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domingo, 30 de abril de 2023

Camuflagem do autismo em meninas

 


Wood-Downie, H., Wong,B., Kovshoff, H., Mandy, W., Hull, L., & Hadwin J. A. (2021) Sex/Gender Differences in Camouflaging in Children and Adolescents with Autism. Journal of Autism and Developmental Disorders, 51(4), 1353-1364. https://doi.org/10.1007/s10803-020-04615-z

Resenhado por Thayslane Larissa Ribeiro Almeida

As mulheres, em geral, são frequentemente associadas a um comportamento mais quieto e reservado. Dessa forma, quando meninas no espectro autista ainda não diagnosticadas se mostram introspectivas, isso não é visto como algo que chame tanta atenção. Além disso, se comparado com seus pares do sexo masculino, possuem maior capacidade em se integrar a grupos sociais e entender a forma com que esses desejam que elas se comportem. Tudo isso dificulta o processo de diagnóstico e consequente intervenção, deixando-as em um limbo de sofrimento. O vídeo abaixo da psicóloga Mayra Gaiato, especialista em autismo infantil, fala mais sobre o assunto.

sábado, 29 de abril de 2023

Avaliação da Relação entre Eventos Traumáticos Infantis e Comportamentos Autolesivos em Adolescentes

 

Menezes, M. S., & Faro, A. (2023). Avaliação da Relação entre Eventos Traumáticos Infantis e               Comportamentos Autolesivos em Adolescentes. Psicologia: Ciência e Profissão, 43, e247126. https://doi.org/10.1590/1982-3703003247126

Resenhado por Hugo Vinicius Santana Batista

A adolescência é compreendida como um período de mudanças e de maior vulnerabilidade cognitiva e emocional. Isso muitas vezes predispõe o adolescente a se engajar em comportamentos danosos a si mesmo. Por conseguinte, Eventos Traumáticos (ET) e Traumas Psicológicos (TP) são recorrentes em crianças e adolescentes, pelo fato de estarem mais vulneráveis a episódios que desencadeiam eventos de trauma.

Uma das consequências negativas de situações traumáticas é o envolvimento em comportamentos autolesivos, resultado da combinação de vários fatores sociais e pessoais e mais comuns em jovens. Por essa razão, o estudo teve como objetivo relacionar eventos traumáticos na infância com a ocorrência de comportamentos de autolesão na adolescência.

            Realizou-se uma pesquisa com 494 estudantes do ensino médio em cinco escolas de Aracaju-Sergipe, sendo três públicas e duas privadas, no mês de setembro de 2019. Foram utilizados como instrumentos um questionário sociodemográfico, o Questionário sobre Traumas na Infância (QUESI), com a finalidade de detectar violências sofridas no período da infância e adolescência, e o Inventário de Autolesão Deliberada (IAD-r), para mensurar comportamentos autolesivos. Para analisar os dados, foi feita uma análise de Regressão Logística Binomial, sendo comportamento autolesivo a variável dependente (VD) e abuso emocional, abuso sexual e abuso físico as variáveis independentes (VIs), a partir do Statistical Package for the Social Science v20 (SPSS versão 20).

            De acordo com os resultados, foi possível observar que, entre os respondentes, 35,0% informaram nunca ter praticado autolesão, ao passo que 65,0% já se engajaram com a autolesão ao menos uma vez na vida. Foi também  verificado que os adolescentes que sofreram algum tipo de abuso (emocional, físico ou sexual) apresentaram de duas a duas vezes e meia mais chances de praticar autolesão em comparação àqueles que nunca sofreram estes tipos de experiências traumáticas durante a infância.Vale destacar que não foram encontradas diferenças em relação ao gênero dos participantes. Entretanto, quanto à idade, adolescentes mais novos que sofreram abuso físico inclinaram-se a uma maior adesão aos comportamentos autolesivos.

            Essas evidências permitiram identificar que a taxa de autolesão encontrada se mostrou acima de outras pesquisas do mesmo tema. A pesquisa colaborou para a detecção de fatores de risco para a conduta autolesiva em adolescentes, já que corroborou a teoria de que adolescentes que vivenciaram ET tendem a ter mais chances de praticar autolesão. Nesse sentido, verificou-se uma tendência dos mais novos serem mais suscetíveis a tais comportamentos, a justificativa sugerida pelos autores foi por possuírem menos recursos psicológicos e estratégias adaptativas.

            A importância do estudo se dá pela contribuição às intervenções psicológicas, além da contribuição para a melhor compreensão, pela psicologia da saúde, de problemas cognitivos e comportamentais que acometem crianças e adolescentes. Dessa forma, aspectos como desenvolvimento da autoestima, regulação emocional e capacidade de resolução de problemas poderiam ser trabalhados nos adolescentes a partir do profissional da psicologia. Ações também são importantes no contexto familiar e escolar, com a finalidade de que todas as esferas auxiliem o desenvolvimento cognitivo e comportamentos favoráveis à saúde na adolescência.

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Melatonina para distúrbios do sono em pessoas com autismo: revisão sistemática e metanálise

 

Nogueira, H. A., de Castro, C. T., da Silva, D. C. G., & Pereira, M. (2022). Melatonin for sleep disorders in people with autism: Systematic review and meta-analysis. Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry, 110695. https://doi.org/10.1016/j.pnpbp.2022.110695

Resenhado por Lucas Souza

 

Pessoas com transtornos do neurodesenvolvimento, em especial pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), estão sob maior risco que a população geral de desenvolverem distúrbios do sono. Essas alterações no sono podem influenciar negativamente no funcionamento do indivíduo durante o dia e aumentando o seu nível de estresse. Além disso, alterações no sono podem agravar problemas comportamentais, déficits na comunicação e aumentar comportamentos estereotipados. Nesse cenário a melatonina se mostra como uma alternativa terapêutica para melhorar a qualidade do sono dos indivíduos com TEA.

O presente estudo se trata de uma revisão sistemática de literatura e metanálise que objetiva avaliar os efeitos benéficos da melatonina em parâmetros do sono indicadores de sua qualidade. Esta revisão sistemática seguiu as recomendações do PRISMA e da Cochrane. Os seguintes critérios de elegibilidade foram adotados: estudos que mensuraram parâmetros do sono em indivíduos com TEA, voltados a indivíduos de 2 a 60 anos de idade, que avaliaram suplementação de melatonina, que utilizaram grupo controle e que especificaram dose e duração do tratamento. Foram utilizadas oito das principais bases de dados para a busca dos estudos, que após a remoção de duplicidades somaram 533 resultados. Após a avaliação para elegibilidade foram incluídos um total de 15 estudos. Os resultados da metanálise foram dados pelo Standard Mean Difference (SMD) e informado o Intervalo de Confiança (IC95%).

