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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Uma nova forma de olhar para o estresse

Resenhado por Luana Santos

McEwen, B. S. & Lasley, E. N. (2003). Uma nova forma de olhar para o estresse. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003. In: O fim do estresse como nós o conhecemos (pp. 15-33)

    Como denotam ambos os títulos, do capítulo e do livro, a proposta de McEwen e Lasley é trazer um novo olhar para o fenômeno denominado estresse. Todos estão sempre dizendo que estão estressados e todos querem evitar o estresse, mas o que é o estresse? O texto explana sobre o tema, perpassando por várias abordagens e estudos já conhecidos do campo, além de acrescentar novas perspectivas: a  alostase e a carga alostática.
     Sabemos que, biologicamente, todos os sistemas do nosso corpo trabalham ‘em equipe’ visando manter o equilíbrio. Na biologia esse processo de equilibração é denominado homeostase. Às vezes, o processo precisa defender nosso corpo e desencadear uma reação de luta ou fuga, mobilizando assim várias partes do organismo, desde glândulas e hormônios, ao sistema imunológico e órgãos. Quando precisamos potencializar nossa energia para um local específico, os autores não mais falam em homeostase, mas sim em alostase. A homeostase seria responsável por manter nossa temperatura corporal abaixo de 38°, por exemplo, já que sabemos que acima desse limiar a temperatura pode ser perigosa. Já a alostase não se enquadra nesse equilíbrio entre limites tão estreitos, estaria mais ligada aos momentos de mudança, quando temos que ser flexíveis para lidar com limiares mais dinâmicos. Uma sutil diferença entre sistemas homeostáticos e alostáticos é que os últimos tem eles próprios a capacidade de mudar. 
    Uma reação imediata nem sempre tem caráter de urgência, logo, a alostase também está presente em circunstâncias mais amenas, como quando levantamos pela manhã, passar do estado de sono para vigília requer uma pequena potencialização de certos hormônios responsáveis por esse processo. Cada vez mais o processo alostático está sendo ativado em nosso organismo por atividades que não possuem um caráter de urgência, porém, que denotam estado ‘crônico’: o estresse não tem sido ativado só por situações estressoras imediatas, a grande maioria das situações que deflagram estresse hoje em dia são aquelas situações que perduram – trabalhar para um chefe dominador, cuidar de algum ente querido enfermo, entre tantas outras – assim, a alostase funciona constantemente para produzir as substâncias necessárias para abrandar o estresse, e como o processo alostático não delineia a urgência da situação, essas substâncias acumulam no organismo e causam desgaste. É como uma gangorra que aguenta tranquilamente 5kg de cada lado. Porém, se colocamos 500kg de cada lado, ela ainda sim vai estar equilibrada, mas provavelmente a tensão de tanto peso vai fazê-la quebrar, o mesmo ocorre conosco; em demasia, o ‘peso’ nos quebra, ou seja, adoece-nos.
   Não há como falar em estresse sem citar a importância dos estudos de Hans Seyle. Hans Seyle reconhecia os sistemas fisiológicos envolvidos na reação do corpo ao desafio, falando de estresse da mesma forma que McEwen e Lasley denominaram como carga alostática. Ele destacava que pacientes com doenças infecciosas tinham muitos sintomas similares, mas como isso aparentemente não interessava aos médicos daquela época, ele só retornaria ao assunto mais tarde ao estudar hormônios e seus efeitos em ratos. Em seus experimentos com hormônios em ratos, Seyle começou a perceber reações generalizadas semelhantes ao injetar hormônios e as mesmas reações ao injetar formol – que funciona preservando tecidos e é também um irritante muito poderoso. Ao conseguir traçar um elo entre os pacientes com doenças infecciosas e as reações generalizadas semelhantes nos ratos, Seyle cogitou a existência de um mecanismo organizado para ajudar o corpo a lidar e enfrentar uma variedade de ataques. A partir daí, denominou esse mecanismo como Síndrome de Adaptação Geral, incluindo três estados de estresse: reação de alarme, estado de resistência e estado de exaustão,  passando então, a estudar mais a fundo a ‘área’.
     A descoberta foi denominada por Seyle ‘stress’, por não possuir equivalente em outras línguas e, assim, eliminar os significados múltiplos da palavra. Outros estudos começaram a surgir e perduram até os dias atuais, nos campos biológico, psicológico e social, isoladamente ou tentando ligar o conjunto biopsicossocial à origem e desenvolvimento do estresse.
     Enfim, no mundo dinâmico contemporâneo, os estressores também são mutáveis e variados, e diante de tudo que foi exposto, McEwen e Lasley encerram o capítulo advertindo que a melhor maneira de lidar com o estresse é preservar nossa saúde física e mental, um feito não tão simples, mas também não impossível. Se por um lado já se sabe que hábitos saudáveis auxiliam na manutenção da saúde, por outro também já se descobriu que a própria natureza da carga alostática não permite curas rápidas. “O equilíbrio é restabelecido [...] pelo estabelecimento gradual e permanente de novos hábitos baseados na compreensão de como o cérebro e o corpo funcionam”(pp. 32), e novos conhecimentos são somados ao leque já existente, dia após dia.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Eu tinha um cachorro preto, seu nome era depressão..

Postado por Ana Raquel Santos

"Eu tinha um cachorro preto, seu nome era depressão” foi criado pela Organização Mundial de Saúde como uma forma lúdica e criativa de divulgar os sintomas da depressão. É pertinente relatar a metáfora utilizada na relação conflituosa do homem com o seu “cachorro Depressão”, pois ele via o mundo de forma negativa através do mesmo. Dentre os principais danos à saúde mental descritos, as atividades prejudicadas no cotidiano, a falta de apetite, dificuldades de memória e concentração, preocupação de julgamento das pessoas, fobia social e o sofrimento em revelar seu diagnóstico e automedicação. A ajuda psicoterapêutica vem como uma alternativa para lidar com esse problema, auxiliando o indivíduo a ressignificar sua vida em meio às situações estressantes do dia-a-dia.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Hans Selye and the Field of Stress Research: A Syndrome Produced By Diverse Nocuous Agents

Resenhado por Lucila Santos

Neylan C.T. (1998) Hans Selye and the Field of Stress Research: A Syndrome Produced By Diverse Nocuous Agents. NEUROPSYCHIATRY CLASSICS, v. 10, n. 2, p 230 – 231 (1998).

