo. Evidências mostram que os eventos desse período têm provocado repercussões negativas ao bem-estar psicológico dessa população. Há registros de burnout, depressão, ansiedade, insônia e desregulação emocional. Os profissionais, que estão na linha de frente, são forçados a lidar com um alto nível de estresse precisando lançar mão de recursos psicológicos positivos e estratégias de enfrentamento.

O humor, entendido como gostar de rir, brincar e trazer sorrisos para outras pessoas, pode ser considerado uma forma adaptativa de enfrentamento, pois permite a expressão de emoções de modo confortável, sem a ocorrência de efeitos negativos para outros indivíduos. Pesquisas apontam que o humor exerce papel importante no enfrentamento de situações estressoras, contribuindo para resiliência. Além disso, já se sabe que pessoas adeptas dessa estratégia tendem a apresentar menores sintomas de ansiedade e depressão. Abordar uma situação estressante através do humor afeta positivamente a regulação emocional, a avaliação cognitiva e ajuda na reavaliação da situação problemática.

Considerando as evidências apontadas na literatura sobre a influência do humor e diante da incipiência de estudos que investiguem o uso dessa estratégia por profissionais de saúde durante a pandemia da COVID-19, o presente estudo objetivou verificar em que medida o humor tem ajudado profissionais de saúde da Itália a lidar com o estresse relacionado a atual crise em saúde. O levantamento aconteceu entre os meses de maio e julho de 2020 e contou com a participação de 625 médicos e enfermeiros que trabalhavam em hospitais ou serviços de atenção primária. Foram aplicados a Escala de Estresse Percebido, Brief-Cope, Coping Humor Scale e questionário sociodemográfico.

Os resultados mostraram que o estresse percebido relacionado a COVID-19 variou de acordo com os diferentes tipos de exposição ao risco. Os profissionais de saúde que relataram níveis mais elevados de percepção de estresse estavam mais expostos ao vírus, pois trabalhavam em enfermarias dedicadas aos cuidados da doença e/ou entravam em contato com pessoas infectadas. Em relação ao enfrentamento, os participantes que relataram maior uso de estratégias evitativas perceberam a situação como mais estressante do que aqueles que as usaram com menos frequência. O humor foi positivamente associado ao bem-estar dos profissionais de saúde. Além disso, foi identificado que o uso do humor para lidar com fatores de estresse foi considerado independentemente da exposição dos profissionais de saúde a COVID-19, esse achado apoia a visão do senso de humor como um traço disposicional relativamente estável ao longo do tempo e em diferentes situações.

O estudo de estratégias de enfrentamento adaptativas, tais como o humor, é importante, pois permite identificar meios que ajudem a lidar com os desafios impostos pela pandemia. Nesse sentido, é relevante que pesquisadores da psicologia da saúde se dediquem a investigação de fatores que podem apresentar poder protetivo diante de situações de risco, como a vivenciada neste momento devido à COVID-19.

Como ajudar sobreviventes de COVID-19 que sofrem de problemas de saúde física e mental persistentes?

 

Postado por Luanna Silva

Pessoas que não se recuperaram totalmente após contrair a COVID-19 descrevem sintomas como falta de ar, dor aguda nos nervos, dores de cabeça, dores no peito, fadiga, dificuldade de foco e problemas de memória. Ainda não está claro por que algumas pessoas experimentam mais dificuldades após ser infectado do que outras, sendo importante que psicólogos da saúde realizem pesquisas que permitam melhorar a compreensão acerca dos sintomas de longo prazo da COVID-19, assim como buscar esclarecer quais estratégias de intervenção seriam mais eficazes para esse público.

 Segue abaixo trechos da entrevista com a psicóloga de reabilitação no Rush University Medical Center em Chicago, Abigail Hardin, PhD, que tem trabalhado com pessoas que não se recuperaram totalmente após contrair a COVID-19.

Como você está ajudando os pacientes com COVID-19 que acabaram de sair da UTI?