O presente estudo demonstrou efeitos da melatonina variados nos distúrbios do sono em pessoas com diagnóstico de TEA a depender do parâmetro mensurado. A melatonina apresentou efeito positivo em relação ao grupo controle nos parâmetros “Tempo Total de Sono” (SMD = 0,74; IC95% = 0,01; 1,48), “Latência de Início do Sono” (SMD = − 1,18; IC95% = − 1,94; − 0,42) e “Eficiência do Sono” (SMD = 1,12; IC95% = − 0,76; 3,00). A qualidade da evidência utilizada para chegar a essas conclusões foi tida como moderada devido a alta heterogeneidade dos achados. Por outro lado, a melatonina não apresentou efeito positivo em relação ao grupo controle nos parâmetros “Tempo Acordado Após o Início do Sono” (SMD = − 0,42; IC95% = − 1,75; 0,92) e “Despertares” (SMD = − 0.53; IC95% = − 1,27; 0,21). Além disso, a qualidade da evidência foi de muito baixa a baixa, respectivamente, nesses parâmetros.

A duração dos benefícios e qual o perfil dos indivíduos que mais se beneficiariam da intervenção com melatonina ainda é um dado incerto e com alguma variabilidade entre os estudos avaliados. O estudo sugere que os ensaios clínicos posteriores explorem melhor os subgrupos de indivíduos com TEA e que explorem a discriminação das diferentes dosagens de melatonina nas intervenções.

O presente estudo é importante para a formação de evidências científicas voltadas ao tratamento de alterações do sono em indivíduos com TEA. Os achados da metanálise indicam que a melatonina deve ser considerada uma alternativa no tratamento de distúrbios do sono nesse público, com ganhos significativos em diversos parâmetros do sono. É importante destacar que as medidas farmacológicas não devem ser a única via de atuação no tratamento de distúrbios do sono, sendo necessário a adoção de medidas comportamentais de higiene do sono.


segunda-feira, 24 de abril de 2023

Intervenções psicoeducativas para pacientes com lúpus eritematoso sistêmico: uma revisão sistemática

 

de Oliveira Landivar, S. A., & Netto, T. M. (2022). Intervenções psicoeducativas para pacientes com lúpus eritematoso sistêmico: uma revisão sistemática. Cadernos da FUCAMP, 21(51), 92-109. http://orcid.org/0000-0003-2410-1183

 

Resenhado por Júlia Nunes

 

Lúpus é uma doença inflamatória autoimune, que pode afetar múltiplos órgãos e tecidos, como pele, articulações, rins e cérebro. A psicoeducação é um tipo de intervenção que relaciona técnicas psicológicas e pedagógicas para ensinar pacientes e cuidadores sobre uma patologia física e/ou psíquica. Nesse processo é comum ocorrer o esclarecimento de dúvidas e a correção de crenças distorcidas que possam estar atrapalhando o tratamento. A premissa básica da psicoeducação é aumentar o conhecimento e o tempo de remissão da doença, facilitando a aderência à terapêutica medicamentosa, amenizando fatores estressantes e melhorando a resolução de problemas dos pacientes.

A intervenção psicoeducativa permite múltiplas possibilidades e pode ser realizada através de manuais de orientação, cartilhas, imagens explicativas, textos, slides e recursos audiovisuais. Para pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), entende-se que a psicoeducação é uma técnica que pode beneficiá-los, visto que ela pode ampliar seu autoconhecimento, atuar no manejo de estresse e proporcionar um entendimento mais aprofundado da patologia e dos tratamentos disponíveis para os pacientes.

Com objetivo de descrever os achados dos estudos que realizaram e avaliaram os efeitos de intervenções psicoeducativas em pacientes com LES, foi feita uma revisão sistemática da literatura a partir das seguintes bases de dados: Lilacs, SciELO e PubMed. Foram incluídos estudos entre os anos 2000 e 2021, nos idiomas inglês e português, tendo sido estudos randomizados ou não. Na primeira busca foram detectados 43 estudos, sendo que nenhum deles pertenciam à literatura nacional. Aplicados os critérios de inclusão e exclusão restaram apenas 5 estudos para análise na íntegra.

Verificou-se que a psicoeducação em quadros de LES proporcionou melhora significativa para depressão, saúde geral, enfrentamento da doença, autoeficácia, autoestima, senso de comunidade e disfunção social. No entanto, os resultados foram inconclusivos para lócus de controle, percepção social e apoio social. A maioria dos estudos concordaram com a importância da intervenção psicoeducativa na melhora dos fatores psicológicos e de saúde dos portadores do LES. Além disso, achados sugeriram pouca utilização da intervenção psicoeducativa para mulheres, pouca participação das pacientes em grupos terapêuticos, visto que a doença acarreta muitas limitações, o que pode dificultar desenhos randomizados controlados.

Em resumo, compreendeu-se que os estudos sugeriram resultados promissores no que se refere às intervenções psicoeducativas usadas como coadjuvante ao tratamento médico para pacientes com LES.  Esses achados são importantes para a psicologia da saúde visto que a produção de dados científicos como esse são necessários para orientar a pratica dos profissionais que atuam nos setores de atenção à saúde da população.   

domingo, 23 de abril de 2023

Abril e o Transtorno do Espectro Autista (TEA)

 

Postado por Brenda Fernanda P. Silva-Ferraz

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, a cognição e a interação social dos indivíduos. O mês de abril é conhecido como mês de conscientização sobre o autismo, a fim de que a sociedade passe a ter mais conhecimento sobre, desmitificando, também, crenças equivocadas e estimulando o respeito. Cabe à psicologia intervir para que as pessoas com TEA possam desenvolver suas habilidades, bem como adaptarem-se à realidade de conviver com a condição.

 


sábado, 22 de abril de 2023

Adaptação e validação da escala de medo da Covid-19

 

Faro, A., Silva, L.S., Santos, D. N., & Feitosa, A. L. B. (2020). Adaptação e validação da Escala de Medo da COVID-19. https://doi.org/10.1590/1982-0275202239e200121

 

                                                                                  Resenhado Por José Wilton

 

O medo é considerado um estado emocional desagradável e desencadeado por impulsos ameaçadores, sendo uma emoção adaptativa que visa mobilizar energias para lidar com situações adversas. O medo foi muito comum durante a pandemia da Covid-19, o que acarretou maiores níveis de estresse, menor satisfação com a vida e bem-estar mental afetado. Assim, a validação de uma escala de medo no contexto brasileiro é algo importante para estudos futuros, visto que a falta de instrumentos psicométricos apropriados para os cuidados necessários a serem abordados. O objetivo deste estudo foi adaptar e validar a Escala de Medo da Covid-19 (FCV-19S) para um contexto brasileiro, além de reunir evidências que atestem sua validade no Brasil.

A pesquisa avaliou 1.000 adultos, com idade média de 30,9 anos (DP=12,06), de todas as regiões do Brasil, porém com predominância na região nordeste (58,1%). As informações foram coletadas por meio de um questionário online. A FCV-19S contém sete itens utilizando respostas do tipo Likert que variam de 1 (discordo totalmente) até 5 (concordo totalmente). O instrumento foi traduzido e atestado por juízes especialistas, que consideraram adequados os itens e a escala de resposta. Para fins de análise e validade, a Escala de Estresse Percebido (PSS-10) foi utilizada com o intuito de validade concorrente, já que o medo e o estresse tendem a ser emoções associadas.

