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quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Fadiga, depressão e qualidade de vida em crianças com esclerose múltipla

 

Florea, A., Maurey, H., Sauter, M., Bellesme, C., Sevin, C., & Deiva, K. (2019). Fatigue, depression, and quality of life in children with multiple sclerosis: A comparative study with other demyelinating diseases. Developmental Medicine & Child Neurology, 62(2):241-244. https://doi.org/10.1111/dmcn.14242

Resenhado por Laís Gabriela Rocha

A esclerose múltipla (EM) é a patologia inflamatória mais comum dentre as síndromes desmielinizantes do sistema nervoso central e ela afeta tanto a massa cinzenta quanto a branca do cérebro. Nestas doenças, a mielina é danificada e os impulsos nervosos têm dificuldade de funcionar normalmente, gerando disfunções temporárias ou permanentes. Além dos sintomas neurológicos, as funções cognitivas também são gravemente afetadas nas crianças que sofrem com a esclerose múltipla, principalmente na atenção, velocidade de processamento, habilidades motoras e visuais, funções executivas e memória. Ademais, podem estar associados sinais de depressão, ansiedade, TDAH, baixa qualidade no sono, bem como limitações físicas, educacionais e emocionais. Assim, este estudo buscou avaliar a fadiga, depressão e qualidade de vida em crianças com esclerose múltipla e comparar com as que possuem outras síndromes desmielinizantes.

A pesquisa teve como amostra 37 crianças e adolescentes com o diagnóstico de alguma dessas síndromes supracitadas acompanhadas no Centro de Referência Nacional de Doenças Neurológicas do Hospital Universitário de Paris. Foram utilizadas a Escala de Status de Deficiência Expandida (EDSS), a Escala de Gravidade da Fadiga, o Inventário de Depressão Multi-escore para Crianças e o Inventário Pediátrico de Qualidade de Vida (versão de autorrelato e versão relatada pelos pais).

Os resultados achados foram condizentes com os da literatura, em que a fadiga é o sintoma mais predominante nos pacientes pediátricos com esclerose múltipla e neste estudo os pacientes com outras síndromes relataram um índice ainda maior. Sinais de depressão foram mais reportados em pacientes com esclerose múltipla especificamente. Os pais também reportaram uma percepção até pior do que a das crianças na qualidade de vida, cansaço e dificuldades cognitivas delas. O comprometimento neurológico superior foi o principal preditor de diminuição da qualidade de vida relacionada à saúde entre crianças com EM. Para pais e pacientes do grupo de EM as dificuldades na escola e no funcionamento emocional foram as principais preocupações, as quais precisam ser levadas em conta durante sua proposta de cuidados e tratamento.

Por fim, o artigo se mostra relevante para a psicologia da saúde no sentido em que aponta a necessidade de avaliar e intervir sobre variáveis como fadiga e depressão em pacientes pediátricos portadores das referidas doenças degenerativas, cujos índices costumam ser altos e podem interferir bastante no funcionamento geral, bem-estar e qualidade de vida dos jovens. Foram recomendados o treinamento em atenção plena (mindfulness) e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), principalmente no tratamento para depressão, além de um planejamento pedagógico individualizado com estratégias para atenuar a fadiga nas questões escolares.

terça-feira, 29 de agosto de 2023

O efeito da terapia cognitivo-comportamental em grupos no estresse, na ansiedade e na depressão em mulheres com esclerose múltipla

 

Pahlavanzadeh, S., Abbasi, S., & Alimohammadi, N. (2017). The effect of group cognitive behavioral therapy on stress, anxiety, and depression of women with multiple sclerosis. Iranian Journal of Nursing and Midwifery Research, 22(4), 271. https://doi.org/10.4103/1735-9066.212987

 

Resenhado por Luiz Fernando de Andrade Melo

 

A esclerose múltipla é uma doença crônica do sistema nervoso central e que pode afetar severamente a qualidade de vida dos indivíduos diagnosticados com ela. A faixa etária de início da doença é entre 25 e 30 anos, sendo que boa parte dos pacientes são mulheres em idade reprodutiva. Aproximadamente metade das pessoas com esclerose múltipla enfrentam estresse e sintomas depressivos e ansiosos no primeiro ano após o diagnóstico. Alguns fatores que estão relacionados é o medo da morte, preocupações sobre o futuro, perda do emprego e custos do tratamento. Consequentemente, tratamentos psicológicos e psiquiátricos são necessários para reduzir o impacto na saúde mental desses pacientes. Esta pesquisa, portanto, propôs avaliar o efeito da terapia cognitivo-comportamental em grupos no estresse, na ansiedade e na depressão no público feminino com esclerose múltipla.

Trata-se de um estudo clínico randomizado de três estágios em que participaram 70 mulheres, separadas igualmente em dois grupos: intervenção e controle. O critério de inclusão para a pesquisa foi ter sido diagnosticada com esclerose múltipla nos últimos seis meses. Utilizou-se a Depression Anxiety Stress Scale – DASS-42, com 14 itens para mensurar os níveis de depressão, 14 para ansiedade e 14 para estresse. A escala foi usada antes, logo após e depois de um mês da intervenção. O tratamento consistiu em oito sessões, sendo uma sessão de 90 minutos por semana.

Os resultados obtidos demonstraram redução dos níveis de estresse, ansiedade e depressão após o programa e sua diminuição foi consistente até um mês depois do tratamento. Já o grupo de intervenção teve níveis menores nos três aspectos psicológicos em comparação ao grupo controle. Ademais, os escores deste último grupo se mantiveram ao longo das três etapas de testagem.

Com esta pesquisa avaliou-se os efeitos da terapia cognitivo-comportamental em grupo no estresse, na ansiedade e na depressão em mulheres com esclerose múltipla. Por ser um estudo clínico randomizado, notou-se as diferenças entre dois grupos sem (controle) e com a terapia nos construtos psicológicos analisados. A partir dele, é possível afirmar a eficácia da terapia cognitivo-comportamental em grupo para este tipo de demanda e no público especificado. Sua contribuição para a Psicologia da Saúde é o levantamento de dados de tratamentos que tenham como foco os impactos psicológicos da esclerose múltipla em seus pacientes. Assim, o estudo se torna uma das fontes na literatura para melhores intervenções nesse contexto.

domingo, 27 de agosto de 2023

O que acontece se não dormirmos?