A publicação feita por Thomas C. Neylan em 1936 tenta resumir de forma objetiva e simples, as principais descobertas feitas por Selye em seus vários anos de pesquisas experimentação mostraram que se seus organismos são severamente danificados pelos agentes nocivos agudos inespecíficos (como a exposição ao frio, lesão cirúrgica, produção de choque medular exercício muscular excessivo, ou intoxicação por doses subletais de diversas drogas), após tal exposição uma síndrome típica aparece chamada por ele de Síndrome de Adaptação Geral. Os sintomas que apareciam eram independentes da natureza do agente prejudicial ou do tipo farmacológico da droga empregada, e representam mais uma resposta estereotipada para combater tal danificação.
 Em suma, A Síndrome de Adaptação Geral pode ser definida como 3 fases, a primeira em que o organismo se confronta com o agente estressor inesperadamente ( seja uma dosagem de drogas, mudança de temperatura ou exaustão muscular), provocando uma situação de alarme em nosso corpo como forma de uma defesa inicial, que tem consequências inicialmente negativas como: a diminuição rápida do timo, baço, glândulas linfáticas; desaparecimento do tecido de gordura, formação de edema, perda de tônus muscular, entre outros. É nesse primeiro estágio que o organismo de forma geral enfrenta uma determinada situação crítica na qual não estava esperando, por isso é denominada como ‘reação geral de alarme’. Na segunda fase, o corpo apesar de ter sofrido um pequeno dano inicial, começa a recuperar seu estado de equilíbrio ( homeostase), isso se o agente estressor nocivo não continuar a ser exposto ao indivíduo, ou se o corpo ter energia suficiente para lidar com ele e se adaptar a situação. Porém, quando a exposição ao agente estressor é prolongada, ou se gasta muita energia para tentar recuperar o estado de equilíbrio inicial, é muito provável que o se forme uma doença adaptativa, que pode até ser letal. É nesse estágio que o corpo tenta resistir ao impacto causado pelo agente estressor, em um tempo limitado. Por fim, o terceiro estágio é, portanto, o desfecho do estado de saúde do sujeito ao final da exposição do agente estressor nocivo, tendo em vista que o organismo pode ter se habituado ou se adaptado com tal estressor ou não, o que pode repercutir em graves consequências como as chamados, por Selye de doenças adaptativas.  
No último parágrafo, o autor Thomas C. Neylan chega à conclusão de que, o que Selye mostrou com suas reações em três estágios, nada mais foi que uma reação normal do organismo na tentativa de se habituar à mudanças de temperatura, droga, exercício muscular,entre outros fatores, comparando a Síndrome de Adaptação geral à outras formas de defesa do corpo como na reação do choque anafilático ou cirúrgico. Penso que a razão do autor de chegar a tal conclusão seja pela inespecifidade de quais seriam esses agentes nocivos. Afinal, a simples mudança de temperatura ou injeção de doses de drogas, pode ser considerada como um agente estressor? Precisa-se levar em consideração também, quais as situações que podem ser consideradas estressoras para saber diferenciar uma simples resposta do organismo a adaptação de uma forma mais complexa de estado de estresse, em que estão envolvidos elementos que vão além da reação orgânica (como o meio em que nos encontramos ou a significação que damos a estes estressores).  A questão que fica é: Quais são exatamente os agentes nocivos do qual Selye tanto falava? Seria a reação do organismo independente do agente que se mostra? E ainda, todos os agentes estressores têm o mesmo impacto em cada um dos indivíduos? Para uma leitura mais completa dos estudos posteriores que tentaram responder a estas questões recomendo a leitura do artigo de André Faro e Marcos Emanoel Pereira intitulado, Estresse: Revisão Narrativa da Evolução Conceitual, Perspectivas Teóricas e Metodológicas, pois contempla as principais perspectivas envolvendo o estresse e sua trajetória até os dias atuais.
Nota-se que esse artigo tenta mostrar um pouco o trabalho do Dr. Selye, que ainda se mostra relevante nos dias atuais, para o estudo do estresse com um enfoque mais voltado para respostas endocrinológicas diante de situações adversas que alteram o estado de homeostase, que pode colaborar com pesquisas e estudos mais voltados para esse aspecto. Claro que, com o passar do tempo, novos estudos mostraram que o enfoque apenas na reação do organismo ao estresse foi insuficiente para sua conceitualização e estudos mais completos, pois não levam em consideração os aspectos ambientais, psicológicos e sociais no processo do estresse. Apesar disso, o enfoque biológico teve grande importância e impacto em diversas áreas de estudos, como a psicologia, neuropsiquiatria e biologia, por exemplo.

Recomendo a leitura do texto, pois expõe de forma bem simples as conclusões mais relevantes de Selye em seus experimentos e estudos. O artigo resume a perspectiva biológica com base na resposta do organismo de forma direta e de fácil compreensão, e para quem se interessa em estudar as ‘fases’ de pesquisa do estresse, seria um bom começo. A contribuição de Selye foi além de suas próprias descobertas, pois abriu portas para o estudo mais aprofundados do estresse e da relação que o estresse tem saúde e, por isso, essa publicação pode ser um bom ponto de partida para quem se interessa pelo caminho que o estudo e conceitualização do estresse percorreram ao longo dos anos e que continua a percorrer.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A cura via aplicativos - tratamento virtual

Postado por: Iracema Freitas

A cura para problemas como autoestima, estresse, perda de peso, insônia e outros, já não está restrita aos consultórios, pois uma variedades de aplicativos disponíveis via iTunes, prometem curar por “tratamentos hipnóticos”. As fobias, fadiga, depressão, promoção de bem estar e, inclusive, a felicidade, são o objetivos desses aplicativos. No entanto, esses métodos alternativos devem ser vistos com certa estranheza, uma vez que o próprio estudo das doenças e tratamentos exigem rigor dos profissionais habilitados. O mais indicado àqueles que buscam melhorar seu estado de saúde é, certamente procurar acompanhamento especializado.


Quem busca pela palavra “hipnose” nas lojas de aplicativos para celular encontra propostas de cura da insônia, perda de peso e até aumento da autoestima por meio de “tratamentos hipnóticos”. Não há nenhuma comprovação científica de eficácia dessas técnicas, no entanto, segundo um estudo liderado pela Escola de Medicina Mount Sinai, de Nova York, nos Estados Unidos. A aplicação inadequada do método poderia, inclusive, ter efeitos nocivos sobre os usuários, de acordo com especialistas ouvidos pelo G1.
Em um levantamento feito em 2012, os pesquisadores americanos identificaram 407 aplicativos disponíveis via iTunes que prometiam efeitos sobre a saúde do usuário por meio de hipnose. A perda de peso era a promessa de 23% deles; o aumento da autoestima, de 20% e a redução de estresse, de 19%. Outros objetivos contemplados pelos apps abrangiam desde a cura de fobias, depressão e fadiga até a promoção de bem-estar e felicidade.Enquanto a hipnose é um método terapêutico reconhecido pela comunidade científica - desde que praticada sob condições determinadas (leia abaixo) - os aplicativos mostraram-se incapazes de comprovar sua legitimidade.
Nenhum deles, porém, teve sua eficiência testada por estudos empíricos, nem reporta ser baseado em evidências. Apenas 47% mencionam a existência de alguma teoria por trás do desenvolvimento do aplicativo. Segundo a pesquisa, 13,4% desses aplicativos ainda fornecem explicações descabidas sobre o funcionamento da hipnose, afirmando que o método atua por meio de “mudança no DNA” ou “mudança nas células de memória”.
Carneirinhos e nuvens
O estudante de cinema Matheus Marx, de 18 anos, testou vários aplicativos de hipnose para tentar dormir melhor. “Chego muito tarde da faculdade e acordo muito cedo. Não consigo dormir quase nada, então estava apelando para qualquer coisa que pudesse me ajudar”.
Ele conta que baixou quatro deles, mas nenhum fez efeito. “Eles só reproduzem músicas relaxantes pelo tempo que você determina”, diz.
Ele conta que todos os apps que experimentou tinham por princípio músicas e sons. Um deles também oferecia imagens de carneirinhos e nuvens. “Me senti enganado porque eles não fazem hipnose de verdade. Mas pelo menos foi de graça.”
Riscos
Para os pesquisadores, a tecnologia andou mais rápido do que a ciência que deveria embasar essas ferramentas. “Aplicativos são ferramentas fascinantes, com um tremendo potencial, mas nós argumentamos que eles precisam ser desenvolvidos e testados com tanto rigor e cuidado quanto qualquer intervenção presencial”, diz o estudo.
De acordo com a psiquiatra Célia Cortez, presidente da Associação Brasileira de Hipnose (ASBH), a aplicação dessas ferramentas pode provocar efeitos negativos no usuário. “Um jovem que tenha predisposição a uma doença psicótica, por exemplo, ao utilizar um aplicativo que faz repetição de sons ou de sugestões pode entrar em crise”, diz.
Segundo o psiquiatra Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), não é recomendado que nenhum procedimento dessa natureza seja feito à distância, sem a presença de um profissional responsável. “Pessoas muito sugestionáveis podem sofrer transes hipnóticos. Se ela apresentar uma complicação, como fica? Esse tipo de tratamento deve ser presencial”, afirma.
Reconhecimento
A hipnose clínica é um método reconhecido no Brasil pelos conselhos federais de Medicina (CFM), Psicologia (CFP), Odontologia (CFO) e Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito). Somente os profissionais dessas categorias têm autorização para praticá-la, desde que possuam curso de especialização adequado.
“A hipnose feita por médicos é um método válido e que, se bem aplicado, surte efeitos terapêuticos benéficos. Em outras áreas, como odontologia e psicologia, as regras são estabelecidas pelos respectivos conselhos”, diz Cavalcanti, do CFM.
Célia explica que a hipnose pode ser usada em vários tipos de transtornos mentais, com exceção dos transtornos psicóticos. Em especialidades como a odontologia e a fisioterapia, utiliza-se a hipnose analgésica, com objetivo específico de diminuir dores, incômodos ou tranquilizar o paciente durante o tratamento.
Segundo a psiquiatra, nem todas as pessoas são igualmente suscetíveis à hipnose e o sucesso do tratamento também depende das características do paciente, como a capacidade de concentração e a capacidade de imaginação.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Georges Canguilhem y el estatuto epistemológico del concepto de salud

Resenhado por Geovanna Souza

Caponi, S. (1997). História, Ciências, Saúde — Manguinhos, IV (2), 287-307.

