Estratégia de enfrentamento (coping) do adolescente com câncer.

Resenhado por Juliane Ishimaru

Iamin, S. R. S., & Zagonel, I. P. S. (2011). Estratégias de enfrentamento (coping) do adolescente com câncer. Psicologia Argumento, 29, 427-435.

A fase da adolescência é uma fase de transição. Nela, as mudanças físicas acontecem paralelamente às mudanças mentais trazendo à tona nuances anteriormente nunca questionadas. Nesse momento, o surgimento de uma doença que trás uma carga de morte rápida torna-se um evento estressor de grande relevância. O câncer é uma dessas doenças e a forma como é enfrentada (coping) na adolescência é um importante objeto de estudo da psicologia. Afinal, além de passar pelo processo característico de desenvolvimento da fase (desenvolvimentais), o adolescente também é submetido ao processo próprio do adoecimento (situacionais).
Na adolescência, existe uma correlação entre as alterações dos aspectos físicos, biológicos, sociais e psicológicos. As mudanças físicas são de grande relevância, pois “o corpo e os traços apresentam importante relação com a imagem que tem de si e com a ideia que faz de como é aos olhos dos outros” (Campos, 1977, p. 23). Esse “rápido crescimento físico e maturação sexual aceleram os movimentos que buscam solidificar uma identidade e estabelecer a autonomia em relação à família” (Carter & Macgoldrick, 2001, p. 225), sendo as relações entre os amigos e os relacionamentos amorosos relevantes nas opiniões e atitudes dos adolescentes. Os processos psicológicos de adaptação abrangem todas as alterações, principalmente os eventos estressores, que estão ocorrendo na vida do adolescente. Diante de tantas mudanças, uma doença como o câncer traz mais um aspecto de adaptação, sendo considerado um evento estressor de grande relevância. 
O diagnóstico de câncer na adolescência é visto como de difícil recuperação, implicando um conceito de morte antecipada, de sofrimento sem esperança e perda de projetos futuros. Além disso, já é exposto que por ser uma doença duradoura, o câncer leva o sujeito a reconstruir sua biografia e o conceito que tem de si, alterando assim o processo de autoconhecimento do adolescente, podendo trazer implicações na construção do eu, refletindo na fase adulta. No tratamento do câncer surgem estressores como a hospitalização, que está relacionada com a “dor, o ambiente hospitalar pouco familiar, a exposição a procedimentos médicos invasivos; a separação dos pais; o estresse dos acompanhantes; a ruptura da rotina de vida e adaptação a uma nova rotina imposta e desconhecida; a perda da autonomia, controle e competência pessoal; a incerteza sobre a conduta mais apropriada; e a morte” (Méndez, Ortigosa & Pedroche, 1996). O estudo do enfrentamento desses eventos estressores é um dos focos da psicologia.
A psicologia acredita que o conhecimento sobre coping relacionado aos eventos estressores desencadeados pela descoberta e tratamento do câncer em adolescentes, possibilitará uma melhor qualidade de vida e auxiliará na superação das dificuldades advindas dessa vivência. Portanto, “o coping funciona como um mediador entre o estressor e o resultado advindo desse estressor” (Antoniazzi, Dell’Aglio & Bandeira, 1998, p. 277). Ele é conceituado como “uma resposta com o objetivo de aumentar, criar ou manter a percepção de controle” (Savóia, 1999, p. 6), grau de dificuldade ou facilidade de se realizar uma ação, do indivíduo. Suas estratégias de enfrentamento podem ser focadas no problema (buscando uma forma de eliminar ou diminuir) e na emoção (com pensamentos positivos, aceitação ou negação)
As estratégias de enfrentamento variam a cada indivíduo. Para os adolescentes existem alguns fatores que apresentam um papel de protagonismo, como é o caso das redes sociais de apoio, caso contrário, poderão desenvolver respostas “desadaptativas” de enfrentamento. A pesquisa de Bárez, Blasco e Castro (2003) demonstra a existência de uma sensação de controle em adolescentes quando esses acreditam que os médicos, por meio de tratamento, poderão conseguir a cura. E o estudo de Till (2004), explica que não pensar a respeito do que estava acontecendo com eles, realizando diversas atividades como ferramentas de distração é uma estratégia muito comum e relevante para os adolescentes.

Com isso, constata-se que atividades de relaxamento, pensamentos positivos, estabelecimento de limites, conversas com a família e amigos sobre os problemas e o não enfrentamento do estresse de maneira prejudicial à saúde, são procedimento que trazem uma carga positiva ao enfrentamento do câncer em adolescentes. A necessidade de conhecer as formas de coping é de suma importância para o entendimento do enfrentamento e também para uma melhoria na qualidade de vida, possibilitando ao psicólogo uma intervenção, auxiliando os adolescentes a uma melhor resposta adaptativa da fase em que vivem e ao câncer. Dessa forma, os adolescentes conseguirão formar uma base de sustentação consistente para desenvolver seu autoconhecimento. 

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