Os resultados apresentados mostraram que a média da amostra foi de 22,2 (DP=5,78), as pontuações tiveram máximo de 35 e mínimo de 7 pontos. No estudo original o alfa Cronbach foi de 0,82 e na validação para português brasileiro obteve-se um alfa de 0,90, considerado excelente. A análise fatorial confirmatória (CFA) confirmou a unidimensionalidade da escala e apresentou índices com valores adequados [CFI (0,986), GFI (0,992), TLI (0,980), RMSEA (0,66) e SRMR (0,060)]. Ademais, foram divididos os dados em 3 diferentes grupos, a saber: medo leve, que variou de 7 a 19 pontos; medo moderado, com pontuação entre 20 e 26; e medo intenso, que foi classificado a partir de 27 pontos. Observou-se que a maioria dos participantes apresentou medo moderado 38,8%, seguido de medo leve 31,8% e 29,4% de medo intenso. Assim, com os pontos de corte foi possível classificar a severidade do medo na população, bem como estabelecer grupos potencialmente mais vulneráveis aos efeitos nocivos do medo exacerbado.

Em resumo, entende-se como importante a adaptação e validação da escala em um contexto brasileiro para fins de elaboração de pesquisas futuras que visem a avaliar o medo da Covid-19 no Brasil. A elaboração dos pontos de cortes também foi benéfica, sendo que isso contribui para mensurar a gravidade desta emoção na sociedade. Diante disso, vê-se a importância da atuação da psicologia da saúde em pesquisas como esta, que têm em vista a elaboração e adaptação de instrumentos. Escalas como FCV-19S fornecem informações úteis para a elaboração de estratégias que proporcionem melhorias no bem-estar e qualidade de vida da comunidade.

 

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Gerenciamento cognitivo-comportamental do estresse: Prevenção e redução do burnout parental

 Urbanowicz, A. M., Shankland, R., Rance, J., Bennett, P., Leys, C., & Gauchet, A. (2023). Cognitive behavioral stress management for parents: Prevention and reduction of parental burnout. International Journal of Clinical and Health Psychology, 23(4), 100365. https://doi.org/10.1016/j.ijchp.2023.100365

 

Resenhado por Luiz Fernando de Andrade Melo

 

Burnout parental é uma síndrome caracterizada por exaustão emocional e física, com diminuição do senso de realização no papel de pai ou mãe e distanciamento dos filhos. A depender da severidade do burnout parental, pode haver aumento da ideação suicida, desregulação do sono e de comportamentos viciosos. Ademais, a síndrome também pode contribuir para conflitos familiares e comportamentos violentos diante dos filhos.

A terapia cognitivo-comportamental, a terapia de aceitação e compromisso, psicoeducação e mindfulness têm se mostrado como abordagens eficazes para tratar o burnout parental, na busca de reduzir o estresse. Entretanto, os estudos existentes são voltados para casos mais severos de burnout e há uma lacuna na literatura quanto a programas com papeis preventivos para a síndrome. Assim, esta pesquisa buscou avaliar a eficácia de um programa de gerenciamento cognitivo-comportamental do estresse em 8 sessões para redução da severidade do burnout parental, reduzindo o estresse e as ruminações e aumentando a regulação emocional.

Participaram do estudo 196 pais, com faixa etária média de 37,3 anos e com uma média de 2 filhos morando no mesmo lar. Para a pesquisa foram analisados dois grupos, sendo divididos entre os que participaram da intervenção do gerenciamento cognitivo-comportamental do estresse e os que estavam na lista de espera. Apesar disso, os grupos não foram separados randomicamente devido a questões éticas. Ambos responderam questionários em dois estágios diferentes, antes e depois do programa, sendo que os participantes da intervenção responderam também após três meses do final do tratamento.

Os questionários avaliaram a severidade do burnout parental, sintomas de estresse, ruminações, autobondade e regulação emocional. A Parental Burnout Assessment – BPA mediu a severidade do burnout parental por meio de uma escala de 23 itens em que sua pontuação se dividia em diferentes níveis: sem risco, risco baixo, risco moderado e risco severo. O estresse foi analisado por meio da Depression, Anxiety, Stress Scale – DASS-21, as ruminações por meio da Mini-Cambridge Exeter Repetitive Thought Scale – Mini-CERTS, a autobondade por meio da Unconditional Self-Kindness scale – USK. Por fim, a Profile of Emotional Competence scale – PEC mensurou as dimensões das competências emocionais. A análise de dados foi feita através de análises de covariância e testes t.

Os resultados do estudo demonstraram que, entre o primeiro e o segundo estágio do programa, houve redução das ruminações e dos níveis de estresse, bem como aumento da regulação emocional e dos níveis de autobondade. Além disso, houve redução significativa da severidade do burnout parental entre os pais que participaram da intervenção quando comparados com os pais da população geral. Outro aspecto encontrado foi que os resultados de regulação emocional continuaram mesmo após três do tratamento, demonstrando que os pais conseguem desenvolver suas habilidades de controle do estresse após a intervenção.

O estudo mostrou que programas que combinam gerenciamento cognitivo-comportamental do estresse são eficazes na redução do burnout parental. As habilidades aprendidas durante a intervenção são mantidas e ajudam os pais a lidar melhor com o estresse e as emoções do dia a dia, reduzindo a chance de ideação suicida associada ao burnout e melhorando a saúde dos indivíduos. Sendo assim, os resultados se tornam relevantes para a Psicologia da Saúde promover melhores intervenções para quadros semelhantes de burnout.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Sintomas da depressão, ansiedade e estresse em estudantes da área da saúde e impacto na qualidade de vida

Freitas, P. H. B., Meireles, A. L., Ribeiro, I. K. S., Abreu, M. N. S., Paula, W., & Cardoso, C. S. (2023). Síntomas de depresión, ansiedad y estrés en estudiantes del área de la salud e impacto en la calidad de vida. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 31, e3884. 10.1590/1518-8345.6315.3884.

 

Jucimara Cabral de Santana

 

            A qualidade de vida (QV) é um conceito que se refere às condições de saúde, eficácia de intervenções, tratamentos e tem relação com a percepção das pessoas sobre suas realidades de vida. No contexto universitário, diversos fatores podem afetar negativamente a saúde mental, física e o desempenho acadêmico, como: a sobrecarga de trabalho, de tarefas acadêmicas, enfrentamento de situações que excedem a possibilidade de enfrentamento, dentre outras. Diante disso, o estudo buscou analisar a relação da qualidade de vida e de sintomas de depressão, ansiedade e estresse em universitários de cursos da saúde.

            Foi realizado um estudo transversal com 400 alunos inicialmente, entretanto, 321 alunos responderam a todos os questionários da pesquisa na área de saúde do estado de Minas Gerais. Dentre os cursos estavam medicina, farmácia, psicologia, enfermagem, educação física, nutrição, terapia ocupacional e biomedicina. Foi utilizada a WHOQOL-bref (Escala de Qualidade de Vida da OMS) para mensurar qualidade de vida, a DASS-21 (Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse) e um o questionário demográfico, todos via google forms.