            O artigo tem como objetivo de problematizar os conceitos de saúde da OMS e da VIII Conferência Nacional de Saúde, tendo como ponto de partida a discussão de Canguilhem sobre o conceito de saúde, enfatizando que tais conceitos entendem a saúde como equilíbrio e adaptação ao meio. Ao iniciar o artigo, Caponi dá uma breve descrição da influência de Descartes e da filosofia sobre os conceitos atribuídos à saúde. Ela fala que é impossível falar de saúde em um mecanismo, e que ela é tida como um objeto de problematização filosófica.
            Caponi traz em seu artigo, o texto de Georges Canguilhem, “O Normal e o Patológico”, como principal referência, e fala que ao tentar dar uma resposta do que é saúde, devemos sempre levar em consideração o conceito cientifico, o conceito vulgar e também, a questão filosófica. Apontando que o fato das pessoas não se sentirem enfermas, não necessariamente significa que elas estejam saudáveis. A saúde não se manifesta somente no físico do ser humano, mas como aponta Caponi, também está incluída no campo subjetivo. A partir de então, é levado em consideração a fala de Canguilhem ao dizer que não há uma ciência da saúde, pois esta não pertence a ordem dos cálculos, de leis ou médias estatísticas. Pelo contrario, seu conceito pode estar ao alcance de todos, e pode ser falado por qualquer um. Isso o leva a refletir e chegar a conclusão que o conceito de saúde, no campo cientifico, se trata de um conceito vulgar. Para se conhecer verdadeiramente um corpo “saudável”, é necessário conhecer o corpo humano, como um todo, inclusive em sua subjetividade. Canguilhem diz que não existe um conceito cientifico de saúde. Assim, ele tenta esclarecer o que chama de conceito vulgar, onde todas as medidas de intervenção e direcionamento serão guiados a partir desses conceitos que está de certa forma na “boca do povo”. Mas quando saber diferenciar quando estou doente de quando estou saudável? Canguilhem atribui ao médico a tarefa de ser o responsável a nos ajudar a dar um sentido para nossos conjuntos de sintomas, enfatizando que o verdadeiro médico é um interpretador, mais do que um conhecedor. A partir de então é apresentado no texto o conceito de saúde apresentado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o qual diz que a saúde é um completo estado de bem estar físico, mental e social, e não a mera ausência de doença. Esta definição é sempre alvo de criticas, e está associada ao conceito vulgar de saúde. E a partir dela, Caponi começa a analisar o conceito vulgar de saúde, com base no que propõe Canguilhem. Com isso, ela discute a saúde a partir de cinco tópicos:
1.      Saúde como abertura ao risco: aqui a saúde é pensada por Canguilhem em termos de margem de segurança. Dessa forma, a saúde deficiente diz respeito a restrição da margem de segurança, que seria a possibilidade de enfrentar situações novas, pela margem de tolerância que cada pessoa possui para enfrentar e superar as dificuldades do meio. Assim, Canguilhem toma como ponto de partida as dificuldades e os erros, para tentar compreender os limites do conceito de saúde. Portanto, o conceito de saúde deverá considerar e integrar as variações e anomalias para tentar entender as particularidades daquilo que para uns e outros está contido em sua percepção do que é saúde. Caponi fala que há estilos de vida que podemos escolher, sendo estes, fatores que podem provocar mudanças na nossa saúde, mas também deixa claro que existe um vinculo entre a saúde e a sociedade, onde existem condições de vida impostas, com características que não podem ser escolhidas, tais como má alimentação, analfabetismo, escolaridade precária, entre outros fatores, nas quais essas características constituem um conjunto de elementos que precisam ser considerados na hora de programar políticas públicas.
2.      Saúde como equilíbrio: neste tópico é mostrado que uma das primeiras definições de saúde está relacionada ao equilíbrio, assim a saúde seria um estado de relativo equilíbrio do organismo que resulta de seu ajuste dinâmico e satisfatório com relação às forças que tendem a perturbá-lo. A crítica mais frequente a esse conceito diz que quando se fala de equilíbrio dinâmico, o restringe ao âmbito biológico, o tornando restrito e relativo. E apesar de Canguilhem demonstrar certa simpatia por tal construto, ele diz que as dificuldades e os erros formam parte constitutiva da nossa historia, já que nosso mundo é um mundo de possíveis acidentes. Sendo assim, a saúde não pode ser reduzida a um mero equilíbrio ou capacidade adaptativa. Ela vai além disso, e deve ser pensada como uma capacidade que possuímos de instaurar novas normas em situações adversas.
3.      Saúde e Bem Estar: é novamente retomado o conceito de saúde anunciada pela OMS dizendo que se trata de um conceito utópico e inalcançável, já que tem como base um caráter subjetivo que está ligado ao conceito de bem estar. Mas este caráter subjetivo é inseparável do conceito de saúde. A definição da OMS tem objeções, dentre os quais, é tida como impraticável, e pode resultar politicamente conveniente para legitimar estratégias de controle e de exclusão de tudo aquilo que consideramos indesejado e perigoso. O bem estar aqui é considerado um valor, algo que qualificamos como positivo. E a doença seria assim um desvalor, ou seja, tudo aquilo que é considerado perigoso e indesejado. Caponi diz que é preciso pensar num conceito de saúde capaz de contemplar e integrar a capacidade de administrar de forma autônoma as margens de risco, de tensão, de infidelidades.
4.      Saúde como valor social: diferente dos outros tópicos discutidos até então, neste, Caponi analisa o conceito de saúde dado na VIII Conferência Nacional de Saúde, onde diz que “a saúde é resultado das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, tempo livre, liberdade, acesso e posse de terras, e acesso aos serviços de saúde”. A saúde aqui é considerada como resultado das formas de organização social e de produção. A autora tenta sanar alguns erros presentes nessa definição, e ao fazer isso ela expõe que Canguilhem privilegia a pluralidade, a diversidade e a singularidade, dizendo que estes são elementos constitutivos da problematização da condição humana. Para Canguilhem, o conceito dado na Conferência situa a saúde e a doença como fenômenos superestruturados que reproduzem uma única dimensão considerada como determinante absoluta: a base socioeconômica. Sendo assim, a política de saúde deve ter um objetivo próprio e passar a ser considerado como instância de uma estratégia mais elaborada: a transformação social. Caponi aponta que tal conceito não pode reduzir seu alcance ao efeito das desigualdades sociais, entendido como elemento exclusivo, e diz que é necessário que seja feita outra leitura do texto de Canguilhem.
5.      Saúde Pública: para concluir, Caponi profere que é preciso que nos perguntemos sobre a operacionalidade do conceito de saúde esboçado por Canguilhem. Ela fala que sem dúvida, o conceito trazido pela Conferência tinha um objetivo que não pode ser desconsiderado, que seria o fato dele apontar as carências que são elementos determinantes da propagação de diversas doenças. Mas o conceito vulgar, que Canguilhem tanto fala, nos faz ser cuidadosos com essa extensão, mostrando que é necessário ter cuidados no momento de programar políticas publicas e ações de saúde coletiva. Ela ainda cita que deveria ser a doença, e não a saúde, o principal objeto de domínio público, já que é o doente quem busca ajuda.  Devemos também recordar mais uma vez que a definição de saúde esboçada por Canguilhem implica que a margem de segurança e de tolerância deve ser ampliado o máximo possível. A saúde como produto, implica não só segurança contra os riscos, mas também a capacidade para corrigir essa margem de tolerância, ampliando de tal modo que nos permita enfrentá-los.
Com isso, é imprescindível concluir que a saúde é considerada um estado dinâmico de adaptação positiva. É tão difícil obter um conceito concreto e cientifico do que é saúde, porque está se complexando demais o que deveria ser simples e simplificando demais o que deveria ser mais complexo.



domingo, 26 de janeiro de 2014

‘’Brincando’’ com a saúde pública?

