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quarta-feira, 30 de março de 2022

O viés cognitivo em pacientes com doenças crônicas

 Savioni, L. & Triberti, S. (2020). Cognitive Biases in Chronic Illness and Their Impact on Patients' Commitment. Frontiers in Psychology, 11, 579455. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2020.579455

Resenhado por Matheus Macena

 

Vieses cognitivos são construtos baseados em percepções erradas ou imprecisas que produzem uma representação sistematicamente distorcida de alguns aspectos da realidade. Vieses impactam a vida diária na forma com que afetam decisões e comportamentos. Por exemplo, a insistência em um comportamento prejudicial - como fumar - acontece, pois o sujeito seleciona e superestima evidências que corroboram com uma convicção pré-existente: a crença de que fumar melhora a concentração. Esse efeito é conhecido como viés de confirmação.

Existem vieses inerentes à cognição humana e aqueles que são ligados a contextos específicos. Diversos estudos têm mostrado que pessoas que vivem com doenças crônicas e continuamente realizam processos de gerenciamento em saúde apresentam vieses cognitivos típicos. Esses vieses influenciam o processamento de informação sobre a doença e consequentemente o processo de tomada de decisão, assim, impactando a saúde e a qualidade de vida.

O processo de tomada de decisão com doenças crônicas é complexo, pois o paciente tem de tomar decisões relevantes para sua expectativa de vida em uma situação emocionalmente desgastante. O estado de incerteza provocado pela condição de saúde pode levar a tomada de decisões em relação ao tratamento baseadas em uma percepção de redução de risco na seleção do mesmo. Por exemplo, o paciente pode optar por recusar um tratamento, pois envolve riscos conhecidos, ainda que de ocorrência improvável, falhando em considerar os benefícios.

Os vieses mais presentes na literatura sobre doenças crônicas são atencionais, de interpretação e de rememoração. Viés atencional é definido como a atenção seletiva dada a uma informação específica e a falha na consideração de alternativas devido a uma sensibilidade pré existente sobre um tema. Viés de interpretação se refere a tendência à interpretação de informações ambíguas por parte dos pacientes como relacionadas a doenças, além de processos de catastrofização. Por último, o viés de rememoração consiste em distorções na acurácia do processo de rememoração de eventos ou experiências passadas. Esses vieses têm, em comum, a tendência de priorizar informações ligadas à experiência com doença, em qualquer nível de processamento de informações e no processo de tomada de decisão.

Assim, foram apresentadas diferentes formas nas quais os vieses se manifestam e podem influenciar a motivação e o comprometimento de pacientes na jornada de gerenciamento da condição de saúde. O que permite a uma área como a psicologia da saúde, que estuda o comportamento humano no contexto da saúde e da doença, o entendimento de como endereçar a cognição disfuncional e a possibilidade de melhorar a acessibilidade e a efetividade de intervenções voltadas para o compromisso com a saúde.


                                           

quarta-feira, 23 de março de 2022

Procedimentos invasivos não cirúrgicos em crianças

                                                                                 Danielle Alves Menezes

https://www.youtube.com/shorts/SuM3BoaOcRM

 

Injeções, aplicação de soro e de insulina, transfusões de sangue, dentre outras experiências invasivas não cirúrgicas, fazem parte da rotina de cuidados em saúde de crianças. Até quatro anos de idade, crianças são submetidas, em média, a 25 procedimentos de vacinação, por exemplo (Ministério da Saúde, 2017). O que é uma necessidade em saúde pode também se tornar uma vivência com importante estresse emocional para crianças, implicando em baixa adesão a futuras imunizações, medo excessivo e baixa colaboração com profissionais de saúde em outros procedimentos cortantes ou perfurantes.

O que está em jogo nessa experiência certamente é a necessidade de induzir dor. De acordo com a International Association for the Study of Pain (IASP), dor é um estado de desconforto sensorial, emocional e comportamental, com origem em alguma lesão real ou potencial de tecidos, induzida por estímulos físicos, químicos, ou por disfunções patológicas e/ou psicológicas. Nota-se que a experiência de dor, em sua totalidade, é composta por um aspecto fisiológico e outro psicoemocional.