            Na análise da WHOQOL-bref e da DASS foi identificada a relação da QV e os sintomas de depressão, ansiedade e estresse. Observou-se que em 50% dos graduandos da área da saúde foram identificados com sintomas de ansiedade, estresse e depressão, 20% com sintomas mais graves, a variável curso analisada no modelo, não teve influência. O domínio mais impactado dessa reação é o psicológico com sintomas grave/muito grave e associados à menor qualidade de vida.

O estudo apontou o maior público feminino (71%), com o estado civil de solteiras (92,8%). A maior parte dos participantes relataram o uso de álcool (72,6%) e uso de drogas ilícitas (45,5%), tendo 23,7% iniciado o uso com o ingresso a universidade. Foi identificada uma relação significativa e negativa entre a qualidade de vida e os sintomas de depressão, ansiedade e estresse, pois a gravidade dos sintomas se associou com a QV e menores scores. Dessa forma, o estudo aponta que estudantes da área da saúde apresentam altos níveis de sintomas ansiosos, depressivos e de estresse, sendo esses fatores que impactam a qualidade de vida.

            As condições de saúde (depressão, ansiedade e estresse) associadas a qualidade de vida têm impacto direto na vida e no funcionamento dos estudantes de ensino superior.

A pesquisa buscou contribuir para o cuidado a saúde dos acadêmicos, tendo em vista que as condições citadas podem prejudicar o rendimento estudantil. Esses fatores implicam diretamente a saúde dos estudantes, desde o aspecto funcional ligado ao rendimento acadêmico, ao convívio social, além dos comportamentos desadaptativos que surgem como enfrentamento dos estressores. A Psicologia da Saúde estuda a relação dos fenômenos psicológicos no processo de saúde/doença e em sua práxis trabalha na promoção e manutenção da saúde, podendo explorar intervenções pautadas em melhorar a qualidade de vida.

terça-feira, 18 de abril de 2023

Ruminação no transtorno de estresse pós-traumático: Uma revisão sistemática

 

Molda, M. L., Bisby, M. A., Wild, J., & Bryant, R. A. (2020). Rumination in posttraumatic stress disorder: A systematic review. Clinical Psychology Review, 82(2020), 101910. https://doi.org/10.1016/j.cpr.2020.101910

Resenhado por Beatriz Oliveira

 

A ruminação é frequentemente estudada no contexto da depressão. No entanto, a literatura tem apontado o seu caráter transdiagnóstico, em que pode ser vista como um processo cognitivo que desempenha um papel de manutenção em diferentes transtornos, a exemplo do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Um dos sintomas fundamentais do TEPT são os pensamentos intrusivos, nos quais são aspectos que apresentam certas distinções com a ruminação, apesar de estarem fortemente ligados e funcionarem como um catalisador. Os pensamentos intrusivos tratam-se de ‘flashes’ em relação ao trauma que vêm à mente de modo espontâneo. Já na ruminação, o conteúdo dos pensamentos é referente aos antecedentes e às consequências do evento traumático.  

Esta revisão objetivou abordar a frequência, a natureza, a capacidade preditiva e o papel de manutenção da ruminação no TEPT, bem como discutir questões metodológicas que limitam o trabalho clínico e de pesquisa nessa área. Para tal, foi feita uma busca nos bancos de dados PsycINFO, Scopus e PubMed entre o final de 2019 e abril de 2020. Foram selecionados artigos de desenhos variados, como transversais, prospectivos, randomizados e controlados a fim de realizar uma revisão mais abrangente. Além disso, as pesquisas escolhidas para compor esta revisão eram com participantes de qualquer idade, diagnosticados com TEPT, em vez de pessoas que relatavam sintomas de estresse pós-traumático.

Os resultados apontaram os pensamentos ruminativos como uma característica cognitiva comum aos sintomas de TEPT. Também foi encontrado uma presença recorrente de pensamentos em relação a como seria a vida da pessoa caso o evento não tivesse acontecido. Outro ponto observado foi a associação entre ruminação e aumento de emoções negativas, desencadeando pensamentos e memórias intrusivas. Em relação a variáveis mediadoras, alguns artigos identificaram a evitação experiencial e níveis percebidos de estresse como aspectos que poderiam mediar a relação entre pensamentos ruminativos e TEPT, porém mais estudos são necessários para compreender essa mediação.

Exemplificado no artigo, uma pesquisa com pessoas que sofreram acidentes automobilísticos apresentou redução da ruminação em três meses de tratamento do transtorno, indicando a possibilidade de mecanismos em comum entre pensamento ruminativo e estresse pós-traumático, mas poucas análises foram feitas a respeito de como o tratamento de TEPT poderia reduzir a ruminação. Relacionado às implicações teóricas e práticas, a revisão destacou alguns pontos importantes. Dentre eles, testes experimentais, para uma melhor compreensão teórica da ruminação no TEPT, a importância de melhor mensurar os pensamentos ruminativos no estresse pós-traumático, destacando a necessidade de desenvolvimento e validação de um instrumento de autorrelato. Apontou-se, ainda, a carência de estudos de ruminação em TEPT ao longo da vida, bem como a falta de amostras clínicas.

Diante do exposto, é possível perceber uma escassez na literatura em relação às pesquisas com ruminação no contexto de TEPT. Para um progresso nessa área, é fundamental que mais investigações sejam realizadas, a fim de alcançar uma compreensão teórica do papel dos pensamentos ruminativos no estresse pós-traumático. Por fim, isso também pode viabilizar a melhor avaliação e elaboração de protocolos de intervenção para pessoas expostas a eventos traumáticos e com pensamentos ruminativos recorrentes. 

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Mindfulness & autismo: Desenvolvimento de um protocolo baseado em Mindfulness para adultos com TEA e TMC

 

Spek, A. A., Ham, N. C. V., & Nyklíček, I. (2013). Mindfulness-based therapy in adults with an autism spectrum disorder: A randomized controlled trial. Research in Developmental Disabilities, 34, 246-253. https://doi.org/10.1016/j.ridd.2012.08.009

 

Resenhado por Beatriz Lima

           

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que pode afetar o funcionamento de um indivíduo em diversas áreas da sua vida. Aspectos como as dinâmicas sociais do mundo moderno e reconhecimento do self podem aumentar o risco do desenvolvimento de transtornos ansiosos e de humor nessa população, sendo a depressão e os transtornos ansiosos as principais preocupações psiquiátricas nesse público. As intervenções não-médicas para tratar essas patologias entre pessoas com TEA concentram-se, principalmente, na terapia cognitivo comportamental (TCC). No entanto, essa técnica apresenta algumas limitações como a longo tempo do tratamento - decorrente das limitações cognitivas do TEA - e dúvidas acerca da duração dos resultados. A terapia baseada em Mindfulness mostrou-se eficaz no tratamento de transtornos ansiosos e de humor em populações clínicas. O Mindfulness consiste em prestar atenção às experiências no momento presente sem julgamento e com um viés de aceitação. Apesar de ambos buscarem a redução dos sintomas ansiosos e depressivos, o Mindfulness, diferentemente da TCC, não foca na análise cognitiva dos pensamentos, o que pode ser benéfico para indivíduos com TEA, levando em conta as possíveis limitações cognitivas associadas a esse transtorno.