Postado por Lucila Santos

Para os médicos desse vídeo, do canal de humor Parafernalha, uma tosse ou irritação da garganta são o bastante para se identificar um câncer ou até mesmo uma fratura exposta! Claro que tudo não passa de uma piada, mas é importante entender o quão perigoso pode ser essa ‘generalização de sintomas’ de uma doença, afinal apesar de irritação na garganta poder ser um sintoma tanto de um mero resfriado como de um câncer, esse fato não é o suficiente para se identificar uma doença tão complexa como o câncer, e o conhecimento científico, se não for bem aplicado, pode até ser ‘ ultrapassado’ pelo conhecimento popular, pelo menos é o que nos mostra esse vídeo.


sábado, 25 de janeiro de 2014

Conheça efeitos do estresse na saúde bucal

Postado por Alexsandra Macedo

O estresse provoca danos também a saúde bucal dos indivíduos. Esses danos são potencializados quando associados aos maus hábitos exibidos pelas pessoas que se encontram sob estresse acentuado, como por exemplo, o descaso com a higiene, o aumento do consumo de álcool e tabaco, entre outros.



Contas para pagar, chefe, trânsito. Muitos são os gatilhos para desencadear o estresse e, a partir daí, as consequências para organismo são inúmeras. Na saúde bucal, o mal pode causar periodontite, bruxismo, halitose, aftas e cáries.

Para começar a conversa, é preciso esclarecer que a irritação de um dia ruim na maioria das vezes causa apenas nervoso. O estresse é a resposta psicológica e hormonal para situações que demandam adaptação extrema. Por exemplo, ao se deparar com uma situação de perigo, como um animal faminto, nossos ancestrais precisavam defender-se. Tanto para atacar quanto para fugir, o corpo passa por um processo – o batimento cardíaco acelera para bombear mais sangue, há um aumento da respiração e da pressão arterial, entre outros. 
A realidade agora é diferente, em vez de animais ferozes é preciso enfrentar pressão do trabalho, correria do dia-a-dia, problemas modernos. Ainda assim, ao menor sinal de ameaça, o corpo se prepara da mesma forma para lutar ou fugir, liberando uma série de mediadores químicos, como a adrenalina. O problema é que como não reagimos fisicamente, correndo ou lutando, as substâncias liberadas no sangue não têm função. 
Após muitas situações de adrenalina, algumas pessoas começam a sinalizar falta de disposição e energia, alteração de humor e do sono, hipertensão, problemas de pele. Essas reações mostram que o corpo não vai bem e, sem os devidos cuidados, a consequência é a exaustão que afeta os sistemas imunológico, endócrino, nervoso e o comportamento. “O estressado se sente responsável por tudo, acredita que sem a sua atuação a vida dele e de muitas outras pessoas não funcionaria bem”, diz a psicóloga Miriam Barros.
Segundo a especialista, ao contrário do que pensam, o estresse não é doença de pessoas fracas. “Na maioria das vezes o estresse acomete pessoas que querem dar conta de tudo e, geralmente, são bastante competentes em resolver problemas”, afirma Miriam.
Saúde bucal

O estresse libera hormônios como hidrocortisona e cortisol, além de produzir um alto nível de adrenalina. Essas substâncias são responsáveis por regular funções corporais, como o sistema imune, que pode desencadear efeito pró ou anti-inflamatório. O estresse desencadeia um efeito pró-inflamatório, o que, aliado aos maus hábitos de higiene bucal, tornam o ambiente propício para o aparecimento da doença periodontal e aftas. O que prejudica ainda mais a saúde bucal são os maus hábitos que a pessoa estressada tende a adquirir ou aumentar, como o consumo de álcool, tabaco e negligência da higiene oral, que é um prato cheio para a cárie e halitose. A tensão emocional também pode acarretar em bruxismo – ranger dos dentes – que causa desgaste dos dentes, distúrbios na articulação temporomandibular e danos ao tecido gengival e ao osso mandibular.Um estudo publicado no periódico 'Journal of Personality and Social Psychology' mostra que as pessoas são igualmente propensas a hábitos positivos ou negativos quando estão sob pressão. Ou seja, o estresse potencializa hábitos ruins e bons, depende o que cada um está habituado a fazer. Quem come mal tende a comer ainda mais coisas que fazem mal e quem gosta de ir à academia, por exemplo, malhará ainda mais.

“A pessoa estressada negligencia o que não é hábito para ela, quem é já é consciente sobre a boa higiene bucal, ao passar por um período de estresse, tende a não negligenciar a saúde oral”, explica o cirurgião-dentista Giuseppe Romito, professor da Faculdade de Odontologia da USP. 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Modelos em Saúde: O Modelo da Teoria Motivacional da Proteção

Resenhado por Mariana Menezes

Stroebe, W. & Stroebe, M. (1995). Determinantes do Comportamento de Saúde: Uma Análise a Nível da Psicologia Social. In W. Stroebe & M. Stroebe, Psicologia Social e Saúde. (pp. 45-50). Lisboa, PT: Instituto Piaget.

     Os autores nos apresentam o modelo original e o modelo revisto da Teoria Motivacional da Proteção. O modelo original da teoria motivacional da proteção constituía uma tentativa de especificar a relação algébrica entre alguns componentes do modelo de crença na saúde. De acordo com esta teoria, a motivação para se proteger depende da percepção da gravidade do acontecimento prejudicial, da percepção da probabilidade do acontecimento ocorrer ou da percepção de susceptibilidade, e da eficácia da resposta recomendada para evitar o acontecimento prejudicial. O modelo defende a ideia de que esses três fatores se combinam de forma multiplicativa na determinação da intensidade da motivação para a proteção. De forma mais específica, assume-se que a intensidade da motivação para a proteção é uma função do produto algébrico destas três variáveis.
    Numa realização de um teste empírico do modelo original, Rogers e Mewborn (1976) avaliaram as previsões da teoria motivacional da proteção num conjunto de três experiências onde foi usado o medo como forma de apelo relativamente ao fumo, à segurança rodoviária e às doenças venéreas. Os resultados foram divergentes nos três estudos pelo que não foi possível confirmar de forma clara o modelo. Em nenhum dos três estudos se constatou evidências da tripla interação que seria de esperar, com base na combinação multiplicativa dos três fatores do modelo.  Sutton (1982) atribui o fracasso do estudo de Rogers e Mewborn (1982) em apoiar o modelo ao fato de a percepção de eficácia e de susceptibilidade não serem independentes uma da outra, tal como o modelo assume. A ação recomendada é eficaz na medida percebida como eficaz na medida em que se acreditar que reduz o risco de ocorrência do acontecimento nocivo. Portanto, a percepção da eficácia nunca pode ser maior do que a percepção da suscetibilidade. Esta situação leva a inconsistência em algumas condições da experiência, e este tipo de inconsistência pode ser responsável pelo fato dos testes experimentais não identificarem muitos dos efeitos interativos previstos pelo modelo.
     Na revisão da teoria motivacional da proteção, Rogers abandonou a noção de que vários fatores se combinam de forma multiplicativa e expandiu a teoria, incluindo determinantes adicionais de motivação para a proteção. Provavelmente, a variável mais importante que foi adicionada foi a autoeficácia.
O conceito de autoeficácia diz respeito à crença de uma pessoa segundo a qual ela é capaz de efetuar uma determinada ação. A inclusão da autoeficácia num modelo de comportamento de proteção da saúde deve aumentar o seu poder de previsão. A revisão inclui ainda o construto da percepção de obstáculos do modelo de crença na saúde e juntou outro com ele relacionado, ou seja, as recompensas associadas às respostas desajustadas. O modelo revisto supõe que a motivação para que alguém se proteja do perigo é uma função linear positiva de quatro crenças: a de que a ameaça é grave, a de que existe uma vulnerabilidade pessoal, a de que se tem a capacidade de efetuar a resposta de enfrentamento, e a de que a resposta de enfrentamento é eficaz para reduzir a ameaça. A motivação para efetuar a resposta adaptativa é influenciada negativamente pelos custos dessa resposta e pelas recompensas potenciais associadas às respostas desadaptativas. Rogers supõe que as variáveis incluídas em cada uma destas duas classes exercem um efeito aditivo na motivação para a proteção e na intenção. No entanto, postula-se a existência de efeitos interativos nas classes de avaliação da ameaça e na avaliação do enfrentamento.
    Estas suposições têm implicações importantes no planejamento das intervenções. Por exemplo, se a autoeficácia relativa a um determinado domínio do comportamento for sensivelmente elevada numa certa população, o fato de se fornecer informação que aumente a vulnerabilidade ou a gravidade deve aumentar a motivação para a proteção e a intenção de agir. No entanto, a probabilidade dos indivíduos seguirem será tanto maior quanto a percepção do seu risco pessoal. Mas quando a autoeficácia é baixa o aumento da vulnerabilidade não resultará num aumento das intenções. Assim, ao invés de enfatizarmos o risco, é mais eficaz fornecer aos indivíduos informação que aumente a sua autoeficácia.
      Enfim, o texto nos mostra que a motivação para se proteger depende de alguns fatores, e que o principal deles é a autoeficácia. Também nos permite compreender que para que possamos intervir e fazer com que as pessoas sintam-se motivadas a se proteger devemos aumentar a autoeficácia delas. Assim, sua leitura é importante para as pessoas interessadas em saber mais sobre os comportamentos de saúde, e sobre as estratégias fornecidas pelo modelo da Teoria Motivacional da Proteção para uma intervenção efetiva em saúde.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Resposta ao estresse