O vídeo em discussão exemplifica o uso de tecnologias para o manejo da via psicológica da dor em procedimentos invasivos, que tem como fundamento uma técnica amplamente utilizada em psicologia denominada distração cognitiva. Trata-se de um método não farmacológico por meio do qual a atenção é redirecionada e os mecanismos neurocognitivos da percepção de dor são atenuados ou interrompidos. Também visualmente atrativo, o Buzzy emite calor e vibração na pele que será perfurada pela agulha promovendo distração e reduzindo comportamentos de dor e ansiedade.

Psicólogos da saúde, inseridos nos espaços de assistência à saúde da criança, podem ainda utilizar técnicas que as coloquem em uma posição mais ativa no enfrentamento da dor nesses procedimentos, a exemplo de técnicas de relaxamento, visualização de imagens, oferta de bolas macias e uso de cartões de distração.

                                           

terça-feira, 22 de março de 2022

Associações entre estresse parental e práticas socioeducativas parentais em pais/mães de filhos com e sem diabetes mellitus tipo 1

 Brito, A. D., & Faro, A. (2017). Associações entre estresse parental e práticas socioeducativas parentais em pais/mães de filhos com e sem diabetes mellitus tipo 1. Psychologica, 60(1), 95-111. https://doi.org/0.14195/1647-8606_60-1_6.

Resenhado por Luíza Ramos

 

            O Diabetes Mellitus (DM) é uma das doenças crônicas de maior prevalência no Brasil e no mundo, caracterizado pelos elevados índices de glicose no sangue. Entre os vários tipos de DM, o Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) é o que mais tem crescido na população infantil. O diagnóstico exige uma reorganização familiar, devido à necessidade de atenção e cuidados constantes. Questões relativas ao tratamento e ao controle do DM1 ampliam demandas adaptativas e podem interferir no estresse vivenciado pelos pais/mães. Denomina-se estresse parental quando ocorre um desequilíbrio entre as demandas percebidas e exigidas da parentalidade e os recursos que os pais/mães possuem para lidar com elas. Estudos têm mostrado que níveis elevados e contínuos de estresse parental estão relacionados com o uso de práticas educativas negativas (rejeição, punição) e estilos de disciplina mais autoritários e negligentes, enquanto níveis baixos de estresse parental aparecem associados com o uso de práticas positivas (apoio emocional) e estilos parentais caracterizados por muito controle e muito afeto. No caso de crianças com DM1, a doença e seu tratamento tornam-se um fator adicional nos estressores que os pais/mães enfrentam diariamente. Assim, o objetivo da pesquisa foi avaliar as associações entre o nível de estresse parental e as práticas socioeducativas parentais nos grupos de pais/mães de filhos com e sem diagnóstico de DM1.

            Participaram da pesquisa 135 pais ou mães de pelo menos um filho com idade entre 3 e 15 anos, divididos em dois grupos: controle (GCO), que não possuem filhos com doença crônica; e clínico (GDM), que possuem filho portador de DM1. A amostra foi recrutada por conveniência, nos Campus da Universidade Federal de Sergipe e no Centro de Atendimento de Especialidades Médicas da cidade de Aracaju. Foi utilizada a Escala de Estresse Parental (EEPa), o Inventário de Práticas Parentais (IPP) e um questionário de caracterização da amostra. Os dados foram analisados por meio do software estatístico SPSS. Os dois grupos foram subdivididos, cada um, em duas categorias: baixo estresse a alto estresse.

 Em relação à intensidade do estresse parental, constatou-se que a pontuação média dos pais/mães de filhos com DM1 foi mais alta do que a dos pais/mães de filhos sem doença crônica. Isso evidencia como o contexto clínico pode maximizar o estresse parental devido às demandas de cuidado impostas pelo tratamento adequado. Além disso, as práticas parentais de afeto, educação e disciplina exibiram relação com a intensidade de estresse parental nos contextos controle e clínico. As práticas parentais de educação e disciplina foram mais usadas pelos pais e mães do GCO baixo estresse, sugerindo que esse grupo consegue manejar de forma mais adaptativa as demandas da parentalidade. Já no caso do uso das práticas parentais de afeto, os dados demonstraram que ele é influenciado tanto pelo contexto parental analisado (filhos com e sem DM1) quanto pela intensidade do estresse parental relatado pelos pais/mães. Acredita-se que isso tenha ocorrido porque os grupos GDM alto e baixo estresse apresentaram menores chances de uso dessas práticas (ex.: elogiar o filho), em comparação com o GCO baixo estresse.

