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sexta-feira, 30 de julho de 2021

Dinâmica temporal do insight no Transtorno Dismórfico Corporal: Um estudo de avaliação ecológica momentânea

Schulte, J., Dietel, F. A., Wilhelm, S., Nestler, S., & Buhlmann, U. (2021). Temporal dynamics of insight in body dysmorphic disorder: An ecological momentary assessment study. Journal of Abnormal Psychology, 130(4), 365–376. https://doi.org/10.1037/abn0000673

Resenhado por Ana Beatriz Silveira

Segundo a Associação Americana de Psiquiatria (APA), o transtorno dismórfico corporal (TDC) é um transtorno mental prevalente e debilitante que é caracterizado por uma preocupação com falhas e defeitos de aparência percebidos, muitas vezes focados na pele, no rosto e no cabelo. Esse transtorno envolve preocupações excessivas sobre várias partes do corpo e crenças disfuncionais relacionadas à aparência, como parecer “feio” ou “anormal”. Uma das mais marcantes características da cognição relacionadas ao TDC é o insight, que é a convicção nas crenças sobre a aparência e a capacidade de reconhecer que as próprias crenças podem ou não ser verdade (APA, 2013), o que o torna aspecto de particular importância terapêutica e diagnóstica. Sendo assim, o insight foi o foco do estudo em questão, sendo analisado através da avaliação ecológica momentânea, que consiste em medições das mudanças momentâneas ao longo do dia do indivíduo por meio de um smartphone.

O estudo avaliou dois grupos e foi conduzido na Universidade de Münster entre abril de 2016 e 2018. O primeiro grupo foi composto por 30 indivíduos com TDC, de 18 a 65 anos. Os critérios de inclusão foram: ter diagnóstico primário atual de TDC, não ter nenhum histórico ou diagnóstico de anorexia nervosa, transtorno de personalidade limítrofe, transtorno bipolar ou esquizofrenia e não estar usando benzodiazepínicos ou ter mudado a medicação psicotrópica dois meses antes e durante o estudo. Já o grupo controle foi composto por 30 pessoas mentalmente saudáveis de 18 a 65 anos. Os participantes monitoraram os próprios insights (divididos nas dimensões convicção, percepção da visão dos outros, ideias de referência, distresse relacionado às crenças e interferência relacionada às crenças), sua autoestima e seus afetos por seis dias, incluindo no plano de monitoração a gravação contingente de intervalo (avaliação matinal e noturna) e gravação contingente de sinal (oito comandos semi-aleatórios diários avaliados a cada 30 minutos durantes um intervalo de oito horas). Além disso, após o monitoramento, os participantes responderam a questionários sobre seus níveis de carga e de reatividade aos comandos.

Uma substancial variabilidade intraindividual nas dimensões do insight em TDC foi encontrada, havendo flutuações consideráveis ao longo dos seis dias. Apesar de essas flutuações terem ocorrido de forma semelhante em ambos os grupos, o grupo com TDC foi convencido da visibilidade de suas falhas percebidas por períodos de tempo mais longos do que o grupo controle. A convicção foi um aspecto que obteve variabilidade ao longo do tempo nos dois grupos, mostrando que no grupo controle há também preocupações sobre a aparência que se mantém com convicção e que podem interferir na vida diária. No tocante à relação do insight com a autoestima e o afeto, um insight mais pobre refletido em todas as dimensões do insight co-ocorreu com mais afeto negativo, menos afeto positivo e baixa autoestima no grupo com TDC. No grupo controle, não houve predição dos insights através do tempo em relação a esses aspectos. Assim, os resultados reforçaram a ideia de que o insight é contínuo e situacional e de que a autoestima é um foco interessante para intervenções no início do tratamento. Com isso, o estudo mostra-se relevante para a Psicologia da Saúde, visto que traz informações interessantes para o diagnóstico e para a intervenção no TDC, promovendo assim avanços na promoção de saúde física e mental.

