Atenção: modalidades atencionais e a problematização do diagnóstico de TDAH.

Resenhado por Mariana Menezes

Marafon, G., & Papadopoulos, C. R. (2015). Atenção: modalidades atencionais e a problematização do diagnóstico de TDAH. Revista Educação Online, 18, 58-75.

Na sociedade atual somos bombardeados diariamente com várias informações de todos os tipos. Com as crianças não é diferente, pois recebem rapidamente e a todo tempo as muitas informações que circulam na internet e celulares, além de imagens e textos veiculados pela mídia. Elas sofrem uma hiperestimulação e não conseguem se apropriar nem da metade dessas informações. Porém, as atividades pedagógicas privilegiam a focalização, acredita-se que quanto menos estímulos externos o aluno tiver, mais eficaz será sua aprendizagem.
No campo científico, cada vez mais são produzidos discursos que identificam transtornos em crianças e adolescentes e é nesse contexto que se tem desenvolvido o diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção com/sem Hiperatividade (TDAH). O TDAH é definido como um transtorno de desenvolvimento do autocontrole que consiste em problemas com os períodos de atenção, com o controle do impulso e com o nível de atividade. Alguns dos sintomas seriam: não prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido; ter dificuldade para se concentrar em tarefas e/ou jogos; não prestar atenção ao que lhe é dito; ter dificuldade em seguir regras e instruções e/ou não terminar o que começa; ser desorganizado com as tarefas e materiais, etc. Além disso, seria também característico do transtorno não conseguir apresentar comportamentos como ficar quieto, escutar, obedecer, inibir um comportamento impulsivo, cooperar, organizar ações e seguir completamente as instruções.
Tem havido um aumento considerável de casos de TDAH em crianças, o que contribui para alimentar suspeitas e discussões acerca do diagnóstico. Aqueles que investigam e problematizam a questão do diagnóstico TDAH afirmam que não há análise crítica em torno dos sintomas que sustentam tal diagnóstico e de suas relações com os fenômenos que ocorrem na educação, além do contexto histórico cultural que os determina. A consequência da falta de reflexão tem contribuído significativamente para o aumento do número de crianças diagnosticadas com TDAH e indicadas para o tratamento medicamentoso desse suposto transtorno.
O TDAH ganhou destaque a partir de 1990 e logo foi incluído no DSM-IV (Diagnóstico de Doenças Mentais). A partir daí, o uso de Ritalina como forma de tratamento para o transtorno aumentou consideravelmente. Em 2013, foi lançado o DSM-V, e nele o TDAH foi classificado como transtorno. No mesmo ano, outro medicamento de nome Venvanse começou a ser comercializado para tratar o TDAH. Esses medicamentos são recomendados para crianças a partir dos sete anos de idade, que apresentem pelo menos nove sintomas do que é considerado desatenção e/ou seis sintomas de hiperatividade e três de impulsividade, de uma lista de 18 sintomas, que devem estar presentes durante pelo menos seis meses. No entanto, tanto a ritalina como o Venvanse possuem efeitos colaterais, como qualquer outra droga.
De acordo com a Anvisa, o consumo mensal de metilfenidato sugere alguma relação com os meses letivos do ano. Devido ao grande número de escolares diagnosticados com TDAH em São Paulo, a portaria da Secretaria de Saúde do estado estabeleceu um protocolo clínico e uma diretriz terapêutica para administração do fármaco metilfenidato.
Na escola a ideia central de aprendizagem é a de que a criança não aprende porque não presta atenção, ou seja, acredita-se que para que haja aprendizagem, é preciso que haja primeiramente atenção e boa capacidade de concentração. No entanto, alguns fatores têm contribuído para a produção de uma atenção dispersa, como a velocidade e quantidade de informações que circulam na mídia, o que provoca uma mudança constante no foco da atenção.
Nesse sentido, é preciso ter em mente que dispersão e distração são fenômenos distintos, da mesma forma que concentração é diferente de focalização. O indivíduo disperso não consegue se concentrar porque desloca o foco atencional de um objeto para o outro repetidas vezes. Mas, o distraído é alguém imensamente concentrado que também consegue ter a atenção voltada para outros objetos. Dessa forma, a atenção não se reduz ao ato de prestar atenção, pode haver focalização sem concentração do mesmo modo que pode haver concentração sem foco.

Portanto, é preciso reconhecer que as modalidades atencionais estão mudando e que podem ser transformadas em ferramentas criativas no processo de ensino e aprendizagem, em vez de serem consideradas modalidades patológicas ou deficitárias e acabar por ocasionar uma medicalização da infância.

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