O presente estudo investigou a eficácia de um protocolo adaptado de Mindfulness para a redução de sintomas ansiosos e depressivos em pessoas com TEA. Participaram da pesquisa 41 pessoas, recrutadas no Adult Autism Center of Eindhoven, na Holanda. Os indivíduos passaram por uma avaliação diagnóstica de TEA e os critérios de inclusão foram a confirmação do diagnóstico, a presença de sintomas ansiosos, depressivos e/ou de ruminação e ter entre 18 e 65 anos. Toda a amostra apresentava habilidades verbais médias ou altas. Foi utilizado uma adaptação do protocolo de Mindfulness de Segal, Williams e Teasdale (2002), com a omissão de elementos cognitivos, ampliação da duração dos exercícios respiratórios e da quantidade de sessões. Ao todo, foram realizadas 9 sessões semanais, com duração de 1h30min cada. Os participantes foram orientados a praticar de 40 a 60 minutos de mindfulness diariamente, seis dias por semana.

Os resultados confirmaram a hipótese apresentada inicialmente: os membros  do grupo experimental demonstraram redução nos níveis de ansiedade, depressão e ruminação. Não foram observados os mesmos achados no grupo controle. Conforme apontado na literatura, os achados sugeriram que o declínio dos sintomas de ansiedade pode ser atribuído à redução da ruminação e a diminuição dos sintomas de depressão pode ser parcialmente devido à redução das tendências à ruminação. Além disso, foi observado aumento no afeto positivo no grupo experimental. No entanto, nesse aspecto, nenhuma relação foi encontrada entre a redução da ruminação e o aumento do afeto positivo. Isso pode sugerir que, para indivíduos com autismo, a ruminação também pode ter um lado positivo, ainda que parcialmente. De qualquer modo, cabe ressaltar a necessidade de novos estudos para validação da efetividade do protocolo, levando em consideração o tamanho da amostra utilizada e possíveis vieses, como o nível de habilidade verbal dos participantes.

            A partir dos achados desta pesquisa, entende-se que uma intervenção baseada em Minfulness para o tratamento de sintomas ansiosos, depressivos ou ruminação em adultos com TEA apresentaria resultados promissores. Assim, faz-se necessário que o psicólogo conheça diferentes intervenções e técnicas, a fim encontrar qual melhor se adeque ao seu caso e ao seu paciente, promovendo bem-estar e ajustamento psicológico em um menor período de tempo.

domingo, 16 de abril de 2023

TEA e Psicologia da Saúde

 O Transtorno do Espectro Autista também é foco das pesquisas em Psicologia da Saúde. Essa condição pode apresentar comorbidades associadas. Uma pessoa com autismo tem propensão a desenvolver outros transtornos mentais, como depressão, ansiedade e TOC. Dessa forma, as pesquisas em Psicologia da Saúde buscam aprofundar o conhecimento sobre os fatores psicossociais relacionados ao TEA. Isso contribui para potencializar o tratamento de sintomas psicológicos, como também o desenvolvimento de estratégias de promoção de saúde para esse público.



sábado, 15 de abril de 2023

Representações sociais sobre o autismo elaboradas por estudantes universitários

 Dias, C. C. V., Maciel, S. C., Silva, J. V. C. D., & Menezes, T. D. S. B. D. (2022). Representações sociais sobre o autismo elaboradas por estudantes universitários. Psico-USF, 26, 631-643. https://doi.org/10.1590/1413-82712021260403.

 

Resenhado por Luíza Ramos

 

            O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento de etiologia múltipla, cujas principais características se referem a alterações e comprometimentos na comunicação, na socialização e/ou no comportamento. Apesar dos avanços nos âmbitos de classificação nosológica, da saúde e das políticas públicas, ainda são vários os desafios enfrentados pelas pessoas autistas e seus familiares. Um desses desafios é o preconceito, alimentado pelo pouco conhecimento ou crenças distorcidas acerca do transtorno, o que produz exclusão e discriminação. Tendo em vista essa realidade, o estudo buscou conhecer a representação social do autismo, sob perspectiva da Teoria das Representações Sociais, uma vez que as representações possuem função de justificar e orientar condutas, atuando, assim, na construção da realidade social no que tange o autismo.

            Os dados foram coletados online, por meio de redes sociais. Participaram do estudo 206 universitários brasileiros. Os instrumentos utilizados foram um questionário sociodemográfico; a Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP), que consistiu em solicitar aos participantes a evocação de cinco palavras que viessem à mente a partir do termo indutor “autismo”; além de questões dissertativas que versaram sobre o conceito e causalidade do autismo. Foram realizadas análises descritivas pelo SPSS e os dados da TALP foram analisados por meio do software IRAMUTEQ, já para a análise dos dados das questões dissertativas utilizou-se a Análise de Conteúdo Temático-Categorial de Bardin.

            Os resultados mostraram que as palavras evocadas primeiro e com maior frequência foram: criança, dificuldade, isolamento, doença e deficiência, representando, portanto, o núcleo central da representação social do autismo para os participantes do estudo. Observou-se a noção de que o autismo é uma doença ou deficiência que consiste em uma dificuldade que afeta a criança, cuja característica proeminente é o isolamento. Tal achado mostra como o preconceito está presente, uma vez que o isolamento tem papel central e pode levar à exclusão dessas pessoas. Outra consequência é a dificuldade de acompanhamento e apoio social na vida adulta, já que o transtorno é fortemente associado à infância.

            Em suma, o estudo traz contribuições acerca da necessidade de mudança das representações disseminadas socialmente, visto que corroboram com visões preconceituosas e superficiais a respeito do autismo. Além disso, possibilita reflexões e propagação de informações sobre o autismo, que podem ser úteis no desenvolvimento de estratégias para melhora na qualidade de vida das pessoas autistas, contribuindo com a promoção de saúde nessa população e aumentando o escopo da Psicologia da Saúde.

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Falta de diagnóstico e diagnósticos incorretos em adultos com transtorno do espectro autista

 

Fusar-Poli, L., Brondino, N., Politi, P., & Aguglia, E. (2022). Missed diagnoses and misdiagnoses of adults with autism spectrum disorder. European Archives of Psychiatry and Clinical Neuroscience, 272(2), 187-198. https://doi.org/10.1007/s00406-020-01189-w

Resenha por Luiz Guilherme L. Silva.

