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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Um estudo sobre o impacto positivo do aconselhamento psicológico intensivo no bem-estar psicológico de pacientes diabéticos tipo 2 submetidos à amputação

 

Amalraj, M. J., & Viswanathan, V. (2017). A study on positive impact of intensive psychological counseling on psychological well-being of type 2 diabetic patients undergoing amputation. International Journal of Psychology and Counselling, 9(2), 10-16. doi: https://doi.org/10.5897/IJPC2016.0461

Resenhado por Luanna Silva


Pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) podem desenvolver múltiplas complicações, dentre elas, destaca-se o pé diabético, quadro resultante da combinação de infecção, doença vascular periférica, cuidados inadequados com os pés e neuropatia periférica. O pé diabético é considerado um problema importante, pois essa condição frequentemente precede a amputação. Em recente revisão sobre a variabilidade global na incidência de amputação de membros inferiores, verificou-se que cerca de 10,5% dos pacientes foram submetidos a amputações maiores devido ao pé diabético.

A amputação está associada a intenso sofrimento físico e emocional, tendo repercussões importantes tanto para o paciente quanto para a sua família. Pessoas amputadas precisam lidar com uma importante alteração em sua imagem corporal que pode resultar em sintomas de ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e isolamento social. Além de afetar também a condição financeira e a produtividade dos amputados, o que reflete na qualidade de vida. Diante disso, conclui-se que a intervenção psicológica tem papel importante na adaptação de pessoas amputadas. Este estudo teve por objetivo avaliar o efeito do aconselhamento psicológico intensivo sobre os desfechos psicológicos em pacientes diabéticos tipo 2 submetidos à amputação.

A pesquisa foi realizada em um hospital na Índia, no período de junho de 2015 a fevereiro de 2016. Participaram 62 pacientes diagnosticados com DM2 há mais de 2 anos e que foram submetidos a amputação do dedo do pé ou abaixo do joelho. A idade dos participantes variou de 40 a 70 anos. Indivíduos com diabetes mellitus tipo 1 e diagnóstico de transtorno mental grave foram excluídos da pesquisa. Em adição às questões clínicas e sociodemográficas, foi aplicado o World Health Quality of Life-bref (WHOQOL-bref). Este instrumento, que avalia a qualidade de vida, conta com 26 itens divididos em 4 domínios: saúde física, saúde psicológica, fatores sociais e ambientais. De modo randômico, os pacientes foram designados para grupo de aconselhamento intensivo (GAI) ou grupo de aconselhamento de rotina (GAR). No GAI, os pacientes receberam aconselhamento psicológico antes da realização do procedimento de amputação, após a cirurgia e durante todos os dias subsequentes até o momento da alta hospitalar. No GAR, o aconselhamento psicológico foi dado apenas antes da amputação. Em ambos os grupos, o WHOQOL-bref foi aplicado antes da cirurgia e no momento da alta hospitalar.

Os resultados mostraram que os indivíduos que receberam aconselhamento psicológico, somente antes da cirurgia, não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre pré e pós amputação em todos os quatro domínios do WHOQOL-bref. Ao passo que, no grupo que recebeu aconselhamento psicológico intensivo foi observada melhora estatisticamente significativa em todos os domínios da qualidade de vida. Assim, verificou-se que o aconselhamento psicológico intensivo foi eficaz e gerou impacto positivo na qualidade de vida dos amputados. Estudos de intervenção psicológica em saúde como este são relevantes, pois podem orientar os protocolos de cuidados estabelecidos nos hospitais, assegurando a melhor assistência aos pacientes.



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Comunicação de más notícias em saúde

Por Danielle Alves Menezes


  

  Fonte:@rodolfomoraespali

 

Um dos aspectos mais importantes do cuidado em saúde se relaciona com a necessidade de comunicação. Comunicar requer compartilhamento de informações em diversos níveis, devendo ser fluida e eficaz tanto entre membros de uma mesma equipe como na interação com pacientes e familiares. Nesse caso, a comunicação é principalmente utilizada para coletar informações a fim de realizar um diagnóstico correto, obter consentimento informado dos pacientes sobre suas escolhas de estratégias de tratamento e é um meio de incentivá-los a aderir a tratamentos (Straub, 2014).