 


terça-feira, 27 de julho de 2021

Estresse de familiares cuidadores de sobreviventes das UTIs

 

Barro, A. J. S., Teche, S. P. & Rosa, R. G. (2019). Cuidando dos sobreviventes de UTI: o estresse dos familiares cuidadores. IN: Teles, J. M. M., Teixeira, C., & Rosa, R. G. (Eds.), (2019). Síndrome pós-cuidados intensivos: como salvar mais do que vidas. AMIB.

Resenhado por Danielle Alves Menezes

 

Após alta, espera-se que pacientes sobreviventes de UTIs sejam transferidos para um leito hospitalar e, após alguns dias, recebam liberação médica para ir para casa. Nesse processo, pelo menos 30% dos familiares sofrem sintomas psicológicos pouco adaptativos, como insônia, reação aguda ao estresse, transtorno de adaptação, e, a longo prazo, depressão, ansiedade e transtorno de estrese pós-traumático (TEPT). Tais alterações decorrem da necessidade de tomarem decisões importantes que impactarão em suas vidas e no bem-estar do paciente, além de implicarem no complexo desempenho do papel de cuidador.

Salienta-se que esse momento exige dos familiares cuidadores reestruturação tanto em um nível objetivo quanto subjetivo, ou seja, reorganização desde a adaptação de espaços da casa, horários de trabalho, aquisição de novas habilidades para desempenhar o cuidado, como também ressignificação do papel do ente querido na própria família. Além disso, pode ocorrer um círculo vicioso gerador de estresse emocional em que pacientes sofrem psiquicamente com dores, desconforto, ansiedade, tristeza, dificuldades para dormir, pesadelos, restrição da funcionalidade, irritabilidade, agressividade, e, para os familiares ante a essas queixas, é desencadeado um senso de obrigação, sentimentos de falta de suporte social e baixa autoeficácia, crescimento pessoal reduzido e menor senso de controle sobre a própria vida.

Diante desse cenário, destaca-se a importância de prevenir, tratar e cuidar do estresse de cuidadores não só com a perspectiva de impactar positivamente no cuidado ao paciente, como também no sentido de proporcionar qualidade de vida para eles. Dentre as possibilidades de intervenção são citadas: comunicação efetiva entre familiares e equipe assistencial, orientações pós-alta, incentivo à participação do cuidador nos procedimentos de enfermagem, psicoeducação sobre a doença do paciente, atenção à manifestação de sintomas psiquiátricos tanto nos pacientes como nos cuidadores, disponibilização de serviços de home care, amplificação do suporte social e treino cognitivo-comportamental para lidar com medo, culpa e autocuidado. O psicólogo da saúde, nos diversos campos de inserção tanto institucional como em clínica, pode atuar mapeando fatores de risco e predisponentes do bem-estar psíquico e atuar diretamente sobre eles, contribuindo, assim, para maior qualidade de vida tanto de pacientes como de cuidadores.

                                     

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Transtornos alimentares em tempos de pandemia de COVID-19 - resultados de uma pesquisa online realizada com pacientes com anorexia nervosa

 

Eating disorders in times of the COVID‐19 pandemic—Results from an online survey of patients with anorexia nervosa

 

Schlegl, S., Maier, J., Meule, A., & Voderholzer, U. (2020). Eating disorders in times of the COVID‐19 pandemic—Results from an online survey of patients with anorexia nervosa. International Journal of Eating Disorders, 53(11), 1791-1800. https://doi.org/10.1002/eat.23374

 

Resenhado por Geovanna Turri

 