Postado por Geovanna Souza

     Assim como o conceito de saúde, o conceito de estresse também apresenta várias facetas e significados distintos. Muitos estudos apontam o estresse como um estado de sobrecarga, podendo causar tanto desgaste físico, como psicológico. As pessoas que sofrem de estresse crônico tendem a desenvolver diversos problemas de saúde. Porém, o estresse não é uma doença, e sim, uma faceta da adaptação, sendo que a forma como percebemos as situações podem moldar o que sentimos e sua intensidade. O vídeo nos mostra que o sistema biológico é um dos principais responsáveis pela adaptação, no entanto, estudos mostram que os processos psicológicos também interferem na relação entre ambiente e organismo. Em suma, o sistema cognitivo também ajusta o tipo de impacto da repercussão do estímulo estressor.


Obs: Ativar legenda na barra do vídeo,  somente para visualizações na página do youtube, vide imagem abaixo.



quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A saúde e seus determinantes sociais

Resenhado por Laís Almeida

Buss, P. M. & Pellegrini Filho, A. A saúde e seus determinantes sociais. Physis [online]. 2007, vol.17, n.1, pp. 77-93. ISSN 0103-7331. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312007000100006

     O artigo “A saúde e seus determinantes sociais” se propõe a explicar o conceito de Determinantes Sociais da Saúde (DSS), apresentar sua evolução histórica, discutir a evolução dos estudos nesse campo, além de mostrar os desafios e possibilidades de intervenção para o combate às desigualdades de saúde geradas pelos DSS.
       A saúde, a nível individual ou populacional, está relacionada ao bem estar físico, mental e social e não só à ausência de doença. Os determinantes sociais de saúde (DSS) envolvem as condições de vida e de trabalho, os diversos fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. A Organização Mundial da Saúde (OMS) adota uma definição mais curta, na qual os DSS são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham. A importância dada a essas condições foi crescendo com o passar do tempo e hoje já existe um consenso de que o contexto econômico e social no qual o indivíduo está inserido exerce um poder importante sobre a sua saúde. O artigo cita que Virchow considera que a ciência médica é essencialmente uma ciência social e que o termo “saúde pública” já implica que a política tem a responsabilidade de identificar e eliminar os fatores que prejudicam a saúde da população. Mas o primeiro modelo de saúde pública que predominou foi o destinado ao controle de doenças específicas, com base na bacteriologia, que se faz através do estudo dos agentes infecciosos em laboratório, só depois da Constituição da OMS, em 1948, é que o modelo atual, em que há análise das questões políticas e a criação de reformas sociais e sanitárias amplas, ganhou espaço.
      Na literatura nacional e internacional houve um grande aumento no estudo das relações entre a maneira como se organiza e se desenvolve uma sociedade e a situação da saúde de sua população. Esse avanço mostra-se marcante no que refere ao estudo das desigualdades no campo da saúde, já que as diferenças nesse quesito entre os grupos populacionais são extremamente marcantes, trágicas e que poderiam ser evitadas. O texto mostra a classificação de três gerações de estudos sobre as iniquidades em saúde, feita por Nancy Adler. A primeira geração dedicou-se a descrever as relações entre pobreza e saúde; a segunda, a descrever os níveis de saúde de acordo com vários critérios de estratificação socioeconômica; e a terceira e atual dedica-se principalmente aos estudos dos mecanismos de produção das desigualdades, ou seja, busca saber como, de fato, a condição econômico social afeta a saúde.
      O texto mostra que o principal desafio no estudo dos DSS consiste em estabelecer uma hierarquia de determinações entre os fatores mais gerais de natureza social, econômica, política e as mediações através das quais esses fatores incidem sobre a situação de saúde de grupos e pessoas, já que a relação não é simplesmente de causa e efeito. Através de uma abordagem como esta é que se pode entender os motivos para que um país apresente um PIB muito alto e sua população não tenha indicadores de saúde tão altos assim, que não atingem a expectativa de que quanto mais rico um país é, mais saúde proporciona a sua população. Do mesmo modo que além de entender, pode-se descobrir como intervir e mudar esse quadro, otimizando determinados pontos de forma que produzam mais impacto. Outro desafio citado no texto é o de distinguir os determinantes de saúde dos indivíduos e os de grupos e populações, pois fatores que explicam as diferenças no estado de saúde dos indivíduos nem sempre explicam as diferenças entre grupos de uma sociedade ou entre sociedades diversas. Os fatores individuais são importantes para identificar que indivíduos dentro de um grupo estão sujeitos a maior risco, mas as diferenças nos níveis de saúde entre grupos e países estão mais relacionadas com outros fatores, como a distribuição de renda.
     Dentre as diversas abordagens possíveis para o estudo das iniquidades de saúde provocadas pelos DSS, a primeira delas dá preferência aos “aspectos físico-materiais” na produção da saúde e da doença, no que diz respeito a relação entre renda e quantidade e qualidade de recursos, tanto para o indivíduo quanto para a comunidade. Outra abordagem possível privilegia os “fatores psicossociais” buscando as relações entre percepções de desigualdades sociais, mecanismos psicobiológicos e situação de saúde, com base na ideia de que as percepções e as experiências de pessoas em sociedades desiguais provocam estresse e prejuízos à saúde. Há também os chamados “enfoques ecossociais ou multiníveis”, os quais procuram integrar as abordagens individuais e grupais, sociais e biológicas numa perspectiva dinâmica, histórica e ecológica. Por fim, há os enfoques que buscam averiguar as relações entre a saúde das populações, as desigualdades nas condições de vida e o grau de desenvolvimento da trama de vínculos e associações entre indivíduos e grupos. Esses estudos procuram entender o desgaste do “capital social”, que consiste nas relações de solidariedade e confiança entre pessoas e grupos, cujas desigualdades impactam negativamente a situação da saúde. Esses estudos procuram mostrar que as sociedades mais igualitárias e com alta coesão social são as que alcançam os melhores níveis de saúde.
      O artigo destaca a análise de dois modelos que procuram esquematizar a trama de relações entre os diversos fatores estudados através dos enfoques já mostrados: o modelo de Dahlgren e Whitehead e o modelo de Diderichsen e outros. O primeiro aborda os DSS dispostos em diferentes camadas, desde a mais próxima do nível individual até onde se situam os macrodeterminantes. Esse modelo não tem como objetivo explicar com detalhes as relações e mediações entre os diversos níveis e a gênese das desigualdades. Na base desse modelo encontram-se os indivíduos com suas características de sexo, idade e fatores genéticos, acima dessa camada está o lugar do comportamento e estilo de vida individual, a qual marca o limiar entre os fatores individuais e os DSS, já que comportamentos muitas vezes entendidos como responsabilidade do indivíduo na verdade estão fortemente condicionados por determinantes sociais. A camada seguinte destaca a influência das redes comunitárias e de apoio, que faz da coesão social um fator determinante para os níveis de saúde. No nível acima estão representados os fatores relacionados às condições de vida e trabalho, disponibilidade de alimentos e acesso a ambientes e serviços essenciais (saúde, educação). Ele também indica que pessoas sujeitas a uma desvantagem social, por terem crescido em situações precárias ou terem sido expostas a perigo e estresse, correm um risco diferenciado. Já no último nível estão representados os macrodeterminantes relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade, os quais possuem grande influência sobre as demais camadas. A globalização é um fenômeno que teve uma influência muito grande sobre as condições de saúde e de vida em geral, essa influência foi analisada por Buss.
