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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

A associação de personalidade, avaliação, catastrofização e vigilância com ansiedade específica de sintomas gastrointestinais

 

 

McKinnon, A. C., Van Oudenhove, L., Tack, J., & Jones, M. (2015). The association of personality, appraisal, catastrophising and vigilance with gastrointestinal symptom-specific anxiety. Journal of Health Psychology, 20(4), 456-465. doi: 10.1177/1359105313503027.

Resenhado por Luanna Silva

 

Os distúrbios gastrointestinais funcionais são caracterizados por sintomas gastrointestinais persistentes na ausência de qualquer anormalidade fisiológica. A síndrome do intestino irritável (SII) e a dispepsia funcional (DF) estão entre os distúrbios gastrointestinais funcionais mais comuns. Essas condições são debilitantes e tendem a causar danos severos aos pacientes, comprometendo diversos domínios da vida, reduzindo a percepção individual de controle e prejudicando a qualidade de vida.

Devido à falta de etiologia orgânica, a explicação para essas doenças adota uma perspectiva biopsicossocial, que levanta a hipótese de que o início e a perpetuação dessas condições são o resultado da complexa interação de fatores psicológicos, biológicos e sociais. Essa abordagem integrativa reconhece que a progressão, gravidade e desfecho dos distúrbios gastrointestinais funcionais são fortemente influenciados por uma série de fatores psicológicos.

Ansiedade específica de sintomas gastrointestinais foi identificada como um fator central que contribui para várias doenças gastrointestinais, com pesquisas sugerindo que pode ser o preditor mais forte do diagnóstico de SII . Outra variável relevante é o neuroticismo. Esse traço de personalidade tem sido identificado como um fator que predispõe indivíduos a experimentar ansiedade de modo mais intenso, além de estar associado a cognições disfuncionais importantes relacionadas ao modo como as pessoas experenciam a dor. Quanto a isso, observa-se que, especialmente a hipervigilância e catastrofização da dor, são relevantes para os distúrbios gastrointestinais funcionais, sendo associadas a perpetuação dos sintomas. Por fim, considera-se que a avaliação que as pessoas fazem dos eventos pode desempenhar um papel importante na compreensão desses distúrbios. Estilos de avaliação positiva podem servir como fatores de proteção, reduzindo as chances de engajamento em cognições disfuncionais.

Este estudo objetivou investigar a relação entre fatores psicossociais e a sintomatologia do distúrbio gastrointestinal funcional, a partir do teste de um modelo explicativo. Participaram 233 indivíduos, recrutados de modo online. Os instrumentos aplicados avaliaram personalidade, cognições disfuncionais e ansiedade gastrointestinal. O questionário Rome III foi adotado para identificação de participantes com SII e DF.

Os resultados sugerem que aqueles com alto nível de neuroticismo são mais propensos a se envolver em avaliações negativas, o que, por sua vez, pode levar a maior catastrofização e vigilância. Como desfecho, observa-se aumento da ansiedade gastrointestinal que tem efeito direto nos sintomas de SII e DF. Um achado inesperado e novo foi que os escores a escala de ansiedade gastrointestinal se correlacionaram mais com os itens que avaliavam DF do que com os de SII. A identificação das variáveis psicológicas envolvidas nos distúrbios gastrointestinais funcionais tem consequências para a seleção de intervenções terapêuticas, pois ao definir o que contribui para os desfechos indesejáveis é possível formular estratégias mais focais. Com base em achados como este, psicólogos da saúde podem contribuir com maior efetividade para o ajustamento psicológico de pacientes diagnosticados com SII e DF.

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Ribeiro, E. G., de Souza, E. L., de Oliveira Nogueira, J., & Eler, R. (2020). Saúde mental na perspectiva do enfrentamento à COVID-19: Manejo das consequências relacionadas ao isolamento social. Revista Enfermagem e Saúde Coletiva-REVESC, 5(1), 47-57. Resenhado por José Wilton O isolamento social é uma medida protetiva criada durante a pandemia da Covid-19, com o intuito de achatar a curva de contágio. Segundo o estudo, o ser humano necessita de interação social para o seu desenvolvimento, porém, com a chegada da pandemia, essas interações sofreram mudanças e ocasionaram consequências na saúde mental da população. A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu saúde mental quando o indivíduo se encontra em um estado de bem-estar atrelado a ser produtivo e contribuir com a população, manejar o estresse ocasionado pela rotina e sabe conduzir suas habilidades. Assim, a promoção de saúde mental em período de pandemia é importante, visto que as mudanças sociais impostas como isolamento social podem promover transtornos psicológicos. O objetivo deste estudo foi unir informações acerca do impacto da Covid-19 no mundo, além de expor técnicas e manejos que possam contribuir para a promoção de saúde mental durante o período de isolamento ocasionado pela Covid-19. O estudo apresentou uma revisão sistemática com base em livros e revistas científicas online na área da psicologia. Foram utilizadas as bases de dados Google Acadêmico, SciELO, repositórios de universidades brasileiras, bem como dados nacionais e mundiais retirados da OMS, Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e Ministério da Saúde (MS). Dentre os resultados, viu-se que o isolamento social desencadeou na população sentimentos de angústia, solidão e tristeza. Ademais, foi fator negativo na reestruturação psicológica do indivíduo e redutor da qualidade de vida e bem-estar, bem como potencializador de sintomas ansiosos e depressivos. Além destas consequências, com a substituição da interação social física devido ao isolamento social a população se adequou as novas modalidades de comunicação. Ocorreu, também, aumento significativo no uso de tecnologias, visto que a tecnologia pode interferir no comportamento e nas formas de pensar sendo também preditor de problemas de saúde física e mental. Outro aspecto é que algumas técnicas foram elaboradas com o intuito de amenizar a situação, evitar bombardeio de informações acerca da Covid-19, a saber ler e ouvir músicas, organizar a rotina e praticar exercícios físicos. Por fim, a revisão sistemática propôs a utilização de algumas estratégias de enfrentamento que podem ajudar a lidar com os transtornos desencadeados pelo isolamento social. As técnicas indicadas pela revisão, como meditar, estabelecer uma rotina, praticar exercícios físicos e evitar excesso de informações acerca da Covid-19, foram adaptadas para serem realizadas dentro das residências, para que as pessoas tivessem que evitar saídas frequentes e possíveis contágios por conta do novo coronavírus. Com isso, os métodos mencionados podem vir a promover melhoras na saúde mental da população durante o período de afastamento, bem como promover conhecimento para profissionais da saúde mental como psicólogos e psiquiatras. Por fim, os dados do estudo reforçaram a importância da atuação da psicologia da saúde em momentos nocivos semelhantes à pandemia, visto que eventos como esse tem impacto na saúde mental da população e, consequentemente, pode aumentar as chances do indivíduo desenvolver algum transtorno mental comum.

 

Ribeiro, E. G., de Souza, E. L., de Oliveira Nogueira, J., & Eler, R. (2020). Saúde mental na perspectiva do enfrentamento à COVID-19: Manejo das consequências relacionadas ao isolamento social. Revista Enfermagem e Saúde Coletiva-REVESC5(1), 47-57.