Postado por Beatriz de Oliveira Santos

 

Desfrutar de uma noite tranquila de sono desempenha um papel crucial na promoção da saúde, tanto física quanto mental. Queixas relacionadas a distúrbios do sono frequentemente surgem em uma variedade de transtornos mentais. Isso nos leva a considerar que problemas de sono não apenas acompanham esses transtornos, mas também podem agravar seus sintomas, criando um ciclo de influência mútua. Mas o que acontece com nosso corpo quando dormimos pouco a ponto de sentir os impactos de uma noite mal dormida em diferentes âmbitos? O vídeo a seguir explora algumas curiosidades e casos de pessoas que passaram horas acordadas, enquanto fornece uma explicação didática sobre o nosso funcionamento quando privados do sono.

 

https://www.youtube.com/watch?v=dqONk48l5vY 


sábado, 26 de agosto de 2023

Como a ansiedade se relaciona com o vitiligo?

 

Kussainova, A., Kassym, L., Akhmetova, A., Glushkova, N., Sabirov, U., Adilgozhina, S., Tuleutayeva, R., & Semenova, Y. (2020). Vitiligo and anxiety: A systematic review and meta-analysis. PLoS ONE, 15(11), e0241445. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0241445

 

Resenhado por Beatriz Lima

 

Os transtornos de ansiedade (TA) são caracterizados por preocupação excessiva diante de um problema interpretado como ameaçador. Observa-se um aumento global no número de casos de TA, os quais costumam aparecer com outros problemas de saúde mental. As doenças cutâneas estão relacionadas com sintomas ansiosos. O vitiligo é uma doença adquirida e duradoura que afeta aproximadamente 1% da população. Ela costuma ser manifestada através de manchas de despigmentação ao longo da pele, com margens nítidas. Essas manchas podem se expandir com o tempo e as pessoas que sofrem de vitiligo costumam experimentar diversos problemas emocionais. Além disso, em determinados contextos, o estigma da doença pode dificultar a realização de atividades diárias, aumentando o sofrimento psicológico dos indivíduos. Estudos apontam taxas acentuadas de sofrimento mental em indivíduos com vitiligo, contudo as evidências da prevalência de ansiedade, especificamente, nesse público ainda são escassas.  

O presente estudo investigou os índices de ansiedade em pacientes com vitiligo e comparou com portadores de outras doenças de pele. Para isso, foi realizada uma revisão sistemática e posteriormente uma metanálise que contaram com 15 estudos e 1.176 participantes. Foram utilizadas as plataformas Pubmed, PsycINFO e Cochrane Library. Os estudos foram selecionados a partir do método PRISMA e foram incluídos somente aqueles publicados em inglês e considerados de alta e média qualidade pela escala de Newcastle-Ottawa (4 pontos). Todos os trabalhos analisados foram estudos observacionais de coorte transversal. Pesquisas que apresentaram baixa qualidade metodológica ou que relataram ansiedade durante ou após eventos traumáticos foram excluídas. Também foram realizadas análises de subgrupo para analisar o impacto do gênero, continente e tipo de doença cutânea na prevalência de ansiedade.

Os resultados obtidos comprovaram a hipótese inicial, tendo sido encontradas elevadas taxas de ansiedade (35,8%) em portadores de vitiligo. Contudo, foi observado que o impacto ansiogênico do vitiligo independe do gênero ou da etnia do paciente. Homens e mulheres apresentaram altos índices de ansiedade, mas as mulheres ultrapassaram esse quadro, o que está de acordo com as tendências de epidemiologia dessa patologia. Não houve diferença significativamente estatística entre a prevalência de ansiedade nos diferentes continentes. Além disso, esse dado se repetiu na comparação com portadores de outras doenças de pele, a qual não atribuiu taxas significativamente mais altas de ansiedade a pacientes com vitiligo. Algumas limitações, a exemplo da ausência de dados sobre a prevalência de ansiedade de acordo com gravidade do vitiligo, impossibilitaram de analisar a relação entre ansiedade e extensão da doença.

            A partir desses achados, pode-se concluir que pacientes de vitiligo são afetados por sintomatologia ansiosa, assim como indivíduos com outras doenças de pele graves, à exemplo de psoríase e eczema. Assim, para proporcionar uma atuação eficaz em aspectos de saúde, faz-se necessário que o psicólogo da saúde conheça essa dinâmica. Ao atuar com um paciente com doenças cutâneas, ele deve estar ciente da maior predisposição à ansiedade para intervir de forma efetiva. Estratégias clínicas como psicoeducação e mindfulness podem ser utilizadas para aliviar a carga de sofrimento mental nesses pacientes. Assim sendo, ele poderá manejar a relação do cliente com o quadro clínico e evitar possíveis desfechos negativos em dimensões psicológicas do paciente. 

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Efeitos de intervenções baseadas em aceitação e mindfullness na qualidade de vida, enfrentamento, cognição e atenção plena de pessoas com esclerose múltipla: uma revisão sistemática e uma metanálise.

 

Resenhado por Susana Santana

 

Han, A. (2022). Effects of mindfulness-and acceptance-based interventions on quality of life, coping, cognition, and mindfulness of people with multiple sclerosis: A systematic review and meta-analysis. Psychology, Health & Medicine, 27(7), 1514-1531. https://doi.org/10.1080/13548506.2021.1894345

 

A esclerose múltipla (EM) é uma doença neurodegenerativa que afeta 2,3 milhões de pessoas em todo o mundo. Ela leva ao comprometimento das funções motoras, sensoriais e cognitivas em adultos jovens e de meia-idade. Já há evidências de que intervenções que promovem o mindfullness e a aceitação melhoram a qualidade de vida em diversas populações, como pessoas com dor crônica e pessoas com fibromialgia. O mindfullness é descrito como uma consciência momento a momento da experiência de uma pessoa, sem julgamentos e com aceitação. A aceitação é definida como estar disposto a vivenciar pensamentos e emoções desagradáveis como eles são, sem tentar evitá-los ou eliminá-los. Assim, acredita-se que a aceitação dos desafios diários e a capacidade de gerenciamento das próprias emoções através do mindfullness pode ajudar as pessoas com EM a se adaptarem melhor e ter mais qualidade de vida.

O estudo em questão buscou fazer o mapeamento de ensaios clínicos randomizados envolvendo intervenções baseadas em mindfullness e aceitação aplicadas a participantes com EM. Essa investigação teve o intuito de verificar o efeito dessas intervenções em fatores psicológicos como qualidade de vida, enfrentamento, cognição e atenção plena em pessoas com EM. Foram selecionados 18 estudos que atenderam aos critérios de seleção definidos. Dentre os resultados, houve efeito moderado dessas intervenções na qualidade de vida, no enfrentamento e na atenção e um grande efeito na memória. Ressalta-se que se identificou grande efeito das intervenções na qualidade de vida no momento de follow-up. No entanto, não foi verificado efeito significativo sobre a atenção plena.