Muitas pessoas estão compreensivelmente preocupadas por estarem perdendo a cabeça quando continuam a alucinar após serem transferidas para a unidade de reabilitação, e ficam aliviadas quando explico que essa é uma reação normal do cérebro a uma situação anormal. Eu os ensino sobre a síndrome pós-terapia intensiva, que inclui sintomas como fraqueza no corpo inteiro, dificuldade para engolir, cognição prejudicada e alterações emocionais, como ansiedade e depressão. Esses sintomas são causados pelo próprio vírus, pela resposta imunológica do corpo, pela imobilidade prolongada e por certos medicamentos sedativos. Se alguém está tendo pesadelos, flashbacks ou dissociação da vida, falo sobre o transtorno de estresse agudo, um precursor do transtorno de estresse pós-traumático. Também ensino técnicas de relaxamento e respiração profunda para reduzir o nível de excitação autônoma, e essas estratégias têm sido altamente eficazes. (...)

O que parece estar funcionando para os pacientes com problemas persistentes?

(...) Os resultados foram melhores quando esses pacientes tentaram terapia de exercícios graduais, o que significa que aumentaram lentamente seus exercícios ao longo do tempo, independentemente do nível de energia. Quando estão sofrendo de fadiga, falamos sobre sua atividade física atual, a importância de fazer um pouco de atividade todos os dias e como usar o tempo como medida de exercício em vez do nível de energia. Também compartilho técnicas de TCC para ajudá-los a identificar padrões de pensamento-sentimento-comportamento que estão exacerbando os sintomas físicos e como mudar esses padrões. (...)

Existe algum outro trabalho de reabilitação inovador sendo feito com pacientes com COVID-19?

James Jackson, PsyD, da Vanderbilt University me ajudou a compreender a importância do apoio dos pares e da terapia de grupo para pessoas que sofreram delirium ou distresse. Os psicólogos da Universidade Johns Hopkins também estão trabalhando com profissionais de saúde e familiares para manter diários de UTI para os pacientes. (...)

Quais são as necessidades dessa população de pacientes daqui para frente?

Minha esperança é que hospitais, sistemas de saúde e o governo se unam para encontrar maneiras de garantir o acesso a psicólogos de reabilitação para que a já trágica pandemia de COVID-19 não se transforme em uma crise crônica de saúde de longo prazo para milhões.

 

A entrevista pode ser lida na íntegra no link: https://www.apa.org/monitor/2021/06/conversation-hardin?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=apa-monitor-pandemics&utm_content=4-questions-hardin

sábado, 15 de maio de 2021

Escala de Estresse Traumático Secundário: Análise fatorial confirmatória com uma amostra nacional de defensores das vítimas

 

The Secondary Traumatic Stress Scale: Confirmatory factor analyses with a national sample of victim advocates

Benuto, L. T., Yang, Y., Ahrendt, A., & Cummings, C. (2018). The Secondary Traumatic Stress Scale: Confirmatory factor analyses with a national sample of victim advocates. Journal of Interpersonal Violence, 00(0), 1-20. https://doi.org/10.1177/0886260518759657

Resenhado por Luana C. Silva-Santos

 

Estresse Traumático Secundário (ETS) é um padrão de sintomas psicológicos que se aproxima dos sintomas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático e ocorre geralmente em profissionais expostos aos indivíduos que sofreram traumas, os defensores das vítimas. Tais profissionais são atuantes na linha de frente de apoio às vítimas de situações traumáticas, como crimes e violência interpessoal, como enfermeiras, psicólogos, psiquiatras e médicos emergencistas. Considerado um fenômeno de alta prevalência nos profissionais e ainda negligenciado pela literatura, o ETS caracteriza-se pela re-experiência pelos profissionais dos eventos traumáticos de seus clientes, por meio de pensamentos, sentimentos e imagens. Esta re-experiência gera sintomas como exaustão, hipervigilância, evitação e entorpecimento. Dada a relevância de haver instrumentos eficazes de rastreio do ETS, Benuto, Yang, Ahrendt e Cummings (2018) objetivaram avaliar as propriedades psicométricas da Escala do Estresse Traumático Secundário (EETS) em uma amostra de profissionais defensores de vítimas.

