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sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Regulação emocional, sintomas de ansiedade e depressão em mulheres com histórico de violência conjugal

Zancan, N., & Habigzang, L. F. (2018). Regulação emocional, sintomas de ansiedade e depressão em mulheres com histórico de violência conjugal. Psico-USF23, 253-265. doi: 10.1590/1413-82712018230206

 

Resenhado por Franciely Santos

 

A violência contra a mulher, para além de uma questão individual, é considerado um problema de saúde pública e com forte teor social em decorrência da grande incidência e consequências negativas na saúde da mulher. A violência afeta vários aspectos da vida da vítima, causando danos físicos e psicológicos, privações ou transtornos do desenvolvimento. Apesar de ser expressa nos diversos ambientes, é no convívio doméstico que ocorre com maior frequência. Além disso, é um fator de risco para ansiedade, depressão, transtornos alimentares, bem como para o abuso de álcool e outras drogas.

            Diante disso, o estudo em questão teve como objetivo investigar os níveis de ansiedade, depressão e regulação emocional em mulheres com histórico de violência conjugal, para mais, pretendeu também averiguar as relações entres eles.

            O estudo teve os requisitos para ser definido metodologicamente como quantitativo, correlacional e transversal. Participaram 47 mulheres com histórico de violência conjugal, e média de idade de 32,11 anos. Para avaliar os aspectos propostos, utilizou-se um Questionário de Dados Sociodemográficos, o Inventário de Ansiedade Beck (BAI), Inventário de Depressão Beck (BDI-II), Escala Tática de Conflito Revisada e a Escala de Dificuldades de Regulação Emocional – (DERS).

            De acordo com a análise de dados realizada, observou-se que o nível de ansiedade da amostra foi leve, e o de depressão moderado, sendo que ambos apresentaram correlação positiva. Em relação a regulação emocional, os índices altos indicaram dificuldades na forma de manejar as emoções, o que pode fomentar os conflitos. Esses resultados implicam na dificuldade de romper o ciclo de violência ao qual essas mulheres estão inseridas, e afeta ainda a autoestima e autoimagem das mesmas. Da amostra, 30% fazia uso de psicofármacos, sendo utilizados como estratégias para lidar com todo sofrimento que vivenciavam.

            A contribuição deste estudo para a Psicologia da Saúde foi dada por meio da investigação de fatores psicológicos encontrados na amostra em questão e comuns na população em geral. O número de vítimas de violência doméstica é crescente, e a mesma gera sofrimentos em todos os aspectos da vida. Assim, a Psicologia da Saúde, com a utilização e desenvolvimento de protocolos, acolhe e fornece atendimento em saúde mental a esse público, estando sensível ao contexto e demandas. Além disso, a realização de procedimentos de rastreamento dessas vítimas nas unidades básicas de saúde, visando cuidado e promoção de saúde mental, bem como orientação a respeito das leis e dos direitos dessas mulheres.



quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

A intolerância à frustração no transtorno de jogo pela internet e associação com severidade e depressão

Resenhado por Luiz Guilherme Lima Silva.

Lin, H., Yen, J., Lin, P., & Ko, C. (2021). The frustration intolerance of internet gaming disorder and its association with severity and depression. The Kaohsiung Journal of Medical Sciences, 37(10), 903–909.  https://doi.org/10.1002/kjm2.12394

Com a rápida expansão da internet desde o fim do século XX, o DSM-5 abrigou na seção de condições recomendadas para pesquisas futuras o Transtorno de Jogo pela Internet (TJI). A 11ª edição da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-11) já considera o transtorno de jogo, uma vez que impacta os níveis individuais e de saúde pública daqueles que sofrem com tal síndrome. O tratamento mais indicado para pessoas sofrendo com sintomas de TJI é a aplicação de psicoterapia cognitivo-comportamental. Apesar do avanço na categorização desse transtorno, ainda existem lacunas referentes aos domínios cognitivos que devem ser priorizados em uma intervenção psicoterápica. O estudo em questão analisou o nível de intolerância à frustração de pessoas com TJI e a correlação entre TJI, depressão e intolerância à frustração em pessoas com esse diagnóstico.

Participaram do estudo 207 pessoas com TJI, que incluíram jogadores regulares e não jogadores com idades entre 20 e 38 anos. O critério diagnóstico para inclusão de pessoas com TJI levou em consideração uma entrevista clínica diagnóstica com um psiquiatra especialista no transtorno e teve como base os critérios diagnósticos disponibilizados pelo DSM-5. Foram utilizados como instrumentos de diagnóstico a C-M.I.N.I (versão chinesa da Mini-International Neuropsychiatric Interview), os critérios diagnósticos do DSM-5 para TJI, escala de desconforto à frustração, a Chen internet addiction scale (CIAS) e a versão chinesa da Center for Epidemiological Studies Depression Scale (CES-D).

Os resultados demonstraram que o grupo com TJI pontuou maiores níveis na escala de intolerância à frustração e suas subescalas. A partir de uma regressão logística, verificou-se que a intolerância à frustação se associou ao TJI e, por meio de uma análise de correlação, a depressão se associou positivamente em ambos os grupos. Evidenciou-se também em uma regressão linear que o fator mais relevante para o aumento da severidade de TJI foi a faceta denominada direito, que é constituinte da intolerância à frustração. Diante de tais resultados, é imprescindível que nas intervenções clínicas com indivíduos com TJI um dos objetivos seja a diminuição dos níveis de intolerância à frustração, uma vez que eles tendem a ter mais sintomas depressivos devido às crenças de intolerância ao desconforto e de conquista.

