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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Desajuste Social na adolescência: socialização parental, autoestima e uso de substâncias

Riquelme, M., Garcia, O. F., & Serra, E. (2018). Desajuste psicosocial en la adolescencia: Socialización parental, autoestima y uso de sustancias. Anales de Psicología, 34(3), 536–544. http://dx.doi.org/10.6018/analesps.34.3.315201

 

Resenhado por Giulia

 

            O desajuste psicossocial na fase da adolescência tem sido estudado através de uma série de construtos, tais como autoestima, uso de drogas, motivação escolar e problemas de comportamento, tendo sido evidenciada a diminuição das habilidades psicossociais na adolescência tardia. Essa maior suscetibilidade de adolescentes a riscos pode ser explicada pelo desequilíbrio entre a busca pela experimentação de novas emoções e a capacidade de autorregulação, que só se desenvolve completamente na adultez. Além disso, os esforços para conseguir autonomia e identidade pessoal também podem colocar os adolescentes numa posição de maior vulnerabilidade emocional.

            A socialização parental tem forte influência na vulnerabilidade psicossocial dos adolescentes, podendo ter efeitos de risco ou de proteção. As pesquisas nessa temática têm usado um modelo com quatro tipologias de estilos parentais: autoritativo (aceitação/ envolvimento e rigor/imposição), autoritário (sem aceitação/envolvimento, mas com rigor/imposição), indulgente (com aceitação/envolvimento, mas sem rigor/imposição) e negligente (sem aceitação/envolvimento ou rigor/imposição).

            Foi encontrado que os adolescentes tardios (16 a 17 anos) tinham menor autoestima emocional, familiar e física quando comparados aos adolescentes mais novos (12 a 15 anos). Quanto aos estilos parentais, os dados apontaram que o mais protetivo era o indulgente, seguido pelo autoritativo. Os estilos parentais autoritários e negligentes estavam relacionados com maior vulnerabilidade na adolescência. Indivíduos com pais do estilo indulgente e autoritativos tinham maior autoestima familiar, física e emocional quando comparados a pais do estilo negligente e autoritário. Indivíduos de lares indulgentes e autoritativos também relataram menor uso de álcool e outras drogas, se comparados aos demais estilos parentais. Quanto ao gênero, a vulnerabilidade masculina era maior na autoestima familiar, ao passo que as meninas tinham menor autoestima emocional, sendo que a autoestima física afetava igualmente os dois gêneros.

               Conclui-se que a socialização parental pode tanto colocar os adolescentes em maior risco quanto protege-los, a depender do tipo de estilo parental dos lares em que foram criados. É importante que essa variável seja mais profundamente investigada, principalmente em pesquisas com adolescentes, a fim de esclarecer aspectos sobre a influência que os pais exercem no ajuste psicossocial dos filhos. Além disso, a psicologia da saúde poderá desenvolver protocolos para intervir nas áreas de maior desajuste na adolescência, melhorando a qualidade de vida nessa fase da vida.



segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Como o psicólog@ pode entender os riscos de uma gravidez na adolescência?

Postado por Maísa Carvalho

A gravidez na adolescência é um acontecimento não tão incomum na sociedade, sendo algo, por vezes, corriqueiro em determinados contextos sociais e comunidades. Por si só, a adolescência é um período repleto de mudanças para o adolescente: alterações biológicas, questões psicológicas e mudanças físicas visíveis. Somando-se à vivência de uma gravidez, suas particularidades e todas as suas consequências posteriores, a gravidez na adolescência, caso vivida sem o suporte social da família, de outras pessoas significativas e sem o controle de aspectos emocionais, pode se tornar um período de risco para a adolescente e para a gestação. Dessa forma, ressalta-se a importância do monitoramento dos fatores de risco sociais e psicológicos durante essa experiência e a investigação dos fatores de proteção que possam auxiliar a mitigar os efeitos negativos dos aspectos disfuncionais presentes.



segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Associação entre a exposição ao comportamento sedentário e fatores alimentares, sociais e de saúde mental em adolescentes da rede pública estadual de Sergipe

Brandão, C. A., Santos, L. S., Ribeiro, D. S. S., Rodrigues, M. J. R. A., Santos, S. C., Lima, E. O., Guimarães, A. C. S. S., Santos, J. B. N., & Menezes, A. S. (2021). Associação entre a exposição ao comportamento sedentário e fatores alimentares, sociais e de saúde mental em adolescentes da rede pública estadual de Sergipe. Research, Society and Development, 10(4), 1-9. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i4.13938  

Resenhado por Jéssica Dantas

            A exposição ao comportamento sedentário (ECS), que diz respeito à permanência por um período maior a quatro horas por dia em atividades sedentárias, vem sendo apontado como fator negativo de saúde. Tal comportamento tem sido observado com mais frequência na infância e adolescência, principalmente em relação ao tempo de exposição à tela que, pelas recomendações internacionais, teria que ser menos de duas horas por dia. 