                                                                                                                             Resenhado por José Wilton

 

 O isolamento social é uma medida protetiva criada durante a pandemia da Covid-19, com o intuito de achatar a curva de contágio. Segundo o estudo, o ser humano necessita de interação social para o seu desenvolvimento, porém, com a chegada da pandemia, essas interações sofreram mudanças e ocasionaram consequências na saúde mental da população. A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu saúde mental quando o indivíduo se encontra em um estado de bem-estar atrelado a ser produtivo e contribuir com a população, manejar o estresse ocasionado pela rotina e sabe conduzir suas habilidades. Assim, a promoção de saúde mental em período de pandemia é importante, visto que as mudanças sociais impostas como isolamento social podem promover transtornos psicológicos.

O objetivo deste estudo foi unir informações acerca do impacto da Covid-19 no mundo, além de expor técnicas e manejos que possam contribuir para a promoção de saúde mental durante o período de isolamento ocasionado pela Covid-19. O estudo apresentou uma revisão sistemática com base em livros e revistas científicas online na área da psicologia. Foram utilizadas as bases de dados Google Acadêmico, SciELO, repositórios de universidades brasileiras, bem como dados nacionais e mundiais retirados da OMS, Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e Ministério da Saúde (MS).

Dentre os resultados, viu-se que o isolamento social desencadeou na população sentimentos de angústia, solidão e tristeza. Ademais, foi fator negativo na reestruturação psicológica do indivíduo e redutor da qualidade de vida e bem-estar, bem como potencializador de sintomas ansiosos e depressivos. Além destas consequências, com a substituição da interação social física devido ao isolamento social a população se adequou as novas modalidades de comunicação. Ocorreu, também, aumento significativo no uso de tecnologias, visto que a tecnologia pode interferir no comportamento e nas formas de pensar sendo também preditor de problemas de saúde física e mental. Outro aspecto é que algumas técnicas foram elaboradas com o intuito de amenizar a situação, evitar bombardeio de informações acerca da Covid-19, a saber ler e ouvir músicas, organizar a rotina e praticar exercícios físicos.

            Por fim, a revisão sistemática propôs a utilização de algumas estratégias de enfrentamento que podem ajudar a lidar com os transtornos desencadeados pelo isolamento social. As técnicas indicadas pela revisão, como meditar, estabelecer uma rotina, praticar exercícios físicos e evitar excesso de informações acerca da Covid-19, foram adaptadas para serem realizadas dentro das residências, para que as pessoas tivessem que evitar saídas frequentes e possíveis contágios por conta do novo coronavírus. Com isso, os métodos mencionados podem vir a promover melhoras na saúde mental da população durante o período de afastamento, bem como promover conhecimento para profissionais da saúde mental como psicólogos e psiquiatras. Por fim, os dados do estudo reforçaram a importância da atuação da psicologia da saúde em momentos nocivos semelhantes à pandemia, visto que eventos como esse tem impacto na saúde mental da população e, consequentemente, pode aumentar as chances do indivíduo desenvolver algum transtorno mental comum.     

Saúde mental na perspectiva do enfrentamento à Covid-19: Manejo das consequências relacionadas ao isolamento social

 

Ribeiro, E. G., de Souza, E. L., de Oliveira Nogueira, J., & Eler, R. (2020). Saúde mental na perspectiva do enfrentamento à COVID-19: Manejo das consequências relacionadas ao isolamento social. Revista Enfermagem e Saúde Coletiva-REVESC5(1), 47-57.

                                                                                                                             Resenhado por José Wilton

 

 O isolamento social é uma medida protetiva criada durante a pandemia da Covid-19, com o intuito de achatar a curva de contágio. Segundo o estudo, o ser humano necessita de interação social para o seu desenvolvimento, porém, com a chegada da pandemia, essas interações sofreram mudanças e ocasionaram consequências na saúde mental da população. A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu saúde mental quando o indivíduo se encontra em um estado de bem-estar atrelado a ser produtivo e contribuir com a população, manejar o estresse ocasionado pela rotina e sabe conduzir suas habilidades. Assim, a promoção de saúde mental em período de pandemia é importante, visto que as mudanças sociais impostas como isolamento social podem promover transtornos psicológicos.

O objetivo deste estudo foi unir informações acerca do impacto da Covid-19 no mundo, além de expor técnicas e manejos que possam contribuir para a promoção de saúde mental durante o período de isolamento ocasionado pela Covid-19. O estudo apresentou uma revisão sistemática com base em livros e revistas científicas online na área da psicologia. Foram utilizadas as bases de dados Google Acadêmico, SciELO, repositórios de universidades brasileiras, bem como dados nacionais e mundiais retirados da OMS, Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e Ministério da Saúde (MS).

Dentre os resultados, viu-se que o isolamento social desencadeou na população sentimentos de angústia, solidão e tristeza. Ademais, foi fator negativo na reestruturação psicológica do indivíduo e redutor da qualidade de vida e bem-estar, bem como potencializador de sintomas ansiosos e depressivos. Além destas consequências, com a substituição da interação social física devido ao isolamento social a população se adequou as novas modalidades de comunicação. Ocorreu, também, aumento significativo no uso de tecnologias, visto que a tecnologia pode interferir no comportamento e nas formas de pensar sendo também preditor de problemas de saúde física e mental. Outro aspecto é que algumas técnicas foram elaboradas com o intuito de amenizar a situação, evitar bombardeio de informações acerca da Covid-19, a saber ler e ouvir músicas, organizar a rotina e praticar exercícios físicos.

            Por fim, a revisão sistemática propôs a utilização de algumas estratégias de enfrentamento que podem ajudar a lidar com os transtornos desencadeados pelo isolamento social. As técnicas indicadas pela revisão, como meditar, estabelecer uma rotina, praticar exercícios físicos e evitar excesso de informações acerca da Covid-19, foram adaptadas para serem realizadas dentro das residências, para que as pessoas tivessem que evitar saídas frequentes e possíveis contágios por conta do novo coronavírus. Com isso, os métodos mencionados podem vir a promover melhoras na saúde mental da população durante o período de afastamento, bem como promover conhecimento para profissionais da saúde mental como psicólogos e psiquiatras. Por fim, os dados do estudo reforçaram a importância da atuação da psicologia da saúde em momentos nocivos semelhantes à pandemia, visto que eventos como esse tem impacto na saúde mental da população e, consequentemente, pode aumentar as chances do indivíduo desenvolver algum transtorno mental comum.   