Em razão do número reduzido de estudos, os autores concluíram que ainda é necessário o aprofundamento das pesquisas para entender melhor o efeito dessas intervenções na qualidade de vida de pacientes com EM. Diante das especificidades da vivência de pessoas com EM – que podem estar relacionadas a funções motoras, sensoriais e cognitivas – a Psicologia da Saúde e o modelo biopsicossocial de saúde consideram que o tratamento das diversas doenças envolve protocolos de intervenção que contemplem os fatores biológicos, psicológicos e sociais de cada quadro clínico. Dessa forma, defende-se que o avanço de estudos sobre os fatores psicossociais de doenças crônicas, como a Esclerose Múltipla, pode contribuir para o desenvolvimento de intervenções mais efetivas para esse público. Outro exemplo disso é o desenvolvimento de pesquisas voltadas para entender o efeito da autoeficácia no aumento da prática de atividade física por pacientes com EM. Por isso, esses e outros direcionamentos das investigações podem tornar protocolos de saúde para esses pacientes mais efetivos.

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Efeitos de uma modalidade de educação em saúde baseada na Teoria do Comportamento Planejado sobre o estilo de vida pós-operatório de pacientes com câncer cervical

 Di, C., & Wang, B. (2023). Efeitos de uma modalidade de educação em saúde baseada na teoria do comportamento planejado sobre o estilo de vida pós-operatório de pacientes com câncer cervical. Acta Paul Enferm, 36. http://dx.doi.org/10.37689/acta-ape/2023AO025232.

 

Resenhado por Luíza Ramos

 

O câncer cervical é uma neoplasia maligna cuja taxa de incidência vem aumentando a cada ano. Nas fases iniciais, é tratado principalmente com cirurgia, entretanto, esse procedimento pode alterar funções corporais, sendo capaz de impactar a qualidade de vida do paciente. Por isso, após o tratamento do câncer cervical deve haver educação em saúde para melhorar a conscientização sobre a doença e garantir um estilo de vida saudável. A educação baseada na Teoria do Comportamento Planejado (TCP) favorece a realização do controle comportamental percebido e a melhora nas atitudes positivas dos pacientes em relação a estilos de vida saudáveis de maneira científica, aprimorando as intenções comportamentais individuais. Assim, o objetivo deste estudo foi desenvolver uma modalidade de educação em saúde baseada na TCP e explorar sua influência no estilo de vida pós-operatório de pacientes com câncer cervical.

A amostra foi composta por 122 pacientes submetidos a essa cirurgia no Second People’s Hospital of Changzhou, divididos em quantidades iguais para dois grupos: Controle e Educação. Os pacientes do grupo Controle receberam educação de saúde de rotina após a cirurgia e os pacientes do grupo Educação receberam educação em saúde baseada na TCP após a cirurgia. Foi utilizado um questionário sociodemográfico e de saúde, além dos instrumentos Healthy Lifestyle Behavior Scale II, Functional Assessment Of Cancer Theraphy-Cervix e Distress Management Sreening Measure para mensurar estilo de vida, qualidade de vida e estresse, respectivamente, aplicados antes da cirurgia e reaplicados após três meses do procedimento. Após a operação, a adesão à medicação, a adesão à dieta e o tempo de alta foram registrados e comparados entre os dois grupos.

No grupo Educação, as pontuações de adesão à medicação e adesão à dieta foram maiores do que no grupo Controle e o tempo de alta foi mais precoce no grupo Educação. Após a cirurgia, as dimensões do estilo de vida (autorrealização, relacionamento interpessoal, nutrição, responsabilidade pela saúde) aumentaram significativamente no grupo Educação, bem como pontuações da qualidade de vida. Os achados sugerem que a educação fornecida pela equipe de saúde pode alcançar melhores resultados se baseada na TCP, de modo que o indivíduo seja preparado para aceitar os conhecimentos relacionados à sua condição, enfraquecendo normas subjetivas e melhorando o controle comportamental percebido.

            Por fim, estudos como este contribuem para a Psicologia da Saúde uma vez que traz elucidações a respeito de fatores psicológicos envolvidos no processo de adoecimento físico. Ademais, fornece ferramentas para que outros profissionais da saúde estejam mais preparados, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dessas pessoas

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Impacto da Doença de Alzheimer na qualidade de vida de pessoas idosas: Revisão de literatura

 

Rodrigues T. Q., Castro, A. S., Conceição, T. F., Leite, J. G. A. M., Ferreira, V. H. S., & Faustino, A. M. F. (2020). Impacto da Doença de Alzheimer na qualidade de vida de pessoas idosas: Revisão de literatura. Revista Eletrônica Acervo Saúde12(4), e2833. https://doi.org/10.25248/reas.e2833.2020


Resenhado por Millena Bahiano

 

A medida que a expectativa de vida se torna mais elevada observa-se um aumento da prevalência das demências, sendo a de maior ocorrência a Doença de Alzheimer (DA). O curso da doença pode variar entre 5 e 10 anos, além disto a expectativa de vida pode ser reduzida em até 50%. Ademais, as alterações físicas e psíquicas decorrentes da doença têm o potencial de gerar situações estressoras que podem afetar o relacionamento familiar da pessoa idosa. A perda da capacidade de reconhecer os familiares e a dependência total para as atividades básicas da vida cotidiana também são apresentados na literatura como uma das maiores dificuldades que os familiares apresentam nos cuidados dos idosos com Alzheimer.

O presente estudo foi uma revisão integrativa da literatura que teve o objetivo de analisar o impacto que a Doença de Alzheimer possuiu sobre a qualidade de vida do idoso. A pergunta norteadora da revisão foi “Quais são os impactos que a DA tem sobre a qualidade de vida da pessoa idosa?”. As bases de dados utilizadas foram Pubmed, Lilacs, BVS, BDENF (Base de dados de Enfermagem), Scielo e Google Acadêmico. Para a realização das buscas foram utilizados os seguintes descritores: idoso, qualidade de vida e doença de alzheimer. As buscas nas bases de dados, a partir destes descritores, foram realizadas em português, inglês ou espanhol, e contemplaram os anos entre 2008 e 2018. Ao todo foram encontrados 23 estudos primários e após o processo de exclusão dos artigos, que não eram específicos ao tema, restaram nove estudos que foram incluídos na revisão.

A partir dos resultados obtidos duas categorias foram elaboradas, sendo elas: 1) Aspectos fisiopatológicos e epidemiológicos da Doença de Alzheimer e 2) Qualidade de vida e sua relação com a família e o cuidador de idosos com Doença de Alzheimer. Na primeira categoria foi visto que a DA é a mais comum das demências que acometem a população idosa, e devido a fisiopatologia da doença foi possível observar uma redução expressiva da qualidade de vida desses indivíduos. Nesse cenário, a perda de memória tende a comprometer o vínculo social, afetivo e familiar desses idosos. As alterações cognitivas causadas pela doença também podem desencadear vários sentimentos, tanto no idoso quanto em seus cuidadores, a saber: sentimento de impotência, desamparo e fragilidade diante da situação.