A Psicologia da Saúde, subárea da Psicologia que se ocupa em promover saúde e ensinar técnicas mais adaptativas frente ao estresse enfrentado pelos pacientes, pode promover uma maior qualidade de vida para as pessoas com TJI por meio de intervenções que se utilizem das práticas baseadas em evidência em Psicologia. Ainda referente ao campo da Psicologia da Saúde, os pesquisadores podem realizar estudos empíricos e de intervenção com o referido público a fim de elucidar questões referentes aos mecanismos de enfrentamento às adversidades que as pessoas com TJI apresentam em seu cotidiano.



terça-feira, 7 de dezembro de 2021

O papel da autoeficácia, da autoestima e do autoconceito na depressão em adolescentes

Nunes, D., & Faro, A. (2021). El papel de la autoeficacia, la autoestima y el autoconcepto en la depresión en adolescentes. Ciencias Psicológicas, 15(2), 2164. https://doi.org/10.22235/cp.v15i2.2164

 

Resenhado por Luíza Ramos

 

            A adolescência é um período de potencial vulnerabilidade, em que grande parte da carga de doenças mentais surge. Os distúrbios emocionais, incluindo a depressão, são os mais frequentes e representam impacto significativo na etiologia de outras doenças e incapacidades. Na adolescência, a depressão se caracteriza pela presença de humor irritável e instável, perda de energia, apatia e desinteresses relevantes, além de alterações no sono e sentimentos de desesperança e culpa. O início de depressão nesse período da vida está associado a maior prejuízo funcional, comorbidades psiquiátricas e suicídio. Um conjunto de crenças sobre si mesmo, incluindo o autoconceito, a autoestima e a autoeficácia, exerce papel moderador da ocorrência de depressão, atuando como fator protetivo ou potencializando a presença de sintomas. A autoeficácia se refere às crenças do indivíduo acerca da sua capacidade de organizar e executar determinado curso de ação para alcançar um resultado. A autoestima diz respeito à avaliação subjetiva de um indivíduo sobre os seus valores como pessoa. Já o autoconceito é um construto que envolve a percepção das pessoas sobre si mesmas em diferentes domínios, incluindo social, familiar, físico, entre outros. Assim, o objetivo do estudo foi avaliar a capacidade de predição da autoeficácia, autoestima e autoconceito sobre a sintomatologia depressiva em adolescentes.

            A amostra foi constituída por 501 adolescentes, selecionados por conveniência em escolas públicas e particulares do Nordeste brasileiro. A coleta de dados foi feita de forma presencial e utilizou-se um questionário sociodemográfico, a Escala de Autoeficácia Geral Percebida, a Escala de Autoconceito Multidimensional, a Escala de Autoestima de Rosenberg e o Questionário de Saúde do Paciente, este último para rastrear os sintomas depressivos. A princípio, foram realizadas análises exploratórias dos dados e em seguida obtiveram as estatísticas descritivas. Para avaliação da predição dos sintomas de depressão, conduziu-se uma análise de regressão linear múltipla. A partir do resultado, verificou-se o papel moderador das variáveis gênero e idade na relação entre depressão e as variáveis preditoras.

            Quase metade dos adolescentes apresentou diagnóstico positivo de rastreamento para depressão e níveis moderados nos três construtos avaliados. Apenas a autoeficácia foi preditora negativa da sintomatologia, ou seja, níveis rebaixados de autoeficácia foram preditivos para níveis mais altos de sintomas depressivos. A autoeficácia, portanto, pode produzir sintomas depressivos através de três caminhos. O primeiro seria a partir das discrepâncias entre as aspirações pessoais e as habilidades percebidas, o segundo seria por meio de um baixo senso de eficácia pessoal para desenvolver relacionamentos interpessoais satisfatórios que auxiliem no controle de estressores crônicos e, por fim, uma terceira via se daria através do baixo senso de exercer controle sobre os próprios pensamentos depressivos. Viu-se, ainda, que a relação entre sintomatologia depressiva e autoeficácia não foi moderada pelas variáveis idade e gênero. Isso demonstra que a capacidade da autoeficácia de predizer sintomas depressivos não sofre influência significativa dessas variáveis sociodemográficas.

            Dessa forma, analisar construtos cognitivos como preditores de depressão contribui tanto na avaliação, visto que se identifica quais indivíduos apresentam maior vulnerabilidade, quando no tratamento, a partir da elaboração de estratégias para o desenvolvimento de crenças mais adaptativas sobre si mesmos. Os achados fornecem subsídios para a Psicologia da Saúde ao passo que permitem a elaboração de protocolos de intervenção e práticas mais assertivas.



quinta-feira, 25 de novembro de 2021

O conceito da síndrome de “sintomas medicamente inexplicados” e o modelo de tratamento cognitivo-comportamental

 Scott, M. J., Crawford, J. S., Geraghty, K. J., & Marks, D. F. (2021). The ‘medically unexplained symptoms’ syndrome concept and the cognitive-behavioral treatment model. Journal of Health Psychologyhttps://doi.org/10.1177/13591053211038042

Resenha por Giulia

            Sintomas medicamente inexplicados (SMI) são ocorrências comuns nas práticas de saúde. Esse é um termo guarda-chuva que se refere a uma variedade de queixas corporais persistentes para as quais o exame comum não aponta a presença de uma patologia específica. Alguns exemplos desses sintomas são: fadiga, tontura, dor resistente, dores de cabeça e incômodos musculoesqueléticos. Diferentemente de outras condições médicas, nesses casos não há causas orgânicas conhecidas ou aspectos biomédicos relacionados aos sintomas. Há pouco tempo, começou-se a classificar esse fenômeno como uma síndrome, o que possibilita a utilização de tratamentos do modelo cognitivo-comportamental (MCC), baseando-se na premissa de que existem comunalidades entre todas as manifestações de SMI. Entretanto, críticas têm sido feitas quanto a validade do diagnóstico e a credibilidade do tratamento com o MCC.

                      Primeiramente, a categoria diagnóstica dos SMI inclui cerca de um terço dos pacientes da atenção básica, o que pode expor a artificialidade do conceito, principalmente porque as evidências que apoiam esse quadro são derivadas de estudos metodologicamente frágeis. Alguns críticos também expressam preocupações relacionadas à consideração de tudo que é “inexplicado” como sendo decorrente de disfunções comportamentais ou cognitivas. Além do mais, os modelos explicativos dos SMI falham em explicitar fatores de predisposição, precipitantes e perpetuadores.

