Psicologia da Saúde versus Psicologia Hospitalar: Definições e possibilidades de inserção profissional
Resenhado por Alexsandra Macedo
CASTRO, E. K. & BORNHOLDT, E., Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional. Rev. Psicologia, Ciência e Profissão, 2004, 24(3), 48-57.
O presente texto
chama a atenção para a discussão sobre Psicologia da Saúde e Psicologia Hospitalar,
sendo que esta última é uma designação exclusivamente brasileira. Em outros
países usa-se o termo Psicologia da Saúde, com a Psicologia Hospitalar figurando
como um dos campos de atuação nessa área.
É
importante enfatizar que os conceitos de Psicologia da Saúde e de Psicologia
Hospitalar são diferentes, e que essa diferença conceitual está vinculada aos
significados das palavras saúde e hospital. Enquanto saúde está relacionada aos
processos orgânicos, físicos e mentais, hospital está relacionado a uma
estrutura física onde doente são tratados.
A partir dessa diferenciação as autoras explanaram
sobre a formação desses conceitos, bem como analisar a formação acadêmica
desses profissionais e, ainda, se tal formação oferece suporte para atender as
demandas em saúde da realidade do nosso país.
Foram tomados como referências os conceitos da
Associação Americana de Psicologia (American
Psychological Association) (APA, 2003) e do Conselho Federal de Psicologia
(CFP, 2003), em que se pode entender a Psicologia da Saúde como uma
especialização da Psicologia que aplica seus conhecimentos para analisar,
diagnosticar, tratar e compreender os fatores biológicos, comportamentais e
sociais que influenciam nos processos de saúde e doença
Internacionalmente a Psicologia da Saúde já
está consolidada. Aqui no Brasil ela vem conquistando espaço, sendo necessário
estimular as pesquisas de base e aplicada, assim como a integração da
informação biomédica com o conhecimento psicológico para haver uma melhor
compreensão do que vem a ser saúde e doença. Acredita-se que somente com esse
conhecimento interdisciplinar será possível desenvolver ações de intervenção
adequadas às especificidades e contextos socioeconômicos de cada região
dissolvendo a confusão de terminologias conceituais que envolvem esse campo de
atuação.
A
Psicologia da Saúde tem como base o modelo biopsicossocial, as intervenções
primária, secundária e terciária juntamente com a interdisciplinaridade na
promoção e educação para a saúde, bem como nas interações sociais que vão além
do trabalho exercido no ambiente hospitalar. Sua área de atuação perpassa pelos
hospitais, centros de saúde comunitários, ONGS e as residências dos indivíduos.
Quanto a Psicologia Hospitalar, o CFP,
(2003) a coloca como uma especialização na qual o profissional tem sua função centrada nas intervenções
secundária e terciária de atenção a saúde, realizando atividades como
atendimento psicoterápico, grupo psicoterapêuticos, grupos de psicoprofilaxia,
atendimento ambulatorial, entre outros. Para entendermos o surgimento desse
conceito de Psicologia Hospitalar é necessário ressaltar que as políticas de
saúde no Brasil são centradas no hospital desde a década de 40, ou seja, um
modelo que prioriza as ações de saúde na atenção terciária (modelo
clínico/assistencialista) deixando em segundo plano às ações ligadas a saúde
coletiva (modelo sanitarista).
A partir desses estudos as autoras
chamaram a atenção para a existência de certo desconhecimento quanto ao papel
que deve ser executado pelos profissionais de psicologia no âmbito hospitalar,
bem como um desconhecimento da realidade socioeconômica brasileira, das
especificidades demográficas de cada região e uma carência no desenvolvimento
de pesquisas nesse campo. Esses pontos destacados contribuem para a confusão de
terminologias, para o desconhecimento da realidade sanitária do país e dos
papéis a serem desenvolvidos por esses profissionais na promoção de ações adequadas
no âmbito da saúde. Faz-se necessário, também, identificar a existência de uma
formação universitária deficitária que não condiz com a realidade e prática
profissional, pois podemos observar que muitas ações desenvolvidas por
psicólogos em hospitais são uma réplica do fazer clínico tradicional. Essa
análise aponta para a necessidade de conhecimentos acerca da realidade
sanitária do país, o que possibilitará o desenvolvimento de ações adequadas na
área hospitalar.
As autoras deixam como pontos de
mudanças a promoção de pesquisas de base e aplicada, a inserção do psicólogo em
equipe interdisciplinar, a interlocução de saberes e a inserção profissional de
acordo com a realidade do país. Elas enfatizam que a Psicologia da Saúde amplia
a atuação da Psicologia Hospitalar, e esta deve ser vista como um campo que faz
parte da Psicologia da Saúde.
É recomendada a leitura desse texto
devido à contextualização histórica que traz sobre a formação dos conceitos de
Psicologia da Saúde e Psicologia Hospitalar, desfazendo algumas confusões terminológicas,
trazendo esclarecimentos pertinentes ao campo de atuação e sobre as ações a
serem executadas no âmbito de cada uma. Além de proporcionar uma reflexão sobre
a formação acadêmica e a prática
profissional, destaca-se a importância da interdisciplinaridade para o
desenvolvimento de intervenções adequadas na promoção da saúde, como também a
importância do desenvolvimento de pesquisas socioeconômica e sociodemográfica
para o conhecimento da realidade sanitária de cada região do Brasil.
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