Já na segunda categoria se viu que a maioria dos cuidadores não dispõem de informações e nem suporte para os cuidados destinados aos pacientes com DA, bem como não possuem conhecimentos acerca da doença e sua progressão. Tais fatores tendem a acarretar um acentuado desgaste físico e emocional nesses cuidadores, assim como a falta de informação também pode acentuar o quadro depressivo do idoso, reduzindo expressivamente sua qualidade de vida. A estimativa de depressão nos idosos com DA variam entre 5% a 23% e esses indivíduos apresentaram maior dificuldade na execução de atividades diárias, bem como maiores chances de apresentarem episódios de agitação, o que incide em maior também estresse ao cuidador.

Por fim, o presente estudo ressalta a importância da elaboração de políticas públicas voltadas aos portadores de demências, bem como a implantação de programas multiprofissionais para o atendimento das necessidades do doente e de seus familiares. Para a psicologia da saúde se faz importante o conhecimento dos agravos, inerentes ao processo de adoecimento por doenças neurodegenerativas, para que o atendimento psicológico realizado seja mais efetivo, objetivando a redução do sofrimento psicológico do idoso e de seus familiares.

sábado, 19 de agosto de 2023

Adaptação Acadêmica em Universitários

 

Monteiro, M. C. & Soares, A. B. (2023). Adaptação Acadêmica em Universitários. Psicologia: Ciência e Profissão, 23, 1-13. https://doi.org/10.1590/1982-3703003244065

 

Resenhado por Jéssica Dantas

A adaptação à universidade requer o ajustamento do estudante em várias dimensões, o que remete a um processo complexo e permeado de dificuldades. Essas dimensões estão agrupadas na literatura em cinco grandes áreas: pessoal, interpessoal, carreira, estudo e institucional. Tais dimensões são compostas por variáveis internas, que envolve aspectos pessoais e variáveis externas, que engloba aspectos ambientais. Diante dessa complexidade e dos possíveis impactos gerados na vida do indivíduo, faz-se necessário investigar um conjunto de variáveis que podem explicar e contribuir com possíveis ações de intervenção.

O presente estudo propõe um modelo teórico constituído pelas seguintes variáveis internas: automonitoria, autoeficácia acadêmica, coping, habilidades sociais e resolução de problemas sociais. Tais construtos enfatizam o enfrentamento de situações pessoais e interpessoais, a competência social do estudante para lidar com as situações relacionais do cotidiano acadêmico e as crenças na própria autossuficiênca para gerir os diferentes componentes curriculares. Essa proposta pode representar um complemento a outros modelos que destacam variáveis externas. Assim, parte-se da premissa de que diferentes recursos internos do aluno são mobilizados no processo de adaptação à universidade e que muitos estudantes ainda não os têm.

Diante do difícil manejo e da heterogeneidade que pode caracterizar a situação da adaptação acadêmica, a presente pesquisa objetivou investigar o impacto das variáveis habilidades sociais, resolução de problemas sociais, automonitoria, autoeficácia e coping na adaptação acadêmica em estudantes de instituições de ensino superior públicas e privadas. O estudo contou com uma amostra de conveniência constituída por 637 estudantes, sendo 315 de cinco IES públicas e 322 de cinco IES particulares do estado do Rio de Janeiro. Os dados foram coletados ao longo de 2018 tendo sido utilizados os seguintes instrumentos: Questionário Sociodemográfico, Inventário de Resolução de Problemas Sociais (IRPS), Inventário de Habilidades Sociais (IHS), Escala de Automonitoria (EA), Inventário de Estratégias de Coping (IEC) e Questionário de Vivências Acadêmicas-reduzido (QVA-r). Utilizou-se o software Mplus para realizar a Modelagem de Equações Estruturais (MEE) através de  Path Analysis e método de estimação Robust Maximum Likelihood.

Os resultados obtidos indicaram que a autoeficácia na gestão acadêmica (40,9%) e a autoafirmação na expressão de afeto positivo (13,7%) apresentaram maior impacto para os estudantes de instituições públicas e privadas. A diferença entre IES pública e privada deu-se nos fatores de autoeficácia na gestão acadêmica e autoeficácia na regulação da formação.

O modelo teórico testado mostrou o impacto das variáveis na adaptação acadêmica, com destaque para autoeficácia e habilidades sociais, bem como as diferenças para a amostra total e para os grupos de IES pública e privada. Trata-se de um tema importante para a Psicologia da Saúde por poder auxiliar no planejamento de diferentes formas de apoio institucional e/ou na implementação de ações que possibilitem fatores protetivos que favoreçam a permanência do estudante, a qualidade do aprendizado, assim como o bem-estar físico e mental desse público.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Impulsividade na acne escoriada

 

Resenhado por Brenda Fernanda Silva-Ferraz

 

Öğüt, Ç., & Öğüt, N. D. (2023). Impulsivity in patients with acne excoriee. Journal of Cosmetic Dermatology, 22, 1099-1104. https://doi.org/10.1111/jocd.15535

 

A impulsividade é a tendência para tomar decisões e agir de forma rápida, sem planejar adequadamente ou antecipar riscos, e tem sido identificada como sintoma característico de muitos transtornos mentais. Comportamentos impulsivos podem estar presentes em uma série de condições clínicas, a exemplo da acne. A acne vulgar é uma desordem da unidade pilossebácea, clinicamente caracterizada por comedões, pápulas, pústulas e nódulos. A acne escoriada (AE) é uma variante da acne e do transtorno de escoriação (TE), no qual os pacientes repetidamente cutucam, arranham e espremem as típicas lesões inflamatórias da acne. O comportamento não controlado de cutucar a pele resulta muitas vezes em úlceras e cicatrizes a longo termo. A questão de por que alguns pacientes com acne escoriam suas lesões, causando a acne escoriada, precisa ser respondida. Parece que os pacientes com AE preferem o alívio de curto prazo de cutucar/espremer a lesão ao invés de esperar pela melhora a longo prazo da lesão, sem cicatriz, o que sugere um comportamento impulsivo. O objetivo do presente estudo foi, portanto, avaliar a relação entre a AE e a impulsividade.