                Conforme o MCC, crenças disfuncionais sobre a doença estão ligadas a um pior prognóstico. Contudo, a terapia cognitiva-comportamental não tem apresentado bons resultados na mudança de crenças de pacientes com SMI, possivelmente porque eles não desejam mudar o modo como pensam e se comportam. Consequentemente, cria-se um ciclo vicioso no qual o exame médico revela as crenças e comportamentos prejudiciais dos pacientes, levando-os a procurar um terapeuta cognitivo-comportamental, que por sua vez, não é eficaz, e então se reinicia o ciclo com o retorno aos exames médicos. Isso gera sentimentos de raiva, culpa e frustração no paciente.

Pacientes com SMI também costumam ser deslegitimados por profissionais da saúde, um fenômeno que alguns pesquisadores denominam como “Está tudo na sua cabeça”. Esses profissionais tendem a atribuir sintomas inexplicados a processos psicológicos quando os percebem como imaginários, exagerados ou como um reflexo de condições como ansiedade, estresse e depressão. Tal tratamento perpetua o sofrimento dos pacientes e esgota os recursos de saúde disponíveis para os seus cuidados, podendo gerar um “viés de confirmação”, no qual o paciente inventa melhoras na tentativa de agradar o profissional ou justificar os esforços do tratamento. Assim, nesses casos, a adoção do MCC pode ser prejudicial, pois enviesa negativamente o modo como o profissional aborda o paciente com SMI, deixando-os sem o suporte apropriado, o que gera estressores que podem intensificar as queixas fisiopatológicas que apresentam.

            Diante das problemáticas levantadas acima acerca da validade e credibilidade do quadro diagnóstico do SMI e seu tratamento, revela-se crucial a realização de mais estudos que focalizem o tratamento desses casos, especialmente no campo da terapia cognitivo-comportamental, a fim de fornecer evidências robustas que possibilitem desenvolver protocolos de tratamento interdisciplinares empiricamente eficazes. A ampliação dos estudos permitirá também identificar o que não funciona nas práticas de cuidado com SMI, superando técnicas e ideias improdutivas ou danosas. Ressalta-se, por fim, que profissionais da saúde devem receber treinamentos direcionados para o atendimento de pacientes com essas manifestações clínicas, utilizando-se dos conhecimentos da psicologia clínica e da saúde.

                                 

 

domingo, 7 de novembro de 2021

A percepção da experiência de primeiro aprisionamento em uma unidade prisional

 Bahiano, M. D. A., Turri, G. S. S., & Faro, A. (2021). A Percepção da Experiência de Primeiro Aprisionamento em uma Unidade Prisional. Psicologia: Ciência e Profissão, 41. https://doi.org/10.1590/1982-3703003217678

 

Resenhado por Luíza Ramos

 

           

Com a entrada na prisão, o espaço de convivência é reduzido e amplamente controlado. Necessidades básicas como saúde, alimentação, higiene, contato com familiares e vida sexual passam a ser gerenciadas pelo Estado ou pela instituição penal. Somado a isso, uma rotina de privações, preocupações, ócio, agressividade e violência tornam o cárcere um ambiente hostil e estressante. O primeiro aprisionamento representa uma mudança repentina no modo de vida devido ao afastamento abrupto do núcleo familiar e social. A experiência de viver na prisão e as expectativas e incertezas quanto às demandas judiciais e o futuro expõem o apenado a um risco maior de acometimento por perturbações mentais comuns, o que torna o indivíduo mais suscetível ao adoecimento mental e a reações psicológicas motivadas por alta exposição a estresse agudo e cronificante. Este estudo buscou compreender o modo como os internos percebem suas experiências na prisão e como pensam o seu futuro, além de apontar estressores e comportamentos adaptativos que se manifestam nesse contexto.

A pesquisa foi realizada no Conjunto Penal de Paulo Afonso, na Bahia, com homens em primeira experiência de privação de liberdade. A amostra final foi composta por 61 internos, selecionados por conveniência, que consentiram a participação no estudo e eram capazes de descrever de maneira apurada suas vivências no ambiente penitenciário. Os detentos foram divididos em dois grupos: o grupo 1 (G1), com 42 internos em regime provisório; e o grupo 2 (G2), com 19 internos que já foram sentenciados. Utilizou-se um questionário sociodemográfico e a técnica de livre evocação de palavras, a partir dos termos indutores “prisão” e “futuro”. A análise dos dados sociodemográficos foi feita no programa estatístico SPSS e a análise das evocações foi realizada por meio do programa OpenEvoc, que permite analisar estatisticamente as evocações da amostra, agrupando em quadrantes, considerando ordem e frequência das respostas.

Os principais elementos evocados que compuseram o núcleo central foram “ruim” no G1, e “sofrimento” no G2, enquanto as palavras evocadas mais rapidamente foram “saudade” e “adoecimento” no G1 e no G2 foi a palavra “ruim”. Entendeu-se que a experiência do primeiro aprisionamento pode aumentar a vulnerabilidade do indivíduo ao adoecimento físico e mental, visto que foi caracterizada como algo predominantemente negativo. No primeiro aprisionamento, o custodiado precisa se desadaptar da vida pregressa e se adaptar à nova realidade, situação que pode explicar porque a palavra “saudade” foi evocada pelos internos e está provavelmente associada à ruptura brusca dos laços familiares e à perda de contatos com a rede social. Quanto às evocações sobre o termo indutor “futuro”, observou-se que os dois grupos apresentaram expectativas positivas para o recomeço de sua vida em liberdade, com o aparecimento de termos como “responsabilidade”, “fé” e “família”. Com tais conteúdos, notou-se a presença de comportamentos positivos no processo de adaptação do indivíduo no ambiente penitenciário.

Por fim, a partir do discurso evocado, profissionais da saúde e de áreas afins podem identificar fatores de risco e de proteção que auxiliem na atenção e prestação de cuidados em saúde, tanto física quanto mental, do interno, além de auxiliar na identificação de desordens mentais comuns e problemas de adaptação à vida na prisão.

