Transtornos de ansiedade em crianças: da neurociência à prática clínica baseada em evidência

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Postado por Danielle Alves Menezes

Salum, G. A., Desousa, D. A., do Rosário, M. C., Pine, D. S., & Manfro, G. G. (2013). Pediatric anxiety disorders: from neuroscience to evidence-based clinical practice. Revista Brasileira De Psiquiatria (Sao Paulo, Brazil: 1999), 35 Suppl 1, S03-21. https://doi.org/10.1590/1516-4446-2013-S108

O artigo é uma revisão de literatura que tem por objetivo descrever a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, diagnóstico e tratamento de transtornos de ansiedade no âmbito da pediatria.
Quanto aos aspectos epidemiológicos, chama atenção a grande variabilidade de dados encontrados, por razões metodológicas dos artigos e por questões interculturais, as quais dizem respeito a crenças culturais e consideração do que seja fator de risco, ambos interferentes no processo de ansiedade. Entretanto, há uma estimativa de que prevalência global de qualquer transtorno de ansiedade na faixa etária de 3 a 17 anos, ajustado por diferenças de fatores metodológicos, seja de 7,2%, sendo os mais precoces na infância a ansiedade de separação e transtorno de pânico (entre 5 e 8 anos de idade). Dos adultos que possuem transtono de ansiedade, de 60 a 80% relataram sintomas ainda na infância. Apesar disso, sabe-se que o curso natural da sintomatologia é variável, podendo inclusive diminuir ao longo do tempo. Dados ainda mostram que um terço das crianças possuem remissão espontânea a longo prazo, outra terça parte persiste com o mesmo quadro e uma terça parte se desenvolve com co-moribidades, principalmente depressão maior. Estão associados a um curso desfavorável: sexo feminino, severidade dos sintomas, duração da doença, idade precoce, evasão escolar grave em razão de déficits, história parental de psicopatologia e temperamento inibido.
No que diz respeito aos fatores genéticos, atualmente há um grande volume de pesquisas em neurociência que já atestam grupos específicos aliados a uma interação ainda complexa e não totalmente desvendada com o ambiente, em especial o escolar e familiar super protetor. Correlatos neurais estão associados às funções de processamento de informações envolvidas no processamento emocional (em particular de processamento de ameaça) e controle cognitivo. Os autores destacam ainda um conjunto de processos mentais disfuncionais que  podem ser classificados em cinco grupos de funções de processamento de informações: 1) interações com atenção voltada para ou afastar-se de ameaças; 2) tendência para classificar e responder a estímulos neutros ou inofensivos como se fossem perigosos; 3) processos de memória e de aprendizagem recrutados em associações entre estímulos seguros e perigosos, como aprendizagem por observação de respostas parentais a certos estímulos; 4) processos de avaliação social (uma tendência para as crianças ansiosas se preocuparem com a avaliação dos pares); 5) maior sensibilidade às recompensas (uma tendência para as crianças ansiosas alterarem mais fortemente seu comportamento ao tentar obter recompensas). Este conjunto de achados sugerem que os transtornos de ansiedade envolvem processos disfuncionais em vários processos emocionais e cognitivos. Cada um desses processos, por sua vez, é regulado por várias regiões cerebrais tais como: a amígdala, várias porções do córtex pré-frontal particularmente os ventrolateral e dorsomedial divisões e disfunções nos gânglios basais.
Vale destacar que, no diagnóstico dos transtornos de ansiedade na infância é crucial a variação da expressão desses sintomas em frequência, intensidade, duração e/ ou a interferência em funcionamento. A figura abaixo resume de forma interessante aspectos diagnósticos citados no artigo.





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