            Investigações epidemiológicas têm apontado que a ECS, quando associada a outros comportamentos de risco à saúde, tende a crescer. Especificamente na população juvenil, os índices de ECS são maiores quando estão associados a dietas insuficientes de legumes e verduras, consumo de refrigerantes, dificuldade para dormir e percepção negativa de saúde.

            O presente estudo teve como objetivo analisar a associação da exposição ao comportamento sedentário com fatores alimentares, sociais e de saúde mental em adolescentes escolares da rede pública estadual de Sergipe. Esse estudo compõe um levantamento epidemiológico de natureza transversal intitulado “Tendência secular sobre comportamentos de risco à saúde em adolescentes”. O instrumento utilizado foi uma versão adaptada do Global School - Based Student Health Survey indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Foram analisados quatro fatores psicossociais e dois comportamentos relacionados à alimentação: bullying, percepção negativa de estresse, sentimento de solidão, dificuldade para dormir associada à preocupação, consumo de frutas e verduras e ingestão de refrigerantes. Participaram do estudo 4139 adolescentes entre 14 e 19 anos, de ambos os sexos, regularmente matriculados na rede pública estadual de ensino.

            Os resultados mostraram que os adolescentes, de ambos os sexos, com ECS tiveram maiores chances de apresentar sentimento de solidão e estresse. Especificamente adolescentes do sexo feminino apresentaram maiores chances de consumo de refrigerante uma ou mais vezes por dia. O sentimento de solidão está associado a efeitos adversos em relação à saúde mental, como o desenvolvimento de depressão, ansiedade e pensamentos suicidas. Já o estresse ligado ao sedentarismo desencadeia outros problemas comportamentais como pouco tempo de sono e sonolência durante o dia. A ECS é comumente relacionada à alimentação inadequada com baixa ingestão de frutas e legumes e alto consumo de alimentos calóricos e refrigerantes.

            Estudos que analisem os impactos do estilo de vida e hábitos comportamentais na saúde física e mental dos adolescentes são fundamentais para a psicologia da saúde, pois possibilitam o desenvolvimento de intervenções que auxiliam a redução dos efeitos danosos à saúde dessa população, tanto no âmbito de políticas públicas quanto no âmbito da atuação de profissionais específicos. Sendo, portanto, um conhecimento essencial para a promoção da saúde, bem-estar e qualidade de vida no público juvenil.



quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Resiliência em adolescentes com diabetes tipo 1

Shapiro, J. B., Bryant, F. B., Holmbeck, G. N., Hood, K. K., & Weissberg-Benchell, J. (2021). Do baseline resilience profiles moderate the effects of a resilience-enhancing intervention for adolescents with type I diabetes? Health Psychology, 40(5), 337–346. https://doi.org/10.1037/hea0001076

Resenhado por Ana Beatriz Silveira

 

 O diabetes mellitus é uma doença crônica caracterizada pelo excesso de glicose no sangue, sendo o tipo 1 causado pela deficiência de produção de insulina do pâncreas. A adolescência em si já é considerada uma fase desafiadora, o que exacerba a dificuldade de lidar com uma condição de saúde, principalmente com a diabetes, que demanda maiores mudanças de comportamento. A angústia e o distresse ligados à doença também estão relacionados a esses problemas, entretanto, alguns adolescentes conseguem ser resilientes e se engajar nos comportamentos de manejo recomendados. Duas facetas importantes da resiliência foram identificadas em estudos anteriores: a individual, que inclui as estratégias de enfrentamento ou as formas de resposta ao estresse; e a relacionada à família, visto que relações conflituosas entre o adolescente e a família mostraram estar ligadas a problemas no enfrentamento da doença. Assim, o presente estudo buscou identificar os níveis de resiliência entre adolescentes com diabetes tipo 1 e a influência destes níveis nos desfechos de saúde.

A amostra foi composta por adolescentes de 14 a 18 anos, sendo a maioria do sexo feminino (60%), e identificada como branca não hispânica (66%). Os participantes foram designados aleatoriamente entre um programa de educação em diabetes e outro voltado ao desenvolvimento de resiliência. Foram avaliados aspectos relativos à resiliência (autoeficácia de enfrentamento, resolução de problemas, pensamentos automáticos negativos, desesperança e conflitos familiares relacionados à diabetes) e aos desfechos de saúde (distresse relacionado à diabetes, controle glicêmico, comportamentos de manejo da diabetes e a frequência de monitoramento da glicose), antes da intervenção e quatro meses, oito meses, um ano, dois anos e três anos após a intervenção.