  

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

A comorbidade de transtornos mentais e físicos com dor crônica autoreferida nas costas ou no pescoço: resultados da Pesquisa de Saúde Mental na China

 

Xu, Y., Wang, Y., Chen, J., He, Y., Zeng, Q., Huang, Y., Xu, X., Lu, J., Wang, Z., Sun, X., Chen, J., Yan, F., Li, T., Guo, W., Xu, G., Tian, H., Xu, X., Ma, Y., Wang, L., … Li, G. (2020). The comorbidity of mental and physical disorders with self-reported chronic back or neck pain: Results from the China Mental Health Survey. Journal of Affective Disorders, 260, 334–341. https://doi.org/10.1016/j.jad.2019.08.089

 

Resenhado por Matheus Macena

A dor crônica é uma das doenças crônicas mais comuns, com a dor nas costas e no pescoço entre as condições de dor crônica mais prevalentes. Três estudos na China relataram altas taxas de prevalência de dor crônica nas costas e no pescoço em pacientes com dor crônica. O primeiro estudo, realizado em Xangai, constatou que a prevalência ao longo da vida de dor crônica no pescoço entre pacientes ambulatoriais com condições de dor crônica foi de 42,9%. O segundo, realizado em Pequim, apontou a região lombar (47,23%) e o pescoço (29,92%) como os dois locais mais comuns de dor crônica. O terceiro estudo, realizado na província de Anhui, constatou que a prevalência pontual de dor crônica nas costas ou no pescoço entre pacientes ambulatoriais com condições de dor foi de 59,8%. Além disso, sabe-se que problemas crônicos nas costas e no pescoço são mais comuns entre mulheres, idosos, obesos e trabalhadores de escritório. A literatura aponta para associações das condições de dores crônicas nas costas e no pescoço com outras condições crônicas de dor, outras doenças físicas e transtornos mentais. Por exemplo, existem pessoas mais propensas a dores de cabeças e transtornos mentais (transtornos do humor, transtornos de ansiedade, abuso/dependência de álcool) devido a dores nos pescoços ou nas costas. Essas comorbidades de saúde mental em pacientes com dores crônicas nas costas ou no pescoço levam a uma qualidade de vida inferior e níveis mais elevados de incapacidade.

Neste artigo, foram utilizados dados da China Mental Health Survey (CMHS), que é a primeira pesquisa epidemiológica em larga escala de transtornos mentais conduzida na China. Os dados analisados exploraram a associação entre dores crônicas nas costas ou no pescoço e outras condições crônicas de dor, condições físicas crônicas e transtornos mentais. Os objetivos foram três: (1) estimar a prevalência de dores crônicas nas costas ou no pescoço em adultos chineses nos últimos 12 meses e ao longo da vida, (2) estabelecer a prevalência e probabilidade de transtornos físicos ou mentais comórbidos entre pessoas com dores crônicas nas costas ou no pescoço, e (3) avaliar o nível de incapacidade associado às dores crônicas nas costas ou no pescoço.

Na amostra estudada, a prevalência de dor crônica nas costas ou no pescoço nos últimos 12 meses foi de 10,8%. A maioria dos respondentes com dor crônica nas costas ou no pescoço (71,2%) relatou pelo menos uma outra condição comórbida, incluindo outras condições de dor crônica (53,4%), condições físicas crônicas (37,9%) e transtornos mentais (23,9%). Foi encontrado, por regressão logística, que transtornos de humor (OR = 3,7, IC 95%: 2,8-4,8) mostraram uma associação mais forte com dor crônica nas costas ou no pescoço do que transtornos de ansiedade e transtornos relacionados a substâncias. As dores crônicas e as condições físicas mais comuns estavam significativamente associadas à dor crônica nas costas ou no pescoço. Comorbidades físicas e mentais explicaram 0,7% da associação entre dor crônica nas costas ou no pescoço e incapacidade.

A dor crônica nas costas ou no pescoço e a comorbidade físico-mental são comuns, ao passo em que a dor crônica nessas regiões pode aumentar a probabilidade de outras doenças físicas e mentais. Esses achados são relevantes para a psicologia da saúde, pois um entendimento aprofundado dessas condições de saúde tende a aprimorar as habilidades diagnósticas e o gerenciamento dos problemas de saúde comórbidos, tanto para tratamentos clínicos, quanto para a educação pública em saúde.

 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Fatores de personalidade e sintomatologia depressiva de pacientes com fibromialgia

 

Resenhado por Brenda Fernanda Silva-Ferraz

 

Martel, K. J. O., Zanin, S. C. G., Ferreira, V. R. T., Pisoni, K. Z. B., & Tabaczinski, C. (2022). Fatores de personalidade e sintomatologia depressiva de pacientes com fibromialgia. Aletheia, 55, 45-60. https://doi.org/10.29327/226091

 

A fibromialgia (FM) é uma doença que possui origem pouco esclarecida, e envolve dor musculoesquelética crônica, dor generalizada, problemas relacionados ao sono, dentre outros, sendo comumente confundida com outras patologias de ordem reumática. A dor presente na FM envolve uma experiência desconfortável, ocasionado incapacidade funcional e limitando o indivíduo nas tarefas diárias e laborais. A dor crônica aumenta o risco de comorbidades psiquiátricas, a exemplo do transtorno depressivo maior, frequente em pacientes com FM. Alguns estudos têm tentado identificar a relação entre os traços da personalidade, especialmente aspectos relacionados ao Neuroticismo, com sintomas clínicos da FM e sintomas depressivos. Deste modo, o presente estudo objetivou investigar a sintomatologia depressiva em pacientes com FM, bem como associar tais sintomas aos traços de personalidade.

Participaram do estudo 20 indivíduos de 32 a 62 anos (M = 48,15; DP = 8,22), com diagnóstico de FM, em tratamento em um hospital do Rio Grande do sul. Utilizaram-se como instrumentos o Inventário de Depressão Beck (BDI-II) e a Bateria Fatorial de Personalidade (BFP). Os resultados indicaram sintomatologia moderada de ansiedade nos participantes, bem como classificação alta no fator Neuroticismo e nas facetas Vulnerabilidade e Depressão na escala de personalidade.

Os achados sugerem que que pacientes com fibromialgia se mostram em sofrimento psicológico, com possível dificuldades na tomada de iniciativa, na abertura a novas experiências e na automotivação. Pessoas com FM relatam com maior intensidade os eventos negativos, estando predispostos a apresentarem sintomas de depressão e ansiedade, além disso, são emocionalmente mais vulneráveis. Conclui-se, portanto, sobre a importância de que características individuais que possam funcionar como fator de risco para o adoecimento psicológico, a exemplo dos traços de personalidade, sejam investigadas e identificadas. Deste modo, é possível que intervenções mais eficazes sejam pensadas, proporcionando maior qualidade de vida aos pacientes que convivem com alguma condição crônica e limitante.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Ansiedade, crenças e covid-19 em dois períodos da pandemia no Brasil: um estudo comparativo [Anxiety, beliefs and Covid-19 in two periods of the pandemic in Brazil: A comparative study]

 

Turri, G. S. D. S., Fontes, R. E. B., Lima-Silva, L. G., & Faro, A. (2021). Anxiety, beliefs and Covid-19 in two periods of the pandemic in Brazil: A comparative studyRevista Costarricense de Psicología , 40 (2), 131-147.http://dx.doi.org/10.22544/rcps.v40i02.04

 

Resenhado por Maria Heloísa

 

A Covid-19 foi uma doença respiratória que se espalhou no planeta em 2020 e trouxe impactos psicológicos à saúde mental dos indivíduos.  Em cenários de crise na saúde pública, as crenças e os comportamentos ansiosos são fatores que exercem influência sobre os comportamentos de saúde. A ansiedade, por sua vez, é um estado composto por sintomas psicológicos e fisiológicos e foi identificada como estando relacionada ao isolamento social demandado no contexto. Já as crenças sobre os fenômenos, quando disfuncionais, podem desencadear comportamentos desadaptativos. Por tais razões, julgou-se relevante estudar o pensamento das pessoas acerca da pandemia a fim de se analisar quais fatores que ajudariam a explicar comportamentos de saúde. 