A anorexia nervosa é um transtorno mental que está associado a um baixo nível de abertura para eventos inesperados e evitação diante de situações de incerteza. A pandemia de COVID-19 e as restrições públicas resultantes dela representam um fardo psicológico para os indivíduos em todo o mundo e podem ser particularmente prejudiciais para os indivíduos com transtornos mentais, a exemplo da anorexia. As preocupações com o peso, com a forma e com a alimentação podem aumentar durante os momentos em que a sensação de autocontrole diminui por fatores externos, como ocorre na crise de saúde atual. Devido à falta de dados empíricos sobre o impacto da pandemia de COVID-19 em pacientes com anorexia nervosa, Schlegl, Maier, Meule e Voderholzer (2020) decidiram investigar as consequências psicológicas da pandemia atual nos sintomas de transtorno alimentar e outros aspectos psicológicos em ex pacientes com quadro de anorexia nervosa.

Ao todo, 159 ex pacientes com anorexia nervosa participaram da pesquisa online sobre o histórico de contato com a COVID-19, mudanças nos sintomas e outros aspectos psicológicos, utilização de cuidados de saúde e estratégias que os pacientes empregaram para lidar com a pandemia. Os critérios de inclusão foram: ter um diagnóstico primário de anorexia nervosa na admissão, ser do sexo feminino e ter idade igual ou superior a 13 anos. Foi utilizado um questionário desenvolvido por uma equipe de médicos, psicoterapeutas e pesquisadores para avaliar as consequências psicológicas da pandemia de COVID-19. Além disso, investigou-se também se a pandemia teve algum impacto positivo na vida ou nos sintomas das participantes.

Os resultados mostraram que aproximadamente 70% das participantes relataram que as preocupações com a alimentação, a forma física, o peso, o desejo de praticar atividades físicas, a solidão, a tristeza e a inquietação interna aumentaram durante a pandemia. O acesso a psicoterapias presenciais e visitas ao clínico geral (incluindo para verificação de peso) diminuiu em torno de 37% e 46%, respectivamente. A videoconferência foi utilizada por 26% das participantes e os contatos telefônicos por 35% delas. Além disso, as participantes relataram que as rotinas diárias vivenciadas, o planejamento do dia a dia e as atividades prazerosas rotineiras atuaram como estratégias de enfrentamento úteis durante esse período da pandemia.

Enfim, viu-se que a pandemia da COVID-19 trouxe grandes desafios para pessoas que vivem com a anorexia nervosa. Com os resultados, os autores concluíram que os pensamentos e os comportamentos relacionados à transtornos alimentares, por exemplo, podem ser usados nesse período pandêmico ​​como mecanismos de enfrentamento disfuncionais para recuperar o controle sobre as circunstâncias atuais. De acordo com a psicologia da saúde, análises longitudinais podem ajudar a esclarecer a duração dos efeitos negativos relatados pelas participantes durante o período da pandemia de COVID-19.

                                  

 

domingo, 25 de julho de 2021

Fatores de risco para transtornos alimentares: Uma área em desenvolvimento

 

Appolinario, J. C., & Hay, P. (2021). Risk factors for eating disorders: a work in progress. Brazilian Journal of Psychiatry. https://doi.org/10.1590/1516-4446-2021-1749

 

Resenhado por Luiz Guilherme Lima Silva

 

Sabe-se que existem diversos fatores de risco para diferentes tipos de patologias. Porém, no senso comum pode haver confusão com o significado desse termo, que remete a uma ou mais características que aumentam a probabilidade que um indivíduo tem de desenvolver quadros patológicos. Há duas características fundamentais em relação ao fator de risco: a primeira é que deve estar presente antes do desenvolvimento do quadro, e a segunda se refere à divisão da população em alto e baixo risco. Existem dois tipos de fatores de risco: os marcadores fixos, que não podem ser alterados, como etnia e sexo, e os fatores de risco variáveis – um comportamento ou uma crença por exemplo –, que podem ser alterados com ou sem intervenção. Os fatores de risco que diminuem ou aumentam a probabilidade de um desfecho são denominados fatores de risco causais.