Em suma, o comportamento parental, as práticas e o estresse parentais, podem ser bons meios de investigação para o desenvolvimento de intervenções que contribuam positivamente para os relacionamentos entre pais e filhos, além de uma melhor adesão ao tratamento e controle glicêmico do filho(a) portador(a) de DM1, fornecendo, portanto, dados úteis para a Psicologia da Saúde.


                            

Intervenções psicológicas online para reduzir os sintomas de depressão, ansiedade e angústia geral em pessoas com condições crônicas de saúde: Uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos randomizados.

 Online psychological interventions to reduce symptoms of depression, anxiety, and general distress in those with chronic health conditions: A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials.

 

White, V., Linardon, J., Stone, J. E., Holmes-Truscott, E., Olive, L., Mikocka-Walus, A., ... & Speight, J. (2022). Online psychological interventions to reduce symptoms of depression, anxiety, and general distress in those with chronic health conditions: A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Psychological Medicine, 52(3), 548-573. https://doi.org/10.1017/S0033291720002251

 

Resenhado por Geovanna Turri

 

Em todo o mundo, uma proporção crescente de pessoas vive com condições crônicas de saúde incluindo asma, câncer, doenças cardiovasculares e diabetes. Gerenciar as consequências físicas dessas condições é uma função-chave do sistema de saúde de cada país, uma vez que tanto o diagnóstico da doença crônica como o processo de adaptação à doença podem gerar sequelas para a saúde mental da pessoa. Estudos recentes destacaram altos níveis de angústia em pessoas que vivem com várias condições crônicas de saúde, incluindo sofrimento associado ao enfrentamento de uma condição crônica exigente e à níveis clínicos e subclínicos comórbidos de ansiedade e/ou depressão. Nos últimos 15 anos houve um crescimento substancial nas intervenções psicológicas realizadas na web, inclusive para amenizar o sofrimento de pessoas com enfermidades crônicas de saúde. Com base nesse crescimento, White et al. (2022) reuniram evidências sobre a eficácia de intervenções psicológicas autodirigidas realizadas na web para sintomas de depressão, ansiedade e angústia em pessoas que vivem com uma condição crônica de saúde.

Os autores pesquisaram os bancos de dados Medline, PsycINFO, CINAHL, EMBASE e Cochrane Database de 1990 a 1º de maio de 2019. Artigos em inglês de ensaios controlados randomizados (atendimento habitual ou controle de lista de espera) de intervenções psicológicas realizadas na web com objetivo primário ou secundário de reduzir a ansiedade, depressão ou angústia em adultos com uma condição crônica de saúde foram elegíveis. Os resultados foram avaliados usando sintases narrativas e meta-análises de efeitos aleatórios.

Após análise dos dados, viu-se que no total 70 estudos foram elegíveis em 17 condições de saúde, sendo mais comumente em casos como câncer, dor crônica, artrite, esclerose múltipla, diabetes e fibromialgia. As intervenções foram baseadas nos princípios da TCC em 46 (66%) estudos e 42 (60%) incluíram um facilitador. Ao combinar todas as condições crônicas de saúde, as intervenções encontradas na web foram mais eficazes do que as condições de controle na redução dos sintomas de depressão, ansiedade e angústia. No entanto, ao final os autores concluíram que as evidências sobre a eficácia para condições crônicas de saúde específicas eram inconsistentes.

Embora as intervenções psicológicas online autoguiadas possam ajudar a reduzir os sintomas de ansiedade, depressão e angústia em pessoas com condições crônicas de saúde em geral, não está claro se essas intervenções são eficazes para condições de saúde específicas. Mais evidências de alta qualidade são necessárias antes que conclusões definitivas possam ser feitas, sendo necessários mais estudos da Psicologia da Saúde nessa temática. 