Estima-se que 1,5% da população em países desenvolvidos seja afetada pelo transtorno do espectro autista (TEA). Atualmente, o diagnóstico do transtorno é feito durante a infância devido aos avanços na avaliação e diagnóstico psicológicos. Entretanto, existem muitos adultos que apresentam o TEA e que não são diagnosticados ou recebem diagnósticos errados. Nessa população, o diagnóstico de TEA pode ser difícil por diversas razões e, dentre elas, podem ser citadas as dificuldades de acesso ao histórico desenvolvimental, o mascaramento de alguns sinais e sintomas, e o fato de que pessoas com alto desempenho cognitivo podem não apresentar dificuldades até a adolescência ou idade adulta. A avaliação psicológica tardia para TEA pode vir acompanhada de diagnósticos incorretos a exemplo de transtornos de ansiedade, transtornos de personalidade, transtorno obsessivo-compulsivo e deficiência intelectual (DI).

Este estudo buscou analisar o prontuário clínico de 161 adultos com TEA a fim de analisar o histórico psiquiátrico, sendo a maioria (79,5%) do sexo masculino. Avaliou-se a presença de TEA, DI, ansiedade, depressão e dimensões da personalidade. Cerca de 20% dos pacientes apresentaram deficiência intelectual. Dentre outros transtornos mentais comórbidos, depressão (9,9%), ansiedade (6,2%) e transtornos psicóticos (4,3%) foram os mais comuns na amostra. Vale ressaltar que a proporção de comorbidades psiquiátricas encontradas foi menor que àquela presente na literatura. Encontrou-se que as mulheres foram diagnosticadas mais tarde que os homens, demonstrando uma associação ao diagnóstico tardio de TEA no sexo feminino. A maior parte da amostra apresentou habilidades cognitivas médias ou acima da média, necessitando de níveis baixos ou moderados de suporte. Alguns dos indivíduos foram diagnosticados previamente com DI, sem referência ao TEA, depressão e que aqueles que foram diagnosticados com transtorno de personalidade e/ou transtorno psicótico quase sempre foram usados o especificador “não especificado”.

Dentro do campo da Psicologia e, mais especificamente, a Psicologia da Saúde, a falta de preparação de diversos profissionais em identificar o TEA em adolescentes e adultos é um obstáculo para a oferta de tratamento adequado para essa população. Vale ressaltar que um passo favorável para pacientes neurodivergentes foi a mudança do diagnóstico de transtorno como categoria para espectro, no caso do autismo. Tal mudança favorece a inclusão nessa categoria diagnóstica e oferta de tratamento para pessoas com TEA que apresentam habilidades cognitivas na média e necessitam de suporte em nível baixo e moderado. Entretanto, ainda é necessário que psicólogos da saúde, por meio da educação continua, busquem se atualizar quanto à avaliação e diagnóstico de TEA em adolescentes e adultos.

 

terça-feira, 11 de abril de 2023

Moraes, L. S. K., & Rocha, F. N. (2017). Resiliência no trauma: a possibilidade de manejo na Terapia Cognitivo-Comportamental. Revista Mosaico, 8(1), 03-10. doi:10.21727/rm.v8i1.910 Resenhado por Millena Bahiano Durante o processo de desenvolvimento, as pessoas vivenciam uma série de situações adversas através das quais desenvolvem recursos e estratégias de enfrentamento para lidar com elas. Contudo, algumas pessoas conseguem enfrentar essas adversidades de forma mais adaptativa, transformando a vulnerabilidade em crescimento pessoal, ao passo que outros tendem a sucumbir frente a essas circunstâncias adversas. Nesse sentido, o conceito de resiliência abrange processos que podem explicar o enfrentamento de crises e adversidades em indivíduos, grupos e organizações sendo de fundamental importância a intervenção terapêutica. O presente artigo teve como objetivo investigar o desenvolvimento da resiliência diante do trauma psicológico. Para tanto, abordou os principais conceitos de resiliência, além de apresentar uma breve discussão sobre a utilização da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) no atendimento psicoterápico, a fim de auxiliar o processo cognitivo do paciente no alcance de funções adaptativas e na busca do desenvolvimento de um processo resiliente. Da mesma forma, o estudo buscou identificar estratégias de enfrentamento dos indivíduos diante de situações de vulnerabilidade e apresentar as principais variáveis do comportamento resiliente e sua aplicabilidade clínica. Segundo os autores, o conceito de resiliência ainda se encontra em construção e os diversos teóricos que a estudam, apesar de apresentarem diferentes definições para o termo, afirmam que os conceitos são tidos como complementares. Para qualificar um indivíduo como resiliente é necessário que ele tenha estado diante de um evento traumático e/ou vivenciado uma situação com alta exposição de risco, além de perceber a sua adaptação à adversidade como boa. Os indivíduos não podem ser considerados resilientes se nunca tiverem sofrido uma ameaça significativa. Outro fator abordado no estudo se refere a relação entre resiliência e coping. Estes dois constructos estão intimamente relacionados. Logo, não há como falar de resiliência sem também relacioná-la ao conceito de coping. A resiliência diz respeito às pessoas que conseguem se adaptar e superar as adversidades, sendo que o coping evidencia as estratégias que as pessoas tendem a utilizar para enfrentar as adversidades. Por fim, a partir dos achados desse estudo é possível compreender que o indivíduo pode desenvolver um processo resiliente, mesmo diante da vivência de uma situação estressante e traumática. Para a psicologia da saúde, à intersecção da resiliência com o coping pode evidenciar a ocorrência precoce de sofrimento psíquico no indivíduo, tais como a presença de sintomas depressivos e ansiosos. Além disto, pode auxiliar na minoração de prejuízos físicos e psicológicos, e contribuir na elaboração de estratégias mais adaptativas de enfrentamento da situação adversa e traumática.

 Moraes, L. S. K., & Rocha, F. N. (2017). Resiliência no trauma: a possibilidade de manejo na Terapia Cognitivo-Comportamental. Revista Mosaico, 8(1), 03-10. doi:10.21727/rm.v8i1.910


Resenhado por Millena Bahiano


Durante o processo de desenvolvimento, as pessoas vivenciam uma série de situações adversas através das quais desenvolvem recursos e estratégias de enfrentamento para lidar com elas. Contudo, algumas pessoas conseguem enfrentar essas adversidades de forma mais adaptativa, transformando a vulnerabilidade em crescimento pessoal, ao passo que outros tendem a sucumbir frente a essas circunstâncias adversas. Nesse sentido, o conceito de resiliência abrange processos que podem explicar o enfrentamento de crises e adversidades em indivíduos, grupos e organizações sendo de fundamental importância a intervenção terapêutica. 

O presente artigo teve como objetivo investigar o desenvolvimento da resiliência diante do trauma psicológico. Para tanto, abordou os principais conceitos de resiliência, além de apresentar uma breve discussão sobre a utilização da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) no atendimento psicoterápico, a fim de auxiliar o processo cognitivo do paciente no alcance de funções adaptativas e na busca do desenvolvimento de um processo resiliente. Da mesma forma, o estudo buscou identificar estratégias de enfrentamento dos indivíduos diante de situações de vulnerabilidade e apresentar as principais variáveis do comportamento resiliente e sua aplicabilidade clínica. 

