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sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Regulação emocional, sintomas de ansiedade e depressão em mulheres com histórico de violência conjugal

Zancan, N., & Habigzang, L. F. (2018). Regulação emocional, sintomas de ansiedade e depressão em mulheres com histórico de violência conjugal. Psico-USF23, 253-265. doi: 10.1590/1413-82712018230206

 

Resenhado por Franciely Santos

 

A violência contra a mulher, para além de uma questão individual, é considerado um problema de saúde pública e com forte teor social em decorrência da grande incidência e consequências negativas na saúde da mulher. A violência afeta vários aspectos da vida da vítima, causando danos físicos e psicológicos, privações ou transtornos do desenvolvimento. Apesar de ser expressa nos diversos ambientes, é no convívio doméstico que ocorre com maior frequência. Além disso, é um fator de risco para ansiedade, depressão, transtornos alimentares, bem como para o abuso de álcool e outras drogas.

            Diante disso, o estudo em questão teve como objetivo investigar os níveis de ansiedade, depressão e regulação emocional em mulheres com histórico de violência conjugal, para mais, pretendeu também averiguar as relações entres eles.

            O estudo teve os requisitos para ser definido metodologicamente como quantitativo, correlacional e transversal. Participaram 47 mulheres com histórico de violência conjugal, e média de idade de 32,11 anos. Para avaliar os aspectos propostos, utilizou-se um Questionário de Dados Sociodemográficos, o Inventário de Ansiedade Beck (BAI), Inventário de Depressão Beck (BDI-II), Escala Tática de Conflito Revisada e a Escala de Dificuldades de Regulação Emocional – (DERS).

            De acordo com a análise de dados realizada, observou-se que o nível de ansiedade da amostra foi leve, e o de depressão moderado, sendo que ambos apresentaram correlação positiva. Em relação a regulação emocional, os índices altos indicaram dificuldades na forma de manejar as emoções, o que pode fomentar os conflitos. Esses resultados implicam na dificuldade de romper o ciclo de violência ao qual essas mulheres estão inseridas, e afeta ainda a autoestima e autoimagem das mesmas. Da amostra, 30% fazia uso de psicofármacos, sendo utilizados como estratégias para lidar com todo sofrimento que vivenciavam.

            A contribuição deste estudo para a Psicologia da Saúde foi dada por meio da investigação de fatores psicológicos encontrados na amostra em questão e comuns na população em geral. O número de vítimas de violência doméstica é crescente, e a mesma gera sofrimentos em todos os aspectos da vida. Assim, a Psicologia da Saúde, com a utilização e desenvolvimento de protocolos, acolhe e fornece atendimento em saúde mental a esse público, estando sensível ao contexto e demandas. Além disso, a realização de procedimentos de rastreamento dessas vítimas nas unidades básicas de saúde, visando cuidado e promoção de saúde mental, bem como orientação a respeito das leis e dos direitos dessas mulheres.



quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

A intolerância à frustração no transtorno de jogo pela internet e associação com severidade e depressão

Resenhado por Luiz Guilherme Lima Silva.

Lin, H., Yen, J., Lin, P., & Ko, C. (2021). The frustration intolerance of internet gaming disorder and its association with severity and depression. The Kaohsiung Journal of Medical Sciences, 37(10), 903–909.  https://doi.org/10.1002/kjm2.12394

Com a rápida expansão da internet desde o fim do século XX, o DSM-5 abrigou na seção de condições recomendadas para pesquisas futuras o Transtorno de Jogo pela Internet (TJI). A 11ª edição da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-11) já considera o transtorno de jogo, uma vez que impacta os níveis individuais e de saúde pública daqueles que sofrem com tal síndrome. O tratamento mais indicado para pessoas sofrendo com sintomas de TJI é a aplicação de psicoterapia cognitivo-comportamental. Apesar do avanço na categorização desse transtorno, ainda existem lacunas referentes aos domínios cognitivos que devem ser priorizados em uma intervenção psicoterápica. O estudo em questão analisou o nível de intolerância à frustração de pessoas com TJI e a correlação entre TJI, depressão e intolerância à frustração em pessoas com esse diagnóstico.

Participaram do estudo 207 pessoas com TJI, que incluíram jogadores regulares e não jogadores com idades entre 20 e 38 anos. O critério diagnóstico para inclusão de pessoas com TJI levou em consideração uma entrevista clínica diagnóstica com um psiquiatra especialista no transtorno e teve como base os critérios diagnósticos disponibilizados pelo DSM-5. Foram utilizados como instrumentos de diagnóstico a C-M.I.N.I (versão chinesa da Mini-International Neuropsychiatric Interview), os critérios diagnósticos do DSM-5 para TJI, escala de desconforto à frustração, a Chen internet addiction scale (CIAS) e a versão chinesa da Center for Epidemiological Studies Depression Scale (CES-D).