Participaram do estudo 30 pessoas com acne vulgar não escoriada (AE-) e 30 pessoas com acne escoriada (AE+). Os critérios de inclusão foram diagnóstico para acne vulgar ou acne escoriada e maioridade. Os critérios de exclusão foram transtornos mentais do eixo I (DSM-IV – ansiedade, depressão e outros). As medidas utilizadas foram: questionário sociodemográfico e clínico (incluindo duração, severidade e localização das lesões de acne), o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), o Inventário de Depressão de Beck (BDI), a Escala de Impulsividade de Barratt (BIS), e a Skin Picking Scale (SPS).

Não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos no que diz respeito a severidade, localização e duração da acne. O grupo AE+ apresentou escores mais elevados de cutucar a pele (skin picking) do que o grupo AE-. Os pacientes com AE+ também pontuaram mais alto na subescala de “não-planejamento” da BIS. Pontuações mais elevadas em skin picking correlacionaram-se positivamente a maior depressão e ansiedade, assim como ao não-planejamento.

Os achados indicam que pacientes que escoriam as lesões da acne pensam menos antecipadamente, ou seja, tendem a não planejar ações. Portanto, observou-se que a impulsividade parece estar associada ao comportamento de cutucar as lesões de acne. Identificar fatores de risco psicológicos e comportamentais diz respeito a um dos escopos de atuação da Psicologia da Saúde. A partir dessa identificação, podem-se pensar em intervenções direcionadas aos públicos mais vulneráveis.   

 

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Intervenções baseadas na Internet e em dispositivos móveis para o tratamento da fobia específica: Uma revisão sistemática e metanálise preliminar

 

Mor, S., Grimaldos, J., Tur, C., Miguel, C., Cuijpers, P., Botella, C., & Quero, S. (2021). Internet- and mobile-based interventions for the treatment of specific phobia: A systematic review and preliminary meta-analysis. Internet Interventions, 26, 100462. https://doi.org/10.1016/j.invent.2021.100462

 

Resenhado por Amanda Feitosa

 

A fobia específica é o subtipo mais prevalente dos transtornos de ansiedade e está associada a intenso sofrimento psicológico e uma variedade de problemas de saúde físicos. O seu tratamento usual é feito com a exposição ao vivo, contudo, há barreiras para a disseminação desta intervenção, como o alto custo e pouca acessibilidade que exige o deslocamento dos pacientes até o estímulo fóbico. Investiga-se atualmente o uso de intervenções baseadas na internet e em dispositivos móveis (IIDMs) como uma alternativa para aqueles que precisam de acompanhamento psicológico. Assim, este estudo objetivou realizar uma revisão sistemática com metanálise sobre IIDMs para o tratamento de fobias específicas.

Usou-se cinco bases de dados para a busca dos estudos publicados até 2020, sendo a PubMed, PsycINFO, Web of Science, SCOPUS e Cochrane. Os critérios de inclusão dos estudos foram ter uma amostra com o diagnóstico prévio de fobia específica, a intervenção ser focada neste diagnóstico, ser ofertada de forma virtual ou por dispositivos móveis e, por fim, ter a mensuração de níveis pré e pós tratamento. Usou-se as recomendações PRISMA para a seleção dos 819 estudos identificados inicialmente, sendo realizada por pesquisadores independentes.

A amostra final compôs nove estudos de ensaios clínicos randomizados ou estudos pré e pós intervenção. Assim como outros achados da literatura sustentam para o tratamento da fobia específica, a característica principal dessas intervenções foi a exposição. Esta foi realizada através de imagens, áudios e vídeos do estímulo fóbico. A metanálise evidenciou uma redução significativa dos níveis da fobia específica na etapa de pós-tratamento, o que também corrobora evidências sobre a eficácia desta modalidade de intervenção. Os achados derivam de diferentes populações, incluindo crianças, adolescentes e adultos. Contudo, recomenda-se cautela na extrapolação dos resultados devido à escassez de estudos incluídos, apesar de promissores.

Transtornos de ansiedade são comumente comórbidos a problemas de saúde físicos, sendo a Psicologia da Saúde a área responsável por pesquisar e propor intervenções que remetem a interface saúde mental e saúde física. Referente a fobia específica, esta pode estar presente como fator problemático em todos os níveis de atenção à saúde. Por exemplo, no nível primário as pessoas podem não adotar comportamentos de saúde a fim de evitarem um estímulo fóbico. Já no nível secundário pode haver o prejuízo no rastreio e monitoramento de doenças (ex. evitar exame de ressonância magnética), atingindo até os cuidados no nível terciário (ex. medo de sangue e injeção que lhe impede de realizar cirurgias importantes). Os potenciais benefícios das IIDMs demonstram a possibilidade de uma nova ferramenta que estes profissionais podem usar em sua prática em todos os níveis de saúde. Esta adição pode agilizar o tratamento de pessoas que, por serem incapacitadas por este transtorno ansioso, percebem prejuízos significativos em sua saúde física. Assim, é essencial que psicólogos da saúde conduzam mais pesquisas sobre os benefícios dessa nova modalidade de intervenção para a fobia específica, com o intuito que isto repercuta em maior adesão e aderência de comportamentos de saúde e tratamentos para doenças físicas.

 

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Alexitimia em pacientes com Esclerose Múltipla

 

Eboni, A. C. B., Cardoso, M., Dias, F. M., Gama, P. D., Gomes, S., Goncalves, M. V. M., Machado, S. C. N., Nóbrega, A. W. L., Parolin, M. F. K., Paz, S. C., Ruocco, H. H., Scorcine, C., Siquineli, F., Spessotto, C. V., Tauil, C. B., & Fragoso, Y. D. (2018). Altos índices de alexitimia foram observados em pacientes com esclerose múltipla. Dementia & Neuropsychologia12 (2), 212-215. https://doi.org/10.1590/1980-57642018dn12-020015

Resenhado por Thayslane Ribeiro-Almeida

A esclerose múltipla é uma doença neurodegenerativa, caracterizada pela deterioração da comunicação entre os neurônios e corpo. Os sintomas podem ser tanto de ordem física, como dor e comprometimento da locomoção, quanto de cunho psicopatológico. A sintomatologia dessa doença pode ser influenciada por aspectos psicológicos, a exemplo da alexitimia. Esse construto se refere dificuldade do indivíduo em caracterizar e identificar as emoções e outras experiências subjetivas, sendo por vezes associada a somatizações. Diante disso, o presente estudo teve por objetivo avaliar os níveis de alexitimia em pacientes com Esclerose Múltipla, os comparando com grupos controle. Ademais, aspectos clínicos, relacionados a alexitimia, também foram avaliados.