Para além de um processo que envolve algo a ser dito e algo a ser compreendido, comunicação em saúde apresenta também outras dimensões relevantes relacionadas a aspectos éticos, sociais e psicológicos. No que diz respeito aos aspectos sociais, vale lembrar que, no Brasil, o acesso a informações sobre o próprio estado de saúde pelo paciente e o respeito a valores pessoais na condução do tratamento são direitos previstos em legislação, perspectiva que reafirma o princípio da autonomia dos usuários do Sistema Único de Saúde (Ministério da Saúde, 2011). Essa dimensão retoma também aspectos éticos que, muitas vezes, são vistos como de difícil manejo pelas equipes assistenciais, especialmente quando o conteúdo a ser comunicado é considerado “complicado”, a exemplo de doenças graves e limitantes da vida, doenças com prognóstico irreversível ou mesmo condição de terminalidade do paciente. 

Nessas ocasiões, a conspiração do silêncio surge como pacto entre familiares e profissionais da equipe de saúde, através do qual ambos evitam lidar diretamente com o sofrimento que pode ser gerado na comunicação com o paciente (Costa-Machado et al., 2019). Essa condição facilmente se coaduna à tendência protecionista da família e de negação cultural da morte. Além de infringir um direito do paciente, a conspiração do silêncio é maléfica à adaptação psicológica do paciente à sua condição real de saúde, pois são criadas expectativas irreais de recuperação e há desvalorização de sinais e sintomas relevantes para nortear ações que visam a melhoria da qualidade de vida. Pacientes ainda podem se sentir isolados, incompreendidos, enganados, ansiosos e deprimidos (Costa-Machado et al., 2019).

A conspiração do silêncio reflete ausência de habilidades em comunicação de más notícias e presença de comunicação ineficaz nas equipes assistenciais, em um contexto em que deve haver definição do plano de tratamento do paciente, além de expressão de dúvidas, compartilhamento de medos, angústias e ansiedade entre paciente-equipe-família (Costa-Machado et al., 2019). A complexidade dessas habilidades reforça a importância do psicólogo com formação em psicologia da saúde nas equipes, pois ele, por regra, é especialista em comunicação, e pode atuar mediando essas situações, favorecendo enfrentamento adaptativo do paciente, bem como intervir para prevenir luto patológico em familiares e contribuir para redução do estresse na equipe. O psicólogo da saúde, por possuir conhecimento refinado sobre processos de adoecimento e suas respectivas variáveis, pode também atuar diretamente no treinamento das equipes para aprimorar a capacidade de comunicação, a exemplo de treino de assertividade e de escuta ativa (Straub, 2014).

 Referências: 

Machado, J. C.; Reis, H. F. T.; Sena, E. L. S., Silva, R. S., Boery, R. N. S. O., & Vilela, A. B. A. (2019). O fenômeno da conspiração do silêncio em pacientes em cuidados paliativos: Uma revisão integrativa. Enfermería Actual de Costa Rica,/(36), 92-103. https://dx.doi.org/10.15517/revenf.v0i36.34235

Ministério da Saúde (2011). Carta de direitos dos usuários do SUS.https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartas_direitos_usuarios_saude_3ed.pdf. Acesso em 12 de fevereiro de 2021

Straub, R. O. (2014). O papel da psicologia da saúde nos cenários de atendimento à saúde. In: Straub, R. O. (2014). Psicologia da saúde: Uma abordagem psicossocial. Artmed.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Intervenção psicológica lúdica para o enfrentamento da hospitalização em crianças com câncer

Motta, A. B., & Enumo, S. R. F. (2010). Intervenção psicológica lúdica para o enfrentamento da hospitalização em crianças com câncer. Psicologia: Teoria e Pesquisa26(3), 445-454. https://doi.org/10.1590/S0102-37722010000300007

Resenhado por Maísa Carvalho

Sabe-se que o tratamento para o câncer envolve diferentes tipos de estressores, a exemplo da necessidade de hospitalização, que podem gerar implicações significativas nesse processo. Em crianças, em razão das próprias limitações concernentes à idade, pode ser ainda mais difícil. Dessa forma, o uso de estratégias lúdicas que favoreçam o enfrentamento desses determinantes e a melhora no bem-estar quando em contato com situações aversivas podem contribuir para o tratamento desse quadro clínico. Pensando nisso, o presente estudo objetivou avaliar a eficácia de uma proposta de intervenção psicoterapêutica em crianças hospitalizadas com diagnóstico de câncer, a qual é baseada no uso do brincar como recurso de enfrentamento da hospitalização e da doença.