Participaram 135 sujeitos, com idade média de aproximadamente 38 anos (Média = 37,96; Desvio Padrão = 12,71), em sua maioria mulheres (94%, n = 126). A EETS é um questionário de autorrelato de 17 itens utilizado para avaliar a frequência dos sintomas em três subescalas: intrusão, evitação e excitação, todas especificamente relacionadas à prestação de serviços a vítimas de trauma. O alfa de Cronbach indicou alta consistência tanto na escala em geral (α = 0,93) como nas três subescalas (α = 0,80, 0,85, 0,79, para as subescalas intrusão, evitação e excitação, respectivamente). Os resultados indicaram que tanto o modelo de fator único quanto o modelo de três fatores eram equivalentes. Embora seja necessário trabalho teórico adicional sobre o construto, a EETS demonstrou alta confiabilidade com essa população e, portanto, pode ser usado como parte da avaliação do ETS entre os defensores das vítimas.

Este estudo representa uma primeira tentativa de validar uma medida de ETS entre os defensores das vítimas, uma população única e pouco estudada que está em risco de desenvolver ETS devido ao seu trabalho com indivíduos que sofreram violência interpessoal. O estabelecimento de medidas eficazes, fáceis de administrar e eficientes de ETS é importante, visto que essa população encontra traumas secundários regularmente no contexto de seu trabalho e, se adoecidos, aumentam os índices de absenteísmo e esgotamento, por exemplo.

 

 

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Autoeficácia e qualidade de vida relacionada à saúde: Um estudo transversal de pacientes da atenção primária com multimorbidade

 

Self-efficacy and health-related quality of life: a cross-sectional study of primary care patients with multi-morbidity

 

Peters, M., Potter, C. M., Kelly, L., & Fitzpatrick, R. (2019). Self-efficacy and health-related quality of life: A cross-sectional study of primary care patients with multi-morbidity. Health and quality of life outcomes, 17 1-11. doi: https://doi.org/10.1186/s12955-019-1103-3

 

Resenhado por Geovanna Turri

 

A multimorbidade em condições crônicas de longo prazo é uma grande preocupação para os serviços de saúde, pois afeta direta e indiretamente o estilo de vida dos pacientes, como a qualidade de vida e a carga da doença, impactos sobre cuidadores, serviços de saúde e economia. Ela é definida como duas ou mais condições crônicas de longo prazo e é descrita como a condição crônica mais comum vivenciada por pessoas adultas. Estratégias e diretrizes para gerenciar a multimorbidade são estabelecidas por pesquisadores, políticas de saúde e órgãos governamentais em todo o mundo. O autogerenciamento em conjunto com o atendimento clínico faz parte do manejo eficaz da multimorbidade. Uma das formas de melhorar aspectos da saúde mental de pessoas com multimorbidade é com intervenções direcionadas para o aumento de autoeficácia e, consequentemente, da qualidade de vida. A autoeficácia é um mecanismo pelo qual a autogestão pode ser alcançada e a qualidade de vida pode ser melhorada por meio de um autogerenciamento eficaz. Com base nisso, o presente estudo buscou examinar a relação entre autoeficácia e qualidade de vida em pacientes da atenção primária com multimorbidade.

Uma pesquisa transversal foi realizada com pacientes de cuidados primários na Inglaterra. Os participantes potenciais receberam um questionário contendo medidas de qualidade de vida [o EQ-5D-5L e o Questionário de Condições de Longo Prazo (Long-Term Conditions Questionnaire)], a Escala de Impacto da Carga de Doença (Disease Burden Impact Scale) e a Escala de Autoeficácia para Gerenciar Doenças Crônicas (Self-efficacy for Managing Chronic Disease Scale). Estatísticas descritivas, análise de variância e análises de regressão linear foram conduzidas para examinar a relação entre qualidade de vida, autoeficácia, variáveis ​​demográficas e relacionadas à doença.