Existe literatura crescente em relação aos fatores de risco de transtornos mentais, sobretudo os transtornos alimentares, como anorexia nervosa (AN), bulimia e compulsão alimentar (CA). Os transtornos mentais são caracterizados pela ocorrência multidimensional dos fatores de risco, ou seja, para que se desenvolva um quadro psicopatológico, existem fatores biológicos, ambientais, sociais e/ou psicológicos, por exemplo. A literatura sugere que existem bases genéticas e hereditárias relativas aos transtornos alimentares. A AN está associada a estudos de neurotransmissores específicos, hormônios metabólicos, resposta inflamatória e aos sistemas imunológico e neuroendócrino. A bulimia tem associação com o polimorfismo de hormônios metabólicos e genes relacionados à obesidade. Em diversos estudos, a CA teve associação com neurotransmissores serotoninérgicos, dopaminérgicos e de opioides.

Os fatores de risco ambientais mais apontados por estudos longitudinais com relação aos transtornos alimentares foram a idealização da magreza, a pressão por ser magro (a), insatisfação com o corpo, presença de afetos negativos e adoção de dietas restritivas. Ressalta-se que a literatura acerca dos fatores de risco relacionados a esse tipo de quadro psicopatológico ainda está em desenvolvimento e, por isso, conta com poucas evidências sobre as características ambientais até o presente momento.

Os transtornos alimentares são uma classe de transtornos que apresentam poucos estudos relativos aos seus fatores de risco e, por isso, demanda atenção dos pesquisadores. A Psicologia da Saúde, como campo teórico que considera o desenvolvimento multidimensional de quadros patológicos, pode contribuir com o corpo científico ao incentivar pesquisas com populações-chave, a exemplo de adolescentes e jovens adultos, visto que predominam os transtornos alimentares nessa faixa de desenvolvimento para melhor compreender o fenômeno e prevenir a aparição de tais transtornos. Outra forma de incrementar o campo de estudos sobre transtornos alimentares é a realização de revisões de literatura a fim de sintetizar e dar maior direcionamento àqueles que se encontram no âmbito clínico. Dessa forma, as intervenções podem ser baseadas em evidências e podem ser mais eficazes.

  

sábado, 24 de julho de 2021

Associação entre transtornos alimentares, suicídio e sintomas depressivos em universitários de cursos de saúde

 

Nascimento, V. S. D., Santos, A. V. D., Arruda, S. B., Silva, G. A. D., Cintra, J., Pinto, T. C. C., & Ximenes, R. C. C. (2019). Associação entre transtornos alimentares, suicídio e sintomas depressivos em universitários de cursos de saúde. Einstein (São Paulo)18. doi: 10.31744/einstein_journal/2020AO4908

 

 Resenhado por Franciely Santos

 

A constante insatisfação pessoal e baixa autoestima estão ligadas a comportamentos alimentares prejudiciais à saúde com o objetivo de redução de peso. A valorização do corpo padrão e esbelto, cada vez mais intensificada nas redes sociais leva os indivíduos, principalmente as mulheres, a se engajarem em práticas não saudáveis com o intuito de atingirem o corpo ideal. Tais comportamentos alterados podem levar aos transtornos alimentares que têm origem multifatorial, apresentam altos índices de mortalidade e incapacidade, além de aumentar os riscos de suicídio e taxas de depressão.

O estudo teve como objetivo identificar sintomas de transtornos alimentares e suas possíveis relações com sintomas depressivos e risco de suicídio em universitários de cursos de saúde. A pesquisa ocorreu no interior de Pernambuco, com uma amostra de 271 participantes e ocorreu no período de três meses. Foi utilizado um questionário socioeconômico, o Teste de Atitudes Alimentares (EAT-26- Eating Attitudes Test-26), o Bulimic Investigatory Test of Einburgh (BITE), a Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI) e a Escala de Hamilton - Depressão (HAM-D - Hamilton Depression Rating Scale).