Segundo os autores, o conceito de resiliência ainda se encontra em construção e os diversos teóricos que a estudam, apesar de apresentarem diferentes definições para o termo, afirmam que os conceitos são tidos como complementares. Para qualificar um indivíduo como resiliente é necessário que ele tenha estado diante de um evento traumático e/ou vivenciado uma situação com alta exposição de risco, além de perceber a sua adaptação à adversidade como boa. Os indivíduos não podem ser considerados resilientes se nunca tiverem sofrido uma ameaça significativa. Outro fator abordado no estudo se refere a relação entre resiliência e coping. Estes dois constructos estão intimamente relacionados. Logo, não há como falar de resiliência sem também relacioná-la ao conceito de coping. A resiliência diz respeito às pessoas que conseguem se adaptar e superar as adversidades, sendo que o coping evidencia as estratégias que as pessoas tendem a utilizar para enfrentar as adversidades.

Por fim, a partir dos achados desse estudo é possível compreender que o indivíduo pode desenvolver um processo resiliente, mesmo diante da vivência de uma situação estressante e traumática. Para a psicologia da saúde, à intersecção da resiliência com o coping pode evidenciar a ocorrência precoce de sofrimento psíquico no indivíduo, tais como a presença de sintomas depressivos e ansiosos. Além disto, pode auxiliar na minoração de prejuízos físicos e psicológicos, e contribuir na elaboração de estratégias mais adaptativas de enfrentamento da situação adversa e traumática.

 


domingo, 9 de abril de 2023

Autismo e Prática Baseada em Evidências

 

Resenhado por Luanna Silva

 

Abril é o mês de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Essa classificação reúne o conjunto de transtornos caracterizados pelo déficit de comunicação social e comportamentos sensório-motores repetitivos e incomuns. Para falar sobre esse assunto, o PBECast, um podcast que tem por objetivo a discussão de práticas baseadas em evidências, convidou o pesquisador em autismo e inclusão Lucelmo Lacerda. O episódio tem duração de aproximadamente 2 horas e é uma excelente oportunidade para quem quer conhecer mais sobre o tema a partir de uma perspectiva científica.

 




Eficácia, durabilidade e correlatos clínicos da intervenção de habilidades sociais PEERS em adultos jovens com transtorno do espectro autista: a primeira evidência fora da América do Norte

 

Chien, Y. L., Tsai, W. C., Chen, W. H., Yang, C. L., Gau, S. S. F., Soong, W. T., Laugeson, E., & Chiu, Y. N. (2023). Effectiveness, durability, and clinical correlates of the PEERS social skills intervention in young adults with autism spectrum disorder: The first evidence outside North America. Psychological Medicine, 53(3), 966-976. https://doi.org/10.1017/S0033291721002385

Resenhado por Lucas Souza

 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento marcado por déficits persistentes na comunicação social, por comportamentos estereotipados/repetitivos e por resposta sensorial incomum. Os impactos no funcionamento social tendem a se estender por toda a vida, não havendo, até recentemente, alternativas baseadas em evidência para o treinamento de habilidades sociais nesse público. O Programa para Educação e Enriquecimento de Habilidades Relacionais [do inglês, Program for the Education and Enrichment of Relational Skills (PEERS)] surge como possibilidade de intervenção psicológica voltada ao desenvolvimento de habilidades sociais em autistas.

O presente estudo teve três objetivos. Primeiramente, avaliar a efetividade da intervenção PEERS para jovens adultos taiwaneses, comparando múltiplos domínios como “funcionamento social” e “severidade do autismo” utilizando a observação direta, o autorrelato dos participantes e o relato dos cuidadores. O segundo objetivo foi avaliar a duração da intervenção em seguimentos de 3 e de 6 meses. O terceiro objetivo foi delimitar correlatos clínicos de efetividade, por exemplo, o Quociente de Inteligência (QI) e severidade dos sintomas basais. Os pesquisadores esperavam que maior QI, menor severidade de sintomas e menor ansiedade social fossem associados a mais ganhos com a intervenção.

Foram recrutados 82 jovens adultos com TEA que realizaram tratamento no National Taiwan University Hospital e divididos randomicamente entre dois grupos de 41 participantes. Os participantes do grupo PEERS foram alocados em 4 subgrupos de 10 ou 11 participantes que receberam tratamento psicoterápico em grupo semanal totalizando 16 sessões com duração de 90 minutos. Dos 41 participantes, 36 completaram o programa de tratamento e desses, três se recusaram em realizar o seguimento com a pesquisa nos seguimentos de 3 e 6 meses. O grupo controle recebeu tratamento com psicoterapia de suporte e aconselhamento para resolução de problemas. Não houve perdas no seguimento dos pacientes do grupo controle.

O grupo PEERS demonstrou melhora estatisticamente significativa em aspectos de déficits sociais, ansiedade relacionada à interação social, gravidade do autismo, empatia e conhecimento de habilidades sociais. Os comportamentos relacionados à comunicação apresentaram melhora no decorrer das sessões, por exemplo, o contato visual e expressões faciais apropriadas, a utilização de gestos e a reciprocidade durante a manutenção da conversa. Um dado importante é que as habilidades adquiridas tendiam a se manterem presentes nos seguimentos de 3 e 6 meses. Os indivíduos com menor severidade da doença apresentaram maior melhora nos déficits sociais e aqueles com maior inteligência apresentaram mais ganho no conhecimento de habilidades sociais.

O presente estudo é importante para a consolidação de evidências científicas voltadas ao desenvolvimento de habilidades sociais em indivíduos com o transtorno do espectro autista. Os achados do atual estudo clínico demonstram ganhos em diferentes aspectos da vivência social dos indivíduos com TEA e mostram a sustentação desses ganhos ao longo do tempo.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Terapia cognitivo-comportamental no manejo da desesperança e pensamentos suicidas

 

Marback, R. F., & Pelisoli, C. (2014). Terapia cognitivo-comportamental no manejo da desesperança e pensamentos suicidas. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas10(2), 122-129. http://dx.doi.org/10.5935/1808-5687.20140018  

 

Dada a alta prevalência de suicídio no mundo, o trabalho teve como objetivo realizar uma revisão narrativa para identificar as contribuições da terapia cognitivo-comportamental (TCC) no manejo da desesperança e de pensamentos suicidas, buscando compreender a relação entre eles, identificar a tríade cognitiva relacionada ao problema e verificar estratégias da TCC no tratamento desses pacientes.

Discutiu-se, no texto, que o suicídio é uma das principais causas de morte no mundo. Dada a sua proporção e gravidade, é considerado um problema de saúde pública, tendo maior prevalência em homens do que em mulheres. Destacou-se a dificuldade para a obtenção de dados sobre os métodos lesivos mais utilizados para efetuar o suicídio, principalmente, em países em desenvolvimento. Isso aponta para a necessidade de mudanças nos sistemas de rastreio do suicídio nos países, a fim de gerarem dados mais robustos sobre como se dá esse fenômeno em cada local, haja vista que há peculiaridades devido a diferenças sociais, econômicas e culturais inerentes a cada região. 