O tamanho total da amostra foi de 848 pacientes de cuidados primários com multimorbidade, com média de idade de 67,0 anos. Os resultados mostraram que quase todos os entrevistados relataram ao menos um problema de saúde física e 334 (39,4%) relataram pelo menos um problema de saúde mental. Além disso, os resultados revelaram que a autoeficácia foi menor em participantes que relataram aumento da carga de doença (p < 0,001) e em quem pontuou escores mais baixos nas escalas de qualidade de vida relacionadas à saúde (EQ-5D-5L e EQ-VAS) e no Questionário de Condições de Longo Prazo (todos p < 0,001). A regressão linear foi usada para examinar o impacto da autoeficácia controlada pela carga da doença, outros fatores relacionados à doença e dados demográficos na qualidade de vida dos pacientes com multimorbidade. Todos os três modelos foram estatisticamente significativos (p < 0,001, R2 ajustado > 0,70).

Em suma, pacientes multimórbidos com baixa autoeficácia e maior carga de doença têm menor qualidade de vida. A consciência dos níveis de autoeficácia entre os pacientes com multimorbidade pode ajudar os profissionais de saúde a identificar os pacientes que precisam de suporte aprimorado para o autocuidado. Fornecer suporte de autogestão para pessoas com doenças crônicas tem sido pontuado como fator de extrema relevância pela Psicologia da Saúde, bem como intervenções voltadas para a autoeficácia, visto que este construto pode levar a uma melhor qualidade de vida em casos de morbidade múltipla.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Emoções e estratégias de coping de homens à pandemia da covid-19 no Brasil

 

Sousa, A. R. D., Santana, T. D. S., Moreira, W. C., Sousa, Á. F. L. D., Carvalho, E. S. D. S., & Craveiro, I. (2020). Emoções e estratégias de coping de homens à pandemia da covid-19 no BrasilTexto & Contexto-Enfermagem29.https://doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2020-0248 

 

Resenhado por Franciely Santos

 

A pandemia da COVID-19 afetou toda a população gerando danos incontestáveis, com alta taxa de transmissão e letalidade medidas como o isolamento social foram indicadas para contenção do vírus. Apesar dos benefícios para o controle da pandemia, o distanciamento social tende a gerar sofrimento psíquico. Dessa forma, o uso de estratégias de coping é fundamental para lidar com os eventos estressores da vida, de maneira a acarretar menos danos, e é utilizado para mensurar o impacto de diferentes situações.

Este estudo teve como objetivo observar e mensurar as emoções e estratégias de homens brasileiros frente à COVID-19. Visto que há diferenças no uso de estratégias em relação ao sexo, os homens são ensinados a agir ativamente em diversos momentos, ao passo que as mulheres são levadas a agirem baseadas nos aspectos emocionais. A pesquisa foi feita com 200 homens e a análise do conteúdo destas foi estruturado a partir do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).

Com relação à  frequência das emoções, observou-se principalmente a presença mais prevalente de: ansiedade (54,7%), insegurança (42,4%), estresse (31,7%). De acordo com o estudo realizado, viu-se que a fala da amostra foi coerente com o modelo de coping, estando centrado em duas categorias de estratégias, focada no problema e focada na emoção. Além disso, o discurso foi dividido em três divisões de análise: estratégias focadas no seguimento do protocolo de enfrentamento à pandemia (medidas preventivas recomendadas pelo Ministério da Saúde); estratégias focadas na significação e canalização da emoção (supressão de emoções negativas, controle) e; estratégias focadas no sentido (ressignificação do momento que está sendo vivenciado).