      O modelo de Diderichsen e outros dá ênfase a estratificação social gerada pelo contexto social, que confere aos indivíduos posições sociais distantes, que provocam diferenciais de saúde. No diagrama do modelo é mostrada como se relaciona fatores como o processo segundo o qual cada pessoa ocupa determinada posição social (sistema educacional e mercado de trabalho), com o grau de exposição a riscos, o diferencial de vulnerabilidade à ocorrência de doença e com o diferencial de consequências sociais ou físicas sofridas pela enfermidade.
      Ambos os modelos permitem identificar pontos em que podem ser feitas intervenções políticas com o intuito de minimizar as discrepâncias dos DSS causadas pela posição social dos indivíduos e grupos. No modelo de camadas de Dahlgren e Whitehead, o primo nível relacionado aos comportamentos e estilos de vida indica forte influência dos DSS, já que é muito difícil mudar comportamentos de risco sem que haja mudança nas normas culturais que os influenciam. Atuando diretamente sobre o indivíduo, possa ser que alguns mudem seus comportamentos, mas logo serão substituídos por outros. Para uma atuação eficaz são necessárias políticas de abrangência populacional que promovam mudanças de comportamento através de programas educativos, comunicação social, acesso facilitado a alimentos saudáveis, viabilização de práticas esportivas e proibição à propaganda de drogas lícitas, como o tabaco e o álcool. No segundo nível, que corresponde às comunidades e suas redes de relações, se incluem políticas que promovam redes de apoio e o fortalecimento da organização e participação das pessoas e das comunidades, principalmente dos grupos vulneráveis, em ações coletivas para a melhoria de suas condições de saúde e bem estar, e para que se tornem atores sociais e participantes ativos das decisões da vida social. O terceiro nível se refere à atuação das políticas sobre as condições materiais e psicossociais nas quais as pessoas vivem e trabalham, buscando assegurar acesso à água limpa, esgoto, habitação adequada, alimentos saudáveis e nutritivos, emprego seguro e  realizador, ambientes de trabalho saudáveis, serviços de saúde e de educação de qualidade e outros. Normalmente essas políticas são de responsabilidade de setores diferentes, que operam de maneira independente, mas que deve haver o estabelecimento de mecanismos que permitam uma ação integrada. O quarto nível faz referência à atuação ao nível dos macrodeterminantes, através de políticas macroeconômicas e de mercado de trabalho, de proteção ambiental e de promoção de uma cultura de paz e solidariedade que visem a promover um desenvolvimento sustentável, reduzindo as desigualdades sociais e econômicas, as violências, a degradação ambiental e seus efeitos sobre a sociedade.
      O modelo de Diderichsen et al., também permite identificar pontos para a intervenção política que atuem sobre os mecanismos de estratificação social e sobre os diferenciais de exposição, de vulnerabilidade e de suas consequências. Essa intervenção sobre os mecanismos de estratificação social é crucial para combater as iniquidades de saúde, nela se incluem políticas de combate as desigualdades sociais relacionadas ao mercado de trabalho, à educação e seguridade social, e também um acompanhamento de políticas econômicas e sociais para avaliar seu impacto e diminuir seus efeitos sobre a estratificação social.         O segundo conjunto de políticas tem como objetivo diminuir os diferenciais de exposição a riscos atuando, por exemplo, nos grupos que vivem em condições de habitação precárias, trabalham em ambientes perigosos ou estão expostos a deficiências nutricionais. Nesse conjunto se incluem também políticas de fortalecimento de redes de apoio a grupos vulneráveis para mitigar os efeitos de condições materiais e psicossociais adversas e também as que buscam fortalecer a resistência a diversas exposições contra a vulnerabilidade. A intervenção no sistema de saúde busca reduzir os diferenciais de consequências ocasionadas pela doença através da melhoria da qualidade dos serviços a toda a população, apoio a deficientes, acesso a cuidados de reabilitação e mecanismos de financiamento equitativos, que impedem o empobrecimento causado pela doença.
         Essas intervenções sobre os níveis micro, macro ou intermediário de DSS não só exigem uma atuação coordenada intersetorial em vários níveis da administração pública, como também devem estar acompanhadas por políticas mais amplas de caráter transversal que busquem fortalecer a coesão, ampliar o “capital social” das comunidades vulneráveis e promover a participação social no desenho e implementação de políticas e programas. A evolução conceitual e prática do movimento de promoção da saúde indica a importância cada vez maior que é dada aos DSS, apoiando assim a implantação das políticas e intervenções já mencionadas.
           Em 13 de março de 2006 foi implementada a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), como uma resposta ao movimento global em torno dos DSS que foi desencadeado pela OMS. Seu propósito é promover uma tomada de consciência sobre a importância dos determinantes sociais na situação de saúde de indivíduos e populações e sobre a necessidade do combate às iniquidades de saúde por eles geradas. Ela está integrada por 16 personalidades expressivas da nossa vida social, cultural, científica e empresarial, como prova de que a saúde é um bem público, construído com a participação de todos os setores da sociedade. Suas atividades têm como referência o conceito de saúde da OMS e o preceito constitucional de reconhecer a saúde como um “direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e outros agravos e ao acesso e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. São três os compromissos que orientam a atuação da CNDSS: compromisso com a ação, com a equidade e com a evidência. O primeiro implica apresentar recomendações concretas de políticas, programas e intervenções para o combate às iniquidades de saúde geradas pelos DSS. O compromisso com a equidade relaciona-se ao compromisso ético que é assegurar o direito universal à saúde. E o compromisso com a evidência diz respeito a fundamentação em evidências científicas que deve haver nas recomendações da Comissão, para que se entenda como operam os determinantes sociais na geração das iniquidades em saúde, por onde devem incidir as intervenções para combatê-las e que resultados podem ser esperados em termos de efetividade e eficiência.
         Dentre os principais objetivos da CNDSS estão: produzir conhecimentos e informações sobre os DSS no Brasil; apoiar o desenvolvimento de políticas e programas para a promoção da equidade em saúde e promover atividades de mobilização da sociedade civil para tomada de consciência e atuação sobre os DSS. Para alcançar esse objetivos, a Comissão desenvolve as seguintes linhas de atuação:

1)      Produção de conhecimentos e informações sobre as relações entre os determinantes sociais e a situação de saúde, para a fundamentação de políticas e programas.
2)      Promoção, apoio, seguimento e avaliação de políticas, programas e intervenções governamentais e não governamentais realizadas em nível local regional e nacional.
3)      Desenvolvimento de ações de promoção e mobilização junto a diversos setores da sociedade civil, para a tomara de consciência sobre a importância de se estudar os DSS e sobre as possibilidades de atuação para que as iniquidades de saúde diminuam.
4)      A CNDSS mantém uma página institucional (www.determinates.fiocruz.br) com informações sobre as atividades que vem desenvolvendo e sobre publicações de interesse. E em breve será lançado o Portal sobre DSS que conterá dados, informações e conhecimentos sobre DSS existentes nos sistemas de informação e na literatura mundial e nacional. Também será um local para interação e discussão entre pesquisadores, profissionais de comunicação, entre outros.
      A CNDSS promete ser uma valiosa contribuição para o estudo dos determinantes sociais de saúde, para o avanço do processo de reforma sanitária brasileira e para a construção de uma sociedade mais humana e justa.