Participaram do estudo 12 crianças, sendo 7 meninos e 5 meninas, com idades entre 7 e 12 anos, internados em uma enfermaria de oncologia de um hospital público. Quimioterapia, diagnóstico inicial, intercorrência, diagnóstico de recidiva e desnutrição foram as motivações identificadas para os casos atuais das internações. A avaliação das ações de enfrentamento utilizadas foi realizada com o Instrumento Informatizado de Avaliação do Enfrentamento da Hospitalização (AEHcomp), que é composto por 20 ilustrações em que cada uma delas apresenta comportamentos tidos como facilitadores, a exemplo de assistir TV, brincar, rezar, e não facilitadores do tratamento, a exemplo de sentir culpa, chorar, ficar com raiva, pensar em fugir, dentre outros. A aplicação do instrumento durava em média 30 minutos. Já o Programa de Intervenção Psicológica no Hospital (PIPH) foi elaborado com o objetivo de promover estratégias de enfrentamento favoráveis à hospitalização, sendo composto por 24 atividades lúdicas que auxiliam no processo mencionado.

As crianças foram divididas aleatoriamente em dois grupos (G1 e G2), sendo que apenas o G1 foi submetido ao PIPH. O G2 passou apenas pela avaliação do AEHcomp. O PIPH foi aplicado em sessões diárias por, no mínimo, 3 dias, com número médio de 4,2 sessões por criança (3 a 5 sessões). Insta ressaltar que após um período de 3 a 5 dias o AEHcomp era reaplicado com vistas a investigar possíveis mudanças nas estratégias de enfrentamento das crianças. Os resultados das aplicações do instrumento citado identificaram que para o G1 o comportamento não facilitador mais apresentado no pré-teste foi chorar (M = 2,0) enquanto ficar triste (M = 1,67) foi o mais apresentado no pós-teste. Para o G2, triste (M = 1,67) teve a maior média no pré-teste e desanimar (M = 0,83) e fazer chantagem (M = 0,83) foram maiores no pós-teste. Quanto aos comportamentos facilitadores apresentados no G1, assistir TV, tomar remédio, brincar e conversaram foram superiores no pré e pós teste, com ressalva para rezar, que apareceu com uma alta média no pós-teste. No pré e pós teste do G2, rezar, assistir e estudar apresentaram as médias mais altas, sendo que tomar remédio apresentou uma alta média no pós-teste. Em relação ao PIPH, resumidamente, a melhora no G1 foi significativa ao se analisar as médias das estratégias de solução de problemas e busca por informação, as quais alcançaram taxas de ganho de 43,97% e 80,77%, respectivamente. Por fim, ruminação, negociação e esquiva obtiveram uma redução expressiva no mesmo grupo. O G2 apresentou apenas uma alteração relevante apenas na negociação, com aumento de 125% no pré e pós teste.

A partir desses resultados, foi possível analisar a importância de serem estudadas e aplicadas estratégias de intervenção, especialmente em grupos como o infantil e em situações complexas. Dessa forma, julga-se ser relevante a produção de mais estudos de intervenção clínica com bases teóricas da Psicologia da Saúde a fim de serem produzidos efeitos psicoterapêuticos e percebidos benefícios em tratamentos em saúde.



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Intervenção comportamental em crianças com TEA e outros transtornos

Postado por Luana C. Silva-Santos

 

Sessão de terapia é uma série brasileira que atualmente está na quinta temporada e é inspirada nas séries Betipul (israelense) e In treatment (americana) e retrata o dia-a-dia de atendimentos de um psicoterapeuta, assim como a sessão de psicoterapia na qual ele é o cliente. Permite ao público uma aproximação com a psicologia e suas intervenções em psicoterapia, assim como cria-se empatia pelo profissional que também lida com seus próprios problemas. A série contribui na erradicação de estigmas associados à área da psicologia, mostrando a importância da terapia na evolução dos pacientes, cada um a seu ritmo e de acordo com suas necessidades e humaniza o profissional que também precisa de psicoterapia. 

