Dermatite atópica em adolescentes do Distrito Federal. Comparação entre as Fases I e III do ISAAC, de acordo com a situação socioeconômica



Borges, W. G., Burns, D. A. R., Guimarães, F. A. T. M., Felizola, M. L. B. M., & Borges, V. M. (2008). Dermatite atópica em adolescentes do Distrito Federal. Comparação entre as Fases I e III do ISAAC, de acordo com a situação socioeconômica. Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia, 31(4), 146-150.

Resenhado por Brenda Fernanda

A dermatite atópica (DA), também chamada de eczema atópico, é uma doença cutânea inflamatória comum, crônica, recorrente e repetitiva e frequentemente associada à asma e rinite alérgica. Pode acarretar alta morbidade, gerando grande impacto psicossocial, que ocasiona custos diretos decorrentes do tratamento, e indiretos associados ao comprometimento da qualidade de vida dos indivíduos afetados e de seus familiares, o que leva à necessidade de acompanhamento de suas tendências. Sua prevalência varia de 1% a 20% na população mundial (Williams, Robertson, Stewart, Ait-Khaled, Anabwani, Anderson et al., 1999) e é extremamente variável entre os países e dentro de um mesmo país, como foi demonstrado em um estudo que comparou as regiões norte, sul e leste da Finlândia (Williams, 2000). Prevalências acima de 15% foram encontradas nos centros urbanos da África, da Austrália e no norte e oeste da Europa. Valores menores que 5% foram registrados na China, Leste Europeu e Ásia Central (Williams et al., 1999). Estudos recentes sugerem que a prevalência de DA tem aumentado nas últimas décadas (Annus, Riikjarv, Rahu, & Bjorksten, 2005; Maziak, 2003).
O projeto International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC) foi criado com o objetivo de avaliar a prevalência e evolução da asma e doenças alérgicas (rinoconjuntivite e dermatite atópica), através de um questionário escrito padronizado, traduzido e adaptado para diversos idiomas, inclusive o português (Solé, Vanna, Yamada, Rizzo, & Naspitz, 1998).
O presente estudo objetivou estudar a prevalência atual de DA em crianças de 13-14 anos de idade de diversas localidades de Brasília-DF; pesquisar suas tendências, comparando com os dados obtidos na Fase I e avaliar a relação entre prevalência da DA e a situação socioeconômica da população estudada. Nesse sentido, foi um estudo do tipo transversal, utilizando o questionário padronizado pelo ISAAC (Fase III). A prevalência de DA diagnosticada ou referida foi determinada através de respostas positivas à pergunta “já teve eczema?”. A pergunta “teve manchas na pele (eczema) com coceira nos últimos doze meses?” identificou adolescentes atualmente com eczema e a pergunta “essas manchas com coceira afetaram algumas dobras?” qualifica a dermatite atópica. A gravidade dos sintomas foi avaliada através das respostas à pergunta “Nos últimos doze meses, quantas vezes você ficou acordado à noite por causa dessa coceira na pele?”. Os dados foram coletados no período de abril a setembro de 1996 e de julho a outubro de 2002, respectivamente nas fases I e III.
Os questionários foram preenchidos por 3131 escolares de 13 e 14 anos de idade (53,5% do sexo feminino), em suas salas de aula, sob a supervisão de um pesquisador. A Fase I incluiu 3254 alunos, dos quais 51,8% do sexo feminino. Um total de 3009 questionários (96,1%) foi respondido adequadamente e 122 foram excluídos. Escolas públicas participaram com 80% dos questionários válidos. Este predomínio deveu-se ao fato de várias escolas particulares terem se recusado a participar do estudo.
A prevalência de sintomas cutâneos (“você teve manchas com coceira na pele (eczema) que apareciam e desapareciam?”) foi elevada nesta população (16,8%), sendo que 10,2% relataram presença de sintomas nos últimos doze meses, correspondendo aos indivíduos com eczema recente, entretanto, quando os sintomas foram limitados àqueles indivíduos com lesões localizadas em dobras, a prevalência caiu para 5,6%. A prevalência de DA diagnosticada foi significativamente maior que de eczema recente (13,6% X 10,2%, p=0,0001). Os sintomas cutâneos foram bastante intensos para interferir no sono de apenas 5,9% dos adolescentes, porém maior foi o número de crianças que não se sentiram incomodadas pelos sintomas cutâneos (17%). A prevalência de DA diagnosticada foi maior no sexo feminino (9,4% contra 4,2% do sexo masculino, p < 0,0001). Comparados aos dados da pesquisa de 1996 (Fase I), observa-se que houve aumento significativo das prevalências de DA diagnosticada (de 9,8% para 13,6%, p=0,0002), sem alteração significativa da prevalência de eczema recente (9,2% para 10,2%, p=0,203).
Através do protocolo ISAAC, observou-se que a prevalência de DA, em crianças de 13-14 anos do Distrito Federal, aumentou significativamente em um período de seis anos, diferente da asma, que permaneceu praticamente inalterada neste mesmo período (de 13,8% para 14,8%) (Borges, Burns, Felizola, Guimarães, Salazar, Guidacci et al., 2005). Também foi notado que as populações de melhores condições socioeconômicas foram as mais frequentemente afetadas por essa patologia somente na Fase I da pesquisa. Ainda, foi visto que os casos mais graves ocorreram no grupo de piores condições socioeconômicas, tanto em 1996 quanto em 2002, talvez em função de dificuldades de acesso a tratamento especializado.

Levando em consideração o aspecto psicossocial da doença, o acompanhamento psicológico desses pacientes é recomendado, visto que fatores emocionais parecem influenciar significativamente a maioria das doenças de pele, e a correlação entre eventos estressantes de vida e agravamento da doença é bem reconhecida na dermatologia.

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