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https://doi.org/10.1515/sjpain-2019-0180
Resenhado
por Giulia
A Psicologia da dor tem avançado
significativamente nas últimas décadas, proporcionando maior conhecimento
acerca dos fatores psicológicos que podem determinar a dor. O artigo se
inspirou no trabalho do professor Steven J. Linton, um dos pioneiros e
principais contribuintes para o desenvolvimento da Psicologia da Dor, a fim de traçar
uma síntese de estado da arte com pertinentes descobertas para esse campo.
O modelo de medo-evitação é um marco
teórico central na Psicologia da dor, sendo utilizado para descrever como
pessoas desenvolvem e mantêm dor crônica. Ele tem guiado o desenvolvimento de
intervenções psicológicas e hoje é apresentado como alternativa para o modelo
biopsicossocial. Segundo tal modelo, o elemento “evitação” pode impactar no
sucesso do tratamento e predizer piores debilitações ligadas à dor crônica. Por
serem fatores modificáveis, o medo e a evitação são possíveis alvos de
intervenção para tratamento e prevenção de condições de saúde relacionadas a
dor. Sabe-se, também, que há forte relação entre sofrimento mental, dor crônica
e prejuízos nas atividades diárias. Recentemente, foi reconhecido o diagnóstico
cunhado por “Dor crônica primária”, que se refere a um quadro no qual a dor e a
angústia causada por ela são o principal sintoma, ao invés de aparecerem como comorbidades
em outras condições de saúde. Logo, o novo diagnóstico integra aspectos
emocionais e comportamentais, adotando o sofrimento emocional ou a incapacidade
funcional como requisitos, além de tirar o foco da procura de explicações
biológicas para o adoecimento.
Outro elemento que vem sendo
estudado e desenvolvido é a prevenção secundária. O termo denota medidas
preventivas que favorecem o diagnóstico precoce e levam ao tratamento
apropriado para a doença. Atualmente, a prevenção secundaria se insere no
modelo cognitivo-comportamental da dor e contrasta com as linhas teóricas
tradicionalmente biomédicas, cujo principal objetivo era a cura. O estudo das
diferenças individuais dos pacientes contribuiu com a identificação de fatores
de risco para a dor crônica, possibilitando reconhecer casos em potencial e
intervir sobre eles. Além disso, a resiliência tem sido apontada como um fator
protetivo, tendo importante influência para um bom prognóstico no que se refere
ao funcionamento físico a longo prazo, uma vez que pode modificar a percepção
de dor e como ela interfere com o funcionamento do indivíduo. Há indícios de
que fortalecer a resiliência psicológica pode trazer ganhos clínicos
significativos, especialmente se combinado com as técnicas focadas nos fatores
de risco. Assim, novos alvos foram adicionados nas intervenções para refiná-las
e produzir evidências mais robustas de eficácia. A última versão do modelo de
medo-evitação incorporou afetos positivos e otimismo como fatores que podem
contribuir para estratégias mais adaptativas para lidar com a dor e seus
subsequentes debilitações.
Os
avanços demonstrados no artigo são frutos de décadas de pesquisas e
intervenções que foram aprimoradas com as evidências produzidas. Nesse sentido,
a psicologia da saúde pode trazer contribuições significativas, dando
seguimento ao estudo da relação entre os fatores psicológicos e a dor crônica, visando
a fortalecer as evidências existentes, bem como favorecendo prognósticos mais
positivos para pessoas que sofrem de dores crônicas.
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