A amostra foi composta maioritariamente por mulheres (62%), eram de classe relativamente baixa 43,9%, 7,4% da amostra apresentaram sintomas de transtornos alimentares e 29,1% tiveram sintomas de bulimia nervosa. Em se tratando do risco de suicídio, 5,5% pontuaram risco alto de suicídio, além disso, 17,3% apresentaram sintomas de depressão maior. Ao realizarem as associações entre as variáveis, observou-se que os escores de risco de suicídio e sintomatologia de transtornos alimentas tiveram uma correlação positiva de 0,20 com o p = 0,001. A correlação positiva também foi encontrada entre o risco de suicídio e os sintomas de depressão maior, além de haver diferença estatística para o risco de suicídio em indivíduos com sintomas de bulimia nervosa.

A intensa exposição nas redes sociais e o culto ao corpo perfeito aumentam nas pessoas o desejo de emagrecer, além do medo de ganhar peso, que podem levar  às mesmas a adotarem comportamentos não saudáveis, sem acompanhamento profissional. Essa insatisfação com o corpo está associada aos transtornos alimentares, sintomas depressivos e risco de suicídio, como os dados apontaram. Ou seja, os universitários que apresentaram sintomas de transtornos alimentares e sintomas depressivos, apresentam maiores chances de risco de suicídio.

 É notório o impacto do padrão de beleza sobre os jovens universitários. A Psicologia da Saúde pode criar estratégias específicas para grupos diferentes, a depender dos fatores que cercam cada indivíduo, levando em consideração o contexto e as possibilidades, visando aumento da autoestima e da aceitação desses jovens. Estudos futuros podem priorizar esses dois construtos e suas relações com os trantornos alimentares, sintomas depressivos e suicídio.

                               

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Revisão sistemática da literatura sobre ansiedade em estudantes do ensino superior

 

Soares, A. B., Monteiro, M. C. L. M., & Santos, Z. A. (2020). Revisão sistemática da literatura sobre ansiedade em estudantes do ensino superior. Contextos Clínicos, 13(3), 993- 1012. https://doi.org/10.4013/ctc.2020.133.13

 

Resenhado por Jéssica Dantas

O ingresso no ensino superior é a realidade de muitos jovens brasileiros e se configura como um momento permeado por processos de transição e adaptação. Os estudantes se deparam com uma série de mudanças e novos desafios em várias dimensões da vida:  pessoal, acadêmica, social e institucional. Tais exigências adaptativas se tornam potenciais estressores e, muitas vezes, contribuem para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade ou para o agravamento de condições pré-existentes.

A ansiedade pode ser definida como um estado emocional complexo associado a estímulos externos e a situações vivenciadas, geralmente decorrentes de um medo inicial.  A pessoa tende a perceber a situação como incontrolável ou sem possibilidade de previsão de futuras ameaças, desencadeando, assim, uma resposta fisiológica prolongada.  Entre os universitários, onde a literatura já aponta um aumento significativo dos transtornos mentais, a ansiedade apresenta altos níveis de prevalência causando também, em decorrência, efeitos prejudiciais à saúde.

O presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática da literatura de artigos publicados em periódicos nacionais, no período de 2005 a 2019 sobre transtornos de ansiedade em estudantes universitários. Para isso, foram utilizadas as seguintes bases de dados: Google Acadêmico, SciELO, LILACS e Pepsic. Foram selecionados apenas periódicos com a temática ansiedade em universitários, tendo sido obtidos 37 artigos para o estudo. Os dados foram compilados e filtrados a partir do critério metodológico do modelo PRISMA.