 As emoções negativas refletem o momento pandêmico vivenciado pelas pessoas durante as entrevistas,  o qual gerou impactos e, consequentemente, a busca por estratégias de enfrentamento. Os comportamentos focados no problema surgem quando o indivíduo se percebe como pessoa ativa naquela situação, podendo, através de mudanças de comportamentos, contribuir para resolver ou atenuar a situação. No que concerne a pandemia, respeitar o distanciamento social, usar máscara e higienização, são exemplos de ações adotadas. A busca por apoio social se caracteriza também como uma estratégia ativa, essa auxilia à amortizar os impactos na saúde. Já a supressão emocional, a fim de evitar sentimentos negativos, não resolve o problema e pode ocasionar males futuros. Ademais, conceder sentidos positivos a momentos de dificuldades diminui os efeitos negativos, muitas vezes essas atribuições vêm a partir da espiritualidade.

Diante disso, o estudo contribui para Psicologia da Saúde por ajudar a compreender como as pessoas estão vivenciando a pandemia e quais estratégias estão sendo mais utilizadas e quais são as mais adaptativas. O conhecimento das estratégias de coping funcionais a diferentes situações e experiências contribui para mitigar o sofrimento psíquico e futuros impactos à saúde frente à pandemias, assim, a Psicologia da Saúde deve se aprofundar em pesquisas sobre o tema.

terça-feira, 4 de maio de 2021

Impacto de práticas parentais de peso e dieta na imagem corporal de adolescentes do sexo feminino

 

Guimarães, T.J., Perez, A., & Dunker, K.L.L. (2020). Impacto de práticas parentais de peso e dieta na

imagem corporal de adolescentes do sexo feminino. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 69(1). doi: https://doi.org/10.1590/0047-2085000000262 

 

Resenhado por Ariana Moura

            O sobrepeso e a obesidade pediátrica são considerados um problema mundial de saúde pública. Além das consequências físicas, crianças e adolescentes acima do peso apresentam sofrimento emocional e baixa autoestima, já que sofrem preconceito na escola. Práticas parentais e seus efeitos nos comportamentos dos filhos têm sido discutidos pela literatura. A menor frequência de refeições em família e o comportamento dos pais durante as refeições têm sido associados a uma maior predisposição ao ganho de peso. Portanto, intervenções focadas na prevenção desses problemas devem incluir a participação dos paise também o estudo anterior de práticas parentais que possam ser prejudiciais, para que ações educativas possam ser direcionadas a esse grupo e, dessa forma, influenciar de forma positiva a relação com comida e corpo de crianças e adolescentes.

O objetivo do estudo foi avaliar as práticas parentais relacionadas a alimentação e sua relação com a insatisfação da imagem corporal em adolescentes. A pesquisa foi realizada com 270 adolescentes do sexo feminino de escolas públicas de São Paulo. Dados antropométricos, nível econômico, insatisfação com a imagem corporal, autoestima e práticas parentais sobre a ótica das adolescentes quanto à alimentação e corpo foram coletados.

Nos resultados observou-se que as adolescentes com insatisfação corporal estavam acima do peso, tinham média/baixa autoestima, sofriam provocações relativas ao peso e faziam menos refeições em família. Além disso, apenas os comentários negativos sobre o peso da filha foram considerados como um fator de risco para a insatisfação corporal.

Tendo em vista que os resultados indicaram que as práticas parentais pela percepção das filhas podem ter influências diferentes na insatisfação corporal, tanto a mãe como o pai devem ser incluídos em ações na prevenção de problemas relacionados ao peso em crianças e adolescentes. Essas intervenções devem focar no incentivo às refeições em família, atentando para a importância do modelo dos pais à mesa, evitando o incentivo à restrição alimentar e comentários sobre peso e forma. Os pais devem estimular um ambiente de tranquilidade, comunicação e aceitação, para que, dessa forma, se construa uma autoestima e autoimagem positiva.

Este estudo contribui à Psicologia da Saúde por oferecer indícios de que as práticas parentais referentes à alimentação podem ter influência no excesso de peso e, portanto, no surgimento de transtornos alimentares em adolescentes do sexo feminino. Levando em conta que a obesidade é uma questão de saúde pública é imprescindível que os psicólogos da saúde juntamente com os profissionais da nutrição proponham e executem intervenções individuais e familiares, a fim de educar as famílias a respeito da importância dos hábitos alimentares e sua relação com a saúde mental.