            A pesquisa contou com um grupo controle e outro formado por pacientes com Esclerose Múltipla remitente-recorrente, englobando 180 participantes cada um desses. Os indivíduos do grupo controle foram oriundos da população geral, sendo constituído por pessoas como acompanhantes de pacientes e amigos foram convidados. Para o grupo de pacientes com EM, foram chamados aqueles que frequentavam regularmente os serviços ambulatoriais nas instituições participantes da pesquisa. A coleta dos dados clínicos foi obtida por meio da Expander Disability Scale Score (EDSS), que mensura o comprometimento neurológico. Além disso, foram utilizadas a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS) e a Escala de Alexitimia de Toronto.

            A amostra foi constituída por 126 mulheres e 54 homens em cada grupo, com idade média de 37 anos. Os resultados apontaram que as pessoas com Esclerose Múltipla tiveram maiores níveis de sintomatologia ansiosa, depressiva e de alexitimia. Características como traços depressivos, ansiosos, menor escolaridade e maior grau de incapacidade mostraram influenciar a maior presença de alexitimia. Dessa maneira, percebe-se uma relação entre a capacidade de demonstrar emoções e sintomatologia. Além disso, as limitações e consequências da Esclerose Múltipla parecem impactar na saúde mental.           

Os autores também apontaram a complexidade dos traços psicopatológicos nas pessoas que vivem com Esclerose Múltipla. Dessa forma, é necessário ir além de alguns aspectos psicológicos já bastante abordados em relação a essa doença, a exemplo da depressão. Sobre a alexitimia, no artigo é discutido que nesse estado o balanço de citocinas pró-inflamatórias e anti-inflamatórias pode estar alterado, fazendo com que predomine um perfil pró-inflamatório. Portanto, tal condição pode influenciar desfechos negativos em saúde quando associado a presença de Esclerose Múltipla.

            É válido destacar que as doenças neurodegenerativas acarretam consequências que vão além da saúde física sendo essa, inclusive, impactada por aspectos mentais. A psicologia da saúde, diante desse contexto, estuda os aspectos psicológicos que se relacionam com as doenças físicas. Nesse sentido, estudos como esse são relevantes na medida em que podem auxiliar na descoberta de quais variáveis estão relacionadas a Esclerose Múltipla. A partir disso, podem ser construídas intervenções mais efetivas para esse grupo, promovendo melhor qualidade de vida e bem-estar tanto para o paciente como seu entorno.

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Autocuidado e Adoecimento em homens: Uma revisão integrativa nacional

 

Garcia, L. H. C., Cardoso, N. O., & Bernardi, C. M. C. N. (2019).  Autocuidado e adoecimento dos homens: Uma revisão integrativa nacional. Revista Psicologia e Saúde, 11(3), 19-33.  https://doi.org/10.20435/pssa.v11i3.933

Resenhado por Hugo Santana-Batista

 

O enfoque na importância do autocuidado com a saúde na população masculina costuma ser menos noticiado em relação a outros grupos, como crianças, mulheres e idosos. Diversos fatores culturais costumam colaborar na falha do desenvolvimento de políticas, já que muitos homens costumam acreditar que são invulneráveis. É importante evidenciar que o público masculino apresenta maior vulnerabilidade a doenças graves crônicas, principalmente pela negligência durante a juventude. Assim, programas como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) surgiram com a finalidade de compreender as especificidades de cada homem e todos os contextos que estão envolvidos.

O presente estudo teve como objetivo fazer uma revisão integrativa da literatura e verificar quais são os fatores culturais, emocionais e laborais relacionados ao processo de adoecimento e autocuidado dos homens brasileiros. O método de revisão consistiu na pesquisa por meio de coleta nas bases de dados eletrônicas Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scielo e PePSIC, utilizando os descritores “Men 's Health” e “Self Care”. Foram avaliados artigos em apenas no idioma português e não foram estabelecidas restrições de idade nem de tempo das publicações, buscando uma abrangência na literatura nacional. Os pesquisadores selecionaram nove estudos para compor os resultados.

Foi possível observar uma prevalência de artigos relacionados a homens de menos de 60 anos de idade ( n =6), o que pode indicar uma literatura voltada para a população masculina de 20 a 59 anos. Os estudos também se concentraram nas regiões Sul e Sudeste ( n =6), o que representa uma carência de estudos em outras áreas do país, já que cada comunidade terá sua singularidade e suas estratégias próprias de prevenção à saúde. Além disso, três categorias temáticas surgiram na pesquisa: Fatores culturais, sentimentos manifestados e valor do trabalho na vida dos homens.

Diante dos resultados, foi plausível inferir que a cultura de ser forte e viril remete ao pensamento de que o homem não pode adoecer e acaba não desenvolvendo o hábito de cuidado em saúde. A relação desse grupo com a saúde está intimamente atrelada às crenças de invulnerabilidade masculina. Os homens temem revelar que estão doentes e o artigo traz que tal fato é ainda mais acentuado quando são acometidos por doenças psiquiátricas. É importante pontuar que a questão laboral também foi mencionada no estudo, já que o trabalho costuma ser o motivo pelo qual os homens buscam os serviços de saúde, porém de forma tardia. Muitas vezes, esses pacientes estão mais preocupados com a mudança de rotina do que com suas possíveis condições clínicas.

Portanto, conclui-se que é necessária maior compreensão da sociedade no geral de que autocuidado em saúde não pode ser uma ação apenas do público feminino, já que a saúde da população masculina, atualmente, não ocorre de maneira preventiva. Do ponto de vista da psicologia da saúde, o artigo colabora com as pesquisas relacionadas à saúde do homem, trazendo a temática de crenças em saúde nesse público, além de possibilitar um maior entendimento de fatores que estão associados à falta de adesão a tratamentos por esse grupo.                  

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Qualidade de vida em adultos com esclerose múltipla: Uma revisão sistemática.

 

Gil-Gonzáles, I., Martín-Rodriguez, A., Conrad, R., & Pérez-San-Gregório, M. A. (2020). Quality of life in adults with multiple sclerosis: A systematic review. BMJ Open, 10(11). https://doi.org/https://doi-org.ez20.periodicos.capes.gov.br/10.1136%2Fbmjopen-2020-041249

 

Resenhado por Gessica Leal

 

 

A esclerose múltipla (EM) é uma doença neurodegenerativa, caracterizada pela deterioração da bainha de mielina, comprometendo o sistema nervoso central. Pacientes com essa doença enfrentam um prognóstico imprevisível e vivenciam diferentes sintomas que prejudicam o funcionamento da vida diária, a exemplo de problemas na coordenação motora, dificuldades visuais e distúrbios sensoriais. Além disso, pessoas acometidas pela EM tendem a relatar qualidade de vida mais baixa do que a população em geral, o que leva a necessidade de identificar os fatores de risco e proteção associados à qualidade de vida nesse público.

