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sexta-feira, 19 de maio de 2023

Autoavaliação de saúde por pacientes em hemodiálise no Sistema Único de Saúde

 

Moreira, T. R., Giatti, L., Cesar, C. C., Andrade, E. I. G., Acurcio, F. D. A., & Cherchiglia, M. L. (2016). Autoavaliação de saúde por pacientes em hemodiálise no Sistema Único de Saúde. Revista de Saúde Pública50(10), 1-11. https://doi.org/10.1590/S1518-8787.2016050005885

 

Resenhado por Júlia Nunes Cardoso

A autoavaliação de saúde é uma medida subjetiva, abrangente e robusta de saúde, considerada forte preditora de incapacidade. O contexto em que o indivíduo vive pode influenciar sua autoavaliação de saúde. Entre os fatores associados à pior autoavaliação de saúde estão características sociodemográficas como sexo feminino, idade avançada, e menores níveis de escolaridade e de renda, assim como, comportamentos não saudáveis, presença de condições objetivas de saúde, incapacidade funcional e aspectos psicossociais como isolamento social. A presença de doenças crônicas influencia diretamente a autoavaliação de saúde, e a prevalência de autoavaliação ruim cresce à medida que aumenta o número de doenças referidas.

A doença renal crônica é um problema de saúde pública caracterizado por alta morbidade e mortalidade, com impacto econômico, social, pessoal e para o sistema de saúde. Pacientes com doença renal crônica que desenvolvem o estágio final da doença necessitam hemodiálise para o restante da vida ou de transplante renal. A qualidade e o desempenho dos serviços de diálise são fundamentais para manutenção da melhor condição clínica dos pacientes. Por isso, as características dos serviços de diálise influenciam a qualidade de vida dos pacientes em tratamento e os seus resultados, como a redução da taxa de ureia após a sessão de hemodiálise, o controle da anemia e o tempo de sobrevida.

Considerando esse cenário, juntamente a carência de estudos avaliando a associação entre autoavaliação de saúde e doença renal crônica, foi feito um estudo transversal com objetivo de analisar se o nível de complexidade de estrutura dos serviços e características sociodemográficas e clínicas de pacientes em hemodiálise estão associados à prevalência de autoavaliação de saúde ruim. Participaram do estudo 1621 indivíduos, alocados em 81 serviços de diálise no país. Entre eles, 54,5% relataram autoavaliação da saúde ruim. A chance de autoavaliação de saúde ruim aumentou com a idade e foi mais alta entre os que gastavam mais de 60 minutos no trajeto de casa até o serviço de diálise do que aqueles que gastavam menos de 20 minutos. A chance de autoavaliação de saúde ruim foi menor em pacientes atendidos em serviços de alto nível de complexidade (OR = 0,67; IC95% 0,53–0,86). Além disso, se o paciente se transfere para um serviço de diálise com condições mais inadequadas de atendimento, o risco de autoavaliar sua saúde como ruim pode aumentar em 48,0%.

Esse foi o primeiro estudo em nível nacional a investigar a prevalência de autoavaliação de saúde ruim em pacientes em hemodiálise e sua associação com características individuais e dos serviços de diálise. Essas iniciativas sobre percepção e avaliação de sistemas de saúde é um campo que cabe a psicologia da saúde aumentar sua produção. Investigar as variáveis que afetam o tratamento de doenças físicas é uma área promissora para o psicólogo da saúde poder propor nos setores, públicos e privados de saúde, intervenções que promovam mais efetividade no tratamento dos quadros.

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