Tentativa de suicídio na adolescência: Avaliação do efeito de gênero na depressão e personalidade

Resenhado por Iracema R. O. Freitas

LOPES, P., BARREIRA, D. P., & PIRES, A. M.(2001). Tentativa de suicídio na adolescência: Avaliação do efeito de gênero na depressão e personalidade. Psicologia, Saúde & Doenças, 2 , 47-57.

A adolescência é entendida como uma etapa do desenvolvimento que tem início na puberdade, com alterações psicobiológicas e que vão delineando a maturação fisiológica e a formação da personalidade, ocorrendo à medida que o adolescente percebe seu afastamento da infância e sua proximidade com a fase adulta. As aprendizagens decorrentes das interações com o seu meio social podem conduzir o adolescente a estratégias de resolução de problemas ou modos de enfrentamentos disfuncionais, como, por exemplo, a conduta suicida que pode ser tanto letal (suicídio) quanto não letal (tentativa de suicídio e para-suicídio), que  representam um desafio aos serviços de saúde mental, principalmente no que tange ao entendimento de quais fatores psicológicos são preditores ou eliciadores da tentativa e da consumação do suicídio.

Para identificar tais sinais, os autores sugerem autopsia psicológica, a fim de verificar fatores de risco, que vão desde vulnerabilidade dos adolescentes frente às mudanças sociais, familiares, instabilidade cultural e econômica, até os transtornos psiquiátricos, com ênfase na depressão e tentativas de suicídio anteriores. O artigo verificou os aspectos clínicos relativos à tentativa de suicídio na adolescência, pesquisando a existência de sintomatologia depressiva, além de traços disfuncionais da personalidade em adolescentes com algum histórico de tentativa de suicídio.

A amostra foi dividida a fim de efetuar uma comparação entre os sexos, sendo composta por indivíduos do sexo feminino (n = 12) e outra por indivíduos do sexo masculino (n = 10), abrangendo idades entre 15 e 18 anos. Os instrumentos utilizados foram o Children’s Depression Inventory (CDI) e o Mini-Mult.  O resultado caracterizou o perfil dos adolescentes que tentam suicídio, que são em sua maioria meninas com média de 17 anos, elas também apresentaram maior intensidade de sintomatologia depressiva que os meninos. Esses resultados sugerem a existência de um efeito de gênero na manifestação clínica do quadro depressivo, visto que a depressão está mais relacionada com as tentativas de suicídio nas meninas do que nos meninos.

Portanto, pode-se constatar que apesar da adolescência ser considerada como período de transformações positivas, aspectos negativos desse período de transição, como variáveis sociais, psicológicas e biológicas, exerce um papel multifatorial sobre a conduta suicida. Logo, por se tratar de uma situação multideterminada, requer a intervenção de uma abordagem multidisciplinar que venha a atender as demandas do adolescente que tenta dar fim a própria vida.