Nessa perspectiva, foi realizada uma revisão sistemática com o objetivo de fornecer uma visão ampla sobre os fatores de risco e proteção clínicos, sociodemográficos e psicossociais para a qualidade de vida em adultos com EM. Além disso, buscou-se analisar as intervenções psicológicas para melhorar a qualidade de vida nesses pacientes. A pesquisa bibliográfica foi realizada nas bases de dados Scopus, Web of Science e ProQuest, ocorreu entre fevereiro e março de 2019 e foi limitada a artigos escritos em inglês e publicados de 1º de janeiro de 2014 a 31 de janeiro de 2019. Os critérios de inclusão foram: 1) Estudos focados principalmente nos determinantes da qualidade de vida e intervenções psicológicas para melhorá-la; 2) Participantes dos estudos maiores de 18 anos, com diagnóstico confirmado de EM. Ao final, foram selecionados 106 estudos.

Em relação aos fatores de risco, destacaram-se: o número e a gravidade dos sintomas, EM do tipo progressiva, disfunções sensoriais e motoras, além da presença de dor e fadiga. Sintomas depressivos, ansiedade, estresse percebido, desemprego e baixo nível socioeconômico também foram associados à menor qualidade de vida. Por outro lado, os principais fatores protetivos identificados entre os estudos, foram: aceitação da doença, resiliência, níveis elevados de autoestima e autoeficácia, estratégias de enfrentamento focadas no problema, presença de suporte social e experiência positiva com o tratamento. Quanto às intervenções, as terapias baseadas em mindfulness, a terapia cognitiva comportamental e estratégias de apoio em grupo demonstram uma melhora na qualidade de vida, dentre os estudos analisados.

Por meio desta revisão, foi possível identificar diversos fatores de risco e proteção clínicos, psicológicos e sociodemográficos que interferem na qualidade de vida dos pacientes com esclerose múltipla. Sua principal limitação foi a impossibilidade de realizar uma síntese quantitativa dos resultados, devido à heterogeneidade de metodologias e desenhos nos artigos incluídos. Apesar disso, os achados desta revisão são relevantes para Psicologia da Saúde, pois os fatores protetivos, a exemplo da autoestima e da autoeficácia, podem ser incluídos como alvos das intervenções psicológicas que busquem aumentar a qualidade de vida dos pacientes com esclerose múltipla.

 

 

 

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Intolerância à incerteza e saúde mental no Brasil durante a pandemia da Covid-19

Ferreira, D. C. S., Oliveira, W. L., Delabrida, Z. N. C., Faro, A., & Santos, E. C. (2020). Intolerancia à incerteza e saúde mental no Brasil durante a pandemia de Covid-19. Suma Psicológica, 27(1), 62-69. https://doi.org/10.14349/sumapsi.2020.v27.n1.8

                                                                                                          Resenhado Por José Wilton

A intolerância a incerteza é definida como a tendência do indivíduo em considerar que um evento negativo seja inaceitável, independente da sua ocorrência. Durante a pandemia da Covid-19 foi possível observar que as características geográficas, socioeconômicas, bem como as medidas adotadas podem ter contribuído com este sentimento de incerteza na população. Portanto, o objetivo deste estudo foi averiguar a relação entre intolerância à incerteza e transtornos mentais comuns.

A pesquisa avaliou 924 participantes de ambos os sexos, com idade entre 18 a 72 anos, e a média de 36,8 anos de idade [desvio padrão (DP)=11,70]. Todos eram residentes no estado de Sergipe. A amostra apresentou que 95,5% (n=885) relataram ter ensino superior incompleto e 4,5% (n=42) ensino médio completo ou incompleto. Foram utilizados três instrumentos, o primeiro foi um questionário sociodemográfico, o segundo a escala de incerteza de intolerância reduzida (IUS-12), juntamente à escala de depressão, ansiedade e estresse – forma reduzida (DASS-21). Os dados foram analisados pelo Software SPPS (v.24) para estatísticas descritivas (média, desvio padrão e frequências absolutas) e inferenciais (regressões logísticas, binominal e multinomial).

Os resultados apresentados mostraram que estresse e ansiedade foram três vezes maiores em mulheres, fatores como diferenças fisiológicas e econômicas podem estar associadas a este aumento. A pesquisa também revelou que houve uma associação entre os escores de intolerância à incerteza e a escala (DASS-21), bem como que os participantes acima do terceiro tercil na subescala de ansiedade (IUS-12) apresentaram à possibilidade de exibir uma probabilidade duas vezes maior de obter pontuações superiores à média no estresse. A ansiedade inibitória foi significativamente relacionada com todas as três subescalas da (DASS-21), os participantes tiveram até 10 vezes mais chances de manifestar escores medianos de estresse, ansiedade e depressão. Vale destacar que a ansiedade prospectiva é uma vontade de antever a capacidade de eventos futuros, motivada pela preocupação ansiosa em relação à incerteza. Esta sensação resulta em estratégias como buscar mais informações para diminuir tal impressão, e parece estar ligado a preocupação e transtornos obsessivos compulsivos.

Por fim, a pesquisa demonstrou um estudo que a intolerância à incerteza tem papel fundamental na saúde mental. As evidências sugerem que à incerteza pode ser considerada um fator de diagnóstico relacionados a depressão, ansiedade e estresse. Assim, é importante a atuação da psicologia da saúde, visto que os achados demonstram resultados que parecem ter afetado significativamente a saúde mental da população em meio a pandemia da Covid-19. Tal contribuição pode ajudar a desenvolver medidas preventivas que auxiliem em futuras crises de saúde emergencial e proporcione mais qualidade de vida ao público.

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Agravamento do sintoma depressão em pacientes com doença de Parkinson na pandemia da COVID-19: Uma revisão sistemática

 

de Alcântara Ventura, S., Miranda, I. P., & Santos, R. M. S. (2022). Agravamento do sintoma depressão em pacientes com doença de Parkinson na pandemia da COVID-19: Uma revisão sistemática. Revista Eletrônica Acervo Saúde15(12), 1-13. https://doi.org/10.25248/REAS.e11340.2022

 

Resenhado por Maria Heloísa

A Doença de Parkinson (DP) é uma condição neurodegenerativa que inclui sintomas como tremores, instabilidade postural, distúrbios neuropsiquiátricos, do sono e da dor. A depressão é o transtorno mais comum em pacientes com este diagnóstico, sendo caracterizada pela tristeza, falta de interesse ou prazer, redução na autoestima e problemas na alimentação e no sono. A pandemia da Covid-19 foi um evento que afetou a saúde física e mental da população, devido às restrições sociais demandadas. Pessoas com DP foram impactados de modo particular, já que os sintomas da doença, sobretudo a depressão, podem ter sido acentuados. Logo, o objetivo do estudo foi realizar uma revisão da literatura sobre as alterações na sintomatologia depressiva durante o cenário pandêmico em pacientes com DP.