O objetivo do artigo foi identificar as principais evocações associadas ao coronavírus no período pré-crise (Fase 1), quando o distanciamento social passou a ser indicado, e intracrise (Fase 2), quando houve crescimento das hospitalizações, em brasileiros com e sem sintomas ansiosos. Para tanto, foi conduzido um estudo transversal online com amostragem por conveniência, em março e em junho de 2020, que contou com 2.144 e 4.970 participantes, respectivamente. Coletaram-se informações sobre o perfil sociodemográfico e incidência de sintomatologia ansiosa, tendo sido aplicada a escala Generalized Aanxiety Disorder (GAD-2). Foram evocadas palavras de forma livre a partir do disparador “coronavírus”.

Nos resultados, identificou-se que 36,3% participantes da primeira fase possuíam sintomas ansiosos, ao passo que na segunda fase, 60,2%. Os dados das evocações foram distribuídos em 4 quadrantes divididos por período (Fase 1 ou 2) e sintomatologia ansiosa (com e sem). O primeiro quadrante diz respeito às concepções mais comuns sobre a pandemia. Nele foi identificado que, de modo geral, as pessoas evocaram as palavras “medo” e “morte” e que indivíduos com a sintomatologia ansiosa apresentaram palavras com negativas em ambas as fases. O segundo quadrante refere-se às crenças que dão contexto ao quadrante anterior. Nele, foi identificado que a avaliação do isolamento variou a depender do grupo, sendo que, para pessoas com sintomas ansiosos, evento foi associado a uma adaptação difícil e, para os demais, foi observado como uma medida protetiva positiva.  O terceiro quadrante representa as crenças de um grupo menor, mas que são lembradas mais facilmente e, de modo geral, constatou-se que, em ambas as fases do estudo, a pandemia foi relacionada a mais intensas emoções negativas e insegurança.  O quarto quadrante, que serve para mostrar evocações mais gerais, trouxe as evocações mais positivas na Fase 1, já que foram identificadas palavras como “esperança” em ambos os grupos. Na Fase 2, as pessoas com sintomas ansiosos apresentaram evocações de conteúdo negativo, também remetendo-se a evocações de uma percepção de melhoria da situação apesar do medo e da preocupação decorrente do período.

A partir dos achados, o estudo identificou que pessoas com sintomatologia ansiosa tiveram uma visão mais catastrófica do futuro durante a Fase 1, ao passo que pessoas sem tais sintomas apresentaram um repertório adaptativo mais favorável. Na Fase 2, a perspectiva geral mais negativa do cenário foi associada à diminuição da capacidade de ajustamento nessa fase da pandemia. Por fim, entende-se que estudo é de fundamental importância para a Psicologia da Saúde, pois avalia fatores que influenciam comportamentos de saúde e trouxe apontamentos que para embasar pesquisas e a intervenção clínica em momentos de crise.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Insônia e dor crônica: Resultados de um programa interdisciplinar de reabilitação contra dor

 

Craner, J. R., & Flegge, L. G. (2021). Insomnia symptoms and chronic pain: Outcomes of an interdisciplinary pain rehabilitation program. Pain Practice, 22(2). https://doi.org/10.1111/papr.13075

 

Resenhado por Luiz Fernando de Andrade Melo

 

A insônia é um sintoma comum às pessoas que apresentam dores crônicas, de modo a impactar no seu condicionamento físico e na sua regulação emocional. Ela também está associada com o aumento da intensidade das dores principalmente após noites mal dormidas ou com algum prejuízo no sono. Para buscar intervenções sobre esses problemas, os programas interdisciplinares de reabilitação contra dor são considerados ferramentas para o tratamento da dor crônica e, sobretudo, são benéficos para os pacientes que apresentam insônia ligada à dor.

Pode-se dizer que há uma ligação entre o tratamento da dor crônica resultando em alterações nos níveis de insônia e vice-versa, em que o cuidado do sono pode auxiliar na redução da intensidade da dor. Entretanto, não há pesquisas que avaliem a mudança nos níveis de insônia do início ao fim nos programas de reabilitação, nem que descrevem seus sintomas clinicamente. Por tal razão, este estudo teve como objetivo analisar os sintomas de insônia coletivamente e individualmente desde a adesão a um programa de intervenção até sua conclusão, além de associá-los com a ansiedade, a depressão, a severidade da dor crônica e o estado de saúde.

Foram considerados 393 participantes que completaram um programa interdisciplinar de reabilitação para dor crônica entre 2018 e 2019 com duração de dez semanas e tratamento de 6 a 7 horas em dois ou três dias por semana. O tratamento integrou a Terapia de Aceitação e Compromisso, bem como a Educação em Neurociência da Dor. Utilizou-se Insomnia Severity Index – ISI23 com 7 itens que avaliam desde a severidade do início do sono até o sofrimento causado por problemas no sono. Seus escores iam de 0 a 28 pontos através de escala Likert de 5 pontos em cada item mensurado. Para medir a dor e o estado de saúde foram utilizados uma escala de 0 a 10 pontos, a Patient Reported Outcomes Measurement Information System (PROMIS) Pain Interference – Short Form e a PROMIS Global Health – Short Form. Por fim, utilizou-se a PROMIS Depression – Short Form 8ª e a PROMIS Anxiety – Short Form 8ª para depressão e ansiedade, respectivamente.

Os resultados demonstraram que sintomas graves e níveis altos da insônia são associados com maior sofrimento, aumento da dor, da interferência da dor na vida do paciente, bem como com a ansiedade e humor depressivo. Ainda que os pacientes com maiores níveis de insônia demonstrassem menos melhoria do tratamento da dor, a insônia e seus sintomas não impediram que o tratamento fosse efetivado. Na verdade, foi notado que os programas auxiliaram na redução dos sintomas de insônia para categorias menores: de grave para moderado e de moderado para leve. Todavia, a redução significativa dos sintomas só foi apresentada em apenas um terço dos participantes. Ademais, uma parte dos pacientes mantiveram níveis altos de insônia, reportando mais dores, sintomas depressivos e maior uso de medicação.

