Síndrome de Burnout e consumo de álcool em funcionários da prisão

Postado por Sara Andrade


Campos, J. A. D. B., Schneider, V., Bonafé, F. S. S., Oliveira, R. V., & Maroco, J. (2016). Burnout Syndrome and alcohol consumption in prison employees. Revista Brasileira de Epidemiologia19(1), 205-216. Doi: 10.1590/1980-5497201600010018

Boa parte dos estudos em prisões focam na tentativa de compreensão do bem-estar e saúde dos presos, mas os trabalhos que intentam analisar esses fatores nos funcionários são escassos. Por ser um ambiente que proporciona riscos, estudos já demonstraram a relação entre o estresse ocupacional, a utilização de estratégias de enfrentamento inadequadas e maior probabilidade de abuso de substâncias, bem como a associação entre abuso de álcool e variáveis sociodemográficas como idade, sexo, estilo de vida, e prática religiosa em profissionais do ambiente prisional.
A Síndrome de Burnout é classificada como a reação ao estresse ocupacional associada à carência em estratégias de enfrentamento adequadas nas questões concernentes ao ambiente de trabalho, que culminam num quadro de baixa percepção de competência e bem-estar e podem acarretar em enfrentamento direcionado ao abuso de álcool ou substâncias. Tendo em vista a problemática, o estudo de Campos, Scheneider, Bonafé, Oliveira e Maroco (2016) objetivou estimar a associação entre variáveis sociodemográficas, como sexo, tabagismo e prática religiosa e o engajamento em comportamentos de risco. Também foram comparados os valores médios de exaustão emocional, cinismo (despersonalização ou instabilidade nas relações interpessoais), eficácia profissional e o comportamento de beber nos funcionários de duas prisões do estado de São Paulo.
O estudo transversal contou com uma amostra de 339 funcionários de duas penitenciárias. Foram coletadas informações sociodemográficas, o teste de Identificação de Distúrbios de Uso de Álcool (AUDIT) para identificar o padrão de consumo, e o Maslach Burnout Inventory - General Survey (MBI-GS) para avaliar a síndrome de Burnout.
Observou-se que a prevalência geral de participantes com comportamento de risco foi de 22,4%. Houve associação significativa entre o comportamento de beber e o sexo, prática religiosa e tabagismo, sendo os homens e fumantes mais propensos a engajar-se nessa atividade, e a prática religiosa verificada como fator protetivo contra ela. Também foi verificada alta prevalência de participantes que se sentiam esgotados ao fim do dia e com perda de interesse pelo trabalho. A prevalência da Síndrome de Burnout foi encontrada em 14,6% dos participantes e o escore médio para exaustão emocional entre eles foi de 2,71 (DP = 1,76), 2,44 (DP = 1,33) para o cinismo e 4,20 (DP = 1,22) para a eficácia profissional. Além disso, foram verificados escores significativos (p<0,001) de exaustão emocional e cinismo, como também pontuações mais baixas de eficácia profissional entre os participantes que consumiam álcool em comparação com os participantes abstinentes.

Os resultados apontam para a necessidade de mais estudo acerca do impacto do estresse ocupacional e consequentemente da Síndrome de Burnout no desenvolvimento de comportamentos de risco nos trabalhadores, bem como de criar estratégias educativas e preventivas quanto à saúde dessa população.

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