Os resultados apontaram para cinco categorias de publicações: estudos de caracterização (13), intervenção (13), prevalência (5), relato de experiência (2) e construção de instrumento (1). As publicações de maior incidência foram sobre   caracterização e intervenção. Estudos que analisem os fatores relacionados ao transtorno de ansiedade e que descrevam os efeitos de intervenções são fundamentais por proporcionar ferramentas e estratégias para ações no contexto universitário. Os estudos de prevalência apontaram maiores taxas de estresse psicológico grave, ideações suicidas e transtornos de ansiedade na população universitária. Além disso, a ansiedade esteve mais associada ao sexo feminino. Já os estudos de relato de experiência contribuem com propostas de intervenção psicológica para auxiliar os discentes em sua experiência de transição acadêmica. Por fim, foi possível observar lacunas relacionadas aos estudos de instrumentos, que podem ser explicadas pela preferência que tem sido dada à adaptação de instrumentos em detrimento da construção.

Estudos que ampliem o conhecimento sobre os determinantes dos transtornos de ansiedade em estudantes universitários são fundamentais para a psicologia da saúde, pois auxiliam o desenvolvimento de intervenções que intencionem a melhoria da experiência adaptativa dos alunos. Contribuindo, assim, para a redução dos altos índices de transtornos psicológicos nessa população e dos reflexos negativos na vivência acadêmica, como baixos níveis de desempenho acadêmico e evasão.

                         

 

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Modelo cognitivo-comportamental para tratamento de crianças obesas com compulsão alimentar periódica


Borges, J., & Neves, S. (2014). Modelo cognitivo-comportamental para tratamento de crianças obesas com

compulsão alimentar periódica. Revista Fragmentos de Cultura - Revista Interdisciplinar de Ciências Humanas, 24(6), 73-83. doi:http://dx.doi.org/10.18224/frag.v24i0.3566

 

Resenhado por Ariana Moura

O Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica – TCAP - se caracteriza por episódios de consumo excessivo de alimentos, associado à perda de controle do que se ingere, em um período delimitado de tempo (duas horas), seguido de desconforto psicológico e angústia. Esses episódios ocorrem pelo menos duas vezes por semana, durante seis meses ou mais e não são acompanhados de comportamentos compensatórios para a perda de peso.

O presente trabalho teve como objetivo adaptar o tratamento cognitivo-comportamental à população infantil obesa com TCAP, verificar a eficácia deste e a redução do peso. A amostra constituiu-se de seis crianças obesas, sendo duas do sexo masculino e quatro do sexo feminino, com idades entre 10 e 12 anos, que frequentavam uma escola em Goiânia-GO. Para seleção dos participantes foram utilizados a Escala de Compulsão Alimentar (ECAP), entrevista para identificação do TCAP e o Índice de Massa Corporal (IMC).

As nove sessões em grupo aconteceram uma vez na semana com duração de 90 minutos. Os participantes eram pesados e medidos em todas as sessões para acompanhamento do peso e avaliação do tratamento. Após a autorização dos pais, deu-se a aplicação dos testes, que aconteceu em quatro sessões de uma hora. Os conteúdos trabalhados da primeira à oitava sessão foram diversos desde a apresentação dos componentes do grupo, passando pelo estímulo à alimentação saudável e treino do autocontrole, até o treino de habilidades sociais e intervenções relacionadas à baixa autoestima. E, finalmente, na nona sessão foi feita a retrospectiva de todo tratamento e na avaliação coletiva, realizou-se um balanço sobre assiduidade, peso, medidas e números de estrelas que ganharam.

Ao final, observou-se que a intervenção contribuiu com o desenvolvimento de novos procedimentos para o tratamento de pacientes obesos infantis portadores de TCAP. Essa adaptação voltada para o público infantil teve impacto importante na adesão do grupo ao programa, o que facilitou e instigou a expressão dos comportamentos e sentimentos e a realização dos registros diários solicitados, conforme observado nos resultados. Além disso, todos os participantes apresentaram redução de peso e de medidas após o tratamento.