 

sábado, 6 de novembro de 2021

Estratégias de enfrentamento em pacientes com dor neuropática

 Gonsalves, I. M., & Lucena, B. B. de. (2021). A relação entre o uso do Instagram e o comportamento compulsivo por compras. Brazilian Journal of Development, 7(6). doi: https://doi.org/10.34117/bjdv7n6-651

 

Resenhado por Ariana Moura

 

A compra compulsiva pode ser compreendida como o comportamento de compra incontrolável e repetitivo que leva ao estresse e traz prejuízos ao indivíduo. As pessoas com comportamento de compra compulsiva costumam comprar objetos e materiais em quantidades maiores do que o necessário, possivelmente, nunca serão utilizados. Esse comportamento costuma comprometer o tempo, as finanças e as relações sociais. O Instagram, por sua vez, é uma rede social na qual os usuários compartilham fotos e vídeos com pessoas próximas, entretanto, a plataforma tornou-se um meio comercial, no qual diversas empresas e marcas possuem perfis e divulgam seus produtos de modo interativo com seu público-alvo, estabelecendo um mecanismo de venda com ferramentas que aumentam a probabilidade de compra por parte do consumidor. 

O objetivo da pesquisa foi identificar a prevalência do comportamento compulsivo por compras e os fatores a ele relacionados e verificar como o Instagram se configura como uma ferramenta de consumo para adultos jovens. A amostra foi composta por 180 sujeitos, com idades entre 18 e 25, entre homens e mulheres. Para a coleta de dados utilizou-se um Questionário sociodemográfico e de uso do Instagram desenvolvido pelos próprios autores e a Escala Richmond para avaliar a presença de comportamentos característicos do comprar compulsivo. A análise qualitativa dos dados se deu a partir da análise de conteúdo de Bardin e os dados quantitativos foram analisados pelo software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).

Os resultados qualitativos indicaram que o Instagram tem funcionado como ferramenta para o aumento da visibilidade profissional, possibilidade de ter mais voz/influência, para comprar o que não precisa e influência para compras relacionada à desregulação emocional.  A maioria dos participantes (92,7%) relatou que já se sentiu influenciado a comprar algo que viu nessa rede social. Destes, 11,2% apresentaram comportamento de compra compulsiva na escala Richmond, estando este comportamento associado a possuir renda própria (p = 0,03) e o comportamento de comprar para se sentir melhor consigo mesmo (p = 0,01).

Além disso, viu-se que o Instagram foi considerado como um importante mediador dos hábitos de consumo dos participantes. Também foi possível perceber que muitos usuários utilizam o Instagram como espaço de liberdade de exposição e para divulgação de seus conteúdos profissionais, considerando a rede social como um espaço de aproximação entre usuários, e entre empresas e possíveis clientes.

Este estudo, no âmbito do comportamento compulsivo por compras, pode contribuir para o desenvolvimento da Psicologia da Saúde, uma vez que, este comportamento ainda não apresenta classificação nosológica que facilite o diagnóstico e a ascensão do Instagram como plataforma de difusão muito importante para o mercado consumidor.

 Em virtude disso, essa pesquisa se mostra relevante, podendo trazer contribuições ao meio acadêmico ao preencher lacunas na compreensão dos fenômenos contemporâneos que serão abordados.

 

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Estratégias de enfrentamento em pacientes com dor neuropática

 Laluce, T.O., Dalul, C.M., Martins, M.R.I., Ribeiro, R.C.H., Almeida, F.C. & Cesarino, C.B. (2019).  Coping strategies in patients with neuropatic pain. Revista da Sociedade Brasileira para o estudo da dor2(3), 260-266. https://doi.org/10.5935/2595-0118.20190046

 

Resenhado por Catiele Reis

 

A dor crônica neuropática é definida como uma sensação negativa e intensa sentida em uma área lesionada, neste caso, os nervos do corpo. Sendo classificada como aguda ou crônica, a dor neuropática tem origem multifatorial, causa impactos negativos sobre a vida das pessoas e leva as pessoas a ativarem diversas estratégias de enfrentamento. O objetivo deste estudo foi identificar, analisar as diversas estratégias de enfrentamento de dor crônica neuropática, relacioná-las com as características sociodemográficas, a intensidade da dor e a alexitimia.

O estudo foi classificado como descritivo e transversal tendo como participantes, 61 pacientes com dor neuropática que foram atendidos na Clínica da Dor no período de agosto a dezembro de 2017. Para a coleta de dados dos pacientes com dor neuropática foram utilizados os instrumentos: entrevista semiestruturada, o questionário sobre dor neuropática Douleur Neuropathique 4 Questions, a Escala de Alexitimia e a Escala Modos de Enfrentamento de Problemas. A análise de dados foi feita com o auxílio do Excel e usou a análise de variância da ANOVA e o teste de comparação de Turkey para testar os resultados. Foi adotado o nível de significância < 0,05 para os resultados.

Na análise dos resultados, percebeu-se que dos 61 pacientes com dor neuropática, a maioria era mulher, com idade média de 50,67 anos, baixa escolaridade, e que possuíam doenças neuropáticas como a causa principal da dor. Percebeu-se que a maioria das pessoas utilizaram estratégias com foco no problema (procura por médico e focalização no problema), seguida do uso de práticas religiosas e a busca pelo suporte social. Tais estratégias foi vista como uma atitude positiva no enfrentamento da dor neuropática. apesar dos problemas físicos. A alexitimia do grupo que usaram estratégias focadas para a problema é maior, especialmente no subgrupo dos homens com dor neuropática crônica.

