O modelo transacional de estresse e coping

Ben-Zur, H. (2019). Transactional model of stress and coping. In Encyclopedia of Personality and Individual Differences (pp. 1-4). Springer International Publishing. doi:10.1007/978-3-319-28099-8_2128-1   
    
Resenhado por Matheus Macena

        O primeiro modelo transacional para o estresse e o coping foi desenvolvido por Richard Lazarus e expandido posteriormente com a colaboração de Susan Folkman. A sua reforma e expansão coincidiu com o surgimento da perspectiva cognitiva na psicologia, campo que era dominado majoritariamente pelo behaviorismo, com uma ênfase no comportamento observável e na associação de estímulos.
     O modelo transacional entende o estresse como um processo em que um indivíduo avalia (appraisal) sua interação com o ambiente para determinar seu bem-estar. O estresse é definido por Lazarus e Folkman como uma relação entre pessoa e ambiente que é avaliada como importante para o bem-estar e que demanda mais recursos do indivíduo em comparação com situações cotidianas. Essa hipótese do estresse como subjetivo, fruto da avaliação acerca da capacidade de gerenciamento de uma situação, é a base para o entendimento do modelo.
       A avaliação é influenciada por características individuais, como otimismo, motivação e recursos socioeconômicos, sendo também necessário que a situação seja percebida, avaliada e interpretada relevante para o indivíduo. O processo de avaliação no modelo transacional abarca três tipos de avaliação: primária, secundária e reavaliação (reappraisal). A avaliação primária se refere ao processo de classificação de um evento. Essa classificação se divide em três tipos: irrelevante, benigna ou estressante. O evento estressante carrega três diferentes atribuições quanto a percepção de dano provocado pelo evento. Ele pode ser entendido como “prejuízo” quando se refere a um dano que já aconteceu, como “ameaça” quando um potencial dano está para ocorrer e “desafio” quando se refere a um potencial dano atrelado a um provável ganho. O tipo secundário de avaliação se refere ao processo de elaboração de resposta ao estímulo estressor. Já a reavaliação é o processo de mudança das avaliações primária e secundária, passível de ocorrer por consequência de mudanças ambientais ou de respostas pessoais após a primeira ação de enfrentamento; se resultou em redução, ampliação ou se foi incapaz de modificar a percepção inicial do estímulo estressor.
   Segundo o modelo de Lazarus e Folkman, coping representa os esforços cognitivos e comportamentais para gerenciar demandas internas ou externas que excedam os recursos de gerência da pessoa. Ele muda com o contexto e pode ser classificado quanto à função: foco no problema e foco na emoção. As estratégias com foco no problema têm por objetivo a resolução do estímulo estressor e as focadas na emoção propõem uma regulação das respostas emocionais e psicológicas ao estressor. Quando o estressor é controlável, as estratégias com foco no problema têm resultados mais favoráveis à adaptação saudável. Já no caso oposto, o foco na emoção produz melhores respostas. Outras estratégias de coping também já foram descritas, inclusive quanto à confronto (approach) ou evitação (avoid) ao estressor.
     Os benefícios do modelo transacional de estresse e coping são sentidos em áreas como a psicologia da saúde, pois ele tornou possível a explicação da variabilidade de reações das pessoas para um mesmo estressor. Atualmente, ainda existem críticas quanto a prevalência da cognição sobre a emoção, o papel do subconsciente sobre esses processos e na sobreposição de classificações das estratégias de coping. Entretanto, é válido defender que o modelo transacional permitiu avanços significativos nas pesquisas sobre coping e stress em inúmeros contextos, tendo na Psicologia da Saúde uma das áreas que mais se beneficiaram com os avanços teóricos e metodológicos alcançados por esse modelo.

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