Referência: Vargas, J. (2012). Sessão de Terapia. GNT; Globoplay.

 


sábado, 12 de fevereiro de 2022

Ansiedade, pensamentos disfuncionais e terapia cognitivo comportamental

Escrito por Catiele Reis

 

            A ansiedade é um transtorno mental comum que se manifesta através de sintomas físicos (coração acelerado, tremores, enjoos etc) e/ou cognitivos (pensamento acelerado, catastrofização dentre outros). Na primeira fala da tirinha, mostra-se um exemplo de pensamento acelerado que é a sequência rápida de pensamentos, impedindo a pessoa de se concentrar e atrapalhando o sono. Na sequência temos um exemplo de catastrofização do pensamento ou até mesmo preocupação, na qual a pessoa sempre imagina o pior cenário. Durante a terapia de abordagem cognitiva comportamental é feita reestruturação cognitiva, ou seja, é ensinado para o paciente como os pensamentos disfuncionais podem ser modificados para pensamentos funcionais



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Efetividade da Terapia Cognitivo-Comportamental on-line no cenário de pandemia da COVID-19: Uma revisão sistemática


Araújo, D. F., & Costa, E. L. (2021). Efetividade da Terapia Cognitivo-Comportamental on-line no cenário de pandemia da COVID-19: Uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 17(2), 105-112.  http://dx.doi.org/10.5935/1808-5687.20210023

Resenhado por Jéssica Dantas

 

A pandemia de Covid-19, anunciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020, tem sido responsável por impactos não só no âmbito biológico e epidemiológico, mas também sociais, econômicos e emocionais. As consequências vão além do número devastador de mortes, atingindo significativamente a saúde mental dos indivíduos. Assim, torna-se fundamental considerações acerca de intervenções terapêuticas para o manejo de pacientes em sofrimento psíquico durante a pandemia.

A terapia cognitivo-comportamental (TCC), que consiste em um tratamento breve, focado e colaborativo, pode se configurar uma opção viável e eficaz para o adoecimento mental decorrente da pandemia. Faz-se necessária a adaptação ao cenário atípico e inserção de alternativas digitais vinculadas aos métodos já utilizados na terapia convencional. A modalidade de terapia online já existe há mais de uma década e atualmente conta com três modalidades: TCC online de suporte, TCC online guiada e TCC online totalmente automatizada. Assim, os meios remotos de atendimento poderiam ser efetivos no tratamento de sintomas psicológicos relacionados à pandemia.

A presente revisão de literatura objetivou descrever as evidências sobre a efetividade da TCC, na modalidade online, para quadros psiquiátricos associados à pandemia de Covid-19. Para isso, foram utilizadas as seguintes bases de dados: PUBMED e LILACS, diretamente, e nas bases Web of Science, SCOPUS, PsycINFO e Embase, via Periódicos CAPES. A amostra final de pesquisas incluídas na revisão foi de 7 Ensaios Clínicos Randomizados (ECRs) sobre a efetividade da TCC online para sintomatologias psiquiátricas relacionadas à pandemia. Os dados foram compilados e filtrados a partir do critério metodológico do modelo PRISMA.

            Os resultados mostraram evidências significativas em relação à efetividade das intervenções da TCC online no tratamento de distúrbios emocionais decorrentes da pandemia. Os sete ECRs apontaram efetividade equivalente aos da TCC convencional para esse público. Os dados apontam que estresse, ansiedade, depressão e preocupações disfuncionais, quadros de maior recorrência nesse contexto, têm diminuição significativa com a TCC online. Apesar dos achados positivos, a pesquisa contou com algumas limitações como a baixa qualidade metodológica de três estudos e a quantidade ainda pequena de estudos aplicados sobre a TCC online e as repercussões psicológicas na pandemia, fazendo-se necessária revisões sistemáticas periódicas.

            Diante da previsão, para os próximos anos, de um crescimento considerável de problemas emocionais decorrentes do contexto pandêmico, estudos que abordem intervenções terapêuticas eficazes para essa demanda torna-se fundamental. Assim, é de extrema importância que estudiosos da psicologia da saúde se dediquem à temática e possam auxiliar na descoberta e aprimoramento de intervenções que auxiliam a redução dos efeitos danosos à saúde associados à pandemia.