O papel da psicologia no cuidado de crianças com microcefalia.

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Postado por Danielle Alves Menezes

A microcefalia não é uma doença e sim uma condição neurológica em que a medida da circunferência craniana do bebê é menor que o normal. Essa medida (que para crianças nascidas a termo foi padronizada para 32 cm e para crianças com microcefalia, 28 cm, além de estar abaixo dos desvios padrão na tabela Fenton) faz referência ao processo dinâmico e contínuo de maturação cerebral e desenvolvimento do sistema nervoso (entenda melhor neste vídeo: https://tv.uol/13so8)
Alterações do sistema nervoso associadas à microcefalia surgem quando, no período neonatal, há a presença de alguns fatores de risco, tais como: prematuridade, condições genéticas, infecções maternas durante o período gestacional, erros de metabolismo (como hipertireoidismo congênito), asfixia perinatal e distúrbios metabólicos (hipoglicemia). Além desses fatores, desde 2016, pesquisas têm encontrado fortes indícios da correlação entre o zika vírus e alterações típicas. Embora tenha sido descoberto em 1947, o zika vírus não chamava atenção porque era raro e se pensava que ele causava apenas sintomas leves. Atualmente a Organização Mundial da Saúde declarou emergência global, tendo em vista sua disseminação rápida e forte vinculação com danos neurológicos. A revista Science demonstrou em um artigo publicado em setembro deste ano o potencial do vírus em favorecer mutações em proteínas essenciais para o desenvolvimento do feto (confira o artigo na íntegra em http://science.sciencemag.org/content/early/2017/09/27/science.aam7120.full).
As alterações afetam a fala, audição, visão, cognição e a motricidade, fazendo com que as crianças não atinjam marcos importantes do desenvolvimento. Por exemplo, crianças com microcefalia podem apresentar perdas auditivas de diferentes graus e tipos e/ou atraso nas habilidades auditivas, baixa visão, demora para andar e falar.
Diante da complexidade do quadro, é desnecessário ressaltar que o trabalho deve ser multidisciplinar para que o cuidado da criança seja feito de forma integral. Mas, com relação à psicologia propriamente, quais as possibilidades de atuação? Primeiramente, é importante observar três aspectos: os cognitivos, motores e afetivos. Os dois primeiros podem ser trabalhados diretamente com a criança, a partir da estimulação precoce; o aspecto afetivo depende de um trabalho efetivo com a família, oportunidade em que a relações são constantemente avaliadas.
Na estimulação precoce, o desenvolvimento de habilidades motoras, auditivas, visuais, táteis e cognitivas é realizado a partir de estratégias lúdicas planejadas e adequadas às necessidades e à faixa etária da criança (confira a cartilha “Brincar para todos”, disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/brincartodos.pdf ).
Outra faceta do trabalho com a estimulação precoce é a possibilidade de estreitar a vinculação dos familiares com a criança, o que é feito inserindo-os nas sessões de forma que eles participem e percebam avanços das crianças e para que eles possam se empoderar do cuidado delas.
Esse também é um momento delicado para os familiares e, por essa razão, a Organização Mundial de Saúde lançou, em 2016, um guia de apoio psicossocial a mulheres grávidas e famílias com microcefalia e outras complicações neurológicas no contexto do zika vírus. Dentre as recomendações estão a importância de oferecer informações precisas sobre a doença e suas consequências, incentivar para que as mães se envolvam e convidem uma pessoa de confiança para sessões de acompanhamento, realizar uma comunicação de apoio, prestar apoio psicossocial básico (que significa perguntar sobre suas necessidades e preocupações, e tentar ajudar a resolvê-las), ajudar os familiares a decidir de que forma querem fortalecer seu suporte social, incentivar o enfrentamento por meio da resolução de problemas, desencorajar o uso de tabaco, álcool e drogas como uma maneira de lidar com a situação, incentivar o enfrentamento positivo e ensinar a gerenciar o estresse (confira como em http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/204492/5/WHO_ZIKV_MOC_16.6_por.pdf).



Referências

Ministério da Saúde (2016). Programa de estimulação precoce. Brasília, DF.
Organização Mundia de Saúde (2016). Apoio Psicossocial para mulheres grávidas e famílias com microcefalia e outras complicações neurológicas no contexto do zika vírus: Guia preliminar para provedores de cuidados à saúde. Genebra, Suíça. Retrieved from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/204492/5/WHO_ZIKV_MOC_16.6_por.pdf
Yuan, L., Huang, X.-Y., Liu, Z.-Y., Zhang, F., Zhu, X.-L., Yu, J.-Y., … Qin, C.-F. (2017). A single mutation in the prM protein of Zika virus contributes to fetal microcephaly. Science. https://doi.org/10.1126/science.aam7120

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