                                           

domingo, 20 de março de 2022

Falando sobre estratégias de regulação emocional

 Postado por Jéssica July Dantas Santos

 


Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=AwxYSQGT734

 

Comentário breve:

            “Qual é a melhor forma de lidar com emoções desagradáveis”? A regulação emocional abrange um conjunto de estratégias de enfrentamento, podendo assumir um caráter tanto adaptativo quanto desadaptativo, que o indivíduo utiliza para lidar com as emoções indesejadas, impactando, assim, na intensidade, duração ou qualidade das emoções. Algumas das estratégias mais comuns são a evitação, a distração, a ruminação, a reavaliação cognitiva, a aceitação, a resolução de problemas, a supressão expressiva e a intervenção fisiológica, explicadas de maneira clara e didática no vídeo sugerido. Algumas trazem desfechos problemáticos para o indivíduo, intensificando o desconforto emocional, já outras levam a respostas mais positivas e funcionais. Intervenções psicológicas baseadas no modelo cognitivo-comportamental tem sido eficazes em auxiliar o paciente na regulação de suas respostas emocionais.

 

segunda-feira, 14 de março de 2022

Intervenções comportamentais para o transtorno de escoriação: Revisão de artigos publicados em periódicos de saúde

 Richartz, M., Gon, M. C. C., & Zazula, R. (2017). Intervenções comportamentais para o transtorno de escoriação: Revisão de artigos publicados em periódicos de saúde. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, 13(2), 28-39. http://doi.org/10.18542/rebac.v13i2.5903

Resenha por Brenda Fernanda

 

O transtorno de escoriação é caracterizado pelos comportamentos excessivos de arranhar, ferir ou esfolar a pele. A vivência do transtorno pode desencadear sofrimento emocional e prejuízos na vida social das pessoas acometidas. É considerado um problema dermatológico, por afetar a pele, mas também é entendido como uma condição psiquiátrica, sendo objeto de estudo da área. O presente artigo consistiu em revisão bibliográfica da literatura, realizada em periódicos da saúde, objetivando intervenções realizadas em indivíduos com o transtorno supracitado. As bases de dados consultadas foram a PsycINFO, a Web of Science, PubMed/MEDLINE e BVS, com os descritores: ‘escoriação’, ‘neurotic excoriation’ ou ‘psychogenic excoriation’, combinados ao termo ‘behavioral treatment’. Dezoito artigos foram recuperados, catalogados e analisados qualitativamente, com base nos objetivos, métodos empregados e resultados das intervenções.

A maioria dos estudos foi realizada com adultos, sendo as estratégias e métodos da terapia de reversão de hábitos (TRH) (10 dos 18 artigos) a mais utilizada. A TRH é uma técnica comportamental que objetiva diminuir a frequência de comportamentos repetitivos, sendo composta por cinco componentes a serem treinados: conscientização, relaxamento, resposta concorrente (realização de padrão de comportamento oposto ao comportamento-problema), apoio social e generalização. Os demais estudos adotaram técnicas da terapia de aceitação e compromisso e da terapia cognitivo-comportamental (TCC). As intervenções demonstraram ser efetivas para garantir a redução da frequência da escoriação, mas houve dificuldade na manutenção dos resultados na avaliação de seguimento.

No que diz respeito ao delineamento das pesquisas, seis estudos utilizaram delineamento de sujeito único, seis de grupo e um de linha de base múltipla e linha de base com reversão. Cinco estudos não apresentaram dados empíricos sobre a intervenção e foram considerados relatos de caso. O número de sessões nos estudos variou de uma a 40 e o tempo de duração variou entre 30 minutos e uma hora.

A presente revisão tem relevância para a psicologia da saúde pois identifica possíveis intervenções a serem realizadas em pacientes com alguma condição clínica, visando à melhor qualidade de vida e redução no impacto psicoemocional ocasionado pela doença. Tendo em vista o fato de que o transtorno de escoriação causa grande sofrimento para os indivíduos acometidos, é de suma importância que tais ações sejam realizadas para proporcionar a eficácia do tratamento dermatológico, bem como para melhorar o quadro psicológico.