Estes dados representam que os programas interdisciplinares de reabilitação para dor crônica podem auxiliar na redução da insônia sentida entre indivíduos que apresentam esse quadro. Porém, sua eficácia pode ser acentuada caso exista a associação dos programas com um tratamento específico para insônia como a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia. Tal associação se demonstra necessária porque tanto permite a melhora na qualidade do sono quanto auxilia no manejo da dor crônica, uma vez que está associada com a insônia. Com isso, o estudo tem sua importância para a Psicologia da Saúde pela descrição da comorbidade entre dor crônica e insônia, bem como ela pode alterar estados de humor e alterar os níveis de ansiedade do indivíduo.


domingo, 19 de fevereiro de 2023

Homens que se automutilam: uma revisão de escopo de um fenômeno complexo

 

Tofthagen, R., Haugerud, L.-M.., Gabrielsson, S., Lindgren, B.-M., Fagerström, L. (2022). Men who self-harm: A scoping review of a complex phenomenon. Journal of Advanced Nursing, 78(5).  https://doi.org/10.1111/jan.15132

 

A autolesão se refere aos comportamentos donosos ao próprio corpo, tida como estratégia de lida desadaptativa para vivências de sofrimento. A autolesão se configura como um problema de saúde pública por acometer milhares de pessoas no mundo, e com o público masculino pode ter um caráter crescente e subnotificado. Por essa razão, a pesquisa buscou trazer informações para a prática clínica, promover pesquisas nessa temática, para isso, fez-se necessário o mapeamento e identificação das lacunas na literatura existente. O estudo buscou discutir o fenômeno da autolesão em homens, a fim de conhecer quais os principais meios autolesivos, obter algumas explicações e vislumbrar práticas interventivas.

Foi feita uma revisão de escopo com a base metodológica de Arksey e O’Malley, na qual se propôs uma captação abrangente em relação aos estudos e revisões publicadas. Foram encontradas 684 pesquisas nos bancos de dados CINAHL, Medline, PsycINFO. A PRISMA-ScR serviu como diretriz da pesquisa. Dentre os achados, 24 artigos atenderam aos seguintes critérios de inclusão: texto completo e em língua inglesa. Os estudos analisaram homens de 18 a 65 anos e as publicações foram de 2010 a 2019.

Dos 24 estudos que atenderam os critérios de inclusão da pesquisa e eram dos Estados Unidos (9), Reino Unido (8), Itália (2), Turquia (2), Canadá (1), Grécia (1), Espanha (1). Os transtornos mentais identificados e relacionados à autolesão, em sua maioria, possuíram a predisposição do uso de drogas psicoativas. Dentre os transtornos, foram encontrados nas pesquisas: a depressão, a esquizofrenia, transtorno de personalidade limítrofe, psicose, transtornos alimentares, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno disfórico de gênero, dentre outros.

A automutilação por homens foi relacionada a outros transtornos mentais, a regulação emocional, perda de autocontrole e como forma de comunicação. Apesar dos achados mostrarem que as mulheres têm mais propensão à automutilação que os homens, eles também exercem esse comportamento, assim como possuem mais controle na autolesão não suicida que as mulheres. Geralmente, eles utilizam como métodos para a automutilação: objetos pontiagudos, injeção, ingestão de medicamento, muitas vezes sem ajuda e apresentando um comportamento de risco. Poucos foram os casos que receberam intervenções terapêuticas, segundo os artigos consultados.

Ao longo dos anos, a automutilação tem se tornado mais frequente, os cortes têm sido mais profundos, assim como perigosos. Como o estudo buscou trazer explicações sobre a autolesão masculina nas idades supracitadas, foram identificadas algumas hipóteses, tais como: a impulsividade, as emoções ambíguas, ouvir vozes solicitando o comportamento autolesivo e pensamentos delirantes, assim como a expressão de ódio a si próprio, autopunição como controle, dentre outros.

            Nos estudos analisados pela pesquisa, poucas foram as intervenções mencionadas. Apenas uma indicou a Terapia Comportamental Dialética para pacientes com o quadro psicopatológico borderline. Assim, este artigo se mostra bastante representativo para a Psicologia da Saúde, além de trazer dados sobre a autolesão no público masculino e, ainda, possibilita discutir sobre as intervenções. Essa é uma possibilidade de pesquisa e exploração de intervenção por essa área da Psicologia, vislumbrando as especificidades psicopatológicas dos casos e analisando as intervenções que possuem maior eficácia comprovada.  

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Preditores de sintomas de ansiedade e depressão no Brasil durante Covid-19

 

Zhang, S.X., Huang, H., Li, J., Antonelli-Ponti, M., Paiva, S.F.d., & da Silva, J.A. (2021). Predictors of depression and anxiety symptoms in Brazil during COVID-19. International Journal Environmental Research. Public Health, 18, 1-10. doi: 10.3390/ijerph18137026

Resenhado por Beatriz Oliveira

 

A pandemia da Covid-19 impactou a vida das pessoas em diferentes aspectos cotidianos, sejam eles sociais ou individuais. Estima-se, mundialmente, que a quantidade de indivíduos que sofreram algum dano relacionado à pandemia seja maior que o de pessoas afetadas pela Segunda Guerra Mundial. No Brasil, os números de casos e mortes pelo coronavírus atingiu parâmetros que estiveram entre os maiores do mundo. Parte desse impacto esteve associado à incerteza quanto a infecção viral e às medidas de distanciamento adotadas que poderiam levar a sintomatologia ansiosa e depressiva. A partir da presença desses sintomas psicológicos e outros fatores emocionais, a Covid-19 foi se demonstrando como um problema não apenas sanitário, mas também de saúde mental.

Este estudo objetivou identificar preditores de sintomas de ansiedade e depressão na população brasileira durante a pandemia de coronavírus. Esses preditores foram investigados em três fatores distintos, como demográficos, de saúde e aspectos específicos da Covid-19. Em relação às variáveis demográficas, foram consideradas gênero, idade, educação, ocupação e número de filhos. Já nos aspectos de saúde, estiveram nas análises a prática de exercícios físicos e a vivência com alguma condição crônica. No que se refere aos pontos específicos da Covid-19, estavam inclusos sintomas da infecção e a quantidade de horas navegando em notícias sobre a pandemia.

A pesquisa foi realizada de forma online, entre os dias 9 e 22 de maio de 2020, e incluiu 23 estados brasileiros. Para a coleta de dados foram utilizados um questionário sociodemográfico, o Questionário de Saúde do Paciente (PHQ-9) e a Escala de Transtorno de Ansiedade Generalizada (GAD-7). Ao final do estudo foram feitas as análises de 482 participantes, nos quais 54,1% eram mulheres. Mais de 70% da amostra apresentaram sintomas depressivos, sendo que 22,8% demostraram depressão grave. Em relação à ansiedade, 67,2% apresentaram sintomas ansiosos e 17,2% apontaram nível de ansiedade severa. De modo geral, os principais preditores para ambos os sintomas foram gênero, idade, número de filhos, ser empregado e o tempo lendo informações online sobre a Covid-19.