 A desesperança foi apontada como intimamente relacionada a intenção suicida, sendo compreendida como uma crença pertinente a um esquema de suicídio. Isso ocorre porque indivíduos que apresentam crenças de desesperança tendem a prever o futuro sem expectativas, perder a motivação pela vida e acreditar, muitas das vezes, que o suicídio é a única forma para lidar com seus problemas sem solução. Portanto, essa variável se faz importante tanto no processo de mensuração como também alvo de modificação na intervenção.  

No contexto da tríade cognitiva, a desesperança foi referida como um dos domínios que a compõe e foi feita uma importante distinção do seus status de estado e traço. A desesperança como um estado pode ser ativada a qualquer momento, como por exemplo, em um momento anterior à tentativa de suicídio. Já a desesperança como traço é vista como expectativas negativas estáveis sobre o futuro. Quanto mais potente for o traço, menor número de adversidades é necessário para que aconteça uma crise suicida e a experiência de um estado de desesperança.

Com relação ao tratamento da TCC para pacientes com comportamento suicida, foi apresentado que ele é bastante semelhante ao realizado para pacientes com transtorno depressivo, ansiosos e outros. O foco é direcionado para os problemas de vida do indivíduo que estão atrelados com as crises suicidas, almejando a prevenção do suicídio, seja por meio de estratégias que modifiquem a ideação ou intenção suicida, ou que promovam esperança para o futuro. Algumas das técnicas que podem ser utilizadas são: treino de habilidades para resolução de problemas, identificação de razões para viver e promover esperança, ligação do paciente com suas redes sociais de apoio, incentivo ao paciente à busca pelos tratamentos psiquiátrico, e serviço social concomitante ao processo psicoterapêutico.

Por fim, as contribuições do psicólogo da saúde podem ser direcionadas para o desenvolvimento de estratégias de rastreio sensíveis aos múltiplos fatores relacionados ao comportamento suicida, bem como ações interventivas para a comunidade geral que trabalhem a prevenção eficaz desse tipo de comportamento autolesivo. Proporcionando, assim, maior qualidade de vida para população.

 

"A forma que você encara um momento pode mudar tudo": como a interpretação de um evento pode influenciar o seu bem-estar?

 

Antonini, P. [TEDx Talks]. (2017, novembro 8). A forma que você encara um momento pode mudar tudo [Video file]. https://youtu.be/m0mI4bA7wYY

Resenhado por Júlia Nunes

 

"Eu não sei porque isso aconteceu comigo, mas eu quero levar isso como uma missão… quero fazer disso um verdadeiro propósito de vida"

Paola Antonini

 

A perspectiva de que o desenvolvimento de um estilo saudável de pensamento pode reduzir a angústia ou dar uma maior sensação de bem-estar é uma premissa reconhecida por muitas tradições filosóficas, como também pela psicologia cognitiva. Dessa forma, entende-se que a maneira de pensar sobre as coisas que nos acontece influencia a forma que reagimos e lidamos com ela.

No vídeo apresentado, é possível perceber como a avaliação cognitiva feita pela modelo Paola Antonini é fundamental em seu processo de recuperação e reabilitação, promovendo maior bem-estar mesmo diante das sequelas deixadas pelo acidente sofrido por ela. No decorrer do vídeo ela expressa várias frases, das quais algumas estão listadas a seguir, que demonstram crenças que são cruciais para as estratégias de coping e regulação emocional utilizadas por ela.

 

- "Mudanças acontecem a todo momento… tem mudanças de todos os jeitos, grandes, pequenas, boas, ruins… algumas que a gente escolhe e outras que não. O que a gente sempre vai escolher é como a gente age depois dessas mudanças"

- "Eu falo que talvez o medo fique comigo para o resto da minha vida, mas o que eu sempre vou poder escolher é como eu enfrento/encaro ele"

- (ao saber que sua perna havia sido amputada) "Tá bom, graças a Deus que eu estou viva, né?"

- "Eu resolvi não sofrer por antecipação… vamos encarar cada dia de uma vez".

terça-feira, 4 de abril de 2023

Traços do Big Five como preditores da percepção de estresse durante a pandemia da Covid-19

 

Resenhado por Brenda Fernanda Silva-Ferraz

Zacher, H., & Rudolph, C. W. (2021). Big Five traits as predictors of perceived stressfulness of the COVID-19 pandemic. Personality and Individual Differences, 175, 110694. https://doi.org/10.1016/j.paid.2021.110694

 

A pandemia da Covid-19 ocasionou diversos impactos na vida das pessoas, incluindo a saúde mental. Os traços de personalidade estão relacionados com o modo como as pessoas interpretam e reagem a situações adversas, a exemplo da pandemia. Neste caso, podem haver sintomas depressivos, ansiosos, redução no bem-estar e uso de estratégias de enfrentamento mal adaptativas. Destaca-se que o conhecimento acerca dos traços de personalidade enquanto fatores preditivos da mudança na percepção do estresse ao longo do tempo é importante para se pensar em intervenções eficazes nos momentos de crise. Por isso, a presente pesquisa objetivou examinar os traços de personalidade do Big Five como preditores de diferenças individuais e mudanças no estresse percebido da pandemia de COVID-19 na Alemanha entre o início de abril de 2020 e o início de setembro de 2020.

As hipóteses do presente estudo foram: 1) o declínio do estresse percebido entre abril e julho de 2020 será maior do que o declínio entre julho e setembro de 2020; 2) o nível médio de estresse percebido será predito pela extroversão (quanto mais alta a extroversão, maior a percepção de estresse) e pela estabilidade emocional (maior estabilidade, menor estresse) e; 3) mudanças na percepção de estresse serão preditas pela extroversão e estabilidade emocional.

Neste estudo longitudinal, os dados foram coletados em seis momentos: dezembro de 2019 (T0), abril de 2020 (T1), maio de 2020 (T2), julho de 2020 (T3), agosto de 2020 (T4) e setembro de 2020 (T5). O número de participantes que responderam aos seis tempos de coleta foi 588, com idade média de 45 anos (DP = 10,7).

De forma consistente com o esperado, os resultados mostraram que, em média, o estresse percebido diminuiu entre o início de abril de 2020 e início de setembro de 2020. Além disso, esse efeito foi mais forte entre o início de abril de 2020 e o início de julho de 2020. A estabilidade emocional foi associada a níveis mais baixos e a extroversão associada a níveis mais elevados de estresse percebido. Finalmente, a extroversão foi associada ao aumento no estresse percebido entre o início de abril de 2020 e o início de julho de 2020 e diminuição no estresse percebido entre o início de julho de 2020 e o início de setembro de 2020.

Os achados corroboram a ideia de que, até certo ponto, os traços de personalidade das pessoas impactam nas reações emocionais e no ajustamento a situações estressantes. Essa evidência é importante para a Psicologia da Saúde, uma vez que se trata de um construto psicológico que funciona como indicador de saúde frente a situação adversas. Assim, ao identificar traços de personalidade que vulnerabilizam as pessoas para o sofrimento mental, pode-se pensar em intervenções mais diretivas e eficazes.