Ansiedade e estresse intensos são inimigos da vida sexual

Postado por Iracema Freitas

A saúde sexual masculina é abordada de forma clara nesta notícia, sendo apresentados os aspectos biológicos e psicológicos da disfunção erétil. Além de fazer uma breve distinção entre sintomas do estresse e ansiedade.  Situações de tensão aumentam a fabricação de adrenalina e outras substâncias, e sabem que o excesso dessas substâncias pode levar a redução da potência sexual.
O temor do mau desempenho sexual, antecipa o sofrimento e, por vezes, o fracasso acaba acontecendo, isso na chamada disfunção erétil psicológica. Além do fator psicológico em si , fatores relacionados aos hábitos como tabagismo e obesidade também são inimigos do desempenho sexual.




Cuide-se! Situações de muita aflição, preocupação, medo, nervosismo e tensão fazem o organismo aumentar a fabricação de certas substâncias, entre as quais a adrenalina. E adrenalina em demasia pode levar o homem a falhar na cama. Praticar atividade física, ter algum tempo para o lazer, abandonar o cigarro e combater a obesidade são medidas que ajudam preservar a sua potência sexual. por Paulo Henrique Egydio* De cara, pergunto-lhes: quem de vocês não vivenciou recentemente algum instante de ansiedade ou estresse? Os principais indicadores de ansiedade são nervosismo, impaciência, dificuldade de se concentrar, irritação, temor quanto ao futuro, sempre antecipando o pior. Os de estresse são boca seca, aumento dos batimentos cardíacos, tendência à rispidez e à geração de atritos, entre outros. Com certeza todos já sentiram alguns desses sintomas. Nada errado se ocorrem de vez em quando. Mas há um detalhe que precisa ser esclarecido. Situações de ansiedade e estresse intensas levam o organismo a aumentar a produção de determinadas substâncias, entre elas a adrenalina.
Quando isso acontece, o coração bate mais depressa, os vasos sanguíneos e os músculos contraem-se, a pessoa fica mais alerta. Além do mais, é inimiga da boa ereção e pode afetar o desempenho sexual masculino. Eu explico. O pênis divide-se em raiz, corpo e glande, ou cabeça. O corpo é a maior parte. É formado por três canais de tecido erétil. Dois são os corpos cavernosos. É através de artérias e vasos existentes neles que o sangue chega e sai do órgão sexual masculino. Pois bem. Na hora em que estímulos eróticos chegam ao cérebro, ele manda uma ordem pelos nervos até os vasos do pênis: “Produzam óxido nítrico!”, substância que dilata as artérias e relaxa a musculatura do órgão. Maior quantidade de sangue chega ao pênis, que, aí, tem condições ficar ereto. O que tem a adrenalina a ver com isso? Em excesso, impede o óxido nítrico de agir. A musculatura do pênis não relaxa, as artérias não se dilatam e a ereção malogra. Por isso a gente tem risco de falhar na cama quando faz sexo preocupado ou estressado. Também devido à adrenalina aumentada, nervosismo, insegurança, desentendimento com a parceira e traição com culpa podem dificultar a ereção. Isso, portanto, é normal. Assim como é natural o homem falhar ocasionalmente. Só que, por desconhecer essas informações, alguns se apavoram e entram num círculo vicioso. Vão para as próximas relações sexuais temendo não funcionar. E a tensão, você já sabe, aumenta a produção de adrenalina e impede o óxido nítrico de agir. Conseqüência: de tanto anteciparem a falha, os fracassos acabam se sucedendo.
Tanto que é uma das causas mais comuns de disfunção erétil psicológica. A depressão também pode contribuir para disfunção erétil, pois diminui o desejo sexual. O que eu recomendo? Se estiver muito nervoso, tenso, preocupado ou ansioso, talvez seja melhor deixar o sexo para outro dia. Agora, se falhar, não se apavore. Falhar uma ou outra vez na cama não significa disfunção erétil, ou impotência sexual. Porém, se as falhas se repetirem, procure o seu urologista. Após avaliação física e exames, ele poderá verificar se a origem é psicológica ou orgânica. Uma das causas orgânicas é a síndrome metabólica: distúrbio que associa obesidade, alteração das gorduras no sangue, pressão alta e diabetes. Ele afeta os vasos sanguíneos de todo o organismo, inclusive os do pênis, prejudicando a ereção. O importante é que todas as disfunções eréteis têm tratamento, que varia de caso para caso. Melhor ainda é a prevenção. Pratique atividade física e tenha algum tempo para lazer. Essas medidas ajudam a diminuir a ansiedade e o estresse e a preservar a sua potência. Largue também o cigarro e evite a obesidade, outros dois inimigos do bom desempenho sexual. Enfim, cuide-se e mantenha a boa ereção. 
* Paulo Henrique Egydio (41), urologista e andrologista, é doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e integra o corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo. E-mail: drpaulo@drpaulo.com.br Fonte: Revista Caras

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Psicologia da Saúde no Brasil

Resenhado por Rafael Matos

Gorayeb, R.(2010). Psicologia da saúde no Brasil. rev. Psicologia: teoria e pesquisa, vol, 26 : 115-122.

     O texto objetiva mostrar como se deu o desenvolvimento da psicologia da saúde no Brasil por meio de uma descrição fundamentada por experiências compartilhadas pelo autor no decorrer de sua formação acadêmica e pessoal.
     Como pilar central para o entendimento das ideias que são apresentadas no texto, Gorayeb parte da necessidade de esclarecer confusões a respeito da terminologia existente entre a psicologia da saúde e outros campos de especialização, especialmente, a psicologia clínica e a psicologia hospitalar, sendo possível estabelecer critérios que facilitam a distinção entres estas áreas, quanto ao contexto e público predominante a que se destinam.
     Na distinção, psicologia clínica versus psicologia da saúde, a primeira é historicamente mais antiga, acompanha a psicologia desde sua origem, tendo no atendimento psicoterápico que objetiva a solução de problemas individuais e grupais sua principal característica. De forma geral, é possível dizer que esta área está predominantemente relacionada ao tratamento de indivíduos inadaptados, ou seja, atuando quando problemas já estão presentes, suas práticas são realizadas em ambiente isolado e protegido, para depois ocorrer generalização dos resultados destas práticas para o ambiente natural em que vive o indivíduo.  
      Por sua vez, a psicologia da saúde difere-se da psicologia clínica e das demais áreas da psicologia por lidar em geral com indivíduos que apresentam alguma espécie de problema físico, estes estando relacionados com aspectos comportamentais e emocionais. Atuando preferencialmente no ambiente natural, reconhecendo que o ambiente é o determinante destes problemas. Vale ressaltar que a psicologia da saúde atua ainda em promoção à saúde visando à melhoria da qualidade de vida dos indivíduos, sendo possível a atuação do psicólogo da saúde em hospitais, unidades de saúde da família, comunidade, dentre outros, sendo o primeiro o mais comum, e, além disso, na dinâmica da psicologia da saúde é fundamental o trabalho multidisciplinar.
      Na segunda diferenciação, psicologia da saúde versus psicologia hospitalar, o erro na terminologia, mais frequente que o anterior, é característico do Brasil. Para esclarecimento desta distinção é parafraseado a preposição da teoria gestaltélica que diz que as partes não devem ser tomadas pelo todo, desta forma a psicologia hospitalar deve ser entendida como uma área da psicologia da saúde que utiliza os conhecimentos da mesma dentro do hospital e não como outra área em particular.
   Além disso, no Brasil as especializações e a identidade do psicólogo especialista geralmente se caracterizam pelo locus de atuação. Assim como temos psicólogo hospitalar, para os que atuam em hospitais, temos o psicólogo escolar para aqueles que atuam em escolas, aspecto este não encontrado em outros países, onde as especializações e identidade dão-se pelas práticas realizadas pelo psicólogo.
     O próprio Conselho Federal de Psicologia favorece para esta confusão de terminologias ao possibilitar uma especialização com o nome hospitalar, ao mesmo tempo não oferecendo a mesma para a psicologia da saúde.  A especialização em psicologia hospital ocorre apenas no Brasil segundo estudos de Elisa Castro e Ellen Bornholdt 2004.
     O autor relata que embora a psicologia da saúde venha crescendo no cenário brasileiro, o Brasil ainda é carente de produções científicas nacionais suficientes para a disseminação de conhecimentos que garantam a formação de profissionais especialistas, carecendo também de instrumentos de mensuração para diversos aspectos comportamentais e cognitivos, como por exemplo, para o estudo de transtornos como ansiedade e depressão, sendo geralmente utilizados instrumentos de origem estrangeira, que são traduzidos e normatizados, a exemplo das escalas de Beck para depressão e ansiedade.
     Diante do exposto, embora a psicologia da saúde esteja em crescimento, este se dá de forma lenta, no entanto, Goraybed em seu discurso, este baseado por experiências e aprendizados no convívio com personagens importantes, valendo mencionar Mathilde Neder e Raquel Rodrigues Kerbaury ambas professoras e pesquisadoras, apresenta em visão otimista medidas que podem servir para ascensão desta área no Brasil, como a implementação em nível de graduação de disciplinas que tratem desta temática, e a nível de pós-graduação, a realização de especialização na área da psicologia da saúde.
  Trabalhos como estes que apresentam questionamentos e possíveis soluções funcionam como desencadeadores para mudanças, embora estas não se deem sem desafios e dificuldades, além do mais, a psicologia assim como a psicologia da saúde são recentes no Brasil e só gradativamente vão expandindo seu conhecimento.