                                            

sexta-feira, 4 de março de 2022

Automutilação não suicida e bulimia: O papel da desregulação emocional e insatisfação corporal

 Hovrud, L., Simons, R., Simons, J., & Korkow, J. (2020). Non-suicidal self-injury and bulimia: The role of emotion dysregulation and body dissatisfaction. Eating and Weight Disorders-Studies on Anorexia, Bulimia and Obesity, 25(4), 1089-1097. https://doi.org/10.1007/s40519-019-00741-5.

Resenhado por Luiz Guilherme Lima-Silva.

O comportamento auto lesivo sem intencionalidade suicida em pessoas que sofrem de bulimia é bastante comum. A prevalência desse comportamento nessa população pode variar de 26 a 61%. Em termos de precedência da relação autolesão-bulimia, sugere-se que os sintomas bulímicos predizem o engajamento na automutilação. Uma população que é bastante propensa ao desenvolvimento de sintomas do referido transtorno alimentar são os estudantes universitários, particularmente as mulheres, visto que a prevalência é de 16% em contraposição ao gênero masculino com 9% de risco de desenvolver sintomas para estabelecer um diagnóstico formal. Segundo o modelo de evitação experiencial, o engajamento na automutilação proporciona alívio momentâneo e evitação de estados emocionais indesejados. Esse modelo lança luz no papel das emoções negativas em comportamentos disruptivos e pode ajudar a entender o comportamento automutilatório entre pessoas com sintomas de bulimia. Além disso, outro ponto relevante é a insatisfação corporal de pessoas com bulimia. Maior insatisfação corporal foi encontrada em pessoas com histórico de autolesão do que naquelas que não se engajavam em tal comportamento. Diante disso, o estudo visou analisar a relação entre os construtos supracitados a fim de criar modelos de mediação e moderação para melhor explicar o fenômeno da autolesão em pessoas com sintomas de bulimia.

A amostra foi composta por 488 jovens adultos de 18 a 25 anos, sendo que cerca de 60% foram do gênero feminino, 38% do gênero masculino, 1% foram de pessoas não binárias e 1,5% não respondeu. Os instrumentos usados foram: How I Deal with Stress para mensurar o engajamento em autolesão; Eating Disorder Inventory-3rd Edition para medir cognições e comportamentos acerca de problemas alimentares; Deliberate Self-Harm Inventory para aferir automutilação; Positive Affect Negative Affect Schedule para capturar a experiência de afetos negativos; Distress Tolerance Scale mensura o quanto alguém consegue tolerar eventos estressantes; UPPS Impulsive Behavior Scale para medir a tendência a agir precipitadamente ao experienciar uma emoção negativa.

Cerca de metade da variância da autolesão em pessoas com sintomas de bulimia se deveu aos padrões específicos de regulação emocional. Outro resultado relevante foi o papel mediador dos sintomas de bulimia entre regulação emocional e automutilação, fornecendo precedência temporal desses desfechos. Independente do gênero, maiores déficits na regulação emocional fazem com que os indivíduos se tornem mais propensos a desenvolver comportamentos disruptivos. Esses achados, em conjunto, permitem expandir o modelo de evitação experiencial dos comportamentos autolesivos para distúrbios alimentares, visto que uma menor habilidade de tolerar eventos estressantes e maior impulsividade, quando experienciam afetos negativos, foram associados a maior probabilidade de engajamento em comportamentos de autolesão.

A Psicologia da Saúde tem como parte de sua fundamentação teórica o estudo do estresse e os mecanismos de enfrentamento utilizados para lidar com ele. Assim, está dentro do campo epistemológico dessa área técnicas de enfrentamento baseadas no problema e na emoção, que podem ser utilizadas em casos de indivíduos com sintomas de bulimia e de automutilação. Dessa forma, a Psicologia da Saúde pode intervir nesses casos a fim de aumentar a regulação emocional e diminuir a insatisfação corporal nesses indivíduos que poderia resultar em possíveis intervenções estéticas. Além do suporte teórico e técnico da Psicologia da Saúde, pode-se contar também com a Terapia Comportamental Dialética, que preconiza o ensino de habilidades para tolerar o estresse e diminuir a baixa tolerância à frustração.