Fatores como gênero e horas navegando nas notícias a respeito da pandemia estiveram associados à presença de sintomas tanto de depressão quanto de ansiedade. Quando comparadas aos homens, as mulheres apresentaram maior propensão à sintomatologia ansiosa e depressiva, bem como quanto mais tempo pesquisando sobre o coronavírus foi preditor para ambos sintomas. Em relação à empregabilidade, o resultado difere da literatura ao encontrar que funcionários apresentaram níveis mais altos de ansiedade em comparação a pessoas sem emprego, aposentadas ou autônomas.  No que diz respeito à idade e ao número de filhos, foi possível perceber que quanto menor a idade ou menor quantidade de filhos, maiores níveis de sintomas ansiosos e depressivos.

Os achados deste estudo indicam a importância da intervenção psicológica e dos cuidados das organizações de saúde com os grupos mais vulneráveis ao sofrimento no contexto pandêmico. Frente a isso, sabe-se que a psicologia da saúde foca o processo saúde-doença que engloba fatores orgânicos, aspectos comportamentais e emocionais no quadro de adoecimento e, por isso, tendo em vista o impacto emocional decorrente da Covid-19, pode auxiliar na prevenção e promoção de saúde, a fim de amenizar as sequelas psicológicas resultantes da crise.

Preditores psicológicos e comportamentais da eficácia da vacina: Considerações para a Covid-19

 

Madison, A. A., Shrout, M. R., Renna, M. E., & Kiecolt-Glaser, J. (2021). Psychological and behavior predictors of vaccine efficacy: Considerations for COVID-19. Perspectives on Psychological Science, 16(2), 191-203. https://doi.org/10.1177/1745691621989243  

Resenhado por Beatriz Oliveira

 

 As vacinas são planejadas para dar ao sistema imunológico adaptativo uma memória duradoura de componentes virais ou bacterianos, assim ele se torna capaz de responder de maneira rápida e eficaz quando em contato com os patógenos reais. Embora a eficácia da vacina dependa em grande parte de fatores relacionados a ela, algumas características particulares da pessoa vacinada podem influenciar na resposta do sistema imunológico. Uma série de evidências robustas têm apontado a influência de fatores psicológicos, sociais e comportamentais no processo de imunização.

Este estudo, por meio de uma revisão de literatura, objetivou investigar aspectos psicológicos e comportamentais que estiveram associados às respostas de variadas vacinas para diferentes condições e a relevância desses achados para a pandemia do coronavírus. Além disso, discutiu sobre como as intervenções psicológicas e comportamentais poderiam aumentar a eficácia e reduzir os efeitos colaterais da vacina para a Covid-19. De modo geral, fatores importantes que estiveram relacionados à resposta vacinal em diferentes quadros de saúde foram estresse, depressão, solidão e comportamentos de saúde, dentre eles foram considerados tabagismo, nutrição, qualidade do sono e prática de atividades físicas.

O estresse, tanto a longo como a curto prazo, foi prejudicial para a resposta de diferentes tipos de vacina. Ele pode afetar a resposta imune primária e corroer os níveis de anticorpos ao decorrer do tempo. Essa desregulação imunológica associada ao estresse parece ser ainda mais preocupante em idosos, uma vez que o sistema imunológico tenta manter sob controle uma série de condições acumuladas ao longo da vida, respondendo menos a novos desafios. A depressão também apresentou relação com as respostas vacinais. Em algumas pessoas deprimidas, o sistema imunológico já está desregulado antes mesmo de receber a vacina, bem como respostas mais baixas de anticorpos estiveram relacionadas a fatores que podem ser disposicionais para sintomas depressivos, como alto traço de afeto negativo, neuroticismo e autoestima rebaixada.

A solidão foi apontada como um aspecto que pode afetar a função imunológica e prejudicar as respostas vacinais até mesmo em pessoas jovens e saudáveis. Ademais, em uma amostra de idosos, aqueles que haviam vivenciado o luto no ano anterior à vacinação foi encontrado níveis de anticorpos mais baixos. Comportamentos de saúde também podem ter associações com as respostas à vacina. Pessoas que fumam, que se alimentam de maneira inadequada, aquelas que tem privação de sono ou que são sedentárias, de algum modo podem ter o sistema imunológico prejudicado o que pode implicar na resposta vacinal.

Os aspectos levantados neste estudo são relevantes para a compreensão no processo de imunização da Covid-19, uma vez que estresse, depressão, solidão e alguns comportamentos de saúde foram recorrentes durante a crise. Desse modo, a psicologia da saúde, área que foca nos fatores psicológicos presentes no processo de adoecimento, pode auxiliar na prevenção e promoção de saúde, a fim de melhorar as respostas à vacinação durante o surto e minimizar os efeitos colaterais decorrentes da vacina.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Qual a relação entre enxaqueca e depressão?

 

Lee, D. H., Kim, K. M., Cho, S., Kim, W., Yang, K. I., Yun, C., Chu, M. K. (2020). Impacts of migraine on the prevalence and clinical presentation of depression: A population-based study. Journal of Affective Disorders, 277, 215-222. https://doi.org/10.1016/j.jad.2020.03.102

 

Resenhado por Beatriz Lima

 

A enxaqueca é um distúrbio neurológico comum na população em geral. É caracterizada por fortes dores de cabeça associadas com outros sintomas, gerando sofrimento e prejudicando a realização de atividades diárias pelos indivíduos portadores. A depressão também apresenta uma considerável prevalência no corpo social, sendo considerada um transtorno mental comum. Indivíduos que recebem o diagnóstico de depressão apresentam uma autopercepção de saúde ruim, com um maior risco de redução das suas habilidades funcionais, por exemplo. Essas patologias representam as sétimas e terceiras principais causas de incapacidade no mundo. Entretanto, apesar do vasto impacto que ocasionam, a enxaqueca e a depressão demonstram-se subdiagnosticadas e subtratadas. A literatura aponta uma associação significativa entre essas duas doenças, aproximadamente 1 a cada 5 indivíduos com depressão apresentam enxaqueca. Essas patologias costumam manifestar-se com uma comorbidade bidirecional: pacientes deprimidos apresentam um maior risco de desenvolver enxaqueca e pacientes enxaquecosos demonstram um risco aumentado de desenvolver depressão.

            O presente estudo investigou os impactos da enxaqueca na manifestação clínica e prevalência da depressão com o impacto da depressão na enxaqueca. Para isso, foram utilizados dados coletados no Korean Headache Sleep Study (KHSS), uma pesquisa descritiva, transversal e nacional sobre dor de cabeça e sono na população coreana. O estudo contou com a participação de 2.695 indivíduos. Entre novembro de 2011 e janeiro de 2012, foram realizadas entrevistas estruturadas, a partir de um questionário, buscando determinar os estados de dor de cabeça, sono e suas covariáveis (como depressão). Para fins diagnósticos foram utilizados os critérios de enxaqueca sem aura da segunda edição da Classificação Internacional de Cefaleias (ICHD-II) e o Pacient Health Questionnaire (PHQ-9).