                        

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Desajuste Social na adolescência: socialização parental, autoestima e uso de substâncias

Riquelme, M., Garcia, O. F., & Serra, E. (2018). Desajuste psicosocial en la adolescencia: Socialización parental, autoestima y uso de sustancias. Anales de Psicología, 34(3), 536–544. http://dx.doi.org/10.6018/analesps.34.3.315201

 

Resenhado por Giulia

 

            O desajuste psicossocial na fase da adolescência tem sido estudado através de uma série de construtos, tais como autoestima, uso de drogas, motivação escolar e problemas de comportamento, tendo sido evidenciada a diminuição das habilidades psicossociais na adolescência tardia. Essa maior suscetibilidade de adolescentes a riscos pode ser explicada pelo desequilíbrio entre a busca pela experimentação de novas emoções e a capacidade de autorregulação, que só se desenvolve completamente na adultez. Além disso, os esforços para conseguir autonomia e identidade pessoal também podem colocar os adolescentes numa posição de maior vulnerabilidade emocional.

            A socialização parental tem forte influência na vulnerabilidade psicossocial dos adolescentes, podendo ter efeitos de risco ou de proteção. As pesquisas nessa temática têm usado um modelo com quatro tipologias de estilos parentais: autoritativo (aceitação/ envolvimento e rigor/imposição), autoritário (sem aceitação/envolvimento, mas com rigor/imposição), indulgente (com aceitação/envolvimento, mas sem rigor/imposição) e negligente (sem aceitação/envolvimento ou rigor/imposição).

            Foi encontrado que os adolescentes tardios (16 a 17 anos) tinham menor autoestima emocional, familiar e física quando comparados aos adolescentes mais novos (12 a 15 anos). Quanto aos estilos parentais, os dados apontaram que o mais protetivo era o indulgente, seguido pelo autoritativo. Os estilos parentais autoritários e negligentes estavam relacionados com maior vulnerabilidade na adolescência. Indivíduos com pais do estilo indulgente e autoritativos tinham maior autoestima familiar, física e emocional quando comparados a pais do estilo negligente e autoritário. Indivíduos de lares indulgentes e autoritativos também relataram menor uso de álcool e outras drogas, se comparados aos demais estilos parentais. Quanto ao gênero, a vulnerabilidade masculina era maior na autoestima familiar, ao passo que as meninas tinham menor autoestima emocional, sendo que a autoestima física afetava igualmente os dois gêneros.

               Conclui-se que a socialização parental pode tanto colocar os adolescentes em maior risco quanto protege-los, a depender do tipo de estilo parental dos lares em que foram criados. É importante que essa variável seja mais profundamente investigada, principalmente em pesquisas com adolescentes, a fim de esclarecer aspectos sobre a influência que os pais exercem no ajuste psicossocial dos filhos. Além disso, a psicologia da saúde poderá desenvolver protocolos para intervir nas áreas de maior desajuste na adolescência, melhorando a qualidade de vida nessa fase da vida.



segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Como o psicólog@ pode entender os riscos de uma gravidez na adolescência?

Postado por Maísa Carvalho

A gravidez na adolescência é um acontecimento não tão incomum na sociedade, sendo algo, por vezes, corriqueiro em determinados contextos sociais e comunidades. Por si só, a adolescência é um período repleto de mudanças para o adolescente: alterações biológicas, questões psicológicas e mudanças físicas visíveis. Somando-se à vivência de uma gravidez, suas particularidades e todas as suas consequências posteriores, a gravidez na adolescência, caso vivida sem o suporte social da família, de outras pessoas significativas e sem o controle de aspectos emocionais, pode se tornar um período de risco para a adolescente e para a gestação. Dessa forma, ressalta-se a importância do monitoramento dos fatores de risco sociais e psicológicos durante essa experiência e a investigação dos fatores de proteção que possam auxiliar a mitigar os efeitos negativos dos aspectos disfuncionais presentes.



segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Associação entre a exposição ao comportamento sedentário e fatores alimentares, sociais e de saúde mental em adolescentes da rede pública estadual de Sergipe

Brandão, C. A., Santos, L. S., Ribeiro, D. S. S., Rodrigues, M. J. R. A., Santos, S. C., Lima, E. O., Guimarães, A. C. S. S., Santos, J. B. N., & Menezes, A. S. (2021). Associação entre a exposição ao comportamento sedentário e fatores alimentares, sociais e de saúde mental em adolescentes da rede pública estadual de Sergipe. Research, Society and Development, 10(4), 1-9. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i4.13938  

Resenhado por Jéssica Dantas

            A exposição ao comportamento sedentário (ECS), que diz respeito à permanência por um período maior a quatro horas por dia em atividades sedentárias, vem sendo apontado como fator negativo de saúde. Tal comportamento tem sido observado com mais frequência na infância e adolescência, principalmente em relação ao tempo de exposição à tela que, pelas recomendações internacionais, teria que ser menos de duas horas por dia. 

            Investigações epidemiológicas têm apontado que a ECS, quando associada a outros comportamentos de risco à saúde, tende a crescer. Especificamente na população juvenil, os índices de ECS são maiores quando estão associados a dietas insuficientes de legumes e verduras, consumo de refrigerantes, dificuldade para dormir e percepção negativa de saúde.

            O presente estudo teve como objetivo analisar a associação da exposição ao comportamento sedentário com fatores alimentares, sociais e de saúde mental em adolescentes escolares da rede pública estadual de Sergipe. Esse estudo compõe um levantamento epidemiológico de natureza transversal intitulado “Tendência secular sobre comportamentos de risco à saúde em adolescentes”. O instrumento utilizado foi uma versão adaptada do Global School - Based Student Health Survey indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Foram analisados quatro fatores psicossociais e dois comportamentos relacionados à alimentação: bullying, percepção negativa de estresse, sentimento de solidão, dificuldade para dormir associada à preocupação, consumo de frutas e verduras e ingestão de refrigerantes. Participaram do estudo 4139 adolescentes entre 14 e 19 anos, de ambos os sexos, regularmente matriculados na rede pública estadual de ensino.

            Os resultados mostraram que os adolescentes, de ambos os sexos, com ECS tiveram maiores chances de apresentar sentimento de solidão e estresse. Especificamente adolescentes do sexo feminino apresentaram maiores chances de consumo de refrigerante uma ou mais vezes por dia. O sentimento de solidão está associado a efeitos adversos em relação à saúde mental, como o desenvolvimento de depressão, ansiedade e pensamentos suicidas. Já o estresse ligado ao sedentarismo desencadeia outros problemas comportamentais como pouco tempo de sono e sonolência durante o dia. A ECS é comumente relacionada à alimentação inadequada com baixa ingestão de frutas e legumes e alto consumo de alimentos calóricos e refrigerantes.