Importante ressaltar que o empenho das famílias que ajudaram recordando da anotação diária (automonitorização), da visualização da pirâmide e seleção alimentar (modificação de hábitos alimentares), e proporcionando estímulos nos exercícios físicos e no controle alimentar, parece ter auxiliado no processo de redução de peso. As trocas de experiências sobre as estratégias que cada um do grupo estava utilizando para o emagrecimento saudável também colaboraram para perda de peso dos demais.

Este estudo contribuiu para a Psicologia da Saúde por, de acordo aos autores, ter sido a primeira adaptação do tratamento Cognitivo-Comportamental à população infantil obesa. A partir disso, os psicólogos que atuam com crianças acima do peso podem utilizar as informações fornecidas por esta pesquisa, principalmente para basear a intervenção com tal público.

 


sexta-feira, 2 de julho de 2021

Influência da mídia nos Transtornos Alimentares em adolescentes: Revisão de literatura

 

Lopes, P. A., & Trajano, L. A. S. N. (2021). Influência da mídia nos Transtornos Alimentares em adolescentes: Revisão de literatura. Research, Society and Development, 10(1), e20910111649. http://doi.org/10.33448/rsd-v10i1.11649


 

Resenha por Brenda Fernanda

 

Os transtornos alimentares (TA) são desordens que impactam no comportamento alimentar, ocasionando ingestão      desregulada de alimentos e consequente comprometimento da saúde física e mental. A adolescência é uma fase do desenvolvimento marcada por diversas alterações físicas e mentais. A construção da identidade é um dos processos que acontecem neste momento, sendo o pertencimento a grupos um fenômeno também fundamental nesta etapa da vida. Nesse contexto, não estar dentro dos padrões pode acarretar a exclusão social, portanto, os adolescentes constituem público vulnerável ao desenvolvimento de TA de base, que podem levar a transtornos psicológicos como a depressão e a ansiedade.

As mídias sociais funcionam como difusores de informações, bem como reproduzem os padrões a serem seguidos pela sociedade. A internet mostra quem são os modelos e quais são as atitudes necessárias para se “chegar ao sucesso”, e quem não se identifica com esses modelos automaticamente está fora do padrão estabelecido, tornando-se mais propenso à insatisfação corporal e a um possível impacto no comportamento alimentar. Os adolescentes são expostos diariamente nas redes sociais a exercícios em excesso, procedimentos estéticos, cirurgias plásticas, fotos alteradas, restrição de doces, exposição de corpos magros e corpos musculosos. Não fazer parte desse padrão pode ser um grande fator causador de sofrimento.

O presente estudo consistiu em uma revisão integrativa da literatura, buscando nas bases de dados eletrônicas PubMed, LILACS e SciELO, no período de 2010 a 2020, os descritores “eating disorders”, “media” e “adolescents”. Dos 35 artigos encontrados que continham os desfechos de interesse dessa revisão, restaram 27 para análise. Os estudos foram divididos em dois grupos: um grupo contendo 23 artigos que analisaram os descritores com base em testes validados ou em questionamentos pessoais, e o outro composto por 4 artigos que avaliaram o comportamento dos adolescentes em redes sociais como Instagram, Twitter e Facebook.

Os resultados apontaram maior prevalência dos TA em adolescentes do sexo feminino, bem como a persuasão e subversão das mídias de massa sobre um público sem poder de reflexão crítica. As mulheres, principalmente as mais jovens, sofrem maiores influências das mídias de massa, em especial, pela falta de experiência. No geral, observaram-se nos estudos altos níveis de perfeccionismo, insatisfação corporal, foco excessivo na imagem, perda de peso e baixa autoestima, fatores esses que contribuíram diretamente para o surgimento de TA.

Tal estudo se mostra relevante para a Psicologia da Saúde pois evidencia fatores de risco para o adoecimento físico (TA) e psicológico (transtornos depressivos e ansiosos associados). Identificar tais fatores é de fundamental importância para que intervenções adequadas sejam realizadas com o público-alvo, neste caso, adolescentes.