Foram identificados dois perfis de resiliência: alta e baixa. O grupo de alta resiliência demonstrou maiores habilidades de autoeficácia e de resolução racional de problemas, com menor risco de conflito familiar, pensamentos negativos e desesperança. Em relação aos desfechos de saúde, apresentou menor distresse, maior controle glicêmico e maior controle nos comportamentos de manejo. O grupo com baixa resiliência apresentou menor autoeficácia e resolução de problemas mais impulsiva e evitativa, apresentando maior risco de conflito familiar e desesperança, além de maior distresse, menor controle glicêmico e controle deficiente dos comportamentos de manejo.

Ambos os perfis apresentaram menor distresse no grupo que sofreu intervenção de resiliência, sendo beneficiados de forma similar, não corroborando a hipótese de que o perfil de menor resiliência seria mais beneficiado pela intervenção psicológica. Em relação ao nível de glicose, não houve diferença que alterasse as médias dos grupos, ou seja, a intervenção psicológica equiparou-se à de educação em diabetes, em consonância com a literatura mais atual, indo de encontro à hipótese de que a intervenção psicológica seria mais eficaz. Por fim, o perfil de alta resiliência no programa de educação checou mais vezes seu nível de glicose do que os do programa de resiliência, e o outro perfil não apresentou diferença entre os programas. Além disso, não houve discrepância entre os grupos de intervenção em relação aos comportamentos de manejo.

Esse estudo abordou o processo de ajustamento à diabetes e a eficácia de intervenções relacionadas, colaborando para a investigação de métodos mais efetivos para melhorar a qualidade de vida do paciente, um dos objetivos da Psicologia da Saúde.


sábado, 2 de outubro de 2021

A influência da mídia nos transtornos alimentares e na autoimagem em adolescentes

 

Copetti, A. V. S., & Quiroga, C. V. (2018). A influência da mídia nos transtornos alimentares e na autoimagem em adolescentes. Revista de Psicologia da IMED, 10(2), 161-177. https://doi.org/10.18256/2175-5027.2018.v10i2.2664

 

Resenha por Brenda Fernanda

 

A anorexia e a bulimia nervosa são transtornos alimentares (TAs) que possuem origem complexa e multifatorial na qual os adolescentes constituem o grupo de maior ocorrência destes transtornos. Em função da globalização, da utilização exacerbada das mídias sociais e da mudança do padrão estético corrente, é comum que as pessoas busquem e idealizem uma imagem corporal magra, o que pode interferir de forma negativa no comportamento alimentar. Em decorrência da vulnerabilidade mental no período da adolescência, a exposição ao padrão estético “imposto” pela mídia e seu potencial risco para desencadeamento de TAs, este artigo objetivou discutir a forma como a mídia, com foco na internet, e o padrão estético atual podem influenciar no desenvolvimento de TAs em mulheres adolescentes. Constituiu-se de uma revisão narrativa da literatura, na qual foram pesquisadas referências publicadas entre 2012 e 2017 nas bases de dados Scielo, Scopus e Google Acadêmico, utilizando os termos adolescent, anorexia nervosa, bulimia nervosa, communications media e self concept, em diferentes combinações.

Os pontos discutidos pela revisão foram: características de vulnerabilidade à mídia na adolescência, influências da mídia no desenvolvimento dos transtornos alimentares e abordagens de tratamento. De modo geral, observou-se que a mídia promove o consumo e orienta regras e padrões a serem seguidos. A magreza tem sido entendida como um reforçador de status e ascensão social, competência e atratividade sexual. Ao considerar que a adolescência é uma fase de construção e consolidação da identidade, as jovens constituem-se como público vulnerável ao bombardeamento de imagens e introjeções de que tipo de corpo é considerado bonito. A mídia interfere sobre o modo como a população pensa e se comporta. Portanto, compreende-se que a insatisfação das adolescentes com sua imagem é possivelmente desenvolvida pelo corpo idealizado e perfeito disseminado pela mídia. As redes sociais, ainda que indiretamente, podem influenciar na baixa autoestima e necessidade de enquadrar-se ao padrão de beleza. A busca por esse corpo pode levar à alteração no comportamento alimentar e, consequentemente, ao desenvolvimento de TAs.

De acordo com a revisão, a Terapia Cognitivo Comportamental e os grupos psicoeducativos com a participação familiar têm evidências de sucesso no tratamento de alguns TAs. Destacou-se, também, a importância de que mais estudos sejam realizados na área. Em conclusão, n que diz respeito ao tratamento dessas condições, destaca-se a importância de se identificar possíveis fatores de risco para que a intervenção adequada seja realizada. Este é um dos papéis da Psicologia da Saúde.