            Estudos que analisem os impactos do estilo de vida e hábitos comportamentais na saúde física e mental dos adolescentes são fundamentais para a psicologia da saúde, pois possibilitam o desenvolvimento de intervenções que auxiliam a redução dos efeitos danosos à saúde dessa população, tanto no âmbito de políticas públicas quanto no âmbito da atuação de profissionais específicos. Sendo, portanto, um conhecimento essencial para a promoção da saúde, bem-estar e qualidade de vida no público juvenil.



quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Resiliência em adolescentes com diabetes tipo 1

Shapiro, J. B., Bryant, F. B., Holmbeck, G. N., Hood, K. K., & Weissberg-Benchell, J. (2021). Do baseline resilience profiles moderate the effects of a resilience-enhancing intervention for adolescents with type I diabetes? Health Psychology, 40(5), 337–346. https://doi.org/10.1037/hea0001076

Resenhado por Ana Beatriz Silveira

 

 O diabetes mellitus é uma doença crônica caracterizada pelo excesso de glicose no sangue, sendo o tipo 1 causado pela deficiência de produção de insulina do pâncreas. A adolescência em si já é considerada uma fase desafiadora, o que exacerba a dificuldade de lidar com uma condição de saúde, principalmente com a diabetes, que demanda maiores mudanças de comportamento. A angústia e o distresse ligados à doença também estão relacionados a esses problemas, entretanto, alguns adolescentes conseguem ser resilientes e se engajar nos comportamentos de manejo recomendados. Duas facetas importantes da resiliência foram identificadas em estudos anteriores: a individual, que inclui as estratégias de enfrentamento ou as formas de resposta ao estresse; e a relacionada à família, visto que relações conflituosas entre o adolescente e a família mostraram estar ligadas a problemas no enfrentamento da doença. Assim, o presente estudo buscou identificar os níveis de resiliência entre adolescentes com diabetes tipo 1 e a influência destes níveis nos desfechos de saúde.

A amostra foi composta por adolescentes de 14 a 18 anos, sendo a maioria do sexo feminino (60%), e identificada como branca não hispânica (66%). Os participantes foram designados aleatoriamente entre um programa de educação em diabetes e outro voltado ao desenvolvimento de resiliência. Foram avaliados aspectos relativos à resiliência (autoeficácia de enfrentamento, resolução de problemas, pensamentos automáticos negativos, desesperança e conflitos familiares relacionados à diabetes) e aos desfechos de saúde (distresse relacionado à diabetes, controle glicêmico, comportamentos de manejo da diabetes e a frequência de monitoramento da glicose), antes da intervenção e quatro meses, oito meses, um ano, dois anos e três anos após a intervenção.

Foram identificados dois perfis de resiliência: alta e baixa. O grupo de alta resiliência demonstrou maiores habilidades de autoeficácia e de resolução racional de problemas, com menor risco de conflito familiar, pensamentos negativos e desesperança. Em relação aos desfechos de saúde, apresentou menor distresse, maior controle glicêmico e maior controle nos comportamentos de manejo. O grupo com baixa resiliência apresentou menor autoeficácia e resolução de problemas mais impulsiva e evitativa, apresentando maior risco de conflito familiar e desesperança, além de maior distresse, menor controle glicêmico e controle deficiente dos comportamentos de manejo.

Ambos os perfis apresentaram menor distresse no grupo que sofreu intervenção de resiliência, sendo beneficiados de forma similar, não corroborando a hipótese de que o perfil de menor resiliência seria mais beneficiado pela intervenção psicológica. Em relação ao nível de glicose, não houve diferença que alterasse as médias dos grupos, ou seja, a intervenção psicológica equiparou-se à de educação em diabetes, em consonância com a literatura mais atual, indo de encontro à hipótese de que a intervenção psicológica seria mais eficaz. Por fim, o perfil de alta resiliência no programa de educação checou mais vezes seu nível de glicose do que os do programa de resiliência, e o outro perfil não apresentou diferença entre os programas. Além disso, não houve discrepância entre os grupos de intervenção em relação aos comportamentos de manejo.

Esse estudo abordou o processo de ajustamento à diabetes e a eficácia de intervenções relacionadas, colaborando para a investigação de métodos mais efetivos para melhorar a qualidade de vida do paciente, um dos objetivos da Psicologia da Saúde.


sábado, 2 de outubro de 2021

A influência da mídia nos transtornos alimentares e na autoimagem em adolescentes

 

Copetti, A. V. S., & Quiroga, C. V. (2018). A influência da mídia nos transtornos alimentares e na autoimagem em adolescentes. Revista de Psicologia da IMED, 10(2), 161-177. https://doi.org/10.18256/2175-5027.2018.v10i2.2664

 

Resenha por Brenda Fernanda

 

A anorexia e a bulimia nervosa são transtornos alimentares (TAs) que possuem origem complexa e multifatorial na qual os adolescentes constituem o grupo de maior ocorrência destes transtornos. Em função da globalização, da utilização exacerbada das mídias sociais e da mudança do padrão estético corrente, é comum que as pessoas busquem e idealizem uma imagem corporal magra, o que pode interferir de forma negativa no comportamento alimentar. Em decorrência da vulnerabilidade mental no período da adolescência, a exposição ao padrão estético “imposto” pela mídia e seu potencial risco para desencadeamento de TAs, este artigo objetivou discutir a forma como a mídia, com foco na internet, e o padrão estético atual podem influenciar no desenvolvimento de TAs em mulheres adolescentes. Constituiu-se de uma revisão narrativa da literatura, na qual foram pesquisadas referências publicadas entre 2012 e 2017 nas bases de dados Scielo, Scopus e Google Acadêmico, utilizando os termos adolescent, anorexia nervosa, bulimia nervosa, communications media e self concept, em diferentes combinações.