            Os resultados confirmaram a hipótese inicial, demonstrando maior prevalência de enxaqueca ou cefaléia não-enxaquecosa entre participantes deprimidos do que entre os não deprimidos. A prevalência de depressão foi maior entre os participantes com enxaqueca do que entre aqueles com cefaleia não enxaquecosa e no grupo sem cefaléia. No entanto, os dados obtidos demonstraram algo de importância peculiar. A gravidade da depressão não foi alterada significativamente em decorrência da presença da enxaqueca, mas os portadores de enxaqueca com depressão apresentaram sintomas mais graves de enxaqueca quando comparados aos não deprimidos. Isso pode ser justificado por conta que ambas as doenças compartilham um mecanismo comum, contudo são fisiopatologicamente distintas. Os neurotransmissores e receptores de serotonina atuam de forma diferente nas duas patologias. Além disso, a enxaqueca e a depressão também compartilham variantes genéticas, entretanto apresentam antecedentes genéticos particulares.

            A partir desses achados, concebe-se que a enxaqueca e depressão estão mutua e fortemente relacionadas, de modo que a manifestação de uma doença pode facilitar o desencadeamento da outra. Dessa maneira, tendo em vista a notória correlação entre ambas, é necessário que os psicólogos da saúde entendam essa dinâmica, pois uma intervenção efetiva no quadro clínico da enxaqueca pode evitar manifestações depressivas, bem como os seus pacientes deprimidos estão mais propensos a apresentar enxaqueca. Assim sendo, os resultados encontrados possibilitam o desenvolvimento de protocolos de atuação que minimizem o impacto dessas doenças e suas manifestações comórbidas.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Preditores biopsicossociais de dor, incapacidade e depressão em pacientes brasileiros com dor crônica

 

Sardá Júnior, J. J., Nicholas, M. K., Pimenta, C. A. D. M., & Asghari, A. Preditores biopsicossociais de dor, incapacidade e depressão em pacientes brasileiros com dor crônica. Revista Dor, 13, 111-118. https://doi.org/10.1590/S1806-00132012000200003. 

 

Resenhado por Luíza Ramos

 

            Dor crônica é classificada como dor que persiste por um período superior a três meses, o que pode estar associado à incapacidade física, distúrbios emocionais e dificuldades sociais. Conforme o modelo biopsicossocial da dor, aspectos biológicos podem iniciar, manter ou modular alterações físicas, enquanto fatores psicológicos influenciam a avaliação e percepção de sinais fisiológicos e fatores sociais modelam as respostas comportamentais do paciente à percepção de suas alterações físicas. Assim, este artigo buscou examinar os fatores que contribuem para a incapacidade, intensidade da dor e depressão em amostra brasileira de pacientes com dores crônicas.

            O estudo foi realizado com uma amostra por conveniência, composta por 311 pessoas atendidas em diversos centros de dor localizados no Sul e Sudeste do Brasil. Foram utilizados um questionário sociodemográfico e um inventário clínico, além do Questionário Roland-Morris de Incapacidade (RMDQ), o      Questionário de Autoeficácia do Paciente com Dor (PSEQ), o Questionário de Autoafirmativas sobre Dor, o Questionário de Aceitação da Dor Crônica (CPAQ) e a Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse. Os dados foram organizados em planilhas e analisados utilizando o programa estatístico SPSS.

            Os resultados indicam que, embora as variáveis sociodemográficas (ex: grau de escolaridade) e clínicas (ex: local da dor) contribuam para a incapacidade física, a variável crenças de autoeficácia teve maior contribuição para incapacidade e intensidade da dor. Tal resultado reforça a importância desse construto como preditor de comportamento, ou seja, pode-se esperar que pacientes com dor crônica que apresentam baixa autoeficácia tenham mais chances de utilizarem estratégias de enfrentamento menos efetivas, o que poderia mediar incapacidade física. Em relação às variáveis relacionadas à depressão, apenas pensamentos catastróficos tiveram associação significativa, mostrando que esse tipo de pensamento contribui para as dimensões afetivas e avaliativas da dor. Dessa forma, entende-se que pensamentos catastróficos podem contribuir de forma importante para a depressão, especialmente quando esta depressão está relacionada à dor crônica.

            Em suma, este estudo contribui para a Psicologia da Saúde ao mostrar evidências da relação de variáveis psicológicas com desfechos em saúde. Sendo assim, o desenvolvimento de estratégias que considerem fatores cognitivos pode ser mais efetivo para o bem-estar do indivíduo que possui dor crônica.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Pain psychology in the 21st century: Lessons learned and moving forward

 

Flink, I. K., Reme, S., Jacobsen, H. B., Glombiewski, J., Vlaeyen, J. W. S., Nicholas, M. K., Main, C. J., Peters, M., Williams, A. C. C., Schrooten, M. G. S., Shaw, W., & Boersma, K. (2020). Pain psychology in the 21st century: Lessons learned and moving forward. Scandinavian Journal of Pain20(2), 229-238. https://doi.org/10.1515/sjpain-2019-0180

Resenhado por Giulia

 

A Psicologia da dor tem avançado significativamente nas últimas décadas, proporcionando maior conhecimento acerca dos fatores psicológicos que podem determinar a dor. O artigo se inspirou no trabalho do professor Steven J. Linton, um dos pioneiros e principais contribuintes para o desenvolvimento da Psicologia da Dor, a fim de traçar uma síntese de estado da arte com pertinentes descobertas para esse campo.

O modelo de medo-evitação é um marco teórico central na Psicologia da dor, sendo utilizado para descrever como pessoas desenvolvem e mantêm dor crônica. Ele tem guiado o desenvolvimento de intervenções psicológicas e hoje é apresentado como alternativa para o modelo biopsicossocial. Segundo tal modelo, o elemento “evitação” pode impactar no sucesso do tratamento e predizer piores debilitações ligadas à dor crônica. Por serem fatores modificáveis, o medo e a evitação são possíveis alvos de intervenção para tratamento e prevenção de condições de saúde relacionadas a dor. Sabe-se, também, que há forte relação entre sofrimento mental, dor crônica e prejuízos nas atividades diárias. Recentemente, foi reconhecido o diagnóstico cunhado por “Dor crônica primária”, que se refere a um quadro no qual a dor e a angústia causada por ela são o principal sintoma, ao invés de aparecerem como comorbidades em outras condições de saúde. Logo, o novo diagnóstico integra aspectos emocionais e comportamentais, adotando o sofrimento emocional ou a incapacidade funcional como requisitos, além de tirar o foco da procura de explicações biológicas para o adoecimento.

            Outro elemento que vem sendo estudado e desenvolvido é a prevenção secundária. O termo denota medidas preventivas que favorecem o diagnóstico precoce e levam ao tratamento apropriado para a doença. Atualmente, a prevenção secundaria se insere no modelo cognitivo-comportamental da dor e contrasta com as linhas teóricas tradicionalmente biomédicas, cujo principal objetivo era a cura. O estudo das diferenças individuais dos pacientes contribuiu com a identificação de fatores de risco para a dor crônica, possibilitando reconhecer casos em potencial e intervir sobre eles. Além disso, a resiliência tem sido apontada como um fator protetivo, tendo importante influência para um bom prognóstico no que se refere ao funcionamento físico a longo prazo, uma vez que pode modificar a percepção de dor e como ela interfere com o funcionamento do indivíduo. Há indícios de que fortalecer a resiliência psicológica pode trazer ganhos clínicos significativos, especialmente se combinado com as técnicas focadas nos fatores de risco. Assim, novos alvos foram adicionados nas intervenções para refiná-las e produzir evidências mais robustas de eficácia. A última versão do modelo de medo-evitação incorporou afetos positivos e otimismo como fatores que podem contribuir para estratégias mais adaptativas para lidar com a dor e seus subsequentes debilitações.