Os resultados demonstraram que o grupo com TJI pontuou maiores níveis na escala de intolerância à frustração e suas subescalas. A partir de uma regressão logística, verificou-se que a intolerância à frustação se associou ao TJI e, por meio de uma análise de correlação, a depressão se associou positivamente em ambos os grupos. Evidenciou-se também em uma regressão linear que o fator mais relevante para o aumento da severidade de TJI foi a faceta denominada direito, que é constituinte da intolerância à frustração. Diante de tais resultados, é imprescindível que nas intervenções clínicas com indivíduos com TJI um dos objetivos seja a diminuição dos níveis de intolerância à frustração, uma vez que eles tendem a ter mais sintomas depressivos devido às crenças de intolerância ao desconforto e de conquista.

A Psicologia da Saúde, subárea da Psicologia que se ocupa em promover saúde e ensinar técnicas mais adaptativas frente ao estresse enfrentado pelos pacientes, pode promover uma maior qualidade de vida para as pessoas com TJI por meio de intervenções que se utilizem das práticas baseadas em evidência em Psicologia. Ainda referente ao campo da Psicologia da Saúde, os pesquisadores podem realizar estudos empíricos e de intervenção com o referido público a fim de elucidar questões referentes aos mecanismos de enfrentamento às adversidades que as pessoas com TJI apresentam em seu cotidiano.



terça-feira, 7 de dezembro de 2021

O papel da autoeficácia, da autoestima e do autoconceito na depressão em adolescentes

Nunes, D., & Faro, A. (2021). El papel de la autoeficacia, la autoestima y el autoconcepto en la depresión en adolescentes. Ciencias Psicológicas, 15(2), 2164. https://doi.org/10.22235/cp.v15i2.2164

 

Resenhado por Luíza Ramos

 

            A adolescência é um período de potencial vulnerabilidade, em que grande parte da carga de doenças mentais surge. Os distúrbios emocionais, incluindo a depressão, são os mais frequentes e representam impacto significativo na etiologia de outras doenças e incapacidades. Na adolescência, a depressão se caracteriza pela presença de humor irritável e instável, perda de energia, apatia e desinteresses relevantes, além de alterações no sono e sentimentos de desesperança e culpa. O início de depressão nesse período da vida está associado a maior prejuízo funcional, comorbidades psiquiátricas e suicídio. Um conjunto de crenças sobre si mesmo, incluindo o autoconceito, a autoestima e a autoeficácia, exerce papel moderador da ocorrência de depressão, atuando como fator protetivo ou potencializando a presença de sintomas. A autoeficácia se refere às crenças do indivíduo acerca da sua capacidade de organizar e executar determinado curso de ação para alcançar um resultado. A autoestima diz respeito à avaliação subjetiva de um indivíduo sobre os seus valores como pessoa. Já o autoconceito é um construto que envolve a percepção das pessoas sobre si mesmas em diferentes domínios, incluindo social, familiar, físico, entre outros. Assim, o objetivo do estudo foi avaliar a capacidade de predição da autoeficácia, autoestima e autoconceito sobre a sintomatologia depressiva em adolescentes.

            A amostra foi constituída por 501 adolescentes, selecionados por conveniência em escolas públicas e particulares do Nordeste brasileiro. A coleta de dados foi feita de forma presencial e utilizou-se um questionário sociodemográfico, a Escala de Autoeficácia Geral Percebida, a Escala de Autoconceito Multidimensional, a Escala de Autoestima de Rosenberg e o Questionário de Saúde do Paciente, este último para rastrear os sintomas depressivos. A princípio, foram realizadas análises exploratórias dos dados e em seguida obtiveram as estatísticas descritivas. Para avaliação da predição dos sintomas de depressão, conduziu-se uma análise de regressão linear múltipla. A partir do resultado, verificou-se o papel moderador das variáveis gênero e idade na relação entre depressão e as variáveis preditoras.

            Quase metade dos adolescentes apresentou diagnóstico positivo de rastreamento para depressão e níveis moderados nos três construtos avaliados. Apenas a autoeficácia foi preditora negativa da sintomatologia, ou seja, níveis rebaixados de autoeficácia foram preditivos para níveis mais altos de sintomas depressivos. A autoeficácia, portanto, pode produzir sintomas depressivos através de três caminhos. O primeiro seria a partir das discrepâncias entre as aspirações pessoais e as habilidades percebidas, o segundo seria por meio de um baixo senso de eficácia pessoal para desenvolver relacionamentos interpessoais satisfatórios que auxiliem no controle de estressores crônicos e, por fim, uma terceira via se daria através do baixo senso de exercer controle sobre os próprios pensamentos depressivos. Viu-se, ainda, que a relação entre sintomatologia depressiva e autoeficácia não foi moderada pelas variáveis idade e gênero. Isso demonstra que a capacidade da autoeficácia de predizer sintomas depressivos não sofre influência significativa dessas variáveis sociodemográficas.

            Dessa forma, analisar construtos cognitivos como preditores de depressão contribui tanto na avaliação, visto que se identifica quais indivíduos apresentam maior vulnerabilidade, quando no tratamento, a partir da elaboração de estratégias para o desenvolvimento de crenças mais adaptativas sobre si mesmos. Os achados fornecem subsídios para a Psicologia da Saúde ao passo que permitem a elaboração de protocolos de intervenção e práticas mais assertivas.