Os pontos discutidos pela revisão foram: características de vulnerabilidade à mídia na adolescência, influências da mídia no desenvolvimento dos transtornos alimentares e abordagens de tratamento. De modo geral, observou-se que a mídia promove o consumo e orienta regras e padrões a serem seguidos. A magreza tem sido entendida como um reforçador de status e ascensão social, competência e atratividade sexual. Ao considerar que a adolescência é uma fase de construção e consolidação da identidade, as jovens constituem-se como público vulnerável ao bombardeamento de imagens e introjeções de que tipo de corpo é considerado bonito. A mídia interfere sobre o modo como a população pensa e se comporta. Portanto, compreende-se que a insatisfação das adolescentes com sua imagem é possivelmente desenvolvida pelo corpo idealizado e perfeito disseminado pela mídia. As redes sociais, ainda que indiretamente, podem influenciar na baixa autoestima e necessidade de enquadrar-se ao padrão de beleza. A busca por esse corpo pode levar à alteração no comportamento alimentar e, consequentemente, ao desenvolvimento de TAs.

De acordo com a revisão, a Terapia Cognitivo Comportamental e os grupos psicoeducativos com a participação familiar têm evidências de sucesso no tratamento de alguns TAs. Destacou-se, também, a importância de que mais estudos sejam realizados na área. Em conclusão, n que diz respeito ao tratamento dessas condições, destaca-se a importância de se identificar possíveis fatores de risco para que a intervenção adequada seja realizada. Este é um dos papéis da Psicologia da Saúde.

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Qualidade de vida e diabetes mellitus: Autopercepção de adolescentes em uma cidade do sul do Brasil

 

Menezes, M., Lacerda, L. L. V. D., Borella, J., & Alves, T. P. (2019). Qualidade de vida e diabetes mellitus: autopercepção de adolescentes de uma cidade do sul do Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35. https://dx.doi.org/10.1590/0102.3772e35430.

 

Resenhado por Luíza Ramos

 

            A diabetes mellitus (DM) configura-se como um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos que possui em comum a hiperglicemia, resultado de defeitos na secreção ou na ação da insulina. A diabetes tipo 1 (DM1) é caracterizada pela produção deficiente de insulina no corpo, com início na infância. Na adolescência, especificamente, esta doença tende a se tornar especialmente estressora, uma vez que é um período marcado por redescobertas do corpo, das potencialidades e limites e da capacidade de se definir como elemento de atração e relação com os outros. Assim, a problemática da doença e o tratamento podem levar o jovem a se definir como particularmente diferente e “anormal” face ao grupo de pares, além de apresentarem dificuldade emocional para lidar com a doença, afetando a qualidade de vida. Essa qualidade de vida é definida como um construto que abarca o ajustamento psicossocial, bem-estar, autoestima, estresse e estratégias de enfrentamento. O objetivo do texto foi avaliar a qualidade de vida em relação à saúde em adolescentes diagnosticados com diabetes mellitus do tipo 1.

            Os dados foram coletados em duas Unidades de Atenção Secundária em Saúde de uma cidade no sul do Brasil, com pessoas diagnosticadas com DM1 com idades entre 10 e 18 anos. A amostra foi composta por 20 adolescentes de ambos os sexos. Foi aplicado o Questionário de Qualidade de Vida KIDSCREEN-52, que é composto por dimensões que relacionam a qualidade de vida à saúde e atividade física, a sentimentos, ao estado emocional, à autopercepção, à autonomia e tempo livre, à família e ambiente familiar, a questões econômicas, a amigos e apoio social, ao ambiente escolar e aprendizagem e ao bullying.

O escore médio geral da percepção de qualidade de vida dos adolescentes apresentou-se elevado, mesmo considerando a DM1. Isso pode ser atribuído ao fato de os participantes não estarem hospitalizados e todos estarem fazendo o acompanhamento ambulatorial para o tratamento da diabetes. Na relação da DM1 com a qualidade de vida, o controle da glicemia representa uma medida importante, visto que evita a probabilidade de ocorrência de crise aguda e evita o desenvolvimento precoce de complicações crônicas, possibilitando uma percepção de qualidade de vida mais positiva. Curiosamente, dimensões como bullying e autonomia apresentaram escores altos, indicando que os adolescentes se sentiam capazes de gerir suas rotinas e não se sentiam provocados ou rejeitados pelo grupo de pares.

O escore médio mais baixo foi observado na dimensão saúde e atividade física, que se refere ao nível de atividade, energia e aptidão física do adolescente. A baixa pontuação relaciona-se à sensação de exaustão física e baixa energia, e a não se sentir bem e em forma fisicamente. Em relação ao gênero, a dimensão estado emocional foi a pior avaliada pelas meninas, indicando percepção de sentimentos como solidão, tristeza e insuficiência. Já entre os meninos, a dimensão autopercepção foi a de menor escore, o que pode indicar insatisfação com a imagem corporal e baixa autoestima. Isso se deve à possibilidade de terem sido influenciados pelo ideal de aparentar um corpo musculoso, mais comum entre os homens, que não pode não ser atingido em decorrência da diabetes e das imposições do tratamento.

Em suma, estudos como este mostram-se relevantes para a Psicologia da Saúde, uma vez que promove a investigação de aspectos psicológicos diante de um diagnóstico de doença física. Assim, técnicas e intervenções podem ser aprimoradas com a finalidade de promover mais qualidade de vida para adolescentes com diabetes.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Redes sociais e suicídio: Uma revisão epidemiológica baseada na tecnologia e na avaliação

 

Resenhado por Luiz Guilherme L. Silva.