A revisão sistemática foi feita em agosto de 2021 em conformidade com as diretrizes do protocolo PRISMA. Foram usados os descritores: "Parkinson's disease", "Covid-19" e "depression", com o operador boleano "AND". As bases de dados pesquisadas foram a PubMed, PsycINFO e Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Além disso, o critério de inclusão aplicado foi estar escrito na língua inglesa, ter pacientes com diagnóstico confirmado de DP como público de pesquisa, utilizar medidas objetivas para identificação dos sintomas depressivos e ter sido realizado durante a pandemia. Após a triagem feita por pares e leitura dos textos completos foram incluídos 10 estudos na revisão.

No total, 3074 pessoas participaram dos estudos selecionados, sendo que 50,9% eram mulheres, com idade entre 55 e 72 anos. Mais da metade dos estudos eram transversais (n = 6). Metade das pesquisas foi feita no continente asiático (n = 5), outros foram realizados na Europa (n = 3), África (n = 1) e na América do Norte (n = 1). Dentre os sintomas motores, foi identificado que o contexto pandêmico implicou no agravamento do tremor, da discinesia e congelamento de marcha, rigidez, de dificuldades de marcha, instabilidade postural, lentidão, problemas de fala, bradicinesia e problemas de equilíbrio.

O rastreio da sintomatologia depressiva foi feito por meio da Escala Hospitalar de Ansiedade Depressão (HADS) em cinco estudos. Outras escalas também foram utilizadas: o Inventário de Depressão de Beck (BDI) (n = 1), a Escala de Depressão Ansiedade e Estresse - 21 (DASS-21) (n = 1) e o Questionário de Saúde do Paciente de 9 itens (PHQ-9) (n = 1). Os estudos restantes (n = 2) utilizaram uma entrevista semi-estruturada e dados autorrelatados no Patient Reportes Outcomes Disease (PRO-PD). Foi identificado que o a pandemia implicou no agravamento de sintomas motores, a exemplo de tremores, instabilidade postural e problemas de fala. Com relação aos sintomas não motores, o aumento dos níveis de ansiedade, de problemas do sono, estresse, fadiga e alucinações foram os sintomas mais comuns. Se tratando especificamente da depressão, pessoas com DP tiveram agravamento dos sintomas desse transtorno em mais da metade dos estudos (n = 6). O estresse relacionado a Covid-19, a redução das atividades físicas, a angústia e as preocupações com a DP devido a pandemia, a solidão e os distúrbios do sono foram os principais fatores de risco para a sintomatologia depressiva.

Conclui-se que a depressão é um sintoma que demanda cuidados em pacientes com a Doença de Parkinson e que, em cenários adversos como a pandemia, essa preocupação se tornou ainda mais acentuada. O estudo é importante para a Psicologia da Saúde, visto que contribui para a compreensão sobre os impactos na saúde mental de pacientes com DP durante o cenário de crise. Em especial, é observada o papel do estresse, variável importante para essa área da ciência psicológica, como consequência desse cenário e como fator de risco para a depressão.

domingo, 6 de agosto de 2023

Preditores de sofrimento emocional em pessoas com esclerose múltipla

 

Fisher, P. L., Salmon, P., Heffer-Rahn, P., Huntley, C., Reilly, J., & Cherry, M. G. (2020). Predictors of emotional distress in people with multiple sclerosis: A systematic review of prospective studies. Journal of Affective Disorders, 276, 752–764. https://doi.org/10.1016/j.jad.2020.07.073

 

Resenhado por Luiz Fernando de Andrade Melo

 

A esclerose múltipla é uma doença neurodegenerativa que afeta aproximadamente 2,5 milhões de pessoas em todo o planeta. O sofrimento emocional é comumente experimentado entre pessoas com esclerose múltipla sob a forma de depressão, ansiedade, sintomas de trauma ou afetos negativos. Tal sofrimento está associado com maior uso dos serviços de saúde, aumento da fadiga e prejuízo nas interações sociais dos indivíduos. Existem intervenções psicológicas nesse sentido, mas que seus efeitos são baixos e limitados. Com isso, este estudo teve como objetivo identificar fatores relacionados ao sofrimento emocional em pessoas com esclerose múltipla a fim de descobrir processos psicológicos modificáveis para intervenções mais eficazes.

Trata-se de uma revisão sistemática sob o protocolo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses – PRISMA. Foram pesquisados estudos nas bases Medline, CINAHL Plus e PsychINFO. A partir dos critérios de exclusão, foram analisadas 17 pesquisas. A faixa de idade dos participantes nos estudos desta revisão ficou entre 35,9 e 58,3 anos, sendo a maioria mulheres. O tempo médio de diagnóstico da esclerose múltipla entre os indivíduos variou de 4,7 a 19,8 anos. Doze estudos avaliaram a depressão, três a ansiedade, três o sofrimento emocional global e um o sofrimento a partir da esclerose múltipla.

Os níveis basais de sofrimento emocional e as variáveis de enfrentamento do estresse foram as variáveis mais avaliadas e previram consistentemente o sofrimento emocional subsequente. Os achados estão de acordo com a literatura que apontam que o sofrimento emocional é resultado das avaliações cognitivas da doença, das estratégias utilizadas para lidar com ela e seus recursos. Outro ponto encontrado é que a relação entre os fatores socioeconômico e o sofrimento pode ter uma função mediadora de fatores cognitivos ligado ao estresse decorrente da esclerose multiplica.

Ainda assim, uma gama de outras variáveis não são consideradas na maioria dos estudos encontrados e há uma confiança limitada nas suas pesquisas. Há vários modelos psicológicos que precisam ser testados para avaliar o papel de outras variáveis envolvidas para que se entenda por que algumas pessoas lidam melhor com os desafios da doença. Isso significa, portanto, que os resultados encontrados ressaltam a importância de desenvolver uma melhor compreensão dos fatores psicológicos que mantêm o sofrimento emocional em pessoas com esclerose múltipla.

Os achados desta revisão salientam que os níveis basais de sofrimento emocional e as variáveis de enfrentamento do estresse como as variáveis que predizem o sofrimento emocional ligado à esclerose múltipla. Tais aspectos se ligam com o que é encontrado na literatura, mas esta indica a necessidade de novos estudos para entendimento mais amplo de tais variáveis nesse contexto. Tanto esta revisão quanto pesquisas futuras podem contribuir à Psicologia da Saúde no sentido de direcionar melhores intervenções psicológicas para pessoas com esclerose múltipla para lidar com seus desafios. Assim, esse aspecto é relevante para a aplicação e criação de intervenções mais eficazes nas variáveis que são preditivas de tal sofrimento.