domingo, 19 de janeiro de 2014

Falando em anabolizantes...

Postado por André Faro

Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10203021214757236&set=a.10203021214637233.1073742508.1410873376&type=1

À propósito, temos uma pesquisa do líder do grupo sobre o tema em questão!

Anabolizantes: conceitos segundo praticantes de musculação em Aracaju (SE)

A presente pesquisa objetivou delinear os principais conceitos acerca dos anabolizantes entre os praticantes de musculação nas academias de Aracaju (SE). Pretendeu-se, também, conhecer a prevalência da utilização destas substâncias na amostra selecionada. A amostra constituiu-se de 58 indivíduos do sexo masculino, entre 18 e 35 anos de idade, com predominância de formação de nível médio e superior. Como resultados, detectou-se que a concepção prevalente quanto aos anabolizantes e aos seus malefícios corresponde ao que é divulgado quanto à sua utilização sem a prescrição médica: o perigo do abuso. Já quanto aos benefícios observados, constatou-se que há a percepção de que estas substâncias podem gerar resultados imediatos. Percebeu-se um consumo elevado na população pesquisada, que geralmente adquire as drogas nas farmácias e utiliza doses acima do recomendado. Foi observada relação estatística significativa entre o uso dos anabolizantes na atualidade e no passado (p<0,05) sugerindo que sujeitos que já utilizaram anabolizantes tendem a manter o uso.

SANTOS, André Faro et al. Anabolizantes: conceitos segundo praticantes de musculação em Aracaju (SE). Psicol. estud. [online]. 2006, vol.11, n.2, pp. 371-380. ISSN 1413-7372.  http://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722006000200016

sábado, 18 de janeiro de 2014

Médicos ainda confundem transtorno bipolar com depressão

Postado por Grasielle Rocha


O estudo é bastante interessante e informativo. Sabe-se que há pessoas que não conhecem as diferenças e semelhanças entre depressão e o transtorno bipolar, inclusive, como mostra o noticiário, profissionais de saúde ainda confundem. Apesar da depressão e o transtorno bipolar serem doenças crônicas, o indivíduo pode ser diagnosticado corretamente, pois, em geral, o transtorno bipolar apresenta a fase de depressão e a fase de euforia, enquanto a depressão unipolar só cursa com a depressão. Porém, em algum momento, quem tem apenas depressão pode vir a desenvolver a fase de hipomania. No entanto, os profissionais de saúde devem estar mais atentos à insistência em realizar perguntas ao paciente, como por exemplo, insistir quanto ao sintoma de hipomania, caso contrário o diagnóstico será de depressão.

Fonte:http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-09-15/medicos-ainda-confundem-transtorno-bipolar-com-depressao 
Aline Leal
Repórter da Agência Brasil 
Brasília - Estudos americanos mostram que os portadores de transtorno bipolar levam até 14 anos, desde a primeira consulta ao psiquiatra, para ter o diagnóstico correto. É o que alerta a professora de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília, Maria das Graças de Oliveira. A especialista conta que muitas vezes esse transtorno é confundido com depressão porque, na maioria dos casos, o psiquiatra é procurado na fase depressiva da doença, quando os sintomas não são muito diferentes dos de quadros depressivos a que qualquer pessoa está sujeita.O transtorno bipolar é caracterizado por alterações de humor que se manifestam como episódios depressivos que se alternam com estado de euforia, também denominados de mania, podendo se manifestar em diversos graus de intensidade. Ângela Scippa, presidente da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), alerta que entre 30% e 60% dos diagnósticos de depressão escondem um caso de transtorno bipolar.Maria das Graças explica que na fase de euforia o paciente sente-se muito bem. “Quando estão em hipomania [quadro mais leve de euforia], a pessoa não procura ajuda porque sente-se bem, eufórica, com agilidade mental, sentimento de confiança, ego mais inflado,  sente-se mais poderosa, um estado que geralmente não a leva a procurar ajuda de um psiquiatra”, explica a especialista. Se o médico não perguntar insistentemente pelo sintoma da hipomania, eles não vão contar, portanto, muitos pacientes acabam recebendo diagnóstico de depressão, quando na verdade é transtorno bipolar.“Esses pacientes têm biografias que são verdadeiras montanhas-russas. São pessoas que passam por vários casamentos, que têm dificuldade em crescer profissionalmente, histórico de demissões ou de falências. Cada episódio de depressão ou de exaltação de humor pode ter consequências muito ruins para a vida do paciente”, destacou Graça.Fernando*, professor de educação física, 27 anos, hoje sabe que tem transtorno bipolar. Mas, aos 13 anos, foi diagnosticado com depressão. “Na minha infância, antes dos 10 anos de idade, comecei a apresentar sinais de irritabilidade, agressividade, comecei a ser levado a psicólogos, psiquiatras. Só aos 16 fui diagnosticado com transtorno bipolar”, conta.Depois de 11 anos de tratamento, Fernando disse que passou a perceber quando está entrando em crise e toma as providências para se controlar e “não machucar” e ofender outras pessoas. “No meu tempo de colégio eu cheguei a agredir tão fortemente um colega que ele desmaiou e foi parar no hospital, eu virava o verdadeiro Hulk [personagem de filme] nas crises de depressão”, contou. No caso dele, a agressividade é um sintoma de sua crise depressiva.Na fase de euforia, Fernando conta que fica brincalhão e cheio de si. “Eu me sinto literalmente o Super-Homem, você acha que pode tudo, que é inatingível, chegam cinco pessoas querendo bater em você e acha que pode enfrentá-las. Falta achar que sabe voar” relatou.Ângela também conta que há casos mais leves em que as pessoas convivem com a doença por toda a vida, sem ter um diagnóstico. “Alguns descobrem a doença aos 80 anos, para ter ideia. Isso ocorre em pessoas que têm  a doença de forma leve e que, por isso, nunca notaram a necessidade de um tratamento. Mas, hoje, com a ajuda da mídia, as pessoas estão mais atentas e com mais informações em relação ao transtorno bipolar, o que diminui casos de descoberta tardia” explica. 
*Fernando é um nome fictício já que o entrevistado não quis ser identificado.