Pourmand, A., Roberson, J., Caggiula, A., Monsalve, N., Rahimi, M., & Torres-Llenza, V. (2019). Social media and suicide: A review of technology-based epidemiology and risk assessment. Telemedicine and e-Health25(10), 880-888. https://doi.org/10.1089/tmj.2018.0203

O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 e 29 anos. Dentre as teorias usadas para explicar o fenômeno, a teoria interpessoal-psicológica do suicídio aponta que indivíduos que se sentem isolados, que se consideram um fardo e que têm acesso a meios letais para cometer suicídio são os mais propensos a realizá-lo. Além desses fatores, o histórico de transtornos mentais, abuso de substâncias e histórico familiar de suicídio são agravantes para o risco de suicídio. A tecnologia é uma ferramenta que, a depender do seu uso na avaliação, pode ser utilizada para rastreio e prevenção de mortes decorrente de suicídio. Alguns estudos mostraram que o uso excessivo de redes sociais se correlacionou ao risco de suicídio. Diante disso, o presente texto visa à sumarização dos achados de uma revisão de literatura sobre o suicídio e o uso de redes sociais.

A busca dos artigos que compuseram a revisão foi feita nas bases de dados PubMed e MEDLINE com os descritores ‘‘Social media’’, ‘‘Suicide’’, ‘‘Facebook’’, ‘‘Twitter’’, ‘‘MySpace’’, ‘‘Snapchat’’, ‘‘Ethics’’, ‘‘Digital Media’’ e ‘‘Forums and Blog’’. Um total de 363 artigos foram encontrados e, após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, restaram 31 artigos que fizeram parte da revisão.

Os principais achados apontaram que cerca de 84% dos indivíduos que cometeram suicídio são pessoas entre 20 e 30 anos de idade, sendo que a razão para o gênero masculino e feminino foi de 2,3 para 1. Outro achado importante foi sobre a veiculação da morte de um famoso, relatando que o número de suicídios aumentava apenas se a morte desse famoso tivesse grande comoção no Twitter. Uma revisão sistemática apontou que o uso da internet pode ser benéfico ou maléfico em jovens com risco de suicídio e autolesão. Ainda foi encontrado que adolescentes vítimas de bullying tiveram maior interesse em procurar por temas relacionados ao suicídio na internet. Por fim, um fator de risco para o suicídio em jovens coreanos foi a sobrecarga relacionada a atividades acadêmicas.

O suicídio é a maior causa de morte prevenível atualmente. Com o aumento do uso da internet e das redes sociais, o rastreio de indivíduos em risco de suicídio ficou mais fácil e diversas redes encaminham seus usuários a serviços especializados de saúde mental. Contudo, diversos problemas com relação à veiculação de notícias sobre suicídio vêm à tona com a democratização do acesso à informação. Assim, dentre os campos da Psicologia, a Psicologia da Saúde é uma área potencial para planejar a prevenção e a intervenção em tais casos, sobretudo quanto ao uso de redes sociais. Uma das medidas é a restrição da propagação de informações sobre a causa e meios de morte decorrentes de suicídio. Ao fazer isso, são restringidos os dados referentes à morte, bem como é um fator potencial para a redução do efeito de contágio. Entretanto, novos estudos são necessários acerca desse tema, sobretudo associando o uso de redes sociais e internet como formas de intervenção.

sábado, 25 de setembro de 2021

Associação entre índice de massa corporal e depressão em mulheres adolescentes

 

Ocampo, J., Guerrero, M., Espin, L., Guerrero, C., & Aguirre, R. (2017). Association between body mass index a depression in sdolescent women/ Asociacion entre indice de masa corporal y depresion en mujeres adolescentes. International Journal of Morphology35(4), 1547.

 

Resenhado por Franciely Santos

 

É comum o uso do Índice de Massa Corporal (IMC) para identificação de sobrepeso e obesidade. Os resultados do IMC se classificam em baixo peso, peso normal, sobrepeso e obesidade, sendo este último, um problema de saúde pública que vem tomando grandes proporções no decorrer dos anos. A obesidade se refere ao acúmulo excessivo de gordura a ponto de se tornar um prejuízo à saúde e pode aumentar o risco do desenvolvimento de doenças crônicas. Além disso, há uma relação direta entre obesidade e depressão, e o público mais acometido são as mulheres.

A adolescência é uma etapa do desenvolvimento muito afetada pelo aspecto físico, e este, por sua vez, exerce influência no autoconceito. O sobrepeso e a obesidade contribuem para maior insatisfação com o corpo. Diante desse cenário, esta pesquisa teve como objetivo analisar a associação existente entre IMC e depressão em mulheres adolescentes das unidades de ensino do Distrito Metropolitano de Quito, Equador.

Tratou-se se um estudo observacional e transversal, com amostra de 184 adolescentes com idade entre 14 e 19 anos. O peso e altura das participantes foram mensurados e foi utilizado o Inventário de Depressão de Beck (BDI) para constatar os sintomas depressivos. De acordo com os resultados obtidos, viu-se que 27,22% das adolescentes apresentaram sobrepeso e obesidade, sendo com maior frequência no grupo de 19 anos. Em se tratando dos aspectos psicológicos, 25,56% da amostra apresentou distúrbios de humor leve a depressão grave. Ao comparar as médias do BDI entre as adolescentes de peso normal e sobrepeso e obesidade, foi visto que houve diferença estatisticamente significativa e um valor de risco relativo a 8,55.

            É notório que há uma tendência da população em geral ao excesso de peso, inclusive nos adolescentes. O período de transição para fase adulta, a inserção em novos espaços como trabalho e/ou universidade e às mudanças sociais, podem explicar há maior prevalência nas meninas de 19 anos. O autoconceito físico e a constante preocupação com a imagem corporal justifica a relação entre IMC e depressão. Esses aspectos são mais intensos nas adolescentes por diversas questões culturais. O estudo observou ainda que as adolescentes que apresentavam sobrepeso tinha 8,55 vezes mais chances de terem depressão.

            Dessa forma, o estudo contribui para a Psicologia da Saúde por trazer associações importantes entre construtos psicológicos, depressão e sobrepeso. Com isso, intervenções podem ser elaboradas e direcionadas ao público mais afetado, visando melhores resultados e mudanças nas crenças que as adolescentes apresentam sobre seu corpo e sobre a percepção de um corpo ideal.