                Os avanços demonstrados no artigo são frutos de décadas de pesquisas e intervenções que foram aprimoradas com as evidências produzidas. Nesse sentido, a psicologia da saúde pode trazer contribuições significativas, dando seguimento ao estudo da relação entre os fatores psicológicos e a dor crônica, visando a fortalecer as evidências existentes, bem como favorecendo prognósticos mais positivos para pessoas que sofrem de dores crônicas.

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Dor e comportamento suicida em idosos

 

Santos, J., Martins, S., Azevedo, L. F., & Fernandes, L. (2020). Pain as a risk factor for suicidal behavior in older adults: A systematic review. Archives of Gerontology and Geriatrics87, 104000. https://doi.org/10.1016/j.archger.2019.104000

Resenhado por Luiz Guilherme Lima-Silva.

Eventos adversos na velhice, como aposentadoria, viuvez, morte de amigos e familiares, isolamento e comorbidades médicas podem ser fatores de risco para o comportamento suicida em idosos. Cerca de um a cada quatro tentativas de suicídio nessa população são efetivas e isso pode se dever à relutância em comunicar a intenção suicida. A dor é apontada como uma das variáveis capazes de aumentar a probabilidade de suicídio em idosos. Outra variável associada é a depressão, presente em 85% dos casos de suicídio, que pode aumentar a susceptibilidade à dor. Assim, o presente artigo buscou realizar uma revisão sistemática a fim de examinar se a dor é um fator de risco de suicídio em idosos.

A revisão de literatura foi conduzida para analisar a relação entre o comportamento suicida e dor em idosos. Uma pesquisa foi conduzida nas bases de dados MEDLINE, ISI Web of Knowledge, Scopus e PsycArticle. Os critérios de inclusão foram: população com 60 anos ou mais e estudos que analisassem dor e comportamento suicida. A amostra consistiu em 66 artigos, nos quais a dor foi verificada por meio de inquéritos judiciais e relatórios médicos.

Os estudos avaliaram diversas populações, como fazendeiros, pacientes com câncer de próstata, idosos de baixa renda, usuários de serviços saúde em domicílio e comparação de homens e mulheres. Entre 20 e 60% dos pacientes apresentaram queixas de dor antes de cometer suicídio, sendo que a dor crônica foi o tipo mais relatado. Encontrou-se que homens tendem a ser mais vulneráveis a dor que mulheres. Outro achado foi que a dor aumentou o risco de suicídio entre 1,1 e 4,0 vezes, a dor moderada e severa aumentou o risco de ideação suicida entre 1,5 e 2,7 vezes. Os tipos específicos de dor que aumentaram a probabilidade de comportamento suicida foram a osteoartrite, artrite/reumatismo, lombalgia, fibromialgia e cefaleias, sendo este último o mais impactante nas tentativas de suicídio.

A importância dessa revisão sistemática se deve, sobretudo, ao fato de demonstrar que a probabilidade de comportamentos suicidas pode ser reduzida se houver o manejo efetivo da dor. A Psicologia da Saúde é uma área responsável por analisar e intervir em situações nas quais existem fatores psicológicos relativos ao processo saúde-doença, a exemplo de problemas do ajustamento psicológico, como nos casos de cefaleia e fibromialgia. Nesse sentido, um psicólogo da saúde pode intervir nesses pacientes de modo a encontrar estratégias mais efetivas no manejo da dor, a exemplo de identificar fatores desencadeantes da dor e estratégias para enfrentar de modo que cause menos impactos negativos no bem-estar do indivíduo.

 

 

sábado, 11 de fevereiro de 2023

O papel da autoeficácia no prognóstico da dor musculoesquelética crônica: Uma revisão sistemática.

 

Resenhado por Susana Santana

 

Martinez-Calderon, J., Zamora-Campos, C., Navarro-Ledesma, S. & Luque-Suarez, A. (2018). The role of self-efficacy on the prognosis of chronic musculoskeletal pain: A systematic review. The Journal of Pain, 19(1), 10-34, https://doi.org/10.1016/j.jpain.2017.08.008.

 

A dor crônica é considerada um problema de saúde global. Estima-se que 1 em cada 5 pessoas sofra de dor a cada ano e que 1 a cada 10 adultos desenvolva cronicidade. Uma das formas mais comuns de dor crônica é a dor musculoesquelética crônica. Essa é uma condição altamente prevalente, incapacitante e dispendiosa e custosa financeiramente para indivíduos, empregadores, sistemas de saúde e sociedade. Pessoas com dores musculoesqueléticas frequentemente têm prejuízo em seu ambiente social e familiar. Por isso, a dor também é percebida como uma experiência biopsicossocial.

A autoeficácia é considerada como um fator psicológico protetivo na saúde individual. Ela corresponde às crenças dos indivíduos sobre a sua capacidade de se envolverem em ações que fornecerão o objetivo desejado. Pessoas com altos níveis de autoeficácia costumam perceber tarefas difíceis como desafios a serem conquistados, o que contribui para o foco, a motivação e um maior sentido de controle sobre situações ameaçadoras. Além disso, evidências indicam que a autoeficácia pode desempenhar um papel essencial como fator protetor, bem como mediador, na relação entre dor e funcionalidade, em pessoas que sofrem de dor musculoesquelética crônica.

 Buscando investigar a possível influência da autoeficácia no enfrentamento a esse tipo de dor crônica, o estudo em questão procurou responder à seguinte pergunta: “Como a autoeficácia influencia o prognóstico de pessoas que sofrem de dor musculoesquelética, em comparação com pessoas livres dessa dor?”. Para isso, realizou-se uma revisão sistemática para sintetizar os achados sobre o tema. Ao final, os pesquisadores selecionaram 27 estudos longitudinais para serem analisados. Os resultados encontrados apontam que níveis mais altos de autoeficácia estão associados a maior funcionamento físico, participação na atividade física, estado de saúde, estado de trabalho, satisfação com o desempenho, crenças de eficácia e a menor intensidade de dor, incapacidade, sintomas depressivos, presença de pontos sensíveis e fadiga.

Os autores sugerem que os clínicos sejam encorajados a identificar pessoas com dor musculoesquelética crônica que apresentem baixos níveis de autoeficácia. Esse dado pode ser levado em consideração em possíveis intervenções com esse público. Como a Psicologia da Saúde busca investigar os fatores que auxiliam nos processos de adaptação e de enfrentamento a estressores, estudos com esse contribuem para ampliar o conhecimento sobre as características psicológicas individuais que podem ser foco de intervenção no tratamento de pessoas com condições crônicas de saúde.